Este documento descreve o terramoto de 1755 que devastou Lisboa, matando entre 40.000 a 90.000 pessoas. Detalha os efeitos do terramoto e do tsunami resultante, incluindo a destruição em Lisboa e em outras cidades portuguesas e europeias. Discute também as consequências sociais, religiosas, filosóficas e urbanísticas do desastre, e o papel do Marquês de Pombal na reconstrução da cidade, introduzindo técnicas construtivas antissísmicas.
Polígonos, Diagonais de um Polígono, SOMA DOS ANGULOS INTERNOS DE UM POLÍGON...
O terramoto de 1755
1. Universidade do Minho
Instituto de Ciências Sociais
Licenciatura em História
O Terramoto de 1755
Gravura holandesa representando efeitos do terramoto de 1
de Novembro de 1755 sobre Lisboa
Docente: Prof. Dr. Paulo Nossa
Luís Feliciano
António Marques
2. Índice
• Introdução
• Sismos e sismologia: noções
• A sismicidade em Portugal Continental
• O Terramoto de 1755
– Descrição dos factos: uma aproximação
– Impacto e consequências do Terramoto de 1755
• Conclusão
• Bibliografia
• Sitografia
3. Sismos e sismologia: noções
• Os sismos constituem um fenómeno geológico que sempre aterrorizou as
populações que vivem em determinadas zonas da Terra, e a Humanidade
desde sempre presenciou a sua enorme capacidade de destruição (exemplo
disso é o terramoto de 1755).
• Mas o que é um sismo?
– Sismos, igualmente designados de terramotos, são abalos naturais da
crosta terrestre que ocorrem num período de tempo restrito, em
determinado local, e que se propagam em todas as direcções (Ondas
Sísmicas), dentro e à superfície da crosta terrestre, sempre que a
energia elástica (movimento ao longo do plano de Falha) se liberta
bruscamente nalgum ponto (Foco ou Hipocentro). Ao ponto que, na
mesma vertical do hipocentro, se encontra à superfície terrestre dá-se o
nome de Epicentro, quase sempre rodeado pela região macrossísmica,
que abrange todos os pontos onde o abalo possa ser sentido pelo
Homem.
4. Ilustração 1 - Bloco-diagrama mostrando uma representação esquemática do foco ou
epicentro, plano da falha e epicentro
Fonte: http: //domingos.home.sapo.pt/sismos _2.html.
5. • As ondas sísmicas
– As ondas sísmicas classificam-se em dois tipos
principais:
• as ondas que se geram nos focos sísmicos e se
propagam no interior do globo, designadas ondas
interiores, volumétricas ou profundas (ondas P e S);
• as que são geradas com a chegada das ondas interiores
à superfície terrestre, designadas por ondas superficiais
(ondas L e R).
Ondas P Ondas S
6. • Ilustração 2 - Ondas P
Ondas L Ondas R
Fonte: http://domingos.home.sapo.pt/sismos_2.html
7. • Tipologia dos sismos:
– Sismos naturais;
– Sismos vulcânicos;
– Sismos de colapso ou implosão;
– Sismos artificiais ou induzidos;
– Sismos premonitórios.
• No mar, os abalos sísmicos podem provocar violenta agitação das
águas – maremoto ou “tsunami” – fenómeno tão conhecido pelas suas
trágicas consequências, nas populações ribeirinhas e na navegação.
• A maior parte dos terramotos acontecem nas fronteiras entre
placas tectónicas ou em falhas entre dois blocos rochosos.
• Para medir a quantidade de energia libertada de um sismo há varias
escalas:
– Intensidade;
– Magnitude.
8. Tabela 1 - Comparação aproximada entre intensidades e magnitudes sísmicas e número de abalos por ano
(adaptado de Carvalho, 1977 e de Press & Siever, 1986)
Intensidade Magnitude
Efeitos característicos Número de sismos/ano
aproximada aproximada
Destruição quase total
XII ≥ 8,0 0,1-0,2
ou total.
Destruição muito
XI ≥ 7,4 4
acentuada.
Grandes danos, torção
nos carris das vias- X 7,0-7,3 15
férreas.
Danos consideráveis
VIII-IX 6,2-6,9 100
em edifícios.
Ligeiros danos nos
VI-VII 5,5-6,1 500
edifícios.
Sentido por toda a
V 4,9-5,4 1400
população.
Sentido dentro dos
edifícios, podendo
IV 4,3-4,8 4800
levar as pessoas a
despertar do sono.
Sentido por um
pequeno número de II-III 3,5-4,2 30000
pessoas.
Não sentido, apenas
registado pelos I 2,0-3.4 800000
aparelhos.
