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Índice
Esquizofrenia
(Breves Noções)
                                        I - Nota Introdutória


Rui Grilo                               II - Evolução Histórica Do Conceito de
Psicólogo Clínico                       Doença Mental


                                        III - Esquizofrenia
                                            - Definição
                                            - Uma visão Histórica da Esquizofrenia
                                            - As Causas
                                            - Sintomatologia
                                            - Formas Clínicas
                                            - Aspectos Epidemiológicos e Evolução
                                            - Aspectos terapêuticos
                                            - Noção Breve de Psicose

                                        IV - Estigma
                                           - Alguns Conceitos Errados Sobre a
                                        Doença Mental

                                        V - Considerações Finais
                                        VI – Referências Bibliográficas

“ Na realidade não é a pessoa que se
expressa através da personagem, mas a
personagem que parece manter viva a
pessoa.”
                                        I – Nota Introdutória


Badaracco (1986)

                                        Neste trabalho, pretende-se apenas a
                                        construção de uma base sólida de
                                        conceitos e conhecimentos relacionados
                                        com a esquizofrenia, na medida em que
                                        irão ser úteis quando falarmos
                                        posteriormente (numa melhoria e
                                        complemento deste trabalho) em
                                        psicoterapia psicanalítica na psicose.

                                        Assim sendo, viso essencialmente
                                        aspectos e noções mais gerais desta
                                        problemática, que atinge pelo menos 1%
                                        da nossa população.




                                                                      Página 1 de 14
A esquizofrenia é uma doença mental         parte integrante do domínio da saúde
grave que se caracteriza classicamente      mental”. (Mandlhate, 2002)
por um conjunto vasto de sintomas, entre
os quais se destacam alterações do
pensamento, alucinações (sobretudo
                                            Perante a definição anteriormente
auditivas), delírios e embotamento
                                            descrita, será importante fazer uma
emocional com perda de contacto com a
                                            breve evolução do conceito de doença
realidade, causando uma disfunção social
                                            mental ao longo dos tempos.
crónica.



Ao longo do trabalho, apresento uma         Relatos     primitivos    mitológicos    e
perspectiva bastante abrangente da          religiosos     demonstram      que,     as
temática, delineando aspectos relativos à   perturbações mentais existiam há muitos
evolução histórica do conceito de doença    milénios atrás, quando por exemplo o
mental e da esquizofrenia, como também      “...Rei Nabucodonosor da Babilónia
as possíveis causas, sintomatologia,        andava em quatro patas pensando ser
formas          clínicas,       aspectos    um lobo,” ou quando “...o herói grego
epidemiológicos e evolução, aspectos        Ajax esquartejou um rebanho de
terapêuticos e alguns errados sobre a       carneiros que erradamente tomou pelos
doença mental potenciados pelo estigma.     seus inimigos.” (Gleitman, 1986, p.806)
                                            Através da Medicina grego – romana,
                                            Hipócrates procurou introduzir a razão
                                            em oposição às abordagens empíricas,
II – Evolução Histórica do Conceito de      enfatizando que a explicação para as
Doença mental                               doenças deveria ser feita através do
                                            raciocínio e da observação.
                                            Empéclodes considerava a existência no
                                            organismo       de    quatro    elementos
Quando se define Saúde, é imperativo        fundamentais, denominados de Humores
que se fale em Saúde Mental porque é        (sangue, fleuma, bílis amarela e bílis
parte integrante dessa definição. Como      negra). O equilíbrio do organismo era
tal, a OMS define Saúde Mental como         alterado quando existia um predomínio
“...um equilíbrio da personalidade          dos Humores ou da sua qualidade,
considerada na sua globalidade bio-         originando desta forma uma ruptura, a
psicossocial.                               doença mental.
                                            No século XII, durante a Idade Média,
As perturbações mentais são doenças         deu-se lugar a concepções do tipo mítico
caracterizadas por perturbações de          e religioso em que os “...loucos eram
ordem      emocional,    cognitiva   e      vistos como vítimas de possessão divina
comportamental, na medida em que            ou demoníaca...” (Diniz, 1995). As
afectam a capacidade de pensar e            pessoas eram possuídas por espíritos
adaptar-se à realidade, capacidade de       malignos e a cura era a expulsão dos
desempenhar     funções     sociais, a      mesmos através do exorcismo. Com
capacidade de lidar com a maior parte       sorte, muitas dessas pessoas viam os
dos problemas da vida quotidiana...         seus espíritos serem exorcizados através
Infelizmente o uso corrente do termo        de rituais religiosos ou orações, mas por
Saúde Mental confunde saúde mental          vezes, esses demónios teriam de ser
propriamente dita e perturbações            expelidos através de uma saída material,
mentais. A prevenção, o tratamento e a      através de um buraco no cérebro.
reabilitação das doenças mentais são        Segundo São Tomás de Aquino, a
                                            doença mental era um “...estado em que o


                                                                         Página 2 de 14
homem perdia a razão, ficando fora de si      III – Esquizofrenia
(Amens), delirante, violento, e inacessível
a uma relação humana (furiosus).”. Desta
forma perdia a alma espiritual e toda a
                                              Definição
razão chegando ao conhecimento de
Deus.
                                              Quando falamos em esquizofrenia, damo-
Os chamados “loucos” sempre foram, e
                                              nos conta da enorme diversidade de
continuam a ser, discriminados e
                                              definições existentes. Tendo em conta
isolados da sociedade devido às
                                              este aspecto, de seguida irão ser expostas
características bizarras da própria
                                              algumas dessas definições.
doença. Exemplos dessa discriminação,
foram a criação até aos finais do século
XIX de Hospitais Gerais e “
Workhouses”. As pessoas com doença            Cardoso, refere que a esquizofrenia é “ o
mental eram aí mantidas e fechadas com        termo usado para designar um grupo de
os vagabundos, prostitutas e portadores       doenças cuja etiologia é desconhecida,
de doenças venéreas, uma vez que assim,       apresentando        sintomas     mentais
evitavam a possível desorganização e          característicos que levam à fragmentação
mau estar na sociedade.                       da personalidade”. A doença é
        Com      o    aparecimento     da     recorrente, aumentando em cada crise a
Revolução Francesa e de todos os ideais       incapacidade crónica e o resultado final,
libertadores, surgem as primeiras             passa muitas vezes pela excentricidade e
críticas às práticas de internamento,         inadaptação       social     necessitando
iniciando-se aqui um movimento de             frequentemente       de    hospitalização
conquista dos direitos de igualdade das       prolongada. (Cardoso; 2002, p.112)
pessoas com doença mental.
        Pinel, através da libertação dos      O Manual de Diagnóstico e Estatístico das
“loucos” em Bicêtre, contribuiu de forma      Perturbações Mentais caracteriza a
decisiva para que as pessoas com doença       esquizofrenia “ como perturbação que
mental pudessem, aos poucos, ter acesso       dura pelo menos seis meses e inclui pelo
a assistência médica e para que a             menos um mês de fase de sintomas
sociedade        finalmente      tomasse      activos (isto é, dois ou mais dos
consciência do que era a doença mental.       seguintes: ideias delirantes, alucinações,
        A intervenção junto dos doentes       discurso desorganizado, comportamento
vai-se individualizando cada vez mais, e a    marcadamente       desorganizado       ou
partir dos anos 60 encontramo-nos             catatónico, sintomas negativos)” (DSM-
“...perante     uma      ideologia     de     IV; 1996, p.279)
desinstitucionalização paradoxalmente
apoiada pelo desenvolvimento da                      Em 2002, Afonso enfatiza que “ a
psicofarmacologia.” (Diniz, 1995).            esquizofrenia é uma doença que afecta
Os fármacos permitem a libertação e a         profundamente a família e o meio em que
diminuição         de      internamentos      o doente vive... é uma das mais
hospitalares, visando o desenvolvimento       importantes doenças mentais. A sua
de competências e a reinserção das            prevalência de aproximadamente 1% faz
pessoas com Doença Mental na                  prever que haja cerca de 100 000
sociedade, através da criação de              doentes       com     esquizofrenia    em
estruturas de suporte social.                 Portugal...” (Afonso, 2002, p.14 e 15)

                                                     A Classificação Internacional de
                                              Doenças (ICD 10) para a esquizofrenia
                                              orienta-se por duas vertentes: Ter ideias
                                              bizarras ou um sintoma de 1ª ordem de
                                              K. Schneider, ou ter pelo menos dois dos
                                              sintomas característicos (alucinações


