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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

 (ESCOLA DE ARTES, CIÊNCIAS E HUMANIDADES)




CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ÉTICA, VALORES E
             SAÚDE NA ESCOLA




         DISLEXIA EM SALA DE AULA

       Aprendendo a lidar com as diferenças




                EDUARDO DE OLIVEIRA

                ELIANA MARIA DE LIMA

             EURÍDICE RIBEIRO BERTOLINO

            FERNANDA BARBOSA DE MORAIS

            HILDEBRANDO J. BALIEIRO RAMOS

              PATRICIA MACIEIRA MORILHA

               ROBSON EDUARDO TOMAZ




                     SÃO PAULO

                   DEZEMBRO/2010

                                              1
EDUARDO DE OLIVEIRA

         ELIANA MARIA DE LIMA

      EURÍDICE RIBEIRO BERTOLINO

     FERNANDA BARBOSA DE MORAIS

     HILDEBRANDO J. BALIEIRO RAMOS

       PATRICIA MACIEIRA MORILHA

        ROBSON EDUARDO TOMAZ




  DISLEXIA EM SALA DE AULA

Aprendendo a lidar com as diferenças




                        Relatório apresentado como parte integrante da
                        avaliação da disciplina “Trabalho com Projetos”,
                        do Curso de Especialização Ética, Valores e
                        Saúde na Escola”, sob a coordenação geral do
                        Prof. Dr. Ulisses Araujo e Prof. Dr. Li Li Min, e
                        sob    a orientação da Prof. Dra.         Juliana
                        Rodrigues.




              SÃO PAULO

                 2010



                                                                  2
AGRADECIMENTOS




                 A todos(as) os(as) colegas de turma que
                  conosco dividem as manhãs de sábado
                      nesta prazerosa tarefa de aprender.

                    Às professoras Juliana e Kenia, pela
                  orientação e apoio na realização deste
                                                trabalho.

                      Aos professores e professoras que
                     dedicaram parte de seu tempo para
                   contribuir na investigação do caso em
                                                 questão.

                 À nossa aluna e à sua família. Razão da
                                existência deste trabalho




                                               3
Sou o que quero ser, porque possuo apenas
uma vida e nela só tenho uma chance de fazer
                                o que quero.

  Tenho felicidade bastante para fazê-la doce,
   dificuldades para fazê-la forte, tristeza para
   fazê-la humana e esperança suficiente para
                                     fazê-la feliz.

 As pessoas mais felizes não têm as melhores
        coisas, elas sabem fazer o melhor das
       oportunidades que aparecem em seus
                                    caminhos.

                               Clarisse Lispector




                                         4
PROBLEMA
Que estratégias didáticas são utilizadas pelos professores para a promoção da

aprendizagem em alunos com dislexia?




OBJETIVO:

Investigar as diferentes práticas pedagógicas dos profissionais da educação e

analisar o impacto na evolução da aprendizagem em alunos com dislexia.




HIPÓTESE:

A hipótese que se pretende comprovar através desta pesquisa é a de que o

conhecimento a respeito das limitações impostas pela dislexia, bem como

sobre as potencialidades dos alunos portadores deste distúrbio, por parte dos

profissionais da educação e das famílias, resultam em estratégias didáticas

eficientes, fundamentais para que se efetive o aprendizado e se reduza o

estigma e a exclusão.




                                                                           5
RESUMO


       O Presente relatório expõe as conclusões obtidas a partir da análise dos

dados levantados com o estudo de caso de um indivíduo disléxico, aluna de 6º

ano de uma escola da rede privada do município de Osasco.


       A partir de uma análise da bibliografia existente, apresenta o conceito de

dislexia e suas cosequências no processo de aprendizagem e, também, de

estigmatização dos estudantes portadores do distúrbio, bem como o papel

desempenhado pelos pais e professores na superação/perpetuação das

dificuldades oriundas.


       Aponta, também, algumas possibilidades de intervenção positiva no

desenvolvimento cognitivo das crianças portadoras de dislexia, consagradas

pela bibliografia existente e pela experiência de educadores e de instituições de

apoio, mais especificamente o trabalho desenvolvido pela Associação

Brasileira de Dislexia.




                                                                               6
METODOLOGIA


         Tendo como finalidade investigar as estratégias didáticas para promover

a aprendizagem em crianças com dislexia, neste presente trabalho optamos

por adotar como modalidade de delineamente de pesquisa o estudo de caso.


         De acordo com a bibliografia existente sobre Metodologia da Pesquisa

Científica, a definição de Estudo de Caso aponta para a necessidade de uma

análise de uma unidade individual, que pode ser uma pessoa, uma instituição

ou comunidade, com o propósito de obter informações relevantes e com

profundidade, através de múltiplos instrumentos de coleta de dados (GIL,

2009).


         Apesar de não ser o procedimento metodológico mais adequada para se

realizar generalizações e de apresentar um processo de análise complexo,

inúmeros estudos de caso têm se mostrado eficientes na construção e

validação de novas hipóteses, além de possibilitarem o aprimoramento, a

construção e rejeição de novas teorias. No campo da educação, o estudo de

caso pode ser valioso, portanto, para se testar a eficiência de determinadas

práticas pedagógicas em grupos ou instituições particulares, ou mesmo o

impacto que estas práticas podem ter no aprendizado de um indivíduo

específico, em função de suas características peculiares.


         Evidentemente, para que se obtenha a validade desejada, há a

necessidade de se fazer uso, no decorrer da pesquisa, de múltiplos

instrumentos e procedimentos de coleta e análise dos dados, com o propósito


                                                                              7
de contrastar as informações obtidas a respeito do caso em estudo em

diferentes fontes.


      Inicialmente, em virtude do problema levantado nesta pesquisa e dos

objetivos almejados, pensou-se no estudo de uma instituição de ensino

específica, mas uma primeira análise da bibliografia existente relacionada à

dificuldade de aprendizagem que se pretende investigar (a dislexia) convenceu-

nos da necessidade de analisar a questão sob a perspectiva daquele que sofre

a dificuldade e para o qual inúmeros esforços (da instituição de ensino e seus

agentes, especialmente os professores e demais membros da equipe

pedagógica, dos pais e do Estado, através da adoção de políticas de inclusão e

da criação de legislações específicas) são despendidos para que a

aprendizagem aconteça de forma efetiva e significativa.


      Após uma análise superficial dos casos de alunos com dislexia em

algumas instituições de ensino públicas e privadas nas quais os membros da

equipe desenvolvem suas atividades profissionais, optou-se pelo estudo de

caso de uma aluna de 6o ano de uma instituição privada de Ensino do

Município de Osasco.


      Definido o caso particular, procedeu-se a uma análise criteriosa da

bibliografia existente a respeito da dislexia, com o propósito de buscar uma

definição abrangente da dificuldade específica de aprendizagem em questão,

além de mapear as diferentes visões existentes sobre o tema, que interferem

em maior ou menor grau no desenvolvimento do trabalho daqueles que

diretamente influenciam a aprendizagem dos alunos, especialmente os

professores, profissionais da equipe psicopedagógica, pais, legisladores e
                                                                            8
gestores educacionais.


      A partir da análise desta bibliografia, construiu-se um roteiro simples de

entrevistas que foram realizadas com os professores, com a própria aluna e,

também, com os pais. De posse desses dados, foi possível identificar em que

medida as informações sobre os avanços da ciência a respeito da dislexia,

obtidas através da pesquisa bibliográfica foram assimilidados pelos difererentes

atores, especialmente pais e professores, e em que medida esta assimilação

traduziu-se em ações efetivas que pudessem garantir (ou não), uma melhoria

da aprendizagem do aluno.


      Evidentemente, para se determinar a intensidade dos progressos na

aprendizagem, foi necessário uma investigação com base nas atividades

desenvolvidas pela aluna ao longo do ano letivo de 2010. Cabe ressaltar que o

ano em questão corresponde ao primeiro ano em que a aluna tomou contato

com diferentes professores especialistas, o que produziu impacto significativo

em seus estudos, já que a exigência conceitual e de organização aumentaram

na razão inversa em que passou a dispor do tempo e atenção dos professores,

visto que enquanto cursava o Fundamental I, tinha à disposição uma

professora polivalente por um período de tempo relativamente prolongado ao

longo da semana, o que possibilitava uma maior atenção às suas

necessidades.


      Muitas das etapas definidas previamente na metodologia tiveram que ser

revistas e outras precisaram ser incorporadas, na medida em que as

informações que eram obtidas passavam a exigir novos procedimentos de

análise e investigação, demonstrando que, justamente por se tratar de um
                                                                              9
estudo de caso particular, exigiu de nossa parte um estudo em profundidade e

sistemático.




                                                                         10
SUMÁRIO




INTRODUÇÃO ......................................................................................            12

1. O QUE É DISLEXIA ..........................................................................               14

1.1 Histórico.............................................................................................   15

1.2 Sintomas e Diagnóstico ....................................................................              20

2. O OLHAR PSICOPEDAGÓGICO SOBRE A DISLEXIA ...................... 23

3. METODOLOGIAS DE ENSINO.............................................................. 27

4. LEGISLAÇÃO SOBRE A DISLEXIA E OUTRAS DIFICULDADES ....                                                    31

5. O OLHAR DA FAMÍLIA ........................................................................ 35

6. ANÁLISE DE CASO ............................................................................ 42

6.1 A formação e a experiência docente ...............................................                       44

6.2 O que sabem sobre dislexia .............................................................                 44

6.3 As práticas pedagógicas utilizadas ..................................................                    45

6.4 O empenho de pais, professores e equipe pedagógica ...................                                   48

7. CONCLUSÃO ....................................................................................            52

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................                             57

9. ANEXOS............................................................................................        62




                                                                                                                  11
INTRODUÇÃO


      O objetivo desse estudo é contribuir para investigar as diferentes

práticas pedagógicas dos profissionais da educação e analisar o impacto na

evolução da aprendizagem em alunos com dislexia. Portanto, a questão que

norteará nosso trabalho é que estratégias didáticas são utilizadas pelos

professores para a promoção da aprendizagem em alunos com dislexia?

      Tal interesse do grupo decorreu da pesquisa realizada no módulo

anterior no curso de Pós Graduação “Ética, Valores e Saúde na Escola”, cujo

tema foi a percepção dos profissionais de educação em relação aos problemas

neurológicos nas instituições de ensino, ocasião em que pudemos apontar a

dislexia como uma das dificuldades mais comuns nesse estudo realizado.

      No atual módulo a pesquisa está voltada para o tema educação e

saúde, portanto, estendemos nossa investigação realizando um estudo mais

aprofundado sobre a dislexia, por meio de um estudo de caso e pesquisa

bibliográfica sobre o assunto.

      Nossa preocupação foi realizar uma pesquisa que pudesse trazer à tona

uma discussão a respeito desse tema sob vários ângulos: o conceito da

dislexia e seu histórico na visão de alguns autores, o olhar da psicopedagogia;

o que a legislação oferece enquanto subsídio e amparo para as pessoas que

têm dislexia; o papel da família, além de apresentar enquanto estudo algumas

metodologias utilizadas para promover a aprendizagem na escola com os

alunos com dislexia e, finalmente, apresentar a análise do estudo de caso, que

foi realizado por meio de relatos de práticas para verificar a validade da

hipótese levantada pelo grupo.
                                                                            12
O que se pretende comprovar através desta pesquisa é a de que o

conhecimento a respeito das limitações impostas pela dislexia, bem como

sobre as potencialidades dos alunos portadores deste distúrbio, por parte dos

profissionais da educação e das famílias, resultam em estratégas didáticas

eficientes, fundamentais para que se efetive o aprendizado e se reduza o

estigma e a exclusão.




                                                                          13
1. O QUE É DISLEXIA

       A definição sobre o que venha a ser dislexia é ainda contraditória entre

os profissionais de diversas áreas. O consenso aparece quando afirmam que é

um distúrbio na aprendizagem da leitura, e está relacionado à visão (não

especificamente com as dificuldades para “enxergar” objetos ou textos, mas

com as dificuldades encontradas pelo cérebro para processar as informações

de caráter visual). .

       Muitos autores citam que este distúrbio de ordem neurológica acomete

pessoas de todas as idades, com inteligência dentro dos padrões da

normalidade, isenta de deficiências sensoriais e emocionais, além de terem

oportunidades educacionais adequadas.

       Para compreendermos melhor a dislexia temos que diferenciar os dois

tipos existentes, a dislexia de desenvolvimento e a dislexia adquirida. A dislexia

do desenvolvimento também chamada de primária ou específica é aquela na

qual a inabilidade na aquisição completa da competência de leitura é de origem

constitucional. Já a dislexia adquirida ou sintomática ocorre quando as

habilidades de leitura já desenvolvidas são perdidas devido a uma lesão

cerebral (Spreen, Risser e Edgel, 1995; Pinheiro, 1995, Salles, Parente e

Machado 2004).

       Segundo MORAIS (1996), podemos subdividir a dislexia em:

       . periférica – em que a lesão acomete o sistema visual, que dificulta a

percepção das letras;

       . central – em que, além de afetar o sistema visual, há também alteração

na rota fonológica ou lexical.


                                                                               14
Na dislexia fonológica frequentemente ocorrem problemas no conversor

grafema-fomena e/ou em vincular os sons parciais em uma palavra completa

(França e Moojen, 2006). A rota lexical nestes casos apresenta aceitável

funcionamento. As dificuldades encontram-se na leitura de palavras de baixa

incidência, sílabas desconexas e pseudopalavras. As palavras familiares são

lidas com razoável desempenho.

       Quando a dislexia é lexical, a rota fonológica está relativamente

preservada, e a dificuldade encontrada pela pessoa é na leitura de palavras

irregulares, com leitura lenta, vacilante e silabada.

       O quadro mais grave é na dislexia mista, onde a via fonológica e lexical

estão comprometidas.

       De traço hereditário, a dislexia acomete parcela significativa da

população, e é o distúrbio de aprendizagem que possui a maior incidência na

sala de aula.




1.1 HISTÓRICO

       A dislexia está longe de ser considerado um problema neurológico

contemporâneo. Os primeiros registros de diagnósticos advêm de adultos que

sofreram alguma espécie de dano cerebral há séculos. Em 1676, talvez o mais

antigo dos relatos, um médico alemão, Dr. Johann Schmidt, publicou suas

observações sobre Nicholas Cambier, um homem de 65 anos que havia

perdido a capacidade de ler, depois de um derrame (SHAYWITZ, 2006).




                                                                            15
À medida que o conceito evoluía, apareciam casos na literatura médica

que descreviam homens e mulheres que liam normalmente, mas que, depois

de um derrame, tumor ou lesão traumática, perderam a capacidade de ler,

condição chamada de alexia adquirida. Em 1872, o eminente neurologista

britânico Sir William Broadbent relatou um caso de alexia adquirida. Quando

seu paciente foi levado a um hospital de Londres, disse: “Vejo as palavras, mas

não consigo entendê-las” (SHAYWITZ, 2006).


         Um médico alemão, Rudolf Berlin, de Stuttgart, deu um novo sentido

para os problemas de leitura adquiridos. Em 1887 publicou sua monografia. O

documento relatava os casos de seis indivíduos que ele observou por um

período de vinte anos. Ele usa o termo dislexia para se referir ao que considera

uma forma especial do que chamavam de “cegueira verbal” em adultos que

perderam sua capacidade de ler depois de um determinado dano cerebral. Se

a lesão fosse total, poderia apresentar como resultado uma incapacidade

absoluta de leitura, a alexia adquirida. Se o problema fosse apenas parcial,

poderia haver uma grande dificuldade em interpretar símbolos escritos ou

impressos, sintomas inerentes a dislexia. Berlin conceitualiza a dislexia como

um membro de uma família chamada afasia, a qual reúne a perda da palavra

falada, escrita, mímica ou táctil, consequências de lesão cerebral (SHAYWITZ,

2006).


         Na edição de 21 de dezembro de 1895 do prestigiado periódico médico

The Lancet, podemos ler um relato do oftalmologista de Glasgow, Dr. James

Hinshelwood, sobre o caso de um senhor de 58 anos, professor de francês e

de alemão, então, portador de alexia adquirida. Em uma determinada manhã

                                                                             16
ele descobriu que não conseguia ler o exercício de francês que um aluno lhe

dera para corrigir, no entanto, não tinha a menor dificuldade com números

(SHAYWITZ, 2006).


      Ainda ao final do século XIX, médicos da localidade rural de Seaford,

Inglaterra, e da parte central da Escócia tinham conhecimento de crianças da

sociedade vitoriana que eram brilhantes e motivadas, vinham de famílias

escolarizadas e conscientes, eram educadas por professores interessados e,

apesar de tudo, apresentavam uma grande dificuldade na apropriação da

capacidade leitora. Tal diagnóstico causava certa estranheza para os médicos

na época. No entanto, ao observar o relato, é possível inferir que se tratava de

prováveis casos da referida disfunção cerebral (SHAYWITZ, 2006).


      Em 1896, W. Pringle Morgan, um médico também de Seaford, publicou

no British Medical Journal uma descrição de um distúrbio específico de

aprendizagem. O artigo registrou o caso de um menino de 14 anos de idade

que não conseguia aprender a ler, no entanto, apresentava certa facilidade em

relação à leitura dos números e à resolução de exercícios de aritmética. O

garoto também era perfeitamente capaz de realizar atividades comuns a

crianças de sua idade. Morgan captou, em seu paciente, os elementos básicos

do que chamamos hoje de dislexia do desenvolvimento. Um problema

neurológico pouco difundido naquele momento. Morgan foi a primeira pessoa a

considerar a dislexia (para ele “cegueira verbal”) como uma disfunção de

desenvolvimento que ocorre em crianças sem qualquer anormalidade aparente

(SHAYWITZ, 2006).



                                                                             17
Foi o relato de alexia adquirida de Hinshelwood que motivou a

publicação do artigo do Dr. W. Pringle Morgan, o qual descrevia o problema de

“cegueira verbal”. A diferença é que, no caso de Morgan, o distúrbio nasceu

com a criança (origem congênita). Perder a capacidade de ler e nascer sem

sequer ter adquirido tal capacidade eram problemas que se apresentavam de

maneira singular naquele momento. Embora o relato de Hinshelwood se refira

a um adulto que antes lia perfeitamente, as similaridades entre as dificuldades

apresentadas pelo paciente de Morgan, que jamais havia aprendido a ler, e o

paciente de Hinshelwood era impressionante. Ambos tinham os sintomas de

“cegueira verbal” e não eram capazes de ler, mas podiam ler números e

realizar cálculos mentalmente sem qualquer hesitação (SHAYWITZ, 2006).


      Historicamente, os casos da então chamada “cegueira verbal” adquirida

em adultos eram percebidas antes dos casos congênitos. Um fato que não

poderia ocorrer de forma diferente, visto que, quando uma pessoa adulta perde

repentinamente a capacidade de ler, isso a afeta de maneira drástica. A

“cegueira verbal”, quando adquirida após uma lesão cerebral, é muito comum

em adultos. Tais lesões, sejam provenientes de um derrame ou de um tumor,

afetam em geral o lado esquerdo do cérebro, onde podem prejudicar várias

funções. Além de problemas de leitura, os pacientes atingidos podem

experimentar fraqueza muscular do lado direito do corpo, dificuldade em

pronunciar palavras ou problemas para nomear objetos (SHAYWITZ, 2006).


      Diferente da “cegueira verbal adquirida”, a “cegueira verbal congênita” é

identificada nas crianças e reflete uma disfunção presente desde o nascimento.

Nesse caso, a situação apresentada pela criança não ocorre de maneira

                                                                            18
drástica, os problemas são notados à medida que a criança se depara com

dificuldades de leitura na escola. Um dos agravantes nesses casos é que as

dificuldades apresentadas podem passar despercebidas por um longo período

e, algumas vezes, nem ser notada. A forma congênita é muito mais

circunscrita, afetando primeiramente a leitura, às vezes a linguagem falada,

mas nunca a força muscular, como ocorre na forma adquirida (SHAYWITZ,

2006).


         Ao despertar seu interesse por casos de “cegueira verbal congênita”

Hinshelwood, em 1900, detalhou os problemas de duas crianças que, embora

parecessem perfeitamente capazes de desenvolver a competência leitora, não

conseguiam aprender a ler. Por volta de 1912, o oftalmologista já havia

relatado em artigos e monografias pelo menos 12 casos de “cegueira verbal

congênita”.    Suas     pesquisas    giravam       em    torno   da   dificuldade   no

desenvolvimento da leitura como algo isolado e circunscrito que, para ele,

refletia uma disfunção cerebral “local”, e não generalizada (SHAYWITZ, 2006).


         Em   artigo   publicado    na   Revista    da   Associação    Brasileira   de

Psicopedagogia, um grupo de pesquisadores sob a orientação da Professora

Doutora Magda Ivonete Montagnini fez um relato sobre o neurologista Samuel

T. Ortom que, em 1925, identificou, em uma criança, dificuldades apresentadas

mais comumente em pessoas vítimas de traumatismo. O menino, por mais que

tentasse, não desenvolvia a capacidade de ler. Orton estudou, então, as

dificuldades no desenvolvimento da capacidade leitora. Ele concluiu que existia

uma síndrome que nada tinha a ver com traumatismos neurológicos, mas que

era responsável pela dificuldade no aprendizado da leitura. Ele deu, a esse

                                                                                    19
problema, o nome de strephosymbolia (‘símbolos invertidos’) baseado em uma

das característica da dislexia, a de inverter as letras, sílabas ou palavras

(GOMES et al., 2009).


