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1 Introdução


        O crescente número de adeptos às redes sociais, nos últimos anos, tem sido
bastante significativo para o setor da comunicação. Ter um perfil em sites de
relacionamento nunca foi tão importante e útil para as pessoas se comunicarem e se
atualizarem sobre tudo o que ocorre no mundo ou em sua cidade.

        As facilidades de acesso à Internet móvel cada vez mais concorrida pelas
operadoras de telefonia, o barateamento dos computadores e as novas gerações em 3D 1,
os novos celulares com configurações e aplicativos cada vez mais sofisticados e
modernos, os lugares que disponibilizam internet wi-fi até em praças públicas etc, tudo
isso tem contribuído para a adesão e participação das pessoas cada vez mais ativa dentro
do ciberespaço2.

        Em 2012, o Brasil ultrapassou a Índia no Facebook3, segundo o site SocialBakers,
o Brasil possui 47. 011, 0604 usuários. A rede social criada por Mark Zuckerberg é uma
das mais acessadas na internet e se inova periodicamente beneficiando aos usuários e as
empresas. Devido a esse crescimento os usuários se articularam dentro dessa rede
social para defender diversos assuntos políticos, humanitários e ambientais já que a
grande mídia não oferecia espaço. Dessa forma a televisão e os jornais passaram a
utilizar esses assuntos transformado-os em pautas para suas matérias em noticiários e
programas de televisão.

        Em 2011, o Facebook foi palco de várias manifestações iniciada por usuários
contra o governador do Ceará, Cid Ferreira Gomes, a partir de uma declaração feita em
um evento educacional em Natal contra os professores. Em agosto do mesmo ano foi
deflagrada a greve geral e explodiram diversas campanhas contra Cid Gomes no
Facebook com charges associadas a diversos personagens publicitários e televisivos da
época.


1
  Através da utilização de óculos especiais para essa tecnologia é possível visualizar em três dimensões cenas dos filmes.
2
  [...] É o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. O termo especifica não apenas a infra-
estrutura material da comunicação digital, mas também o universo oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres
humanos que navegam e alimentam esse universo (LÉVI, 1999. p. 17)
3
  Originalmente chamado de Thefacebook, foi um projeto criado por Mark enquanto estudante de Harvard. A ideia era focar em
alunos que estavam saindo do secundário (High School) e aqueles que estavam entrando na faculdade (RECUERO, 2009)
4
  http://www.socialbakers.com/facebook-statistics/brazil
Para discutir essa problemática, será realizada uma análise desses personagens e o
cenário político cearense comparando as mudanças e semelhanças com os primeiros
governadores do estado, o coronelismo, o perfil de Cid Gomes, as campanhas políticas
que fizeram uso das redes sociais e as manifestações populares que utilizaram essas
redes.

         No primeiro capítulo, discutiremos, ainda que brevemente, sobre a Ditadura
Militar (1964-1986) no estado do Ceará e o processo de indicação dos governadores que
exerceram forte influência política no estado e seus principais governadores. Com
referências bibliográficas e de artigos.

         No segundo capítulo entraremos, de fato, nas principais campanhas e charges que
foram compartilhadas durante a greve dos professores no Facebook desde o início em
agosto de 2011. O perfil do governador e o uso feito por ele nessas redes.

         No terceiro e último capítulo serão expostas campanhas políticas que fizeram uso
das mídias digitais com foco nas redes sociais. Iniciaremos com a Primavera Árabe
como uma revolução através do uso nas redes sociais para publicar todo o que ocorria
durante as manifestações. E ainda serão citados o presidente dos EUA Barack Obama, a
presidente Dilma Rousseff e o governador do Ceará Cid Gomes.

         Para a realização desta monografia optamos pela metodologia de pesquisa
bibliográfica que segundo Duarte e Barros (2009) é um conjunto de procedimentos para
identificar, selecionar, localizar e obter documentos de interesses para a realização de
trabalhos acadêmicos e de pesquisa. Lakatos e Marconi (apud DUARTE e BARROS,
2009, p. 54) acrescentam esta definição, dizendo que a pesquisa bibliográfica trata do
levantamento de algumas bibliografias já publicadas, visando colocar o pesquisador em
contato direto com tudo aquilo que foi escrito sobre determinado assunto.
2.2 O governo Cid Gomes

          Cid Ferreira Gomes, irmão de Ciro Gomes, revelou-se um habilidoso político de
bastidores, agregando em seu primeiro mandato várias facções políticas. Formou um
secretariado eminentemente político, com tucanos, petistas e até comunistas (FARIAS,
2009). Porém, tais estratégicas governamentais não se diferenciavam muito do modelo
seguido pelas oligarquias locais.

                                 Os Ferreira Gomes mantiveram praticamente o mesmo modelo econômico
                                 adotado nos 20 anos de Cambeba. Um modelo de isenções fiscais para atrair
                                 indústrias, o que, por si, apenas, como vimos, não muda a realidade social dos
                                 cearenses. A economia do Estado continuou a crescer, mas a riqueza
                                 permaneceu nas mãos de alguns poucos (FARIAS, 2009, pg. 372).


          Durante a campanha para governador, foi atribuída a Cid Gomes a imagem de um
político brilhante e jovem. Com um novo modelo de política para o Ceará, coube a ele a
tarefa de encerrar o reinado de Tasso Jereissati que “desde 1987” governava o estado
beneficiando mais a burguesia do que a massa da classe trabalhadora. Com isso Tasso
decidiu apoiar a campanha de Cid, já que o apoio e a influência de Lula na campanha de
Cid estavam dominando os eleitores do interior com os programas assistencialistas,
atraindo dessa forma mais votos para a campanha e diminuindo a dependência da
população em relação às antigas lideranças locais, várias delas aliadas de Tasso
(FARIAS, 2009, p. 371).

          Para fazer jus ao discurso de que a educação assume uma posição privilegiada em
seu governo, Cid Ferreira Gomes, lança em 2009, o concurso para professor do estado5
ofertando quatro mil vagas para diversas disciplinas com remuneração inicial mensal
bruta de R$ 1.327,66 e carga horária de 40h/a semanais.

          Porém, a demora para que os selecionados no concurso fossem convocados
causou revolta na categoria, que no segundo mandato de Cid Gomes fora cobrado
durante as manifestações ocorridas no ano decorrente. As justificativas do governador
não impediu que os professores apoiassem as cobranças feitas pelos sindicalistas.

          É possível observar em dados no site do Governo do Estado, que no seu primeiro
mandato, Cid Gomes criou mais escolas do que contratou professores. Em relação aos
avanços na educação: foram criadas em 2010 7.431 escolas de ensino fundamental, 850

5
    Concurso professor público do Ceará. http://www.cespe.unb.br/concursos/seducce2009/
escolas de ensino médio, 2.585 escolas de jovens e adultos, 58 escolas de ensino
profissionalizante, 1.481,737 matrículas do ensino fundamental, 386.158 matrículas do
ensino médio, 183 matrículas de jovens e adultos e 51 instituições em 2009 de ensino
superior6.

        Apesar da prefeita de Fortaleza Luizianne Lins apoiar Cid Gomes na primeira e
segunda campanha em 20067, o relacionamento dos dois é marcado por pontos
dissidentes. Em 2011, as obras do Titanzinho, pequena comunidade localizada na
periferia de Fortaleza que despertou o interesse político para ser instalado um estaleiro,
foi uma das mais comentadas nos jornais locais.