                                                                           Página 3 de 14
com ideias delirantes, sintomas negativos    Emil kraeplin em 1887, constata duas
ou catatónicos) e requer, apenas um mês      classificações. Na primeira classificação
de duração. (Cardoso; 2002, p.114).          aborda a esquizofrenia através de
                                             psicoses curáveis de causa orgânica;
       Ainda outra definição é-nos           psicoses incuráveis de causa interna e
fornecida pelo Gleitman, assinalando que     psicoses psicogénicas (quase sempre
“ uma das perturbações mais graves de        curáveis). Numa segunda classificação, e
toda a psicopatologia é a esquizofrenia      através do seu Tratado de Psiquiatria em
(do grego schizo, «fenda, corte» e phrene,   1893, refere-se à Demência Precoce
«mente»... a esquizofrenia, como muitas      através da hebefrenia, catatonia e
outras perturbações, varia em grau de        paranóide (quadro clínico designado por
severidade)” (Gleitman, 1986, p.819 e        si).
p.832)
                                             “...a doença era descrita como uma série
                                             de estados, com a característica comum
                                             da destruição das ligações internas da
Uma visão        histórica    sobre     a
                                             personalidade psíquica. Estas alterações
esquizofrenia
                                             tinham como consequência várias
Tomando em consideração a história da        perturbações da vida mental ao nível da
doença mental anteriormente descrita,        esfera emocional e da vontade”. (Afonso,
no que diz respeito à esquizofrenia, a       2002, p.21). Estes três quadros clínicos
primeira referencia em termos científicos    tinham uma mesma raiz pertencendo a
dá-se na época renascentista em 1602         um mesmo grupo nosográfico.
pelo médico e anatomista Willis,
                                             Em 1911 surge Eugen Bleuler com uma
descrevendo-a como uma forma de
                                             perspectiva psicopatológica, através de
“estupidez adquirida” que afectava a
                                             um modelo clínico descritivo. Foi este
juventude na sua maioria.
                                             psiquiatra suíço que introduziu pela
Em 1810, Pinel e Esquirol referem-se à       primeira vez a palavra esquizofrenia
esquizofrenia como “ idiotia congénita e     (schizo, « fenda, corte» e phrene,
adquirida”. Este tipo de abordagens          «mente») e que explorou de uma forma
começou a ser alterada e o doente mental     descritiva o mundo interior de um
começou a ser respeitado como doente.        esquizofrénico. O seu diagnóstico
                                             precoce baseava-se nas dissociações do
Através do livro “ Tratado de doenças        pensamento, autismo e ambivalência
mentais”, Morel em 1850, fala da             afectiva.
esquizofrenia como sendo uma “
Demência Precoce”. Refere ainda que          É descrito por Kasanin em 1933 outro
esta demência atinge uma população           quadro clínico atípico da esquizofrenia
mais jovem, com aparecimento agudo e         designado por esquizoafectiva, em que
que evolui no sentido de uma perda           ocorrem simultaneamente sintomas da
cognitiva das faculdades mentais.            linha afectiva e sintomas típicos da
                                             esquizofrenia.
Posteriormente, foi descrito um quadro
clínico designado de hebefrenia em 1871      Posteriormente      seguiram-se     outras
por Hecker. A tendência era em aparecer      descrições que se assemelhavam co a
em pessoas mais jovens caracterizando-       esquizofrenia descrita por Bleuler, como
se     através   de     comportamentos       Baforadas delirantes; Psicoses histéricas e
regressivos e deterioração mental. Uns       psicogénicas, entre outras.
anos mais tarde, Kahlbaum refere-se a
outro quadro clínico caracterizado por
perturbações      motoras       e    do
comportamento, designado de catatonia.
                                             As causas



                                                                           Página 4 de 14
A causa da esquizofrenia é ainda              È uma substancia que actua no cérebro e
desconhecida por ser uma das doenças          é utilizada para a comunicação entre as
mentais mais complexas da actualidade.        células nervosas, mais propriamente, na
Talvez não exista apenas uma causa, mas       fenda     sináptica.  O     facto   deste
variadas que possam explicar o                neurotransmissor estar associado à
aparecimento da doença.                       etiologia da doença, deve-se à
                                              possibilidade de existir em elevada
Todavia, existem algumas hipóteses que        quantidade no sistema nervoso central.
surgiram como tentativas explicativas da      Mais uma vez, esta teoria por si só não
esquizofrenia e que poderão ter algum         explica a causa da esquizofrenia, uma vez
fundamento, mas que individualmente,          que não foi demonstrado que existe
não especificam a causa.                      realmente um aumento desta substância
                                              (Afonso, 2002, p27)

           -   Hipótese genética


Parece estar envolvida na doença uma          Serotonina
componente genética, em que os genes
em conjunto com factores ambientais,
poderão contribuir para o aparecimento        Algumas substâncias como o LSD, ao
da esquizofrenia. Aqui a componente da        actuarem nos receptores de serotonina
transmissão       hereditária    e     das    poderão provocar um quadro clínico
características multifactoriais está bem      semelhante à esquizofrenia. (Afonso,
presente e sabe-se hoje em dia que, a “...a   2002, p.28). Os antipsicóticos bloqueiam
probabilidade de uma pessoa ter               a acção da dopamina e são antagonistas
esquizofrenia aumenta se houver um            serotoninérgicos e, em combinação com
familiar atingido”. (Afonso; 2002, p.25).     os neurolépticos, reduzem os efeitos
Caso não exista nenhum familiar com           secundários      e      melhoram        a
esquizofrenia, não impede de forma            sintomatologia        negativa         da
alguma que um dos familiares possa vir a      esquizofrenia.
ter. Os factores genéticos não são de todo
decisivos, e perante estudos realizados
com gémeos mono e dizigóticos em que
pelo menos um dos elementos tinha
esquizofrenia, exclui-se a transmissão                     - Hipótese associada       ao
tipo mendliano uma vez que os gémeos                       vírus (Influenza A2)
monozigóticos têm uma taxa de
concordância de 48% e os dizigóticos de
17%.                                          Indivíduos cujas mães estiveram
                                              infectadas com um vírus da gripe
                                              (Influenza A2- gripe materna), tiveram
                                              uma maior predisposição para virem a
                                              sofrer de esquizofrenia. No entanto,
           - Hipótese associada        aos    alguns    trabalhos   realizados   não
           neurotransmissores                 permitem a verificação de uma relação
                                              directa entre o vírus e a doença. Os
                                              retrovírus foram também associados
                                              como causa (Afonso, 2002, p 29)

Dopamina

                                              Sintomatologia




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A sintomatologia característica da          sociedade. Os delírios têm diversas
esquizofrenia é bastante complexa, e        temáticas, onde, temas de perseguição ou
envolvem áreas ligadas à forma e            ameaça são predominantes. Delírios
conteúdo do pensamento; à percepção;        místico ou religioso são também muito
ao rendimento cognitivo; à afectividade e   frequentes, bem como ideias delirantes
ao comportamento. Todos estes aspectos      megalómanas. Poderá ainda existir,
conduzem       inevitavelmente      numa    delírio de roubo e divulgação do
deterioração ao nível do estabelecimento    pensamento e de controlo.
de relações, numa perda de contacto com
a realidade, conduzindo habitualmente       Alterações da percepção – Alucinações
ao isolamento.                              em que é atribuído um significado
                                            delirante perante uma percepção real. As
A descrição dos sintomas feita por          mais frequentes são as auditivo – verbais
Bleuler incide sobre duas vertentes. A      tendo uma conotação ameaçadora para o
primeira denomina-se de Sintomas            doente, mas podem acontecer em
primários ou fundamentais onde está         qualquer modalidade sensorial como
patente a ambivalência, o autismo, a        visual, táctil, olfactiva e cinestésica.
perturbação do afecto e a perturbação da
associação de ideias e que se podem         Alterações      da      linguagem e
verificar em qualquer fase da doença. Por   comunicação – Poderão ocorrer
outro lado, fala também em Sintomas         bloqueios do pensamento, salada de
secundários ou acessórios que se            palavras e neologismos.
evidenciam em certos períodos da
                                            Afectos – Ambivalência, rigidez e
doença. (Afonso, 2002, p33)
                                            discordância afectiva são alguns dos
Kurt Schneider dividiu em sintomas de       sintomas que poderão alterar a
primeira ordem onde inclui a percepção      afectividade.
delirante,    pensamentos       audíveis,
                                            Alterações do comportamento – são
alucinações    auditivo     –    verbais,
                                            característicos          comportamentos
alucinações somáticas, entre outras, e em
                                            desorganizados. Esses comportamentos
Sintomas      de     segunda       ordem
                                            podem-se      manifestar    através   da
caracterizados por alterações do humor
                                            agressividade, isolamento ou bizarria.
depressivas ou eufóricas, sentimentos de
                                            Pode ocorrer uma total desadequação do
embotamento       emocional,       ideias
                                            comportamento através de cropolalia
delirantes repentinas, entre outras.
                                            (palavras obscenas) ou até risos
(Cardoso, 2000, p120).
                                            imotivados situados fora do contexto.
Segundo a DSM-IV, a divisão dos
sintomas está divido em positivos e
negativos.                                  Negativos – Reflectem uma diminuição
                                            ou perda das funções normais. Este tipo
                                            de sintomas, acompanham a evolução da
Positivos – reflectem uma distorção das     doença e reflectem um défice ao nível das
funções normais e estão presentes na        relações interpessoais, conduzindo ao
fase aguda da doença. Os sintomas são:      isolamento e apatia. São característicos
                                            quadros       amotivacionais,      abulia,
Alterações do pensamento indutivo –         anedonia,        isolamento        social,
Delírios que são ideias individuais que     embotamento afectivo, alogia e avolição.
não permitem nenhum tipo de                 Os tempos são passados em monotonia,
argumentação por parte de outrem. A         evidenciando-se falta de interesse pela
sociedade tende a não compreender           vida e incapacidade em terem
estas ideias, então, nunca se deve          sentimentos       prazerosos     perante
confundir estas ideias delirantes com as    actividades diárias (DSM IV, 1996, p 280,
características   culturais   de    cada    281)


                                                                         Página 6 de 14
imobilidade motora à actividade motora
                                            excessiva. É também característico, a
Formas Clínicas                             Flexibilidade      cérea,       mutismo,
                                            negativismo extremo, estereotipias,
                                            ecolalia ou ecopraxia. É ainda observado
Tipo Paranóide –
                                            com muita frequência risos imotivados
                                            (DSM IV, 1996, p295).

