O documento discute diversas correntes filosóficas contemporâneas como o relativismo, fundamentalismo e utilitarismo. Também aborda a filosofia da Sobrames de incentivar a arte literária entre seus membros de forma democrática, respeitando diferentes crenças.
Jornal da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores discute filosofias e relativismo
1. Jornal
O Bandeirante
Ano XVIII - no 209 - abril de 2010
Publicação Mensal da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional do Estado de São Paulo - SOBRAMES-SP
da
Pr
em
ia
Filosofias, Relativismo
ão
Ed
iç
e Sobrames – SP
“Tanto nos tornaríamos sábios conservando no pensamento os
diversos resíduos de todas as filosofias humanas, como teríamos
saúde engolindo todos os fundos de garrafa de uma farmácia antiga”
Victor Marie Hugo (1802-1885) – poeta, escritor, dramaturgo e político francês.
Helio Begliomini
Médico urologista
Presidente da SOBRAMES-SP (2009-2010).
Por mais utilitarista e pragmático a circunstâncias ou a uma época. Pa- e o utilitarismo, muito atrelado ao ceti-
que seja a geração contemporânea glo- rece não haver o certo e o errado, e a cismo e ao hedonismo, que consiste no
balizante, caracterizada pela sociedade diferença entre ambos torna-se tênue aceitar como verdadeira a satisfação do
da praticidade do descartável – draga- ou individualista. Assim, inexistem pre- bem-estar no aqui e no agora.
do goela adentro por estrangeirismos ceitos morais ou éticos basilares válidos Fazendo grande oposição ao rela-
como available, fast food, delivery, drive- para todos os homens, uma vez que se tivismo, tem-se o fundamentalismo,
throu, rôtisserie, happy hour, hot dog, milk- volatilizam com o passar do tempo. O conjunto de práticas originárias na
shake, part time, check list, check in, check homem torna-se o paradigma e a medi- segunda metade do século XIX em
out, check up, marketing, market share, da de tudo, e até se coloca no lugar de ambientes protestantes dos Estados
budget, merchandising, mix, outlet, outdoors, Deus. Os críticos sentenciam essa situa- Unidos da América, que objetivam in-
jeans, mousse, mouse, show, data show, ção como “ditadura do relativismo”. terpretar as Sagradas Escrituras ao “pé
shopping center, call center, contact center, Em suma, a verdade deixa de ser da letra”, prescindindo de pesquisas
big boss, “Big Brother”, vernissage, chef, objetiva e universal, uma vez que não linguísticas, arqueológicas, históricas,
motoboy... etc., etc. –, e embasada na lei se torna a conformação do intelecto geográficas e científicas. O fundamen-
de Gerson, aquela de sempre levar van- com a realidade em si, como ensina a talismo permeia setores mais ou menos
tagem, o ser humano tem agido, desde filosofia clássica, mas, adversamente, expressivos de todas as crenças: do ca-
priscas eras através dos tempos, por um torna-se subjetiva e pessoal, pois pre- tolicismo às mais de trezentas denomi-
conjunto de ideias e de pensamentos tende conformar a realidade com o in- nações protestantes consequentes da
que perfazem uma filosofia de vida. telecto. Mais explicitamente se anui o fragmentação do cristianismo oriundas
Hoje em dia, em nosso mundo emi- postulado aquiniano de “adaequatio rei da Reforma luterana; do islamismo ao
nentemente eclético, sobremodo no et intellectus”, ou seja, a verdade como judaísmo.
lado ocidental, esbanjam-se diversas uma correspondência entre a realidade A filosofia da Sobrames é o incenti-
correntes filosóficas que se entrecru- e o pensamento. vo e o cultivo da arte literária entre seus
zam, se complementam, se contrapõem, Entre as causas do relativismo os associados. Eles sabem que estatutaria-
se contradizem ou se anulam. Assim, os experts apontam a filosofia imanentista mente a entidade não é confessional ou
ventos do pensamento já sopraram do que nega todo o valor alheio à experiên- sectária, e que não se atrela a nenhu-
marxismo ao liberalismo ou libertinis- cia humana e, com isso, opõe-se às elu- ma religião, seita ou partido político.