         Orton observou também que a dificuldade em ler, apresentada por seus

pacientes, não tinha relação aparente com problemas da visão. Para ele, esse

tipo de distúrbio tem relação direta com um defeito no reconhecimento de

orientação das letras e de sua sequência nas palavras, pois a percepção visual

das crianças disléxicas, com quem havia trabalhado, não apresentavam

grandes problemas. Para ele, a escrita em espelho seria explicada por uma luta

ou conflito entre os dois hemisférios cerebrais. A especialização dos

hemisférios cerebrais de Orton foi alvo de novos estudos nas décadas 1980 e

1990, pesquisadores indicam que o lado esquerdo do planum temporale, região

do cérebro que desempenha papel essencial na compreensão da linguagem, é

maior do que a do direito em cerca de 66% dos cérebros normais; as pessoas

disléxicas, contudo, apresentam simetria ou assimetria reversa (GOMES et al.,

2009).




1.2 SINTOMAS E DIAGNÓSTICO



         Devido ao esforço despendido no processamento das informações

visuais, a leitura torna-se mais lenta e segmentada, o que compromete a

velocidade de cognição e a memorização, produzindo cansaço, inversões,

trocas de palavras e perda de linhas no texto, desfocamento, sonolência,
                                                                           20
distúrbios visuais, dores de cabeça, irritabilidade, enjoo, distração e fotofobia,

após um intervalo relativamente curto na leitura.


      Embora a causa da dislexia de leitura esteja relacionada às alterações

neurobiológicas no processamento cerebral, problemas oculares contribuem

significativamente para os sintomas da dislexia. Estima-se que 85% de todo o

aprendizado dependa das informações recebidas através do sistema visual.


      A dislexia é um tipo de distúrbio de aprendizado que interfere na maneira

como a pessoa percebe e processa letras, números e símbolos. Embora o

diagnóstico de dislexia deva ser feito por um profissional, existem alguns sinais

que pais e professores podem observar assim que a criança começa a

aprender a ler e escrever. Os sinais mais comuns são letras e números

percebidos e escritos de forma invertida ou de cabeça para baixo, dificuldades

em aprender alguns fonemas, memorizar novas palavras, problemas com a

coordenação motora e dificuldades de leitura.


      No Hospital de Olhos, há profissionais que realizam testes para

diagnosticar   corretamente    o   distúrbio.   Frequentemente     os   pacientes

apresentam dificuldade de leitura e escrita, principalmente com a ortografia, e

muitas vezes poderá apresentar dificuldade motora e de seguir comandos

seguidos.


      Nessas alturas, todos que atuam na educação devem pensar o que

pode estar ocorrendo com os disléxicos em sala de aula. Os métodos de

alfabetização em leitura levam em conta as diferenças individuais? Os métodos

pedagógicos, com raras exceções, se propõem a ser eficientes em salas de


                                                                               21
crianças ditas normais, mas se tornam ineficientes em crianças especiais. Por

isso, cabe aos docentes, em particular, e aos pais, por imperativo de

acompanhamento de seus filhos, entender melhor sobre os métodos de

estudos adotados nas instituições de ensino. Os métodos de alfabetização em

leitura são determinantes para uma ação eficaz ou ineficaz no atendimento

educacional especial aos disléxicos, disgráficos e disortográficos. A dislexia é

uma dificuldade específica em leitura, e como tal, nada mais criterioso e

necessário do que o entendimento claro do processo da leitura ou do

entendimento da leitura em processo.


      Compreendendo estas diferenças no aprendizado, metodologias de

ensino que prioriza a oralidade e o conhecimento que o aluno possui, contribui

para uma formação educacional que auxiliará o avanço nas disciplinas.




                                                                             22
2. UM OLHAR PSICOPEDAGÓGICO SOBRE A DISLEXIA



       Dentre inúmeras dificuldades de aprendizagem que são associadas ao

insucesso na trajetória escolar, a dislexia tem seu espaço destacado, pois está

relacionada à leitura e escrita, constituídas como pilares para o processo de

alfabetização e seu sucesso escolar.

       A palavra dislexia é derivada de dis= distúrbio ou disfunção e lexia em

grego quer dizer linguagem e em latim, leitura, assim, é considerada como um

distúrbio de linguagem e/ou de leitura.

       Vale a pena ressaltar que na visão da psicopedagogia entende-se que a

dislexia deve ser diagnosticada por uma equipe disciplinar e como parte

integrante desse grupo, portanto, é de suma relevância compreender o estudo

na concepção psicopedagógica, pela sua importância na parceria com a

instituição escolar, assim como na avaliação diagnóstica e acompanhamento

no caso de alunos com dislexia.

       Assim a psicopedagogia investiga, analisa, estuda o processo de

aprendizagem e suas dificuldades, contribuindo para recuperar as habilidades

cognitivas, emocionais, sociais das crianças na fase escolar, incluindo a

dislexia.

       A criança com dislexia é considerada um mau leitor, e mais, se é capaz

de ler, não consegue entender suficientemente o que lê. Assim considerada

como uma disfunção genética que se caracteriza como uma falha no

funcionamento do processamento da linguagem, ou seja, uma dificuldade de



                                                                            23
estabelecer associações entre os som e a grafia, por isso, acaba sendo

identificado na fase de alfabetização.

       Segundo GONÇALVES (2006), as crianças com dislexia são nomeadas

como: preguiçosas, desligadas e desorganizadas, fazendo marcas em sua

vida, geralmente no atendimento psicopedagógico é muito comum a criança

chegar com baixa auto-estima, devido algumas experiências de fracasso

escolar na sua trajetória.

      A criança com dislexia além de apresentar dificuldade na aquisição da

leitura e escrita, pode apresentar desatenção, dispersão, dificuldade na

coordenação motora fina (desenho/pintura) e /ou grossa (dança, ginástica),

letra ilegível, troca de letras, lentidão ao escrever e ler, isso pode desencadear

problemas de conduta, como a depressão, timidez excessiva. É de importância

o papel do professor enquanto observador ao se deparar com uma criança

principalmente na educação infantil, pode-se perceber nas crianças de 4 a 5

anos de idade; os distúrbios de letras podem levar crianças de 8 a 9 anos, no

ensino fundamental a ter perturbações de ordem emocional, afetiva e

lingüística, segundo MARTINS ( 2002).

      É importante ressaltar que “a dislexia não é considerada doença,

portanto, não se pode falar em cura, mas pode ser controlada com

acompanhamento especializado. Em hipótese nenhuma a pessoa com dislexia

tem comprometimento intelectual. É um distúrbio congênito e hereditário.”

(CASTILHO).

      Segundo FREITAS

                      a atuação do psicopedagogo é uma busca constante ladeada por
                      diversos teóricos, visando maior capacitação e compreensão do
                      cliente/paciente disléxico. Essa busca de técnicas e estratégias de
                      trabalho visa o que mais fará sentido ao disléxico; “objetiva em suas
                                                                                        24
sessões conhecer, entender e esclarecer o mecanismo manifesto
                    junto dele, seja através de jogos, de vivências e de discussões de
                    temas pertinentes, buscando e permitindo o conhecimento”. A
                    abordagem de trabalho associa o estímulo e o desenvolvimento
                    através de métodos multissensoriais, que partem da linguagem oral à
                    estruturação do pensamento, da leitura espontânea à discussão
                    temática, da elaboração crítica e gerativa das idéias à expressão
                    escrita, incorporando o processo da aprendizagem. (2006, p.1)

      Para que o trabalho se efetive de forma mais eficiente, é vital não

apenas compreender o porquê da não aprendizagem, mas o que aprender

e como esse processo se desenvolve, assim como valorizar o conhecimento, o

esforço do aprendente, para aumentar sua autoestima, trabalhando com

procedimentos específicos e individualizados em cada atendimento. Assim

como cometa LOPES:


                    A responsabilidade e seriedade do trabalho psicopedagógico com
                    clientes       disléxicos, faz com que muitos alunos propensos ao
                    fracasso escolar sejam         resgatados, através de um plano de
                    trabalho individualizado e comprometido        com o sucesso em
                    todos os âmbitos: escolar, emocional e social. (p.6)




      O olhar sobre a dislexia, a partir da visão da psicopedagogia, é peculiar,

não interessando ao trabalho psicopedagógico a característica que as crianças

com dislexia têm em comum, pois não se olha para a dislexia como um rótulo

que se deve impor ao aprendente.

      O olhar e a escuta psicopedagógica é dirigida para a criança e sua

história de trocas, dificuldades de leitura/escrita, no contexto de sua

modalidade de aprendizagem.

      Assim LOPES traz a seguinte análise


                    (...) a concepção de dislexia do psicopedagogo e seu plano de
                    trabalho, percebe-se que a atuação desses profissionais é de suma
                    importância tanto no diagnóstico quanto nas atividades facilitadoras
                    da aprendizagem com disléxicos.(...) As diferentes estratégias
                    utilizadas pelas psicopedagogas no plano de trabalho com clientes
                                                                                     25
disléxico expressam em sua essência o que os pesquisadores vêm
                    discutindo no campo da dislexia. Chegaram a um consenso sobre a
                    importância de se proporcionar suporte ao disléxico para melhorar o
                    seu desempenho escolar, com atividades focadas em leitura, escrita e
                    fonética, desenvolvendo habilidades em uma reeducação
                    multissensorial e trabalhando a sua a autoestima, a sua
                    autoconfiança, valorizando suas potencialidades.(p.6)



      Desta   forma,   a   psicopedagogia       vê   a   criança/sujeito     em    sua

individualidade, mas ao mesmo tempo integrada nos grupos a que pertence

(familiar, social, escolar), procurando encontrar sua peculiaridade enquanto

aprendente, ou seja, a modalidade de aprendizagem que lhe é singular. O que

lhe interessa são as diferenças que possibilitam compreendê-la como única,

apesar dela estar inserida num determinado tipo de modalidade de

aprendizagem.




                                                                                     26
3. METODOLOGIAS DE ENSINO



      O conceito de educação inclusiva prevê que todos os alunos sejam

inseridos no processo educativo, porém, é frequente a percepção de que, nas

escolas, os alunos que possuem algum tipo de distúrbio ou dificuldade são

deixados de lado, devido ao desconhecimento de técnicas que possam

contribuir para seu desenvolvimento. O excesso da carga de trabalho dos

professores e a falta de investimento do Estado dificultam a busca por uma

formação que possibilite um trabalho e uma inclusão efetiva de todos os

estudantes.

      Muitas vezes, as recomendações feitas aos professores de um aluno

com dislexia se restringem à elaboração de avaliações diferenciadas, sendo

que o mais importante, a formação, fica relegada a um segundo plano. Não se

deve negar que “a instituição escolar se confronta com um dilema: o desafio de

atender as diferenças de aptidões entre os alunos e, ao mesmo tempo,

prepará-los para atingir objetivos estandardizados, surgindo as situações

problemáticas    quando    consideramos     alunos    com   dificuldades    de

aprendizagem, como é o caso da dislexia” (CASTILHO). Colocaremos aqui,

porém, algumas    propostas    metodológicas    que   mostraram    resultados

satisfatórios para o desenvolvimento dos alunos com esse distúrbio, em

experiências que envolviam trabalho conjunto e dedicado de pais e

professores.

      Dentre    essas   metodologias,   encontramos    ações   simples,    mas

significativas no processo de aprendizagem dos alunos, como “fazer uso de

                                                                            27
materiais diversificados no apoio das aulas, oferecer resumo dos conteúdos

que serão abordados, ministrar suas aulas com clareza e repetição, dar

instruções orais e escritas ao mesmo tempo, apresentar novas palavras de

forma contextualizada, realizar sempre que possível aulas de revisão e

trabalhos em grupo, fazer a leitura em voz alta antes de iniciar a avaliação e

acrescentar o tempo para a realização da mesma.”(CASTILHO)

      É importante que a criança tenha acompanhamento de profissional

competente, para que sejam identificadas as necessidades específicas para o

desenvolvimento cognitivo do aluno disléxico, visto tratar-se de um problema

que se manifesta em níveis diferenciados, especialmente devido ao maior ou

menor estímulo promovido pela família e pelos educadores.

      A partir de um laudo obtido após investigação do profissional, é possível

identificar as necessidades específicas e obter as orientações necessárias para

a otimização do trabalho em sala de aula.

      No Brasil, a Associação Brasileira de Dislexia (ABD) desenvolve um

trabalho bastante comprometido e sério na identificação das dificuldades

específicas das crianças e, em geral, os laudos apresentados para as famílias

seguem com um conjunto de informações relevantes para o trabalho dos

professores.

      A ABD também promove cursos voltados para educadores e

disponibiliza vasta bibliografia a respeito do tema em seu site.      Um dos

exemplos deste rico material de apoio é o artigo Existe uma escola ideal?, de

Ana Silvia Figueiral, onde encontramos importantes reflexões sobre o papel

dos   professores   e de   suas metodologias,     especialmente no Ensino

Fundamental II e Médio, que podem contribuir para a melhoria da
                                                                            28
aprendizagem em crianças com dificuldades de leitura. Para ilustrar tal

situação, reproduzimos a citação a seguir:

                     O uso da lousa, do quadro pode ser um apoio importante para
                     a manutenção da atenção por um tempo maior além de ajudar
                     nas anotações para o estudo posterior. Enquanto fala, o
                     professor pode escrever os conceitos referidos e suas
                     correlações para a classe ir visualizando. Apostilar a matéria
                     ajuda muito aluno. Outra medida que pode ser tomada em sala
                     de aula, é antecipar o texto a ser lido, fornecendo um resumo
                     prévio, sem deixar de investir na curiosidade pela leitura. A
                     idéia que sabendo sobre o tema antes de ler desmotiva a
                     leitura, não confere com as constatações, sobretudo no caso
                     de textos não informativos. Quantos livros são vendidos após
                     as minisséries, após os filmes? Quanto aos textos informativos,
                     um quadro esquemático, que contenha as principais
                     informações relacionadas, abre espaço para que a leitura
                     agregue elementos adicionais, enriquecendo o conhecimento.
                     Não impedir a leitura com pista articulatória (sussuros), porque
                     para o leitor desatento este é um recurso eficiente para
                     sustentar a atenção. Tal medida, no entanto, é
                     contraproducente quando falamos de estudantes portadores do
                     Transtorno da Leitura, que se beneficiam da leitura silenciosa
                     (poupando-os da decodificação) ou de fitas gravadas com o
                     texto. Estratégias como estas e as que são desenvolvidas
                     pelos professores quando passam a entender as necessidades
                     de seus alunos, são simples na adoção e proveitosas para a
                     aprendizagem.”

      No atual contexto da educação brasileira, em que todos os esforços se

concentram para que o foco do trabalho do professor se desloque do ensino

para a aprendizagem dos alunos, é importante destacar algumas das

competências necessárias para o exercício da profissão docente indicadas por

PERRENOUD (2000): organizar e dirigir situações de aprendizagem,

administrar a progressão das aprendizagens, conceber e fazer evoluir

dispositivos de diferenciação, envolver os alunos em suas aprendizagens e em

seu trabalho entre outras.

      Pelo exposto, percebe-se que administrar a heterogeneidade da turma e

trabalhar com alunos portadores de dificuldades é condição sine qua non para

o desenvolvimento de um trabalho competente e, dentre estes alunos
                                                                                  29
portadores de dificuldades, a dislexia é bastante recorrente. Portanto, diante

deste (e de outros) problema, no desenvolvimento de seus métodos de

trabalho, é fundamental que o professor:


                    •      Entenda que ninguém aprende ao mesmo tempo,
                    portanto é essencial o respeito pelas individualidades;
                    •      Seja criativo e diversifique as estratégias pedagógicas,
                    pois ninguém aprende da mesma "forma";
                    •      Esteja aberto aos diversos meios de comunicação, e
                    utilize-os como ferramentas no processo de ensino-
                    aprendizagem;
                    •      Diversifique as atividades avaliativas;
                    •      Esteja preparado para perceber a dificuldade de seus
                    alunos e encaminhe-os para uma avaliação;
                    •      E, acima de tudo, INCLUA A TODOS.

   Sabemos que as condições de trabalho nas escolas (e isso não é privilégio

apenas da rede pública) em geral são bastante precárias, e o professor tem

que enfrentar inúmeros desafios diante de um conjunto cada vez maior de

demanadas, sem o apoio necessário. Esta situação, no entanto, por mais que

comprometa o exercício da nossa função, não tira do professor a

responsabilidade sobre a progressão das aprendizagens, especialmente

daqueles que mais precisam dela.




                                                                                30
4. LEGISLAÇÃO SOBRE A DISLEXIA E OUTRAS

DIFICULDADES


      Não há uma legislação especificamente voltada para a questão da

dislexia em nosso sistema educacional, mas analisando as leis que regem o

atendimento e o acompanhamento aos alunos em geral, perceberemos

aspectos pertinentes ao tema dislexia.

      Destacamos neste capítulo as principais leis destinadas a garantir a

eficiência no processo educativo, considerando as particularidades e a

diversidade presentes nas escolas brasileiras na atualidade.

      A LDB (Leis 9394/96), por exemplo, em inúmeros artigos, aponta para a

necessidade de se criar mecanismos de recuperação de alunos que não

aprendem no mesmo ritmo que os demais, ou apresentem rendimento

insatisfatório em relação aos objetivos esperados, em virtude da presença de

necessidades especiais variadas, o que inclui, portanto, a dislexia.

               O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8069/90), aliás,

antes mesmo da existência da LDB, já reforçava, de maneira ampla, a

necessidade de a educação pautar-se na formação integral do indivíduo,

garantindo seu direito de exercer a cidadania visando contribuir para a

igualdade social. Portanto, o legislador entende a necessidade de assegurar o

direito à educação como forma de promoção da cidadania a todas as crianças

e adolescentes, obrigando ao atendimento da diversidade de situações

encontradas nas escolas, sendo elas de natureza social, econômica ou

patológicas.

                                                                          31
Vários pareceres, indicações e deliberações dos Conselhos Estaduais

de Educação e do Conselho Nacional da Educação, especialmente após a

segunda metade da década de 90, quando a Lei de Diretrizes e Bases passa a

vigorar, apontam para a necessidade de se transferir o foco do trabalho

pedagógico para a aprendizagem dos alunos. Dessa maneira, a experiência de

“ensinar” deve necessariamente contemplar as diferenças existentes no interior

do grupo-classe com o qual se trabalha. Ao fornecer orientações a respeito da

forma como se deve promover a recuperação dos alunos que não aprenderam

no tempo oportuno, o Conselho Estadual da Educação de São Paulo, através

da Indicação CEE no 5/98, de 15 de abril de 1998, publicado no Diário Oficial

do Estado de São Paulo em 23 de setembro de 1998, afirma que “ dentro de

um projeto pedagógico consistente, a recuperação deve ser organizada para

atender aos problemas específicos de aprendizagem que alguns alunos

apresentam (...) e abranger não só os conceitos, mas também as habilidades,

procedimentos e atitudes”. Ou seja, compete às escolas de forma geral e aos

professores em particular criar condições, mesmo que isso implique em maior

tempo de trabalho, para que todos os alunos progridam em suas

aprendizagens, entendidas não apenas como a apropriação de conteúdos de

caráter conceitual, mas também (e principalmente) no desenvolvimento de

competências, habilidades, procedimentos e atitudes visando o “pleno

desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e

qualificação para o trabalho (artigo 53 do Estatuto da Criança e Adolescente,

caput).

      Cabe ressaltar que a própria Constituição (art. 208, III) indica que o

“atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência (será
                                                                           32
garantido) preferencialmente na rede regular de ensino. Esta diretriz

constitucional será retomada, também, no capítulo 8 do Plano Nacional da

Educação (Lei 10.172/01) ao apontar para a necessidade de esforço das

autoridades educacionais “para valorizar a permanência dos alunos nas

classes regulares, eliminando a nociva prática de encaminhamento para

classes    especiais     daqueles    que   apresentam   dificuldades comuns    de

aprendizagem, problemas de dispersão, de atenção ou de disciplina”. O

parecer CNE/CEB no 17/2001 e a resolução CNE/CEB, por sua vez, coloca no

quadro comum das dificuldades de aprendizagem uma “diversidade de

necessidades         educacionais,   destacadamente     aquelas   associadas   a:

dificuldades específicas de aprendizagem como a dislexia e disfunções

correlatas (...)”.

       Tramita na Câmara Municipal de São Paulo um projeto de lei desde

2005, apresentado pelo vereador Juscelino Gadelha, que tem por finalidade

“garantir as bases para a promoção da saúde dos portadores de DISTÚRBIOS

DE APRENDIZAGEM NA ÁREA DA LEITURA, ESCRITA E SOLETRAÇÃO, A

DISLEXIA”. Segundo a justificativa apresentada pelo parlamentar, o poder

público deve assumir a responsabilidade de implantar, no âmbito do Sistema

Único de Saúde, das Organizações Sociais e em cooperação com a Secretaria

de Educação, um Programa de Atendimento aos alunos portadores desse

distúrbio de aprendizagem específico.