        O comportamento e as posições pessoais do governador durante seu segundo
mandato surtiram efeitos e comentários em revistas e jornais nacionais. Azevedo (2011)
destacou uma frase de Cid em seu blog sobre o exame de próstata:

                              Cid Gomes é aquele governador do Ceará (PSB) que transpira masculinidade.
                              A gente olha pra ele e pensa, assim, numa verdadeira bomba testosterônica.
                              Mas sabem como é… O homem é um “Gomes”, e isso tem algumas
                              implicações. Uma delas é falar primeiro e só pensar depois. Leiam o que
                              informa O Globo. A coisa fala por si mesma. A seu lado, ninguém menos do
                              que a presidente da República. Mas não tem jeito. Bateu a memória do macho,
                              e Cid mandou brasa. Volto depois: Por Luiza Damé. O governador do Ceará,
                              Cid Gomes, fez uma declaração polêmica nesta quinta-feira, durante a
                              inauguração da Policlínica Regional de Pacajus e a ampliação do pólo do
                              Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Eusébio - um evento
                              com a participação da presidente Dilma Rousseff e de ministros. Ao falar sobre
                              a importância dos exames para detectar câncer de mama e câncer de próstata, o
                              governador disse que, no caso dos homens, não há aparelho para detectar o
                              tumor e o método “é o velho dedo”. “Para o homem, não inventaram um
                              aparelhinho que possa detectar (o câncer de próstata). É o velho dedo”, disse
                              Cid Gomes, acrescentando em seguida: “O danado é o cara se viciar e querer
                              estar todo dia na porta do urologista”. Câncer de próstata é um problema grave
                              de saúde no Brasil. Uma das dificuldades está relacionada justamente ao
                              preconceito em relação ao exame. Este senhor é governador de estado. Mostra
                              que a língua é mais comprida do que é denso o cérebro. Eu tenho uma hipótese,
                              que alguns talvez achem preconceituosa: tinta de cabelo faz mal pra homem
                              (AZEVEDO, Veja, 2011).


        As muitas declarações do governador surtiram efeitos negativos. Dentre estas,
podemos citar a declaração de Cid sobre o trabalho dos professores na rede pública de
ensino que serviu de combustível para que a manifestação dos professores desse


6
  Ceará em números Governo do Estado do Ceará. Disponível em: http://www.ceara.gov.br/ceara-em-numeros Acesso em 12 de fev
de 2012.
7
   CID Gomes garante mais quatro anos. Diário do nordeste. Fortaleza, 31 de dezembro de 2010. Disponível [online]:
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=909202 Acesso em: 05 de fev de 2012
continuidade e tivesse uma repercussão em todas as mídias do Brasil. Foi durante um
evento sobre experiências com ensino profissionalizantes na cidade de Natal (RN)8.

         Cid Gomes teria falado no evento: “Quem quer dar aula faz isso por gosto e não
pelo salário. Se quer ganhar melhor, pede demissão e vai para o ensino privado. Eles
pagam mais? Não. O corporativismo é uma praga” (Figura 1). A inábel posição do
governador não foi bem aceita pela categoria que, em processo de negociação, resolveu
deflagrar a greve, cujo início se deu no dia cinco de agosto de 2011.




    Figura 1 Diário do Nordeste Caderno 3 (16.11.2011)




         A repercussão foi imediata, vários blogs e sites de Natal publicaram a frase e em
pouco tempo várias pessoas já estavam sabendo da frase provocando diversas
campanhas contra o governador e dificultando as negociações para que a greve
acabasse. Internautas, indignados com a declaração de Cid Gomes, criaram a frase:
“Amor substitui salários. Cid, doe o seu salário e trabalhe por amor” (Figura 2)
aproveitando a publicidade polêmica do colégio Ari de Sá9 e compartilharam nas redes
sociais.




8
  SUPOSTA frase de Cid Gomes causa polêmica com professores. Revista Nordeste. João Pessoa, 23 de agosto de 2011.
Disponível                                                                                                     [online]:
http://www.revistanordeste.com.br/noticias/cear%E3%A1/suposta+frase+cid+gomes+causa+polemica+com+professores+-1517
Acesso em: 10 de fev. de 2012.

9
 A campanha era para divulgar que o colégio iria utilizar tablets em sala de aula. Outdoors foram espalhados pela cidade com a
frase: “Tablets substitui livros”.
Figura 2 - Outdoor com a frase em alusão da campanha do colégio Ari de Sá




       O governador que aderiu a rede social Twitter (20 de junho de 2009) durante a sua
campanha eleitoral como reforço em sua reeleição, em nenhum momento ele se
defendeu ou se posicionou sobre a violência contra os professores e muito menos à
campanha que estava sendo compartilhada nas redes sociais.

       Na Assembleia Legislativa o deputado Roberto Mesquita (PV 10) chegou a fazer
um apelo ao governado para que ele se retratasse junto aos professores.

                           “Sua excelência poderia dar o exemplo. “Governador, para o senhor ser
                           chamado de Dr. Cid, influíram na sua formação inicial, lá na cidade de Sobral,
                           professores que até se orgulham da sua trajetória de sucesso, e lhe citam como
                           exemplo.Hoje, esses mestres estão entristecidos e envergonhados com suas
                           palavras carregadas de ingratidão e desprezo” (DIÁRIO DO NORDESTE,
                           caderno POLÍTICA, 01/09/2011)11.
       A oposição aproveitou para destacar conforme publicado no Diário Oficial do
Estado em fevereiro de 2010, que o Legislativo teria condições de pagar o Piso
Nacional aos professores já que o governo do Estado estaria pagando a uma empresa de
táxi aéreo cerca de R$ 5 milhões por ano em um jatinho particular para o Cid Gomes,
totalizando um custo mensal de R$ 430 mil.


10
   Partido Verde
11
   DEPUTADO cobra retratação de Cid. Diário do Nordeste. Fortaleza, 01 de setembro de 2011. Disponível [online]:
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1035319 Acesso em: 10 de fev de 2012.
De acordo com a Lei nº 11.738 de 16 de julho de 2008 referente ao Piso Salarial
Profissional Nacional determina que:

                                Art. 2o O piso salarial profissional nacional para os profissionais do magistério
                                público da educação básica será de R$ 950,00 (novecentos e cinqüenta reais)
                                mensais, para a formação em nível médio, na modalidade Normal, prevista
                                no art. 62 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as
                                diretrizes e bases da educação nacional.


          Durantes as manifestações em 2011 a legislação estabelecia que o mínimo para
professores da educação básica pública por 40 horas semanais, exceto gratificações,
fosse de R$ 1.187,00. A lei assegura, ainda, que os docentes passem 33% desse tempo
fora da sala para dar assistência aos estudantes e preparar as aulas. A regra visa
melhorar as condições de trabalho dos docentes e atrair jovens mais bem preparados
para o magistério. O Ministério da Educação (MEC) definiu em R$ 1.451 o valor do
piso nacional do magistério para 2012, um aumento de 22,22% em relação a 201112.
Conforme determina a lei que criou o piso, o reajuste foi calculado com base no
crescimento do valor mínimo por aluno do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento
da Educação Básica (Fundeb) no mesmo período. Municípios e estados que não haviam
pago o valor estipulado iriam pagar retroativo a janeiro (DINIZ, 2012³).

          Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Ceará ficaram contra o
que a lei determina e pediram a aprovação de um projeto de lei que altere o critério de
correção do piso, que passaria a ser feito com base no Índice Nacional de Preços ao
Consumidor (INPC), que mede a inflação13. Os sindicalistas pressionaram os governos
para que o piso nacional fosse aprovado para evitar a greve, mas os estados continuam
evitando para não pagar o que a lei pede. Cid Gomes foi o único governador do
norte/nordeste que assinou o projeto.

          E como as negociações não tiveram avanços decidiram, após uma reunião da
categoria no Ginásio Paulo Sarassati, começar uma greve geral por tempo
indeterminado e que ganhou força depois da reunião com Cid Gomes. Os professores
reivindicaram a implementação do piso nacional do magistério, conforme lei e sua

12
     PISO salarial profissional nacional para os profissionais do magistério público da educação básica. Disponível [online]:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11738.htm Acesso em: 10 de fevereiro de 2012.

