O documento discute vários conceitos de poder, incluindo poder como um fenômeno social, econômico e político. Aborda as três formas de autoridade segundo Max Weber: autoridade tradicional, carismática e racional-legal. Também explora os componentes do poder, como força, autoridade e influência, e como o poder se manifesta nas organizações.
1. O PODER NAS ORGANIZAÇÕES
Sob uma ótica marxista, vemos o poder como um fruto da alienação
econômica. A alienação trata-se de um fenômeno no qual se reprime características
pessoais em virtude de algum fator externo, no caso em comento, o fator econômico.
Trata-se de um poder legitimado pelas capacidades econômicas superiores de um
indivíduo. Temos também o poder no nível psicanalítico, o qual se caracteriza também
por uma alienação, dessa vez em virtude de uma sensação de impotência e fraqueza
diante de outrem, na qual o ser humano age em busca de sua própria segurança. Outra
perspectiva de poder pode ser traçada no âmbito da ideologia. Pessoas com grande
capacidade de influência possuem facilidade em persuadir outros indivíduos em prol
de seus interesses, sejam eles pessoais ou organizacionais. Não obstante a tais
afirmações, esse tipo de poder é facilmente identificável nas relações políticas entre
candidatos e eleitores. Antes de alcançar a definição de poder que interessa no âmbito
organizacional, não seria prolixo relembrar as três formas de autoridade segundo
Max Weber. De acordo com Weber, os tipos de autoridade seriam: a tradicional,
baseada nos costumes e tradições de um povo, legitimando-se na maioria das vezes
pela dita “Vontade Divina”; a carismática, caracterizada pelos atributos pessoais do
indivíduo, seja em seus feitos ou em seus discursos eloquentes; a racional -legal, que se
baseia nas regras e no ordenamento jurídico reconhecido como válido por uma
determina comunidade. Esta última forma de autoridade é a que mais de aproxima
com a análise de poder que fazemos com relação às organizações. Finalmente
encontramos o conceito de poder como um fenômeno político. Prestes Motta cita
Morgan em seu livro, pois este “descreve bem a metáfora política, isto é, o fato de que
as organizações podem ser vistas como arenas complexas onde os indivíduos buscam
seus interesses particulares por intermédio dos meios oferecidos pelas estruturas e
regras burocráticas”. Seguindo esta linha de pensamento, pode-se citar as duas
abordagens sobre o poder descritas por Hardy & Clegg apud Cappelle et al, que
descrevem o poder sob a perspectiva funcionalista e a crítica, antagônicas entre si.
Segundo a primeira corrente, o poder deveria ser suprimido no âmbito organizacional,
sendo reconhecidos e concedidos como detentores do poder, grupos informais. Tal
postura é endossada pelo reconhecimento dos objetivos da administração que se
igualam ao da organização, devendo-se apenas haver uma preocupação com o
condicionamento dos empregados a não manifestarem posições contrárias a tais
interesses. Sendo assim, não havendo conflitos, ou estes sendo considerados como
ilegítimos, não que se falar em uso do poder. Já a corrente crítica reconhece a
existência dos conflitos, admitindo que o ser humano, mesmo que extremamente
condicionado a apenas executar a tarefa que lhe foi imposta, possui um senso de
liberdade que lhes permite resistir à alienação e dominação da cúpula administrativa.
Os adeptos de tal corrente buscam entender os mecanismos de dominação dos grupos
ditos superiores e também investigam as formas de resistência dos dominados. A
abordagem crítica também se aproxima mais do conceito de poder que está sendo
discutido neste trabalho, relacionando-se também com os pressupostos de que os
atores sociais interagem na arena política em busca de objetivos pessoais e
específicos, devendo para tanto agir em cooperação uns com os outros.
2. O PODER SOCIAL - O Poder social, como já diz o nome, está em meio à sociedade. É a
capacidade de um coletivo realizar influência social, ou seja, influenciar uma ou mais
pessoas, de forma comunicativa, harmônica, ou até repressiva. Quanto à ação social
estratégica, esta se volta para os objetivos organizacionais, enxergando oportunidades,
analisando riscos e oportunidades de uma decisão e assumindo os possíveis ônus das
mesmas. Dentro de tal concepção, não seria equivocado fazer menção aos
administradores públicos. O direito administrativo prevê duas formas de atuação dos
agentes públicos: a vinculada e a discricionária. A vinculada está adstrita ao texto legal,
de forma que o administrador não pode agir de outra maneira senão a que lhe está
legalmente citada. Já a discricionária dá ao administrador, mesmo com estritas opções,
determinada liberdade de atuação. Nesta pequena faixa de liberdade de atuação, o
administrador, baseado em seus conhecimentos racionais e, logicamente, nos
elementos cognitivos inerentes ao seu ser, deve analisar as possíveis consequências de
suas ações e agir de maneira que possa cumprir a missão que lhe foi confiada.
O QUE É PODER? Poder é, literalmente, o direito de deliberar, agir e mandar e
também, dependendo do contexto, a faculdade de exercer a autoridade, a soberania,
ou o império de dada circunstância ou a posse do domínio, da influência ou da força.