mo; do coletivismo ao individualismo cubrações atinentes ao transcendente; o Constitui-se num areópago moderno
radical; do ateísmo ao misticismo; do historicismo que prega que tudo é provi- onde seus membros gozam de plena
agnosticismo ao sincretismo... sório, variável ou mutável; a busca des- liberdade de expressão, a qual deve,
Entretanto, o tufão da virtualida- mesurada do progresso lato sensu, pelo necessariamente, ser exercida de ma-
de do pensamento não para por aí. progresso, como se essa condição por si neira responsável, ou seja, respeitando
Assim, tem-se o relativismo, que é um só fosse preencher todos os anseios ou os sagrados limites da alteridade.
dos espécimens do pensamento con- daria todas as respostas à alma humana; A convivência democrática e salutar
temporâneo que mais permeiam nossa o ceticismo que defende a ausência de estabelece-se quando, peremptoria-
civilização. Caracteriza pela recusa de verdades objetivas e normas morais pe- mente, se respeitam crenças e valores
qualquer proposição filosófica ou ética renes, mas sim, que as teorias válidas e mui caros a outrem, ainda que para os
de valor universal e absoluto. Tudo o verdadeiras são aquelas que proporcio- autores de seus trabalhos eles sejam in-
que se diga ou se faça torna-se relativo nam resultados concretos e satisfatórios; significantes ou mesmo desprezíveis.
2. 2 O BANDEIRANTE - Abril de 2010
EXPEDIENTE Entramos no mês de abril com um desafio: man-
ter nosso Boletim não significa alimentá-lo apenas
Jornal O Bandeirante
ANO XVIII - no 209 - Abril 2010 de matérias dos nossos confrades, mas também ter
uma administração financeira sadia, que permita
Publicação mensal da Sociedade Brasileira de Médicos perpetuá-lo ao longo da nossa existência.
Escritores - Regional do Estado de São Paulo SOBRAMES-SP .
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Editores: Carlos A. F. Galvão, Roberto A. Aniche. Jornalista
a nos auxiliarem nessa tarefa, por exemplo, quitando
Responsável e revisora: Ligia Terezinha Pezzuto (MTb as anuidades que nos permitem apenas a subsistên-
17.671 - SP). Colaboradores desta edição:Aída Lucia Pulin
Dal Sasso Begliomini, Carlos Augusto F. Galvão, Geovah cia. Outra maneira de contribuir com nosso Boletim
Paulo da Cruz, Helio Begliomini, José Jucovsky, Josyanne é anunciando seu consultório ou sua clínica como
Rita A. Franco, Luiz Jorge, Roberto Antonio Aniche, Sergio
Perazzo e Sônia Andruskevicius.Tiragem desta edição: forma de colaboração à Sobrames.
300 exemplares (papel) e mais de 1.000 exemplares PDF
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Diretoria - Gestão 2009/2010 - Presidente: Helio Anuncie!
Begliomini. Vice-Presidente: Josyanne Rita de Arruda Carlos Augusto F. Galvão
Franco. Primeiro-Secretário: Ligia Terezinha Pezzuto.
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Efetivos: Flerts Nebó, Carlos Augusto Ferreira Galvão, Luiz
Jorge Ferreira. Conselho Fiscal Suplentes: Geovah Paulo
da Cruz; Rodolpho Civile; Helmut Adolf Mataré.
Matérias assinadas são de responsabilidade de seus
O Malho
autores e não representam, necessariamente, a
opinião da Sobrames-SP Hoje é dia de resmungos... Afinal nossa principal produção literária ficou
espremida em termos de tempo e a primeira regra que a velha Sampa impõe
Editores de O Bandeirante
a quem chega é que tempo é ouro, e não pode ser desperdiçado.
Flerts Nebó – novembro a dezembro de 1992
Flerts Nebó e Walter Whitton Harris – 1993-1994
Claro que faz parte da programação de nosso tempo as informações
Carlos Luiz Campana e Hélio Celso Ferraz Najar – 1995-1996 inerentes à sociedade, pois todos devemos nos inteirar do que acontece no
Flerts Nebó e Walter Whitton Harris – 1996-2000 seio de nossa sociedade. Mas haver debates sobre as informações é muito. O
Flerts Nebó e Marcos Gimenes Salun – 2001 a abril de 2009
Helio Begliomini – maio a dezembro de 2009 malho aqui no cantinho cronometrou mais de vinte minutos sobre debates
Roberto A. Aniche e Carlos A. F. Galvão - janeiro 2010 - relacionados ao Congresso de Belo Horizonte. Nada contra... Mas convenha-
Presidentes da Sobrames – SP
mos que era tempo para poesias, contos e por aí. Achei que desperdiçamos
o tempo de algo muito importante: a Literatura.
