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Jornal



   O Bandeirante
           Ano XX - no 228 - novembro de 2011
           Publicação Mensal da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional do Estado de São Paulo - SOBRAMES-SP




                      ...E meus amigos, cadê?
Josyanne Rita de Arruda Franco
Médica Pediatra
Presidente da Sobrames SP / Biênio 2011-2012



    Quanto tempo levará até que                      tado, planejamento para o futuro,                               Lápides inscrevem a passagem
consigamos perceber que a sau-                       rebeldia, namoro, segredos, enla-                           do tempo, enquanto a brisa de
dade se instalou insidiosa dentro                    ces e perdas. Que vida é essa que                           um morno dia sem chuva assinala
do peito experiente e calejado                       corre ligeira sem querer saber de                           a importância das sensações. Ho-
pela vida? De repente, um incô-                      um pouco esperar? E as luzes na                             menagens a quem se foi, lembran-
modo aponta que o passado ficou                      rua se multiplicando, riquezas da                           ças que jamais partirão e continu-
na memória e repousa nos regis-                      noite que, antes de estrelas, dei-                          arão a se chamar saudade.
tros captados por filmes e fotos,                    xou a seresta dormindo em algum                                 “E meus amigos, cadê?”... é o
ainda assim palpitando febril nos                    canto da nostalgia.                                         que pergunta o verso da canção
caminhos arteriais e venosos que                        Buzinas de carros, ciclistas e                           que ouço baixinho no carro, can-
indicam nossa latejante e pulsátil                   motos correndo sem nunca di-                                tarolando com entusiasmo.
presença sobre a terra.                              zerem por quê. Novos tempos,                                    Que vontade de ver meus di-
    Feito caminhos de rios ama-                      dizem os sábios contemporâneos                              letos amigos! Que vontade que
zônicos, lágrimas escorrem nos                       de pouco alicerce e total solidão.                          cada dia transcorra cheio do
sulcos expressos nas faces, re-                         Que tempo merece ser des-                                doce entusiasmo que colore as
cordando felizes momentos...                         prezado com a falta de tempo?                               expectativas felizes, só para sen-
Outros, nem tanto. São anos e                        Aguardamos futuro, porvir ri-                               tir a vida que se oferece no calor
anos passando o passado a lim-                       sonho a nós prometido desde o                               do afeto compartilhado.
po, olhando retratos, deixando                       princípio do ser, mas nos senta-                                A música que ouço no carro
de lado o quase possível, só para                    mos na confortável poltrona da                              agora parece ser outra e diz “...
existir. Amados, amantes, amigos                     grife mais cara e tão singular                              me dê um abraço, venha me aper-
marcando história e narrativa,                       (excelente aquisição no salão de                            tar, tô chegando...” na voz suave
concedendo o gosto de serem re-                      móveis importados), enquanto                                e melodiosa da outra artista.
cordados ou o amargor de ainda                       nossos queridos vão fechando os                                 O tempo é o mestre da vida, o
serem lembrados.                                     olhos, a boca e os ouvidos no si-                           senhor da história! Ele usa metá-
    Até pouco tempo éramos crian-                    lêncio sem volta da chama que se                            foras para se fazer compreender,
ças sonhando folguedos, armando                      apagou.                                                     utiliza a saudade para perpetuar
folias no meio do mato, saltando                        Trabalho excessivo além do                               os momentos que leva embora...
os muros, sujando as roupas de                       coerente para viver bem, de for-                                Surpreendo-me cantando “em
lodo, de barro e suor pingado que                    ma honesta e tranquila, transfor-                           algum lugar do tempo nós ainda
precisavam ser lavados no córre-                     mando-se em correria, exaustão                              estamos juntos... Em algum lu-
go bem ali, mais distante do que                     e doença.                                                   gar, ainda estamos juntos...” e me
os olhos alcançam. Escola, dever                        Cidades de mármore e ausên-                              descubro sorrindo neste mês de
de casa, missa aos domingos, rou-                    cias compõem o cenário que mar-                             novembro de tanta lembrança e
pa nova nas festas. Dinheiro con-                    ca o mês de novembro.                                       saudade.
2     O BANDEIRANTE - Novembro de 2011


    EXPEDIENTE                                                                                Tempo é um artigo precioso e não raras vezes nos
                                                                                          encontramos fazendo duas coisas ao mesmo tempo.
Jornal O Bandeirante
ANO XX - no 228 - Novembro 2011                                                           Por exemplo, eu tomo meu café da manhã assistindo
                                                                                          aos jornais. No plural, porque depois da invenção
Publicação mensal da Sociedade Brasileira de Médicos                                      do controle remoto nós assistimos vários jornais ao
Escritores - Regional do Estado de São Paulo SOBRAMES-SP.
Sede: Rua Alves Guimarães, 251 - CEP 05410-000 - Pinheiros -                              mesmo tempo.
São Paulo - SP Telefax: (11) 3062-9887 / 3062-3604 Editores:
Josyanne Rita de Arruda Franco e Carlos Augusto Ferreira
                                                                                              Existem duas temporadas de propaganda: no
Galvão. Jornalista Responsável e Revisora: Ligia Terezinha                                último trimestre, pensando em desovar estoques e
Pezzuto (MTb 17.671-SP). Redação e Correspondência: Rua
Francisco Pereira Coutinho, 290, ap. 121 A – V. Municipal – CEP                           abocanhar o décimo-terceiro mês de pagamento,
13201-100 – Jundiaí – SP E-mail: josyannerita@gmail.com
Tels.: (11) 4521-6484 Celular (11) 9937-6342. Colaboradores
                                                                                          as empresas automobilísticas nos enchem de carros
desta edição: Carlos Augusto Ferreira Galvão, Josyanne Rita                               velhos com pinturas, air-bags, computador de bordo,
de Arruda Franco, Ligia Terezinha Pezzuto, Maria do Céu
Coutinho Louzã, Sergio Perazzo.                                                           favorecendo o endividamento das pessoas e aumen-
Tiragem desta edição: 300 exemplares (papel) e mais de                                    tando ainda mais os congestionamentos. Mas isso não
1.000 exemplares PDF enviados por e-mail.
                                                                  é nada perto do meio do ano.
Diretoria - Gestão 2011/2012 - Presidente: Josyanne Rita
de Arruda Franco. Vice-Presidente: Luiz Jorge Ferreira.               Passando manteiga no pão, assisto uma disputa de aerossóis assassinos de
Primeiro-Secretário: Márcia Etelli Coelho. Segundo-
Secretário: Maria do Céu Coutinho Louzã. Primeiro-
                                                                  baratas, ou uma criança que aos quatro anos quer ser médica, fazendo curativos
Tesoureiro: José Alberto Vieira. Segundo-Tesoureiro: Aida         com barro e cocô de cachorro em um amiguinho. Meu sabonete é aquele qual-
Lúcia Pullin Dal Sasso Begliomini. Conselho Fiscal Efetivos:
Hélio Begliomini, Carlos Augusto Ferreira Galvão e Roberto        quer que a minha mão alcança no supermercado, não o da criança prodígio.
Antonio Aniche. Conselho Fiscal Suplentes: Alcione Alcântara
Gonçalves, Flerts Nebó e Manlio Mário Marco Napoli.
                                                                      Num gole de suco de laranja, vejo em outro comercial quatro crianças com
                                                                  problemas de bexiga hiperativa entrando em casa ordenadamente, do mais
      Matérias assinadas são de responsabilidade de seus
    autores e não representam, necessariamente, a opinião         velho ao mais novo (foram educadas muito bem), aos gritos de “xixi-xixi-xixi”
                       da Sobrames-SP
                                                                  e na nossa posição de velhos prostáticos chegando em casa da rua.
                                                                      Desisto do meu café quando aparece o último garotinho: “Eu quero fazer
                  Editores de O Bandeirante                       cocô na casa do Paulinho.” Faltou somente mostrar outro comercial do super-
Flerts Nebó – novembro a dezembro de 1992                         pato lavando o vaso sanitário que, pelo visto, deve ser uma imundície.
Flerts Nebó e Walter Whitton Harris – 1993-1994                       Cada vez mais acho que o mesmo episódio do Chaves, que cada família
Carlos Luiz Campana e Hélio Celso Ferraz Najar – 1995-1996
Flerts Nebó e Walter Whitton Harris – 1996-2000                   brasileira assistiu a pelo menos cinco vezes ainda é o melhor que a nossa
Flerts Nebó e Marcos Gimenes Salun – 2001 a abril de 2009         televisão pode oferecer.
Helio Begliomini – maio a dezembro de 2009
Roberto A. Aniche e Carlos A. F. Galvão - 2010
Josyanne R. A. Franco e Carlos A.F. Galvão - janeiro 2011
                                                                                                                        Roberto Antonio Aniche
                 Presidentes da Sobrames – SP

