1. Jornal
O Bandeirante
Ano XXI - no 237 - agosto de 2012
Publicação Mensal da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional do Estado de São Paulo - SOBRAMES-SP
Carrinhos de rolimã
Josyanne Rita de Arruda Franco
Médica Pediatra
Presidente da Sobrames SP / Biênio 2011-2012
Talvez aquela cicatriz incrus-
tada no joelho tenha surgido na
corrida ladeira abaixo...
O certo é que houve um tempo
em que se inventava brincadeira,
torcia-se pela novidade que sairia
lá do fundo do quintal. Enquan-
to faces coradas e carameladas
desfilavam sorrisos sem dentes,
alguém se preocupava em entre-
ter a molecada com alguma en- Era assim que a criançada se dis- Sim, houve um tempo de cres-
genhoca que duraria muita dis- traía: competições, jogos e brin- cer com alegria e fortes amizades.
tração até perder a graça. Assim, cadeiras que pareciam ingênuas Houve época de ser criança com li-
ao mesmo tempo em que as ruas e despretensiosas, mas era puro berdade, sem as cobranças adultas
começavam a ter asfalto e ilumi- deleite do brincar. de desempenho e liderança, tudo
nação adequada, uma pequena A vida ia seguindo mansa nas acontecendo com naturalidade.
procissão de crianças barulhava janelas que ficavam abertas para Hoje lembramos as brincadei-
a vizinhança com seus trejeitos e os vizinhos assistirem programas ras de outrora com afeto singular:
movimentos atabalhoados e de- na televisão adquirida com esforço criamos um universo encantado
sengonçados (até por isso, gra- em alguma casa das imediações. com palavras e composições lite-
ciosos) e saía atrás de uns três Compartilhava-se cada conquista, rárias. Cantamos e celebramos a
garotos importantes que levavam apreciava-se o novo com vontade vida e os momentos que ela nos
suas máquinas “avançadas” para de estar no lugar do privilegiado. oferece sem pressa, sabendo que
escorrer com velocidade no decli- Aceitava-se melhor a realidade de um dia tudo vai passar...
ve recém-pavimentado do bairro. não poder ter (ainda), e se tecia Todo poeta traz dentro do
E que sucesso se fazia com meni- sonhos de um dia conseguir com- peito uma canção de infância...
nos e meninas! prar o objeto desejado. Todo artista tem nos olhos a ter-
A emoção era sem concor- Crianças com pernas sequi- nura lúdica da vida: imagina,
rência, mesmo quando algum nhas e longas chutavam latas sente e busca a brincadeira que
coleguinha mais afoito tirava os e bolas fazendo algazarra por o faz viver.
freios da bicicleta para também pouca coisa. Gastavam energia e Escrever é deixar que o vento
descer a rua desabaladamente. criatividade ao longo da tarde, da criatividade bafeje nosso rosto
Ora, nenhuma graça oferecia até que um cheirinho de comida ao descermos com euforia para
perto do que era sentar em um anunciasse o fim do dia: hora de dentro de nós mesmos, feito di-
carrinho de rolimã e sentir o sa- entrar em casa, tomar um banho vertida corrida em carrinho de
bor que deveria ter a vida adulta! e jantar. rolimã...
2. 2 O BANDEIRANTE - Agosto de 2012
EXPEDIENTE Desta vez fui eu o convidado a fazer este Edito-
rialzinho.
Jornal O Bandeirante
ANO XXI - no 237 - Agosto 2012
Apelido carinhoso d’estas linhas escritas por al-
gum dos nossos escritores para o nosso boletim “O
Publicação mensal da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores
- Regional do Estado de São Paulo SOBRAMES-SP Sede: Rua Alves
. Bandeirante”. Periódico desses muitos anos com que
Guimarães, 251 - CEP 05410-000 - Pinheiros - São Paulo - SP
Telefax: (11) 3062-9887 / 3062-3604 Editores: Josyanne Rita a SOBRAMES-SP contata seus Sócios, Colaboradores
de Arruda Franco e Carlos Augusto Ferreira Galvão. Jornalista e Admiradores neste Continente de Língua Portu-
Responsável e Revisora: Ligia Terezinha Pezzuto (MTb 17.671-
SP). Redação e Correspondência: Rua Francisco Pereira guesa.
