Este documento analisa a representação dos povos indígenas na Literatura Brasileira e nos Livros Didáticos de História. Argumenta que os indígenas são frequentemente representados de forma estereotipada ou excluídos, a partir da perspectiva dos conquistadores europeus. Também discute como conceitos como território, fronteira e identidade são aplicados aos povos indígenas. Finalmente, defende uma abordagem que inclua a perspectiva dos próprios povos indígenas na elaboração de materiais didáticos.
4. Objetivo: O objetivo precípuo deste
ensaio é analisar como os povos
indígenas são representados na
Literatura Brasileira e nos Livros
Didáticos de História. Assim refletir
teoricamente, sobre o “lugar” e as
relações estabelecidas entre o
sujeito central deste estudo e tais
literaturas.
5. Para Hasesbaert o conceito de território deve ser
pensado por três dimensões que se articulam:
1) jurídico-política, segundo a qual “o território
é visto como um espaço delimitado e
controlado sobre o qual se exerce um
determinado poder, especialmente o de caráter
estatal”; 2) cultural(ista), que “prioriza
dimensões simbólicas e mais subjetivas, o
território visto primeiramente como produto da
apropriação feita através do imaginário e/ou
identidade social sobre o espaço”:
6. 3) econômica, “que destaca a desterritorialização
em sua perspectiva material, como produto
espacial do embate entre classes sociais e da
relação capital-trabalho” (HAESBAERT apud
SPOSITO, 2004, p.18).
É possível então refletir que alguns grupos os
indígenas são alguns desses em sentido político
são considerados minoritários e somam um
gama de desterritorializados e passa a viver na
condição de ocupante das fronteiras veladas.
7. O caminho localizado nas fronteiras, ao mesmo
tempo em que do pântano, é o território que
produz o outro, do “novo”, daquilo que
transcende as posições fixadas. Ainda porque,
para os habitantes das fronteiras, em qualquer
direção que se olhe, se vê um estrangeiro. Isso
mos motiva pensar que somos outros para os
demais. Já que não há uma identidade fixa. A
grande questão estar, de como nos
relacionamos com os “outros” e como as
diferenças são vistas como inferiores a um
modelo pré-estabelecido como superior.
8. Entre os inúmeros exemplos, os povos indígenas
integraram essa gama, que ao logo da
história, vem sendo “despidos” de suas
diferenças e sendo “vestidos” com diversas
vestes: em momentos com canibais,
preguiçosos; hora com a veste do “cavalheiro
medieval”.
9. A idealização do índio No Romantismo, a mistura de
fantasia e devaneio dos escritores; boa comunhão
entre índios e portugueses durante a colonização e
pós. Nessa lógica, os “portugueses” ganham o mérito
de “salvadores” dos “selvagens”, já que os tornara
“evoluídos” e cordiais.
Como o Modernismo, busca-se uma identidade nacional
dissipada do europeu como padrão, e, faz-se uma
crítica aos valores antes usados como forma de
ruptura. A liberdade de escrita e a forma gessada aos
moldes antes dominantes inspiram os novos
escritores do período. Mas, ainda assim o índio não
“fala”.
10. Macunaíma X Makunaima
Makunaima pertence a outro mundo, bem
diferente do de Macunaíma. Makunaima faz
parte do tempo, do espaço, do nosso universo
mítico e cultural desde o início do mundo: é a
figura mais importante quando se trata da
nossa ancestralidade. Makunaima é o pajé
que nos trouxe o peixe e a farinha, tristeza e
alegria, uma terra linda e um universo cheio
de significados (CRISTINO WAPICHANA).
11. Contexto: perguntas e não respostas;
anacronismo; idealizações ou exclusão?
(JUSTINO)
De elite para elite: um público consumidor
daquele mercado, os grupos minoritários não
faziam parte também por não saberem ler
(PAIVA).
12. A Representação dos Índios nos Livros
Didáticos:
Mágica do Livro Didático: Índios no passado
(Grupioni)
Passado cronológico: os indígenas são resíduo e
em fase de extinção como outras espécies
naturais. Passado ideológico: desapareceram
ou estão desaparecendo, vencidos pelo
progresso da “civilização” que não puderam
acompanhar. Passado simbólico: são apenas
a memória da boa sociedade perdida (CHAUÍ)
13. Na realidade a representação do índio nos LD,
tem sido feita ou pensada a partir da visão do
vencedor e não deles próprios. A luta agora
dever ser em dois sentidos: o primeiro é que o
Estado cumpra seu papel para que esta lei se
aplique, a segunda é que a legislação considere
também a participação desses grupos na
elaboração dos LD de todas escolas, não
apenas das escolas diferenciadas.
14. Assim entendemos que a representação é o
“instrumento de um conhecimento mediador
que faz ver um objeto ausente através da
substituição por uma imagem capaz de o
reconstituir em memória e de o figurar como
ele é” (CHARTIER). As representações
estereotipadas fragilização os grupos que
estão as margens da sociedade e por
consequência são politicamente submetidos
as inúmeras subalternações.
15. “Nós não falamos para dizer alguma coisa, mas
para obter um certo efeito.”Joseph Goebbels.
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