Poder tem também uma relação direta com capacidade de se realizar algo, aquilo que
se "pode" ou que se tem o "poder" de realizar ou fazer. A sociologia define poder,
geralmente, como a habilidade de impor a sua vontade sobre os outros, mesmo se
estes resistirem de alguma maneira. Existem, dentro do contexto sociológico, diversos
tipos de poder: o poder social (de Estado); o poder econômico (poder Empresarial);
o poder militar (poder político); entre outros. Foi importante para o desenvolvimento
da atual concepção de poder os trabalhos de Michel Foucault, Max Weber, Pierre
Bourdieu.
A DOMINAÇÃO - No cerne de relações sociais, moldadas pelas lutas, Max Weber
percebe de fato a dominação, dominação esta, assentada em uma verdadeira
constelação de interesses, monopólios econômicos, dominação estabelecida na
autoridade, ou seja, o poder de dar ordens, por isso ele acrescenta a cada tipo de
atividade tradicional, afetiva ou racional um tipo de dominação particular. Weber
definiu as dominações como a oportunidade de encontrar uma pessoa determinada
pronta a obedecer a uma ordem de conteúdo determinado.
*Dominação Legal (onde qualquer direito pode ser criado e modificado através de um
estatuto sancionado corretamente), tendo a “burocracia” como sendo o tipo mais
puro desta dominação. Os princípios fundamentais da burocracia, segundo o autor é a
Hierarquia Funcional, a Administração baseada em Documentos, a Demanda pela
Aprendizagem Profissional, as Atribuições são oficializadas e há uma Exigência de todo
o Rendimento do Profissional. A obediência se presta não à pessoa, em virtude de
direito próprio, mas à regra, que se conhece competente para designar a quem e em
que extensão se há de obedecer. Weber classifica este tipo de dominação como sendo
estável, uma vez que é baseada em normas que, como foi dito anteriormente, são
criadas e modificadas através de um estatuto sancionado corretamente. Ou seja, o
poder de autoridade é legalmente assegurado.
*Dominação Tradicional (onde a autoridade é, pura e simplesmente, suportada pela
existência de uma fidelidade tradicional); o governante é o patriarca ou senhor, os
dominados são os súditos e o funcionário é o servidor. O patriarcalismo é o tipo mais
3. puro desta dominação. Presta-se obediência à pessoa por respeito, em virtude da
tradição de uma dignidade pessoal que se julga sagrada. Todo o comando se prende
intrinsecamente a normas tradicionais (não legais) a meu ver seria um tipo de “lei
moral”. A criação de um novo direito é, em princípio, impossível, em virtude das
normas oriundas da tradição. Também é classificado, por Weber, como sendo uma
dominação estável, devido à solidez e estabilidade do meio social, que se acha sob a
dependência direta e imediata do aprofundamento da tradição na consciência coletiva.
*Dominação Carismática (onde a autoridade é suportada, graças a uma devoção
afetiva por parte dos dominados). Ela assenta sobre as “crenças” transmitidas por
profetas, sobre o “reconhecimento” que pessoalmente alcançam os heróis e os
demagogos, durante as guerras e revoluções, nas ruas e nas tribunas, convertendo a fé
e o reconhecimento em deveres invioláveis que lhes são devidos pelos governados. A
obediência a uma pessoa se dá devido às suas qualidades pessoais. Não apresenta
nenhum procedimento ordenado para a nomeação e substituição. Não há carreiras e
não é requerida formação profissional por parte do “portador” do carisma e de seus
ajudantes. Weber coloca que a forma mais pura de dominação carismática é o caráter
autoritário e imperativo. Contudo, Weber classifica a Dominação Carismática como
sendo instável, pois nada há que assegure a perpetuidade da devoção afetiva ao
dominador, por parte dos dominados.
COMPONENTES DO PODER - o poder se manifesta, invariavelmente, através de pelo
menos três componentes: a força, a autoridade e a influência. Levando em
consideração o aspecto da legitimidade, teríamos que o poder manifesto pela
autoridade é legítimo, pois aceito pela sociedade, e nesse sentido teríamos um
exercício de poder legítimo, baseado em três tipos “puros” de dominação: a
autoridade burocrática ou racional; a tradicional; e a carismática. Os outros
componentes do poder poderiam não ser legítimos, mas da mesma forma
manifestações efetivas e que, do nosso ponto de vista, constituem-se na força e na
influência. Vejamos cada um desses componentes do poder:
*A força - denominamos força o uso ou ameaça de coerção física. A coerção física
pode ser expressa através de armas, e é um importante atributo da força. Os Estados
reservam o monopólio de todos os meios importantes de coerção física para a polícia
ou as forças militares. Uma das principais características do Estado é este monopólio
que utiliza para manter a integridade e impor sua vontade sobre o conjunto do seu
território. Nos primeiros agrupamentos humanos, a força provavelmente era o único
componente do poder, mesmo na Idade Média permanecia com tal significado. Com o
advento do capitalismo foram surgindo outras componentes que equilibram o poder
manifesto pela força, muito embora ainda permaneça sendo um dos mais importantes
componentes do poder.