1 Flerts Nebó (1988-1990;1990-1992 e out/2005 a dez/2006)
o
2o Helio Begliomini (1992-1994; 2007-2008 e 2009-2010)
Chato. Muito chato.
3o Carlos Luiz Campana (1994-1996)
4o Paulo Adolpho Leierer (1996-1998)
5o Walter Whitton Harris (1999-2000)
6o Carlos Augusto Ferreira Galvão (2001-2002)
7o Luiz Giovani (2003-2004)
8o Karin Schmidt Rodrigues Massaro (jan a out de 2005) Clínica Benatti Walter Whitton Harris
Cirurgia do Pé e Tornozelo
Ginecologia Ortopedia e Traumatologia Geral
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3. SUPLEMENTO LITERÁRIO
O BANDEIRANTE - Abril de 2010 3
CONCURSO FLERTS NEBÓ – EDIÇÃO 2009/2010
Criado em 2000 para eleger a melhor prosa dentre todas as apresentadas nas Pizzas Literárias. Homenageia o Dr. Flerts Nebó,
médico reumatologista nascido em 1920 e um dos fundadores da Sobrames São Paulo.
Trabalho premiado no Concurso “Flerts Nebó” edição 2009
Pequeno Inventário de uma Grande Paixão
Sergio Perazzo
serzzo@terra.com.br
Vê-la esperando na calçada, celular na mão e sempre de vestido florido, sempre atrasada, não importa
o quanto, era uma garantia de que um milagre se fez. Um bálsamo imediato pelas horas de espera. Nada
mais tinha importância. Ela estava ali, radiante, luminosa, irradiando um frescor puro, uma alegria sem
qualquer contestação ou constrangimento, raros nesses dias tristes de felicidade falsa esculpida a bens de
consumo, a eletrônicos de ultíssima geração, a farol de milha do carro do ano.
Uma mulher preenche a casa, calafeta frestas onde há pouco sumia a lembrança do aconchego. Sacode
os tapetes empoeirados de dores antigas, reumatismos de solidão que nem o unguento da funcionalidade,
pondo tudo no lugar de sempre é capaz de disfarçar.
Uma mulher deixa rastros de ninfa no ladrilho do banheiro, rastros do amor que levou da cama amarfanhada até a borda ainda
úmida da banheira, assim como úmido é o seu desejo. Rastros do seu perfume no dorso da toalha de banho.
Uma mulher deixa o cabide vazio pendurado na maçaneta da porta para que o vestido fique pairando no quarto como fantas-
ma benfazejo, ali mesmo onde há cinco minutos repousava a calcinha minúscula incapaz de conter o impulso do gesto sensual de
tirá-la com a delicadeza abrupta que se abre à carícia e ao orgasmo.
Ela vende o corpo e ele vende a alma mesmo quando se recusa a dar uma de lobo solitário uivando para a lua. Mesmo assim,
ainda sobram corpo e alma para os dois, tão plenos de doação um para o outro, doação inesgotável a nunca deixá-los exaustos.
Olhar-se nos olhos ainda é um doce mistério sem começo e sem fim e, ao mesmo tempo, presente está a sensação de eterni-
dade de uma intimidade que sempre esteve ali e não foi notada. Instalou-se simplesmente. De repente, uma timidez deslocada,
quase envergonhada, no instante mesmo em que o corpo se despe e é despido porque despe a alma e em que o corpo penetra e
é penetrado porque penetra essa mesma alma. Fusões de corpos. Fusões de almas. Interpenetrações.
Na calçada em frente, lá embaixo, reina a paz absoluta, regida por um início de tarde colorido pelos raios de um sol que bem
podia ser, em sua palidez enluarada, o de um outono antecipado no calendário.
Texto 1
Prêmio Flerts Nebó – Menção Honrosa
Luiz Jorge
O mundo ia acabar em dois mil. A única pessoa que eu conheci que tinha muito medo foi o Henrique
e para ele acabou mesmo, a primeiro de janeiro de 2000.
Sumiu no medo. Muito mais cedo que a sua mãe que tinha um enredo monstruoso de doenças e enfer-
midades, aquelas que ficam no rodapé das enciclopédias médicas e recebem três a quatro nomes de ilus-
tríssimos doutores. Médicos e professores, que descobriram seus sintomas, suas entranhas e suas estranhas
formas de tomarem o corpo do ser humano. E a elas dão seus nomes. Delas, ela tinha medo, mas não tinha
medo da Mudança do Século, coisa que ela nem sabia o certo o que era.