       Cabe destacar que, apesar da existência de um conjunto expressivo de

normas legais que, de forma direta ou indireta, contemplam as necessidades

de alunos portadores de dislexia, a efetivação das práticas que se traduzem em

efetivação do direito legal passa necessariamente pela maior ou menor
                                                                               33
intervenção do poder público, tanto no âmbito municipal, quanto estadual e

federal. Além disso, deve-se ressaltar as dificuldades enfrentadas pelos

professores, que em geral exercem suas funções em salas de aulas com

poucos recursos, com número excessivo de alunos, e em muitas unidades

escolares de diferentes redes, em virtude da baixa remuneração recebida, o

que torna o atendimento às necessidades especiais dos alunos, não apenas

disléxicos, uma tarefa extremamente desgastante e, muitas vezes, frustrante.

      Deve-se, portanto, valorizar a existência de um conjunto de normas

legais que apontam para a efetivação do direito de todos, independentemente

das especificidades de cada um, mas deve-se ter claro que sem uma política

pública de valorização profissional e de investimento nas redes públicas de

saúde e educação, corre-se o risco de se verem transformados em “letra

morta” todos os avanços da legislação criada nas últimas décadas.




                                                                               34
5. O OLHAR DA FAMÍLIA


      A dislexia não é uma doença (assim como outras dificuldades de

aprendizagem, tais como a discalculia, dispraxia e disgrafia) mas um distúrbio

neurológico relacionado não apenas com as dificuldades de leitura e escrita,

mas que também afeta as competências relacionadas com a ortografia, a

competência auditiva, a fala e a memória, além de produzir comprometimentos

em relação à organização, lateralidade etc.

      Afetando, portanto, uma série de competências que favorecem (ou

dificultam) o aprendizado, o mais comum é que a dislexia seja percebida

apenas na fase de alfabetização e/ou nas etapas subsequentes, desde que a

família e os profissionais da educação envolvidos tenham os conhecimentos e

a percepção necessárias para que aconteça o encaminhamento aos

profissionais competentes para fazer o diagnóstico. Caso contrário, a

dificuldade real de aprendizagem passa a ser encarada como descaso ou

desleixo do próprio aluno/filho, culpabilizando-o por algo sobre o qual não

possui o menor controle.

      Apesar da necessidade de diagnóstico profissional, há uma série de

sintomas que se manifestam na idade escolar e que podem ser indícios da

dislexia, tais como a redução da autoestima, dificuldades de ortografia,

dificuldades na leitura em voz alta, problemas de lateralidade, dificuldades em

seguir orientações e indicações, realização demorada de trabalhos escritos,

relutância em ir à escola entre outras. As dificuldades acima, isoladas ou em




                                                                            35
conjunto, podem, no entanto, terem causas diversas, daí a necessidade de

intervenção profissional.

      As estatísticas sobre a incidência da dislexia no conjunto da população

apontam para algo em torno de 10 a 15%. Alguns especialistas, no entanto,

acreditam que o número é subdimensionado, em virtude do grande

desconhecimento em relação às características desta dificuldade específica de

aprendizagem, mesmo entre os profissionais da educação. Para outros, há um

certo exagero nestes números, principalmente porque muitas das dificuldades

com leitura e escrita, especialmente em jovens e adultos, decorrem de um

deficiente processo de alfabetização, e não especificamente de um problema

neurológico.

      Apesar das divergências em relação aos números, é fato incontestável

que a dislexia não é um distúrbio raro, estando bastante presente nas escolas

e exigindo cada vez mais a atenção de pais e professores. É fato, também, que

a dislexia manifesta-se em graus variados e que, em função do maior ou menor

estímulo oferecido à criança, ela encontrará maiores ou menores possibilidades

de progredir, tanto do ponto de vista acadêmico, quanto do ponto de vista

pessoal e profissional.

      Por essa razão, é fundamental que os pais, diante das dificuldades

apresentadas pelos filhos na escola, procurem ajuda necessária para

intervirem de forma positiva no desenvolvimento cognitivo das crianças. É

comum, em muitas situações, por ignorância, preconceito ou vergonha, que os

pais de crianças disléxicas ou que apresentam outros tipos de distúrbios

neguem a situação dos filhos e, assim, comprometam o seu desenvolvimento



                                                                           36
normal. Portanto, para o bem ou para o mal, a intervenção dos pais é

determinante no desenvolvimento acadêmico dos filhos.

      Se ocorre a negação da condição de disléxico dos filhos, transmite-se a

eles a imagem de que se trata de um problema do qual precisam se

envergonhar e, assim, terão menos oportunidades para obterem a ajuda

necessária para a superação dessas dificuldades. Se, por outro lado, utiliza-se

a dislexia (como também qualquer outra dificuldade de aprendizagem) para

justificar a inação da criança diante de todo e qualquer desafio cognitivo,

seguramente a criança será privada de muitas oportunidades de aprender e de

crescer academicamente.

      A criança com dislexia não pode ser excluída das oportunidades de

aprendizagem e, tampouco, a dislexia pode servir de pretexto para que nada

seja feito pela criança, pela família e pela escola. A dislexia não impede que a

criança aprenda e se desenvolva, embora tal aprendizado e desenvolvimento

possa não acontecer no mesmo nível e no mesmo tempo que as outras

crianças.

      Por   isso,   as   intervenções   pedagógicas   na   escola   dever   ser

diferenciadas, respeitando-se as especificidades da criança com dificuldades e,

em casa, os pais precisam compreender estas especificidades e agirem em

parceria com a escola.

      SHAYWITZ (2006) afirma, sobre uma das formas de intervenção positiva

nos processos de aprendizagem das crianças, que "ouvir seu filho ler em voz

alta é, em geral, a mais significativa atividade que você pode executar nesse

processo (...) Para uma criança que enfrenta dificuldades é geralmente útil ler

um pouco para ela e depois pedir para que releia em voz alta o mesmo trecho
                                                                             37
(...) É bom dar à criança uma régua ou algo semelhante para ela colocar sob

cada linha enquanto lê ou acompanha o que se lê." (p.177). Isso contribui

também para criar um padrão duradouro de satisfação, que pode acompanhar

a criança ao longo da vida. Mais tarde, na adolescência ou na idade adulta, a

memória afetiva destas leituras compartilhadas com os pais contribuirão para

tornar a leitura uma atividade prazerosa, mesmo que ainda difícil e cansativa.

      Para crianças que não experienciam estas sensações, e percebem a

leitura apenas como algo além de suas capacidades cognitivas que são

obrigadas a enfrentar, e que as fazem vivenciar a todo momento seus

fracassos   e   frustrações,   a   leitura   proficiente   jamais   será   atingida,

comprometendo também sua autoestima.

      Para que a experiência da leitura em casa contribua de maneira efetiva

na superação das dificuldades de leitura e escrita das crianças, é fundamental

que os pais tenham consciência da importância que sua ajuda pode ter, e

saibam qual a melhor maneira de proporcioná-la.

      Nos Estados Unidos, desde 1985 um programa de treinamento para os

pais, com duração de oito semanas (Foward Together Recovery Programe)

realizado em Cabridgeshire tem comprovadamente contribuído, segundo

Hannavy (O envolvimento dos pais na ajuda aos filhos na superação das

dificuldades de leitura e escrita; in SNOWLING E STACKHOUSE, Dislexia,

Fala e Linguagem, 2004) para "melhorar a competência dos leitores deficientes

e também o seu entusiasmo com relação à leitura" (p. 227). O compromisso de

ajudar diariamente os filhos e participar de reuniões semanais e grupos de

discussão faz com que os pais, em um primeiro momento, compreendam os

problemas dos filhos e o processo de aprendizagem para, em seguida,
                                                                                 38
poderem "desenvolver um trabalho bilateral singular que pode ter efeitos

positivos na aprendizagem e nas atitudes de seus filhos" sem, contudo,

substituírem a intervenção do professor.

      Mesmo sem a existência de um progama específico de apoio a pais de

crianças disléxicas, há um conjunto de ações desejáveis que podem fazer uma

brutal diferença na aprendizagem dos alunos.

      Há, por outro lado, um outro conjunto de atitudes que devem ser

evitadas, sob pena e risco de se ampliar ainda mais as dificuldades

enfrentadas pelos alunos. Dentre as atitudes negativas que devem ser

evitadas, FRANK E LIVINGSTON (2004) apontam os dez erros mais comuns

nos pais de crianças disléxicas. São eles:



1. Pensar que a criança pode um dia ser "normal" e que a dislexia poderá ser

curada.

2. Culpar-se pelo fato de a criança ser disléxica;

3. Pensar que se compreende exatamente aquilo por que a criança está a

passar;

4. Não conseguir perceber aquilo que a criança consegue ou não fazer;

5. Ajudar a criança disléxicas em tarefas que ela consegue fazer sozinha;

6. Esconder dos outros o fato de a criança ser disléxica;

7. Baixar em vez de redirecionar as expectativas;

8. Tentar proteger a criança do mundo real;

9. Contrariar, em vez de funcionar em conjunto, o sistema educacional;

10. Concentrar-se nas incapacidades, e não nas capacidades da criança.



                                                                            39
Se os erros listados anteriormente devem ser evitado pelos pais de

todas as crianças disléxicas (e muitos, inclusive, por pais de crianças não

disléxicas também) as atitudes de apoio podem variar de caso para caso e em

função da maior ou menor autonomia conquistada pela idade e a escolaridade.

      Ler com a criança (e para a criança) é atitude indispensável nos

primeiros anos da escolaridade mas, com o passar do tempo, pode vir a se

transformar em uma estratégia de apoio desnecessária e ineficente. Reforçar a

autoestima, atribuindo responsabilidades, deixando que a criança tome

decisões e demonstrando respeito à criança são situações de apoio que

favorecem o progresso independentemente da idade e do nível de

escolaridade. O mais importante é identificar as necessidades específicas das

crianças em cada momento, e trabalhar no sentido de criar as condições

necessárias para que possa superá-las, em um primeiro momento com a ajuda

de um adulto para, depois poder cumprir com a tarefa de forma autônoma.

      FRANK E LIVINGSTON (2004) afirmam que "embora a escola seja o

local em que as crianças disléxicas sentem mais diretamente o impacto dessa

dificuldade de aprendizagem, o ambiente familiar pode fazer uma diferença

crucial não só para seu desempenho na escola mas também para a forma

como lida com a dislexia no dia a dia."

      Questões aparentemente simples, como a organização da rotina matinal

e do espaço de trabalho e até mesmo da mochila podem exigir a intervenção

da família. Intervir não significa, em hipótese nenhuma, fazer pelo aluno, mas

criar as condições que tornam possível, como já foi dito anteriormente, a

realização da tarefa de forma autônoma. Se a criança tem dificuldades para se

organizar antes de sair de casa para ir à escola, a família pode intervir
                                                                           40
positivamente mantendo quadros e cartazes com a rotina diária e horários de

aulas, além de manter acessível livros, uniformes e demais materiais

necessários para a aula.

      Em situações que as crianças precisam ser avaliadas na escola, é

importante que os pais, sob orientação dos professores, organizem um plano

de estudos e definam as estratégias de revisão da matéria em função das

especificidades de cada disciplina. Leitura em voz alta, organização de

esquemas com cores variadas, elaboração de resumos por tópicos e outras

estratégias que favoreçam a fixação podem contribuir para um desempenho

mais efetivo nas avaliações.




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6. ANÁLISE DO CASO


      Para investigar as diferentes práticas pedagógicas utilizadas pelos

profissionais da educação para promover o aprendizado e a efetiva inclusão

dos alunos com dislexia, optou-se, como metodologia de pesquisa, pelo estudo

de caso. O caso escolhido foi de uma aluna que cursa o 6º ano em um colégio

particular de Osasco, região metropolitana de São Paulo. O fato de ser um

caso de dislexia comprovado através de laudo e, portanto, conhecido pelos

professores, foi fundamental para sua escolha.

      A princípio, seria utilizada, como instrumento de pesquisa para se

levantar informações a respeito da prática dos professores, a entrevista, porém,

com o objetivo de tornar o discurso dos docentes mais natural, sem a

intimidação que uma entrevista poderia proporcionar, pedimos aos professores

que redigissem um relato, tendo como guia algumas perguntas sobre suas

práticas pedagógicas. Abaixo, podemos observar a proposta do relato:



Gostaríamos que você redigisse um relato, tendo como guia as questões

abaixo. Nosso objetivo é conhecer as diferentes práticas pedagógicas dos

profissionais da educação e analisar o impacto dessas práticas na evolução da

aprendizagem em alunos com dislexia. Sua contribuição será muito importante

para nossos estudos. Agradecemos por sua participação.

Qual é a sua formação? E o seu tempo de magistério? O que você sabe sobre

dislexia? Realizou alguma leitura ou formação para conhecer melhor o tema?

Sobre a aluna 6º ano B, diagnosticada com dislexia, quais as estratégias


                                                                             42
utilizadas   para      contribuir para   seu     aprendizado.   Que   dificuldades e

potencialidades ela apresenta na sua matéria? Fique à vontade para comentar

suas práticas e intervenções. Quais são as dificuldades ao lidar com uma aluna

com dislexia? Você sente que a equipe pedagógica e a família se empenham

no desenvolvimento da aluna? Comente.



       O levantamento de informações a respeito das práticas pedagógicas

desenvolvidas com a aluna se deu a partir dos relatos de duas coordenadoras

pedagógicos (fundamental I e II) e dos professores de Língua Portuguesa,

Língua Estrangeira (Espanhol), Matemática, Ciências e Geografia. Não foram

analisadas neste trabalho, as opiniões dos professores de História, Artes,

Educação Física e Inglês, pois os devidos relatórios não foram entregues em

tempo hábil para a análise.

       Contamos, também, com a contribuição da professora polivalente

responsável pelo trabalho com a aluna no ano anterior, para que pudéssemos

ter uma visão mais abrangente dos progressos e das dificuldades enfrentadas

pela aluna no decorrer deste ano, que representa uma importante etapa de

transição dentro do contexto da escolaridade de nível básico.

       A     opinião     manifestada     pelas    coordenadoras   pedagógicos    foi

fundamental para a compreensão do caso, pois além de possuírem uma visão

mais panorâmica do contexto acadêmico dentro da escola, são responsáveis

pelo atendimento à família e pelo contato com os especialistas que lidam com

as dificuldades da criança, como fonoaudiólogo, psicólogo e neurologista.

       A aluna e a mãe também forneceram informações sobre as suas

principais dificuldades no ambiente acadêmico, especialmente neste contexto
                                                                                  43
de transição do fundamental I para o fundamental II, quando deixou de ser

assistida por uma professora polivalente que já a acompanhava há dois anos,

para se deparar com professores especialistas que sabiam de suas

dificuldades apenas indiretamente, através de laudos preparados pela

Associação Brasileira de Dislexia e relatórios da coordenação e da professora

polivalente. Estas informações foram obtidas através de uma entrevista do

pesquisador com a aluna e com a mãe e, também, indiretamente, através da

análise dos materiais que produziu ao longo do ano, especialmente seu

caderno e provas.




6.1 A FORMAÇÃO E A EXPERIÊNCIA DOCENTE



      Sobre a formação e a experiência dos professores e coordenadores que

participaram da pesquisa, percebemos que todos têm, pelo menos, cinco anos

de experiência docente, sendo, portanto, um grupo com uma considerável

vivência em sala de aula, e que já deve haver trabalhado com alunos

portadores dos mais diversos distúrbios e dificuldades. Além disso, quatro dos

sete profissionais entrevistados são pós-graduados em psicopedagogia (as

coordenadoras e dois professores).



6.2 O QUE SABEM SOBRE DISLEXIA



      Todos os participantes da pesquisa conseguiram definir a dislexia como

um distúrbio de aprendizagem nas áreas de leitura, escrita e soletração.

Porém, afirmaram que não fizeram leituras aprofundadas ou formações a
                                                                           44
respeito do tema, exceto as coordenadoras que, apesar de se considerarem

ainda despreparados para lidar com casos de dislexia, participaram de

congressos e palestras sobre o tema, além de acessar o site da ABD

(Associação Brasileira de Dislexia) frequentemente.



6.3 AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS UTILIZADAS



      Segundo a coordenadora do Ensino Fundamental II do colégio, a

confirmação da presença do distúrbio na aluna foi feita através de relatório

enviado pela ABD, após a professora que trabalhou com a criança no 4º e 5º

anos do Fundamental I ter identificado problemas na escrita e na leitura da

aluna que levantaram suspeitas sobre o quadro de dislexia.

      Cabe ressaltar que, entre o início das suspeitas de dislexia e a

confirmação a partir do laudo da ABD, passaram-se quase dois anos, pois a

lista de espera na associação é grande, o que já denuncia que o problema da

dislexia tem sido recorrentemente identificado no ambiente escolar.

      Na ausência do laudo, a professora polivalente que atuou com a criança

no final do Fundamental I informou que, em parceria com a coordenadora

pedagógica, realizou uma série de leituras a respeito da melhor forma de

intervenção pedagógica, que resultaram na elaboração de inúmeras atividades

de apoio que promoveram, em um primeiro momento, uma melhoria

substancial na leitura e na escrita da aluna e, também, uma recuperação da

autoestima, já que a menina considerava-se incapaz e envergonhava-se diante

dos seus resultados obtidos.



                                                                         45
De acordo com a professora polivalente, as intervenções que

começaram a dar resultados mais satisfatórios consistiram na supressão de

enunciados longos de questões e atividades que eram indicadas para a aluna,

a substituição e/ou complementação das provas escritas por avaliações orais,

a criação e manutenção de uma pasta em que a aluna guardava suas

produções no decorrer do processo (uma espécie de portifólio) e que

possibilitavam uma visualização de seu progresso e, por fim, a elaboração

(pela professora) de pequenos textos-resumos das aulas, que eram impressos

diariamente e guardados em sua pasta, para que pudesse ter registro das

explicações e permitisse um acompanhamento e ajuda da família.

      O laudo obtido na Associação Brasileira de Dislexia comprovou a

suspeita da professora, e as indicações para o desenvolvimento do trabalho na

escola presentes no corpo do documento mostraram que as ações que haviam

sido desenvolvidas até então estavam adequadas. Deve-se lembrar que a

dislexia não tem cura e acompanhará a aluna pelo resto de sua vida, mas sem

a intervenção adequada da professora, nestas séries iniciais, provavelmente

suas dificuldades estariam muito maiores do que as encontradas pelos

especialistas do Ensino Fundamental II.

      Ocorre, porém, que as condições de trabalho encontradas pela

professora polivalente não são as mesmas dos professores especialistas que

passaram a atuar no processo de ensino e aprendizagem da aluna. Enquanto

no fundamental I a professora dispunha de praticamente 22 horas de trabalho

contínuo na mesma classe, no fundamental II a frequência de aulas de cada

professor varia de 2 a 6 aulas por semana e cada professor exerce suas



                                                                          46
atividades em 5 ou mais turmas de alunos, muitas vezes em mais de uma

escola e período.

       Diante desse quadro, apesar de disporem do laudo da ABD, de

orientações da coordenação e do próprio suporte da professora polivalente que

atuou no ano anterior com a aluna, o trabalho com as suas necessidades

específicas foi negligenciado por parte substancial dos professores, o que

produziu, inclusive um ligeiro retrocesso em relação aos progressos que havia

apresentado no segmento escolar anterior, ao menos em algumas das

disciplinas.

       Dos relatos dos professores, a preocupação que é comum a todos está

relacionada à elaboração de provas diferenciadas, com enunciados curtos e

comandos mais simples, mas pouca homogeneidade há na forma como se

desenvolve a aprendizagem. Muitas das estratégias traçadas pelos professores

são baseadas em tentativa e erro, isto é, muitas práticas não têm fundamento

teórico, mas são adotadas quando há um avanço nos resultados.

       Uma prática que tem funcionado é o uso de um ábaco nas aulas de

matemática. A aluna tinha dificuldades em realizar multiplicações e divisões e

apresentou grandes avanços usando esse instrumentos durante as aulas e

avaliações. Um fato curioso é que a ideia surgiu de um professor que estava

trabalhando nos plantões de matemática e que, assim como a aluna, tem

dislexia. Portanto, esse professor tinha um grande conhecimento do distúrbio e

pode auxiliá-la de forma efetiva.

       Alguns professores relataram que o uso de enunciados simples e

diretos, assim como a exposição do tema trabalhado em tópicos no quadro



                                                                           47
contribuem para o entendimento da aluna. Outros relatam a tentativa de

explorar outras habilidades como a oralidade e a interpretação de imagens.

      As formas de avaliar a aluna também são vistas com um olhar

diferenciado. A professora de matemática afirmou que é preparada uma

avaliação diferenciada, porém, com mesmo conteúdo das avaliações outros

alunos. Essa avaliação é apresentada com uma linguagem mais direta, com

uma prevalência de exercícios técnicos. Por outro lado, a professora de

redação menciona que a aluna também é avaliada de forma oral e com

atividades com ilustrações baseadas nas produções textuais.

      Além da falta de uma formação sobre o tema, os professores têm

dificuldades ao lidar com o distúrbio em sala de aula pelo fato de terem que

trabalhar com o coletivo ao mesmo tempo que devem oferecer uma atenção

individualizada para a aluna. Segundo a professora de língua portuguesa, “o

trabalho, por ser complexo é dificultoso, principalmente porque o professor dá

aula no coletivo e o olhar individual demanda tempo e espaço para auxiliar e

não estigmatizar.”



