O documento descreve a história dos Paços do Concelho de Lisboa, que abriga a Câmara Municipal de Lisboa. O edifício original foi destruído por um incêndio em 1863, forçando a construção de um novo prédio entre 1865-1880. Em 1996, outro incêndio danificou o interior, exigindo outra reforma. Apesar dos desastres, o edifício permanece um monumento importante na cidade.
Os Paços do Concelho de Lisboa: um monumento marcado por incêndios
1. OS PAÇOS DO CONCELHO
CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA
por João Aníbal Henriques
Há espaços que parecem marcados pela falta de sorte… ao longo dos tempos que dão forma ao
tempo, sobrevivem a custo às atrocidades que só acontecem de quando em vez. Menos ali,
onde as probabilidades são reduzidíssimas mas as catástrofes teimam em acontecer
ciclicamente.
É o que acontece nos Paços do Concelho de Lisboa. Instalada ali desde o final do Século XVIII,
quando o esforço de recuperação da baixa depois do grande terramoto de 1755 permitiu a
construção de um edifício condigno para as reuniões municipais, a Câmara Municipal de Lisboa
estreou instalações de grande qualidade fruto do traço proeminente do arquitecto Eugénio dos
Santos Carvalho.
Mas foi sol de pouca dura. No dia 19 de Novembro de 1863, menos de cem anos depois da
inauguração, um violento incêndio destruiu por completo os Paços do Concelho, obrigando à
construção do edifício actual.
2. A construção, que demorou desde 1865 e até 1880, integrou na fachada o grande frontão de
linha neoclássica que, sendo da autoria do escultor Francês Anatole Calmels, veio alterar de
forma significativa o projecto original assinado pelo arquitecto Domingues Parente da Silva. A
decisão, tomada pelo engenheiro municipal Ressano Garcia, abriu caminho para uma
intervenção estética mais alargada que transformou o edifício da Câmara Municipal num dos
mais impactantes monumentos da renovada baixa Lisboeta.
No interior, em que intervieram José Pereira Cão, Columbano e Malhoa, foi reforçado o valor
pictórico próprio do romantismo novecentista, facto que favoreceu a qualidade final do edifício
e o interesse que o mesmo despertou junto dos munícipes de Lisboa.
Mas não ficaram por aqui as vicissitudes terríveis que afectaram este espaço. Em 1996, no dia 7
de Novembro, outro incêndio devastou o interior do espaço municipal, obrigando a nova
intervenção de fundo que lhe conferiu o aspecto que actualmente conhecemos.
A opção mais recente, tomada pelo Arquitecto Silva Dias, que liderou a equipa que efectuou a
recuperação, foi reaproximar o mais possível o edifício do projecto original de Parente da Silva,
fazendo desaparecer muitos acrescentos e revisões impostas pelas necessidades que a História
havia imposto aos serviços camarários. Nesta obra intervieram por convite da edilidade Lisboeta
os arquitectos João de Almeida, Manuel Tainha, Nuno Teotónio Pereira, Daciano Costa e os
3. artistas Sá Nogueira, Fernando Conduto, Maria Velez, Helena Almeida, Pedro Calapez e Jorge
Martins.
Depois de o seu varandim ter servido de palco para inúmeras cerimónias que ali decorreram de
forma oficial, o edifício da Câmara Municipal de Lisboa é hoje um monumento incontornável
numa visita à cidade, marcado de forma muito perene pela Implantação da República que ali
aconteceu no dia 5 de Outubro de 1910.