Às vezes confundia essa denominação com a mudança do itinerário do ônibus Pedreira Nazaré, que na
sua cabeça em vez de ir pela Praça Batista Campos poderia margear Belém pela margem do Rio Guamá.
Isto ela imaginava enquanto dava os nós nos arremates dos chuleios de alfaiate que aprendera em Oriximina. Para terminar os
bordados e entregá-los a tempo de festas e formaturas, chamava Henrique para entregá-los a tempo de dar tempo.
Recomendava cautela e abrigo das chuvas, que naquela região cuidam de cair aos montões, assim que um incauto sai à rua todo
engomado de branco, de sapato recém-engraxado ou comendo tapioca.
Henrique dobrava as roupas pelo avesso para conservar o passamento e saía sempre acocado para que a chuva não o visse.
Levava um saquinho com carvão moído, uma simpatia para espantar as chuvas da tarde.
Não tinha medo de aguaceiros, sabia as rezas contra trovão, faísca, relâmpagos e corisco. Só não sabia de reza contra mudança de
continua na próxima página
4. 4 O BANDEIRANTE - Abril de 2010
SUPLEMENTO LITERÁRIO
continuação da página anterior
Século.
Isto ele não sabia. Consigo sempre pensava que se mudasse o século ele podia virar mulher. Ou nascer catita e ser apedrejado
pelos meninos do bairro. Ou nascer vala, cheia de água podre e rãs. Tornar-se parte das águas empoçadas, protegidas pela Mãe
d’água.
Riu pensando em nascer Sabiá. Amava as mangas coloridas e cheirosas, em que eles todos prosa passavam as manhãs, saltando
de uma para outra, enchendo o papo e gorjeando felizes.
O tempo fechou enquanto ele pensava nos Sabiás.
Caiu uma chuva que não respeitou nem as rezas nem as promessas e muito menos o pó de carvão soprado com força na rua,
ela toda virando um rio.
As roupas estavam ensopadas, as dele e as da entrega.
Henrique começou a chorar. Só piorou as coisas porque lágrimas eram mais água.
Pensou em subir em uma das mangueiras da Praça, subir bem alto, mais alto que o alto da chuva. Passar de onde os Sabiás
ficavam, chegar o mais próximo do sol.
Primeiro colocou a roupa embrulhada em sua camisa, que para não atrair chuva, não era de cor vistosa, o que não havia adiantado
muito.
Colocou um pé após o outro e foi subindo como pôde, passando pelos galhos mais grossos, depois pelos mais finos, cruzou
com os Sabiás em seus ninhos, assustados com aquele intruso e foi subindo aos galhos mais e mais finos, enquanto a última noite
do moribundo século se ia.
Ninguém viu se ele voltou. Mas as entregas foram feitas. Todos foram às festas, com roupas de festa de fim de ano e de fim de
século.
Eu mesmo recebi um lenço de seda que deixei sobre a mesa.
Cheio de estórias como esta.
Viúvas da Seca
Prêmio Flerts Nebó – Menção Honrosa
José Jucovsky
Tonha despertara como sempre cansada e ainda com sono, parecendo ter o peso de uma pedra sobre a
cabeça. Levantou-se lentamente da cama, estrado sem pés com colchão de paina, colocado no canto oposto
ao fogão onde dormia. Magra, morena e de baixa de estatura tinha a pele ressecada tisnada pelo sol e o
rosto marcado por um marrom acastanhado decorrente de sucessivas gestações. Pé ante pé passou pelos
filhos que dormiam agrupados, procurando não acordá-los, caminhando em direção à porta; abriu-a bem
devagar, saindo para o relento.
Olhando ao redor apesar da semiescuridão, notou que a abóbada celeste espalhava indefinível brilho impregnando o ar de leve
transparência do crepúsculo matutino. Somente o horizonte mostrava-se milagrosamente avermelhado, invadido pelos invisíveis
raios da luz do Sol. No lusco-fusco, o amanhecer gradativo até onde a vista alcançava, ia vencendo a escuridão, afastando o vazio
impenetrável da noite.
Tonha agora completamente consciente sentia o sopro frio da fresca aragem a bafejar o seu delgado corpo precocemente
envelhecido que tiritava coberto pelo largo vestido de chita molhado de suor, causando-lhe arrepios como se sua alma estivesse a
se evaporar.