Esta é a forma mais comum de
esquizofrenia e também a que tem
melhor prognóstico. As características
essenciais    são    ideias    delirantes   Tipo Residual
dominantes      e    persecutórias    ou
alucinações auditivas, e esta é uma das
formas mais usuais da esquizofrenia.
Existe um predomínio dos sintomas           O diagnóstico deste tipo de esquizofrenia
positivos e estes doentes geralmente são    não é muito preciso, na medida em que
muito desconfiados, podendo por vezes       não existe um predomínio de sintomas
ser agressivos. O sujeito pode ainda        positivos.   O    foco      situa-se   na
apresentar       uma      postura      de   sintomatologia    do     tipo    negativo,
superioridade ou de comando. (DSM IV,       evidenciando embotamento afectivo,
1996, p 293)                                pobreza do discurso ou avolição e
                                            isolamento social. A esquizofrenia
                                            residual pode permanecer durante vários
                                            anos e geralmente é encontrada em
                                            doentes que têm longos internamentos
                                            em hospitais (DSM IV, 1996, p 297).
Tipo Desorganizado ou Hebefrénica-



Este tipo de esquizofrenia apresenta um
prognóstico      mais     sombrio.    É     Aspectos Epidemiológicos e Evolução
característico     o     comportamento
desorganizado e o afecto inapropriado.
                                            A esquizofrenia atinge cerca de 1% da
Existe uma clara regressão das
                                            população (100 000 pessoas) e tende a
faculdades mentais, e o contacto com a
                                            manifestar-se normalmente no final da
realidade é bastante pobre.
                                            adolescência, e embora não faça
Através dos seus comportamentos             distinção entre sexos, raças ou culturas,
inadequados e irritabilidade, poderão ter   as populações mais afectadas são as
atitudes agressivas (DSM IV, 1996, p        rurais e os grupos sociais com baixo nível
294).                                       sócio – económico e cultural.

                                            O aparecimento da doença é mais
                                            precoce em indivíduos do sexo masculino
                                            (entre os 15 e os 25 anos) e mais tardia
                                            em pessoas do sexo feminino (entre os
Tipo Catatónico-                            25 e os 30 anos). Geralmente a
                                            esquizofrenia tem um aparecimento
                                            agudo nas formas paranóide, e apenas
É muito pouco frequente actualmente, e é    um terço dos casos, aparece de forma
                                            lenta no tipo hebefrénica.
reversível graças à acção de fármacos.
Existe    alteração    da     actividade
psicomotora, que pode ir desde à



                                                                         Página 7 de 14
- Fase Aguda                     Aspectos terapêuticos
Esta é a fase onde predominam os
sintomas         característicos       da    O tratamento da esquizofrenia passa pela
esquizofrenia, os sintomas positivos e os    aplicação     de      uma      abordagem
sintomas negativos. Quando estes             farmacológica, psicológica e social.
doentes vão à consulta de Psiquiatria        Devido á cronocidade da doença, torna-
geralmente acompanhados pelos seus           se necessário elaborar um projecto de
familiares, evidenciam claramente uma        tratamento e de reabilitação a longo
evolução bastante significativa, tornando    prazo. Estando sempre inerente a
inevitável o internamento. A maioria das     terapêutica       farmacológica,       nas
vezes o doente não tem consciência do        abordagens       psicológicas     tenta-se
seu estado, tornando difícil a adesão à      combinar as psicoterapias individuais
terapêutica     farmacológica      e   ao    com      os      grupos      terapêuticos.
internamento (Afonso, 2002, p60).            Relativamente ao aspecto social, a
                                             reintegração na sociedade é aqui o factor
           - Fase de estabilização           preponderante.
Uma vez instituída a terapêutica
farmacológica, e existindo uma melhoria      Psicofarmacologia
e um controlo dos sintomas psicóticos,
segue-se a prevenção das recaídas. O         Os fármacos e as formas de tratamento
psiquiatra tem como objectivo ir             da esquizofrenia, têm vindo a sofrer
alterando a medicação à medida que           alterações ao longo dos tempos. Na
persistem alguns sintomas em menor           década de 50, as terapêuticas aplicadas
intensidade. Esta fase de manutenção         incidiam sobre choques insulínicos e
pode durar um tempo indeterminado,           lobotomias e eram utilizados opióides,
sendo a medicação essencial para a           barbíturicos e anti- histamínicos.
prevenção de recaídas (Afonso, 2002,         Segui-se a terapia convulsivante e
p60).                                        posteriormente                          a
                                             electroconvulsivoterapia através de
            - Recaída                        choques eléctricos.
O    objectivo     do    tratamento     da   Com o aparecimento da clorpromazina,
esquizofrenia é prolongar a fase de          surgiram um novo tipo de fármacos,
estabilização, mas por vezes é impossível    designados de antipsicóticos clássicos.
evitar recaídas e voltar-se de novo á fase   Estes medicamentos actuam ao nível da
mais aguda da doença. Alguns sinais de       dopamina e revelam-se particularmente
recaída são a “...agitação, agressividade    eficazes no controlo dos sintomas
ou medo, descuido da higiene pessoal ou      positivos da doença, como as ideias
aparência, ideias estranhas ou discurso      delirantes e as alucinações. Verificou-se
incoerente, abuso de álcool ou outras        também, uma considerável melhoria na
substâncias”. (Afonso, 2002, p.62).          agitação e nos comportamentos destes
Como tal, terá que se fazer uma              sujeitos.
intervenção farmacológica precoce no         Mas estes medicamentos tinham a
sentido da diminuição de internamentos.      particularidade de não actuar sobre os
Uma das principais causas ou motivos de      sintomas negativos e tinham efeitos
recaída      são     o     incumprimento     secundários muito incómodos. Então,
terapêutico, devido aos “...efeitos          surgiram os antipsicóticos atípicos que
secundários da medicação, consumo de         não só actuam ao nível dos sintomas
álcool ou drogas ou dificuldades no          positivos, como incidem também nos
relacionamento médico – família –            sintomas negativos e diminuem os
doente” (Afonso, 2002, p62).                 efeitos secundários.
                                             Em suma, a adesão aos fármacos é
                                             essencial para que a pessoa com
                                             esquizofrenia possa ter uma vida diária
                                             minimamente aceitável, e para que possa


                                                                          Página 8 de 14
viver em sociedade (Afonso, 2002, p 69-      Este processo deve ser contínuo, visando
72)                                          o aumento da autonomia, realização
                                             pessoal e qualidade de vida. Alguns dos
Electroconvulsivoterapia                     objectivos são ainda, a diminuição das
                                             incapacidade resultantes da própria
O objectivo é induzir, através de um         doença, proporcionar uma maior
estimulo eléctrico na zona bifrontal ou      autonomia socioeconómica, melhorar o
frontoparietal, uma crise convulsiva no      desempenho dos papéis sociais e a
doente. Na aplicação desta técnica,          diminuição do número de recaídas e de
recorre-se à anestesia geral, ao             internamentos hospitalares.
relaxamento muscular e à monitorização
dos principais sinais vitais. Actualmente    Psicoterapia
a utilização desta terapia é rara e só é
utilizada em doentes que criam               A abordagem psicoterapêutica sem
resistências face à medicação, ou em         acompanhamento         de    fármacos   é
casos em que a utilização de                 desaconselhada, uma vez que os
antipsicóticos esteja contra- indicada,      fármacos têm um papel preponderante
como por exemplo na gravidez.                na fase de manutenção e estabilização da
Esta é uma técnica considerada bárbara       doença.
por muitos, mas a verdade é que a            A psicoterapia “...ajuda o doente a
electroconvulsivoterapia traduz-se numa      elaborar e a integrar a sua experiência
elevada eficácia (Afonso, 2002, p77).        psicótica”. (Afonso, 2002, p.78).
                                             Através desta forma terapêutica, o
                                             psicólogo deve proporcionar ao sujeito
Psicoeducação                                uma organização das suas ideias, deve
                                             perceber a desadaptação e o mau estar
A psicoeducação revela-se de extrema         da pessoa. A psicoterapia tem inúmeros
importância,      porque      visa     um    objectivos que devem ser compreendidos
melhoramento da compreensão da               em função do tipo de clientes e as
doença por parte do doente e das             desejadas mudanças que a pessoa
famílias. Assim, pretende-se que a pessoa    pretende. Como tal, os objectivos passam
com doença mental adquira um maior           por “...um restabelecimento do equilíbrio
conhecimento sobre a doença, de forma a      psicológico, melhorar a adaptação ao
ter um papel activo na sua própria           meio, reforçar os mecanismos de defesa
reabilitação. Através da informação que é    adaptativos, adopção de medidas que
fornecida, o doente e a sua família poderá   visam o alívio dos sintomas, promoção
detectar e intervir precocemente nas         do crescimento emocional e a aquisição
recaídas, adoptar estratégias concretas      de maturidade emocional através da
durante a crise psicótica e melhorar a       promoção de autonomia...” (Leal, 2000,
adesão terapêutica (Afonso, 2002, p 80).     p.137)


Reabilitação na comunidade

Através da reabilitação de pessoas com
doença mental na comunidade, promove-
se a desinstitucionalização diminuindo o
número de internamentos prolongados.         Segundo Zanini, são 10 os grandes
Pretende-se a reinserção na vida diária e    objectivos da psicoterapia com a pessoa
a minimização do estigma e da exclusão       com esquizofrenia.
social. È indispensável elaborar projectos
de reabilitação individuais porque cada      1. Oferecer continência e suporte.
caso tem as suas particularidades
clínicas.


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2. Oferecer informações sobre a doença e     8. Conquista de maior autonomia e
formas de lidar com ela.                     independência.   Aumentando-se   a
                                             capacidade de gerir a própria vida,
                                             melhora-se também a auto-estima.
3. Restabelecer o contacto com a
realidade. O paciente deve ser capaz de
reconhecer     experiências    reais    e    9. Diminuição do isolamento. Outro
diferenciá-las das alucinatórias ou          sintoma proeminente nos pacientes
delirantes. Isso pode ser alcançado          esquizofrénicos é o autismo. Em geral,
através do teste de realidade, feito pela    estes pacientes apresentam pouca
intervenção directa do terapeuta ou          possibilidade de troca e de registo de
pelos próprios pacientes no caso da          experiências negativas no contacto com
psicoterapia em grupo.                       as pessoas – geralmente paranóides. A
                                             oportunidade     de     experimentarem
                                             contactos positivos, individualmente ou
                                             em grupo,pode possibilitar a diminuição
4. Integrar a experiência psicótica no
                                             do autismo.
contexto de vida do paciente, ou seja, dar
um sentido à experiência psicótica.