1º. Flerts Nebó (1988-1990)
2º. Flerts Nebó (1990-1992)
3º. Helio Begliomini (1992-1994)
4º. Carlos Luiz Campana (1994-1996)
5º. Paulo Adolpho Leierer (1996-1998)
6º. Walter Whitton Harris (1999-2000)
7º. Carlos Augusto Ferreira Galvão (2001-2002)
                                                                                                     O Malho
8º. Luiz Giovani (2003-2004)
9º. Karin Schmidt Rodrigues Massaro (jan a out de 2005)
10º. Flerts Nebó (out/2005 a dez/2006)
11º. Helio Begliomini (2007-2008)
                                                                  Pouca gente, é verdade, mas visitantes ilustres, vários. Textos pequenos, poesias
12º. Helio Begliomini (2009-2010)
13º. Josyanne Rita de Arruda Franco (2011-2012)                   lindas... Pizza brilhante; os colegas que perderam, perderam. Mas teve cada
     Editores: Josyanne R. A. Franco e Carlos A.F. Galvão         ausência... Ficou assim como um jantar sem o arroz.
     Revisão: Ligia Terezinha Pezzuto
     Diagramação: Mateus Marins Cardoso
     Impressão e Acabamento: Expressão e Arte Gráfica


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                       CUPOM DE ASSINATURAS*
         Preço de 12 exemplares impressos: R$ 36,00
       Nome:___________________________________________________________

       End.completo: (Rua/Av./etc.) _______________________________________
                                                                                                                    Aniversário
       ________________________________ nº. _______ complemento _________                                            novembro: nesta data
                                                                                                                     querida, nossos parabéns!
       Cidade:_____________ Estado:_____ E-mail:___________________________
                                                                                                                  Alcione Alcântara Gonçalves – 14/11
         Grátis:   Além da edição impressa que será enviada por correio, o assinante
         receberá por e-mail 12 edições coloridas em arquivo digital (PDF)                                        Maria de Fátima B. C. Batista – 07/11

                             *Disponível para o público em geral e para não sócios da SOBRAMES-SP                 Sérgio Pelegrini Marun – 06/11
     Preencha este cupom, recorte e envie juntamente com cheque nominal à SOBRAMES-SP para REDAÇÃO
    “O Bandeirante” R. Francisco Pereira Coutinho, 290, ap. 121 A - V. Municipal - CEP 13201-100 - Jundiaí - SP   Sônia R. A. de Castro – 25/11
          Dê uma assinatura de “O BANDEIRANTE” de presente para um colega
SUPLEMENTO LITERÁRIO
                                                                         O BANDEIRANTE - Novembro de 2011      3
                                                Notícias


    No dia 08 do corrente, na Livraria Martins
Fontes da Avenida Paulista, nossa Primeira-Secretá-
ria Márcia Etelli Coelho realizou concorrido lan-
çamento de seu livro de poesias “Entre o Laço e os
Nós”, ocasião em que foi prestigiada por diversos
associados da Sobrames-SP, amigos e admiradores
da escritora.




    Dia 9 de novembro, o Dr. Sérgio Pitaki, presidente da Sobrames Paraná, criou um grupo no facebook denominado
Sociedade Brasileira de Médicos Escritores, que ajudará a divulgar o XXIV Congresso Nacional da Sobrames em Curi-
tiba, de 11 a 13 de outubro do ano vindouro e também possibilita a aproximação entre as diversas regionais. Quem
quiser ingressar na rede social da Sobrames pode entrar em contato pelo e-mail da Dra. Márcia Etelli, administradora
oficial do grupo: marciaetelli@ig.com.br
   Realizou-se de 13 a 15 de novembro a Jornada da Sobrames Nacional no Maranhão, um evento bonito e prestigia-
do por diversas regionais. Nossa confreira e segunda tesoureira Aida Lúcia Pullin Dal Sasso Begliomini recebeu o
prêmio de melhor poesia com o trabalho “O Tempo”. Na categoria prosa, o primeiro lugar foi do confrade do Ceará
José Maria Chaves com o trabalho “Faça, Não Faça, Faça”. Parabéns aos vencedores.
   Ainda sobre a Jornada do Maranhão, o Dr. Helio Begliomini, membro fundador de nossa regional e ex-presidente
proferiu palestra cujo tema foi "Minha Vivência na Sobrames".
   A Academia Brasileira de Médicos Escritores (ABRAMES), sediada no Rio de Janeiro, realizou sua consagrada
Semana da Academia, ocorrida de 23 a 25 do mês em curso. Foi um evento elegante e distinto que premiou nosso
confrade da Sobrames paulista, Dr. Nelson Jacintho, em diversas categorias literárias e contou ainda com a presença
do casal Begliomini no prestigiado encontro.
   Nossa presidente, Dra. Josyanne Rita de Arruda Franco, concedeu entrevista para a revista “Vamos Lá!”, um guia
de cultura, lazer e gastronomia distribuído gratuitamente em Jundiaí, onde há reportagens sobre artistas e pessoas
da cidade envolvidas com cultura e arte. A seção "Na Estante" divulgará a Sociedade Brasileira de Médicos Escritores
Regional São Paulo no mês de dezembro.
                                                     As reuniões de diretoria acontecem sempre às primeiras quintas-
                                                 feiras do mês, na Pizzaria Bonde Paulista, mesmo lugar onde se
                                                 realizam nossos encontros festivos, as charmosas e concorridas Pizzas
                                                 Literárias. Os interessados em participar, colaborando com ideias,
                                                 sugestões e amizade estão convidados e serão bem acolhidos. Parti-
                                                 cipem da construção da nova Sobrames-SP.
                                                    Nosso blog está sempre atualizado e cheio de novidades no en-
                                                 dereço http://sobramespaulista.blogspot.com
                                                    Querendo receber mais informações sobre a Sociedade Brasileira
                                                 de Médicos Escritores Regional São Paulo, inclusive como se tornar
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4    O BANDEIRANTE - Novembro de 2011
                                                                           SUPLEMENTO LITERÁRIO




       Quem é? Quem é?
         (resposta da edição de outubro)

      Dr. Walter Whitton Harris, nosso estimado
       sobramista e prestigiado colega médico.