Naquele momento, inquieta e desamparada, mergulhara num profundo estado de submissão paciente, disposta a enfrentar com
o máximo de força e boa vontade para ultrapassar e vencer obstáculos, frustrações, pesadelos e medos que não podia decifrar. Com-
pletamente desperta dentro deste clima de dramática realidade de sofrimento e fome, sentia que em todas as manhãs havia sempre
um instante agradável, espaço este que logo iria se transformar num intolerável ar quente e pesado sob um Sol abrasador.
Sozinha ali ao olhar para o céu sussurrava para si mesma uma antiga canção de amor diante da imensidão da paisagem que
lhe parecia estar no limiar de outro mundo.De repente uma súbita volta à realidade reaproximou-a do desespero por não enxergar
sinais de chuva que, pelo visto, não deveria ocorrer tão cedo.
Ficou por um instante parada em frente da casa, construída como milhões de outras existentes no sertão, feita com a mesma
argamassa indestrutível que acompanha a existência dos sertanejos. Baixa e feia há muito perdera a sua caiação, seu teto grosseiro
formado por extensas vigas que sustentam telhas de vários tipos, enegrecidas pela fumaça do velho fogão a lenha. A escassa criação
em torno da casa consistia em duas cabras soltas e galinhas ciscando no terreiro.
continua na próxima página
5. SUPLEMENTO LITERÁRIO
O BANDEIRANTE - Abril de 2010 5
continuação da página anterior
À medida que ia reconhecendo a vegetação de pequeno porte, aumentava o mal-estar e a dor no estômago. A claridade crua
do Sol, cada vez mais presente, duplica o sentimento incorporado do medo da morte e ao mesmo tempo a firme convicção da
necessidade de se manter viva. Só dela dependia superar as grandes dificuldades impostas pela natureza adversa. Na sua fé ina-
balável, teve a convicção imposta pela sua religiosidade de que conseguirá passar mais um ano, na esperança de chuvas e na volta
de seu marido.
Dia a dia reconhece em detalhes a luta da terra-mãe para fugir do vazio desértico. Ao andar em volta do seu pedaço de chão,
sente a terra secando aos seus pés. O calor causticante semelhante a labaredas de fogo sedentas vai sugando parte da vida no
conjunto de plantas que cobre a região, exaurindo como um beijo da morte, lentamente, parte da seiva ainda existente. Mesmo
assim e com a ajuda de parentes conseguia sobreviver com os seus filhos, amparada pela graça de Deus.
`Há mais de quatro anos João partira para tentar encontrar trabalho no sul, mandava esporádicas notícias e, de quando em
vez, pequenas quantidades de dinheiro. Sua mãe e suas tias tinham tido o mesmo destino, viveram grande parte de suas existên-
cias com os homens da casa longe, na busca de melhorar o padrão de vida. Com os frequentes e intensos movimentos migratórios
decorrentes de cíclicos anos de seca no nordeste, muitos desses migrantes conseguiram se fixar nos centros urbanos das grandes
cidades, mandando buscar a mulher e os filhos; outros constituíram novas famílias e ainda outros, após penarem anos nos grandes
centros, voltaram ao local de origem.
Tonha no seu tímido e cismático pensar começa a perceber que ela é viúva de marido vivo, ou, como já ouvira falar: mais uma
vez viúva da seca. Apesar de semianalfabeta incorporara nos seus 28 anos de vida o conjunto de tradições, crenças, ladainhas e
cantos sacros, novenas e festividades que fazem parte do contexto da região. Altamente intuitiva, olhando pela lente feminina,
guarda na memória que tanto ela como as mulheres da família enfrentam um grande desafio: conciliar a lida na roça com a ma-
ternidade e com o trabalho doméstico. Mesmo assim com esta tripla jornada de trabalho as mulheres encontram-se inferiorizadas
na interação social da cultura nordestina.
As frustrações não abalam sua enorme fé interior. Apesar de ter mãos calosas e endurecidas pelo espinhoso rude lidar com a
enxada, sente-se obsessivamente capaz de qualquer sacrifício para sobreviver. Os limites impostos pela sua fragilidade feminina fo-
ram retemperados pelo trabalho braçal desde menina. Passa pela sua mente que grande parte de seus vizinhos são de mulheres que
conseguem prover seus sustentos e dos filhos com a labuta diária da terra. O conformismo que traz de berço não encontra revolta
ou lágrimas para continuar a chorar a morte de dois dos seis filhos que tivera. Relembra com tristeza e resignação tão desastrosas
perdas, porém reconfortada na sua fervorosa crença em Deus e agradecida pela solidariedade humana dos parentes e amigos que nos
momentos de dor estiveram presentes, contribuindo para amenizar seu sofrimento. Sabe que tem que começar seu dia de trabalho.