                                             10. Observação dos pacientes. Pode-se
                                             observar,      durante      o    processo
5. Identificar factores stressantes e
                                             psicoterapêutico, o funcionamento e o
instrumentalizar o paciente a lidar com as
                                             comportamento dos pacientes - de
diversas situações da vida. Os factores
                                             esquiva, de inibição, de desconfiança ou
desencadeantes      de    crises     estão
                                             de inadequação - como também, a
intimamente relacionados com as
                                             presença de sintomas psicopatológicos -
recaídas e o prognóstico da doença.
                                             delírios, alucinações, auto-referência,
Discutir formas de suportar, modificar ou
                                             depressão, entre outros. Essa observação
compreender melhor as situações vividas
                                             pode ajudar o clínico na avaliação de
pelos pacientes podem ajudá-los a ter
                                             determinado       paciente.    É      mais
uma melhor evolução na sua doença.
                                             aconselhável que a consulta clínica seja
Algumas estratégias usadas são a busca
                                             realizada por um psiquiatra que não seja
de solução de problemas e o
                                             o terapeuta do paciente. O que modifica
planeamento de metas, conseguidas pela
                                             as características dos diferentes tipos de
orientação directa do terapeuta ou
                                             intervenção será a ênfase dada a um ou
através de discussões grupais.
                                             outro objectivo.


6. Desenvolver maior capacidade de
diferenciar, reconhecer e lidar com
diferentes sensações e sentimentos.



7. Crescimento emocional associado à
mudança nos padrões de comportamento,
                                                            I-     Estigma
resultando numa melhoria na qualidade
de vida e na adaptação social fora do
setting terapêutico.

                                             A doença mental é com frequência
                                             relacionada com o sem abrigo ou o
                                             mendigo que vagueia pelas ruas, que fala


                                                                         Página 10 de 14
sozinho, com as pessoas que aparecem         são aprendidos muito cedo. Todas estas
na TV a dizerem que têm múltiplas            ideias estão muito difundidas e parecem
personalidades e com o psicopata “louco”     ser muito difíceis de serem alteradas.
que aparece nos filmes.
                                                     A doença mental ligeira é
Palavras      como       “esquizofrénico”,   provocada pela pressão social, caso esta
“maluco”, “homicida”, são palavras           diminua, há melhorias. Provoca nos
correntes utilizadas no dia-a-dia.           outros pena e empatia e pode acontecer a
                                             qualquer pessoa próxima. No entanto a
        As pessoas pensam e dizem: “isto     doença mental grave e por vezes
não me vai acontecer de modo nenhum,         incapacitante, tem uma causa biológica e
não sou maluco, venho de uma família         genética, é incurável, provoca nos outros
estável com uma base sólida”, ou então,      medo e só acontece aos outros e aos que
“a doença mental não me afecta porque        são diferentes.
isso é um problema dos outros”.
                                                    A discriminação pode tomar
        O Estigma relacionado com a          várias formas. Como tal, tomemos por
doença mental provém do medo do              exemplo o caso de uma mulher que
desconhecido e dum conjunto de falsas        trabalhou seis meses como recepcionista.
crenças que origina o desconhecimento e      Quando disse ao patrão que iria faltar
a falta de compreensão. Ninguém duvida       algumas vezes ao trabalho por estar a
que há um estigma inerente a quem tem        fazer uma nova medicação para a sua
doença mental. Mas o que é o estigma?        doença mental, foi despedida.
Pode ser considerado um preconceito
que isola o indivíduo em relação aos                 Com base neste tipo de
outros, como se estivesse marcada pelo       acontecimentos, aqueles que de alguma
passado de doença. Então, o estigma          forma se recompuseram da sua doença
abrange aqueles que tiveram ou têm           mental, escondem-se frequentemente
doença mental. As relações sociais ficam     atrás de uma “máscara”, de modo a
quase sempre prejudicadas, como se o         manter o seu passado secreto, quando se
doente fosse um ser à parte, objecto, por    candidatam a novos empregos. A
isso, de uma discriminação rejeitante.       necessidade de esconder resulta de um
                                             receio fundado de se ser rejeitado e
        Geralmente o estigma tem uma         desvalorizado, devido a uma doença,
conotação negativa, que incide sobre o       como se esta fosse um mal.
doente, a doença, a instituição
psiquiátrica e a ciência psiquiátrica.               Mesmo o uso generalizado do
Muitas vezes é a sociedade que arranja       rótulo “doente mental” para classificar as
um bode expiatório para as suas              pessoas com doenças mentais, pode
dificuldades, em que a pessoa com            tornar-se estigmatizante para as pessoas,
doença mental é que acaba por ser vítima     tornando-as membros de um grupo
da sociedade.                                indesejável e recusando-lhes o direito de
                                             serem considerados cidadãos como os
        É interessante analisar algumas      outros.
ideias que comprovaram que os doentes
mentais eram retratados de uma forma                 Os media, podem contribuir para
negativa. Os pacientes que sofriam de        irradicar o estigma, promovendo a
doenças psicóticas eram apresentados         compreensão e a educação da sociedade
como criminosos violentos, violadores ou     acerca destas doenças, não divulgando
assassinos. Os que sofriam de doenças        conceitos errados e negativos que
não psicóticas eram objecto de ridículo,     ajudem a reforçar o estigma.
mais dignos de dó ou motivo de conversa
entre os incompreendidos. As pessoas                O mais importante a reter é que
com doença mental eram descritas de          os doentes mentais são pessoas como
acordo com estereótipos flagrantes, que      todas as outras. As pessoas deverão ser


                                                                         Página 11 de 14
julgadas pelos seus méritos próprios e      As pessoas que receberam tratamento
não, pela doença que sofrem e pelo          psiquiátrico são instáveis podendo perder
estigma associado. Tornando-nos mais        o controlo a qualquer momento?
atentos a estas problemáticas, podemos
contribuir para criar as merecidas
oportunidades     a    estas    pessoas,
                                            A maioria das pessoas com doença
permitindo-lhes levar uma vida normal e
                                            mental, tem maior tendência para se
um regresso à comunidade como
                                            afastarem do contacto social do que se
membros auto-confiantes e capazes de
                                            confrontarem agressivamente com os
desenvolverem o seu potencial.
                                            outros. Geralmente as recaídas aparecem
                                            gradualmente e não de uma forma
                                            abrupta. Se os médicos, família e amigos
                                            mais próximos estiverem atentos aos
                                            sinais premonitórios da doenças, as
Alguns conceitos errados sobre a            crises podem ser detectadas e facilmente
doença mental                               tratadas e evitar-se a perda de controlo.




As pessoas que sofrem de doença mental
nunca irão recuperar?
                                            As pessoas que foram tratadas de
                                            perturbações mentais são empregadas de
As doenças mentais tratam-se e muitos       baixa qualidade?
doentes podem recuperar a saúde, logo,
as doenças mentais devem ser encaradas
do mesmo modo como se olha para as
doenças físicas. Quando os cuidados e os            Estas    pessoas    recuperadas
tratamentos são prestados, é de esperar     revelam-se    excelentes    empregados,
uma     melhoria     ou     recuperação,    sendo muito pontuais e assíduos,
permitindo às pessoas regressarem à         demonstrando motivação e qualidade no
comunidade e retomarem as vidas             trabalho. Terá que se perceber que estas
normais.                                    pessoas estão sujeitas a recaídas que
                                            podem causar ausências dos seus
                                            empregos. Todavia, através de horários
                                            flexíveis que permitam este tipo de
                                            interrupções, estas pessoas poderão ser
As pessoas com doenças mentais são          empregados muito produtivos.
violentas e perigosas para a sociedade?



Estas pessoas apresentam tantos riscos
de crime como os outros elementos da
população em geral. Depois de
recuperados, estes doentes têm a            XI – Considerações Finais
tendência para se mostrarem mais
tímidos e ansiosos, mais sujeitos a serem
vitimas de crimes, do que autores dos
mesmos.                                     A     investigação nesta    área     é
                                            extremamente             diversificada,
                                            principalmente ao nível dos aspectos
                                            psicoterapêuticos.



                                                                        Página 12 de 14
Nesta perspectiva, pretendo abordar          Afonso,   P.    (2002). Esquizofrenia.
num momento posterior, a psicoterapia        Conhecer a Doença, 1ª edição, Lisboa,
psicanalítica no psicótico ou na pessoa      Climepsi Editores
com esquizofrenia, de forma a
complementar o trabalho actualmente          American Psychiatric association,(1996).
apresentado. Como tal, a interiorização      DSM-IV, Manual de Diagnóstico e
do que é a esquizofrenia e de todos os       Estatística das Perturbações Mentais,
aspectos que contemplam esta patologia,      4ªedição, Lisboa, Climepsi Editores.
são essenciais para que se possa intervir
a um nível mais pessoal e afectuoso, num     A.P.D.D.M.D- Associação de Apoio aos
ambiente propício à catarse de dor e         Doentes Depressivos e maníaco -
sofrimento, do real e do ilusório, o         depressivos. Estigma – Doença e Saúde
contexto psicoterapêutico.                   mental.