                                       Perfil 2011 Sobrames-SP
Helio Begliomini

Atuação: médico urologista
Cidade de nascimento: São Paulo
Comida preferida: carnes e peixes
Esporte: natação, caminhadas e musculação
Livro de cabeceira atual: há anos, as sagradas escrituras.
Filme: Horizonte perdido
Fim de semana: gosto de estar com a família, recarregando baterias
Viagem inesquecível: tour pela Europa e Austrália
Sonho: ter sido médico
Intolerância: arrogância, desonestidade, hipocrisia.
Características pessoais: sou alegre, disciplinado, descontraído, sério,
interessado e romântico.
Projeto futuro: manter a família unida e em harmonia.
Filosofia de vida: fazer o melhor que posso com alegria.
SUPLEMENTO LITERÁRIO
                                                                            O BANDEIRANTE - Novembro de 2011        5
                                                 Peregrino
                                                    (para a Ellen)


Sergio Perazzo



    Pousou o trinta e oito de cabo de madrepérola, cano longo
(um colt?), em cima do balcão só como apoio, apontado para o
barman, assim como quem não quer nada, como quem aponta
uma prega de cortina ou outro ponto qualquer com o bico de
uma tesoura ou de um bule de chá que por acaso estivesse na
mão. Nada mais casual. Estava mais pra dona de saloon do que
pra qualquer outra coisa.
    Se havia chegado a esse ponto, era porque a hora de pa-
rar tinha sido cantada pelo cuco que a gente carrega mudo,
calçando o passo da existência. Sentiu que tomara a decisão.
Era o momento, momento que se impunha, momento de
fechar o Peregrino.
    Asinhas de frango constavam da lista de petiscos do
cardápio. Desde o começo. Antes mesmo, muito antes, de
inaugurar o Peregrino. Quando foi parido, na mesa de outro
bar, esse das asinhas de frango, aos goles de caldinho de feijão com cebolinha no frio congelante de Curitiba, não se
imaginava o berço nem a trajetória. Muito menos o sucesso.
    Entre uma asinha e outra, a roda de amigos egressa de bar em bar, nem sempre a música na altura certa que embalasse
o ritmo das coisas sem abafar a conversa. Não se podia dançar de rosto colado até as quatro e a saideira era imposta pelas
cadeiras antipáticas de cabeça para baixo, numa troça noturna de bêbados equilibristas. Tudo, enfim, sem aconchego.
O que mais se desejava era um cenário adequado de acolhimento das agruras, desagruras e alegruras. Nada mais. Da
vida com relógio marcando cada segundo, já chegava a semana.
    Foi assim que ela idealizou e montou um bar de afinidades. Batizou-o Peregrino. No espírito, não todo espírito,
é claro, um tanto Bagdá Café, em sua concepção brasileira, um oásis no deserto, num canto um piano meio bemol
desafinado, no outro o dourado descascado de uma tuba encostada na parede, início e fim de expediente. No arco do
teto, desde rolos de pastel e escorredor de macarrão, até um berrante que ninguém conseguia tocar, era um desafio
explícito, muito menos acertar a embocadura. E para coroar o conjunto desses pingentes extravagantes e excêntricos,
o monóculo que se dizia de Eça de Queirós, arrematado num leilão do cassino, à beira-mar, de Póvoa do Varzim, terra
natal do pai do Padre Amaro.
    As cadeiras tinham braços que abraçavam e convidavam a ficar mais, como sala de visitas de tias-avós com seus
licores de jenipapo e biscoitinhos de araruta. Não eram aqueles sentantes que pareciam catapultas, tão logo chegava
a conta, enfileirando fregueses no bar em andamento de linha de montagem. Um lustre de cristal da Boêmia só pra
lembrar os anos 50 e as jaquetas James Dean, misturando o rock que nascia, o chapeuzinho Nat King Cole que abava
e desabava e o baixo acústico dos trios de jazz com harmonias do Jobim. Até os abstêmios eram bem-vindos.
    Logo virou point dos desgarrados da noite, dos intelectuais de cabeceira, dos futeboleiros de ocasião, das beldades
siliconadas e não siliconadas, selecionadas por conteúdo, graça e espírito, pelos movimentos sensuais da dança e pelo
brilho das frases completas que tudo tinham a dizer e pontuar, sublinhadas com a mais reta sobrancelha e o risco
vermelho do lábio inferior sem fazer muxoxo ou biquinho. De casacos de pele ou pantalonas, não importa, coloriam
o Peregrino das mais suaves e das mais escandalosas tonalidades ao gosto da alegria contagiante ou do toque cinzento
de um traço de melancolia.
    O local em que se assentou o Peregrino era lá pros lados do Rebouças, não muito longe da antiga fábrica do Mate Leão,
muito antes de ser encampada pelo templo de uma dessas religiões carismáticas que abarulham, com seus sermões de
alto-falantes, todo bairro e todo sábado, num raio que até parece de 100 quilômetros, despertando emoções truculentas
de um conto de Dalton Trevisan, ressuscitando, boca a boca, a Boca Maldita do Centro Velho, com sua mordacidade mal
disfarçada de quem não tem nada a fazer, senão envenenar a vida alheia com o cianureto da maledicência.
    Fato é que a coisa deu certo. A convivência democrática do Peregrino abria palco para a declamação de um poema,
mesmo que concreto ou só gestual, ou para um acorde de um violão de sete cordas na baixaria grave da introdução
de um chorinho ou de um samba de lei. No mesmo dia, ainda a surpresa de uma peça de jazz para oboé, escaleta
e reco-reco. Ou uma tímida subgerente do Banco do Brasil, sentada perto da janela, virando estrela de momento,
incentivada pelos amigos de mesa, explodia, cantando Key Largo, reproduzindo os graves da Sarah Vaughan em suas
                                                                                                (continua na próxima página)
6    O BANDEIRANTE - Novembro de 2011
                                                                                              SUPLEMENTO LITERÁRIO



(continuação da página anterior)