*A autoridade - compreendemos autoridade como um direito estabelecido para tomar
decisões e ordenar ações de outrem. Dito de outro modo é a legitimação do poder,
através da incorporação de conteúdo jurídico e moral. Essa legitimidade assenta-se
sobre o consentimento durável e tendente à unanimidade entre os membros de uma
sociedade ou de um grupo social. Max Weber identificou três tipos de autoridades: a
burocrática (ou racional), a tradicional e a carismática.
4. -Autoridade burocrática ou racional-legal, baseada no cargo ou posição formalmente
instituída, é a autoridade investida no cargo que o indivíduo ocupa. Ele só tem essa
autoridade enquanto estiver ocupando o cargo. O exercício da autoridade é legítimo
por estar de acordo com as leis ou com as regras escritas. A lei é o princípio
legitimador em função de sua racionalidade, independentemente do líder ou chefe
que a faça cumprir.
-Autoridade tradicional, baseada na crença, normas e tradições sagradas e que as
pessoas obedecem em virtude da tradição. Não há necessidade de legislação. A
obediência à autoridade é devida à tradição e aos costumes, à vontade da pessoa. Não
há a relação de capacitação com as funções a serem executadas. Legitima o poder no
passado e no status herdado. A autoridade se constitui pela vassalagem dos súditos.
Gera organizações administrativas e funcionais.
-Autoridade carismática, baseada nas qualidades pessoais excepcionais do indivíduo
(líder). “Baseada na veneração extra cotidiana da santidade, do poder heroico ou do
caráter exemplar de uma pessoa e das ordens por ela reveladas ou criadas”
(1991:141), a qual se obedece em função do carisma (imagem de notável sabedoria,
invencibilidade ou santidade). Sua natureza é quase religiosa, e a organização ou
sociedade permanecerá estável enquanto durar o líder.
*Influência - chamamos de influência a habilidade para afetar as decisões e ações de
outros, mesmo não possuindo autoridade ou força para assim proceder. É influente
um indivíduo que consegue modificar o comportamento dos outros sem ocupar um
cargo público ou privado, e sem utilizar nenhuma forma de coerção física. A influência
tem aumentado sua importância como um componente do poder. Um aspecto que
deve ser considerado é a posse de meios materiais ou não por parte de um grupo ou
indivíduo que, utilizando de habilidade na manipulação do que possui, adquire maiores
parcelas do poder, ou se constitui de fato numa fonte de poder, modificando o
comportamento de outras pessoas de acordo com a sua vontade.
*As Elites – entende-se por elite uma minoria que existe em todas as sociedades e que
por várias formas é detentora de autoridade ou poder, em contraposição a uma
maioria que dele está privada, importante se assinalar que as elites são compostas
exclusivamente por pessoas ou grupos que ocupam posições de poder.
O PODER E AS ORGANIZAÇÕES - Na estrutura de funcionamento das organizações, a
questão do poder é fundamental, pois se trata de um sistema de relações sociais em
que existe permanentemente uma hierarquização baseada em diferentes capacidades
dos indivíduos nas posições que estes ocupam na organização. O problema do poder
na interação entre indivíduos era ignorado pela teoria racionalista clássica, pois “o
modelo mecanicista da conduta humana em que se apoiava, excluía as relações
complicadas e ambíguas que se desenvolvem em torno das relações de poder”. Crozier
(1969, p. 10). Levando-se em consideração essa questão do poder, podemos falar
numa organização como uma estrutura hierárquica de poder. Sendo este
compreendido como a capacidade que possuem os indivíduos de modificarem o
comportamento de outro ou de outros, teremos na base da organização aqueles que
apresentam pouco poder, seja pessoal ou institucional, e no topo aqueles que
apresentam maior poder, este sendo institucional, mas também pessoal (pois permitiu
ao seu possuidor acesso ao poder institucional).
5. PODER E CONTROLE NAS ORGANIZAÇÕES - o poder e o controle ocupam um lugar
central na vida das organizações e na existência dos seres humanos. Há inúmeros fatos
que ilustram situações envolvendo relações de poder nas organizações , e a intenção
de um indivíduo ou grupo para tentar controlar outros. Se levarmos em consideração
as diversas manifestações de poder externo, e os esforços que desenvolvem para
colocar limite na atuação das organizações, poderemos compreender que o
funcionamento de qualquer organização está relacionado com um conjunto de
relações de poder orientadas para o controle. O controle organizacional ao qual a
organização submete seus membros não se limita a seus comportamentos individuais
e a suas relações sociais, e nem se restringe a estas. E um controle instrumental que
lhe permite intervir sobre seu entorno como ator coletivo. A essência do ato de
organizar é a perpetuação do controle racional de certos aspectos da realidade
humana; daí que se pode dizer que a fronteira da organização se encontra onde o
controle termina. Infestas Gil (2001, p.49). Devemos acrescentar que as organizações,
por si mesmas, dispõem de poder, pois, além de sofrerem interferência de outras
instituições, influenciam o funcionamento de outras organizações, apresentam um
poder interorganizacional.