Segundo Badaracco (1986), a pessoa com       Badaracco, J. (1986). La Identification Y
esquizofrenia não se pode desenvolver        Sus Vicisitudes En La Psicosis. La
baseando-se na sua espontaneidade ou         Importancia Del Concepto “ Objeto
numa identidade consistente. Como            Enloquecedor”, Int. J. Psycho-Anal, 67-
alternativa, constrói pseudo-identidades     133.
através de representações mentais. O         Cardoso, C. (2002). Os Caminhos da
psicótico sente que a sua identidade está    Esquizofrenia, 1ª edição, Lisboa, Climepsi
constantemente a ser testada quando          Editores
entra em contacto com a realidade, e é
por isso que necessita de manter uma         Diniz, A.      (1995). A avaliação na
distância controlada em relação à            instituição psiquiátrica: breve introdução
realidade ameaçadora.                        à história de um percurso. Avaliação
                                             Psicológica: Formas e Contextos, Análise
Aqui a psicoterapia terá concerteza um       Psicológica, 3: 133- 137
papel extremamente importante, na
medida em que irá ajudar o paciente a        Fonseca, A. (1997). Psiquiatria e
questionar e      a    entender   estas      Psicopatologia, 1º volume, 2ª edição,
representações mentais.                      Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian.

Podemos      dizer  que     a  pessoa        Gleitman, H. (1986). Psicologia, 3ª edição,
esquizofrénica constitui-se como uma         Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian
personagem desempenhando um papel.
Na realidade não é a pessoa que se           Leal, I.(2000). Entrevista Clínica e
expressa através da personagem, mas a        Psicoterapia de Apoio, 2ªedição, Lisboa,
personagem que parece manter viva a          ISPA.
pessoa.                                      OMS- Definição de Saúde Mental.
O surto psicótico produzir-se-à quando o     Retirado em 22 de Maio de 2003 em
sujeito se confronta com as suas             http://www.whoafro.org/mentalhealth/
carências, provocando angústias e            publications/respostas_web_novas_esper
desintegração. Desta forma irá recorrer      ancas.pdf
novamente      às    suas     construções    Zanini, Márcia H (2000). Psicoterapia na
delirantes com o intuito de garantir a sua   esquizofrenia. Programa de Esquizofrenia
sobrevivência psíquica, embora nunca na      (Proesq), Unifesp/EPM. Rev Bras
totalidade. (Badaracco, 1986)                Psiquiatr 2000;22(Supl I):47-9


VI – Referências Bibliográficas




                                                                          Página 13 de 14
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Esquizofrenia - Os principais aspectos da doença mental grave