melhores fases e em seu passeio sem esforço em escalas de dó a dó.
    Abria, inclusive, às segundas, para atenuar a aspereza do degrau que as separavam dos domingos, para que não
ficasse a impressão de um fim de semana esfacelado pelo retorno do cotidiano, desfazendo o sonho, refazendo a ilusão
de um mundo todinho feito da transubstanciação dos sentimentos, do gozo pleno, da celebração da beleza pura, da
amizade eterna, do amor a cada segundo renovado apenas em sua sensação do sublime, sem horizontes de fim de
ato, de dor crônica de cotovelo compondo sambas-canções envelhecidos pelo tempo, de novo, provisório. Peregrino,
sempre Peregrino.
    Mas nem tudo é riacho de águas claras correndo solto. Como poeira que vai se insinuando pelas frestas impregnan-
do cada vão, cada espaço de taco do assoalho, cada ângulo de teias de aranha da cumeeira, cada ranhura de parede
descascada, até ficar tudo meio acinzentado, no limite do espirro sufocante à procura de desafogo dos respingos da
corrupção velada, da violência gratuita, do deboche declarado, da burocracia, da extorsão, da decadência moral, essa
poeira inevitável também atingiu o Peregrino até o ponto de se correr o risco de não mais distinguir antiguidade de
velharia, tradição de entulho, consistência de esfarelamento, dignidade de degradação, deslumbramento de banali-
dade, harmonia de caos.
    Primeiro os fiscais, pretextando um atraso na liberação de um alvará da Prefeitura, culpa da própria Prefeitura com
seus meandros inconfessáveis de mil instâncias e adiamentos. Outra vez era a multa pelo lugar exato de um extintor
de incêndio supostamente mal colocado ou da localização de um ralo ou de uma lata de lixo. Ela gastou o que tinha
e o que não tinha, o que lucrara e não lucrara para tentar satisfazer a gula insaciável deste dragão de tributos, até
incorporar como rotina a bolada de reais para esconder na cueca, que molhava as mãos dos dignos representantes
da administração pública como se fora uma arrecadação paralela legítima. Deixai nas portas do inferno qualquer
esperança de regularizar alguma coisa!
    Depois, as ações trabalhistas, uma atrás da outra, que não paravam de se materializar na figura dos oficiais de
justiça, notificando horas extras que não tinham sido dadas, insalubridades inventadas e os mais variados argumen-
tos que os advogados de porta de sindicatos são capazes de arquitetar, de olho na percentagem que lhes cabe como
honorários, fruto de sentenças paternalistas, impondo acordos sem acordos para preencher a falta de tempo e de
disposição de juízes sonolentos de ao menos ler o miolo de uma pilha interminável de processos, ações essas instigadas
por ex-empregados beneficiados fraudulentamente com a dispensa por justa causa.
    Pra complicar ainda mais a história, a dor de cabeça em que se transformaram os manobristas do serviço de valet
com suas arrancadas de F1 com os bólidos a eles confiados, arranhões nas carrocerias por manobras desastradas,
furos de pneus, para-choques e para-lamas amassados, roubos de objetos e agasalhos deixados dentro dos carros,
vidros trincados, lanternas quebradas e toda sorte de prejuízos diários que tinham que ser ressarcidos aos bolsos dos
clientes da casa. Reclamações de todo tipo.
    Para culminar, o barman contratado não se sabe mais por indicação de quem e que, soube-se depois, tinha uma
passagem breve e obscura, como lateral esquerdo, pelo rebaixado Paços de Ferreira, um time esquecido do campeo-
nato português. Ao que se sabe, conseguiu uma dinheirama quando se transferiu para o Newcastle, do futebol inglês,
envolvendo em maracutaias os cartolas dos dois times europeus. Saiu de lá poucos meses depois, corrido a pontapés
e com fama de sociopata, após alternar semanas com contusões suspeitas e noitadas varando madrugadas nas baladas
britânicas de scotch e cheiração, acompanhado de modelos de 2ª linha e de 3ª mão.
    Pois bem, formando quadrilha com outros dois garçons, começou a fazer desaparecer da adega do Peregrino vi-
nhos de rótulos caros que revendiam aos concorrentes com boa margem de lucro e a dar sumiço nos defumados de
primeira, importados, trufas e toda sorte de especiarias, para desespero do chef e esvaziamento do estoque.
    Descoberto, começou a desfiar toda sorte de chantagens e ameaças que ela, praticamente sozinha, sentia dificul-
dade de enfrentar, culminando com a tentativa de sequestro de seu filho adulto na rua já deserta, na hora de fechar
as portas do Peregrino, no quase amanhecer.
    Eram três, de máscaras de esquiador e capuz, saindo de repente de um pedaço de sombra para obrigá-lo a entrar
no banco traseiro do carro, o banco clássico dos sequestrados.
    Ela tinha ficado um pouco pra trás, fechando a porta do bar, sempre a última a sair. Viu de longe o filho sendo
empurrado com violência, marchou firme até os assaltantes, enfrentando-os com a determinação de um xerife de
Matar ou morrer ou de O homem que matou o facínora: Ou me leva junto ou solta meu filho. Daqui não saio. Podem
ficar com o carro e com minha bolsa, no que a quadrilha obedeceu, não se sabe até hoje por que, deixando os dois a
pé, lisos, lívidos, mas milagrosamente vivos.
    Desconfiou e teve provas depois, por uma dica de um amigo investigador, prata da casa no Peregrino, que o mandante
era o barman e o jeito que encontrou de parar com as chantagens, furtos, violência e, de lambuja, conseguir despedi-lo
sem compensações trabalhistas, foi pegar na gaveta da mesinha de cabeceira o cano longo, herança do pai, que lá estava
adormecido, e pousá-lo no balcão, displicentemente, com seu cabo de madrepérola em recado de silêncio.
    Foi a gota e a solução. Adeus monóculo de Eça de Queirós, berrante, aconchego, oboé e reco-reco. Fechou as portas
para nunca mais. Sem custos trabalhistas. Peregrino, tchau! Até logo, good-bye, adeus!
SUPLEMENTO LITERÁRIO
                                                                     O BANDEIRANTE - Novembro de 2011               7
                                                                            Walter Whitton Harris
        Uma ideia de felicidade                                                  Cirurgia do Pé e Tornozelo
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                                                                                    CRM 18317
                                                                                      Av. Pacaembu, 1.024
                                                                                       01234-000 - São Paulo - SP
  Maria do Céu Coutinho Louzã                                                           Tel.: 3825-8699
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    Presente trazido de longe encantou a menina.
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    Agora já não toca mais. Quebrou-se o sonho e a magia.

    Nos folguedos, pular corda, amarelinha, o caracol.
    Esconde-esconde, queimada, brincadeiras de roda
    “Atirei um pau no gato, tô”... até o por do sol.
                                                                           REVISÃO
    Porém agora tudo é passado. A TV deixou fora de moda                    de textos em geral

    Na escola, meu Deus, a tabuada!
                                                                             Ligia Pezzuto
                                                                             Especialista em Língua Portuguesa
    Mas quanta alegria quando decorada.
    Caligrafia, problemas para resolver.                                      (11) 3864-4494 ou 8546-1725
    E a leitura era preciso entender!

    O amanhecer puro da chegada do Natal                                                       longevità
    A árvore, os sapatinhos. Brilhava a estrela de purpurina!
                                                                                               (11) 3531-6675
    E encantada encontrar os tão sonhados brinquedos.                          Estética facial, corporal e odontológica *
    Depois as amigas confidentes que trocavam segredos.                        Massagem * Drenagem * Bronze Spray *
                                                                                          Nutricionista * RPG
    Toc - toc: a emoção no primeiro salto alto. O batom permitido.          Rua Maria Amélia L. de Azevedo, 147 - 1o. andar
    Na saída da escola olhares desviados, por ordem de Cupido,
    para os rapazes que passavam meio desapercebidos.
    Estaríamos encontrando nossos futuros maridos?                          Terminou de
    Sonhos possíveis, ver estrelas nos olhos brilhando.                     escrever seu
    A formatura. O primeiro baile. O vestido longo arrastando               livro? Então
    pelo salão, à procura de alguém que nos sonhos existia.
    A orquestra, a valsa romântica eram encantada magia.
                                                                            publique!
    E um dia tão feliz finalmente o amor encontrado.                        Nesta hora importante, não deixe de
    O vestido de noiva, e com alegria está marcado                          consultar a RUMO EDITORIAL.
    o casamento. Flores, música, os brindes à felicidade.                   Publicações com qualidade impecável,
    Ficou longe o faz de conta, mas restou saudade.                         dedicação, cuidado artesanal e preço
                                                                            justo. Você não tem mais desculpas
    E um dia recebemos o presente celestial                                 para deixar seu talento na gaveta.
    Começa uma vida nova para o casal.                                           rumoeditorial@uol.com.br
    Choro recém-chegado na casa. É tudo um rebuliço.                                   (11) 9182-4815
    E a vida continua com um novo compromisso.
8   O BANDEIRANTE - Novembro de 2011
                                                                            SUPLEMENTO LITERÁRIO




    Amor incondicional
Ligia Terezinha Pezzuto



  Te amo.
  Sem ligar para imagens.
  Apenas quero que sejas sempre
  tu mesmo.

  Te amo
  amor de partilha;
  amor que abre portas;
  do hoje, do amanhã.

  Amor que leva pra frente,
  faz ver o alto,
  sentir o chão.

  Te amo um amor
  de ponta a ponta;
  quer gostes ou não;
  quer saibas ou não;
  compreendas ou te confundas.

  Te amo sem saber se me amas.
  Te amo, querendo que te ames
  primeiro,
  sem saber se vais me amar depois.