6.4 O EMPENHO DE PAIS, PROFESSORES E EQUIPE PEDAGÓGICA



      Como vimos, a partir do relato das práticas pedagógicas, parte dos

professores revela um grande empenho para promover a inclusão e a efetiva

formação da aluna. Apesar disso, segundo a coordenadora do colégio, alguns

docentes, talvez pela falta de uma formação específica, não dão a devida

atenção ao caso. O fato dos professores especialistas conviverem com a aluna



                                                                             48
durante poucos momentos na semana é um fator que prejudica o olhar

individualizado sobre a aluna.

      Por isso, e como percebemos ao longo desse trabalho, a participação da

família na formação da aluna assume um papel fundamental, devido ao tempo

de convivência. De acordo com os relatos, os pais da aluna estudada

revelavam uma grande preocupação e se preocupavam por conhecer a

dificuldade da aluna. Porém, a partir do momento do diagnóstico, houve certa

negligência   desses     pais,   que       deveriam   encaminhá-la   para   um

acompanhamento psicopedagógico, e não o fizeram. Segundo a coordenadora,

para eles, a descoberta do problema era o mais importante, sendo o

desenvolvimento da aluna relegado a um segundo plano.

      A mãe, no entanto, na entrevista concedida, mostrou conhecimento dos

obstáculos que a criança encontrará em seu percurso acadêmico. Segundo a

mãe, o fato de trabalhar em período integral deixa a ela pouco tempo para que

possa se dedicar mais às necessidades da criança e, também, por conta de

sua própria formação acadêmica (estudou até o final do fundamental II) não

dispõe de recursos suficientes para intervir em sua formação, agora que os

conteúdos escolares passam a ser mais específicos, e sabe que daqui para

frente esta situação tende a se agravar.

      Questionada a respeito dos motivos da criança não ser acompanhada

por um psicopedagogo, a mãe apresentou como argumentos dificuldades de

natureza financeira e, também, dificuldades de locomoção, pois como trabalha,

não conseguiria acompanhá-la nesta atividade e, por conta da idade da

criança, não seria conveniente deixá-la sozinha.



                                                                            49
A mãe mostrou-se bastante satisfeita com o empenho de toda a equipe

pedagógica no atendimento das necessidades da filha, e disse acreditar que,

apesar das dificuldades que menina enfrentará, ela poderá encontrar o apoio

que precisa na instituição em que está. Não se sentiria confortável em mudar a

criança de escola, pois entende que em outro lugar, o desconhecimento das

dificuldades apresentadas poderia trazer muitos prejuízos acadêmicos,

inclusive a retenção na série.

      Ficou evidente, no entanto, que a mãe, a partir do momento em que teve

o diagnóstico da ABD, reduziu muito as expectativas em relação ao futuro

acadêmico da filha. Em muitas situações da entrevista, a mãe reforçou a

importância das provas diferentes que eram elaboradas pelos professores,

“mais fáceis para ela fazer”, e também o fato de alguns professores “darem

trabalhos para ajudar na nota”. Sobre as atividades que eram desenvolvidas

em sala de aula, e que favoreciam a aprendizagem da aluna, como, por

exemplo, a utilização do ábaco nas aulas de matemática ou a exploração de

imagens para o desenvolvimento e fixação de determinados conteúdos, a mãe

demonstrou pouco conhecimento ou informação, e ressaltou a confiança na

equipe pedagógica.

      Quando questionada sobre o fato de a aluna, em determinado momento

de sua trajetória acadêmica, ter que passar por processos de avaliação

externa, como o vestibular, para o ingresso no ensino superior, a mãe disse

que achava que “ela não chegaria lá”, porque na faculdade ninguém ia se

“preocupar com os problemas dela”.

      Essa redução das expectativas em relação ao futuro acadêmico, e o

conformismo com o fato de que o laudo da ABD garantirá à aluna provas
                                                                           50
diferenciadas e promoção automática na escola em que está, é responsável

pela visão que a coordenação tem em sobre as atitudes “negligentes” da

família em relação à aprendizagem da criança.




                                                                      51
CONCLUSÃO

        A interseção entre saúde e escola pode ser analisada sob diferentes

perspectivas, em virtude da diversidade de atores presentes no contexto

escolar e, também, em função do recorte espaço-temporal escolhido para

análise.

        Nas últimas décadas, a Educação tem conquistado relevo no discurso

de políticos, economistas e outros profissionais e estudiosos, que a veem como

instrumento indispensável para a promoção do desenvolvimento econômico e

social e para a constituição de um projeto nacional.

        Paralelamente a este aumento da importância da educação, e

consequentemente da responsabilidade dos professores, ocorreu um processo

de desvalorização, especialmente econômica, do magistério. Segundo a

economista Fabiana de Felicio1, o salário médio de um professor da Educação

Básica é 40% menor que a média salarial de um profissional com o mesmo

nível de escolaridade.

        Com mais responsabilidades e com remuneração insuficiente, os

professores se desdobram em jornadas desgastantes e, sem tempo para

formação adequada, elaboração de planejamentos, preparação de aulas, e

para o atendimento satisfatório das demandas dos alunos, o processo de

adoecimento é inevitável. Problemas físicos mais comuns, relacionados a voz e


1
 Pesquisa realizada com base nos microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD).
As informações referentes ao estudo foram divulgadas no portal UOL (http://educacao.uol.com.br
/ultnot/2010/12/15/professor-ganha-40-menos-que-media-do-trabalhador-brasileiro-com-mesma-
escolaridade.jhtm) , acessado em 15/12/2010, às 14h20min.

                                                                                                52
a postura somam-se a outros de natureza psiquiátricas que têm promovido

uma enorme ampliação das licenças médicas, readaptações e aposentadorias

precoces.

        Se há, no entanto, um campo enorme para a pesquisa nesta interseção

entre saúde e escola, tomando como referência apenas a saúde do professor,

há também um outro campo que não pode ser negligenciado, que envolve os

transtornos e distúrbios de aprendizagem, muitos de origem neurológicas, que

acometem os alunos.

        Em pesquisa realizada no módulo anterior2, já havíamos feito um

levantamento a respeito da percepção dos docentes em relação aos problemas

neurológicos existentes em suas escolas, e constatamos que dentre os

problemas de saúde mais recorrentes estavam a Dislexia, o Transtorno de

Déficit de Atenção e Hiperatividade, Epilepsia, problemas auditivos, problemas

visuais, enxaqueca e depressão infantil e juvenil. Como o foco do trabalho

eram as doenças neurológicas, ficaram de fora da investigação um conjunto

bastante substancial de outros problemas de saúde recorrentes nos alunos

como, por exemplo, a obesidade infantil, a anorexia, a bulimia e outros

transtornos alimentares, para ficarmos apenas naqueles que vão afetar de

forma mais significativa a aprendizagem e/ou a autoestima dos alunos.

        De todos os problemas apontados no trabalho anterior, escolhemos para

uma investigação mais pormenorizada nesta pesquisa a Dislexia e partimos

para a investigação de como as diferentes práticas pedagógicas dos

2
 A Percepção dos Profissionais da Educação em Relação aos Problemas Neurológicos, apresentada
como trabalho de conclusão da disciplina Projetos, do módulo Interdisciplinaridade, Transversalidade e
Projetos, do Curso de Pós Graduação em Ética, Valores e Saúde na Escola, EACH-USP.

                                                                                                    53
professores impactam, de forma positiva ou negativamente, a aprendizagem

dos alunos, com o propósito de comprovar a hipótese de que quanto mais bem

informado, preparado e envolvido estiver o professor, e quanto mais empatia

existir nas relações entre a família e a escola, maior será a possibilidade de

progresso acadêmico do estudante acometido por este distúrbio de

aprendizagem.

      A leitura da bibliografia disponível sobre o tema ofereceu aos integrantes

do grupo um conjunto de informações significativas sobre as características

específicas da dislexia, seu histórico, as causas do problema, os diversos tipos

de comprometimento, o papel que deve ser desempenhado pela família, pela

escola e por outros profissionais da saúde, a ação de organismos de apoio ao

disléxico, como a Associação Brasileira de Dislexia (ABD) e, também, sobre a

legislação específica relacionada ao atendimento a alunos com dificuldades

específicas de aprendizagem.

      O estudo de um caso de dislexia, em uma aluna de 6º ano de uma

escola da rede privada do município de Osasco ofereceu-nos a possibilidade

de investigar em que medida a ação de professores e familiares proporcionam

situações de progresso acadêmico à estudante em questão.

      Ficou evidente, pela análise dos dados, que a ação da professora

polivalente que atendia a criança nos anos anteriores, mesmo sem a presença

de um laudo, foi mais efetiva para a promoção das aprendizagens da aluna do

que a ação dos professores especialistas do 6º ano.

      Esta   diferença   deve   ser   entendida   e   analisada   sob   diversas

perspectivas: primeiramente, a professora polivalente dispunha de um tempo
                                                                             54
de trabalho com a aluna no mínimo 4 vezes maior do que o tempo dedicado

pela professora especialista que mais tempo atua na sala de aula no 6º ano (no

caso, a professora de Português); em segundo lugar, a professora polivalente

buscou as informações necessárias na literatura existente para poder orientar

sua prática pedagógica, ou seja, buscou a formação necessária para agir

adequadamente no sentido de promover a aprendizagem da criança.

      O conhecimento e o tempo de dedicação mostraram-se fundamentais

para que a criança pudesse evoluir. Os resultados mais satisfatórios nas

diferentes disciplinas do Fundamental II foram conseguidos em Matemática, já

que o professor da disciplina também é disléxico, e pode fazer uso de sua

própria experiência para ajudar no progresso da aluna.

      Notamos na pesquisa que, na maioria das vezes, a intervenção do

professor limita-se à etapa final do processo de ensino-aprendizagem, ou seja,

a avaliação, a partir da elaboração de provas diferenciadas, com menor carga

conceitual e enunciados mais curtos e objetivos. A adoção de estratégias

diferenciadas que visam a efetivação da aprendizagem fica relegada a um

segundo plano, em virtude das dificuldades enfrentadas pelos professores para

planejarem aulas com estratégias que contemplem a diversidade no grupo-

classe.

      PERRENOUD        (2000)   elenca    um    conjunto   de   competências

indispensáveis para o exercício da função docente no atual contexto e, dentre

estas competências, destacam-se aquelas que referem-se à organização e

direção das situações de aprendizagem, administração da progressão das

aprendizagens e a concepção e evolução dos dispositivos de diferenciação. É

                                                                           55
responsabilidade do professor, portanto, planejar atividades que promovam a

aprendizagem de todas as crianças sob sua responsabilidade.

      Aliada às expectativas em relação à educação que foram listadas no

início desta conclusão, e à baixa remuneração percebida pelos professores,

fica evidente a sensação de frustração que acomete parcela substancial dos

professores diante dos inúmeros fracassos.

      O caso analisado neste trabalho mostra que, apesar dos inúmeros

fatores que concorrem para dificultar a progressão das aprendizagens da

aluna, considerando-se inclusive a intervenção limitada da família, a criança

apresentou avanços que devem ser creditados ao trabalho desenvolvido pela

equipe de professores (alguns com maior crédito, outros com menor, mas

seguramente todos impactando de forma positiva a aprendizagem da criança).

      A interseção entre saúde e educação, apesar de poder ser analisada

sob diferentes perspectivas, como dito anteriormente, não pode ser totalmente

compreendida se não a considerarmos sob um enfoque globalizador e

complexo, pois a saúde do professor depende de condições adequadas de

trabalho, com remuneração digna e jornada adequada, que possibilite a ele

formação ideal para enfrentar os inúmeros desafios. Ao mesmo tempo, o

atendimento às necessidades específicas de aprendizagem de alunos com

distúrbios diversos, incluindo a DISLEXIA, não pode prescindir de um professor

preparado, bem remunerado e com tempo disponível para planejar atividades

que contemplem estas necessidades.




                                                                           56
Caso contrário, parafraseando Collares e Moysés3 o espaço escolar,

voltado para a aprendizagem, para a normalidade, para o saudável,

transforma-se em espaço clínico, voltado para os erros, distúrbios e doenças

profissionais.




3
 Collares, C.A.L e Moysés, M.A.A. A TRANSFORMAÇÃO DO ESPAÇO PEDAGÓGICO EM ESPAÇO CLÍNICO.
http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_23_p025-031_c.pdf, Acessado em 17/12/2010,
às19h20min;

                                                                                        57
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. PARÂMETROS

CURRICULARES           NACIONAIS:         INTRODUÇÃO.      Disponível     em

http://portal.mec.gov/seb. Acessado em 29/10/2010.


___________. Presidência da República. LEI DE DIRETRIZES E BASES DA

EDUCAÇÃO NACIONAL. Lei 9394/96. Brasília, 20/10/1996.


___________. Presidência da República. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO

ADOLESCENTE. Lei 8069/90/96. Brasília, 13/06/1990.


___________. Conselho Nacional da Educação. RESOLUÇÃO CNE/CEB Nº 2, DE

11 DE SETEMBRO DE 2001




CASTILHO, V. H. COMO INTERVIR NOS CASOS DE DISLEXIA ESCOLAR.

Disponível   em   http://www.psicopedagogia.com.br/new1_   artigo.asp?entrID=

1299. Acessado em 26/10/2010.


COLLARES, C.A.L e MOYSÉS, M.A.A. A TRANSFORMAÇÃO DO ESPAÇO

PEDAGÓGICO            EM       ESPAÇO          CLÍNICO.    Disponível    em

http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_23_p025-031_c.pdf,    Acessado

em 17/12/2010.


FARIA, L. N. DISLEXIA. Disponível em http://www.dislexiadeleitura. com.br/

artigos.php?codigo=38. Acesso em: 22 de outubro de 2010.




                                                                          58
FARRELL, M. DISLEXIA E OUTRAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGENS

ESPECÍFICAS – Estratégias Educacionais em Necessidades Especiais. (Maria

A.B. Veronese, Trad). Porto Alegre: ARTMED, 2008.

FIGUEIRAL,     A.S.    EXISTE    UMA     ESCOLA      IDEAL?       Disponível   em

http://www.dislexia.org.br/material/estudantes/estudantes.html.   Acessado em

12/11/2010.

FRANK, R. e LIVINGSTON, K.E. COMO APOIAR UM FILHO DISLÉXICO.

(Raquel Moura, Trad.) PORTO: Editorial Estampa, 2004.

FREITAS,      T.M.C.   TRATAMENTO        PSICOPEDAGÓGICO            DO    JOVEM

DISLÉXICO. Disponível em http: www.dislexia.org.br>. Acesso em 22 de

outubro de 2010.

GAZZANIGA, M, IVRY, R.B. e MANGUN, G.R. NEUROCIÊNCIA COGNITIVA –

A biologia da Mente. (2ª ed.). Porto Alegre: ARTMED, 2006

GIL, A.C. ESTUDO DE CASO. São Paulo: Editora Atlas, 2009.

GOMES, A. D. dos S. et al. CONTRIBUIÇÕES PARA UMA MELHOR

IDENTIFICAÇÃO DA DISLEXIA NO AMBIENTE ESCOLAR. Revista da

Associação Brasileira de Psicopedagogia, São Paulo, 2009. Disponível em:

<http://www.abpp.com.br/artigos/106.htm>. Acesso em: 25 de novembro de

2010.

GONÇALVES.A.M.. A criança disléxica e a clínica psicopedagógica.

Disponível em http: < www.dislexia.org.br>. Acesso em: 08 de novembro de

2010.

LENT, R. CEM BILHÕES DE NEURÔNIOS? Conceitos Fundamentais de

Neurociências. (2ª ed.) São Paulo: Editora Atheneu, 2010.



                                                                               59
LOPES,    C.K.L.;   OLIVEIRA,   C.I.O.   A   DISLEXIA   NA    ÓTICA    DO

PSICOPEDAGOGO. Disponível em http:< www.portaldaeducacao.com.br>.

Acesso em: 15 de novembro de 2010.



MARTINS, V. EDUCAÇÃO ESPECIAL, DISLEXIA E GAFES LINGUÍSTICAS.

Disponível em http: < www.educacaoonline.pro.br>. Acesso em: 25 de

novembro de 2010.

MOOJEN, S. FRANÇA, M. P. . DISLEXIA: VISÃO FONOAUDIOLÓGICA E

PSICOPEDAGÓGICA. In: Rotta; Ohweiller; Riesgo. (Org.). Transtornos da

Aprendizagem. 1ª ed. Porto Alegre: ARTMED, 2006



SÃO PAULO. Conselho Estadual da Educação do Estado de São Paulo

DELIBERAÇÃO CEE Nº 11/96 - São Paulo – 27/12/99

___________. Conselho Estadual da Educação do Estado de São Paulo

DELIBERAÇÃO CEE Nº 11/96 - São Paulo, 27/12/99

___________. Conselho Estadual da Educação do Estado de São Paulo

INDICAÇÃO CEE Nº 5/98, São Paulo, 15/04/98.

___________. Conselho Estadual da Educação do Estado de São Paulo

PARECER CEE Nº 451/98 São Paulo, 30/7/98


SHAYWITZ, S. ENTENDENDO A DISLEXIA: Um novo e completo programa

para todos os níveis de dificuldades de leitura (V. Figueira, trad.). Porto

Alegre: ARTMED, 2006.




                                                                         60
SNOWLING, M, STACKHOUSE et. al. DISLEXIA, FALA E LINGUAGEM – Um

manual do profissional. (Magda F. Lopes, trad.) Porto Alegre: ARTMED,

2004.




                                                                   61
ANEXOS




         62
63
64
65
66
67
68
69
70
71
LEGISLAÇÃO



LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL - LDB 9394/96



Art. 12 - Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as

do seu sistema de ensino, terão a incumbência de:



I - elaborar e executar sua Proposta Pedagógica.



V - prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento.



Art. 23 - A educação básica poderá organizar-se em séries anuais, períodos

semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não

seriados, com base na idade, na competência e em outros critérios, ou por

forma diversa de organização, sempre que o interesse do processo de

aprendizagem assim o recomendar.



Art. 24 - V, a) avaliação contínua e cumulativa; prevalência dos aspectos

qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período.

Podemos perceber nos textos legais destacados acima, a exigência de

flexibilidade e adaptação em relação às ações pedagógicas das unidades de

ensino, sempre priorizando a aprendizagem de todos os alunos, respeitadas as

diferenças individuais.




                                                                            72
LEI Nº 8.069, DE 13 DE JULHO DE 1990 (ESTATUTO DA CRIANÇA E DO

ADOLESCENTE).



Art. 53, incisos I, II e III



“a criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno

desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e

qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:

I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II – direito de ser respeitado pelos seus educadores;

III – direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias

escolares superiores”.



        O Estatuto da Criança e do Adolescente reforça de maneira ampla, a

necessidade de a educação pautar-se na formação integral do indivíduo,

garantindo seu direito de exercer a cidadania visando contribuir para a

igualdade social.



DELIBERAÇÃO CEE Nº 11/96 - LEGISLAÇÃO ESTADUAL (SÃO PAULO)



        Artigo 1º - “o resultado final da avaliação feita pela Escola, de acordo

com seu regimento, deve refletir o desempenho global do aluno durante o

período letivo, no conjunto dos componentes curriculares cursados, com

preponderância dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos

resultados obtidos durante o período letivo sobre os da prova final, caso esta
                                                                             73
seja exigida, considerando as características individuais do aluno e indicando

sua possibilidade de prosseguimento nos estudos”.



      A deliberação CEE nº 11 de 1996, preocupa-se em orientar os

processos avaliativos, a fim de garantir que esses correspondam às

expectativas do alunado e compreenda todo o seu desempenho de forma a

valorizar sua evolução e considerar suas dificuldades para oferecer todas as

possibilidades de superação.



INDICAÇÃO CEE Nº 5/98, DE 15/4/98. - D.O.E. EM 23/9/98.



      “(...) educação escolar consiste na formação integral e funcional dos

educandos, ou seja, na aquisição de capacidades de todo tipo: cognitivas,

motoras, afetivas, de autonomia, de equilíbrio pessoal, de inter-relação pessoal

e de inserção social.



      (...) os conteúdos escolares não podem se limitar aos conceitos e sim

devem incluir procedimentos, habilidades, estratégias, valores, normas e

atitudes. E tudo deve ser assimilado de tal maneira que possa ser utilizado

para resolver problemas nos vários contextos.



      (...) os alunos não aprendem da mesma maneira e nem no mesmo ritmo.

O que eles podem aprender em uma determinada fase depende de seu nível

de amadurecimento, de seus conhecimentos anteriores, de seu tipo de

inteligência, mais verbal, mais lógica ou mais espacial. No cotidiano da sala de
                                                                             74
aula, convivem pelo menos três tipos de alunos que têm “aproveitamento

insuficiente”: os imaturos, que precisam de mais tempo para aprender; os que

têm dificuldade específica em uma área do conhecimento; e os que, por razões

diversas, não se aplicam, não estudam, embora tenham condições.



      (...) recuperar significa voltar, tentar de novo, adquirir o que perdeu, e

não pode ser entendido como um processo unilateral. Se o aluno não

aprendeu, o ensino não produziu seus efeitos, não havendo aqui qualquer

utilidade em atribuir-se culpa ou responsabilidade a uma das partes envolvidas.