Coutinho, 290, ap. 121 A – V. Municipal – CEP 13201-100 – Jundiaí
– SP E-mail: josyannerita@gmail.com Tels.: (11) 4521-6484
Celular (11) 9937-6342. Colaboradores desta edição:Aida Lucia
O Editorial de hoje tem como assunto a pergunta.
Pullin Dal Sasso Begliomini, Geovah Paulo da Cruz, Helio Destro,
Josyanne Rita de Arruda Franco, Luiz Jorge Ferreira, Luiz Jorge Para que serve a Sobrames?
Ferreira, Márcia Etelli Coelho e Rodolpho Civile.
Nesses vinte cinco anos de vida, doze quintas-feiras
Tiragem desta edição: 300 exemplares (papel) e mais de
em cada ano, trezentas em vinte e cinco, três horas de literatura boa e bonita
1.000 exemplares PDF enviados por e-mail. em cada uma, total de 900 horas.
Diretoria - Gestão 2011/2012 - Presidente: Josyanne Rita
de Arruda Franco. Vice-Presidente: Luiz Jorge Ferreira. Deixou-se lá fora o tédio, enquanto cá dentro, a criatividade, o humor, a
Primeiro-Secretário: Márcia Etelli Coelho. Segundo-
Secretário: Maria do Céu Coutinho Louzã. Primeiro- alegria e a felicidade irmanavam-se.
Tesoureiro: José Alberto Vieira. Segundo-Tesoureiro: Aida
Lúcia Pullin Dal Sasso Begliomini. Conselho Fiscal Efetivos: E no silêncio da pergunta. Para que serve a Sobrames.
Hélio Begliomini, Carlos Augusto Ferreira Galvão e Roberto
Antonio Aniche. Conselho Fiscal Suplentes: Alcione Alcântara
Gonçalves, Flerts Nebó e Manlio Mário Marco Napoli.
Eu respondo! - Para isto.
Matérias assinadas são de responsabilidade de seus
autores e não representam, necessariamente, a opinião
da Sobrames-SP Luiz Jorge Ferreira
Editores de O Bandeirante
Flerts Nebó – novembro a dezembro de 1992
Flerts Nebó e Walter Whitton Harris – 1993-1994
Carlos Luiz Campana e Hélio Celso Ferraz Najar – 1995-1996
Flerts Nebó e Walter Whitton Harris – 1996-2000
Flerts Nebó e Marcos Gimenes Salun – 2001 a abril de 2009
Helio Begliomini – maio a dezembro de 2009
Roberto A. Aniche e Carlos A. F. Galvão - 2010
Josyanne R. A. Franco e Carlos A.F. Galvão - janeiro 2011
Presidentes da Sobrames – SP
O Malho
1º. Flerts Nebó (1988-1990)
2º. Flerts Nebó (1990-1992) Mas está virando rotina! Sempre tem colegas de outros Estados trazendo
3º. Helio Begliomini (1992-1994)
4º. Carlos Luiz Campana (1994-1996) brilho para nossas Pizzas; desta vez foi, de novo, Simão Pecher. Trouxe o Hino
5º. Paulo Adolpho Leierer (1996-1998)
6º. Walter Whitton Harris (1999-2000)
7º. Carlos Augusto Ferreira Galvão (2001-2002)
da Sobrames Nacional, trouxe poesia ecológica, e trouxe cintilância junto
8º. Luiz Giovani (2003-2004)
9º. Karin Schmidt Rodrigues Massaro (jan a out de 2005)
com sua esposa. Isto sem falar no Jacintho, que trouxe os ares de Ribeirão
10º. Flerts Nebó (out/2005 a dez/2006)
11º. Helio Begliomini (2007-2008) Preto. A ideia das notícias durante a degustação das pizzas deu certo. A Pizza
12º. Helio Begliomini (2009-2010)
13º. Josyanne Rita de Arruda Franco (2011-2012) terminou cedo, apesar de alguns textos longos e cansativos.