  Ama; e descobrirás quanta vida
  existe em ti.

  Ama; e descobrirás o voo livre da gaivota,
  o ritmo das orquídeas, a cadência dos rios.

  Ama; e... finalmente... vive.




                                                        Nem vem, Jean
                                                Carlos Augusto Ferreira Galvão



                                                  Como pode o inferno ser os outros
                                                  Se há felicidade em vocês
                                                  Em estar com vocês,
                                                  Em ouvir vocês?

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O Bandeirante - n.228 - Novembro de 2011

  • 1. Jornal O Bandeirante Ano XX - no 228 - novembro de 2011 Publicação Mensal da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional do Estado de São Paulo - SOBRAMES-SP ...E meus amigos, cadê? Josyanne Rita de Arruda Franco Médica Pediatra Presidente da Sobrames SP / Biênio 2011-2012 Quanto tempo levará até que tado, planejamento para o futuro, Lápides inscrevem a passagem consigamos perceber que a sau- rebeldia, namoro, segredos, enla- do tempo, enquanto a brisa de dade se instalou insidiosa dentro ces e perdas. Que vida é essa que um morno dia sem chuva assinala do peito experiente e calejado corre ligeira sem querer saber de a importância das sensações. Ho- pela vida? De repente, um incô- um pouco esperar? E as luzes na menagens a quem se foi, lembran- modo aponta que o passado ficou rua se multiplicando, riquezas da ças que jamais partirão e continu- na memória e repousa nos regis- noite que, antes de estrelas, dei- arão a se chamar saudade. tros captados por filmes e fotos, xou a seresta dormindo em algum “E meus amigos, cadê?”... é o ainda assim palpitando febril nos canto da nostalgia. que pergunta o verso da canção caminhos arteriais e venosos que Buzinas de carros, ciclistas e que ouço baixinho no carro, can- indicam nossa latejante e pulsátil motos correndo sem nunca di- tarolando com entusiasmo. presença sobre a terra. zerem por quê. Novos tempos, Que vontade de ver meus di- Feito caminhos de rios ama- dizem os sábios contemporâneos letos amigos! Que vontade que zônicos, lágrimas escorrem nos de pouco alicerce e total solidão. cada dia transcorra cheio do sulcos expressos nas faces, re- Que tempo merece ser des- doce entusiasmo que colore as cordando felizes momentos... prezado com a falta de tempo? expectativas felizes, só para sen- Outros, nem tanto. São anos e Aguardamos futuro, porvir ri- tir a vida que se oferece no calor anos passando o passado a lim- sonho a nós prometido desde o do afeto compartilhado. po, olhando retratos, deixando princípio do ser, mas nos senta- A música que ouço no carro de lado o quase possível, só para mos na confortável poltrona da agora parece ser outra e diz “... existir. Amados, amantes, amigos grife mais cara e tão singular me dê um abraço, venha me aper- marcando história e narrativa, (excelente aquisição no salão de tar, tô chegando...” na voz suave concedendo o gosto de serem re- móveis importados), enquanto e melodiosa da outra artista. cordados ou o amargor de ainda nossos queridos vão fechando os O tempo é o mestre da vida, o serem lembrados. olhos, a boca e os ouvidos no si- senhor da história! Ele usa metá- Até pouco tempo éramos crian- lêncio sem volta da chama que se foras para se fazer compreender, ças sonhando folguedos, armando apagou. utiliza a saudade para perpetuar folias no meio do mato, saltando Trabalho excessivo além do os momentos que leva embora... os muros, sujando as roupas de coerente para viver bem, de for- Surpreendo-me cantando “em lodo, de barro e suor pingado que ma honesta e tranquila, transfor- algum lugar do tempo nós ainda precisavam ser lavados no córre- mando-se em correria, exaustão estamos juntos... Em algum lu- go bem ali, mais distante do que e doença. gar, ainda estamos juntos...” e me os olhos alcançam. Escola, dever Cidades de mármore e ausên- descubro sorrindo neste mês de de casa, missa aos domingos, rou- cias compõem o cenário que mar- novembro de tanta lembrança e pa nova nas festas. Dinheiro con- ca o mês de novembro. saudade.
  • 2. 2 O BANDEIRANTE - Novembro de 2011 EXPEDIENTE Tempo é um artigo precioso e não raras vezes nos encontramos fazendo duas coisas ao mesmo tempo. Jornal O Bandeirante ANO XX - no 228 - Novembro 2011 Por exemplo, eu tomo meu café da manhã assistindo aos jornais. No plural, porque depois da invenção Publicação mensal da Sociedade Brasileira de Médicos do controle remoto nós assistimos vários jornais ao Escritores - Regional do Estado de São Paulo SOBRAMES-SP. Sede: Rua Alves Guimarães, 251 - CEP 05410-000 - Pinheiros - mesmo tempo. São Paulo - SP Telefax: (11) 3062-9887 / 3062-3604 Editores: Josyanne Rita de Arruda Franco e Carlos Augusto Ferreira Existem duas temporadas de propaganda: no Galvão. Jornalista Responsável e Revisora: Ligia Terezinha último trimestre, pensando em desovar estoques e Pezzuto (MTb 17.671-SP). Redação e Correspondência: Rua Francisco Pereira Coutinho, 290, ap. 121 A – V. Municipal – CEP abocanhar o décimo-terceiro mês de pagamento, 13201-100 – Jundiaí – SP E-mail: josyannerita@gmail.com Tels.: (11) 4521-6484 Celular (11) 9937-6342. Colaboradores as empresas automobilísticas nos enchem de carros desta edição: Carlos Augusto Ferreira Galvão, Josyanne Rita velhos com pinturas, air-bags, computador de bordo, de Arruda Franco, Ligia Terezinha Pezzuto, Maria do Céu Coutinho Louzã, Sergio Perazzo. favorecendo o endividamento das pessoas e aumen- Tiragem desta edição: 300 exemplares (papel) e mais de tando ainda mais os congestionamentos. Mas isso não 1.000 exemplares PDF enviados por e-mail. é nada perto do meio do ano. Diretoria - Gestão 2011/2012 - Presidente: Josyanne Rita de Arruda Franco. Vice-Presidente: Luiz Jorge Ferreira. Passando manteiga no pão, assisto uma disputa de aerossóis assassinos de Primeiro-Secretário: Márcia Etelli Coelho. Segundo- Secretário: Maria do Céu Coutinho Louzã. Primeiro- baratas, ou uma criança que aos quatro anos quer ser médica, fazendo curativos Tesoureiro: José Alberto Vieira. Segundo-Tesoureiro: Aida com barro e cocô de cachorro em um amiguinho. Meu sabonete é aquele qual- Lúcia Pullin Dal Sasso Begliomini. Conselho Fiscal Efetivos: Hélio Begliomini, Carlos Augusto Ferreira Galvão e Roberto quer que a minha mão alcança no supermercado, não o da criança prodígio. Antonio Aniche. Conselho Fiscal Suplentes: Alcione Alcântara Gonçalves, Flerts Nebó e Manlio Mário Marco Napoli. Num gole de suco de laranja, vejo em outro comercial quatro crianças com problemas de bexiga hiperativa entrando em casa ordenadamente, do mais Matérias assinadas são de responsabilidade de seus autores e não representam, necessariamente, a opinião velho ao mais novo (foram educadas muito bem), aos gritos de “xixi-xixi-xixi” da Sobrames-SP e na nossa posição de velhos prostáticos chegando em casa da rua. Desisto