Para recobrar algo perdido, é preciso sair à sua procura e o quanto antes

melhor: inventar estratégias de busca, refletir sobre as causas, sobre o

momento ou circunstâncias em que se deu a perda, pedir ajuda, usar uma

lanterna para iluminar melhor. Se a busca se restringir a dar voltas no mesmo

lugar, provavelmente não será bem sucedida.



      (...) O compromisso da Escola não é somente com o ensino, mas

principalmente com a aprendizagem. O trabalho só termina quando todos os

recursos forem usados para que todos os alunos aprendam. A recuperação

deve ser entendida como uma das partes de todo o processo ensino-

aprendizagem de uma escola que respeite a diversidade de características e

de necessidades de todos os alunos.



      (...) Dentro de um projeto pedagógico consistente, a recuperação deve

ser organizada para atender aos problemas específicos de aprendizagem que

alguns alunos apresentam, e isso não ocorre em igual quantidade em todas as
                                                                             75
matérias nem em épocas pré-determinadas no ano letivo. A recuperação da

aprendizagem precisa: - ser imediata, assim que for constatada a perda, e

contínua; ser dirigida às dificuldades específicas do aluno; abranger não só os

conceitos, mas também as habilidades, procedimentos e atitudes.



      (...) A recuperação paralela deve ser preferencialmente feita pelo próprio

professor que viveu com o aluno aquele momento único de construção do

conhecimento. Se bem planejada e baseada no conhecimento da dificuldade

do aluno, é um recurso útil.”



PARECER CEE Nº 451/98 - 30/7/98 - D.O.E. DE 01/08/98, PÁGINAS 18 E 19

SEÇÃO I.



      “A expressão ‘... rendimento escolar...’, que se encontra no inciso V do

artigo 24 da Lei 9.394/96, se refere exclusivamente à aprendizagem cognitiva?

Resposta: Não. A legislação sobre avaliação/ verificação do rendimento

escolar, sobretudo o referido artigo, não restringe a expressão rendimento

escolar exclusivamente à aprendizagem cognitiva.



