Este documento discute a atuação do designer de interação para melhorar as relações entre alunos e professores no ensino a distância. O autor argumenta que o designer deve criar ambientes virtuais emocionalmente adequados e centrados no aluno para facilitar o diálogo e a aproximação entre os participantes. Além disso, defende a importância de abordagens interdisciplinares e da consideração das necessidades e perspectivas dos alunos no desenvolvimento de sistemas educacionais online.
A atuação do designer de interação na aproximação social entre aluno e professor em EAD
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A atuação do designer de interação na aproximação
social entre aluno e professor em EAD
Sílvia Fonseca Ferreira
PUC Minas Virtual (Diretoria de Ensino a Distância - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais)
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sign centrado no usuário, pois, assim, pode se iniciar uma-
RESUMO maior caracterização das reações do aluno e de seu modelo
mental, durante o uso do sistema interativo educacional.
O foco desse trabalho é a atuação do designer de interação,
em conjunto com uma equipe interdisciplinar, na prepara-
ção de ambientes virtuais para cursos de educação a distân- JUSTIFICATIVAS
cia (EAD) direcionados para adultos, objetivando a melho-
Por que Educação a Distância?
ria das relações entre professores e alunos. Para o desenvol-
vimento da pesquisa, foi necessário o estudo da concepção Os cursos de educação a distância (EAD) estão se tornando
pedagógica construtivista, das estratégias de comunicação cada dia mais comuns em todo o mundo. Não só cursos
para educação, da distância transacional e da atuação do superiores, mas também cursos de níveis fundamentais e
profissional designer instrucional em cursos de EAD. Além médios utilizam, hoje, recursos das tecnologias da informa-
disso, os conceitos de design emocional, de design centrado ção e da comunicação (TICs) e de EAD em suas aulas.
no usuário e de usabilidade foram essenciais nesse trabalho.
Jones [10] afirma que o número de cursos a distância ofere-
Palavras-chave: aluno, design emocional, construtivismo, cidos no Brasil cresceu quase 20 vezes entre 2002 e 2009.
interação, EAD. Já em 2010, a Educação a Distância alcançou 973 mil alu-
nos, 30% de todos os universitários de instituições particu-
ACM Classification Keywords: K.3.1 Computer Uses in lares. Para 2011, a expectativa, de acordo com a Associação
Education: Distance learning; H.5.2 Interfaces do Usuário: Brasileira de Ensino a Distancia (Abed), seria a de se obter
Avaliação / metodologia um crescimento de 8%.
INTRODUÇÃO
Por que construtivismo e andragogia?
O designer de interação deve executar tarefas que possibili- O profissional designer de interação, que atua em EAD, não
tem a construção de um sistema interativo educacional trabalha sozinho na construção de ambientes de ensino. Por
emocionalmente adequado e que atenda às necessidades do ele trabalhar junto a uma equipe interdisciplinar, o próprio
usuário-foco, o aluno, propiciando, assim, melhores intera- processo de construção do ambiente de aprendizagem é
ções aluno-professor e professor-aluno.
considerado construtivista e cooperativo.
Os outros profissionais envolvidos no processo de desen- Além disso, o modelo pedagógico aqui tratado será aquele
volvimento de cursos de EAD são: desenvolvedores de que funciona com a contribuição do aluno no processo de
sistemas, webdesigners, pedagogos, professores e designers ensino-aprendizagem, que é o parâmetro da concepção
instrucionais. Esse processo será tratado, nesse trabalho, pedagógica construtivista.
segundo uma abordagem interdisciplinar.
A andragogia vem sendo considerada como um novo con-
A interdisciplinaridade se caracteriza pela qualidade das ceito educacional voltado à educação de adultos que tomam
relações profissionais, ou seja, cada uma das disciplinas em a decisão de aprender algo que seja importante para sua
contato são por sua vez modificadas e passam a depender vida e trabalho. [1]
claramente umas das outras. [19]
Assim, a necessidade do estudo da andragogia se deu ao se
O estudo é centrado no modelo mental do aluno, devido ao optar por abordar esse aprendiz que está em busca de novos
seu papel fundamental dentro de um ambiente de ensino. conhecimentos, que possam auxiliá-lo nas áreas acadêmica,
Afinal, sem o aluno, não há processo de aprendizagem.
profissional e pessoal e na busca da troca de experiências
Além disso, a interatividade deve ser sempre analisada, em com outras pessoas, participando do processo de ensino-
EAD, do ponto de vista do aluno. [14] aprendizagem.
Para definir os papéis do designer de interação, foi necessá-
rio se embasar em conceitos de design emocional e de de-
2. 2
Por que as aproximações sociais entre aluno e profes- nova configuração da sala de aula e os posicionamentos
sor? mediados, a distância, pelos agentes da educação – profes-
Foi realizado um grupo de discussão sobre EAD [8] do qual sor e aluno – não estão se construindo gradativamente e
participaram pessoas que já estudaram – ou estavam estu- dependem do tempo, de métodos, de estudos e, também, do
dando no momento da realização do grupo – curso(s) ou processo histórico e econômico do meio. Sendo assim, a
disciplina(s) a distância de graduação, especialização, atua- mudança do pensamento da civilização em relação a essa
lização ou capacitação. nova modalidade de aprendizagem é demorada, por estar-
mos há séculos vivendo na configuração convencional da
Focus groups, grupos focais ou grupos de discussão têm o sala de aula presencial, ou seja: professor, quadro-negro,
objetivo de reunir informações do usuário de um cerca de 25 a 30 alunos por sala, provas, etc.
determinado produto ou sistema. Os participantes de um
grupo focal são previamente escolhidos, através de filtros Portanto, a discussão acerca das interações entre professor e
ou questionários. Depois, eles se reúnem em uma sala e aluno, em EAD, é um assunto que exige, nos tempos atuais,
respondem a um conjunto estruturado de perguntas. Muitas muita pesquisa.