Após um profundo suspiro, contorna a casa dirigindo-se para o quintal, sussurrando com profunda devoção uma série de preces e
súplicas que revigoram sua alma. Aos poucos, recolhida nos seus afazeres e pensamentos, seus olhos tristes pesados e baços começam
a apresentar uma luz diferente: é a luz da esperança de dias melhores, tributo à fantástica vontade de viver.
PRêMIO BERNARDO DE OLIVEIRA MARTINS
Premia a melhor poesia dentre as apresentadas nas Pizzas Literárias do ano. Criado em 1997, homenageia o médico Bernardo
de Oliveira Martins, ginecologista, nascido em 1919. Ingressou na Sobrames em 1991, falecendo em 1997, tendo escrito poesias
brilhantes que mereceram este título.
Cio no Frio
Geovah Paulo da Cruz
geovahcruz@uol.com.br
Chegou o frio de esfriar. Chegou o frio de esfriar,
Chegou o frio de esquentar. Nosso clima vai esquentar.
Um queijo fundindo na grelha Um amplexo bem colante
Um vinho rubro, uma face vermelha Um cheiro de cio morno inebriante
Um coração e uma centelha Um desejo latejando pulsante
Um fungado ao pé da orelha Um impulso penetrante
Um tapete de pele de ovelha Um roçar gozoso excitante
Um vendo chão, outro vendo telha Um edredom e uma amante
Dois na fogosa parelha Dois orgasmos no mesmo instante
Lá fora pode gear. O frio chegou pra nos abrasar.
6. 6 O BANDEIRANTE - Abril de 2010
SUPLEMENTO LITERÁRIO
Relatividade
Prêmio Bernardo de Oliveira Martins – Menção Honrosa
Josyanne Rita A. Franco
Não envelheço, remoço, e só meu cansaço me pode vencer.
porque são moços meus pensamentos. Prefiro viver desperta,
São guardiões da eternidade revigorada em horas rubras,
fluindo à noite com ecos da tarde, sem qualquer pressa, nenhuma culpa,
orvalho deixado na cinza paisagem, querendo a messe do florescer.
passado remoto no findo presente! No entanto não amo,
São galhos e árvores do recomeço, eu só enlouqueço
barulho de água singrando rochedos, porque amar nunca admite
azul horizonte da grande viagem compartilhar sentimento.
se brisa ou se vento, Amar exige ser exclusivo,
sem freio ou cabresto! ser presa e garra do que é divino
Por isso não morro, eu desapareço. e ser divino eu não mereço.
Aquele que houve é remanescente Eu vivo o eterno e não conheço
na boca da noite, no brilho dos olhos, o medo da vida, o medo da sorte!
no ouvido do mouco ouvindo a prece Criando versos eu sou mais forte
na fala que disse do corpo ausente. e me concedo fazer sandices,
Portanto não durmo... desfaleço, buscar o intenso e o que resiste
porque dormir atrasa o viver ao abissal tempo final,
e só o cansaço me vence... viver além da rascoeira superfície.
O Mar Sou Eu
Prêmio Bernardo de Oliveira Martins – Menção Honrosa
Sergio Perazzo
serzzo@terra.com.br
O mar me abraça me embala turvo e límpido
me enlaça cabala salgado e insípido
me alarga a prumo
me aluga reto e torto Tudo navega prenúncio de chuva
me amassa nau sem rumo tudo afunda em marulhar ameno
me engole sem chão tudo passa o leme e o casco
me traga sem teto tudo singra a mão e a luva
me traça sem mastro tudo míngua
do raso ao fundo sem rastro tudo solta Noite de lua descorada
no peito e na raça tufão tudo volta de lua descarnada
na areia da praia brisa tudo laça de lua descarada
no aplauso e na vaia calmaria tudo ameaça dia de sol nascente
na onda quebrada apagado farol vela e remo de sol morrente
na espuma ramada recife nessa barcaça de sol pálido
na orla do porto atol teimo e temo de sol cálido
na fronteira do mundo nos confins de Tenerife lanço ferros de sol moreno
mar vivo de Casablanca dessa âncora navio fantasma
Mar Morto de Alexandria nessa Arca de Noé vivo e morro
ardente sarça urros e berros naufrágio e morte
O mar me embaraça bólido nesse vento máscara de Zorro
me embarca mistério volátil nessa maré capuz de monge
me abarca em estado sólido suspiro e asma
chalana enquanto avança Mas navegar é preciso pincel de azul
chalupa minério ao relento em céu de artista
chalaça líquido da boa esperança norte-sul
sargaço fumaça como o cabo e o Vasco terra ao longe
mormaço fumo no sereno terra à vista
7. SUPLEMENTO LITERÁRIO
O BANDEIRANTE - Abril de 2010 7
PRÊMIO ALDO MILLETO
Prêmio por desempenho no exercício da arte de escrever, criado em 2007, englobando pontuação em frequência nas Pizzas
Literárias, textos e livros publicados. Homenageia o Dr. Aldo Milleto, médico psiquiatra, falecido em 2008.