Editores: Josyanne R. A. Franco e Carlos A.F. Galvão
Revisão: Ligia Terezinha Pezzuto
Diagramação: Mateus Marins Cardoso
Impressão e Acabamento: Expressão e Arte Gráfica
CUPOM DE ASSINATURAS*
Preço de 12 exemplares impressos: R$ 36,00
Aniversário
Nome:___________________________________________________________
End.completo: (Rua/Av./etc.) _______________________________________
Agosto: nesta data
________________________________ nº. _______ complemento _________ querida, nossos parabéns!
Cidade:_____________ Estado:_____ E-mail:___________________________
Arary da Cruz Tiriba---------------------3/08
Grátis: Além da edição impressa que será enviada por correio, o assinante Carlos José Benatti--------------------- 05/08
receberá por e-mail 12 edições coloridas em arquivo digital (PDF) Carlos Roberto Ferriani--------------- 15/08
Guaracy Lourenço da Costa- -------- 28/08
-
*Disponível para o público em geral e para não sócios da SOBRAMES-SP
Preencha este cupom, recorte e envie juntamente com cheque nominal à SOBRAMES-SP para REDAÇÃO Josef Tock--------------------------------- 26/08
“O Bandeirante” R. Francisco Pereira Coutinho, 290, ap. 121 A - V. Municipal - CEP 13201-100 - Jundiaí - SP
Vera Lúcia Teixeira--------------------- 18/08
Dê uma assinatura de “O BANDEIRANTE” de presente para um colega
3. SUPLEMENTO LITERÁRIO
O BANDEIRANTE - Agosto de 2012 3
Fatos e olhares
Márcia Etelli Coelho
Pizza Literária de agosto
A Superpizza Literária do dia 16 de agosto apresentou como tema “Jorge
Amado”, em homenagem ao centenário de nascimento do autor. As belezas
da Bahia foram lembradas, aguçando nossos sentidos com o aroma de cravo
e canela, com o colorido das fitas do Nosso Senhor do Bonfim e o doce sabor
da cocada, enquanto ouvíamos textos dos mais variados estilos. E o tato? Esse
se manifestou nos abraços que acolheram todos os confrades assíduos e os
que não compareciam há tempo, como Nelson Jacintho e sua esposa Dumara
(de Ribeirão Preto) e Evanir da Silva Carvalho. Destaque para a presença de
Simão Arão Pecher (sobramista do Amazonas), que nos abrilhantou com o
Hino da Sobrames Nacional que ele próprio musicou para a letra de Ilnah
Soares (sobramista de Fortaleza). Praticamente todas as regiões do Brasil se
fizeram representar nessa memorável reunião.
Condecoração
Alcione de Alcântara Gonçalves recebeu, em 25 de julho, o Diploma de
Mérito Acadêmico categoria ouro da ABEPL (Academia Brasileira de Estudos
e Pesquisas Literárias). Parabéns!
Posse na Abrames
No dia 3 de agosto, Helio Begliomini, Aida Begliomini e Márcia Etelli
Coelho compareceram à posse na ABRAMES dos sobramistas cearenses
José Maria Chaves e Marcelo Gurgel Carlos da Silva. Durante o Congresso
da Sobrames Nacional em Curitiba, mais dois sobramistas ingressarão na
Academia Brasileira de Médicos Escritores: Sérgio Augusto de Munhoz
Pitaki (Paraná – cadeira 21) e Márcia Etelli Coelho (São Paulo – cadeira
34). A programação completa do Congresso pode ser conferida no site
www.sobramescongresso2012.com.br
Projeto Memória
Muito interessante é o site www.projetomemoria.art.br, com informações
sobre a vida e a obra de alguns escritores consagrados como Castro Alves,
Monteiro Lobato, Paulo Freire, João Cândido e Carlos Drummond de
Andrade. Quem acessar o site poderá “baixar” um vídeo documentário e
ouvir quase quarenta poemas na voz do próprio Drummond. Com certeza,
escutar um texto declamado pelo seu autor é um privilégio. É essa preciosa
oportunidade que usufruímos em cada Pizza Literária da Sobrames São
Paulo.