vezes, a reunião é gravada em áudio ou vídeo para poder ser
consultada posteriormente. Focus groups é considerada
Por que a atuação do designer de interação?
uma técnica padrão em marketing que é utilizada para
medir os usos e reações sobre determinado produto ou A atuação do designer de interação no desenvolvimento, na
sistema que ainda será lançado ou que já existe. [5] construção e na estruturação de cursos a distância é tão
importante quanto as atuações de pedagogos, de psicólogos,
Antes do início do Grupo de Discussão em EAD, aplicou-se
de professores, de profissionais da tecnologia, de designers
um questionário, em que se faziam perguntas gerais sobre
instrucionais, entre outros envolvidos no processo.
esse(s) curso(s) ou essa(s) disciplina(s), a plataforma utili-
zada para o ambiente virtual de aprendizagem (AVA), os O que deve ocorrer, na verdade, é que todos esses profissio-
recursos tecnológicos desse AVA e o material didático. nais trabalhem em equipe e que todos possam contribuir na
criação de recursos tecnológicos e didáticos que motivem
Ao final da discussão, nos blocos sobre as expectativas e o
um processo de ensino-aprendizagem construtivista, facili-
futuro da EAD, percebeu-se que a principal “reclamação”
tando o diálogo pedagógico, e, em consequência, motivan-
dos alunos e ex-alunos era sobre o pouco ou nenhum conta-
do a relação social entre o aluno e o professor.
to com professores e tutores. Sentiam falta de mais videoau-
las e videoconferências, principalmente, por acharem que Na área do design, há uma diversidade de livros (didáticos
essa tecnologia seria a mais adequada para aproximá-los ou não) e artigos acadêmicos que abrangem dicas, reco-
dos professores. Segue, abaixo, a fala de um dos participan- mendações, normas e convenções de como usar tipografia,
tes do focus group a respeito disso [8]. layout, cores, espaços, composições dentro de sites e outras
O que mais faz falta no ensino a distância é justamente a falta
interfaces tecnológicas, que se aplicam a sistemas interati-
de aproximação das pessoas. Com mais videoconferências, is- vos educacionais. Porém, uma abordagem mais específica
so melhoraria bastante. Ou alguma outra ferramenta que apro- do design de interação dentro de EAD é escassa.
ximasse os estudantes do sistema. (Participante 1)
Como já existe muita literatura específica que aborda a
Além disso, reclamaram da falta de contato pessoal com atuação dos profissionais de pedagogia (professor, pedago-
seus colegas e da ausência de aproximação institucional go, designer instrucional) e de informática (desenvolvedo-
(professores, tutores, secretaria, coordenação, etc.) e de res de sistemas, cientistas da informação) em EAD, é es-
como isso os desmotivava nos estudos em EAD. Quando sencial, também, abordar a atuação do designer de intera-
foram questionados sobre as desvantagens que existem em ção, levando-se em conta os seus conhecimentos em design
EAD, dois participantes do focus group responderam: emocional, design centrado no usuário e usabilidade, aten-
dendo às necessidades do aluno de EAD. Afinal, os concei-
Distância entre os participantes (alunos), o que gera falta de
motivação. (Participante 2)
tos de design centrados no usuário, considerando o aluno
como o usuário-foco, incluem o estudo de seu modelo men-
O que tem no presencial, que é esta aproximação entre alu- tal, o que pode contribuir para um aprimoramento de siste-
nos e professores, não existe no virtual. Isto tira a „diversão‟ mas educacionais, promovendo, assim, uma maior aproxi-
e o „contato ao vivo‟ com outras pessoas. (Participante 3) mação entre o professor e o aluno.
Com essa visão dos usuários-foco em cursos de EAD, per-
cebeu-se a necessidade de se abordar o tema das interações OBJETIVO
entre professor e aluno, mediadas por sistemas interativos
educacionais, em cursos de EAD. O objetivo principal deste trabalho é a apresentação de
parâmetros de design de interação que possam nortear o
Bisol [2] acredita que o novo modelo de pensar em ensino e profissional designer de interação e os outros profissionais
aprendizagem, que é a educação a distância, é resultado do na busca por um sistema interativo em EAD que atenda,
desenvolvimento social, cultural e tecnológico do mundo. A
3. 3
principalmente, às necessidades do aluno. Assim, o sistema igual ao do designer, o sistema é adequado. Porém, “toda a
motivará o aluno em um processo de ensino-aprendizagem comunicação se faz através da imagem do sistema”, que
cooperativo com o professor. Com isso, a distância transa- deve deixar o ambiente “claro e consistente” para o uso
cional entre aluno e professor poderia se tornar menor. pelo aluno.
A Teoria da Distância Transacional, de Michael G. Moore Mapeamento é o relacionamento entre duas coisas, neste
([9] e [12]) será detalhada mais adiante. caso, entre os controles e seus movimentos e os resultados
no mundo [18]. Sendo assim, o mapeamento das ferramen-
tas assíncronas e síncronas em um ambiente virtual de a-
METODOLOGIA prendizagem devem ser facilmente aprendidas e lembradas.
Utilizou-se a pesquisa bibliográfica como metodologia na Já o feedback se refere a dar ao aluno o retorno de informa-
construção desse trabalho. ções a respeito de que certa ação foi executada e qual foi o
resultado obtido, permitindo, assim, que o aluno prossiga
Sendo assim, na exposição da relação entre aluno e profes-
com a ação.
sor, sentiu-se a necessidade de se abordar a “Teoria da Dis-
tância Transacional”, de Michael G. Moore, descrita por As restrições semânticas são aquelas que “confiam no
Keegan [12] e Filatro [9]. significado da situação para controlar o conjunto de ações
possíveis”. Já as restrições lógicas estão relacionadas ao
Para embasar a pesquisa, foi necessário, também, abordar a
mapeamento de um ambiente, pois relacionam o “layout
andragogia e a concepção pedagógica construtivista, através
espacial ou funcional dos componentes e as coisas que eles
de Moreira [15]. Já as reflexões sobre a pedagogia em EAD
afetam ou pelas quais são afetados”. Assim, ambas podem
foram extraídas de Valentini e Fagundes [23] e de Almeida
delimitar algumas interações em um ambiente educacional.