  • 1. Índice Esquizofrenia (Breves Noções) I - Nota Introdutória Rui Grilo II - Evolução Histórica Do Conceito de Psicólogo Clínico Doença Mental III - Esquizofrenia - Definição - Uma visão Histórica da Esquizofrenia - As Causas - Sintomatologia - Formas Clínicas - Aspectos Epidemiológicos e Evolução - Aspectos terapêuticos - Noção Breve de Psicose IV - Estigma - Alguns Conceitos Errados Sobre a Doença Mental V - Considerações Finais VI – Referências Bibliográficas “ Na realidade não é a pessoa que se expressa através da personagem, mas a personagem que parece manter viva a pessoa.” I – Nota Introdutória Badaracco (1986) Neste trabalho, pretende-se apenas a construção de uma base sólida de conceitos e conhecimentos relacionados com a esquizofrenia, na medida em que irão ser úteis quando falarmos posteriormente (numa melhoria e complemento deste trabalho) em psicoterapia psicanalítica na psicose. Assim sendo, viso essencialmente aspectos e noções mais gerais desta problemática, que atinge pelo menos 1% da nossa população. Página 1 de 14
  • 2. A esquizofrenia é uma doença mental parte integrante do domínio da saúde grave que se caracteriza classicamente mental”. (Mandlhate, 2002) por um conjunto vasto de sintomas, entre os quais se destacam alterações do pensamento, alucinações (sobretudo Perante a definição anteriormente auditivas), delírios e embotamento descrita, será importante fazer uma emocional com perda de contacto com a breve evolução do conceito de doença realidade, causando uma disfunção social mental ao longo dos tempos. crónica. Ao longo do trabalho, apresento uma Relatos primitivos mitológicos e perspectiva bastante abrangente da religiosos demonstram que, as temática, delineando aspectos relativos à perturbações mentais existiam há muitos evolução histórica do conceito de doença milénios atrás, quando por exemplo o mental e da esquizofrenia, como também “...Rei Nabucodonosor da Babilónia as possíveis causas, sintomatologia, andava em quatro patas pensando ser formas clínicas, aspectos um lobo,” ou quando “...o herói grego epidemiológicos e evolução, aspectos Ajax esquartejou um rebanho de terapêuticos e alguns errados sobre a carneiros que erradamente tomou pelos doença mental potenciados pelo estigma. seus inimigos.” (Gleitman, 1986, p.806) Através da Medicina grego – romana, Hipócrates procurou introduzir a razão em oposição às abordagens empíricas, II – Evolução Histórica do Conceito de enfatizando que a explicação para as Doença mental doenças deveria ser feita através do raciocínio e da observação. Empéclodes considerava a existência no organismo de quatro elementos Quando se define Saúde, é imperativo fundamentais, denominados de Humores que se fale em Saúde Mental porque é (sangue, fleuma, bílis amarela e bílis parte integrante dessa definição. Como negra). O equilíbrio do organismo era tal, a OMS define Saúde Mental como alterado quando existia um predomínio “...um equilíbrio da personalidade dos Humores ou da sua qualidade, considerada na sua globalidade bio- originando desta forma uma ruptura, a psicossocial. doença mental. No século XII, durante a Idade Média, As perturbações mentais são doenças deu-se lugar a concepções do tipo mítico caracterizadas por perturbações de e religioso em que os “...loucos eram ordem emocional, cognitiva e vistos como vítimas de possessão divina comportamental, na medida em que ou demoníaca...” (Diniz, 1995). As afectam a capacidade de pensar e pessoas eram possuídas por espíritos adaptar-se à realidade, capacidade de malignos e a cura era a expulsão dos desempenhar funções sociais, a mesmos através do exorcismo. Com capacidade de lidar com a maior parte sorte, muitas dessas pessoas viam os dos problemas da vida quotidiana... seus espíritos serem exorcizados através Infelizmente o uso corrente do termo de rituais religiosos ou orações, mas por Saúde Mental confunde saúde mental vezes, esses demónios teriam de ser propriamente dita e perturbações expelidos através de uma saída material, mentais. A prevenção, o tratamento e a através de um buraco no cérebro. reabilitação das doenças mentais são Segundo São Tomás de Aquino, a doença mental era um “...estado em que o Página 2 de 14
  • 3. homem perdia a razão, ficando fora de si III – Esquizofrenia (Amens), delirante, violento, e inacessível a uma relação humana (furiosus).”. Desta forma perdia a alma espiritual e toda a Definição razão chegando ao conhecimento de Deus. Quando falamos em esquizofrenia, damo- Os chamados “loucos” sempre foram, e nos conta da enorme diversidade de continuam a ser, discriminados e definições existentes. Tendo em conta isolados da sociedade devido às este aspecto, de seguida irão ser expostas características bizarras da própria algumas dessas definições. doença. Exemplos dessa discriminação, foram a criação até aos finais do século XIX de Hospitais Gerais e “ Workhouses”. As pessoas com doença Cardoso, refere que a esquizofrenia é “ o mental eram aí mantidas e fechadas com termo usado para designar um grupo de os vagabundos, prostitutas e portadores doenças cuja etiologia é desconhecida, de doenças venéreas, uma vez que assim, apresentando sintomas mentais evitavam a possível desorganização e característicos que levam à fragmentação mau estar na sociedade. da personalidade”. A doença é Com o aparecimento da recorrente, aumentando em cada crise a Revolução Francesa e de todos os ideais incapacidade crónica e o resultado final, libertadores, surgem as primeiras passa muitas vezes pela excentricidade e críticas às práticas de internamento, inadaptação social necessitando iniciando-se aqui um movimento de frequentemente de hospitalização conquista dos direitos de igualdade das prolongada. (Cardoso; 2002, p.112) pessoas com doença mental. Pinel, através da libertação dos O Manual de Diagnóstico e Estatístico das “loucos” em Bicêtre, contribuiu de forma Perturbações Mentais caracteriza a decisiva para que as pessoas com doença esquizofrenia “ como perturbação que mental pudessem, aos poucos, ter acesso dura pelo menos seis meses e inclui pelo a assistência médica e para que a menos um mês de fase de sintomas sociedade finalmente tomasse activos (isto é, dois ou mais dos consciência do que era a doença mental. seguintes: ideias delirantes, alucinações, A intervenção junto dos doentes discurso desorganizado, comportamento vai-se individualizando cada vez mais, e a marcadamente desorganizado ou partir dos anos 60 encontramo-nos catatónico, sintomas negativos)” (DSM- “...perante uma ideologia de IV; 1996, p.279) desinstitucionalização paradoxalmente apoiada pelo desenvolvimento da Em 2002, Afonso enfatiza que “ a psicofarmacologia.” (Diniz, 1995). esquizofrenia é uma doença que afecta Os fármacos permitem a libertação e a profundamente a família e o meio em que diminuição de internamentos o doente vive... é uma das mais hospitalares, visando o desenvolvimento importantes doenças mentais. A sua de competências e a reinserção das prevalência de aproximadamente 1% faz pessoas com Doença Mental na prever que haja cerca de 100 000 sociedade, através da criação de doentes com esquizofrenia em estruturas de suporte social. Portugal...” (Afonso, 2002, p.14 e 15) A Classificação Internacional de Doenças (ICD 10) para a esquizofrenia orienta-se por duas vertentes: Ter ideias bizarras ou um sintoma de 1ª ordem de K. Schneider, ou ter pelo menos dois dos sintomas característicos (alucinações Página 3 de 14
  • 4. com ideias delirantes, sintomas negativos Emil kraeplin em 1887, constata duas ou catatónicos) e requer, apenas um mês classificações. Na primeira classificação de duração. (Cardoso; 2002, p.114). aborda a esquizofrenia através de psicoses curáveis de causa orgânica; Ainda outra definição é-nos psicoses incuráveis de causa interna e fornecida pelo Gleitman, assinalando que psicoses psicogénicas (quase sempre “ uma das perturbações mais graves de curáveis). Numa segunda classificação, e toda a psicopatologia é a esquizofrenia através do seu Tratado de Psiquiatria em (do grego schizo, «fenda, corte» e phrene, 1893, refere-se à Demência Precoce «mente»... a esquizofrenia, como muitas através da hebefrenia, catatonia e outras perturbações, varia em grau de paranóide (quadro clínico designado por severidade)” (Gleitman, 1986, p.819 e si). p.832) “...a doença era descrita como uma série de estados, com a característica comum da destruição das ligações internas da Uma visão histórica sobre a personalidade psíquica. Estas alterações esquizofrenia tinham como consequência várias Tomando em consideração a história da perturbações da vida mental ao nível da doença mental anteriormente descrita, esfera emocional e da vontade”. (Afonso, no que diz respeito à esquizofrenia, a 2002, p.21). Estes três quadros clínicos primeira referencia em termos científicos tinham uma mesma raiz pertencendo a dá-se na época renascentista em 1602 um mesmo grupo nosográfico. pelo médico e anatomista Willis, Em 1911 surge Eugen Bleuler com uma descrevendo-a como uma forma de perspectiva psicopatológica, através de “estupidez adquirida” que afectava a um modelo clínico descritivo. Foi este juventude na sua maioria. psiquiatra suíço que introduziu pela Em 1810, Pinel e Esquirol referem-se à primeira vez a palavra esquizofrenia esquizofrenia como “ idiotia congénita e (schizo, « fenda, corte» e phrene, adquirida”. Este tipo de abordagens «mente») e que explorou de uma forma começou a ser alterada e o doente mental descritiva o mundo interior de um começou a ser respeitado como doente. esquizofrénico. O seu diagnóstico precoce baseava-se nas dissociações do Através do livro “ Tratado de doenças pensamento, autismo e ambivalência mentais”, Morel em 1850, fala da afectiva. esquizofrenia como sendo uma “ Demência Precoce”. Refere ainda que É descrito por Kasanin em 1933 outro esta demência atinge uma população quadro clínico atípico da esquizofrenia mais jovem, com aparecimento agudo e designado por esquizoafectiva, em que que evolui no sentido de uma perda ocorrem simultaneamente sintomas da cognitiva das faculdades mentais. linha afectiva e sintomas típicos da esquizofrenia. Posteriormente, foi descrito um quadro clínico designado de hebefrenia em 1871 Posteriormente seguiram-se outras por Hecker. A tendência era em aparecer descrições que se assemelhavam co a em pessoas mais jovens caracterizando- esquizofrenia descrita por Bleuler, como se através de comportamentos Baforadas delirantes; Psicoses histéricas e regressivos e deterioração mental. Uns psicogénicas, entre outras. anos mais tarde, Kahlbaum refere-se a outro quadro clínico caracterizado por perturbações motoras e do comportamento, designado de catatonia. As causas Página 4 de 14
  • 5. A causa da esquizofrenia é ainda È uma substancia que actua no cérebro e desconhecida por ser uma das doenças é utilizada para a comunicação entre as mentais mais complexas da actualidade. células nervosas, mais propriamente, na Talvez não exista apenas uma causa, mas fenda sináptica. O facto deste variadas que possam explicar o neurotransmissor estar associado à aparecimento da doença. etiologia da doença, deve-se à possibilidade de existir em elevada Todavia, existem algumas hipóteses que quantidade no sistema nervoso central. surgiram como tentativas explicativas da Mais uma vez, esta teoria por si só não esquizofrenia e que poderão ter algum explica a causa da esquizofrenia, uma vez fundamento, mas que individualmente, que não foi demonstrado que existe não especificam a causa. realmente um aumento desta substância (Afonso, 2002, p27) - Hipótese genética Parece estar envolvida na doença uma Serotonina componente genética, em que os genes em conjunto com factores ambientais, poderão contribuir para o aparecimento Algumas substâncias como o LSD, ao da esquizofrenia. Aqui a componente da actuarem nos receptores de serotonina transmissão hereditária e das poderão provocar um quadro clínico características multifactoriais está bem semelhante à esquizofrenia. (Afonso, presente e sabe-se hoje em dia que, a “...a 2002, p.28). Os antipsicóticos bloqueiam probabilidade de uma pessoa ter a acção da dopamina e são antagonistas esquizofrenia aumenta se houver um serotoninérgicos e, em combinação com familiar atingido”. (Afonso; 2002, p.25). os neurolépticos, reduzem os efeitos Caso não exista nenhum familiar com secundários e melhoram a esquizofrenia, não impede de forma sintomatologia negativa da alguma que um dos familiares possa vir a esquizofrenia. ter. Os factores genéticos não são de todo decisivos, e perante estudos realizados com gémeos mono e dizigóticos em que pelo menos um dos elementos tinha esquizofrenia, exclui-se a transmissão - Hipótese associada ao tipo mendliano uma vez que os gémeos vírus (Influenza A2) monozigóticos têm uma taxa de concordância de 48% e os dizigóticos de 17%. Indivíduos cujas mães estiveram infectadas com um vírus da gripe (Influenza A2- gripe materna), tiveram uma maior predisposição para virem a sofrer de esquizofrenia. No entanto, - Hipótese associada aos alguns trabalhos realizados não neurotransmissores permitem a verificação de uma relação directa entre o vírus e a doença. Os retrovírus foram também associados como causa (Afonso, 2002, p 29) Dopamina Sintomatologia Página 5 de 14