4. 4 O BANDEIRANTE - Agosto de 2012
SUPLEMENTO LITERÁRIO
Edital de convocação
Assembleia geral ordinária
Ficam todos os membros da Sociedade Brasileira de Médicos Es-
critores, Regional do Estado de São Paulo – Sobrames-SP, convocados
para a Assembleia Geral Ordinária que se realizará no dia 20 de se-
tembro de 2012, na pizzaria “Bonde Paulista”, situada na Rua Oscar
Freire, 1.597 em São Paulo, às 20h00, em primeira convocação, com
presença de cinquenta por cento dos Membros Titulares, Acadêmicos
e Colaboradores quites com a tesouraria da sociedade e dos Membros
Eméritos, Honorários e Beneméritos e, em segunda convocação, às
20h30, com qualquer número de membros da SOBRAMES-SP, para
deliberação sobre a seguinte pauta do dia:
1) Eleição da nova diretoria para o Biênio 2013-2014 e
2) Assuntos Gerais: inscritos com antecedência de 5 (cinco) dias.
Perfil 2012 Sobrames-SP
Alitta Guimarães Costa Reis
Atuação: Professora Universitária (Mestrado, Doutorado), Médica
Psiquiatra.
Cidade de nascimento: ITAGUAI-RJ, mas paulista de alma, mi-
neira de coração (cidadã honorária), além de recifense e gaúcha,
por carinho e afinidades.
Comida preferida: carne e salada, algumas frutas.
Esporte: natação, caminhada, xadrez.
Livro de cabeceira atual: e sempre, a Bíblia.
Filmes: O Enigma das Cartas (com Tommy Lee Jones), Dersu Uzala
(de Akira Kurosawa), Em Nome de Deus (com Derek de Lint), Os
Amantes de Maria (com Natalia Kinski)
Músicas: O Dólar Furado, Crazy, Over the Rainbow, Concierto de Aranjuez, Por una Cabeza, músicas fol-
clóricas de vários povos, clássicas (Beethoven, Bach. Mozart...).
Fim de semana: praia, ou ficar lagartixando em casa.
Viagem inesquecível: com amor, a qualquer lugar.
Sonho: a rosa azul
Intolerância: a lactose (rsrs...).
Características Pessoais: sou uma pessoa ativa, de pele clara, olhos verdes, cabelos pretos, um metro e
setenta e três de altura, vários quilos a mais. Tenho muitos defeitos (não vícios ou preconceitos). Dizem
que tenho senso de humor e simpatia. Sou leal e franca. Prezo a liberdade, o respeito às tradições e aos
valores éticos.
5. SUPLEMENTO LITERÁRIO
O BANDEIRANTE - Agosto de 2012 5
Um doido muito manso
Geovah Paulo da Cruz
Sábado passado eu estava comendo porco no rolete na casa de nosso amigo e companheiro Alcione. Tinha também
costela bovina no fogo de chão. E chope geladinho, é claro, que ninguém é de ferro.
Fiz uma gostosa viagem de ônibus, eu gosto de ônibus, foram quase 500 km apreciando a paisagem, e valeu a pena.
Vocês não podem imaginar o que eu vi por lá. Caí duro! O Alcione mantém, por sua conta e risco, uma instituição
psiquiátrica com duzentos, isso mesmo, duzentos internos. Ele comprou um colégio de padres salesianos, adaptou-o,
e fez nele a Clínica de Repouso Dom Bosco, que agora está fazendo quarenta anos de existência.
Recebendo uma diária ridícula do SUS, que o obriga a dar pensão hospitalar completa, incluindo medicamentos
e honorários médicos para si e para a equipe, ele fornece a cada paciente cinco refeições por dia, mil refeições para
os internos e quinhentas para os funcionários. Se não fosse pela inconveniência do horário, eu teria tomado um
bandejão e almoçado lá, tão bem feita e cheirosa era a comida, planejada por uma nutricionista. A clínica mantém
os internos limpos, asseados, praticamente cheirosos, mesmo aqueles débeis mentais que se babam e se urinam. Em
todo o enorme recinto, não senti o menor mau cheiro. A limpeza é impecável. As enfermarias-dormitórios são uma
graça, cuidados de sua mulher, Júlia, que é aposentada como professora de atividades artísticas. Ela mesma compra
os tecidos e faz lençóis e cobre leitos, tudo padronizado e vistoso.