[1].
Já a consistência, segundo Preece, Rogers e Sharp [20] é
Além disso, foi essencial a inclusão de conceitos de design
aplicada a sistemas interativos que contêm operações, fer-
de interação, tais como design centrado no usuário e design
ramentas, elementos, semelhantes “para a realização de
emocional, levando-se em conta o visual dos sistemas inte-
tarefas similares” na interação aluno-sistema e professor-
rativos educacionais e o seu uso, principalmente pelo aluno.
sistema. Nesse caso, Norman [18] fala sobre a padronização
Para tal, o aluno e o professor são tratados, neste trabalho,
de “ações, resultados, layouts e displays”. Assim, qualquer
como os usuários destes sistemas, sendo que o aluno é o
ação será aprendida somente uma vez.
usuário-foco. Buscaram-se tais conceitos nas obras de
Norman ([17] e [18]), de Cooper [5] e de Preece, Rogers e A visibilidade prevê que quanto mais visíveis forem as
Sharp [20]. funções dos recursos de interação em uma interface de um
curso de EAD, mas os alunos saberão como proceder com o
sistema.
DESIGN DE INTERAÇÃO EM EAD
Cooper [5] acredita que o sistema que é direcionado para o
Usabilidade em EAD usuário, deve ser, também, “educado” com ele, pois alguns
Segundo Norman [18], os princípios do bom design de comportamentos de certos sistemas, como por exemplo, de
interação e da usabilidade devem “tornar a complexidade um computador, são semelhantes ao de um ser humano.
controlável e fácil de lidar”. Sendo assim, um sistema educacional direcionado ao aluno
“O problema de design criado por avanços tecnológicos é deve possuir as seguintes qualidades: que seja interessado
enorme.” [...] “Porém, nunca deveria ser usado como des- no aluno e confiável, atendendo a ele de forma diferencia-
culpa para o mau design. É verdade que, à medida que da; que seja respeitador do senso comum dos alunos, sendo
aumenta o número de opções e capacidades de qualquer compreensível a todos, através do uso de uma linguagem
aparelho, também deve aumentar o número e a complexi- acessível; que saiba antecipar as necessidades do aluno,
dade dos controles” [18]. respondendo de imediato a elas; que seja discreto e confi-
dente com relação aos problemas enfrentados pelo aluno no
O termo affordance se refere às propriedades percebidas e uso do sistema; que seja bem informado sobre o que ocorre
reais de um objeto, principalmente as propriedades funda- dentro do sistema; que seja focado no aluno, procurando
mentais que determinam de que maneira o objeto poderia sempre perceber cada ação executada por ele e oferecendo
ser usado [18]. Neste caso, um ambiente educacional serve gratificações instantâneas a cada acerto.
para ensinar. Se acessado através de computador, não deve
necessitar de rótulos, manuais ou instruções, pois, só assim,
o design não fracassará. O design emocional em EAD
Outro princípio é que seja desenvolvido um bom modelo O designer de interação em EAD, profissional preocupado
conceitual do designer de interação (modelo de design) do com as necessidades do usuário-foco, o aluno, procura,
ambiente educacional. Se o modelo mental do aluno for através de sua experiência, criar sistemas educacionais
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interativos que sejam satisfatórios, agradáveis, divertidos, (no aluno) e nas tarefas por ele executadas, o que significa
interessantes, úteis, motivadores do processo de ensino- entender o aluno, suas características cognitivas, seus com-
aprendizagem, esteticamente apreciáveis, incentivadores de portamentos e suas atitudes. E, seguindo o mesmo raciocí-
criatividade, compensadores e emocionalmente adequados. nio, é importante saber que as experiências de vida e a per-
sonalidade desse usuário interferem nas tarefas por ele
Ao serem propostas essas metas e, principalmente, pensan-
executadas em um sistema interativo.
do em sistemas “emocionalmente adequados”, apresenta-
remos a interpretação de Norman [17] a respeito do traba- Sendo assim, quando se pensa em design de interação apli-
lho de Jordan [11] sobre design emocional, classificando cado a EAD, deve-se pensar, em primeiro lugar, nos alunos,
quatro tipos de prazer que, aqui, serão aplicados à EAD: (a) em seus diversos comportamentos e em suas relações soci-
o físico: prazeres do corpo do aluno e do corpo do professor ais e emocionais. Daí a criação, para este trabalho, do termo
ao usarem o sistema; (b) o social: relações sociais entre os Educação e Design Centrados no Aluno (EDCA).
usuários do sistema; interações aluno-professor, professor-
aluno e aluno-aluno; (c) o psíquico: estados psicológicos do
aluno ou do professor, ao utilizarem a interface do sistema e ASPECTOS PEDAGÓGICOS EM EAD
seus recursos tecnológicos de comunicação; (d) o ideológi- Os processos mentais nas concepções construtivistas
co: reflexões do aluno e do professor sobre as suas experi-
ências de uso do sistema. Segundo Moreira [15], a concepção construtivista, expressa
pelas ideias de Piaget e de Vygotsky, explica a aprendiza-
Ainda, segundo Norman [17], existem três níveis de proces- gem “através das trocas que o indivíduo realiza com o mei-
samento dos designs dos produtos: (a) nível visceral: um o” e consegue, assim, desenvolver as suas próprias estrutu-
nível mais superficial, porém, não menos importante, co- ras de conhecimento.