      A lei 9.394/96, ao tratar da educação básica, situou-a no quadro de

abertura que permitiu, aos que dela fossem cuidar, em seus diferentes níveis e

modalidades, a pensasse como um todo e a explicitasse, nos limites do seu

texto, em sua proposta pedagógica e em seu regimento. Na elaboração dessa

proposta e desse regimento, consubstanciado certamente numa visão de

homem, de sociedade e, por conseqüência, numa concepção de educação e
                                                                             76
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  • 1. UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (ESCOLA DE ARTES, CIÊNCIAS E HUMANIDADES) CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ÉTICA, VALORES E SAÚDE NA ESCOLA DISLEXIA EM SALA DE AULA Aprendendo a lidar com as diferenças EDUARDO DE OLIVEIRA ELIANA MARIA DE LIMA EURÍDICE RIBEIRO BERTOLINO FERNANDA BARBOSA DE MORAIS HILDEBRANDO J. BALIEIRO RAMOS PATRICIA MACIEIRA MORILHA ROBSON EDUARDO TOMAZ SÃO PAULO DEZEMBRO/2010 1
  • 2. EDUARDO DE OLIVEIRA ELIANA MARIA DE LIMA EURÍDICE RIBEIRO BERTOLINO FERNANDA BARBOSA DE MORAIS HILDEBRANDO J. BALIEIRO RAMOS PATRICIA MACIEIRA MORILHA ROBSON EDUARDO TOMAZ DISLEXIA EM SALA DE AULA Aprendendo a lidar com as diferenças Relatório apresentado como parte integrante da avaliação da disciplina “Trabalho com Projetos”, do Curso de Especialização Ética, Valores e Saúde na Escola”, sob a coordenação geral do Prof. Dr. Ulisses Araujo e Prof. Dr. Li Li Min, e sob a orientação da Prof. Dra. Juliana Rodrigues. SÃO PAULO 2010 2
  • 3. AGRADECIMENTOS A todos(as) os(as) colegas de turma que conosco dividem as manhãs de sábado nesta prazerosa tarefa de aprender. Às professoras Juliana e Kenia, pela orientação e apoio na realização deste trabalho. Aos professores e professoras que dedicaram parte de seu tempo para contribuir na investigação do caso em questão. À nossa aluna e à sua família. Razão da existência deste trabalho 3
  • 4. Sou o que quero ser, porque possuo apenas uma vida e nela só tenho uma chance de fazer o que quero. Tenho felicidade bastante para fazê-la doce, dificuldades para fazê-la forte, tristeza para fazê-la humana e esperança suficiente para fazê-la feliz. As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas, elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos. Clarisse Lispector 4
  • 5. PROBLEMA Que estratégias didáticas são utilizadas pelos professores para a promoção da aprendizagem em alunos com dislexia? OBJETIVO: Investigar as diferentes práticas pedagógicas dos profissionais da educação e analisar o impacto na evolução da aprendizagem em alunos com dislexia. HIPÓTESE: A hipótese que se pretende comprovar através desta pesquisa é a de que o conhecimento a respeito das limitações impostas pela dislexia, bem como sobre as potencialidades dos alunos portadores deste distúrbio, por parte dos profissionais da educação e das famílias, resultam em estratégias didáticas eficientes, fundamentais para que se efetive o aprendizado e se reduza o estigma e a exclusão. 5
  • 6. RESUMO O Presente relatório expõe as conclusões obtidas a partir da análise dos dados levantados com o estudo de caso de um indivíduo disléxico, aluna de 6º ano de uma escola da rede privada do município de Osasco. A partir de uma análise da bibliografia existente, apresenta o conceito de dislexia e suas cosequências no processo de aprendizagem e, também, de estigmatização dos estudantes portadores do distúrbio, bem como o papel desempenhado pelos pais e professores na superação/perpetuação das dificuldades oriundas. Aponta, também, algumas possibilidades de intervenção positiva no desenvolvimento cognitivo das crianças portadoras de dislexia, consagradas pela bibliografia existente e pela experiência de educadores e de instituições de apoio, mais especificamente o trabalho desenvolvido pela Associação Brasileira de Dislexia. 6
  • 7. METODOLOGIA Tendo como finalidade investigar as estratégias didáticas para promover a aprendizagem em crianças com dislexia, neste presente trabalho optamos por adotar como modalidade de delineamente de pesquisa o estudo de caso. De acordo com a bibliografia existente sobre Metodologia da Pesquisa Científica, a definição de Estudo de Caso aponta para a necessidade de uma análise de uma unidade individual, que pode ser uma pessoa, uma instituição ou comunidade, com o propósito de obter informações relevantes e com profundidade, através de múltiplos instrumentos de coleta de dados (GIL, 2009). Apesar de não ser o procedimento metodológico mais adequada para se realizar generalizações e de apresentar um processo de análise complexo, inúmeros estudos de caso têm se mostrado eficientes na construção e validação de novas hipóteses, além de possibilitarem o aprimoramento, a construção e rejeição de novas teorias. No campo da educação, o estudo de caso pode ser valioso, portanto, para se testar a eficiência de determinadas práticas pedagógicas em grupos ou instituições particulares, ou mesmo o impacto que estas práticas podem ter no aprendizado de um indivíduo específico, em função de suas características peculiares. Evidentemente, para que se obtenha a validade desejada, há a necessidade de se fazer uso, no decorrer da pesquisa, de múltiplos instrumentos e procedimentos de coleta e análise dos dados, com o propósito 7
  • 8. de contrastar as informações obtidas a respeito do caso em estudo em diferentes fontes. Inicialmente, em virtude do problema levantado nesta pesquisa e dos objetivos almejados, pensou-se no estudo de uma instituição de ensino específica, mas uma primeira análise da bibliografia existente relacionada à dificuldade de aprendizagem que se pretende investigar (a dislexia) convenceu- nos da necessidade de analisar a questão sob a perspectiva daquele que sofre a dificuldade e para o qual inúmeros esforços (da instituição de ensino e seus agentes, especialmente os professores e demais membros da equipe pedagógica, dos pais e do Estado, através da adoção de políticas de inclusão e da criação de legislações específicas) são despendidos para que a aprendizagem aconteça de forma efetiva e significativa. Após uma análise superficial dos casos de alunos com dislexia em algumas instituições de ensino públicas e privadas nas quais os membros da equipe desenvolvem suas atividades profissionais, optou-se pelo estudo de caso de uma aluna de 6o ano de uma instituição privada de Ensino do Município de Osasco. Definido o caso particular, procedeu-se a uma análise criteriosa da bibliografia existente a respeito da dislexia, com o propósito de buscar uma definição abrangente da dificuldade específica de aprendizagem em questão, além de mapear as diferentes visões existentes sobre o tema, que interferem em maior ou menor grau no desenvolvimento do trabalho daqueles que diretamente influenciam a aprendizagem dos alunos, especialmente os professores, profissionais da equipe psicopedagógica, pais, legisladores e 8
  • 9. gestores educacionais. A partir da análise desta bibliografia, construiu-se um roteiro simples de entrevistas que foram realizadas com os professores, com a própria aluna e, também, com os pais. De posse desses dados, foi possível identificar em que medida as informações sobre os avanços da ciência a respeito da dislexia, obtidas através da pesquisa bibliográfica foram assimilidados pelos difererentes atores, especialmente pais e professores, e em que medida esta assimilação traduziu-se em ações efetivas que pudessem garantir (ou não), uma melhoria da aprendizagem do aluno. Evidentemente, para se determinar a intensidade dos progressos na aprendizagem, foi necessário uma investigação com base nas atividades desenvolvidas pela aluna ao longo do ano letivo de 2010. Cabe ressaltar que o ano em questão corresponde ao primeiro ano em que a aluna tomou contato com diferentes professores especialistas, o que produziu impacto significativo em seus estudos, já que a exigência conceitual e de organização aumentaram na razão inversa em que passou a dispor do tempo e atenção dos professores, visto que enquanto cursava o Fundamental I, tinha à disposição uma professora polivalente por um período de tempo relativamente prolongado ao longo da semana, o que possibilitava uma maior atenção às suas necessidades. Muitas das etapas definidas previamente na metodologia tiveram que ser revistas e outras precisaram ser incorporadas, na medida em que as informações que eram obtidas passavam a exigir novos procedimentos de análise e investigação, demonstrando que, justamente por se tratar de um 9
  • 10. estudo de caso particular, exigiu de nossa parte um estudo em profundidade e sistemático. 10
  • 11. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ...................................................................................... 12 1. O QUE É DISLEXIA .......................................................................... 14 1.1 Histórico............................................................................................. 15 1.2 Sintomas e Diagnóstico .................................................................... 20 2. O OLHAR PSICOPEDAGÓGICO SOBRE A DISLEXIA ...................... 23 3. METODOLOGIAS DE ENSINO.............................................................. 27 4. LEGISLAÇÃO SOBRE A DISLEXIA E OUTRAS DIFICULDADES .... 31 5. O OLHAR DA FAMÍLIA ........................................................................ 35 6. ANÁLISE DE CASO ............................................................................ 42 6.1 A formação e a experiência docente ............................................... 44 6.2 O que sabem sobre dislexia ............................................................. 44 6.3 As práticas pedagógicas utilizadas .................................................. 45 6.4 O empenho de pais, professores e equipe pedagógica ................... 48 7. CONCLUSÃO .................................................................................... 52 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................. 57 9. ANEXOS............................................................................................ 62 11
  • 12. INTRODUÇÃO O objetivo desse estudo é contribuir para investigar as diferentes práticas pedagógicas dos profissionais da educação e analisar o impacto na evolução da aprendizagem em alunos com dislexia. Portanto, a questão que norteará nosso trabalho é que estratégias didáticas são utilizadas pelos professores para a promoção da aprendizagem em alunos com dislexia? Tal interesse do grupo decorreu da pesquisa realizada no módulo anterior no curso de Pós Graduação “Ética, Valores e Saúde na Escola”, cujo tema foi a percepção dos profissionais de educação em relação aos problemas neurológicos nas instituições de ensino, ocasião em que pudemos apontar a dislexia como uma das dificuldades mais comuns nesse estudo realizado. No atual módulo a pesquisa está voltada para o tema educação e saúde, portanto, estendemos nossa investigação realizando um estudo mais aprofundado sobre a dislexia, por meio de um estudo de caso e pesquisa bibliográfica sobre o assunto. Nossa preocupação foi realizar uma pesquisa que pudesse trazer à tona uma discussão a respeito desse tema sob vários ângulos: o conceito da dislexia e seu histórico na visão de alguns autores, o olhar da psicopedagogia; o que a legislação oferece enquanto subsídio e amparo para as pessoas que têm dislexia; o papel da família, além de apresentar enquanto estudo algumas metodologias utilizadas para promover a aprendizagem na escola com os alunos com dislexia e, finalmente, apresentar a análise do estudo de caso, que foi realizado por meio de relatos de práticas para verificar a validade da hipótese levantada pelo grupo. 12
  • 13. O que se pretende comprovar através desta pesquisa é a de que o conhecimento a respeito das limitações impostas pela dislexia, bem como sobre as potencialidades dos alunos portadores deste distúrbio, por parte dos profissionais da educação e das famílias, resultam em estratégas didáticas eficientes, fundamentais para que se efetive o aprendizado e se reduza o estigma e a exclusão. 13
  • 14. 1. O QUE É DISLEXIA A definição sobre o que venha a ser dislexia é ainda contraditória entre os profissionais de diversas áreas. O consenso aparece quando afirmam que é um distúrbio na aprendizagem da leitura, e está relacionado à visão (não especificamente com as dificuldades para “enxergar” objetos ou textos, mas com as dificuldades encontradas pelo cérebro para processar as informações de caráter visual). . Muitos autores citam que este distúrbio de ordem neurológica acomete pessoas de todas as idades, com inteligência dentro dos padrões da normalidade, isenta de deficiências sensoriais e emocionais, além de terem oportunidades educacionais adequadas. Para compreendermos melhor a dislexia temos que diferenciar os dois tipos existentes, a dislexia de desenvolvimento e a dislexia adquirida. A dislexia do desenvolvimento também chamada de primária ou específica é aquela na qual a inabilidade na aquisição completa da competência de leitura é de origem constitucional. Já a dislexia adquirida ou sintomática ocorre quando as habilidades de leitura já desenvolvidas são perdidas devido a uma lesão cerebral (Spreen, Risser e Edgel, 1995; Pinheiro, 1995, Salles, Parente e Machado 2004). Segundo MORAIS (1996), podemos subdividir a dislexia em: . periférica – em que a lesão acomete o sistema visual, que dificulta a percepção das letras; . central – em que, além de afetar o sistema visual, há também alteração na rota fonológica ou lexical. 14
  • 15. Na dislexia fonológica frequentemente ocorrem problemas no conversor grafema-fomena e/ou em vincular os sons parciais em uma palavra completa (França e Moojen, 2006). A rota lexical nestes casos apresenta aceitável funcionamento. As dificuldades encontram-se na leitura de palavras de baixa incidência, sílabas desconexas e pseudopalavras. As palavras familiares são lidas com razoável desempenho. Quando a dislexia é lexical, a rota fonológica está relativamente preservada, e a dificuldade encontrada pela pessoa é na leitura de palavras irregulares, com leitura lenta, vacilante e silabada. O quadro mais grave é na dislexia mista, onde a via fonológica e lexical estão comprometidas. De traço hereditário, a dislexia acomete parcela significativa da população, e é o distúrbio de aprendizagem que possui a maior incidência na sala de aula. 1.1 HISTÓRICO A dislexia está longe de ser considerado um problema neurológico contemporâneo. Os primeiros registros de diagnósticos advêm de adultos que sofreram alguma espécie de dano cerebral há séculos. Em 1676, talvez o mais antigo dos relatos, um médico alemão, Dr. Johann Schmidt, publicou suas observações sobre Nicholas Cambier, um homem de 65 anos que havia perdido a capacidade de ler, depois de um derrame (SHAYWITZ, 2006). 15
  • 16. À medida que o conceito evoluía, apareciam casos na literatura médica que descreviam homens e mulheres que liam normalmente, mas que, depois de um derrame, tumor ou lesão traumática, perderam a capacidade de ler, condição chamada de alexia adquirida. Em 1872, o eminente neurologista britânico Sir William Broadbent relatou um caso de alexia adquirida. Quando seu paciente foi levado a um hospital de Londres, disse: “Vejo as palavras, mas não consigo entendê-las” (SHAYWITZ, 2006). Um médico alemão, Rudolf Berlin, de Stuttgart, deu um novo sentido para os problemas de leitura adquiridos. Em 1887 publicou sua monografia. O documento relatava os casos de seis indivíduos que ele observou por um período de vinte anos. Ele usa o termo dislexia para se referir ao que considera uma forma especial do que chamavam de “cegueira verbal” em adultos que perderam sua capacidade de ler depois de um determinado dano cerebral. Se a lesão fosse total, poderia apresentar como resultado uma incapacidade absoluta de leitura, a alexia adquirida. Se o problema fosse apenas parcial, poderia haver uma grande dificuldade em interpretar símbolos escritos ou impressos, sintomas inerentes a dislexia. Berlin conceitualiza a dislexia como um membro de uma família chamada afasia, a qual reúne a perda da palavra falada, escrita, mímica ou táctil, consequências de lesão cerebral (SHAYWITZ, 2006). Na edição de 21 de dezembro de 1895 do prestigiado periódico médico The Lancet, podemos ler um relato do oftalmologista de Glasgow, Dr. James Hinshelwood, sobre o caso de um senhor de 58 anos, professor de francês e de alemão, então, portador de alexia adquirida. Em uma determinada manhã 16
  • 17. ele descobriu que não conseguia ler o exercício de francês que um aluno lhe dera para corrigir, no entanto, não tinha a menor dificuldade com números (SHAYWITZ, 2006). Ainda ao final do século XIX, médicos da localidade rural de Seaford, Inglaterra, e da parte central da Escócia tinham conhecimento de crianças da sociedade vitoriana que eram brilhantes e motivadas, vinham de famílias escolarizadas e conscientes, eram educadas por professores interessados e, apesar de tudo, apresentavam uma grande dificuldade na apropriação da capacidade leitora. Tal diagnóstico causava certa estranheza para os médicos na época. No entanto, ao observar o relato, é possível inferir que se tratava de prováveis casos da referida disfunção cerebral (SHAYWITZ, 2006). Em 1896, W. Pringle Morgan, um médico também de Seaford, publicou no British Medical Journal uma descrição de um distúrbio específico de aprendizagem. O artigo registrou o caso de um menino de 14 anos de idade que não conseguia aprender a ler, no entanto, apresentava certa facilidade em relação à leitura dos números e à resolução de exercícios de aritmética. O garoto também era perfeitamente capaz de realizar atividades comuns a crianças de sua idade. Morgan captou, em seu paciente, os elementos básicos do que chamamos hoje de dislexia do desenvolvimento. Um problema neurológico pouco difundido naquele momento. Morgan foi a primeira pessoa a considerar a dislexia (para ele “cegueira verbal”) como uma disfunção de desenvolvimento que ocorre em crianças sem qualquer anormalidade aparente (SHAYWITZ, 2006). 17
  • 18. Foi o relato de alexia adquirida de Hinshelwood que motivou a publicação do artigo do Dr. W. Pringle Morgan, o qual descrevia o problema de “cegueira verbal”. A diferença é que, no caso de Morgan, o distúrbio nasceu com a criança (origem congênita). Perder a capacidade de ler e nascer sem sequer ter adquirido tal capacidade eram problemas que se apresentavam de maneira singular naquele momento. Embora o relato de Hinshelwood se refira a um adulto que antes lia perfeitamente, as similaridades entre as dificuldades apresentadas pelo paciente de Morgan, que jamais havia aprendido a ler, e o paciente de Hinshelwood era impressionante. Ambos tinham os sintomas de “cegueira verbal” e não eram capazes de ler, mas podiam ler números e realizar cálculos mentalmente sem qualquer hesitação (SHAYWITZ, 2006). Historicamente, os casos da então chamada “cegueira verbal” adquirida em adultos eram percebidas antes dos casos congênitos. Um fato que não poderia ocorrer de forma diferente, visto que, quando uma pessoa adulta perde repentinamente a capacidade de ler, isso a afeta de maneira drástica. A “cegueira verbal”, quando adquirida após uma lesão cerebral, é muito comum em adultos. Tais lesões, sejam provenientes de um derrame ou de um tumor, afetam em geral o lado esquerdo do cérebro, onde podem prejudicar várias funções. Além de problemas de leitura, os pacientes atingidos podem experimentar fraqueza muscular do lado direito do corpo, dificuldade em pronunciar palavras ou problemas para nomear objetos (SHAYWITZ, 2006). Diferente da “cegueira verbal adquirida”, a “cegueira verbal congênita” é identificada nas crianças e reflete uma disfunção presente desde o nascimento. Nesse caso, a situação apresentada pela criança não ocorre de maneira 18
  • 19. drástica, os problemas são notados à medida que a criança se depara com dificuldades de leitura na escola. Um dos agravantes nesses casos é que as dificuldades apresentadas podem passar despercebidas por um longo período e, algumas vezes, nem ser notada. A forma congênita é muito mais circunscrita, afetando primeiramente a leitura, às vezes a linguagem falada, mas nunca a força muscular, como ocorre na forma adquirida (SHAYWITZ, 2006). Ao despertar seu interesse por casos de “cegueira verbal congênita” Hinshelwood, em 1900, detalhou os problemas de duas crianças que, embora parecessem perfeitamente capazes de desenvolver a competência leitora, não conseguiam aprender a ler. Por volta de 1912, o oftalmologista já havia relatado em artigos e monografias pelo menos 12 casos de “cegueira verbal congênita”. Suas pesquisas giravam em torno da dificuldade no desenvolvimento da leitura como algo isolado e circunscrito que, para ele, refletia uma disfunção cerebral “local”, e não generalizada (SHAYWITZ, 2006). Em artigo publicado na Revista da Associação Brasileira de Psicopedagogia, um grupo de pesquisadores sob a orientação da Professora Doutora Magda Ivonete Montagnini fez um relato sobre o neurologista Samuel T. Ortom que, em 1925, identificou, em uma criança, dificuldades apresentadas mais comumente em pessoas vítimas de traumatismo. O menino, por mais que tentasse, não desenvolvia a capacidade de ler. Orton estudou, então, as dificuldades no desenvolvimento da capacidade leitora. Ele concluiu que existia uma síndrome que nada tinha a ver com traumatismos neurológicos, mas que era responsável pela dificuldade no aprendizado da leitura. Ele deu, a esse 19
  • 20. problema, o nome de strephosymbolia (‘símbolos invertidos’) baseado em uma das característica da dislexia, a de inverter as letras, sílabas ou palavras (GOMES et al., 2009). Orton observou também que a dificuldade em ler, apresentada por seus pacientes, não tinha relação aparente com problemas da visão. Para ele, esse tipo de distúrbio tem relação direta com um defeito no reconhecimento de orientação das letras e de sua sequência nas palavras, pois a percepção visual das crianças disléxicas, com quem havia trabalhado, não apresentavam grandes problemas. Para ele, a escrita em espelho seria explicada por uma luta ou conflito entre os dois hemisférios cerebrais. A especialização dos hemisférios cerebrais de Orton foi alvo de novos estudos nas décadas 1980 e 1990, pesquisadores indicam que o lado esquerdo do planum temporale, região do cérebro que desempenha papel essencial na compreensão da linguagem, é maior do que a do direito em cerca de 66% dos cérebros normais; as pessoas disléxicas, contudo, apresentam simetria ou assimetria reversa (GOMES et al., 2009). 1.2 SINTOMAS E DIAGNÓSTICO Devido ao esforço despendido no processamento das informações visuais, a leitura torna-se mais lenta e segmentada, o que compromete a velocidade de cognição e a memorização, produzindo cansaço, inversões, trocas de palavras e perda de linhas no texto, desfocamento, sonolência, 20
  • 21. distúrbios visuais, dores de cabeça, irritabilidade, enjoo, distração e fotofobia, após um intervalo relativamente curto na leitura. Embora a causa da dislexia de leitura esteja relacionada às alterações neurobiológicas no processamento cerebral, problemas oculares contribuem significativamente para os sintomas da dislexia. Estima-se que 85% de todo o aprendizado dependa das informações recebidas através do sistema visual. A dislexia é um tipo de distúrbio de aprendizado que interfere na maneira como a pessoa percebe e processa letras, números e símbolos. Embora o diagnóstico de dislexia deva ser feito por um profissional, existem alguns sinais que pais e professores podem observar assim que a criança começa a aprender a ler e escrever. Os sinais mais comuns são letras e números percebidos e escritos de forma invertida ou de cabeça para baixo, dificuldades em aprender alguns fonemas, memorizar novas palavras, problemas com a coordenação motora e dificuldades de leitura. No Hospital de Olhos, há profissionais que realizam testes para diagnosticar corretamente o distúrbio. Frequentemente os pacientes apresentam dificuldade de leitura e escrita, principalmente com a ortografia, e muitas vezes poderá apresentar dificuldade motora e de seguir comandos seguidos. Nessas alturas, todos que atuam na educação devem pensar o que pode estar ocorrendo com os disléxicos em sala de aula. Os métodos de alfabetização em leitura levam em conta as diferenças individuais? Os métodos pedagógicos, com raras exceções, se propõem a ser eficientes em salas de 21
  • 22. crianças ditas normais, mas se tornam ineficientes em crianças especiais. Por isso, cabe aos docentes, em particular, e aos pais, por imperativo de acompanhamento de seus filhos, entender melhor sobre os métodos de estudos adotados nas instituições de ensino. Os métodos de alfabetização em leitura são determinantes para uma ação eficaz ou ineficaz no atendimento educacional especial aos disléxicos, disgráficos e disortográficos. A dislexia é uma dificuldade específica em leitura, e como tal, nada mais criterioso e necessário do que o entendimento claro do processo da leitura ou do entendimento da leitura em processo. Compreendendo estas diferenças no aprendizado, metodologias de ensino que prioriza a oralidade e o conhecimento que o aluno possui, contribui para uma formação educacional que auxiliará o avanço nas disciplinas. 22
  • 23. 2. UM OLHAR PSICOPEDAGÓGICO SOBRE A DISLEXIA Dentre inúmeras dificuldades de aprendizagem que são associadas ao insucesso na trajetória escolar, a dislexia tem seu espaço destacado, pois está relacionada à leitura e escrita, constituídas como pilares para o processo de alfabetização e seu sucesso escolar. A palavra dislexia é derivada de dis= distúrbio ou disfunção e lexia em grego quer dizer linguagem e em latim, leitura, assim, é considerada como um distúrbio de linguagem e/ou de leitura. Vale a pena ressaltar que na visão da psicopedagogia entende-se que a dislexia deve ser diagnosticada por uma equipe disciplinar e como parte integrante desse grupo, portanto, é de suma relevância compreender o estudo na concepção psicopedagógica, pela sua importância na parceria com a instituição escolar, assim como na avaliação diagnóstica e acompanhamento no caso de alunos com dislexia. Assim a psicopedagogia investiga, analisa, estuda o processo de aprendizagem e suas dificuldades, contribuindo para recuperar as habilidades cognitivas, emocionais, sociais das crianças na fase escolar, incluindo a dislexia. A criança com dislexia é considerada um mau leitor, e mais, se é capaz de ler, não consegue entender suficientemente o que lê. Assim considerada como uma disfunção genética que se caracteriza como uma falha no funcionamento do processamento da linguagem, ou seja, uma dificuldade de 23
  • 24. estabelecer associações entre os som e a grafia, por isso, acaba sendo identificado na fase de alfabetização. Segundo GONÇALVES (2006), as crianças com dislexia são nomeadas como: preguiçosas, desligadas e desorganizadas, fazendo marcas em sua vida, geralmente no atendimento psicopedagógico é muito comum a criança chegar com baixa auto-estima, devido algumas experiências de fracasso escolar na sua trajetória. A criança com dislexia além de apresentar dificuldade na aquisição da leitura e escrita, pode apresentar desatenção, dispersão, dificuldade na coordenação motora fina (desenho/pintura) e /ou grossa (dança, ginástica), letra ilegível, troca de letras, lentidão ao escrever e ler, isso pode desencadear problemas de conduta, como a depressão, timidez excessiva. É de importância o papel do professor enquanto observador ao se deparar com uma criança principalmente na educação infantil, pode-se perceber nas crianças de 4 a 5 anos de idade; os distúrbios de letras podem levar crianças de 8 a 9 anos, no ensino fundamental a ter perturbações de ordem emocional, afetiva e lingüística, segundo MARTINS ( 2002). É importante ressaltar que “a dislexia não é considerada doença, portanto, não se pode falar em cura, mas pode ser controlada com acompanhamento especializado. Em hipótese nenhuma a pessoa com dislexia tem comprometimento intelectual. É um distúrbio congênito e hereditário.” (CASTILHO). Segundo FREITAS a atuação do psicopedagogo é uma busca constante ladeada por diversos teóricos, visando maior capacitação e compreensão do cliente/paciente disléxico. Essa busca de técnicas e estratégias de trabalho visa o que mais fará sentido ao disléxico; “objetiva em suas 24