• Helio Begliomini
Um dia especial
Prêmio Super Pizza de Novembro de 2009
Aída Lucia Pulin Dal Sasso Begliomini
Acordei com muita calma e comecei a escutar um barulho anormal. Havia um ruído de fundo constante,
incômodo e um ou outro som mais alto. Espreguicei, bocejei, esfreguei os olhos ou o que parecia ser e coloquei
a cabeça para fora.
O dia estava claro, ensolarado apesar do horário. A agitação iniciou muito cedo.
Crianças corriam de um lado para o outro, brincando de pega-pega. Não sabia ao certo quais eram visitantes
e quais eram moradoras de tão animadas que estavam.
Algumas pessoas cabisbaixas, chorosas pareciam transportar sobre suas cabeças o peso do mundo, outras
serelepes transbordavam alegria.
Os pequenos jardins estavam em festa. Uma variedade enorme de cores e aromas produzidos pelas azaleias, margaridas, rosas, cravos,
flores do campo e tantas outras formando um belo tapete perfumado e bonito. Uma brisa refrescante roçava em minha face, trazendo
esses agradáveis perfumes da natureza que rapidamente se dissipavam no ar. Respirei fundo, estiquei meu esbelto corpo, leve, bonito...,
também assim é demais , para ser mais honesto digamos “bem apresentado” e observei a vizinhança.
Do lado esquerdo, vi o Pedrinho todo limpinho, arrumadinho, dentes escovados, bem penteado, sentado entre as margaridas, pro-
curando atentamente seus pais que não tardariam a aparecer como todos os anos desde 1985. Do lado direito Ana “a Louca” como era
conhecida na sua época de juventude observava com um profundo amor o velhinho magro e triste que insistia em acender uma vela que
o Pedrinho vindo rapidamente do outro lado, insistia em apagar. Ana não se conteve e deu uma gargalhada debochada como era de seu
feitio. Em frente o Janjão, a Tica e o Juninho sabiam que não receberiam ninguém, pois os seus há muito já haviam partido.
Caminhei, flutuei um pouco, fui até a capela cheia de gente numa mistura de sons em que se sobressaíam alguns pai-nossos e ave-
marias.
Agachada em um canto uma menininha chorava desconsolada. Seu pai afagava seus cabelos longos e com os olhos vermelhos procu-
rava conter as suas próprias lágrimas com palavras doces e suaves. Pairando no ar, um pouco acima de suas cabeças, flutuava uma jovem
mulher que não sabia direito o que lhe tinha acontecido, parecendo mais perdida e desamparada do que eles.
Voltei rapidamente para o meu canto na esperança de receber minhas visitas, mas ainda não havia ninguém .
Sentei-me um pouco cansado das andanças e relembrei com ternura breves momentos da minha vida. O nascimento da Sandy, em
seguida do Cacá, o fim do meu primeiro casamento, tão rápido e inesperado quanto o início dele, depois meu segundo, terceiro e quarto
casamento. Por último a Bia, que mulher, que formosura, perto dela eu sumia . É o que chamam de mulherão. Não havia quem não a
olhasse e cobiçasse quando passávamos. Encantava a todos os homens com sua beleza, juventude e desenvoltura. Foi também o que me
atraiu nela. Fiquei completamente apaixonado e entregue a seus caprichos. E olha que foram muitos. Grandes viagens, jantares, algumas
joias caras, incontáveis finais de semana, agitação diurna e noturna. Alguns até a culpam pela minha inesperada partida. Mas, eu nunca
acreditei, pois sempre confiei no grande amor que ela tem por mim.
Distraio-me com a constante movimentação. É um entra e sai de gente como nunca vi.