mandado pelos sentidos humanos – olfato, paladar, visão,
tato; (b) nível comportamental: diz respeito ao uso e ao Com relação aos processos mentais, de acordo com Piaget,
desempenho, não importando a aparência, mas, também não quando um indivíduo não consegue realizar uma tarefa
se chegando ao extremo da reflexão sobre o uso e o raciocí- específica, ocorre um desequilíbrio entre a sua estrutura
nio (Aqui é que os profissionais de usabilidade se focam, cognitiva já construída e a estrutura da ação exigida. Assim,
buscando seus princípios. É aqui, também, que se desen- é necessário reorganizar os esquemas de conhecimento,
volvem estudos para alcançar o modelo mental do aluno); para que essa nova aprendizagem seja adquirida adequada-
(c) nível reflexivo: mais analítico, diz respeito ao significa- mente. Já para Vygotsky, existe o nível de desenvolvimento
do dos recursos oferecidos pelo sistema em EAD ou de seu real ou efetivo – quando o indivíduo realiza atividades sem
uso e aborda questões culturais e de experiência do aluno, o ajuda – e o potencial – em que o indivíduo não consegue
usuário-foco. realizar algo de forma independente. O que ocorre entre
esses dois níveis se dá na zona de desenvolvimento proxi-
mal – ZDP. [15]
O modelo mental do aluno
Para se criarem bons sistemas interativos educacionais, é Os alunos da EAD
necessário estudar o modelo mental do aluno, ou seja, os
seus aspectos cognitivos no uso do sistema. Dentro da psi- Os mesmos tipos de alunos existentes em cursos presenciais
cologia cognitiva, os modelos mentais foram criados como existem nos virtuais. Cazetta [4], profissional educadora em
interpretações das pessoas sobre algo do mundo físico e que EAD do Exército Brasileiro, através da Universidade Aber-
podem ser manipulados e previstos [20]. ta do Brasil (UAB), aplicou uma metodologia específica em
minicursos de formação de docentes on-line, criando alunos
simulados para auxiliar os docentes-aprendizes. Classificou
A Educação e o Design Centrados no Aluno (EDCA) os alunos de EAD em seis tipos distintos, de acordo com
alguns comportamentos em ambientes virtuais de aprendi-
Norman [18] defende a ideia de design centrado no usuário zagem: silêncio virtual, exaltação, ausência, espera atenta,
para os objetos e sistemas existentes no quotidiano. Apli- não participação e sem percepção tecnológica.
cando-se esse conceito a EAD, pode-se dizer que retrata
uma filosofia baseada nas necessidades e nos interesses do
aluno, em que o sistema interativo educacional deve ser A andragogia de Knowles
compreensível e facilmente utilizável. Nele, o aluno deve
ter a capacidade de descobrir que ações tomar e condições Knowles, na década de 1970, definiu andragogia como a
de saber o que está acontecendo quando essas ações ocor- arte e a ciência de orientar adultos em seu processo de a-
rem. prendizagem com foco em suas experiências de vida [1].
Da mesma forma, segundo Preece, Rogers e Sharp [20], um Já Bouchard [3] acrescenta a esse conceito que o adulto,
dos princípios do design de interação é o foco no usuário segundo a andragogia de Knowles, é aquele que é mais
autônomo na aprendizagem e que se mantém “aberto e
5. 5
flexível” às possíveis mudanças que possam ocorrer na ter e aumentar o interesse e a motivação do aluno; (d) apre-
estrutura pedagógica de um curso. sentar a visão geral das unidades de aprendizagem e recupe-
rar conhecimentos prévios; (e) apresentar informações,
Neste trabalho, consideramos uma estrutura de curso e um
exemplos e analogias; (f) usar estratégias de aprendizagem
sistema interativo baseados no construtivismo, ou seja, em
e adequá-las ao perfil e ao desempenho do aluno; (g) moni-
que possa existir uma troca de experiências entre aluno e
torar o progresso do aluno e esclarecer dúvidas; (h) oferecer
professor. E que atenda às necessidades de um aluno que já
feedback, sugerindo leituras e atividades complementares;
é mais independente, que consegue utilizar suas experiên-
(i) orientar a prática, enfatizando a aplicação dos conteúdos
cias profissionais e sociais no processo de ensino-
a novas situações; (j) oferecer sínteses e revisões.
aprendizagem.
O diálogo didático pressupõe ações paralelas a esses even-
tos instrucionais, em que o professor comunica conheci-
A Teoria da Distância Transacional mentos, experiências e opiniões, questiona, critica e reflete
Para entender as interações aluno-professor e professor- sobre determinado assunto, junto com o aluno, de modo que
aluno em EAD, é necessário citar a Teoria da Distância ele também expõe suas ideias, argumentos, assume posi-
Transacional de Michael G. Moore, criada em 1977 [9]. ções, critica e pensa produtivamente, participando ativa-
mente do processo de construção de seu próprio conheci-
Segundo Keegan [12], no processo ensino-aprendizagem, o mento [9].
conceito de „distância‟ – ou de seu inverso „proximidade‟ –
pode ser mais útil, se concebido em termos de suas variá- Sendo assim, o diálogo didático é uma comunicação de mão
veis psicológicas e pedagógicas do que sob fatores geográ- dupla, em que tanto o professor quanto o aluno se manifes-
ficos e tecnológicos, que dominam a maior parte das dis- tam, com interesse no que o outro tem a dizer.
cussões.
A distância transacional, portanto, é uma distância psicoló- A ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR PARA O TRABA-
gica e pedagógica e é uma combinação de três variáveis LHO EM EQUIPE NA CRIAÇÃO DE SISTEMAS INTERA-
([3], [9] e [12]): (a) ausência (ou presença) de uma estrutura TIVOS EDUCACIONAIS
predeterminada de um curso (design instrucional); (b) au- Muitas empresas, nas criações de sistemas interativos, utili-
sência (ou presença) de um diálogo didático ou educacio- zam uma equipe multidisciplinar. Isso ocorre porque, se-
nal, ou seja, de comunicação ou interação entre alunos e gundo Preece, Rogers e Sharp [20], reunir tantas pessoas
professores; (c) natureza e grau de autonomia do aluno, que com formações e treinamento diferentes significa muito
vão depender da análise e de seu comportamento relativo às mais ideias geradas, novos métodos sendo desenvolvidos e
outras duas variáveis. designs mais criativos e originais sendo produzidos.