Fonte: Polidoro, 2004
9. A sismicidade em Portugal
Continental
• De uma forma introdutória podemos dizer que a sismicidade de uma área é
essencialmente condicionada pelo seu enquadramento geológico no
contexto da tectónica de placas.
• Neste sentido, o território de Portugal Continental encontra-se situado nas
proximidades do contacto entre as placas Euroasiática e Africana, mais
especificamente no interior da placa litosférica Euroasiática, muito próximo
da placa Africana, sendo a interacção entre elas, a principal responsável por
uma actividade sísmica significativa no território.
• Por outro lado, o facto de Portugal se situar na fachada ocidental da
Península Ibérica, estimula a actividade sísmica, visto que, coincide com
uma área de cruzamento entre uma margem continental submeridiana,
resultante da abertura do Atlântico Norte, e a zona de fronteira entre as
placas Euroasiática e Africana, de direcção geral E-W, frequentemente
designada no seu sector atlântico por fronteira de placas Açores – Gibraltar.
10. Enquadramento do território continental português no contexto da distribuição regional das
placas litosféricas. Geometria considerada para a fronteira entre as placas eurasiática (EU) e
africana (AF) desde o arquipélago dos Açores (Aç) à região de Gibraltar
(Gi), a sul da Península Ibérica (IB), representando-se curvas batimétricas a 200 e 1000 m, e com
equidistância de 1000 m para profundidades superiores.
AM, placa americana; FG, falha de Gloria; Go, banco submarino de Goringe; P, Portugal
continental; T, monte submarino de Tore.
Fonte: João Cabral, «Sismotectónica de Portugal»,http://zircon.dcsa.fct.unl.pt/dspace/bitstream/123456789/225/1/18 – 4.PDF, 1995, p. 44.
11. • A nível mundial:
– Maiores sismos registados:
• foram o do Chile ocorrido em 1960, com uma magnitude de 8,5;
• do Alaska em 1964, em que a magnitude atingiu 8,6 apresentando
como efeitos característicos uma destruição quase total.
– Principais zonas sísmicas:
• O arco circum-Pacífico (75 a 80 % do tal de energia libertada);
• A zona mediterrânica-transasiática (15 a 20 %);
• O sistema das cristas oceânicas (3 a 7 %).
• A restante parte da terra é considerada como sendo assísmica.
Todavia, nenhuma região está completamente livre da possibilidade
da ocorrência de sismos.
– 1 % da sismicidade global corresponde à sismicidade
intraplacas. Apesar de menos frequentes são igualmente
destruidores (Ex. Sismos ocorridos no interior dos EUA e
Japão).
12. Distribuição dos sismos, assinalados pelos pontos negros, registados
no último século.
Fonte: http://domingos.home.sapo.pt/sismos_2.html
13. Terramoto de 1755
• Descrição dos factos: uma aproximação
– 9h40 (manhã): Lisboa sentiu um terramoto de extrema violência.
– 10h00 – coincidindo com a primeira réplica, as vagas de um tsunami
gerado aquando do sismo das 9h40, chegavam a Lisboa.
– 12h – sentiu-se um terceiro choque, mais suave;
– 16h – as águas subiram em Creston Ferry (Inglaterra), demorando cerca
de 8 minutos para a água voltar ao seu normal;
– 19h30 – a primeira onda do tsunami atinge Antígua, a 6000 km de
Lisboa (costa americana).
• O terramoto que atingiu Lisboa data do dia 1 de Novembro de 1755 (dia de
Todos os Santos).
• É considerado um dos sismos mais energéticos de todo o globo e apresenta-
se como um dos mais documentados da História.
14. • A devastação da capital ocorreu devido à conjugação do sismo, do
maremoto e dos incêndios.
• Os efeitos deste sismo foram sentidos:
– em toda a Península Ibérica: com maior intensidade nas regiões de
Lisboa, Setúbal e parte Ocidental do Algarve (graus IX e X);
– Açores e a Madeira;
– Marrocos;
– Europa do norte (Finlândia, Escócia, Irlanda, Bélgica, Holanda);
– o Norte de Itália;
– a Catalunha;
– o sul de França;
– a Suíça;
– o Brasil;
– as Antilhas;
– Antígua;
– Martinica;
– Barbados;
– Golfo de Cádis, bem como Gibraltar, Sevilha, através do rio
Guadalquivir, Cádis, Huelva e Ceuta.
15. • Este sismo alcançou uma amplitude entre os 8 e os 9 na Escala
de Richter e uma correspondente intensidade entre X-XI, na
Escala de Mercalli.
• O tsunami que o secundou alcançou alturas que variam entre
os 5, 15, 20 a 30 metros segundo as fontes e os relatos coevos.
• A penetração da água rondou os 250m.
• O grau de perceptibilidade deste sismo foi cerca de 2500 km.