Mas o que mais me tocou foi o tratamento humanizado dado àquela gente infeliz. Eles recebem um atendimento
que, para sua condição de rejeitados pela sociedade e quase sempre pela família, confere a eles a dignidade e o con-
forto que não teriam em suas casas, e muito menos na rua. Lá dentro eles vivem melhor do que a classe C, donde
provêm alguns e infinitamente melhor do que aqueles, na sua origem, pobres e miseráveis. Quando ele anda pelos
pátios, torna-se um verdadeiro pai ou irmão daquela gente, que o abraça, chama sua atenção, quer sua palavra de
carinho. Há uma doida que diz ser casada com ele e o divide, numa boa, com sua esposa Júlia. Pelas apresentações
que o Alcione faz nas Pizzas Literárias, ele tem demonstrado uma religiosidade forte, um caráter eminentemente
cristão. Está sempre lendo suas poesias de fundo místico, espiritual, realçando o amor de Cristo. Podem crer, muito
mais do que falar, ele pratica. Com quase uma santidade.
Para ajudar na administração, ele conta com sua esposa Júlia, ativa e eficiente, e no quadro de funcionários espe-
cializados está sua filha Taísa, psicóloga. Mantém vários psiquiatras contratados liderando equipes e cada uma delas
assume quarenta leitos. Ele sozinho acumula oitenta leitos, e não tem hora para correr para a clínica e atender as
emergências de todo o hospital, além de visita regular aos sábados e uma passadinha aos domingos. O homem é de
ferro! Não consigo assimilar como ele consegue tanto. É uma coisa de maluco!
Na hora do almoço, em sua casa, comendo comida baiana, vatapá, caruru e moqueca, tomando um vinho enve-
lhecido e precioso, eu disse uma frase que vou repetir: – Aquele hospital tem duzentos doidos lá dentro e um doido
aqui fora. Só pode ser. Precisa ser meio doido para assumir tanta responsabilidade, sem, contudo, perder a ternura.
O homem é um doido lúcido, centrado, manso, igualzinho a este mesmo que nós vemos uma vez por mês, aqui neste
nosso sarau literário. Sempre com esta cara de serenidade. Sempre em estado zen. Tranquilão.
Resta ainda contar pra vocês que sua casa é tão grande, que até acertar por onde andar, entrar e sair, precisa-se
de GPS, ou mapa, ou guia turístico. Só o terreno tem quase três mil metros quadrados. E ressalte-se o gosto refinado
dele e da esposa, tudo personalizado, e a paixão do Alcione por tapetes persas e outros. Há pinturas expressivas de
Júlia nas paredes. Resta mencionar a cortesia de seu filho Vinícius, o único que ainda mora com ele. Seu outro filho
é casado, mora aqui em São Paulo, e ainda não o conheço.
Este nosso personagem de carne, osso, cérebro e coração chama-se Alcione Alcântara Gonçalves, é baiano, médi-
co psiquiatra formado em Salvador. Também é formado em Direito, advogado com registro na OAB, e bacharel em
Administração, com pós-graduação em Administração Hospitalar. Além de consagrado poeta, ainda é astrônomo
amador e participa semanalmente de diletantes observações celestes, com seu grupo.
Todo mês ele vem participar da Pizza Literária em São Paulo. É mais assíduo do que os que moram aqui. Ele
sai de Tupã, uma curiosa cidade do Estado de São Paulo. Há uns 80 anos, um pernambucano de sobrenome Souza
Leão, cuja família tradicional ainda existe em Pernambuco, que embora rico, emigrou para o sudeste e veio plantar
café. Pegou um pedaço de sua fazenda, planejou uma cidade, vendeu os lotes. Foi tão inspirado na sua investida
urbanística, que num tempo em que ainda não havia automóveis, fez ruas largas e avenidas arborizadas no canteiro
central. O trânsito de lá é de dar inveja. Estacionamento, uma facilidade. A cidade é ensolarada e luminosa, as ruas
arborizadas, os passeios largos, a topografia levemente ondulada, e uma qualidade de vida inegável. Limpa, sem
pichações, calçadas e ruas bem conservadas. Não há mendigos, nem menores de rua. E tem um comércio pujante, e
segundo soube, muitas indústrias.