  • 25. sessões conhecer, entender e esclarecer o mecanismo manifesto junto dele, seja através de jogos, de vivências e de discussões de temas pertinentes, buscando e permitindo o conhecimento”. A abordagem de trabalho associa o estímulo e o desenvolvimento através de métodos multissensoriais, que partem da linguagem oral à estruturação do pensamento, da leitura espontânea à discussão temática, da elaboração crítica e gerativa das idéias à expressão escrita, incorporando o processo da aprendizagem. (2006, p.1) Para que o trabalho se efetive de forma mais eficiente, é vital não apenas compreender o porquê da não aprendizagem, mas o que aprender e como esse processo se desenvolve, assim como valorizar o conhecimento, o esforço do aprendente, para aumentar sua autoestima, trabalhando com procedimentos específicos e individualizados em cada atendimento. Assim como cometa LOPES: A responsabilidade e seriedade do trabalho psicopedagógico com clientes disléxicos, faz com que muitos alunos propensos ao fracasso escolar sejam resgatados, através de um plano de trabalho individualizado e comprometido com o sucesso em todos os âmbitos: escolar, emocional e social. (p.6) O olhar sobre a dislexia, a partir da visão da psicopedagogia, é peculiar, não interessando ao trabalho psicopedagógico a característica que as crianças com dislexia têm em comum, pois não se olha para a dislexia como um rótulo que se deve impor ao aprendente. O olhar e a escuta psicopedagógica é dirigida para a criança e sua história de trocas, dificuldades de leitura/escrita, no contexto de sua modalidade de aprendizagem. Assim LOPES traz a seguinte análise (...) a concepção de dislexia do psicopedagogo e seu plano de trabalho, percebe-se que a atuação desses profissionais é de suma importância tanto no diagnóstico quanto nas atividades facilitadoras da aprendizagem com disléxicos.(...) As diferentes estratégias utilizadas pelas psicopedagogas no plano de trabalho com clientes 25
  • 26. disléxico expressam em sua essência o que os pesquisadores vêm discutindo no campo da dislexia. Chegaram a um consenso sobre a importância de se proporcionar suporte ao disléxico para melhorar o seu desempenho escolar, com atividades focadas em leitura, escrita e fonética, desenvolvendo habilidades em uma reeducação multissensorial e trabalhando a sua a autoestima, a sua autoconfiança, valorizando suas potencialidades.(p.6) Desta forma, a psicopedagogia vê a criança/sujeito em sua individualidade, mas ao mesmo tempo integrada nos grupos a que pertence (familiar, social, escolar), procurando encontrar sua peculiaridade enquanto aprendente, ou seja, a modalidade de aprendizagem que lhe é singular. O que lhe interessa são as diferenças que possibilitam compreendê-la como única, apesar dela estar inserida num determinado tipo de modalidade de aprendizagem. 26
  • 27. 3. METODOLOGIAS DE ENSINO O conceito de educação inclusiva prevê que todos os alunos sejam inseridos no processo educativo, porém, é frequente a percepção de que, nas escolas, os alunos que possuem algum tipo de distúrbio ou dificuldade são deixados de lado, devido ao desconhecimento de técnicas que possam contribuir para seu desenvolvimento. O excesso da carga de trabalho dos professores e a falta de investimento do Estado dificultam a busca por uma formação que possibilite um trabalho e uma inclusão efetiva de todos os estudantes. Muitas vezes, as recomendações feitas aos professores de um aluno com dislexia se restringem à elaboração de avaliações diferenciadas, sendo que o mais importante, a formação, fica relegada a um segundo plano. Não se deve negar que “a instituição escolar se confronta com um dilema: o desafio de atender as diferenças de aptidões entre os alunos e, ao mesmo tempo, prepará-los para atingir objetivos estandardizados, surgindo as situações problemáticas quando consideramos alunos com dificuldades de aprendizagem, como é o caso da dislexia” (CASTILHO). Colocaremos aqui, porém, algumas propostas metodológicas que mostraram resultados satisfatórios para o desenvolvimento dos alunos com esse distúrbio, em experiências que envolviam trabalho conjunto e dedicado de pais e professores. Dentre essas metodologias, encontramos ações simples, mas significativas no processo de aprendizagem dos alunos, como “fazer uso de 27
  • 28. materiais diversificados no apoio das aulas, oferecer resumo dos conteúdos que serão abordados, ministrar suas aulas com clareza e repetição, dar instruções orais e escritas ao mesmo tempo, apresentar novas palavras de forma contextualizada, realizar sempre que possível aulas de revisão e trabalhos em grupo, fazer a leitura em voz alta antes de iniciar a avaliação e acrescentar o tempo para a realização da mesma.”(CASTILHO) É importante que a criança tenha acompanhamento de profissional competente, para que sejam identificadas as necessidades específicas para o desenvolvimento cognitivo do aluno disléxico, visto tratar-se de um problema que se manifesta em níveis diferenciados, especialmente devido ao maior ou menor estímulo promovido pela família e pelos educadores. A partir de um laudo obtido após investigação do profissional, é possível identificar as necessidades específicas e obter as orientações necessárias para a otimização do trabalho em sala de aula. No Brasil, a Associação Brasileira de Dislexia (ABD) desenvolve um trabalho bastante comprometido e sério na identificação das dificuldades específicas das crianças e, em geral, os laudos apresentados para as famílias seguem com um conjunto de informações relevantes para o trabalho dos professores. A ABD também promove cursos voltados para educadores e disponibiliza vasta bibliografia a respeito do tema em seu site. Um dos exemplos deste rico material de apoio é o artigo Existe uma escola ideal?, de Ana Silvia Figueiral, onde encontramos importantes reflexões sobre o papel dos professores e de suas metodologias, especialmente no Ensino Fundamental II e Médio, que podem contribuir para a melhoria da 28
  • 29. aprendizagem em crianças com dificuldades de leitura. Para ilustrar tal situação, reproduzimos a citação a seguir: O uso da lousa, do quadro pode ser um apoio importante para a manutenção da atenção por um tempo maior além de ajudar nas anotações para o estudo posterior. Enquanto fala, o professor pode escrever os conceitos referidos e suas correlações para a classe ir visualizando. Apostilar a matéria ajuda muito aluno. Outra medida que pode ser tomada em sala de aula, é antecipar o texto a ser lido, fornecendo um resumo prévio, sem deixar de investir na curiosidade pela leitura. A idéia que sabendo sobre o tema antes de ler desmotiva a leitura, não confere com as constatações, sobretudo no caso de textos não informativos. Quantos livros são vendidos após as minisséries, após os filmes? Quanto aos textos informativos, um quadro esquemático, que contenha as principais informações relacionadas, abre espaço para que a leitura agregue elementos adicionais, enriquecendo o conhecimento. Não impedir a leitura com pista articulatória (sussuros), porque para o leitor desatento este é um recurso eficiente para sustentar a atenção. Tal medida, no entanto, é contraproducente quando falamos de estudantes portadores do Transtorno da Leitura, que se beneficiam da leitura silenciosa (poupando-os da decodificação) ou de fitas gravadas com o texto. Estratégias como estas e as que são desenvolvidas pelos professores quando passam a entender as necessidades de seus alunos, são simples na adoção e proveitosas para a aprendizagem.” No atual contexto da educação brasileira, em que todos os esforços se concentram para que o foco do trabalho do professor se desloque do ensino para a aprendizagem dos alunos, é importante destacar algumas das competências necessárias para o exercício da profissão docente indicadas por PERRENOUD (2000): organizar e dirigir situações de aprendizagem, administrar a progressão das aprendizagens, conceber e fazer evoluir dispositivos de diferenciação, envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho entre outras. Pelo exposto, percebe-se que administrar a heterogeneidade da turma e trabalhar com alunos portadores de dificuldades é condição sine qua non para o desenvolvimento de um trabalho competente e, dentre estes alunos 29
  • 30. portadores de dificuldades, a dislexia é bastante recorrente. Portanto, diante deste (e de outros) problema, no desenvolvimento de seus métodos de trabalho, é fundamental que o professor: • Entenda que ninguém aprende ao mesmo tempo, portanto é essencial o respeito pelas individualidades; • Seja criativo e diversifique as estratégias pedagógicas, pois ninguém aprende da mesma "forma"; • Esteja aberto aos diversos meios de comunicação, e utilize-os como ferramentas no processo de ensino- aprendizagem; • Diversifique as atividades avaliativas; • Esteja preparado para perceber a dificuldade de seus alunos e encaminhe-os para uma avaliação; • E, acima de tudo, INCLUA A TODOS. Sabemos que as condições de trabalho nas escolas (e isso não é privilégio apenas da rede pública) em geral são bastante precárias, e o professor tem que enfrentar inúmeros desafios diante de um conjunto cada vez maior de demanadas, sem o apoio necessário. Esta situação, no entanto, por mais que comprometa o exercício da nossa função, não tira do professor a responsabilidade sobre a progressão das aprendizagens, especialmente daqueles que mais precisam dela. 30
  • 31. 4. LEGISLAÇÃO SOBRE A DISLEXIA E OUTRAS DIFICULDADES Não há uma legislação especificamente voltada para a questão da dislexia em nosso sistema educacional, mas analisando as leis que regem o atendimento e o acompanhamento aos alunos em geral, perceberemos aspectos pertinentes ao tema dislexia. Destacamos neste capítulo as principais leis destinadas a garantir a eficiência no processo educativo, considerando as particularidades e a diversidade presentes nas escolas brasileiras na atualidade. A LDB (Leis 9394/96), por exemplo, em inúmeros artigos, aponta para a necessidade de se criar mecanismos de recuperação de alunos que não aprendem no mesmo ritmo que os demais, ou apresentem rendimento insatisfatório em relação aos objetivos esperados, em virtude da presença de necessidades especiais variadas, o que inclui, portanto, a dislexia. O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8069/90), aliás, antes mesmo da existência da LDB, já reforçava, de maneira ampla, a necessidade de a educação pautar-se na formação integral do indivíduo, garantindo seu direito de exercer a cidadania visando contribuir para a igualdade social. Portanto, o legislador entende a necessidade de assegurar o direito à educação como forma de promoção da cidadania a todas as crianças e adolescentes, obrigando ao atendimento da diversidade de situações encontradas nas escolas, sendo elas de natureza social, econômica ou patológicas. 31
  • 32. Vários pareceres, indicações e deliberações dos Conselhos Estaduais de Educação e do Conselho Nacional da Educação, especialmente após a segunda metade da década de 90, quando a Lei de Diretrizes e Bases passa a vigorar, apontam para a necessidade de se transferir o foco do trabalho pedagógico para a aprendizagem dos alunos. Dessa maneira, a experiência de “ensinar” deve necessariamente contemplar as diferenças existentes no interior do grupo-classe com o qual se trabalha. Ao fornecer orientações a respeito da forma como se deve promover a recuperação dos alunos que não aprenderam no tempo oportuno, o Conselho Estadual da Educação de São Paulo, através da Indicação CEE no 5/98, de 15 de abril de 1998, publicado no Diário Oficial do Estado de São Paulo em 23 de setembro de 1998, afirma que “ dentro de um projeto pedagógico consistente, a recuperação deve ser organizada para atender aos problemas específicos de aprendizagem que alguns alunos apresentam (...) e abranger não só os conceitos, mas também as habilidades, procedimentos e atitudes”. Ou seja, compete às escolas de forma geral e aos professores em particular criar condições, mesmo que isso implique em maior tempo de trabalho, para que todos os alunos progridam em suas aprendizagens, entendidas não apenas como a apropriação de conteúdos de caráter conceitual, mas também (e principalmente) no desenvolvimento de competências, habilidades, procedimentos e atitudes visando o “pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho (artigo 53 do Estatuto da Criança e Adolescente, caput). Cabe ressaltar que a própria Constituição (art. 208, III) indica que o “atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência (será 32
  • 33. garantido) preferencialmente na rede regular de ensino. Esta diretriz constitucional será retomada, também, no capítulo 8 do Plano Nacional da Educação (Lei 10.172/01) ao apontar para a necessidade de esforço das autoridades educacionais “para valorizar a permanência dos alunos nas classes regulares, eliminando a nociva prática de encaminhamento para classes especiais daqueles que apresentam dificuldades comuns de aprendizagem, problemas de dispersão, de atenção ou de disciplina”. O parecer CNE/CEB no 17/2001 e a resolução CNE/CEB, por sua vez, coloca no quadro comum das dificuldades de aprendizagem uma “diversidade de necessidades educacionais, destacadamente aquelas associadas a: dificuldades específicas de aprendizagem como a dislexia e disfunções correlatas (...)”. Tramita na Câmara Municipal de São Paulo um projeto de lei desde 2005, apresentado pelo vereador Juscelino Gadelha, que tem por finalidade “garantir as bases para a promoção da saúde dos portadores de DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM NA ÁREA DA LEITURA, ESCRITA E SOLETRAÇÃO, A DISLEXIA”. Segundo a justificativa apresentada pelo parlamentar, o poder público deve assumir a responsabilidade de implantar, no âmbito do Sistema Único de Saúde, das Organizações Sociais e em cooperação com a Secretaria de Educação, um Programa de Atendimento aos alunos portadores desse distúrbio de aprendizagem específico. Cabe destacar que, apesar da existência de um conjunto expressivo de normas legais que, de forma direta ou indireta, contemplam as necessidades de alunos portadores de dislexia, a efetivação das práticas que se traduzem em efetivação do direito legal passa necessariamente pela maior ou menor 33
  • 34. intervenção do poder público, tanto no âmbito municipal, quanto estadual e federal. Além disso, deve-se ressaltar as dificuldades enfrentadas pelos professores, que em geral exercem suas funções em salas de aulas com poucos recursos, com número excessivo de alunos, e em muitas unidades escolares de diferentes redes, em virtude da baixa remuneração recebida, o que torna o atendimento às necessidades especiais dos alunos, não apenas disléxicos, uma tarefa extremamente desgastante e, muitas vezes, frustrante. Deve-se, portanto, valorizar a existência de um conjunto de normas legais que apontam para a efetivação do direito de todos, independentemente das especificidades de cada um, mas deve-se ter claro que sem uma política pública de valorização profissional e de investimento nas redes públicas de saúde e educação, corre-se o risco de se verem transformados em “letra morta” todos os avanços da legislação criada nas últimas décadas. 34
  • 35. 5. O OLHAR DA FAMÍLIA A dislexia não é uma doença (assim como outras dificuldades de aprendizagem, tais como a discalculia, dispraxia e disgrafia) mas um distúrbio neurológico relacionado não apenas com as dificuldades de leitura e escrita, mas que também afeta as competências relacionadas com a ortografia, a competência auditiva, a fala e a memória, além de produzir comprometimentos em relação à organização, lateralidade etc. Afetando, portanto, uma série de competências que favorecem (ou dificultam) o aprendizado, o mais comum é que a dislexia seja percebida apenas na fase de alfabetização e/ou nas etapas subsequentes, desde que a família e os profissionais da educação envolvidos tenham os conhecimentos e a percepção necessárias para que aconteça o encaminhamento aos profissionais competentes para fazer o diagnóstico. Caso contrário, a dificuldade real de aprendizagem passa a ser encarada como descaso ou desleixo do próprio aluno/filho, culpabilizando-o por algo sobre o qual não possui o menor controle. Apesar da necessidade de diagnóstico profissional, há uma série de sintomas que se manifestam na idade escolar e que podem ser indícios da dislexia, tais como a redução da autoestima, dificuldades de ortografia, dificuldades na leitura em voz alta, problemas de lateralidade, dificuldades em seguir orientações e indicações, realização demorada de trabalhos escritos, relutância em ir à escola entre outras. As dificuldades acima, isoladas ou em 35
  • 36. conjunto, podem, no entanto, terem causas diversas, daí a necessidade de intervenção profissional. As estatísticas sobre a incidência da dislexia no conjunto da população apontam para algo em torno de 10 a 15%. Alguns especialistas, no entanto, acreditam que o número é subdimensionado, em virtude do grande desconhecimento em relação às características desta dificuldade específica de aprendizagem, mesmo entre os profissionais da educação. Para outros, há um certo exagero nestes números, principalmente porque muitas das dificuldades com leitura e escrita, especialmente em jovens e adultos, decorrem de um deficiente processo de alfabetização, e não especificamente de um problema neurológico. Apesar das divergências em relação aos números, é fato incontestável que a dislexia não é um distúrbio raro, estando bastante presente nas escolas e exigindo cada vez mais a atenção de pais e professores. É fato, também, que a dislexia manifesta-se em graus variados e que, em função do maior ou menor estímulo oferecido à criança, ela encontrará maiores ou menores possibilidades de progredir, tanto do ponto de vista acadêmico, quanto do ponto de vista pessoal e profissional. Por essa razão, é fundamental que os pais, diante das dificuldades apresentadas pelos filhos na escola, procurem ajuda necessária para intervirem de forma positiva no desenvolvimento cognitivo das crianças. É comum, em muitas situações, por ignorância, preconceito ou vergonha, que os pais de crianças disléxicas ou que apresentam outros tipos de distúrbios neguem a situação dos filhos e, assim, comprometam o seu desenvolvimento 36
  • 37. normal. Portanto, para o bem ou para o mal, a intervenção dos pais é determinante no desenvolvimento acadêmico dos filhos. Se ocorre a negação da condição de disléxico dos filhos, transmite-se a eles a imagem de que se trata de um problema do qual precisam se envergonhar e, assim, terão menos oportunidades para obterem a ajuda necessária para a superação dessas dificuldades. Se, por outro lado, utiliza-se a dislexia (como também qualquer outra dificuldade de aprendizagem) para justificar a inação da criança diante de todo e qualquer desafio cognitivo, seguramente a criança será privada de muitas oportunidades de aprender e de crescer academicamente. A criança com dislexia não pode ser excluída das oportunidades de aprendizagem e, tampouco, a dislexia pode servir de pretexto para que nada seja feito pela criança, pela família e pela escola. A dislexia não impede que a criança aprenda e se desenvolva, embora tal aprendizado e desenvolvimento possa não acontecer no mesmo nível e no mesmo tempo que as outras crianças. Por isso, as intervenções pedagógicas na escola dever ser diferenciadas, respeitando-se as especificidades da criança com dificuldades e, em casa, os pais precisam compreender estas especificidades e agirem em parceria com a escola. SHAYWITZ (2006) afirma, sobre uma das formas de intervenção positiva nos processos de aprendizagem das crianças, que "ouvir seu filho ler em voz alta é, em geral, a mais significativa atividade que você pode executar nesse processo (...) Para uma criança que enfrenta dificuldades é geralmente útil ler um pouco para ela e depois pedir para que releia em voz alta o mesmo trecho 37
  • 38. (...) É bom dar à criança uma régua ou algo semelhante para ela colocar sob cada linha enquanto lê ou acompanha o que se lê." (p.177). Isso contribui também para criar um padrão duradouro de satisfação, que pode acompanhar a criança ao longo da vida. Mais tarde, na adolescência ou na idade adulta, a memória afetiva destas leituras compartilhadas com os pais contribuirão para tornar a leitura uma atividade prazerosa, mesmo que ainda difícil e cansativa. Para crianças que não experienciam estas sensações, e percebem a leitura apenas como algo além de suas capacidades cognitivas que são obrigadas a enfrentar, e que as fazem vivenciar a todo momento seus fracassos e frustrações, a leitura proficiente jamais será atingida, comprometendo também sua autoestima. Para que a experiência da leitura em casa contribua de maneira efetiva na superação das dificuldades de leitura e escrita das crianças, é fundamental que os pais tenham consciência da importância que sua ajuda pode ter, e saibam qual a melhor maneira de proporcioná-la. Nos Estados Unidos, desde 1985 um programa de treinamento para os pais, com duração de oito semanas (Foward Together Recovery Programe) realizado em Cabridgeshire tem comprovadamente contribuído, segundo Hannavy (O envolvimento dos pais na ajuda aos filhos na superação das dificuldades de leitura e escrita; in SNOWLING E STACKHOUSE, Dislexia, Fala e Linguagem, 2004) para "melhorar a competência dos leitores deficientes e também o seu entusiasmo com relação à leitura" (p. 227). O compromisso de ajudar diariamente os filhos e participar de reuniões semanais e grupos de discussão faz com que os pais, em um primeiro momento, compreendam os problemas dos filhos e o processo de aprendizagem para, em seguida, 38
  • 39. poderem "desenvolver um trabalho bilateral singular que pode ter efeitos positivos na aprendizagem e nas atitudes de seus filhos" sem, contudo, substituírem a intervenção do professor. Mesmo sem a existência de um progama específico de apoio a pais de crianças disléxicas, há um conjunto de ações desejáveis que podem fazer uma brutal diferença na aprendizagem dos alunos. Há, por outro lado, um outro conjunto de atitudes que devem ser evitadas, sob pena e risco de se ampliar ainda mais as dificuldades enfrentadas pelos alunos. Dentre as atitudes negativas que devem ser evitadas, FRANK E LIVINGSTON (2004) apontam os dez erros mais comuns nos pais de crianças disléxicas. São eles: 1. Pensar que a criança pode um dia ser "normal" e que a dislexia poderá ser curada. 2. Culpar-se pelo fato de a criança ser disléxica; 3. Pensar que se compreende exatamente aquilo por que a criança está a passar; 4. Não conseguir perceber aquilo que a criança consegue ou não fazer; 5. Ajudar a criança disléxicas em tarefas que ela consegue fazer sozinha; 6. Esconder dos outros o fato de a criança ser disléxica; 7. Baixar em vez de redirecionar as expectativas; 8. Tentar proteger a criança do mundo real; 9. Contrariar, em vez de funcionar em conjunto, o sistema educacional; 10. Concentrar-se nas incapacidades, e não nas capacidades da criança. 39
  • 40. Se os erros listados anteriormente devem ser evitado pelos pais de todas as crianças disléxicas (e muitos, inclusive, por pais de crianças não disléxicas também) as atitudes de apoio podem variar de caso para caso e em função da maior ou menor autonomia conquistada pela idade e a escolaridade. Ler com a criança (e para a criança) é atitude indispensável nos primeiros anos da escolaridade mas, com o passar do tempo, pode vir a se transformar em uma estratégia de apoio desnecessária e ineficente. Reforçar a autoestima, atribuindo responsabilidades, deixando que a criança tome decisões e demonstrando respeito à criança são situações de apoio que favorecem o progresso independentemente da idade e do nível de escolaridade. O mais importante é identificar as necessidades específicas das crianças em cada momento, e trabalhar no sentido de criar as condições necessárias para que possa superá-las, em um primeiro momento com a ajuda de um adulto para, depois poder cumprir com a tarefa de forma autônoma. FRANK E LIVINGSTON (2004) afirmam que "embora a escola seja o local em que as crianças disléxicas sentem mais diretamente o impacto dessa dificuldade de aprendizagem, o ambiente familiar pode fazer uma diferença crucial não só para seu desempenho na escola mas também para a forma como lida com a dislexia no dia a dia." Questões aparentemente simples, como a organização da rotina matinal e do espaço de trabalho e até mesmo da mochila podem exigir a intervenção da família. Intervir não significa, em hipótese nenhuma, fazer pelo aluno, mas criar as condições que tornam possível, como já foi dito anteriormente, a realização da tarefa de forma autônoma. Se a criança tem dificuldades para se organizar antes de sair de casa para ir à escola, a família pode intervir 40
  • 41. positivamente mantendo quadros e cartazes com a rotina diária e horários de aulas, além de manter acessível livros, uniformes e demais materiais necessários para a aula. Em situações que as crianças precisam ser avaliadas na escola, é importante que os pais, sob orientação dos professores, organizem um plano de estudos e definam as estratégias de revisão da matéria em função das especificidades de cada disciplina. Leitura em voz alta, organização de esquemas com cores variadas, elaboração de resumos por tópicos e outras estratégias que favoreçam a fixação podem contribuir para um desempenho mais efetivo nas avaliações. 41
  • 42. 6. ANÁLISE DO CASO Para investigar as diferentes práticas pedagógicas utilizadas pelos profissionais da educação para promover o aprendizado e a efetiva inclusão dos alunos com dislexia, optou-se, como metodologia de pesquisa, pelo estudo de caso. O caso escolhido foi de uma aluna que cursa o 6º ano em um colégio particular de Osasco, região metropolitana de São Paulo. O fato de ser um caso de dislexia comprovado através de laudo e, portanto, conhecido pelos professores, foi fundamental para sua escolha. A princípio, seria utilizada, como instrumento de pesquisa para se levantar informações a respeito da prática dos professores, a entrevista, porém, com o objetivo de tornar o discurso dos docentes mais natural, sem a intimidação que uma entrevista poderia proporcionar, pedimos aos professores que redigissem um relato, tendo como guia algumas perguntas sobre suas práticas pedagógicas. Abaixo, podemos observar a proposta do relato: Gostaríamos que você redigisse um relato, tendo como guia as questões abaixo. Nosso objetivo é conhecer as diferentes práticas pedagógicas dos profissionais da educação e analisar o impacto dessas práticas na evolução da aprendizagem em alunos com dislexia. Sua contribuição será muito importante para nossos estudos. Agradecemos por sua participação. Qual é a sua formação? E o seu tempo de magistério? O que você sabe sobre dislexia? Realizou alguma leitura ou formação para conhecer melhor o tema? Sobre a aluna 6º ano B, diagnosticada com dislexia, quais as estratégias 42
  • 43. utilizadas para contribuir para seu aprendizado. Que dificuldades e potencialidades ela apresenta na sua matéria? Fique à vontade para comentar suas práticas e intervenções. Quais são as dificuldades ao lidar com uma aluna com dislexia? Você sente que a equipe pedagógica e a família se empenham no desenvolvimento da aluna? Comente. O levantamento de informações a respeito das práticas pedagógicas desenvolvidas com a aluna se deu a partir dos relatos de duas coordenadoras pedagógicos (fundamental I e II) e dos professores de Língua Portuguesa, Língua Estrangeira (Espanhol), Matemática, Ciências e Geografia. Não foram analisadas neste trabalho, as opiniões dos professores de História, Artes, Educação Física e Inglês, pois os devidos relatórios não foram entregues em tempo hábil para a análise. Contamos, também, com a contribuição da professora polivalente responsável pelo trabalho com a aluna no ano anterior, para que pudéssemos ter uma visão mais abrangente dos progressos e das dificuldades enfrentadas pela aluna no decorrer deste ano, que representa uma importante etapa de transição dentro do contexto da escolaridade de nível básico. A opinião manifestada pelas coordenadoras pedagógicos foi fundamental para a compreensão do caso, pois além de possuírem uma visão mais panorâmica do contexto acadêmico dentro da escola, são responsáveis pelo atendimento à família e pelo contato com os especialistas que lidam com as dificuldades da criança, como fonoaudiólogo, psicólogo e neurologista. A aluna e a mãe também forneceram informações sobre as suas principais dificuldades no ambiente acadêmico, especialmente neste contexto 43