13
     ESTADOS não cumprem a lei do piso nacional para professor. Folha.com. São Paulo, 16 de novembro de 2011. Disponível
[online]: http://www1.folha.uol.com.br/saber/1007195-estados-nao-cumprem-lei-do-piso-nacional-para-professor.shtml Acesso em:
14 de fevereiro de 2012.
repercussão na carreira; reserva de pelo menos um 1/3 da jornada de trabalho para
atividades; readequação do Plano de Carreira; valorização de todos os servidores da
educação; respeito aos direitos trabalhistas e previdenciários dos professores
temporários; concurso Público; mais recursos para a educação; e, fim da criminalização
do direito de greve (DINIZ, 2011¹).

     Uma semana antes da greve Cid Gomes ofereceu uma proposta em reunião com
os representantes dos professores. A proposta era elevar em 45% a remuneração
(base+regência) do professor em início de carreira com nível superior, em relação a
2010, passando de R$ 1.461,50 para R$ 2.000,00. Já para os professores temporários, a
proposta de Cid Gomes combinada à lei que recentemente equiparou a remuneração ao
nível 13, representando um incremento de até 60%. O governo defendeu que com esta
medida, o Ceará saltarial do 23º para 15º maior salário entre os Estados do Brasil
(DINIZ, 2011²).

     No dia 19 de agosto de 2011, foi realizada uma manifestação com professores e
alunos da rede pública estadual em frente ao Palácio da Abolição em uma tentativa para
reabrir o canal de negociação sobre o Plano de Cargos e Salários elaborado por Cid
Gomes.

     Na Praça da Imprensa, os professores deram continuidade as manifestações e
promoveram um ato público no dia 25 de agosto com uma passeata até a Assembleia
Legislativa de Fortaleza. O presidente da Assembleia recebeu os professores para iniciar
as negociações entre a categoria e o Estado.

     No dia seguinte os professores foram surpreendidos com uma intimação do
Tribunal de Justiça do Ceará (TJ/CE) considerando ilegal a greve e determina a
suspensão. Rebouças (2012) destaca que de 2009 pra cá todas as paralisações realizadas
no Estado foram decretadas ilegais pela Justiça e que em lugar nenhum do mundo o
Judiciário interfere dessa forma. Essa interferência acontece quando a categoria decide
interromper o trabalho. O Governo, indignado, recorre à Justiça para tentar fazer os
funcionários voltarem ás atividades. Juízes e desembargadores acatam o pedido, tornam
a greve ilegal e impõem multa diária em caso de descumprimento dos sindicatos.

     O desembargador Emanuel Leite Albuquerque, do Tribunal de Justiça do Estado
do Ceará, determinou que os professores deveriam retornar às atividades no prazo de 48
horas e o sindicato sob pena de multa no valor de R$ 10 mil por dia em caso de
descumprimento. Os magistrados tem como argumento de que as greves apresentam
aspectos abusivos.

                                   A chamada Lei da Greve (7.783/89), que regulamenta o movimento no setor
                                   privado e tem sido utilizada como parâmetro para o setor público, impõe
                                   limites à ferramenta trabalhista, como a proibição da interrupção de serviços
                                   considerados essenciais e o estabelecimento de um percentual mínimo de
                                   funcionários em atividade – número que varia de acordo com a categoria.
                                   Quando alguma dessas normas é desobedecida, a greve é ilegal
                                   (REBOUÇAS, 2012, p.35).


           A Lei tem pontos poucos objetivos e fazem com que o Estado através da Justiça
interfira no direito de greve dos funcionários públicos. O Estado precisa ter menos
participação e mais amadurecimentos de quem está realmente envolvido no movimento
sindical. Seria necessária uma reforma na Lei da Greve, mas nessa discussão o Ceará,
tem sido referência nacional, colocando-se como um dos três estados do País a terem na
OAB um grupo exclusivo para tratar desse e de outros temas relacionados ao
sindicalismo (REBOUÇAS, 2012).

           Em novembro de 2011 o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB/SP14) entregou o
Projeto de Lei nº 710/11 para regulamentar o direito de greve do servidor público.

                                   Começou a tramitar, em 2012, no Congresso Nacional, o Projeto de Lei
                                   710/11, de autoria do senador Aloysio Nunes. A proposta prevê que, em caso
                                   de paralisação, um percentual de 50% a 80% dos servidores permaneça
                                   trabalhando, dependendo do tipo de atividade. Atualmente, as paralisações no
                                   serviço público são julgadas a partir de regras criadas especificamente para o
                                   setor privado. O projeto de Nunes abrange os servidores da administração
                                   pública direta, autarquia e fundacional, de todos os poderes (Executivo,
                                   Legislativo e Judiciário). De acordo com a matéria, os governos terão prazo de
                                   30 dias para se pronunciar sobre as reivindicações apresentadas pela categoria,
                                   apresentando proposta de conciliação ou explicando o motivo de não atendê-
                                   las. A proposta também define como serviços essenciais aqueles que afetam o
                                   funcionamento dos três poderes e a vida, a saúde e a segurança do cidadão. São
                                   mencionados, especialmente, a assistência médico-hospitalar, a distribuição de
                                   equipamentos, o abastecimento e o tratamento de água, recolhimento de lixo, o
                                   pagamento de aposentadorias, a defesa civil, o controle de tráfego, o transporte
                                   coletivo e a produção e a distribuição de energia, gás e combustíveis
                                   (REBOUÇAS, 2012 p. 35).



           Mesmo intimados pela justiça os professores continuaram com a greve após
assembleia com o sindicato. Reunidos com pais e alunos da rede estadual de ensino, a
categoria realizou mais uma manifestação no dia 1 de setembro de 2011 na Praça da
Imprensa em direção à Assembleia Legislativa para tentar uma mediação entre o


14
     Partido Socialista Democrático Brasileiro de São Paulo
presidente da casa, Roberto Cláudio (PSB15) e o governador Cid Gomes
(FONTENELLE, 2011).

           No dia anterior, o projeto do governo que cria uma nova tabela vencimental para
os profissionais de nível médio do grupo ocupacional magistério da educação básica foi
aprovado com menos de 24 horas após ter sido lido no plenário.

                                     Apenas quatro deputados, Augustinho Moreira (PV), Roberto Mesquita (PV),
                                     Heitor Férrer (PDT) e Eliane Novais (PSB), votaram contra o projeto do
                                     Executivo, que desagradou os professores. A matéria começou a tramitar na
                                     Assembleia quarta-feira, mesmo dia em que foi aprovada a urgência,
                                     diminuindo o tempo de tramitação do projeto. Ontem, em reunião conjunta das
                                     comissões, a proposta foi apreciada e votada, seguindo, então, para votação no
                                     plenário. Do lado de fora, professores gritavam pedindo para que a mensagem
                                     não fosse votada (DIÁRIO DO NORDESTE 30.09.2011)16.


           O que os professores não esperam era a repercussão que essa manifestação fosse
causar após a chegada na Assembleia Legislativa. Os manifestantes foram recebidos
pelo Batalhão de Choque da Polícia Militar, acionados pela Assembleia por motivo de
prevenção ao patrimônio público e segurança dos deputados. O clima ficou tenso e a
presença do Batalhão de Choque incomodou os manifestantes, que reagiram
intensificando a barulheira. A frase “Educação já!” chegou a ser pichada com tinta
vermelha dentro da Assembleia, o que teria causado a revolta do presidente da Casa,
Roberto Cláudio (PSB) (O POVO 02.09.2011).

           Lima (2011) ressalta que um dos objetivos dessa manifestação era para que fosse
assinado o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), garantindo assim o Plano de
Cargos e Carreiras (PCC) tendo como base a Lei 12/066, de 1993; a implantação do
Piso Nacional e 1/3 de hora atividade. Lembra também das conquistas alcançadas pela
categoria como a suspensão da tabela da carreira do magistério, elaborada pelo governo
do Estado, que para os professores “aniquilava a carreira da categoria”.