A respeito da abordagem interdisciplinar, segundo Okada e
O designer instrucional não é o designer de interação Santos [19]: o desafio atual é concretizar a ação de uma
comunicação interativa interdisciplinar. Tanto professores,
Segundo Filatro [9], é necessário distinguir o termo „design
conteudistas, editores, webroteiristas, web-designers, ins-
instrucional‟ de outras áreas como design gráfico e web
trucional designer quanto cursistas podem ser autores e
design. coautores (emissores e receptores) de mensagens abertas e
O designer instrucional é o profissional responsável por contextualizadas pela diferença nas suas singularidades.
projetar soluções para problemas educacionais específicos.
Para promover um processo de ensino-aprendizagem ade- A APROXIMAÇÃO SOCIAL ENTRE O ALUNO E O PRO-
quado, as ações do designer instrucional envolvem o plane- FESSOR EM EAD
jamento, o desenvolvimento, e a aplicação de métodos,
O modelo mental do aluno: diversidade em educação a
técnicas, atividades, materiais, eventos e produtos educa-
distância
cionais em situações didáticas específicas.
Os seis comportamentos, apresentados por Cazetta [4] são
apenas alguns que dificultam a interação do aluno com o
Diálogo didático ou educativo: as interações entre o sistema e com o professor em um ciberespaço educacional.
aluno e o professor Podem-se incluir comportamentos positivos, tais como
Dentro das atividades de aprendizagem e de apoio direcio- participação, interesse, boa percepção tecnológica, presença
nadas ao aluno, em ambientes de ensino, o designer instru- contínua. Porém, o sistema terá de lidar com todos os alu-
cional, segundo Filatro [9], deve organizar eventos instru- nos, independentemente de seus comportamentos sociais e
cionais, que auxiliam nos processos internos de aprendiza- psicológicos e de suas reações emocionais.
gem do aluno: (a) ativar e focar a atenção do aluno; (b)
informar e reforçar os objetivos de aprendizagem; (c) man-
6. 6
Norman [17] também concorda com esse tipo de teoria.
Para ele, em sala de aula, um estudante necessita de um
grau de frustração para levar ao aprimoramento e ao apren-
dizado.
Alunos
Cargas afetivas Situações provocadoras
silêncio virtual espera atenta
exaltação não participação Interações
Alunos adequadas Professor
ausência sem percepção tecnológica
Figura 1. Os comportamentos
dos ‘alunos simulados’ de Cazetta [4]
Processo de ensino-aprendizagem aprimorado
Esse tipo de abordagem se encontra em níveis comporta-
mentais e reflexivos de processamento de design, pois, para Figura 2. As interferências nas
interações entre aluno e professor
se chegar ao comportamento de cada aluno, foi necessário
conhecer o uso e o desempenho do sistema, além de aspec-
tos culturais e de experiência do aluno.
Por um lado, essas sensações negativas e provocadoras,
Com isso, o estudo do modelo mental do aluno se torna como de frustração e preocupação devem existir em um
mais complexo, considerando a diversidade de posturas de ambiente de aprendizagem para motivar o estudo. Por outro
alunos em cursos de EAD. De qualquer forma, é necessário lado, existem, também, sensações negativas que acontecem
criar um sistema que atenda a todos esses alunos, indepen- só pelo fato de a EAD ser uma nova modalidade de ensino.
dentemente da variedade comportamental existente. Assim, Bisol [2] trata a educação a distância como um novo
modelo de educação, que ainda está em processo de confi-
O professor, o outro usuário do sistema, levando-se em
guração, o que é comprovado por Sloczinski e Santarosa
conta também o seu modelo mental, suas diferenças, seus
[22] que expuseram reações de euforia, medo, sofrimento,
conhecimentos pedagógicos e suas experiências de uso do
pavor de algumas alunas ao acessarem pela primeira vez
sistema, deve conseguir orientar e avaliar os alunos, de
um curso pela internet.
forma facilitada pelas ferramentas estratégicas de comuni-
cação e pela interface.
Funções do professor e do aluno em EAD
As reações emocionais dos alunos Em sistemas educativos, podemos dizer que existem dois
usuários principais: o aluno e o professor. Porém, segundo
Em um curso de EAD, procura-se construir um ambiente
Corrêa [6], devemos saber que o aluno é o foco de sistemas
emocionalmente adequado, que seja motivador do estudo e
de aprendizagem. É somente através da existência desse
agradável ao mesmo tempo. Porém, percebe-se que o ambi-
indivíduo é que as trocas com o meio, segundo a concepção
ente deve conter desafios, para que se chegue à satisfação.
construtivista, poderão ocorrer, pois ele é o sujeito central
Para criar a “Teoria do Fluxo”, Csikszentmihalyi [7] desco- no processo de ensino-aprendizagem.
briu que as pessoas costumam achar os períodos mais agra-
O professor entra com a função cooperativa, de orientar e
dáveis da vida aqueles em que tiveram de lutar.
organizar as atividades dentro do sistema e de promover
Sloczinski e Santarosa [22] estão em conformidade com situações que possam desequilibrar ou colocar em xeque as
Csikszentmihalyi quando acreditam que as reações e neces- certezas provisórias dos alunos, [23] para poder fazê-los
sidades do aluno aparecem em situações provocadoras, entrar em discussão e, assim, conseguir aprimorar seus
como em resoluções de atividades. A partir daí, eles se mecanismos cognitivos.
sentirão motivados para terminar aquele “desafio” inicial,
tentando atingir a satisfação.