do meu café quando aparece o último garotinho: “Eu quero fazer Editores de O Bandeirante cocô na casa do Paulinho.” Faltou somente mostrar outro comercial do super- Flerts Nebó – novembro a dezembro de 1992 pato lavando o vaso sanitário que, pelo visto, deve ser uma imundície. Flerts Nebó e Walter Whitton Harris – 1993-1994 Cada vez mais acho que o mesmo episódio do Chaves, que cada família Carlos Luiz Campana e Hélio Celso Ferraz Najar – 1995-1996 Flerts Nebó e Walter Whitton Harris – 1996-2000 brasileira assistiu a pelo menos cinco vezes ainda é o melhor que a nossa Flerts Nebó e Marcos Gimenes Salun – 2001 a abril de 2009 televisão pode oferecer. Helio Begliomini – maio a dezembro de 2009 Roberto A. Aniche e Carlos A. F. Galvão - 2010 Josyanne R. A. Franco e Carlos A.F. Galvão - janeiro 2011 Roberto Antonio Aniche Presidentes da Sobrames – SP 1º. Flerts Nebó (1988-1990) 2º. Flerts Nebó (1990-1992) 3º. Helio Begliomini (1992-1994) 4º. Carlos Luiz Campana (1994-1996) 5º. Paulo Adolpho Leierer (1996-1998) 6º. Walter Whitton Harris (1999-2000) 7º. Carlos Augusto Ferreira Galvão (2001-2002) O Malho 8º. Luiz Giovani (2003-2004) 9º. Karin Schmidt Rodrigues Massaro (jan a out de 2005) 10º. Flerts Nebó (out/2005 a dez/2006) 11º. Helio Begliomini (2007-2008) Pouca gente, é verdade, mas visitantes ilustres, vários. Textos pequenos, poesias 12º. Helio Begliomini (2009-2010) 13º. Josyanne Rita de Arruda Franco (2011-2012) lindas... Pizza brilhante; os colegas que perderam, perderam. Mas teve cada Editores: Josyanne R. A. Franco e Carlos A.F. Galvão ausência... Ficou assim como um jantar sem o arroz. Revisão: Ligia Terezinha Pezzuto Diagramação: Mateus Marins Cardoso Impressão e Acabamento: Expressão e Arte Gráfica  CUPOM DE ASSINATURAS* Preço de 12 exemplares impressos: R$ 36,00 Nome:___________________________________________________________ End.completo: (Rua/Av./etc.) _______________________________________ Aniversário ________________________________ nº. _______ complemento _________ novembro: nesta data querida, nossos parabéns! Cidade:_____________ Estado:_____ E-mail:___________________________ Alcione Alcântara Gonçalves – 14/11 Grátis: Além da edição impressa que será enviada por correio, o assinante receberá por e-mail 12 edições coloridas em arquivo digital (PDF) Maria de Fátima B. C. Batista – 07/11 *Disponível para o público em geral e para não sócios da SOBRAMES-SP Sérgio Pelegrini Marun – 06/11 Preencha este cupom, recorte e envie juntamente com cheque nominal à SOBRAMES-SP para REDAÇÃO “O Bandeirante” R. Francisco Pereira Coutinho, 290, ap. 121 A - V. Municipal - CEP 13201-100 - Jundiaí - SP Sônia R. A. de Castro – 25/11 Dê uma assinatura de “O BANDEIRANTE” de presente para um colega
  • 3. SUPLEMENTO LITERÁRIO O BANDEIRANTE - Novembro de 2011 3 Notícias No dia 08 do corrente, na Livraria Martins Fontes da Avenida Paulista, nossa Primeira-Secretá- ria Márcia Etelli Coelho realizou concorrido lan- çamento de seu livro de poesias “Entre o Laço e os Nós”, ocasião em que foi prestigiada por diversos associados da Sobrames-SP, amigos e admiradores da escritora. Dia 9 de novembro, o Dr. Sérgio Pitaki, presidente da Sobrames Paraná, criou um grupo no facebook denominado Sociedade Brasileira de Médicos Escritores, que ajudará a divulgar o XXIV Congresso Nacional da Sobrames em Curi- tiba, de 11 a 13 de outubro do ano vindouro e também possibilita a aproximação entre as diversas regionais. Quem quiser ingressar na rede social da Sobrames pode entrar em contato pelo e-mail da Dra. Márcia Etelli, administradora oficial do grupo: marciaetelli@ig.com.br Realizou-se de 13 a 15 de novembro a Jornada da Sobrames Nacional no Maranhão, um evento bonito e prestigia- do por diversas regionais. Nossa confreira e segunda tesoureira Aida Lúcia Pullin Dal Sasso Begliomini recebeu o prêmio de melhor poesia com o trabalho “O Tempo”. Na categoria prosa, o primeiro lugar foi do confrade do Ceará José Maria Chaves com o trabalho “Faça, Não Faça, Faça”. Parabéns aos vencedores. Ainda sobre a Jornada do Maranhão, o Dr. Helio Begliomini, membro fundador de nossa regional e ex-presidente proferiu palestra cujo tema foi "Minha Vivência na Sobrames". A Academia Brasileira de Médicos Escritores (ABRAMES), sediada no Rio de Janeiro, realizou sua consagrada Semana da Academia, ocorrida de 23 a 25 do mês em curso. Foi um evento elegante e distinto que premiou nosso confrade da Sobrames paulista, Dr. Nelson Jacintho, em diversas categorias literárias e contou ainda com a presença do casal Begliomini no prestigiado encontro. Nossa presidente, Dra. Josyanne Rita de Arruda Franco, concedeu entrevista para a revista “Vamos Lá!”, um guia de cultura, lazer e gastronomia distribuído gratuitamente em Jundiaí, onde há reportagens sobre artistas e pessoas da cidade envolvidas com cultura e arte. A seção "Na Estante" divulgará a Sociedade Brasileira de Médicos Escritores Regional São Paulo no mês de dezembro. As reuniões de diretoria acontecem sempre às primeiras quintas- feiras do mês, na Pizzaria Bonde Paulista, mesmo lugar onde se realizam nossos encontros festivos, as charmosas e concorridas Pizzas Literárias. Os interessados em participar, colaborando com ideias, sugestões e amizade estão convidados e serão bem acolhidos. Parti- cipem da construção da nova Sobrames-SP. Nosso blog está sempre atualizado e cheio de novidades no en- dereço http://sobramespaulista.blogspot.com Querendo receber mais informações sobre a Sociedade Brasileira de Médicos Escritores Regional São Paulo, inclusive como se tornar nosso associado, envie um e-mail para josyannerita@gmail.com
  • 4. 4 O BANDEIRANTE - Novembro de 2011 SUPLEMENTO LITERÁRIO Quem é? Quem é? (resposta da edição de outubro) Dr. Walter Whitton Harris, nosso estimado sobramista e prestigiado colega médico. Perfil 2011 Sobrames-SP Helio Begliomini Atuação: médico urologista Cidade de nascimento: São Paulo Comida preferida: carnes e peixes Esporte: natação, caminhadas e musculação Livro de cabeceira atual: há anos, as sagradas escrituras. Filme: Horizonte perdido Fim de semana: gosto de estar com a família, recarregando baterias Viagem inesquecível: tour pela Europa e Austrália Sonho: ter sido médico Intolerância: arrogância, desonestidade, hipocrisia. Características pessoais: sou alegre, disciplinado, descontraído, sério, interessado e romântico. Projeto futuro: manter a família unida e em harmonia. Filosofia de vida: fazer o melhor que posso com alegria.