  • 6. A sintomatologia característica da sociedade. Os delírios têm diversas esquizofrenia é bastante complexa, e temáticas, onde, temas de perseguição ou envolvem áreas ligadas à forma e ameaça são predominantes. Delírios conteúdo do pensamento; à percepção; místico ou religioso são também muito ao rendimento cognitivo; à afectividade e frequentes, bem como ideias delirantes ao comportamento. Todos estes aspectos megalómanas. Poderá ainda existir, conduzem inevitavelmente numa delírio de roubo e divulgação do deterioração ao nível do estabelecimento pensamento e de controlo. de relações, numa perda de contacto com a realidade, conduzindo habitualmente Alterações da percepção – Alucinações ao isolamento. em que é atribuído um significado delirante perante uma percepção real. As A descrição dos sintomas feita por mais frequentes são as auditivo – verbais Bleuler incide sobre duas vertentes. A tendo uma conotação ameaçadora para o primeira denomina-se de Sintomas doente, mas podem acontecer em primários ou fundamentais onde está qualquer modalidade sensorial como patente a ambivalência, o autismo, a visual, táctil, olfactiva e cinestésica. perturbação do afecto e a perturbação da associação de ideias e que se podem Alterações da linguagem e verificar em qualquer fase da doença. Por comunicação – Poderão ocorrer outro lado, fala também em Sintomas bloqueios do pensamento, salada de secundários ou acessórios que se palavras e neologismos. evidenciam em certos períodos da Afectos – Ambivalência, rigidez e doença. (Afonso, 2002, p33) discordância afectiva são alguns dos Kurt Schneider dividiu em sintomas de sintomas que poderão alterar a primeira ordem onde inclui a percepção afectividade. delirante, pensamentos audíveis, Alterações do comportamento – são alucinações auditivo – verbais, característicos comportamentos alucinações somáticas, entre outras, e em desorganizados. Esses comportamentos Sintomas de segunda ordem podem-se manifestar através da caracterizados por alterações do humor agressividade, isolamento ou bizarria. depressivas ou eufóricas, sentimentos de Pode ocorrer uma total desadequação do embotamento emocional, ideias comportamento através de cropolalia delirantes repentinas, entre outras. (palavras obscenas) ou até risos (Cardoso, 2000, p120). imotivados situados fora do contexto. Segundo a DSM-IV, a divisão dos sintomas está divido em positivos e negativos. Negativos – Reflectem uma diminuição ou perda das funções normais. Este tipo de sintomas, acompanham a evolução da Positivos – reflectem uma distorção das doença e reflectem um défice ao nível das funções normais e estão presentes na relações interpessoais, conduzindo ao fase aguda da doença. Os sintomas são: isolamento e apatia. São característicos quadros amotivacionais, abulia, Alterações do pensamento indutivo – anedonia, isolamento social, Delírios que são ideias individuais que embotamento afectivo, alogia e avolição. não permitem nenhum tipo de Os tempos são passados em monotonia, argumentação por parte de outrem. A evidenciando-se falta de interesse pela sociedade tende a não compreender vida e incapacidade em terem estas ideias, então, nunca se deve sentimentos prazerosos perante confundir estas ideias delirantes com as actividades diárias (DSM IV, 1996, p 280, características culturais de cada 281) Página 6 de 14
  • 7. imobilidade motora à actividade motora excessiva. É também característico, a Formas Clínicas Flexibilidade cérea, mutismo, negativismo extremo, estereotipias, ecolalia ou ecopraxia. É ainda observado Tipo Paranóide – com muita frequência risos imotivados (DSM IV, 1996, p295). Esta é a forma mais comum de esquizofrenia e também a que tem melhor prognóstico. As características essenciais são ideias delirantes Tipo Residual dominantes e persecutórias ou alucinações auditivas, e esta é uma das formas mais usuais da esquizofrenia. Existe um predomínio dos sintomas O diagnóstico deste tipo de esquizofrenia positivos e estes doentes geralmente são não é muito preciso, na medida em que muito desconfiados, podendo por vezes não existe um predomínio de sintomas ser agressivos. O sujeito pode ainda positivos. O foco situa-se na apresentar uma postura de sintomatologia do tipo negativo, superioridade ou de comando. (DSM IV, evidenciando embotamento afectivo, 1996, p 293) pobreza do discurso ou avolição e isolamento social. A esquizofrenia residual pode permanecer durante vários anos e geralmente é encontrada em doentes que têm longos internamentos em hospitais (DSM IV, 1996, p 297). Tipo Desorganizado ou Hebefrénica- Este tipo de esquizofrenia apresenta um prognóstico mais sombrio. É Aspectos Epidemiológicos e Evolução característico o comportamento desorganizado e o afecto inapropriado. A esquizofrenia atinge cerca de 1% da Existe uma clara regressão das população (100 000 pessoas) e tende a faculdades mentais, e o contacto com a manifestar-se normalmente no final da realidade é bastante pobre. adolescência, e embora não faça Através dos seus comportamentos distinção entre sexos, raças ou culturas, inadequados e irritabilidade, poderão ter as populações mais afectadas são as atitudes agressivas (DSM IV, 1996, p rurais e os grupos sociais com baixo nível 294). sócio – económico e cultural. O aparecimento da doença é mais precoce em indivíduos do sexo masculino (entre os 15 e os 25 anos) e mais tardia em pessoas do sexo feminino (entre os Tipo Catatónico- 25 e os 30 anos). Geralmente a esquizofrenia tem um aparecimento agudo nas formas paranóide, e apenas É muito pouco frequente actualmente, e é um terço dos casos, aparece de forma lenta no tipo hebefrénica. reversível graças à acção de fármacos. Existe alteração da actividade psicomotora, que pode ir desde à Página 7 de 14
  • 8. - Fase Aguda Aspectos terapêuticos Esta é a fase onde predominam os sintomas característicos da O tratamento da esquizofrenia passa pela esquizofrenia, os sintomas positivos e os aplicação de uma abordagem sintomas negativos. Quando estes farmacológica, psicológica e social. doentes vão à consulta de Psiquiatria Devido á cronocidade da doença, torna- geralmente acompanhados pelos seus se necessário elaborar um projecto de familiares, evidenciam claramente uma tratamento e de reabilitação a longo evolução bastante significativa, tornando prazo. Estando sempre inerente a inevitável o internamento. A maioria das terapêutica farmacológica, nas vezes o doente não tem consciência do abordagens psicológicas tenta-se seu estado, tornando difícil a adesão à combinar as psicoterapias individuais terapêutica farmacológica e ao com os grupos terapêuticos. internamento (Afonso, 2002, p60). Relativamente ao aspecto social, a reintegração na sociedade é aqui o factor - Fase de estabilização preponderante. Uma vez instituída a terapêutica farmacológica, e existindo uma melhoria Psicofarmacologia e um controlo dos sintomas psicóticos, segue-se a prevenção das recaídas. O Os fármacos e as formas de tratamento psiquiatra tem como objectivo ir da esquizofrenia, têm vindo a sofrer alterando a medicação à medida que alterações ao longo dos tempos. Na persistem alguns sintomas em menor década de 50, as terapêuticas aplicadas intensidade. Esta fase de manutenção incidiam sobre choques insulínicos e pode durar um tempo indeterminado, lobotomias e eram utilizados opióides, sendo a medicação essencial para a barbíturicos e anti- histamínicos. prevenção de recaídas (Afonso, 2002, Segui-se a terapia convulsivante e p60). posteriormente a electroconvulsivoterapia através de - Recaída choques eléctricos. O objectivo do tratamento da Com o aparecimento da clorpromazina, esquizofrenia é prolongar a fase de surgiram um novo tipo de fármacos, estabilização, mas por vezes é impossível designados de antipsicóticos clássicos. evitar recaídas e voltar-se de novo á fase Estes medicamentos actuam ao nível da mais aguda da doença. Alguns sinais de dopamina e revelam-se particularmente recaída são a “...agitação, agressividade eficazes no controlo dos sintomas ou medo, descuido da higiene pessoal ou positivos da doença, como as ideias aparência, ideias estranhas ou discurso delirantes e as alucinações. Verificou-se incoerente, abuso de álcool ou outras também, uma considerável melhoria na substâncias”. (Afonso, 2002, p.62). agitação e nos comportamentos destes Como tal, terá que se fazer uma sujeitos. intervenção farmacológica precoce no Mas estes medicamentos tinham a sentido da diminuição de internamentos. particularidade de não actuar sobre os Uma das principais causas ou motivos de sintomas negativos e tinham efeitos recaída são o incumprimento secundários muito incómodos. Então, terapêutico, devido aos “...efeitos surgiram os antipsicóticos atípicos que secundários da medicação, consumo de não só actuam ao nível dos sintomas álcool ou drogas ou dificuldades no positivos, como incidem também nos relacionamento médico – família – sintomas negativos e diminuem os doente” (Afonso, 2002, p62). efeitos secundários. Em suma, a adesão aos fármacos é essencial para que a pessoa com esquizofrenia possa ter uma vida diária minimamente aceitável, e para que possa Página 8 de 14
  • 9. viver em sociedade (Afonso, 2002, p 69- Este processo deve ser contínuo, visando 72) o aumento da autonomia, realização pessoal e qualidade de vida. Alguns dos Electroconvulsivoterapia objectivos são ainda, a diminuição das incapacidade resultantes da própria O objectivo é induzir, através de um doença, proporcionar uma maior estimulo eléctrico na zona bifrontal ou autonomia socioeconómica, melhorar o frontoparietal, uma crise convulsiva no desempenho dos papéis sociais e a doente. Na aplicação desta técnica, diminuição do número de recaídas e de recorre-se à anestesia geral, ao internamentos hospitalares. relaxamento muscular e à monitorização dos principais sinais vitais. Actualmente Psicoterapia a utilização desta terapia é rara e só é utilizada em doentes que criam A abordagem psicoterapêutica sem resistências face à medicação, ou em acompanhamento de fármacos é casos em que a utilização de desaconselhada, uma vez que os antipsicóticos esteja contra- indicada, fármacos têm um papel preponderante como por exemplo na gravidez. na fase de manutenção e estabilização da Esta é uma técnica considerada bárbara doença. por muitos, mas a verdade é que a A psicoterapia “...ajuda o doente a electroconvulsivoterapia traduz-se numa elaborar e a integrar a sua experiência elevada eficácia (Afonso, 2002, p77). psicótica”. (Afonso, 2002, p.78). Através desta forma terapêutica, o psicólogo deve proporcionar ao sujeito Psicoeducação uma organização das suas ideias, deve perceber a desadaptação e o mau estar A psicoeducação revela-se de extrema da pessoa. A psicoterapia tem inúmeros importância, porque visa um objectivos que devem ser compreendidos melhoramento da compreensão da em função do tipo de clientes e as doença por parte do doente e das desejadas mudanças que a pessoa famílias. Assim, pretende-se que a pessoa pretende. Como tal, os objectivos passam com doença mental adquira um maior por “...um restabelecimento do equilíbrio conhecimento sobre a doença, de forma a psicológico, melhorar a adaptação ao ter um papel activo na sua própria meio, reforçar os mecanismos de defesa reabilitação. Através da informação que é adaptativos, adopção de medidas que fornecida, o doente e a sua família poderá visam o alívio dos sintomas, promoção detectar e intervir precocemente nas do crescimento emocional e a aquisição recaídas, adoptar estratégias concretas de maturidade emocional através da durante a crise psicótica e melhorar a promoção de autonomia...” (Leal, 2000, adesão terapêutica (Afonso, 2002, p 80). p.137) Reabilitação na comunidade Através da reabilitação de pessoas com doença mental na comunidade, promove- se a desinstitucionalização diminuindo o número de internamentos prolongados. Segundo Zanini, são 10 os grandes Pretende-se a reinserção na vida diária e objectivos da psicoterapia com a pessoa a minimização do estigma e da exclusão com esquizofrenia. social. È indispensável elaborar projectos de reabilitação individuais porque cada 1. Oferecer continência e suporte. caso tem as suas particularidades clínicas. Página 9 de 14