Apesar de tudo, estava sozinho. Não havia recebido ainda nenhuma visita. Onde estaria a Bia, com suas juras de amor eterno sussurra-
das em meu ouvido em nosso último jantar à luz de velas na marina de Ilhabela? A Sandy e o Cacá com certeza deverão estar acordando
agora com ressaca depois da balada de ontem à noite, ou quem sabe se perderam no caminho. Também não estão acostumados a virem
me visitar aqui tão longe de casa.
O dia vai transcorrendo e eu me inquieto cada vez mais. Observo o céu. Está carregado de nuvens escuras que rapidamente vão
se acumulando, prenunciando uma tempestade que em poucos minutos desaba com força
total. As poucas pessoas que ainda insistiam em ficar correm para se abrigar ou tentam sair
do parque. Terminou de
A chuva que se precipitou lavou da minha mente a última esperança de rever hoje meus escrever seu
entes queridos. Acalmo-me e percebo que isso não me incomoda mais. Se não puderam vir
hoje, quem sabe na próxima semana venham me fazer uma surpresa. Afinal para quem mora
livro? Então
aqui como eu, todo dia é dia de finados. publique!
REVISÃO ROBERTO CAETANO MIRAGLIA
ADVOGADO - OAB-SP 51.532
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8. 8 O BANDEIRANTE - Abril de 2010
SUPLEMENTO LITERÁRIO
PRÊMIO RODOLPHO CIVILE
Trata-se de prêmio para os frequentadores mais assíduos da nossa Pizza Literária, dividido em duas categorias: capital e interior.
Criado em 2007, homenageia o Dr. Rodolpho Civile, médico clínico aposentado e frequentador assíduo. Os ganhadores são sempre
duplamente premiados: pelo prêmio e pelo prazer de conviver um ano inteiro com todos os confrades, saboreando as pizzas em
situações divertidas e com boa leitura.
Categoria São Paulo
• Hélio Begliomini
• Luiz Jorge Ferreira
• Roberto Antonio Aniche
Categoria Interior
• Rodolpho Civile
Qualquer Coisa
Prêmio Superpizza de Fevereiro de 2010 – Tema Fantasias
Sônia Andruskevicius
Subi no muro, caminhei devagar, desequilibrando caí para o lado errado. A grama molhada tinha gosto
de chuva. Matei a sede com extratos encantados. Matei o tempo ouvindo histórias fantásticas. Não consegui
matar a fome sem ser cruel. Cada vez que eu tentava sobreviver, aprendia uma lição. Foram muitas. Algumas
inúteis. Libertei os negros acorrentados dentro de mim. Criei um antídoto para as segundas-feiras. Levei a
sério mensagens idiotas. Das brigas em que me envolvi, saí vestindo fantasias variadas. Tenho tempo para
respirar, ainda. Sigo os passos dos que estão na fila, pisando em tapetes azuis porque os vermelhos estão
sempre ocupados. Quando a temperatura esquenta, viro macumbeira. Conheço o segredo das cartas marcadas. Mostro os dentes
para esconder a mordida. Sou civilizada. Mudo os meses no calendário do meu guarda-roupa. O tempo é que me obriga. Minha
energia é pouca. O suficiente para andar em círculos no meu quarto. Fico de mau humor quando os aviões entram pela janela
sem pedir licença. Não como carne na sexta-feira santa. Não quero brigar com Deus. Continuo querendo entender as minhas
necessidades individuais. Gosto de matemática. Não o suficiente para entrar no infinitésimo. Não tenho feito grandes acertos
ultimamente. Gostaria de ter um sem número de amigos. Muitos amigos, quem sabe alguns. Não tenho um grande conteúdo a
oferecer, somente pequenos detalhes. É decepcionante empurrar sozinha as nuvens do céu.
Notícias
Alcione é Destaque
Nosso confrade, o poeta Alcione Alcântara Gonçalves, ingressou no Movimento Poético Nacional e foi honrado com a nomeação
de se tornar Delegado Regional dessa tradicional instituição literária, representando Tupã e toda a região circunvizinha.
Em consequência recebeu, em 8 de fevereiro passado, uma Moção de Congratulações pela Câmara Municipal da Estância
Turística de Tupã.
XXIII Congresso Nacional da Sobrames
3 a 6 de junho de 2010 – Ouro Preto – Minas Gerais
www.sobramesmg.org.br/congress
Congresso da Umeal – União de Médicos e Artistas Lusófonos
15 a 19 de setembro de 2010 – Lisboa – Portugal
54o Congresso da Umem – Union Mondiale des Écrivains Médecins
Plock (a 100 Km de Varsóvia), de 22 a 26 de Setembro de 2010
www.umem.net/pt