           Os professores ficaram receosos em continuar com a greve que se continuasse
além de R$ 10 mil por dia, seria feito o corte do cartão de ponto dos professores e após
30 dias fora da sala de aula seriam processados por abandono de emprego. Dessa forma
o temor e a desarticulação do sindicato APEOC contribuíram para que os professores
optassem pelo término da greve (ALMEIDA, 2011).


15
     Partido Socialista Brasileiro
16
     AL aprova mensagem apesar dos protestos. Diário do nordeste, Fortaleza, 30 de setembro de 2011. Caderno Política, p, A-3.
A greve terminou no dia 5 de novembro de 2011 mesmo sem o governo ter
colocado em prática o que a lei dispunha para a categoria. Todas as acusações contra
Cid Gomes tomaram repercussão em noticiários locais e nacionais, principalmente, com
o ocorrido na Assembleia Legislativa no final de setembro em que professores foram
atacados por policiais que faziam a segurança do local. Vídeos e fotos circularam
rapidamente pela internet, mas foi no Facebook que diversas charges tiveram forte
apelação e levantou diversas acusações contra Cid Gomes.



3 As charges de Cid Gomes no Facebook

        A rede social Facebook mostrou, em 2011, um crescimento bastante significativo
de novos usuários no Brasil. O número de usuários passou de 8,8 milhões no final de
2010 para 35,2 milhões em dezembro de 2011, um crescimento de 298,5%17. Nessa
pesquisa usaremos a rede social Facebook como ferramenta de mobilização político
social da sociedade.

        O ano de 2011 foi marcado por várias mobilizações sociais através dos sites de
relacionamentos. As facilidades de acesso à Internet e ao barateamento dos celulares
com câmeras de vídeo em alta definição e fotos de boa resolução serviram como armas
contra diversas discussões políticas que estavam incomodando determinados grupos de
civis de todos os cantos do mundo.

        No Estado do Ceará as imagens dos professores sendo agredidos dentro da
Assembleia Legislativa foram compartilhadas pelo Facebook e teve grande repercussão.
Quem não estava acompanhando pela imprensa pôde tomar conhecimento através das
redes sociais sobre o que estava ocorrendo. Portanto, as redes sociais contribuíram para
que a greve e as agressões com os professores tivessem mais repercussão.

        No Facebook essas charges foram compartilhadas pelos usuários, originando a
associação aos mais diversos personagens da publicidade na época da campanha assim
como o resgate da figura do coronel e um dos mais compartilhados Adolf Hittler18.


17
   Revista Época. Disponível em : http://epocanegocios.globo.com/Revista/Common/0,,EMI287869-16355,00-
BRASIL+E+O+PAIS+COM+MAIOR+CRESCIMENTO+NO+FACEBOOK+EM.html Acesso em 12 de abril de 2012
18
   Adolf Hitler era austríaco. Sua cidade natal era Braunau, onde o pai trabalhava como funcionário da alfândega. Pelos padrões
daquela época, Hitler teve oportunidades de educação acima da média. Sua ambição era belas-artes quando chegou a Viena aos 16
anos de idade. Após anos como pintor de pouca expressão, mudou-se para Munique, onde, no inicio da guerra, alistou-se no exército
(BLAINEY, 2008).
Essas charges servem também para demonstrar o modelo de governo ao qual
estamos fazendo parte. E uma análise do que mudou ao longo dos anos no Ceará após
cada governador que tentava se desvincular da imagem de coronel mesmo exercendo
ações e tomando posturas que lembravam o sistema antigo de governo.



3.2 Pônei Maldito

     A empresa de carros japonesa Nissan no dia 29 de julho de 2011, lançou uma
propaganda utilizando animais coloridos e um jingle bem marcante. Era o comercial dos
Pôneis Malditos, que teve como um dos canais de comunicação as redes sociais para ser
divulgada.

                        O comercial consiste numa analogia, na qual, ao invés de cavalos o carro da
                        concorrência possuiria a potência de pôneis. Os pôneis em questão são animais
                        fofinhos e coloridos, aparentemente retirados do desenho animado infantil My
                        Little Pônei. Os animaizinhos cantam uma música exclusiva e exaustiva. A
                        música é cantada por vozes infantis, tendo com refrão: “Pôneis Malditos/
                        Pôneis Malditos/ lálálálálá...” [...] Segundo um levantamento realizado pela
                        montadora e divulgado no portal de notícias UOL, na página do Portal
                        Imprensa, até a tarde do dia 04 de agosto, a campanha já havia sido comentada
                        em 640 blogs e citada em 80 fóruns. Sendo que o vídeo oficial contava com
                        mais de 6 milhões de visualizações no Youtube. Ainda de acordo com a
                        Exame.com foram criadas 500 comunidades no Orkut, 8 perfis no Twitter,
                        somando 34 mil seguidores, e mil vídeos foram reproduzidos no Youtube
                        (RICARDO, 2011, p. 2).


       Na Figura 3, Cid Gomes foi comparado ao Pônei Maldito da campanha de carros
da empresa Nissan. Os internautas não perderam tempo e criaram também um jingle
(Figura 4) para Cid que estava contra o Plano de Cargos e Carreira (PCC) dos
professores.




   Figura 3 Cid Maldito em alusão a Campanha do comercial Pônei Maldito da Nissan
Figura 4 Adaptação da internauta Alice Teixeira para Cid Gomes com o jingle Pônei Maldito




3.3 Valéria Vasques – Zorra Total

        O bordão “Ai como eu tô bandida!” da personagem Valéria Vasques,
interpretado pelo ator Rodrigo Sant’Anna do programa humorístico Zorra Total, da
Rede Globo, é um travesti que não gosta de ser chamado de Valdemar, seu nome de
nascimento, por sua colega Janete dentro do metrô do Zorra Brazil. Tornou-se
conhecido nacionalmente e com a utilização das redes sociais ficou mais conhecido e
polêmico. Cid Gomes teve sua imagem associada ao bordão (Figura 5).




Figura 5 – Com o bordão de Valéria Vasques do Zorra Total
3.4 Todo Mundo Odeia o Chris
           O seriado americano “Todo mundo odeia o Chris” (Everybody rates Chris), que
em Fortaleza exibido às tardes de segunda a sexta no canal 8 da TV Cidade, conta a
história de um garoto que tem mania de perseguição com amigos e familiares, imagina
várias situações do seu dia a dia na escola sem que muita delas não acontecem. Cid
Gomes foi comparado com Chris sem querer ceder o aumento dos professores (Figura
6). Nessa charge Cid Gomes está com uma bolsa cheia de dinheiro simulando seu
salário e o balão está como se fosse de pensamento com a frase “Meu salário não...”




Figura 6 Julius (pai), Rochelle (mãe ), Greg (amigo de infância), Drew (irmão mais velho), Tonya (irmã mais
nova) e Cid Gomes como personagem principal (Chris) do seriado Todo mundo odeia Chris




3.5 O encantador do PIB menos da educação
             Durante seu segundo mandado como governador, Cid Gomes contribuiu para o
aumento do Produto Interno Bruto (PIB)19 no Estado.

                                   A economia cearense, medida pelo Produto Interno Bruto (PIB) a preços de
                                   mercado, cresceu 4,3% em 2011, isso em relação a 2010, e superou o
                                   desempenho da economia brasileira no ano passado, que foi de 2,7%. Com o
                                   resultado, o PIB do Ceará totalizou, em 2011, um valor de R$ 84 bilhões,
                                   resultando em uma renda per capita de R$ 9.865,00. Os números foram
                                   divulgados nesta terça-feira (20) pela Secretaria de Planejamento e Gestão
                                   (Seplag) do Governo do Estado e pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia
                                   Econômica do Ceará (Ipece) (DINIZ, 2012, Polítika com K).

19
     O Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país.
Porém, o investimento na educação e a desvalorização dos professores não
 estavam agradando a categoria. O último e único concurso realizado fora em 2009 e
 mesmo assim houve uma demora para que todos os candidatos fossem convocados.
 Mais motivos de protestos para os professores que lutam também por 10% do PIB para
 ser investido na educação, mas o governador foi totalmente irrevogável em suas
 propostas sem mostrar flexibilidade com a categoria.