  • 10. 2. Oferecer informações sobre a doença e 8. Conquista de maior autonomia e formas de lidar com ela. independência. Aumentando-se a capacidade de gerir a própria vida, melhora-se também a auto-estima. 3. Restabelecer o contacto com a realidade. O paciente deve ser capaz de reconhecer experiências reais e 9. Diminuição do isolamento. Outro diferenciá-las das alucinatórias ou sintoma proeminente nos pacientes delirantes. Isso pode ser alcançado esquizofrénicos é o autismo. Em geral, através do teste de realidade, feito pela estes pacientes apresentam pouca intervenção directa do terapeuta ou possibilidade de troca e de registo de pelos próprios pacientes no caso da experiências negativas no contacto com psicoterapia em grupo. as pessoas – geralmente paranóides. A oportunidade de experimentarem contactos positivos, individualmente ou em grupo,pode possibilitar a diminuição 4. Integrar a experiência psicótica no do autismo. contexto de vida do paciente, ou seja, dar um sentido à experiência psicótica. 10. Observação dos pacientes. Pode-se observar, durante o processo 5. Identificar factores stressantes e psicoterapêutico, o funcionamento e o instrumentalizar o paciente a lidar com as comportamento dos pacientes - de diversas situações da vida. Os factores esquiva, de inibição, de desconfiança ou desencadeantes de crises estão de inadequação - como também, a intimamente relacionados com as presença de sintomas psicopatológicos - recaídas e o prognóstico da doença. delírios, alucinações, auto-referência, Discutir formas de suportar, modificar ou depressão, entre outros. Essa observação compreender melhor as situações vividas pode ajudar o clínico na avaliação de pelos pacientes podem ajudá-los a ter determinado paciente. É mais uma melhor evolução na sua doença. aconselhável que a consulta clínica seja Algumas estratégias usadas são a busca realizada por um psiquiatra que não seja de solução de problemas e o o terapeuta do paciente. O que modifica planeamento de metas, conseguidas pela as características dos diferentes tipos de orientação directa do terapeuta ou intervenção será a ênfase dada a um ou através de discussões grupais. outro objectivo. 6. Desenvolver maior capacidade de diferenciar, reconhecer e lidar com diferentes sensações e sentimentos. 7. Crescimento emocional associado à mudança nos padrões de comportamento, I- Estigma resultando numa melhoria na qualidade de vida e na adaptação social fora do setting terapêutico. A doença mental é com frequência relacionada com o sem abrigo ou o mendigo que vagueia pelas ruas, que fala Página 10 de 14
  • 11. sozinho, com as pessoas que aparecem são aprendidos muito cedo. Todas estas na TV a dizerem que têm múltiplas ideias estão muito difundidas e parecem personalidades e com o psicopata “louco” ser muito difíceis de serem alteradas. que aparece nos filmes. A doença mental ligeira é Palavras como “esquizofrénico”, provocada pela pressão social, caso esta “maluco”, “homicida”, são palavras diminua, há melhorias. Provoca nos correntes utilizadas no dia-a-dia. outros pena e empatia e pode acontecer a qualquer pessoa próxima. No entanto a As pessoas pensam e dizem: “isto doença mental grave e por vezes não me vai acontecer de modo nenhum, incapacitante, tem uma causa biológica e não sou maluco, venho de uma família genética, é incurável, provoca nos outros estável com uma base sólida”, ou então, medo e só acontece aos outros e aos que “a doença mental não me afecta porque são diferentes. isso é um problema dos outros”. A discriminação pode tomar O Estigma relacionado com a várias formas. Como tal, tomemos por doença mental provém do medo do exemplo o caso de uma mulher que desconhecido e dum conjunto de falsas trabalhou seis meses como recepcionista. crenças que origina o desconhecimento e Quando disse ao patrão que iria faltar a falta de compreensão. Ninguém duvida algumas vezes ao trabalho por estar a que há um estigma inerente a quem tem fazer uma nova medicação para a sua doença mental. Mas o que é o estigma? doença mental, foi despedida. Pode ser considerado um preconceito que isola o indivíduo em relação aos Com base neste tipo de outros, como se estivesse marcada pelo acontecimentos, aqueles que de alguma passado de doença. Então, o estigma forma se recompuseram da sua doença abrange aqueles que tiveram ou têm mental, escondem-se frequentemente doença mental. As relações sociais ficam atrás de uma “máscara”, de modo a quase sempre prejudicadas, como se o manter o seu passado secreto, quando se doente fosse um ser à parte, objecto, por candidatam a novos empregos. A isso, de uma discriminação rejeitante. necessidade de esconder resulta de um receio fundado de se ser rejeitado e Geralmente o estigma tem uma desvalorizado, devido a uma doença, conotação negativa, que incide sobre o como se esta fosse um mal. doente, a doença, a instituição psiquiátrica e a ciência psiquiátrica. Mesmo o uso generalizado do Muitas vezes é a sociedade que arranja rótulo “doente mental” para classificar as um bode expiatório para as suas pessoas com doenças mentais, pode dificuldades, em que a pessoa com tornar-se estigmatizante para as pessoas, doença mental é que acaba por ser vítima tornando-as membros de um grupo da sociedade. indesejável e recusando-lhes o direito de serem considerados cidadãos como os É interessante analisar algumas outros. ideias que comprovaram que os doentes mentais eram retratados de uma forma Os media, podem contribuir para negativa. Os pacientes que sofriam de irradicar o estigma, promovendo a doenças psicóticas eram apresentados compreensão e a educação da sociedade como criminosos violentos, violadores ou acerca destas doenças, não divulgando assassinos. Os que sofriam de doenças conceitos errados e negativos que não psicóticas eram objecto de ridículo, ajudem a reforçar o estigma. mais dignos de dó ou motivo de conversa entre os incompreendidos. As pessoas O mais importante a reter é que com doença mental eram descritas de os doentes mentais são pessoas como acordo com estereótipos flagrantes, que todas as outras. As pessoas deverão ser Página 11 de 14
  • 12. julgadas pelos seus méritos próprios e As pessoas que receberam tratamento não, pela doença que sofrem e pelo psiquiátrico são instáveis podendo perder estigma associado. Tornando-nos mais o controlo a qualquer momento? atentos a estas problemáticas, podemos contribuir para criar as merecidas oportunidades a estas pessoas, A maioria das pessoas com doença permitindo-lhes levar uma vida normal e mental, tem maior tendência para se um regresso à comunidade como afastarem do contacto social do que se membros auto-confiantes e capazes de confrontarem agressivamente com os desenvolverem o seu potencial. outros. Geralmente as recaídas aparecem gradualmente e não de uma forma abrupta. Se os médicos, família e amigos mais próximos estiverem atentos aos sinais premonitórios da doenças, as Alguns conceitos errados sobre a crises podem ser detectadas e facilmente doença mental tratadas e evitar-se a perda de controlo. As pessoas que sofrem de doença mental nunca irão recuperar? As pessoas que foram tratadas de perturbações mentais são empregadas de As doenças mentais tratam-se e muitos baixa qualidade? doentes podem recuperar a saúde, logo, as doenças mentais devem ser encaradas do mesmo modo como se olha para as doenças físicas. Quando os cuidados e os Estas pessoas recuperadas tratamentos são prestados, é de esperar revelam-se excelentes empregados, uma melhoria ou recuperação, sendo muito pontuais e assíduos, permitindo às pessoas regressarem à demonstrando motivação e qualidade no comunidade e retomarem as vidas trabalho. Terá que se perceber que estas normais. pessoas estão sujeitas a recaídas que podem causar ausências dos seus empregos. Todavia, através de horários flexíveis que permitam este tipo de interrupções, estas pessoas poderão ser As pessoas com doenças mentais são empregados muito produtivos. violentas e perigosas para a sociedade? Estas pessoas apresentam tantos riscos de crime como os outros elementos da população em geral. Depois de recuperados, estes doentes têm a XI – Considerações Finais tendência para se mostrarem mais tímidos e ansiosos, mais sujeitos a serem vitimas de crimes, do que autores dos mesmos. A investigação nesta área é extremamente diversificada, principalmente ao nível dos aspectos psicoterapêuticos. Página 12 de 14
  • 13. Nesta perspectiva, pretendo abordar Afonso, P. (2002). Esquizofrenia. num momento posterior, a psicoterapia Conhecer a Doença, 1ª edição, Lisboa, psicanalítica no psicótico ou na pessoa Climepsi Editores com esquizofrenia, de forma a complementar o trabalho actualmente American Psychiatric association,(1996). apresentado. Como tal, a interiorização DSM-IV, Manual de Diagnóstico e do que é a esquizofrenia e de todos os Estatística das Perturbações Mentais, aspectos que contemplam esta patologia, 4ªedição, Lisboa, Climepsi Editores. são essenciais para que se possa intervir a um nível mais pessoal e afectuoso, num A.P.D.D.M.D- Associação de Apoio aos ambiente propício à catarse de dor e Doentes Depressivos e maníaco - sofrimento, do real e do ilusório, o depressivos. Estigma – Doença e Saúde contexto psicoterapêutico. mental. Segundo Badaracco (1986), a pessoa com Badaracco, J. (1986). La Identification Y esquizofrenia não se pode desenvolver Sus Vicisitudes En La Psicosis. La baseando-se na sua espontaneidade ou Importancia Del Concepto “ Objeto numa identidade consistente. Como Enloquecedor”, Int. J. Psycho-Anal, 67- alternativa, constrói pseudo-identidades 133. através de representações mentais. O Cardoso, C. (2002). Os Caminhos da psicótico sente que a sua identidade está Esquizofrenia, 1ª edição, Lisboa, Climepsi constantemente a ser testada quando Editores entra em contacto com a realidade, e é por isso que necessita de manter uma Diniz, A. (1995). A avaliação na distância controlada em relação à instituição psiquiátrica: breve introdução realidade ameaçadora. à história de um percurso. Avaliação Psicológica: Formas e Contextos, Análise Aqui a psicoterapia terá concerteza um Psicológica, 3: 133- 137 papel extremamente importante, na medida em que irá ajudar o paciente a Fonseca, A. (1997). Psiquiatria e questionar e a entender estas Psicopatologia, 1º volume, 2ª edição, representações mentais. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian. Podemos dizer que a pessoa Gleitman, H. (1986). Psicologia, 3ª edição, esquizofrénica constitui-se como uma Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian personagem desempenhando um papel. Na realidade não é a pessoa que se Leal, I.(2000). Entrevista Clínica e expressa através da personagem, mas a Psicoterapia de Apoio, 2ªedição, Lisboa, personagem que parece manter viva a ISPA. pessoa. OMS- Definição de Saúde Mental. O surto psicótico produzir-se-à quando o Retirado em 22 de Maio de 2003 em sujeito se confronta com as suas http://www.whoafro.org/mentalhealth/ carências, provocando angústias e publications/respostas_web_novas_esper desintegração. Desta forma irá recorrer ancas.pdf novamente às suas construções Zanini, Márcia H (2000). Psicoterapia na delirantes com o intuito de garantir a sua esquizofrenia. Programa de Esquizofrenia sobrevivência psíquica, embora nunca na (Proesq), Unifesp/EPM. Rev Bras totalidade. (Badaracco, 1986) Psiquiatr 2000;22(Supl I):47-9 VI – Referências Bibliográficas Página 13 de 14