A proximidade social entre o aluno e o professor de-
A presença de cargas afetivas refletem o estado emocional pende de suas presenças físicas?
presente em cada pessoa. Essas cargas ou experiências
afetivo-relacionais deixam transparecer sentimentos que se O que mais se ouve falar em relação aos cursos a distância é
apresentam em conjunto com as expressões relativas às que a aproximação social entre professor e aluno é reduzida
atividades que foram colocadas durante o curso. ou inexistente pelo fato de as aulas serem virtuais. Além
disso, a própria linguagem escrita, através de chats, fóruns e
7. 7
e-mails pode ser prejudicada quando não for bem expressa semânticas e feedbacks adequados. Além disso, segundo
[8]. Cooper [5], o sistema deve ser “educado” quando o aluno
estiver interagindo com ele.
A existência de proximidade social, comprovada por Corrêa
[6], provém da teoria de que para haver comunicação e Com isso, é trabalhado o nível reflexivo do design e os
interação, tem de haver presença física, corpo, matéria, o prazeres sociais e ideológicos do aluno são os objetivos
que ocorre nas aulas presenciais. Porém, a própria Corrêa maiores desta atuação. Com operações mais elaboradas pelo
admite que essa presença material consegue existir a distân- designer de interação dos recursos didáticos, tecnológicos
cia também, ou seja, nos cursos de EAD, pode haver pro- ou não, o aluno entenderá que o sistema é mais satisfatório,
ximidade social entre alunos e professores, mesmo sem agradável, interessante, útil e motivador do processo de
haver a presença material, através do uso de estratégias ensino-aprendizagem durante o seu uso.
comunicativas, com o auxílio de recursos tecnológicos.
Com relação aos problemas de comunicação via linguagem
escrita, através da tecnologia, Corrêa afirma que são os 2. Interface próxima do modelo mental do aluno
mesmos que existem na oralidade, pois há falhas em ambos.
O designer de interação deve tentar aproximar a interface
Ambos têm de ser atualizados, preparados e pensados.
de um ambiente virtual de aprendizagem da realidade do
O prazer social, visto como a aproximação positiva entre mundo. É o parâmetro real de organização de estudo que o
professores e alunos, se origina da interação entre os dois e aluno tem hoje em sua mente que deve ser aplicado ao
combina aspectos de design comportamental e reflexivo, mundo virtual, para facilitar o seu entendimento e o seu
sendo que as TICs são bons exemplos que podem ou não uso.
proporcionar esse prazer.
É interessante, também, a facilitação dos acessos no siste-
ma, em que o aluno pode achar tudo o que precisa em todas
ATUAÇÕES DO DESIGNER DE INTERAÇÃO NO APRI-
as suas seções. Por exemplo, se estiver executando uma
MORAMENTO DE AMBIENTES DE APRENDIZAGEM E atividade, consegue visualizar os conteúdos (textos e obje-
NA APROXIMAÇÃO ENTRE O ALUNO E O PROFESSOR tos de aprendizagem) que servem de consulta a ela.
Percebe-se que as atuações que serão citadas neste trabalho Então, atenderia-se às necessidades do aluno, se todos esses
são apenas alguns exemplos de todos os papéis que um recursos que o aluno necessita ao estudar estivessem dispo-
designer de interação pode executar no processo de criação níveis no ambiente de aprendizagem virtual, assim como
de um ambiente educacional a distância. As sete atuações organizamos, no mundo real, uma mesa de estudo. Essa
que serão descritas a seguir foram escolhidas exclusivamen- metáfora foi apresentada por Nogueira [16] e sua represen-
te pelo seu objetivo principal de motivar a interação peda- tação se encontra na figura 3.
gógica e psicológica entre aluno e professor. Todas elas
trabalham com a motivação dos prazeres sociais, psíquicos
e ideológicos de Norman [17].
É necessário lembrar que, através dessas atuações e de
muitas outras, pode-se construir não só uma aproximação
psicológica e pedagógica maior entre aluno e professor,
mas, também, pode-se auxiliar na criação de outros proces-
sos em EAD, tais como: projeto e desenvolvimento da
interface do ambiente de aprendizagem, criação de objetos
de aprendizagem e aprimoramento das comunicações entre
outros agentes (secretaria, tutoria, atendimento institucio-
nal) de cursos de EAD.
1. Adequação dos recursos às necessidades do aluno
Em AVAs, os recursos de comunicação ou as tecnologias de
informação e comunicação (TICs) permitem a realização de
atividades de interação e colaboração. [23] Figura 3. A interface de uma mesa de estudos [16]
Para que os recursos didáticos e tecnológicos, representados
por ferramentas de interação síncronas e assíncronas em um 3. Visual emocionalmente agradável
sistema educacional a distância, atendam às necessidades
do aluno, é necessário que o designer de interação torne Na criação de espaços que motivem o aluno a participar e a
suas funções visíveis, com mapeamento, restrições lógicas e realizar as trocas com o meio, o visual da interface é o pri-
8. 8
meiro motivador a ser ativado, inicialmente, pelo nível respeitar as dificuldades ou facilidades de cada um no uso
visceral de design, já que é comandado por sentidos huma- do sistema geradas por essas diferenciações.
nos, principalmente, a visão e a audição.
5. Padronização do ambiente
Assim, criar um visual agradável para o aluno pode atrair e Ao contrário da personalização do ambiente, a padroniza-
prender a sua atenção em tarefas e conteúdos importantes, ção ou a consistência tem a sua vantagem, pois torna o uso
motivando-o a interagir com o sistema e a realizar trocas do sistema mais fácil [18], ou seja, com todas as funções e
com os outros agentes, como o professor. operações semelhantes entre si, o aluno teria de aprender
Alguns aplicativos de bate-papos para smartphones, por uma única vez como utilizá-lo.
exemplo, tornam o seu uso mais agradável, por serem di- Seria adequado, portanto, um sistema personalizável e fle-
vertidos (figura 4). xível que estivesse dentro de um ambiente consistente e
padronizado. Assim, o sistema estará privilegiando todos os
tipos de alunos, o que os motivará a utilizar mais os recur-
sos didáticos e a interagir com o professor.
