Este documento apresenta o livro "A quem o assassino mata" como uma obra transdisciplinar que analisa assassinos em série de forma psicanalítica, jurídica, sociológica e criminológica. Os autores questionam clichês sobre serial killers e buscam compreender os criminosos como sujeitos de direitos, desmistificando rotulações como "monstros". A intenção é democratizar o debate sobre esses fenômenos criminais.
1. Apresentação ao Livro “A quem o assassino mata”
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Apresentação
“A psicanálise se interessa pela significação
subjetiva do crime, sem por isso reduzir o sujeito
ao estado de um enfermo mental que não pode ser
julgado”. (A quem o assassino mata?)
Aqui não nos vemos, simplesmente, frente ao uma obra
psicanalítica, mas sim nos encontramos com um estudo transdisciplinar por
excelência, um livro que se utiliza da interdisciplinaridade para discutir um dos
temas mais obscuros e também mais caros às ciências humanas nos dias
atuais – O “Serial Killer”.
Ao leitor desatento pode parecer estranho um livro de psicanálise
onde até mesmo o Direito Penal sinta suas mais duras críticas. Também pode
parecer estranho que a abordagem de tal livro psicanalítico, seja tão objetiva e
clara que possa servir de manual tanto para juristas e criminólogos como para
psicólogos e psicanalistas, engajados e preocupados com o futuro dos
sistemas punitivos e de controle social.
Temos nesta obra a análise pontual e exaustiva do fenômeno
conhecido como “assassino em série” principalmente em seu aspecto
psicanalítico e psicológico. No entanto, como uma obra multifacetada, os
autores, assim como as notas da tradução, nos oferecem ainda um exame
crítico destes homicidas no âmbito jurídico, sociológico, antropológico e
criminológico, dentre tantas outras ciências.
A obra supre uma lacuna na literatura brasileira, nos oferecendo um
estudo aplicado dos homicidas que matam em série, analisando o fenômeno da
violência, a passagem ao ato, o acting out, a estrutura da maldade, a
2. Apresentação ao Livro “A quem o assassino mata”
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responsabilidade penal, a culpa, os motivos do crime, as fantasias sexuais, o
diagnóstico dos sujeitos, a natureza criminosa, a psicopatia, a perversão dentre
outros aspectos importantes. Por fim faz uma crítica minuciosa dos casos mais
célebres e mais curiosos sobre o tema.
A Obra aqui apresentada nos brinda exatamente com a análise
deste que é um dos personagens mais estigmatizados dos livros e estudos
criminais: “o homicida serial”. O desafio reside em apresentar tais pessoas
como sujeitos de Direitos e também de Deveres. Afastando-se de todos os
clichês pertinentes ao tema.
A partir de uma abordagem séria, os autores questionam tudo a
respeito do fenômeno “serial killer”, se ele é fruto dos tempos modernos ou
não, se a cultura social ou as experiências na infância podem influenciar no
comportamento do sujeito ou mesmo se as investigações e interrogatórios são
eficazes na descoberta de tais criminosos.
Embora o viés seja notavelmente psicanalítico, os autores não se
furtam de citar as teorias sociológicas para a explicação dos fenômenos dos
assassinos únicos e múltiplos. Os autores ainda deixam bem claro que
assassinatos em série sempre existiram ao longo de nossa história e alertam
para o crescimento destes crimes violentos ao longo dos últimos séculos.
O livro leva o leitor à reflexão e faz por vezes afirmações definitivas
esclarecedoras e impactantes sobre os fenômenos violentos como, por
exemplo:
“Nenhum assassino em massa pretende ou mesmo pensa em
escapar da carnificina que iniciou”.
Tais afirmações ajudam que o leitor saia do lugar comum dos
estudos da criminalidade e comece a repensar o crime e seu autor a partir de
um exame equilibrado do sujeito que o cometeu e de tudo que cerca sua
passagem ao ato.
Os autores desconstroem certezas que pairam no entendimento
comum e principalmente no ideário da população em geral. Afirmam, por
3. Apresentação ao Livro “A quem o assassino mata”
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exemplo, que a fuga da cena do crime não representa, por si só, a
compreensão por parte do sujeito (homicida) do desvalor de sua conduta.
Assim como asseguram que a precisão dos cortes e mutilações
feitas pelo sujeito, não comprovam o seu conhecimento técnico como médico,
açougueiro ou enfermeiro, pelo contrário afirmam que tal precisão talvez derive
da desumanização e coisificação da própria vítima. Uma vez que a vítima
perde seu valor, o sujeito consegue cometer seu ato (por mais atroz que ele
seja ou pareça) de maneira precisa e exata.
A intenção da tradução é, portanto, democratizar uma obra que visa
desmistificar a interpretação dos sujeitos considerados assassinos em massa e
homicidas seriais. Aproximando tais sujeitos da realidade e evitando as
rotulações como “monstros” e “predadores”.
Somente a partir desta mudança de perspectiva é que podemos
vislumbrar a possibilidade de avanço no entendimento e compreensão destes
fenômenos criminais e da sociedade moderna que os cerca.
Um livro de inclusão e aprofundamento, onde o que se procura é
enfrentar o problema de frente em todas as suas nuances, ao invés de buscar
a saída mais fácil, ou seja: desumanizar o criminoso. Responsabilização e
compreensão são os paradigmas trabalhados nesta obra, assim como em suas
notas.
Portanto, caro leitor, antes de começar a ler este livro, dispa-se de
todo seu preconceito, de todas as suas rotulações pré-concebidas e de todos
os estereótipos, pois aqui você não encontrará anomalias, aberrações,
monstros e representações demoníacas, pelo contrário encontrará homens,
mulheres e por vezes cidadãos acima de qualquer suspeita.
Mergulhe então na análise equilibrada destes sujeitos e de seus
atos. As explicações podem revelar não somente um pouco destes criminosos
e suas vítimas, mas, principalmente, pode revelar um pouco de nós em cada
fragmento, em cada página.