 Figura 7 - Cid Gomes o encantador do Produto Interno Bruto (PIB) menos da educação




Figura 8 - Cid de ouvidos tapados para as reinvidicações dos professores




 3.6 Coronel Cid Gomes
         A Figura 7 faz uma referência ao modelo de governo predominante no Estado
 durante a gestão dos coronéis Virgílio Távora, Marcos Cals e Adauto Bezerra até a
geração cambeba de Tasso e Ciro. Cid teve essa associação devido ao modo de governar
o estado e por diversas burocratizações no estado. Ele foi culpado por autorizar o vice-
presidente da Assembleia Legislativa a acionar o Batalhão de choque no dia da passeata
que terminou na Assembleia e que teve professores agredidos. Cid Gomes nesse
episódio estava no exterior.




Figura 9 - Coronel Cid Gomes




3.7 Cid O Ditador
      Vários personagens foram atribuídos ao governador Cid e uma das comparações
mais fortes que circularam no Facebook fora a de Adolf Hitler (Figura 8). “Uma pessoa
com uma imagem negativa, um ditador cínico e agressor, culpado do genocídio, doente
mental, criminoso social e um dotado orador (PAIS, 1999)”. Em passeatas, no período
da greve, estudantes e professores seguram cartazes comparando Cid a um ditador.
Figura 10 Cid Gomes comparado a um Ditador semelhante a Hitler




Figura 11 Fora Cid! E Cumpra a Lei, respeite o Piso




        O modelo de governo praticado por Cid Gomes incomodava diversas classes de
trabalhadores assim como os professores do Estado. E devido aos diversos mandados,
muitos deles contra as manifestações, ele ficava cada vez mais parecido com o tipo de
governo desenvolvido por Hitler.

                               No governo de Hitler a juventude e os trabalhadores foram enquadrados em
                               organizações controladas pelos nazistas, ao mesmo tempo em que se fundavam
                               corporações de patrões e empregados, sendo a greve proibida. A educação
                               voltou-se basicamente para os esportes. Realizaram-se grandes obras publicas,
                               visando a dar o “pleno emprego” prometido (AQUINO et al, 2003, pg 419).


        Usuários com perfis no Facebook participaram através de comentários em apoio à
greve dos professores e não pouparam acusações sobre as atitudes e o comportamento
de Cid Gomes. Além de comentar as charges, os usuários fizeram comparações com
outros personagens da história mundial como foi ocaso de Luiz XIV 20 (Figura 12).
Reacendendo a indignação dos fortalezenses perante o modo de governo exercido por
Cid.


20
  Luís XIV foi o homem que batizou o papa, pois foi um religioso muito convicto que se tornou rei com a morte do pai. Conhecido
também como o rei do sol.
Figura 12 - Comentários no Facebook




      Cid Gomes, que tem um perfil no Twitter atualizado, ás vezes por ele, geralmente
para anunciar alguma obra do Governo do Estado, em nenhum momento fez uso do
perfil para se defender ou até mesmo explicar-se diante das acusações de ter sido o
responsável pela agressão aos professores. A figura 13 mostra o Twitter do governador
que, no decorrer de dois meses da greve (de agosto à outubro de 2011), Cid evitou usar
o microblog.
Figura 13 Twitter oficial do governador Cid Gomes




       No Facebook, que não é oficial do governador, foi também evitado qualquer
defesa ou esclarecimento, reforçando ainda mais as acusações dos usuários em relação à
imagem dele. Os perfis dessa rede social foram mais pertinentes e visíveis devido ao
fato das pessoas que publicavam as fotos irem marcando outras pessoas e
compartilhando com amigos e familiares de cada rede pessoal.

        O fato do Facebook do governador não ser oficial e do microblog Twitter ser
atualizado e oficial do governador, todas as postagens feitas por ele tem um tom pessoal
ao invés de um discurso formal já que o backgroud (imagem de fundo) do perfil no
Twitter tem uma logomarca com o nome Governo do Estado e o brasão. Esse discurso
talvez tenha como objetivo uma aproximação com seus eleitores ou não.

        Charaudeau discorre sobre a mídia e a política quando se misturam:
(...) O que caracteriza de modo especifico a sociedade midiatizada e
                                precisamente o fato de ela embaralhar as cartas ao confundir os espaços e que,
                                do mesmo modo, toda ação política encontra-se sob a dependência da
                                midiatização da opinião, a ponto de ela mesma ter de entrar no jogo se quiser
                                obter algum resultado. (Miege apud Charaudeau, 2008, p. 26).


        Fortaleza não foi a primeira e nem será a última a utilizar as redes sociais para
protestar contra uma autoridade pública. Temos como exemplo a Primavera Árabe21 que
se destacou em 2011 com a utilização dessas redes.

                                Esses movimentos todos – que usaram canais como Youtube, Twitter e
                                Facebook para se articular e ganhar massa – mostram uma nova forma de
                                ativismo. Ele não se baseia no instinto de combate e rebeldia das passeatas
                                contra a Ditadura ou a Guerra do Vietnã, nos anos 60, mas em se sentir parte de
                                um todo. A internet e as redes sociais fortaleceram nossa necessidade de
                                compartilhar idéias e colaborar uns com os outros[...] Essa vontade de se unir
                                para defender ideais vale não apenas para causas de peso, como derrubar
                                presidentes ou protestar contra a selvageria do capitalismo. Por trás dessas
                                grandes bandeiras, há milhares de outras, menores mais segmentadas, até
                                mesmo pessoais – como fazer uma viagem, defender as bicicletas como meio
                                de transporte ou conseguir dinheiro para uma instituição – que também
                                encontram seus seguidores. Mesmo que não sejam milhares, eles podem ser
                                suficientes para uma transformação (GALILEU, 2012, pg. 38).




        A trajetória política no Ceará sempre foi muito passiva e pouco atuante como
movimento sindical. A cada quatro anos entra um novo governador no poder e as
mudanças ocorrem em passos lentos. Em 2011 não poderia ser diferente, com o uso
dessas plataformas digitais os usuários deixaram essa passividade de lado e
promoveram diversas manifestações contra Cid Gomes como o Fora Cid Gomes
Ditador22, Fora – Cid Ferreira Gomes23, Um milhão de vozes contra Cid Gomes!24 E
Fora Cid Hitler Gomes25.

        A utilização do humor em relação aos personagens associados a Cid Gomes
contribuiu para popularização da manifestação dentro do Facebook. O humor que todo
cearense tem e pelo fato de rir da própria desgraça. Esse humor pode-se comparar
também à Charge e Caricatura26 devido ao uso de imagens com uma mensagem política.


21
   Movimento político-social que teve a utilização das redes sociais para protestar contra os presidentes que governavam por vários
anos países do Oriente Médio como Síria, Egito, Iêmen etc.
22
   http://www.facebook.com/pages/FORA-CID-GOMES-DITADOR/154464787980299
23
   http://www.facebook.com/pages/Fora-Cid-Ferreira-Gomes/184847798280027
24
   http://www.facebook.com/groups/1milhaodevozes/
25
   http://www.facebook.com/groups/279641802055324/
26
   Usualmente empregada no sentido de gênero, a caricatura envolve e constitui o elemento formal da charge. O significado que este
termo adquiriu no Brasil acabou incorporando o sinônimo francês da caricatura, numa ligação íntima com a imprensa, como uma
sátira gráfica a um acontecimento político. Enquanto manifestação comunicativa baseada na condensação de idéias, a sua
compreensão requer um entendimento contemporâneo ao momento exposto na relação dos personagens (NOGUEIRA, Intercom
2003).
Porém, Nogueira (2003) destaca a diferença da charge no contexto prático:

                      A charge, entretanto, se desprende da função de apenas ilustrar o cotidiano [...]
                      Com uma síntese dos acontecimentos filtrados pelo olhar de seus atentos
                      produtores e a utilização de recursos visuais e linguisticos, a charge transforma
                      a intenção artística, nem sempre objetivando o riso - embora o tenha como
                      atrativo - em uma prática política, como uma forma de resistência aos
                      acontecimentos. O desgaste das intenções de sua temática, centrada na
                      atualidade, é inevitável, entretanto, dentro de um contexto histórico, poderá por
                      diversas vezes repetir-se, ou seja, permanecer atual enquanto crítica ao
                      stablishment econômico ou social de um país.