Pois é, falei do doido manso, no bom sentido. E falei de boca cheia. E não foi cheia de carne com farofa, mas de
orgulho de ter um colega assim.
6. 6 O BANDEIRANTE - Agosto de 2012
SUPLEMENTO LITERÁRIO
Pingos
Aida Lucia Pullin Dal Sasso Begliomini
Lá fora a chuva
Vai caindo devagarzinho
Tal qual a areia na ampulheta.
O som dos pingos
Transformam-se em suave melodia
Agradável ao ser ouvida.
Da janela entreaberta
Pequenos cristais cintilam
E dançam em harmonia
A terra molhada,
As folhas, frutos e flores.
Exalam delicado perfume
De natureza pujante.
Instante mágico
A feira do Bexiga Detalhes pequenos, rotineiros
Quase despercebidos passam.
Sorrateiramente, porém,
Capturados foram
Rodolpho Civile
Por uma desavisada poeta de plantão.
Tive consultório médico no Bexiga, mais precisamente, na Rua Maria José, a rua da feira, muito frequentada pelos
moradores do bairro, pela grande variedade de produtos à venda, cujos preços subiam e desciam, conforme o horário: no
início, tudo mais caro e no final, com redução apreciável. Daí o interesse do povo! A sexta-feira, dia especial. Verdadeiro
evento comercial e cultural, em que as pessoas se encontram, conversam, fofocam e, para a alegria dos comerciantes,
compram, naturalmente à vista, nada de fiado. Houve tempo em que a feira da Rua Maria José foi considerada a maior
de São Paulo, muito alegre e barateira.
Em geral, falava-se sobre as pechinchas ou a roubalheira dos preços. Ouviam-se gritos como: “Compra, Dona Filomena,
compra! É para acabar! Tudo fresquinho” – proferidos pelo peixeiro.
A feira se estendia até às 15 horas. Eu iniciava minhas atividades médicas neste horário e prosseguia até à noite.
Numa bela tarde, logo após o término da feira...
– Desculpe-me, doutor, eu estou sujo... Eu sou o Felipe, o peixeiro, o senhor conhece...
– Ah, sim! Sente-se. O que há com você? É um homem tão forte!
– Só na aparência... Na verdade, sou um fraco. Perdi a vontade de viver...
– Ué! Por quê?
– A vida não tem mais sentido para mim. A minha mulher está morrendo no hospital e eu não posso fazer nada.
– Vocês têm filhos?
– Uma mocinha de 14 anos. É estudante.
– Ela sabe da gravidade do caso?
– Sim. Chora muito...
– Não é para menos... O que você pretende fazer?
– Não sei... Vim pedir um conselho ao doutor. Eu só sei vender peixe...
– Meu amigo! A perda de um ente querido traz muito sofrimento, reconheço, mas você tem uma filha para criar, fruto
do amor de vocês. Ela necessita de toda a sua atenção e carinho. Chegou a hora de você suplantar a sua dor e dedicar-se
completamente à formação de sua filha.
– Não sei como começar...
– Doar-se, meu amigo, doar-se! É pelo amor que a vida suplanta a morte. Portanto, coragem, meu amigo, coragem!
Você é um homem forte, saberá enfrentar a adversidade. Peça a Deus conforto e Ele, misericordioso, mandará.
– Obrigado doutor, por suas palavras. Quanto é a consulta?
– Não é nada, Felipe. Apenas um abraço...
Felipe saiu. No ar, um cheiro de sardinha. Na minha cabeça, o eco das palavras de um simplório sofredor. Olhei em
direção ao quadro de formatura na parede. Ser Médico: é dar esperança aos perdidos. Levantar os deprimidos. Dar alívio
aos que sofrem. Praticar a caridade.
Que missão difícil, espinhosa escolhi para ser a minha nobre profissão. De qualquer forma, estou tentando, tentando...
Não sei se consegui... Falei alto, alto... As minhas palavras ressoaram no ambiente e caíram no silêncio...
7. SUPLEMENTO LITERÁRIO
O BANDEIRANTE - Agosto de 2012 7
Terminar
Luiz Jorge Ferreira
Guardo pedaços da saudade que sinto dentro de um aquário.
A neve é azeda.
A silhueta eu rasgo, e a faço de tira-gosto, após um grande gole.