  • 5. SUPLEMENTO LITERÁRIO O BANDEIRANTE - Novembro de 2011 5 Peregrino (para a Ellen) Sergio Perazzo Pousou o trinta e oito de cabo de madrepérola, cano longo (um colt?), em cima do balcão só como apoio, apontado para o barman, assim como quem não quer nada, como quem aponta uma prega de cortina ou outro ponto qualquer com o bico de uma tesoura ou de um bule de chá que por acaso estivesse na mão. Nada mais casual. Estava mais pra dona de saloon do que pra qualquer outra coisa. Se havia chegado a esse ponto, era porque a hora de pa- rar tinha sido cantada pelo cuco que a gente carrega mudo, calçando o passo da existência. Sentiu que tomara a decisão. Era o momento, momento que se impunha, momento de fechar o Peregrino. Asinhas de frango constavam da lista de petiscos do cardápio. Desde o começo. Antes mesmo, muito antes, de inaugurar o Peregrino. Quando foi parido, na mesa de outro bar, esse das asinhas de frango, aos goles de caldinho de feijão com cebolinha no frio congelante de Curitiba, não se imaginava o berço nem a trajetória. Muito menos o sucesso. Entre uma asinha e outra, a roda de amigos egressa de bar em bar, nem sempre a música na altura certa que embalasse o ritmo das coisas sem abafar a conversa. Não se podia dançar de rosto colado até as quatro e a saideira era imposta pelas cadeiras antipáticas de cabeça para baixo, numa troça noturna de bêbados equilibristas. Tudo, enfim, sem aconchego. O que mais se desejava era um cenário adequado de acolhimento das agruras, desagruras e alegruras. Nada mais. Da vida com relógio marcando cada segundo, já chegava a semana. Foi assim que ela idealizou e montou um bar de afinidades. Batizou-o Peregrino. No espírito, não todo espírito, é claro, um tanto Bagdá Café, em sua concepção brasileira, um oásis no deserto, num canto um piano meio bemol desafinado, no outro o dourado descascado de uma tuba encostada na parede, início e fim de expediente. No arco do teto, desde rolos de pastel e escorredor de macarrão, até um berrante que ninguém conseguia tocar, era um desafio explícito, muito menos acertar a embocadura. E para coroar o conjunto desses pingentes extravagantes e excêntricos, o monóculo que se dizia de Eça de Queirós, arrematado num leilão do cassino, à beira-mar, de Póvoa do Varzim, terra natal do pai do Padre Amaro. As cadeiras tinham braços que abraçavam e convidavam a ficar mais, como sala de visitas de tias-avós com seus licores de jenipapo e biscoitinhos de araruta. Não eram aqueles sentantes que pareciam catapultas, tão logo chegava a conta, enfileirando fregueses no bar em andamento de linha de montagem. Um lustre de cristal da Boêmia só pra lembrar os anos 50 e as jaquetas James Dean, misturando o rock que nascia, o chapeuzinho Nat King Cole que abava e desabava e o baixo acústico dos trios de jazz com harmonias do Jobim. Até os abstêmios eram bem-vindos. Logo virou point dos desgarrados da noite, dos intelectuais de cabeceira, dos futeboleiros de ocasião, das beldades siliconadas e não siliconadas, selecionadas por conteúdo, graça e espírito, pelos movimentos sensuais da dança e pelo brilho das frases completas que tudo tinham a dizer e pontuar, sublinhadas com a mais reta sobrancelha e o risco vermelho do lábio inferior sem fazer muxoxo ou biquinho. De casacos de pele ou pantalonas, não importa, coloriam o Peregrino das mais suaves e das mais escandalosas tonalidades ao gosto da alegria contagiante ou do toque cinzento de um traço de melancolia. O local em que se assentou o Peregrino era lá pros lados do Rebouças, não muito longe da antiga fábrica do Mate Leão, muito antes de ser encampada pelo templo de uma dessas religiões carismáticas que abarulham, com seus sermões de alto-falantes, todo bairro e todo sábado, num raio que até parece de 100 quilômetros, despertando emoções truculentas de um conto de Dalton Trevisan, ressuscitando, boca a boca, a Boca Maldita do Centro Velho, com sua mordacidade mal disfarçada de quem não tem nada a fazer, senão envenenar a vida alheia com o cianureto da maledicência. Fato é que a coisa deu certo. A convivência democrática do Peregrino abria palco para a declamação de um poema, mesmo que concreto ou só gestual, ou para um acorde de um violão de sete cordas na baixaria grave da introdução de um chorinho ou de um samba de lei. No mesmo dia, ainda a surpresa de uma peça de jazz para oboé, escaleta e reco-reco. Ou uma tímida subgerente do Banco do Brasil, sentada perto da janela, virando estrela de momento, incentivada pelos amigos de mesa, explodia, cantando Key Largo, reproduzindo os graves da Sarah Vaughan em suas (continua na próxima página)
  • 6. 6 O BANDEIRANTE - Novembro de 2011 SUPLEMENTO LITERÁRIO (continuação da página anterior) melhores fases e em seu passeio sem esforço em escalas de dó a dó. Abria, inclusive, às segundas, para atenuar a aspereza do degrau que as separavam dos domingos, para que não ficasse a impressão de um fim de semana esfacelado pelo retorno do cotidiano, desfazendo o sonho, refazendo a ilusão de um mundo todinho feito da transubstanciação dos sentimentos, do gozo pleno, da celebração da beleza pura, da amizade eterna, do amor a cada segundo renovado apenas em sua sensação do sublime, sem horizontes de fim de ato, de dor crônica de cotovelo compondo sambas-canções envelhecidos pelo tempo, de novo, provisório. Peregrino, sempre Peregrino. Mas nem tudo é riacho de águas claras correndo solto. Como poeira que vai se insinuando pelas frestas impregnan- do cada vão, cada espaço de taco do assoalho, cada ângulo de teias de aranha da cumeeira, cada ranhura de parede descascada, até ficar tudo meio acinzentado, no limite do espirro sufocante à procura de desafogo dos respingos da corrupção velada, da violência gratuita, do deboche declarado, da burocracia, da extorsão, da decadência moral, essa poeira inevitável também atingiu o Peregrino até o ponto de se correr o risco de não mais distinguir antiguidade de velharia, tradição de entulho, consistência de esfarelamento, dignidade de degradação, deslumbramento de banali- dade, harmonia de caos. Primeiro os fiscais, pretextando um atraso na liberação de um alvará da Prefeitura, culpa da própria Prefeitura com seus meandros inconfessáveis de mil instâncias e adiamentos. Outra vez era a multa pelo lugar exato de um extintor de incêndio supostamente mal colocado ou da localização de um ralo ou de uma lata de lixo. Ela gastou o que tinha e o que não tinha, o que lucrara e não lucrara para tentar satisfazer a gula insaciável deste dragão de tributos, até incorporar como rotina a bolada de reais para esconder na cueca, que molhava as mãos dos dignos representantes da administração pública como se fora uma arrecadação paralela legítima. Deixai nas portas do inferno qualquer esperança de regularizar alguma coisa! Depois, as ações trabalhistas, uma atrás da outra, que não paravam de se materializar na figura dos oficiais de justiça, notificando horas extras que não tinham sido dadas, insalubridades inventadas e os mais variados argumen- tos que os advogados de porta de sindicatos são capazes de arquitetar, de olho na percentagem que lhes cabe como honorários, fruto de sentenças paternalistas, impondo acordos sem acordos para preencher a falta de tempo e de disposição de juízes sonolentos de ao menos ler o miolo de uma pilha interminável de processos, ações essas instigadas por ex-empregados beneficiados fraudulentamente com a dispensa por justa causa. Pra complicar ainda mais a história, a dor de cabeça em que se