  • 44. de transição do fundamental I para o fundamental II, quando deixou de ser assistida por uma professora polivalente que já a acompanhava há dois anos, para se deparar com professores especialistas que sabiam de suas dificuldades apenas indiretamente, através de laudos preparados pela Associação Brasileira de Dislexia e relatórios da coordenação e da professora polivalente. Estas informações foram obtidas através de uma entrevista do pesquisador com a aluna e com a mãe e, também, indiretamente, através da análise dos materiais que produziu ao longo do ano, especialmente seu caderno e provas. 6.1 A FORMAÇÃO E A EXPERIÊNCIA DOCENTE Sobre a formação e a experiência dos professores e coordenadores que participaram da pesquisa, percebemos que todos têm, pelo menos, cinco anos de experiência docente, sendo, portanto, um grupo com uma considerável vivência em sala de aula, e que já deve haver trabalhado com alunos portadores dos mais diversos distúrbios e dificuldades. Além disso, quatro dos sete profissionais entrevistados são pós-graduados em psicopedagogia (as coordenadoras e dois professores). 6.2 O QUE SABEM SOBRE DISLEXIA Todos os participantes da pesquisa conseguiram definir a dislexia como um distúrbio de aprendizagem nas áreas de leitura, escrita e soletração. Porém, afirmaram que não fizeram leituras aprofundadas ou formações a 44
  • 45. respeito do tema, exceto as coordenadoras que, apesar de se considerarem ainda despreparados para lidar com casos de dislexia, participaram de congressos e palestras sobre o tema, além de acessar o site da ABD (Associação Brasileira de Dislexia) frequentemente. 6.3 AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS UTILIZADAS Segundo a coordenadora do Ensino Fundamental II do colégio, a confirmação da presença do distúrbio na aluna foi feita através de relatório enviado pela ABD, após a professora que trabalhou com a criança no 4º e 5º anos do Fundamental I ter identificado problemas na escrita e na leitura da aluna que levantaram suspeitas sobre o quadro de dislexia. Cabe ressaltar que, entre o início das suspeitas de dislexia e a confirmação a partir do laudo da ABD, passaram-se quase dois anos, pois a lista de espera na associação é grande, o que já denuncia que o problema da dislexia tem sido recorrentemente identificado no ambiente escolar. Na ausência do laudo, a professora polivalente que atuou com a criança no final do Fundamental I informou que, em parceria com a coordenadora pedagógica, realizou uma série de leituras a respeito da melhor forma de intervenção pedagógica, que resultaram na elaboração de inúmeras atividades de apoio que promoveram, em um primeiro momento, uma melhoria substancial na leitura e na escrita da aluna e, também, uma recuperação da autoestima, já que a menina considerava-se incapaz e envergonhava-se diante dos seus resultados obtidos. 45
  • 46. De acordo com a professora polivalente, as intervenções que começaram a dar resultados mais satisfatórios consistiram na supressão de enunciados longos de questões e atividades que eram indicadas para a aluna, a substituição e/ou complementação das provas escritas por avaliações orais, a criação e manutenção de uma pasta em que a aluna guardava suas produções no decorrer do processo (uma espécie de portifólio) e que possibilitavam uma visualização de seu progresso e, por fim, a elaboração (pela professora) de pequenos textos-resumos das aulas, que eram impressos diariamente e guardados em sua pasta, para que pudesse ter registro das explicações e permitisse um acompanhamento e ajuda da família. O laudo obtido na Associação Brasileira de Dislexia comprovou a suspeita da professora, e as indicações para o desenvolvimento do trabalho na escola presentes no corpo do documento mostraram que as ações que haviam sido desenvolvidas até então estavam adequadas. Deve-se lembrar que a dislexia não tem cura e acompanhará a aluna pelo resto de sua vida, mas sem a intervenção adequada da professora, nestas séries iniciais, provavelmente suas dificuldades estariam muito maiores do que as encontradas pelos especialistas do Ensino Fundamental II. Ocorre, porém, que as condições de trabalho encontradas pela professora polivalente não são as mesmas dos professores especialistas que passaram a atuar no processo de ensino e aprendizagem da aluna. Enquanto no fundamental I a professora dispunha de praticamente 22 horas de trabalho contínuo na mesma classe, no fundamental II a frequência de aulas de cada professor varia de 2 a 6 aulas por semana e cada professor exerce suas 46
  • 47. atividades em 5 ou mais turmas de alunos, muitas vezes em mais de uma escola e período. Diante desse quadro, apesar de disporem do laudo da ABD, de orientações da coordenação e do próprio suporte da professora polivalente que atuou no ano anterior com a aluna, o trabalho com as suas necessidades específicas foi negligenciado por parte substancial dos professores, o que produziu, inclusive um ligeiro retrocesso em relação aos progressos que havia apresentado no segmento escolar anterior, ao menos em algumas das disciplinas. Dos relatos dos professores, a preocupação que é comum a todos está relacionada à elaboração de provas diferenciadas, com enunciados curtos e comandos mais simples, mas pouca homogeneidade há na forma como se desenvolve a aprendizagem. Muitas das estratégias traçadas pelos professores são baseadas em tentativa e erro, isto é, muitas práticas não têm fundamento teórico, mas são adotadas quando há um avanço nos resultados. Uma prática que tem funcionado é o uso de um ábaco nas aulas de matemática. A aluna tinha dificuldades em realizar multiplicações e divisões e apresentou grandes avanços usando esse instrumentos durante as aulas e avaliações. Um fato curioso é que a ideia surgiu de um professor que estava trabalhando nos plantões de matemática e que, assim como a aluna, tem dislexia. Portanto, esse professor tinha um grande conhecimento do distúrbio e pode auxiliá-la de forma efetiva. Alguns professores relataram que o uso de enunciados simples e diretos, assim como a exposição do tema trabalhado em tópicos no quadro 47
  • 48. contribuem para o entendimento da aluna. Outros relatam a tentativa de explorar outras habilidades como a oralidade e a interpretação de imagens. As formas de avaliar a aluna também são vistas com um olhar diferenciado. A professora de matemática afirmou que é preparada uma avaliação diferenciada, porém, com mesmo conteúdo das avaliações outros alunos. Essa avaliação é apresentada com uma linguagem mais direta, com uma prevalência de exercícios técnicos. Por outro lado, a professora de redação menciona que a aluna também é avaliada de forma oral e com atividades com ilustrações baseadas nas produções textuais. Além da falta de uma formação sobre o tema, os professores têm dificuldades ao lidar com o distúrbio em sala de aula pelo fato de terem que trabalhar com o coletivo ao mesmo tempo que devem oferecer uma atenção individualizada para a aluna. Segundo a professora de língua portuguesa, “o trabalho, por ser complexo é dificultoso, principalmente porque o professor dá aula no coletivo e o olhar individual demanda tempo e espaço para auxiliar e não estigmatizar.” 6.4 O EMPENHO DE PAIS, PROFESSORES E EQUIPE PEDAGÓGICA Como vimos, a partir do relato das práticas pedagógicas, parte dos professores revela um grande empenho para promover a inclusão e a efetiva formação da aluna. Apesar disso, segundo a coordenadora do colégio, alguns docentes, talvez pela falta de uma formação específica, não dão a devida atenção ao caso. O fato dos professores especialistas conviverem com a aluna 48
  • 49. durante poucos momentos na semana é um fator que prejudica o olhar individualizado sobre a aluna. Por isso, e como percebemos ao longo desse trabalho, a participação da família na formação da aluna assume um papel fundamental, devido ao tempo de convivência. De acordo com os relatos, os pais da aluna estudada revelavam uma grande preocupação e se preocupavam por conhecer a dificuldade da aluna. Porém, a partir do momento do diagnóstico, houve certa negligência desses pais, que deveriam encaminhá-la para um acompanhamento psicopedagógico, e não o fizeram. Segundo a coordenadora, para eles, a descoberta do problema era o mais importante, sendo o desenvolvimento da aluna relegado a um segundo plano. A mãe, no entanto, na entrevista concedida, mostrou conhecimento dos obstáculos que a criança encontrará em seu percurso acadêmico. Segundo a mãe, o fato de trabalhar em período integral deixa a ela pouco tempo para que possa se dedicar mais às necessidades da criança e, também, por conta de sua própria formação acadêmica (estudou até o final do fundamental II) não dispõe de recursos suficientes para intervir em sua formação, agora que os conteúdos escolares passam a ser mais específicos, e sabe que daqui para frente esta situação tende a se agravar. Questionada a respeito dos motivos da criança não ser acompanhada por um psicopedagogo, a mãe apresentou como argumentos dificuldades de natureza financeira e, também, dificuldades de locomoção, pois como trabalha, não conseguiria acompanhá-la nesta atividade e, por conta da idade da criança, não seria conveniente deixá-la sozinha. 49
  • 50. A mãe mostrou-se bastante satisfeita com o empenho de toda a equipe pedagógica no atendimento das necessidades da filha, e disse acreditar que, apesar das dificuldades que menina enfrentará, ela poderá encontrar o apoio que precisa na instituição em que está. Não se sentiria confortável em mudar a criança de escola, pois entende que em outro lugar, o desconhecimento das dificuldades apresentadas poderia trazer muitos prejuízos acadêmicos, inclusive a retenção na série. Ficou evidente, no entanto, que a mãe, a partir do momento em que teve o diagnóstico da ABD, reduziu muito as expectativas em relação ao futuro acadêmico da filha. Em muitas situações da entrevista, a mãe reforçou a importância das provas diferentes que eram elaboradas pelos professores, “mais fáceis para ela fazer”, e também o fato de alguns professores “darem trabalhos para ajudar na nota”. Sobre as atividades que eram desenvolvidas em sala de aula, e que favoreciam a aprendizagem da aluna, como, por exemplo, a utilização do ábaco nas aulas de matemática ou a exploração de imagens para o desenvolvimento e fixação de determinados conteúdos, a mãe demonstrou pouco conhecimento ou informação, e ressaltou a confiança na equipe pedagógica. Quando questionada sobre o fato de a aluna, em determinado momento de sua trajetória acadêmica, ter que passar por processos de avaliação externa, como o vestibular, para o ingresso no ensino superior, a mãe disse que achava que “ela não chegaria lá”, porque na faculdade ninguém ia se “preocupar com os problemas dela”. Essa redução das expectativas em relação ao futuro acadêmico, e o conformismo com o fato de que o laudo da ABD garantirá à aluna provas 50
  • 51. diferenciadas e promoção automática na escola em que está, é responsável pela visão que a coordenação tem em sobre as atitudes “negligentes” da família em relação à aprendizagem da criança. 51
  • 52. CONCLUSÃO A interseção entre saúde e escola pode ser analisada sob diferentes perspectivas, em virtude da diversidade de atores presentes no contexto escolar e, também, em função do recorte espaço-temporal escolhido para análise. Nas últimas décadas, a Educação tem conquistado relevo no discurso de políticos, economistas e outros profissionais e estudiosos, que a veem como instrumento indispensável para a promoção do desenvolvimento econômico e social e para a constituição de um projeto nacional. Paralelamente a este aumento da importância da educação, e consequentemente da responsabilidade dos professores, ocorreu um processo de desvalorização, especialmente econômica, do magistério. Segundo a economista Fabiana de Felicio1, o salário médio de um professor da Educação Básica é 40% menor que a média salarial de um profissional com o mesmo nível de escolaridade. Com mais responsabilidades e com remuneração insuficiente, os professores se desdobram em jornadas desgastantes e, sem tempo para formação adequada, elaboração de planejamentos, preparação de aulas, e para o atendimento satisfatório das demandas dos alunos, o processo de adoecimento é inevitável. Problemas físicos mais comuns, relacionados a voz e 1 Pesquisa realizada com base nos microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD). As informações referentes ao estudo foram divulgadas no portal UOL (http://educacao.uol.com.br /ultnot/2010/12/15/professor-ganha-40-menos-que-media-do-trabalhador-brasileiro-com-mesma- escolaridade.jhtm) , acessado em 15/12/2010, às 14h20min. 52
  • 53. a postura somam-se a outros de natureza psiquiátricas que têm promovido uma enorme ampliação das licenças médicas, readaptações e aposentadorias precoces. Se há, no entanto, um campo enorme para a pesquisa nesta interseção entre saúde e escola, tomando como referência apenas a saúde do professor, há também um outro campo que não pode ser negligenciado, que envolve os transtornos e distúrbios de aprendizagem, muitos de origem neurológicas, que acometem os alunos. Em pesquisa realizada no módulo anterior2, já havíamos feito um levantamento a respeito da percepção dos docentes em relação aos problemas neurológicos existentes em suas escolas, e constatamos que dentre os problemas de saúde mais recorrentes estavam a Dislexia, o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, Epilepsia, problemas auditivos, problemas visuais, enxaqueca e depressão infantil e juvenil. Como o foco do trabalho eram as doenças neurológicas, ficaram de fora da investigação um conjunto bastante substancial de outros problemas de saúde recorrentes nos alunos como, por exemplo, a obesidade infantil, a anorexia, a bulimia e outros transtornos alimentares, para ficarmos apenas naqueles que vão afetar de forma mais significativa a aprendizagem e/ou a autoestima dos alunos. De todos os problemas apontados no trabalho anterior, escolhemos para uma investigação mais pormenorizada nesta pesquisa a Dislexia e partimos para a investigação de como as diferentes práticas pedagógicas dos 2 A Percepção dos Profissionais da Educação em Relação aos Problemas Neurológicos, apresentada como trabalho de conclusão da disciplina Projetos, do módulo Interdisciplinaridade, Transversalidade e Projetos, do Curso de Pós Graduação em Ética, Valores e Saúde na Escola, EACH-USP. 53
  • 54. professores impactam, de forma positiva ou negativamente, a aprendizagem dos alunos, com o propósito de comprovar a hipótese de que quanto mais bem informado, preparado e envolvido estiver o professor, e quanto mais empatia existir nas relações entre a família e a escola, maior será a possibilidade de progresso acadêmico do estudante acometido por este distúrbio de aprendizagem. A leitura da bibliografia disponível sobre o tema ofereceu aos integrantes do grupo um conjunto de informações significativas sobre as características específicas da dislexia, seu histórico, as causas do problema, os diversos tipos de comprometimento, o papel que deve ser desempenhado pela família, pela escola e por outros profissionais da saúde, a ação de organismos de apoio ao disléxico, como a Associação Brasileira de Dislexia (ABD) e, também, sobre a legislação específica relacionada ao atendimento a alunos com dificuldades específicas de aprendizagem. O estudo de um caso de dislexia, em uma aluna de 6º ano de uma escola da rede privada do município de Osasco ofereceu-nos a possibilidade de investigar em que medida a ação de professores e familiares proporcionam situações de progresso acadêmico à estudante em questão. Ficou evidente, pela análise dos dados, que a ação da professora polivalente que atendia a criança nos anos anteriores, mesmo sem a presença de um laudo, foi mais efetiva para a promoção das aprendizagens da aluna do que a ação dos professores especialistas do 6º ano. Esta diferença deve ser entendida e analisada sob diversas perspectivas: primeiramente, a professora polivalente dispunha de um tempo 54
  • 55. de trabalho com a aluna no mínimo 4 vezes maior do que o tempo dedicado pela professora especialista que mais tempo atua na sala de aula no 6º ano (no caso, a professora de Português); em segundo lugar, a professora polivalente buscou as informações necessárias na literatura existente para poder orientar sua prática pedagógica, ou seja, buscou a formação necessária para agir adequadamente no sentido de promover a aprendizagem da criança. O conhecimento e o tempo de dedicação mostraram-se fundamentais para que a criança pudesse evoluir. Os resultados mais satisfatórios nas diferentes disciplinas do Fundamental II foram conseguidos em Matemática, já que o professor da disciplina também é disléxico, e pode fazer uso de sua própria experiência para ajudar no progresso da aluna. Notamos na pesquisa que, na maioria das vezes, a intervenção do professor limita-se à etapa final do processo de ensino-aprendizagem, ou seja, a avaliação, a partir da elaboração de provas diferenciadas, com menor carga conceitual e enunciados mais curtos e objetivos. A adoção de estratégias diferenciadas que visam a efetivação da aprendizagem fica relegada a um segundo plano, em virtude das dificuldades enfrentadas pelos professores para planejarem aulas com estratégias que contemplem a diversidade no grupo- classe. PERRENOUD (2000) elenca um conjunto de competências indispensáveis para o exercício da função docente no atual contexto e, dentre estas competências, destacam-se aquelas que referem-se à organização e direção das situações de aprendizagem, administração da progressão das aprendizagens e a concepção e evolução dos dispositivos de diferenciação. É 55
  • 56. responsabilidade do professor, portanto, planejar atividades que promovam a aprendizagem de todas as crianças sob sua responsabilidade. Aliada às expectativas em relação à educação que foram listadas no início desta conclusão, e à baixa remuneração percebida pelos professores, fica evidente a sensação de frustração que acomete parcela substancial dos professores diante dos inúmeros fracassos. O caso analisado neste trabalho mostra que, apesar dos inúmeros fatores que concorrem para dificultar a progressão das aprendizagens da aluna, considerando-se inclusive a intervenção limitada da família, a criança apresentou avanços que devem ser creditados ao trabalho desenvolvido pela equipe de professores (alguns com maior crédito, outros com menor, mas seguramente todos impactando de forma positiva a aprendizagem da criança). A interseção entre saúde e educação, apesar de poder ser analisada sob diferentes perspectivas, como dito anteriormente, não pode ser totalmente compreendida se não a considerarmos sob um enfoque globalizador e complexo, pois a saúde do professor depende de condições adequadas de trabalho, com remuneração digna e jornada adequada, que possibilite a ele formação ideal para enfrentar os inúmeros desafios. Ao mesmo tempo, o atendimento às necessidades específicas de aprendizagem de alunos com distúrbios diversos, incluindo a DISLEXIA, não pode prescindir de um professor preparado, bem remunerado e com tempo disponível para planejar atividades que contemplem estas necessidades. 56
  • 57. Caso contrário, parafraseando Collares e Moysés3 o espaço escolar, voltado para a aprendizagem, para a normalidade, para o saudável, transforma-se em espaço clínico, voltado para os erros, distúrbios e doenças profissionais. 3 Collares, C.A.L e Moysés, M.A.A. A TRANSFORMAÇÃO DO ESPAÇO PEDAGÓGICO EM ESPAÇO CLÍNICO. http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_23_p025-031_c.pdf, Acessado em 17/12/2010, às19h20min; 57
  • 58. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS: INTRODUÇÃO. Disponível em http://portal.mec.gov/seb. Acessado em 29/10/2010. ___________. Presidência da República. LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL. Lei 9394/96. Brasília, 20/10/1996. ___________. Presidência da República. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. Lei 8069/90/96. Brasília, 13/06/1990. ___________. Conselho Nacional da Educação. RESOLUÇÃO CNE/CEB Nº 2, DE 11 DE SETEMBRO DE 2001 CASTILHO, V. H. COMO INTERVIR NOS CASOS DE DISLEXIA ESCOLAR. Disponível em http://www.psicopedagogia.com.br/new1_ artigo.asp?entrID= 1299. Acessado em 26/10/2010. COLLARES, C.A.L e MOYSÉS, M.A.A. A TRANSFORMAÇÃO DO ESPAÇO PEDAGÓGICO EM ESPAÇO CLÍNICO. Disponível em http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_23_p025-031_c.pdf, Acessado em 17/12/2010. FARIA, L. N. DISLEXIA. Disponível em http://www.dislexiadeleitura. com.br/ artigos.php?codigo=38. Acesso em: 22 de outubro de 2010. 58
  • 59. FARRELL, M. DISLEXIA E OUTRAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGENS ESPECÍFICAS – Estratégias Educacionais em Necessidades Especiais. (Maria A.B. Veronese, Trad). Porto Alegre: ARTMED, 2008. FIGUEIRAL, A.S. EXISTE UMA ESCOLA IDEAL? Disponível em http://www.dislexia.org.br/material/estudantes/estudantes.html. Acessado em 12/11/2010. FRANK, R. e LIVINGSTON, K.E. COMO APOIAR UM FILHO DISLÉXICO. (Raquel Moura, Trad.) PORTO: Editorial Estampa, 2004. FREITAS, T.M.C. TRATAMENTO PSICOPEDAGÓGICO DO JOVEM DISLÉXICO. Disponível em http: www.dislexia.org.br>. Acesso em 22 de outubro de 2010. GAZZANIGA, M, IVRY, R.B. e MANGUN, G.R. NEUROCIÊNCIA COGNITIVA – A biologia da Mente. (2ª ed.). Porto Alegre: ARTMED, 2006 GIL, A.C. ESTUDO DE CASO. São Paulo: Editora Atlas, 2009. GOMES, A. D. dos S. et al. CONTRIBUIÇÕES PARA UMA MELHOR IDENTIFICAÇÃO DA DISLEXIA NO AMBIENTE ESCOLAR. Revista da Associação Brasileira de Psicopedagogia, São Paulo, 2009. Disponível em: <http://www.abpp.com.br/artigos/106.htm>. Acesso em: 25 de novembro de 2010. GONÇALVES.A.M.. A criança disléxica e a clínica psicopedagógica. Disponível em http: < www.dislexia.org.br>. Acesso em: 08 de novembro de 2010. LENT, R. CEM BILHÕES DE NEURÔNIOS? Conceitos Fundamentais de Neurociências. (2ª ed.) São Paulo: Editora Atheneu, 2010. 59
  • 60. LOPES, C.K.L.; OLIVEIRA, C.I.O. A DISLEXIA NA ÓTICA DO PSICOPEDAGOGO. Disponível em http:< www.portaldaeducacao.com.br>. Acesso em: 15 de novembro de 2010. MARTINS, V. EDUCAÇÃO ESPECIAL, DISLEXIA E GAFES LINGUÍSTICAS. Disponível em http: < www.educacaoonline.pro.br>. Acesso em: 25 de novembro de 2010. MOOJEN, S. FRANÇA, M. P. . DISLEXIA: VISÃO FONOAUDIOLÓGICA E PSICOPEDAGÓGICA. In: Rotta; Ohweiller; Riesgo. (Org.). Transtornos da Aprendizagem. 1ª ed. Porto Alegre: ARTMED, 2006 SÃO PAULO. Conselho Estadual da Educação do Estado de São Paulo DELIBERAÇÃO CEE Nº 11/96 - São Paulo – 27/12/99 ___________. Conselho Estadual da Educação do Estado de São Paulo DELIBERAÇÃO CEE Nº 11/96 - São Paulo, 27/12/99 ___________. Conselho Estadual da Educação do Estado de São Paulo INDICAÇÃO CEE Nº 5/98, São Paulo, 15/04/98. ___________. Conselho Estadual da Educação do Estado de São Paulo PARECER CEE Nº 451/98 São Paulo, 30/7/98 SHAYWITZ, S. ENTENDENDO A DISLEXIA: Um novo e completo programa para todos os níveis de dificuldades de leitura (V. Figueira, trad.). Porto Alegre: ARTMED, 2006. 60
  • 61. SNOWLING, M, STACKHOUSE et. al. DISLEXIA, FALA E LINGUAGEM – Um manual do profissional. (Magda F. Lopes, trad.) Porto Alegre: ARTMED, 2004. 61
  • 62. ANEXOS 62
  • 63. 63
  • 64. 64
  • 65. 65
  • 66. 66
  • 67. 67
  • 68. 68
  • 69. 69
  • 70. 70
  • 71. 71
  • 72. LEGISLAÇÃO LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL - LDB 9394/96 Art. 12 - Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de: I - elaborar e executar sua Proposta Pedagógica. V - prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento. Art. 23 - A educação básica poderá organizar-se em séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não seriados, com base na idade, na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de organização, sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar. Art. 24 - V, a) avaliação contínua e cumulativa; prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período. Podemos perceber nos textos legais destacados acima, a exigência de flexibilidade e adaptação em relação às ações pedagógicas das unidades de ensino, sempre priorizando a aprendizagem de todos os alunos, respeitadas as diferenças individuais. 72
  • 73. LEI Nº 8.069, DE 13 DE JULHO DE 1990 (ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE). Art. 53, incisos I, II e III “a criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes: I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II – direito de ser respeitado pelos seus educadores; III – direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores”. O Estatuto da Criança e do Adolescente reforça de maneira ampla, a necessidade de a educação pautar-se na formação integral do indivíduo, garantindo seu direito de exercer a cidadania visando contribuir para a igualdade social. DELIBERAÇÃO CEE Nº 11/96 - LEGISLAÇÃO ESTADUAL (SÃO PAULO) Artigo 1º - “o resultado final da avaliação feita pela Escola, de acordo com seu regimento, deve refletir o desempenho global do aluno durante o período letivo, no conjunto dos componentes curriculares cursados, com preponderância dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados obtidos durante o período letivo sobre os da prova final, caso esta 73
  • 74. seja exigida, considerando as características individuais do aluno e indicando sua possibilidade de prosseguimento nos estudos”. A deliberação CEE nº 11 de 1996, preocupa-se em orientar os processos avaliativos, a fim de garantir que esses correspondam às expectativas do alunado e compreenda todo o seu desempenho de forma a valorizar sua evolução e considerar suas dificuldades para oferecer todas as possibilidades de superação. INDICAÇÃO CEE Nº 5/98, DE 15/4/98. - D.O.E. EM 23/9/98. “(...) educação escolar consiste na formação integral e funcional dos educandos, ou seja, na aquisição de capacidades de todo tipo: cognitivas, motoras, afetivas, de autonomia, de equilíbrio pessoal, de inter-relação pessoal e de inserção social. (...) os conteúdos escolares não podem se limitar aos conceitos e sim devem incluir procedimentos, habilidades, estratégias, valores, normas e atitudes. E tudo deve ser assimilado de tal maneira que possa ser utilizado para resolver problemas nos vários contextos. (...) os alunos não aprendem da mesma maneira e nem no mesmo ritmo. O que eles podem aprender em uma determinada fase depende de seu nível de amadurecimento, de seus conhecimentos anteriores, de seu tipo de inteligência, mais verbal, mais lógica ou mais espacial. No cotidiano da sala de 74
  • 75. aula, convivem pelo menos três tipos de alunos que têm “aproveitamento insuficiente”: os imaturos, que precisam de mais tempo para aprender; os que têm dificuldade específica em uma área do conhecimento; e os que, por razões diversas, não se aplicam, não estudam, embora tenham condições. (...) recuperar significa voltar, tentar de novo, adquirir o que perdeu, e não pode ser entendido como um processo unilateral. Se o aluno não aprendeu, o ensino não produziu seus efeitos, não havendo aqui qualquer utilidade em atribuir-se culpa ou responsabilidade a uma das partes envolvidas. Para recobrar algo perdido, é preciso sair à sua procura e o quanto antes melhor: inventar estratégias de busca, refletir sobre as causas, sobre o momento ou circunstâncias em que se deu a perda, pedir ajuda, usar uma lanterna para iluminar melhor. Se a busca se restringir a dar voltas no mesmo lugar, provavelmente não será bem sucedida. (...) O compromisso da Escola não é somente com o ensino, mas principalmente com a aprendizagem. O trabalho só termina quando todos os recursos forem usados para que todos os alunos aprendam. A recuperação deve ser entendida como uma das partes de todo o processo ensino- aprendizagem de uma escola que respeite a diversidade de características e de necessidades de todos os alunos. (...) Dentro de um projeto pedagógico consistente, a recuperação deve ser organizada para atender aos problemas específicos de aprendizagem que alguns alunos apresentam, e isso não ocorre em igual quantidade em todas as 75
  • 76. matérias nem em épocas pré-determinadas no ano letivo. A recuperação da aprendizagem precisa: - ser imediata, assim que for constatada a perda, e contínua; ser dirigida às dificuldades específicas do aluno; abranger não só os conceitos, mas também as habilidades, procedimentos e atitudes. (...) A recuperação paralela deve ser preferencialmente feita pelo próprio professor que viveu com o aluno aquele momento único de construção do conhecimento. Se bem planejada e baseada no conhecimento da dificuldade do aluno, é um recurso útil.” PARECER CEE Nº 451/98 - 30/7/98 - D.O.E. DE 01/08/98, PÁGINAS 18 E 19 SEÇÃO I. “A expressão ‘... rendimento escolar...’, que se encontra no inciso V do artigo 24 da Lei 9.394/96, se refere exclusivamente à aprendizagem cognitiva? Resposta: Não. A legislação sobre avaliação/ verificação do rendimento escolar, sobretudo o referido artigo, não restringe a expressão rendimento escolar exclusivamente à aprendizagem cognitiva. A lei 9.394/96, ao tratar da educação básica, situou-a no quadro de abertura que permitiu, aos que dela fossem cuidar, em seus diferentes níveis e modalidades, a pensasse como um todo e a explicitasse, nos limites do seu texto, em sua proposta pedagógica e em seu regimento. Na elaboração dessa proposta e desse regimento, consubstanciado certamente numa visão de homem, de sociedade e, por conseqüência, numa concepção de educação e 76