     E para Miani (2001, p. 2) apud Cagnin, caricatura seria:

                      [...] um retrato, uma representação humorística da cara, em que se ressaltam os
                      traços característicos, sobretudo os defeitos faciais, para provocar o riso,
                      quando não ferir com a sátira mordaz e o deboche. (...) Certamente a cara, o
                      rosto, presente em quase todos os desenhos de humor, por ser a figura humana
                      extremamente familiar.


     Miani (2001, p. 3) explica a diferença entre o que se pensa sobre a origem do
nome caricatura.

                      No sentido de desfazer essa associação grosseira, lembramos que a palavra
                      “caricatura” não vem de cara e sim de “caricare” que, em italiano, quer dizer a
                      ação material de “carregar”, pôr, ou impor um grande peso sobre alguma coisa,
                      pessoa, ou animal; significa também exagerar, aumentar de coisas e atos além
                      da medida. Por esta interpretação, a caricatura seria então aquela imagem em
                      que se "carregam" os traços mais evidentes e destacados de um fato ou pessoa,
                      principalmente os seus defeitos, com a finalidade de levar ao riso (Miani, 2001,
                      pg. 03).


     Portanto, para Miani (2001, pg.03), a charge é “herdeira da caricatura” mesmo
com outro nome ela continua com seu significado e função. Utilizando-se do humor e
esquecida quando o acontecimento a que se refere se apaga de nossa memória
individual ou social, porém, ela permanece viva enquanto memória histórica.

     Agostinho (1993) defende que existe uma função social atribuída à charge pois,
“ela se constitui realidade inquestionável no universo da comunicação, dentro do qual
não pretende apenas distrair, mas, ao contrário, alertar, denunciar, coibir e levar à
reflexão”.

     Ela ainda “dirige-se à ação do indivíduo dentro do social e, como conseqüência,
necessita de vários elementos gráficos para se materializar, tais como: cenário, espaço,
perspectiva, movimento, onomatopéias e, às vezes, texto verbal para completar a ação
ou para dar voz aos personagens (AGOSTINHO, 1993, p. 228)”.
Além da utilização da charge a campanha dos internautas a favor da greve dos
professores estaduais no Facebook fez parte do que é conhecido como Ciberativismo,
que é a utilização do ciberespaço para realizar manifestações com o uso das novas
tecnologias e redes sociais. Um espaço onde há democracia e todos fala sobre o que
quer sobre determinado assunto.

                      Existe um resgate de pertencimento dentro dessas redes; mais pessoas têm voz
                      para falar de assuntos que lhes interessam com maior ou menor conhecimento
                      de causa, sem hierarquia e com pluralidade de olhares. Uma vez parte de um
                      grupo, mais forte e mais ligada a uma determinada causa a pessoa fica. Se tudo
                      começa com pequenos passos como mudanças no avatar, tweets e assinaturas
                      de petições online, alguns seguem adiante, participam de discussões,
                      aprofundam no tema e promovem ações ainda maiores e chegam a incluir essas
                      lutas no seu dia‐a‐dia (BARRETO, 2011, p.163 para entender as mídias
                      sociais).



     De acordo com Ugarte (2008), ciberativismo

                      pode ser definido como toda estratégica que persegue a mudança da agenda
                      pública, a inclusão de um novo tema na ordem do dia da grande discussão
                      social, mediante a difusão de uma determinada mensagem e sua propagação
                      através do “boca a boa” multiplicada pelos meios de comunicação e publicação
                      eletrônico pessoal. O ciberativismo não é uma técnica, mas uma estratégica.




     É a identificação em uma causa que irá mobilizar outras pessoas e assim formar
grupos em torno da defesa dessa causa. Foi assim que se deu inicio a Primavera Árabe e
a campanha no Facebook para o governador do estado Cid Gomes. Não queremos aqui
comparar, mas sim encontrar identidades em torno dessas manifestações que teve como
cenário o ciberespaço. Assuntos políticos discutidos em rede por jovens que se
importam pelo crescimento e melhores condições em seu país ou estado.

                      Apesar dos desafios postos, a web desempenha um papel significativo para os
                      grupos organizados É possível ser dito que a Internet se constitui uma
                      ferramenta imprescindível para as lutas sociais contemporâneas, já que facilita
                      as atividades (em termos de tempo e custo), pode unir e mobilizar pessoas e
                      entidades de diferentes localidades em prol de uma causa local ou
                      transnacional, bem como quebrar o monopólio da emissão e divulgar
                      informações “alternativas” sobre qualquer assunto (RIGITANO 2003, p. 02).




     Ou seja, a internet passou a ser uma ferramenta para reivindicar e mudar a
realidade de grupos que não tinham espaço na grande mídia e que conseguiram através
do conhecimento em diversas plataformas, como as redes sociais, a tornar favorável
essa ferramenta para publicar suas visões e realidades. A política foi o principal motivo
para que esses atores dessem inicio aos diversos movimentos ocorridos em 2011.
Apenas no Brasil, em 2011, foram 23 greves com duração média de 39,2 dias, nos dois
anos anteriores, a duração e o número de paralisações haviam recuado (Rebouças, 2012,
p.33).