• Das descrições efectuadas por pessoas que vivenciaram o
terramoto conclui-se que o sismo teve uma duração bastante
elevada (cerca de seis minutos, o que acontece em sismos de
grande magnitude) e grande número de réplicas.
16. Impacto e consequências do Terramoto
de 1755
• Para além das perdas humanas e materiais, o terramoto teve
graves consequências sociais, religiosas, morais, filosóficas,
urbanísticas, políticas…
• Vítimas apontadas:
– O seu número oscila de fontes para fontes, entre os 40 000
e os 80 000 pessoas;
Em Lisboa: dos 200 000 habitantes terão morrido 20 000;
outros dizem que das 275 000 habitantes morreram cerca
de 90 000.
• Consequências materiais:
– Das 20 000 casas existentes apenas 3 000 podiam ser
utilizadas após o sismo.
17. • Os elevados danos materiais e humanos deveram-se não só à
destruição provocada pela vibração do solo, como também
devido à acção do tsunami (ou maremoto) e aos vários
incêndios que deflagraram em Lisboa e que duraram seis dias.
• A norte de Lisboa, as intensidades sentidas atenuaram-se mais
rapidamente. Em Coimbra, por exemplo, não se registaram
danos sérios. Em Braga e tal como em Guimarães, o terramoto
também foi sentido, mas os danos não ultrapassaram fendas
nas paredes.
• O cataclismo que se verificou gerou medos irracionais,
sustentados por sentimentos de culpabilização, ligados à
religião, não apenas na população portuguesa, mas também
europeia.
– O terramoto foi encarado e explicado como obra da mão
pesada de Deus;
– Este fenómeno abalou o pensamento europeu, iluminista,
criando um verdadeiro terramoto filosófico sobre a
Providência, a Natureza e a Ciência e sobre o livre arbítrio
(Exemplo: Famoso poema de Voltaire).
18. Voltaire VS Rousseau
• A contenda principiou com Poema sobre o desastre de Lisboa,
no qual Voltaire expõe a fatalidade dos fenómenos naturais,
pondo em causa Deus.
• Rousseau contra-atacou, perguntando a Voltaire: que culpa
tinha a providência se as gentes de Lisboa decidiram viver à
beira do Tejo amontoados em vinte mil casas, algumas de seis
ou sete andares?
• Contrariando a concepção fatalista de Voltaire, Rousseau
afirmava que os lisboetas teriam sido, antes de mais, vítimas
do seu próprio modo de viver.
• ASSIM: O pessimismo voltairiano confrontava-se com a fé
optimista na Providência de Rousseau.
19. Caricatura sátira inglesa. Um clérigo católico pergunta como se
poderão evitar catástrofes como a de Lisboa, ao que o clérigo
anglicano responde que talvez tenham de deixar de queimar
pessoas.
Fonte: http://www.slideshare.net/ladonordeste/terramoto-de-1755-164521.
20. • A Família Real ficou ilesa de tudo. O rei D. José I e a corte encontravam-se
em Santa Maria de Belém, nos arredores de Lisboa.
• Após a catástrofe e tendo-se ganho pavor a recintos fechados construiu a
ilustra Barraca Real.
• Em termos políticos, Sebastião José de Carvalho e Melo, mais conhecido
por Marquês de Pombal viu o seu poder e influência aumentar.
• Em termos arquitectónicos e urbanísticos, o Marquês de Pombal foi o
principal protagonista, obreiro da reconstrução de Lisboa.
• Surgiu a inovadora (para a época) técnica construtiva antisísmica, com a
gaiola pombalina, modelo de estrutura anti-sísmica desenvolvida na
reconstrução da Baixa Pombalina.
21. Bibliografia
• Cabral, João. «Sismotectónica de Portugal»,
http://zircon.dcsa.fct.unl.pt/dspace/bitstrea m/123456789/225/1/18 –
4.PDF, 1995.
• Exposição: «Voz do Céu retumbando na Terra com os formidáveis ecos do
horroso terramoto que se ouviu no 1 de Novembro de 1755»,
Universidade do Minho e Sociedade Martins Sarmento,
http://www.csarmento.uminho.pt/dcs/sms/exposiçoes/TerrmotosCatalog
oWeb.pdf. Janeiro de 2006.
• Fernando Polidoro, «O megassismo de 1 de Novembro de 1755 na região
de Abrantes: aspectos históricos e geológicos», http://www.esec-
manuelfernandes.rcts.pt/pdf/sismos-abrantes.pdf, 2004.
• Senos, Maria Luísa e Fernando Carrilho. «Sismicidade de Portugal
Continental», Física de la Tierra,
revistas.ucm.es/fis/02144557/articulos/FITE0303110093A.PDF, 2003.