A tristeza de nossa despedida, curo esta ferida com saliva matinal.
Ela não. Ela guarda os cílios dentro de uma caixa vazia de doce de caju.
Próximos onde guarda as fantasias descoloridas de Julieta e Romeu.
Muitas vezes entro nesta casa pela sala deixando rastros tortos sobre a sombra que o sol espalha da estante.
Sei que o cão da fotografia late assustado.
Não me reconhece o rosto, mas distingue o cheiro, um pouco dele oriundo do Lago Pacoval.
Sei que às seis horas da manhã, quando chega o dia.
Ele late também, agora com saudade.
Ele imagina que o que arde nele, são picadas de pulga.
Em mim ele imagina que a dor só tatua. Pobre cão.
A saudade costuma sentar à mesa e desenhar sobre ela, no café derramado, coisas abstratas.
Sempre quando saio, amasso entre os dedos, o passado, e o lanço no pequeno jardim.
Penso que não volto e retorno sempre quando a noite é muito escura e o tempo se descuida de envelhecer-me.
Volto sorrateiro, azedo como a neve, trazendo um bloco de notas.
Páginas brancas, tantas páginas que já devem se aproximar das sessenta.
Para o cão eu trago nada, ele que se imagina um pássaro, rosna para minha sombra sob o abacateiro.
Um pouco mais tarde ele se entreterá em desenterrar ossos, eu me distrairei em imaginar coisas.
Muito mais tarde ainda que a lua estiver manchada da chuva.
Eu voltarei para mim, um pouco cansado, por permanecer tanto tempo em pé, à janela.
Já será tarde. Longe um rádio dirá que mudaremos em breve de Século.
Então me atreverei a cortar as unhas, as dos pés.
Cantar Uberaba
Helio Destro
ABA... ABA... ABA.
Aba... Aba... Aba.
UBERABA... Morenas mineiras.
UBERABA... No amor faceiras.
ABA... ABA... ABA. Mangas fatiadas.
O perfume no ar.
É pão de queijo. UBERABA... CANTAR.
Aquele sabor de goiaba
Doce de leite... Cocada. A gente tenta tirar
Emoções em Beijos De UBERABA
Os Uberabenses das
ABA... ABA... ABA MINAS GERAIS
UBERABA... UBERABA. Jamais tira
ABA... ABA... ABA. MINAS GERAIS.
Sotaque sabor à jabuticaba. do coração mineiro.
É “Trem” bom... “Uai”. São guerreiros.
Num “guento”.
“Manhê... manhê” AI... AI... AI.
Qui “sôdade”. UBERABA
Capital do TRIÂNGULO
Mineiro
É das MINAS GERAIS
Um BRASILEIRO.
8. 8 O BANDEIRANTE - Agosto de 2012
SUPLEMENTO LITERÁRIO
Quem é? Quem é?
(Resposta na edição de setembro)
Está sempre perfumado, sorrindo e muito galante!
Mora lá no interior, mas nunca parece distante.
É poeta premiado! Profissional de renome!
Para nós, é um querido... E seu nome é _ _ _ _ _ _ __!
Lembretes e notas de rodapé
Nossas Pizzas Literárias: terceiras 5as feiras do mês, Rua Oscar Freire, 1.597, piso superior da Pizzaria Bonde
Paulista, a partir das 19h30.
Nosso blog: http://sobramespaulista.blogspot.com
Nosso e-mail: escritoressobramespaulista@gmail.com
Endereços eletrônicos da diretoria: josyannerita@gmail.com (presidente).
marciaetelli@ig.com.br (secretária).
jafmvieira@hotmail.com (tesoureiro).
Eventos da Sociedade no calendário 2012
• Próxima Pizza Literária: dia 20 de Setembro.
• Eleições SOBRAMES-SP Biênio 2013-2014: 20 de setembro
• Congresso SOBRAMES em Curitiba-PR: 11, 12 e 13 de outubro (Hotel Bourbon)
• Coletânea SOBRAMES-SP (Décima Segunda Fornada): 07 de novembro (APM)
• Posse da nova diretoria SOBRAMES-SP: 13 de dezembro (Pizza de Natal)
Dr. Carlos Augusto Galvão
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