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  • 1. 1 Introdução O crescente número de adeptos às redes sociais, nos últimos anos, tem sido bastante significativo para o setor da comunicação. Ter um perfil em sites de relacionamento nunca foi tão importante e útil para as pessoas se comunicarem e se atualizarem sobre tudo o que ocorre no mundo ou em sua cidade. As facilidades de acesso à Internet móvel cada vez mais concorrida pelas operadoras de telefonia, o barateamento dos computadores e as novas gerações em 3D 1, os novos celulares com configurações e aplicativos cada vez mais sofisticados e modernos, os lugares que disponibilizam internet wi-fi até em praças públicas etc, tudo isso tem contribuído para a adesão e participação das pessoas cada vez mais ativa dentro do ciberespaço2. Em 2012, o Brasil ultrapassou a Índia no Facebook3, segundo o site SocialBakers, o Brasil possui 47. 011, 0604 usuários. A rede social criada por Mark Zuckerberg é uma das mais acessadas na internet e se inova periodicamente beneficiando aos usuários e as empresas. Devido a esse crescimento os usuários se articularam dentro dessa rede social para defender diversos assuntos políticos, humanitários e ambientais já que a grande mídia não oferecia espaço. Dessa forma a televisão e os jornais passaram a utilizar esses assuntos transformado-os em pautas para suas matérias em noticiários e programas de televisão. Em 2011, o Facebook foi palco de várias manifestações iniciada por usuários contra o governador do Ceará, Cid Ferreira Gomes, a partir de uma declaração feita em um evento educacional em Natal contra os professores. Em agosto do mesmo ano foi deflagrada a greve geral e explodiram diversas campanhas contra Cid Gomes no Facebook com charges associadas a diversos personagens publicitários e televisivos da época. 1 Através da utilização de óculos especiais para essa tecnologia é possível visualizar em três dimensões cenas dos filmes. 2 [...] É o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. O termo especifica não apenas a infra- estrutura material da comunicação digital, mas também o universo oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo (LÉVI, 1999. p. 17) 3 Originalmente chamado de Thefacebook, foi um projeto criado por Mark enquanto estudante de Harvard. A ideia era focar em alunos que estavam saindo do secundário (High School) e aqueles que estavam entrando na faculdade (RECUERO, 2009) 4 http://www.socialbakers.com/facebook-statistics/brazil
  • 2. Para discutir essa problemática, será realizada uma análise desses personagens e o cenário político cearense comparando as mudanças e semelhanças com os primeiros governadores do estado, o coronelismo, o perfil de Cid Gomes, as campanhas políticas que fizeram uso das redes sociais e as manifestações populares que utilizaram essas redes. No primeiro capítulo, discutiremos, ainda que brevemente, sobre a Ditadura Militar (1964-1986) no estado do Ceará e o processo de indicação dos governadores que exerceram forte influência política no estado e seus principais governadores. Com referências bibliográficas e de artigos. No segundo capítulo entraremos, de fato, nas principais campanhas e charges que foram compartilhadas durante a greve dos professores no Facebook desde o início em agosto de 2011. O perfil do governador e o uso feito por ele nessas redes. No terceiro e último capítulo serão expostas campanhas políticas que fizeram uso das mídias digitais com foco nas redes sociais. Iniciaremos com a Primavera Árabe como uma revolução através do uso nas redes sociais para publicar todo o que ocorria durante as manifestações. E ainda serão citados o presidente dos EUA Barack Obama, a presidente Dilma Rousseff e o governador do Ceará Cid Gomes. Para a realização desta monografia optamos pela metodologia de pesquisa bibliográfica que segundo Duarte e Barros (2009) é um conjunto de procedimentos para identificar, selecionar, localizar e obter documentos de interesses para a realização de trabalhos acadêmicos e de pesquisa. Lakatos e Marconi (apud DUARTE e BARROS, 2009, p. 54) acrescentam esta definição, dizendo que a pesquisa bibliográfica trata do levantamento de algumas bibliografias já publicadas, visando colocar o pesquisador em contato direto com tudo aquilo que foi escrito sobre determinado assunto.
  • 3. 2.2 O governo Cid Gomes Cid Ferreira Gomes, irmão de Ciro Gomes, revelou-se um habilidoso político de bastidores, agregando em seu primeiro mandato várias facções políticas. Formou um secretariado eminentemente político, com tucanos, petistas e até comunistas (FARIAS, 2009). Porém, tais estratégicas governamentais não se diferenciavam muito do modelo seguido pelas oligarquias locais. Os Ferreira Gomes mantiveram praticamente o mesmo modelo econômico adotado nos 20 anos de Cambeba. Um modelo de isenções fiscais para atrair indústrias, o que, por si, apenas, como vimos, não muda a realidade social dos cearenses. A economia do Estado continuou a crescer, mas a riqueza permaneceu nas mãos de alguns poucos (FARIAS, 2009, pg. 372). Durante a campanha para governador, foi atribuída a Cid Gomes a imagem de um político brilhante e jovem. Com um novo modelo de política para o Ceará, coube a ele a tarefa de encerrar o reinado de Tasso Jereissati que “desde 1987” governava o estado beneficiando mais a burguesia do que a massa da classe trabalhadora. Com isso Tasso decidiu apoiar a campanha de Cid, já que o apoio e a influência de Lula na campanha de Cid estavam dominando os eleitores do interior com os programas assistencialistas, atraindo dessa forma mais votos para a campanha e diminuindo a dependência da população em relação às antigas lideranças locais, várias delas aliadas de Tasso (FARIAS, 2009, p. 371). Para fazer jus ao discurso de que a educação assume uma posição privilegiada em seu governo, Cid Ferreira Gomes, lança em 2009, o concurso para professor do estado5 ofertando quatro mil vagas para diversas disciplinas com remuneração inicial mensal bruta de R$ 1.327,66 e carga horária de 40h/a semanais. Porém, a demora para que os selecionados no concurso fossem convocados causou revolta na categoria, que no segundo mandato de Cid Gomes fora cobrado durante as manifestações ocorridas no ano decorrente. As justificativas do governador não impediu que os professores apoiassem as cobranças feitas pelos sindicalistas. É possível observar em dados no site do Governo do Estado, que no seu primeiro mandato, Cid Gomes criou mais escolas do que contratou professores. Em relação aos avanços na educação: foram criadas em 2010 7.431 escolas de ensino fundamental, 850 5 Concurso professor público do Ceará. http://www.cespe.unb.br/concursos/seducce2009/
  • 4. escolas de ensino médio, 2.585 escolas de jovens e adultos, 58 escolas de ensino profissionalizante, 1.481,737 matrículas do ensino fundamental, 386.158 matrículas do ensino médio, 183 matrículas de jovens e adultos e 51 instituições em 2009 de ensino superior6. Apesar da prefeita de Fortaleza Luizianne Lins apoiar Cid Gomes na primeira e segunda campanha em 20067, o relacionamento dos dois é marcado por pontos dissidentes. Em 2011, as obras do Titanzinho, pequena comunidade localizada na periferia de Fortaleza que despertou o interesse político para ser instalado um estaleiro, foi uma das mais comentadas nos jornais locais. O comportamento e as posições pessoais do governador durante seu segundo mandato surtiram efeitos e comentários em revistas e jornais nacionais. Azevedo (2011) destacou uma frase de Cid em seu blog sobre o exame de próstata: Cid Gomes é aquele governador do Ceará (PSB) que transpira masculinidade. A gente olha pra ele e pensa, assim, numa verdadeira bomba testosterônica. Mas sabem como é… O homem é um “Gomes”, e isso tem algumas implicações. Uma delas é falar primeiro e só pensar depois. Leiam o que informa O Globo. A coisa fala por si mesma. A seu lado, ninguém menos do que a presidente da República. Mas não tem jeito. Bateu a memória do macho, e Cid mandou brasa. Volto depois: Por Luiza Damé. O governador do Ceará, Cid Gomes, fez uma declaração polêmica nesta quinta-feira, durante a inauguração da Policlínica Regional de Pacajus e a ampliação do pólo do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Eusébio - um evento com a participação da presidente Dilma Rousseff e de ministros. Ao falar sobre a importância dos exames para detectar câncer de mama e câncer de próstata, o governador disse que, no caso dos homens, não há aparelho para detectar o tumor e o método “é o velho dedo”. “Para o homem, não inventaram um aparelhinho que possa detectar (o câncer de próstata). É o velho dedo”, disse Cid Gomes, acrescentando em seguida: “O danado é o cara se viciar e querer estar todo dia na porta do urologista”. Câncer de próstata é um problema grave de saúde no Brasil. Uma das dificuldades está relacionada justamente ao preconceito em relação ao exame. Este senhor é governador de estado. Mostra que a língua é mais comprida do que é denso o cérebro. Eu tenho uma hipótese, que alguns talvez achem preconceituosa: tinta de cabelo faz mal pra homem (AZEVEDO, Veja, 2011). As muitas declarações do governador surtiram efeitos negativos. Dentre estas, podemos citar a declaração de Cid sobre o trabalho dos professores na rede pública de ensino que serviu de combustível para que a manifestação dos professores desse 6 Ceará em números Governo do Estado do Ceará. Disponível em: http://www.ceara.gov.br/ceara-em-numeros Acesso em 12 de fev de 2012. 7 CID Gomes garante mais quatro anos. Diário do nordeste. Fortaleza, 31 de dezembro de 2010. Disponível [online]: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=909202 Acesso em: 05 de fev de 2012