6. Melhor visualização (pelo professor) dos relatórios
de dados dos alunos
O espaço virtual traz uma vantagem sobre as aulas presen-
ciais no sentido de permitir a disponibilização de uma gama
de relatórios e informações acerca dos alunos em tempo
recorde [23]. Porém, organizações estruturais que propici-
em um melhor detalhamento de cada um e o seu acompa-
nhamento pelo professor são essenciais.
Aqui entra, também, o designer de interação, com sua visão
organizacional da hierarquia das informações e de infográ-
ficos a serem gerados para a análise dos alunos pelo profes-
sor. O designer pode aplicar, também, metodologias e técni-
cas que poderiam estudar o modelo mental do professor e
criar interfaces e interações como ferramentas facilitadoras
– gráficos e textos com boa leiturabilidade, legibilidade e
Figura 4. Aplicativo para bate-papo online em smartphones. hierarquia visual – das visualizações dos dados pelo profes-
sor.
Os relatórios levam ao professor um maior conhecimento
Além disso, como já foi descrito anteriormente, sensações de seus alunos. Com isso, pode se tornar mais motivadora a
negativas como frustração, medo ou atividades desafiadoras comunicação entre alunos e professor.
podem motivar, em conjunto com um visual agradável e
convidativo, uma maior aproximação entre aluno e profes-
sor no ambiente. 7. Aplicação e análise de testes de usabilidade
O designer de interação pode ser responsável, também, pela
4. Personalização do ambiente aplicação e análise de testes de usabilidade, antes do pro-
cesso de construção de um ambiente de aprendizagem, o
Outra proposta que o designer de interação deve pensar é se que pode trazer maiores facilidades para executar alterações
um ambiente de aprendizagem, dentro dos níveis visceral, no sistema, reduzindo custos, se fossem executadas depois
comportamental e reflexivo do design, deve ou não ser do sistema já lançado [20].
personalizável, já que poder haver uma grande diversidade
cultural e comportamental dos alunos, dependendo do cur- Podemos dividir os métodos de avaliação em analíticos e
so. empíricos. Métodos de avaliação analíticos são aqueles nos
quais avaliadores inspecionam ou examinam aspectos de
A existência de uma diversidade de alunos, considerando uma interface de usuário relacionados à usabilidade [13].
seus aspectos psicológicos, sociais e emocionais, criados Os métodos empíricos envolvem os usuários – aluno e
pelas experiências de vida únicas, permite um questiona- professor –, como: entrevistas, questionários e testes reali-
mento em relação aos espaços de aprendizagem virtuais, em zados em laboratórios.
termos de se utilizar a personalização e a flexibilidade da
interface de acordo com cada aluno. Afinal, é necessário
9. 9
Nos testes de laboratório, com os recursos que a tecnologia Além disso, aliar as interferências do designer de interação
nos oferece nos dias atuais, podemos reunir a observação e aos eventos instrucionais em um curso de EAD é algo que,
a captura automática a partir da aplicação do teste. Dessa além de motivar maiores interações aluno-professor e pro-
forma, visualiza-se a gravação do rosto do aluno ou do fessor-aluno, pode nortear melhor esse trabalho em equipe.
professor, com todas as suas reações, ao mesmo tempo em
que vemos o vídeo do que foi executado no sistema, ou
seja, o caminho do mouse, onde foi clicado e o que foi digi- Designer de Interação Designer Instrucional
tado (figura 5).
- Ativar e focar a atenção do aluno,
- Adequação dos recursos às
mantendo e aumentando o seu
necessidades do aluno
interesse e a sua motivação.
- Interface próxima do modelo
- Apresentar a visão geral das
mental do aluno
unidades de aprendizagem e
- Visual emocionalmente
recuperar conhecimentos prévios.
agradável
- Apresentar informações, exemplos
- Personalização do ambiente e analogias.
- Padronização do ambiente - Usar estratégias de aprendizagem e
- Melhor visualização (pelo adequá-las ao perfil e ao
professor) dos relatórios de desempenho do aluno.
dados dos alunos - Monitorar o progresso do aluno e
- Aplicação e análise de testes de esclarecer dúvidas.
usabilidade - Oferecer sínteses e revisões.
Quadro 1. Atuações do designer de interação
e do designer instrucional
Na figura 6, essa relação se torna mais completa, ao inseri-
Figura 5. Teste de usabilidade realizado em laboratório la como fator essencial para que ocorra um bom diálogo
didático, o que reduz a distância transacional, motivando a
Os testes de usabilidade são baseados em teorias cognitivas, aproximação psicológica e pedagógica entre aluno e profes-
pois o conceito de usabilidade existente nesses testes “é sor em um curso de EAD. Vale lembrar, também, que é
fortemente centrado em fatores associados à carga cognitiva essencial o papel do designer instrucional, através da elabo-
impingida ao usuário durante a interação” [21]. Assim, a ração e acompanhamento dos eventos instrucionais ou es-
bagagem de experiências e conhecimento acerca da maneira tratégias de comunicação, as quais são auxiliadas pelas
de utilizar o sistema interativo testado ou de tomar decisões atuações do designer de interação.
para executar tarefas específicas em certas interfaces é o
que define esse conceito.
As experiências, as emoções e os comportamentos do aluno
podem influenciar os testes de usabilidade, e, em conse-
quência, o uso do próprio sistema pronto. Portanto, é impor-
tante a aplicação de testes de usabilidade em professores e,
principalmente, em alunos, pois os comportamentos emo-
cionais dos usuários ao interagirem com o sistema podem
contribuir para um melhor projeto de uma interface para um
ambiente de aprendizagem.