transformaram os manobristas do serviço de valet com suas arrancadas de F1 com os bólidos a eles confiados, arranhões nas carrocerias por manobras desastradas, furos de pneus, para-choques e para-lamas amassados, roubos de objetos e agasalhos deixados dentro dos carros, vidros trincados, lanternas quebradas e toda sorte de prejuízos diários que tinham que ser ressarcidos aos bolsos dos clientes da casa. Reclamações de todo tipo. Para culminar, o barman contratado não se sabe mais por indicação de quem e que, soube-se depois, tinha uma passagem breve e obscura, como lateral esquerdo, pelo rebaixado Paços de Ferreira, um time esquecido do campeo- nato português. Ao que se sabe, conseguiu uma dinheirama quando se transferiu para o Newcastle, do futebol inglês, envolvendo em maracutaias os cartolas dos dois times europeus. Saiu de lá poucos meses depois, corrido a pontapés e com fama de sociopata, após alternar semanas com contusões suspeitas e noitadas varando madrugadas nas baladas britânicas de scotch e cheiração, acompanhado de modelos de 2ª linha e de 3ª mão. Pois bem, formando quadrilha com outros dois garçons, começou a fazer desaparecer da adega do Peregrino vi- nhos de rótulos caros que revendiam aos concorrentes com boa margem de lucro e a dar sumiço nos defumados de primeira, importados, trufas e toda sorte de especiarias, para desespero do chef e esvaziamento do estoque. Descoberto, começou a desfiar toda sorte de chantagens e ameaças que ela, praticamente sozinha, sentia dificul- dade de enfrentar, culminando com a tentativa de sequestro de seu filho adulto na rua já deserta, na hora de fechar as portas do Peregrino, no quase amanhecer. Eram três, de máscaras de esquiador e capuz, saindo de repente de um pedaço de sombra para obrigá-lo a entrar no banco traseiro do carro, o banco clássico dos sequestrados. Ela tinha ficado um pouco pra trás, fechando a porta do bar, sempre a última a sair. Viu de longe o filho sendo empurrado com violência, marchou firme até os assaltantes, enfrentando-os com a determinação de um xerife de Matar ou morrer ou de O homem que matou o facínora: Ou me leva junto ou solta meu filho. Daqui não saio. Podem ficar com o carro e com minha bolsa, no que a quadrilha obedeceu, não se sabe até hoje por que, deixando os dois a pé, lisos, lívidos, mas milagrosamente vivos. Desconfiou e teve provas depois, por uma dica de um amigo investigador, prata da casa no Peregrino, que o mandante era o barman e o jeito que encontrou de parar com as chantagens, furtos, violência e, de lambuja, conseguir despedi-lo sem compensações trabalhistas, foi pegar na gaveta da mesinha de cabeceira o cano longo, herança do pai, que lá estava adormecido, e pousá-lo no balcão, displicentemente, com seu cabo de madrepérola em recado de silêncio. Foi a gota e a solução. Adeus monóculo de Eça de Queirós, berrante, aconchego, oboé e reco-reco. Fechou as portas para nunca mais. Sem custos trabalhistas. Peregrino, tchau! Até logo, good-bye, adeus!
  • 7. SUPLEMENTO LITERÁRIO O BANDEIRANTE - Novembro de 2011 7 Walter Whitton Harris Uma ideia de felicidade Cirurgia do Pé e Tornozelo Ortopedia e Traumatologia Geral CRM 18317 Av. Pacaembu, 1.024 01234-000 - São Paulo - SP Maria do Céu Coutinho Louzã Tel.: 3825-8699 Cel.: 9932-5098 Busquei no baú da saudade Dr. Carlos Augusto Galvão O que vem a ser felicidade. Psiquiatria e Psicoterapia Rua Maestro Cardim, 517 Ali estava a infância despreocupada tão passageira Paraíso – Tel: 3541-2593 no faz de conta da vida brejeira. Coroas de flores do jardim criadas Para bonecas descabeladas, há muito abandonadas. PUBLICIDADE TABELA DE PREÇOS 2009 Livros coloridos onde falavam as fadas (valor do anúncio por edição) e brigavam bruxas. Agora com algumas páginas arrancadas. 1 módulo horizontal R$ 30,00 O urso tão meigo e simpático restou meio pelado 2 módulos horizontais R$ 60,00 3 módulos horizontais R$ 90,00 e ainda me ouvia ralhar só porque não ficava sentado. 2 módulos verticais R$ 60,00 4 módulos R$ 120,00 Caixinha de música, dourada, muito especial ao tocar 6 módulos R$ 180,00 uma valsa, para o parzinho de bonecos, dançar. Outros tamanhos sob consulta Presente trazido de longe encantou a menina. josyannerita@gmail.com Agora já não toca mais. Quebrou-se o sonho e a magia. Nos folguedos, pular corda, amarelinha, o caracol. Esconde-esconde, queimada, brincadeiras de roda “Atirei um pau no gato, tô”... até o por do sol. REVISÃO Porém agora tudo é passado. A TV deixou fora de moda de textos em geral Na escola, meu Deus, a tabuada! Ligia Pezzuto Especialista em Língua Portuguesa Mas quanta alegria quando decorada. Caligrafia, problemas para resolver. (11) 3864-4494 ou 8546-1725 E a leitura era preciso entender! O amanhecer puro da chegada do Natal longevità A árvore, os sapatinhos. Brilhava a estrela de purpurina! (11) 3531-6675 E encantada encontrar os tão sonhados brinquedos. Estética facial, corporal e odontológica * Depois as amigas confidentes que trocavam segredos. Massagem * Drenagem * Bronze Spray * Nutricionista * RPG Toc - toc: a emoção no primeiro salto alto. O batom permitido. Rua Maria Amélia L. de Azevedo, 147 - 1o. andar Na saída da escola olhares desviados, por ordem de Cupido, para os rapazes que passavam meio desapercebidos. Estaríamos encontrando nossos futuros maridos? Terminou de Sonhos possíveis, ver estrelas nos olhos brilhando. escrever seu A formatura. O primeiro baile. O vestido longo arrastando livro? Então pelo salão, à procura de alguém que nos sonhos existia. A orquestra, a valsa romântica eram encantada magia. publique! E um dia tão feliz finalmente o amor encontrado. Nesta hora importante, não deixe de O vestido de noiva, e com alegria está marcado consultar a RUMO EDITORIAL. o casamento. Flores, música, os brindes à felicidade. Publicações com qualidade impecável, Ficou longe o faz de conta, mas restou saudade. dedicação, cuidado artesanal e preço justo. Você não tem mais desculpas E um dia recebemos o presente celestial para deixar seu talento na gaveta. Começa uma vida nova para o casal. rumoeditorial@uol.com.br Choro recém-chegado na casa. É tudo um rebuliço. (11) 9182-4815 E a vida continua com um novo compromisso.
  • 8. 8 O BANDEIRANTE - Novembro de 2011 SUPLEMENTO LITERÁRIO Amor incondicional Ligia Terezinha Pezzuto Te amo. Sem ligar para imagens. Apenas quero que sejas sempre tu mesmo. Te amo amor de partilha; amor que abre portas; do hoje, do amanhã. Amor que leva pra frente, faz ver o alto, sentir o chão. Te amo um amor de ponta a ponta; quer gostes ou não; quer saibas ou não; compreendas ou te confundas. Te amo sem saber se me amas. Te amo, querendo que te ames primeiro, sem saber se vais me amar depois. Ama; e descobrirás quanta vida existe em ti. Ama; e descobrirás o voo livre da gaivota, o ritmo das orquídeas, a cadência dos rios. Ama; e... finalmente... vive. Nem vem, Jean Carlos Augusto Ferreira Galvão Como pode o inferno ser os outros Se há felicidade em vocês Em estar com vocês, Em ouvir vocês?