RELAÇÃO ENTRE OS PAPÉIS DO DESIGNER DE INTE-
RAÇÃO E OS EVENTOS INSTRUCIONAIS
No quadro 1, as atuações do designer de interação estão
relacionadas com os eventos instrucionais ou estratégias de
comunicação, executadas pelo designer instrucional, lista-
dos por Filatro [9]. Ambos devem ser executados em con-
junto, através de um trabalho realizado por toda a equipe de
produção do sistema de aprendizagem, com abordagem Figura 6. Atuações do designer de interação que motivam a
interdisciplinar. interação entre aluno e professor, em cursos de EAD
10. 10
CONCLUSÃO ensino-aprendizagem ocorre. Além disso, é essencial a
Em cursos de EAD para adultos, a atuação de um designer presença do designer de interação, trabalhando em conjunto
de interação é fundamental no processo de criação do ambi- com outros profissionais da pedagogia e da informática,
ente educacional, para que ocorra uma maior aproximação para que seja construído um ambiente educacional a distân-
social, psicológica e pedagógica entre aluno e professor e cia que vise atender às necessidades do aluno e que seja
para que isso aprimore o processo de ensino-aprendizagem fácil e agradável de ser usado por ele, sem deixar de ser
do aluno. motivador e desafiador.
Entre os diversos papéis que um profissional de design de Os eventos instrucionais e as atuações do designer de inte-
interação pode executar em desenvolvimentos de ambientes ração, trabalhados em conjunto, podem levar à criação de
educacionais, procurou-se descrever aqueles que atendem um ambiente educacional mais adequado ao aluno, onde ele
diretamente à demanda de maiores interações aluno- possa melhor interagir com o professor, ou seja, um sistema
professor e professor-aluno, considerando o aluno o usuá- em que a educação e o design estejam centrados no aluno.
rio-foco do sistema.
Diante disso, seguindo o princípio do affordance, o desig- REFERÊNCIAS
ner de interação é responsável por tentar aproximar a inter-
[1] Almeida, M.E.B. As teorias principais da andragogia e
face do mundo real e, seguindo os outros princípios de
heutagogia. In: Litto, F., Formiga, M. (orgs.) Educa-
usabilidade (mapeamento, restrição, feedback, consistência
ção a Distância: o estado da arte. São Paulo: Editora
e visibilidade) e vinculando-os a questões emocionais, o
Pearson, 2008. p. 105-111.
designer de interação procura adequar os recursos didáticos
do ambiente educacional às necessidades do aluno. [2] Bisol, C.A. Ciberespaço: terceiro elemento na relação
ensinante/aprendente. In: Valentini, C.B., Soares,
Considerando, ainda, as diversas reações emocionais e
E.M.S. (orgs). Aprendizagem em ambientes virtuais:
comportamentais dos alunos, devem-se permitir a persona-
compartilhando ideias e construindo cenários. 2ª ed.
lização ou a flexibilização do ambiente. Porém, levando-se
Caxias do Sul: Educs, 2010. p. 21-32.
em conta que o aluno deva ter facilidade no aprendizado do
uso do sistema, uma padronização do ambiente pode ser [3] Bouchard, P. Autonomia e distância transacional na
executada pelo designer de interação. formação a distância. In: Alava, S. (Org.). Ciberespa-
ço e formações abertas: rumo a novas práticas educa-
Buscando motivar prazeres sociais e psíquicos no uso do
cionais? Tradução de Fátima Murad. Porto Alegre:
sistema pelo aluno e pelo professor, o designer de interação
Artmed, 2002. p. 72-85.
deve tornar o visual da interface do ambiente educacional
emocionalmente agradável e “educado”, assim como o [4] Cazetta, G. Docência On-line: uma proposta para
visual dos relatórios que contêm informações dos alunos e formação. SEMINÁRIO DE EDUCAÇÃO A DIS-
que são direcionados aos professores. Os testes de usabili- TÂNCIA, 3., 01 e 02 de abril, 2011, Belo Horizonte.
dade devem ser aplicados por designers de interação para Gestão e Práticas Inovadoras. Belo Horizonte: CAED
que se possam estudar os modelos mentais dos diversos – UFMG, 2011.
tipos de alunos e professores que acessam o sistema, procu-
[5] Cooper, A. The inmates are running the asylum. Indi-
rando-se chegar a um bom modelo conceitual do designer
anapolis: Sams Publishing, 2004. p.160-171, 210-211.
de interação.
A atuação do designer de interação deve ocorrer em conjun- [6] Corrêa, J. Gestão e Práticas Inovadoras. Belo SEMI-
to a uma equipe interdisciplinar, de forma colaborativa, em NÁRIO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA, 3., 01 e 02
que é importante se destacar outro profissional, o designer de abril, 2011, Belo Horizonte. Gestão e Práticas Ino-
instrucional, como elaborador de eventos instrucionais, que vadoras. Belo Horizonte: CAED – UFMG, 2011.
são estratégias de comunicação que poderão aumentar o [7] Csikszentmihalyi, M. Flow: The Psychology of Op-
diálogo didático (reduzindo a distância transacional) dentro timal Experience. Harper and Row, 1990. GLOBAL
de um curso de EAD. Esse diálogo se refere às aproxima- LEARNING COMMUNITIES, 2000. <http://www.
ções pedagógica e psicológica entre aluno e professor, as psy-flow.com/sites/psy-flow/files/docs/flow.pdf>. A-
quais contribuem para um processo de ensino- cesso em jul/2011.
aprendizagem construtivista, em que o aluno adulto se inte-
ressa mais pela troca de experiências. [8] Ferreira, S. et al. Focus Group em EAD. 14 dez, 2010.
Disciplina Workshop de Análise de Usabilidade. (pós-
Portanto, o processo de construção de um ambiente educa- graduação lato sensu em Design de Interação) – Insti-
cional construtivista e emocionalmente adequado que bus- tuto de Educação Continuada da Pontifícia Universi-
que uma maior interação entre aluno e professor – os agen- dade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2010.
tes principais do ambiente – deve considerar o aluno em
primeiro lugar, pois é por causa dele que o processo de
11. 11
[9] Filatro, A. Design instrucional na prática. São Paulo: [17] Norman, D.A. Tradução de Ana Deiró. Design emo-
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44.