  • 5. continuidade e tivesse uma repercussão em todas as mídias do Brasil. Foi durante um evento sobre experiências com ensino profissionalizantes na cidade de Natal (RN)8. Cid Gomes teria falado no evento: “Quem quer dar aula faz isso por gosto e não pelo salário. Se quer ganhar melhor, pede demissão e vai para o ensino privado. Eles pagam mais? Não. O corporativismo é uma praga” (Figura 1). A inábel posição do governador não foi bem aceita pela categoria que, em processo de negociação, resolveu deflagrar a greve, cujo início se deu no dia cinco de agosto de 2011. Figura 1 Diário do Nordeste Caderno 3 (16.11.2011) A repercussão foi imediata, vários blogs e sites de Natal publicaram a frase e em pouco tempo várias pessoas já estavam sabendo da frase provocando diversas campanhas contra o governador e dificultando as negociações para que a greve acabasse. Internautas, indignados com a declaração de Cid Gomes, criaram a frase: “Amor substitui salários. Cid, doe o seu salário e trabalhe por amor” (Figura 2) aproveitando a publicidade polêmica do colégio Ari de Sá9 e compartilharam nas redes sociais. 8 SUPOSTA frase de Cid Gomes causa polêmica com professores. Revista Nordeste. João Pessoa, 23 de agosto de 2011. Disponível [online]: http://www.revistanordeste.com.br/noticias/cear%E3%A1/suposta+frase+cid+gomes+causa+polemica+com+professores+-1517 Acesso em: 10 de fev. de 2012. 9 A campanha era para divulgar que o colégio iria utilizar tablets em sala de aula. Outdoors foram espalhados pela cidade com a frase: “Tablets substitui livros”.
  • 6. Figura 2 - Outdoor com a frase em alusão da campanha do colégio Ari de Sá O governador que aderiu a rede social Twitter (20 de junho de 2009) durante a sua campanha eleitoral como reforço em sua reeleição, em nenhum momento ele se defendeu ou se posicionou sobre a violência contra os professores e muito menos à campanha que estava sendo compartilhada nas redes sociais. Na Assembleia Legislativa o deputado Roberto Mesquita (PV 10) chegou a fazer um apelo ao governado para que ele se retratasse junto aos professores. “Sua excelência poderia dar o exemplo. “Governador, para o senhor ser chamado de Dr. Cid, influíram na sua formação inicial, lá na cidade de Sobral, professores que até se orgulham da sua trajetória de sucesso, e lhe citam como exemplo.Hoje, esses mestres estão entristecidos e envergonhados com suas palavras carregadas de ingratidão e desprezo” (DIÁRIO DO NORDESTE, caderno POLÍTICA, 01/09/2011)11. A oposição aproveitou para destacar conforme publicado no Diário Oficial do Estado em fevereiro de 2010, que o Legislativo teria condições de pagar o Piso Nacional aos professores já que o governo do Estado estaria pagando a uma empresa de táxi aéreo cerca de R$ 5 milhões por ano em um jatinho particular para o Cid Gomes, totalizando um custo mensal de R$ 430 mil. 10 Partido Verde 11 DEPUTADO cobra retratação de Cid. Diário do Nordeste. Fortaleza, 01 de setembro de 2011. Disponível [online]: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1035319 Acesso em: 10 de fev de 2012.
  • 7. De acordo com a Lei nº 11.738 de 16 de julho de 2008 referente ao Piso Salarial Profissional Nacional determina que: Art. 2o O piso salarial profissional nacional para os profissionais do magistério público da educação básica será de R$ 950,00 (novecentos e cinqüenta reais) mensais, para a formação em nível médio, na modalidade Normal, prevista no art. 62 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Durantes as manifestações em 2011 a legislação estabelecia que o mínimo para professores da educação básica pública por 40 horas semanais, exceto gratificações, fosse de R$ 1.187,00. A lei assegura, ainda, que os docentes passem 33% desse tempo fora da sala para dar assistência aos estudantes e preparar as aulas. A regra visa melhorar as condições de trabalho dos docentes e atrair jovens mais bem preparados para o magistério. O Ministério da Educação (MEC) definiu em R$ 1.451 o valor do piso nacional do magistério para 2012, um aumento de 22,22% em relação a 201112. Conforme determina a lei que criou o piso, o reajuste foi calculado com base no crescimento do valor mínimo por aluno do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) no mesmo período. Municípios e estados que não haviam pago o valor estipulado iriam pagar retroativo a janeiro (DINIZ, 2012³). Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Ceará ficaram contra o que a lei determina e pediram a aprovação de um projeto de lei que altere o critério de correção do piso, que passaria a ser feito com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que mede a inflação13. Os sindicalistas pressionaram os governos para que o piso nacional fosse aprovado para evitar a greve, mas os estados continuam evitando para não pagar o que a lei pede. Cid Gomes foi o único governador do norte/nordeste que assinou o projeto. E como as negociações não tiveram avanços decidiram, após uma reunião da categoria no Ginásio Paulo Sarassati, começar uma greve geral por tempo indeterminado e que ganhou força depois da reunião com Cid Gomes. Os professores reivindicaram a implementação do piso nacional do magistério, conforme lei e sua 12 PISO salarial profissional nacional para os profissionais do magistério público da educação básica. Disponível [online]: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11738.htm Acesso em: 10 de fevereiro de 2012. 13 ESTADOS não cumprem a lei do piso nacional para professor. Folha.com. São Paulo, 16 de novembro de 2011. Disponível [online]: http://www1.folha.uol.com.br/saber/1007195-estados-nao-cumprem-lei-do-piso-nacional-para-professor.shtml Acesso em: 14 de fevereiro de 2012.
  • 8. repercussão na carreira; reserva de pelo menos um 1/3 da jornada de trabalho para atividades; readequação do Plano de Carreira; valorização de todos os servidores da educação; respeito aos direitos trabalhistas e previdenciários dos professores temporários; concurso Público; mais recursos para a educação; e, fim da criminalização do direito de greve (DINIZ, 2011¹). Uma semana antes da greve Cid Gomes ofereceu uma proposta em reunião com os representantes dos professores. A proposta era elevar em 45% a remuneração (base+regência) do professor em início de carreira com nível superior, em relação a 2010, passando de R$ 1.461,50 para R$ 2.000,00. Já para os professores temporários, a proposta de Cid Gomes combinada à lei que recentemente equiparou a remuneração ao nível 13, representando um incremento de até 60%. O governo defendeu que com esta medida, o Ceará saltarial do 23º para 15º maior salário entre os Estados do Brasil (DINIZ, 2011²). No dia 19 de agosto de 2011, foi realizada uma manifestação com professores e alunos da rede pública estadual em frente ao Palácio da Abolição em uma tentativa para reabrir o canal de negociação sobre o Plano de Cargos e Salários elaborado por Cid Gomes. Na Praça da Imprensa, os professores deram continuidade as manifestações e promoveram um ato público no dia 25 de agosto com uma passeata até a Assembleia Legislativa de Fortaleza. O presidente da Assembleia recebeu os professores para iniciar as negociações entre a categoria e o Estado. No dia seguinte os professores foram surpreendidos com uma intimação do Tribunal de Justiça do Ceará (TJ/CE) considerando ilegal a greve e determina a suspensão. Rebouças (2012) destaca que de 2009 pra cá todas as paralisações realizadas no Estado foram decretadas ilegais pela Justiça e que em lugar nenhum do mundo o Judiciário interfere dessa forma. Essa interferência acontece quando a categoria decide interromper o trabalho. O Governo, indignado, recorre à Justiça para tentar fazer os funcionários voltarem ás atividades. Juízes e desembargadores acatam o pedido, tornam a greve ilegal e impõem multa diária em caso de descumprimento dos sindicatos. O desembargador Emanuel Leite Albuquerque, do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, determinou que os professores deveriam retornar às atividades no prazo de 48 horas e o sindicato sob pena de multa no valor de R$ 10 mil por dia em caso de
  • 9. descumprimento. Os magistrados tem como argumento de que as greves apresentam aspectos abusivos. A chamada Lei da Greve (7.783/89), que regulamenta o movimento no setor privado e tem sido utilizada como parâmetro para o setor público, impõe limites à ferramenta trabalhista, como a proibição da interrupção de serviços considerados essenciais e o estabelecimento de um percentual mínimo de funcionários em atividade – número que varia de acordo com a categoria. Quando alguma dessas normas é desobedecida, a greve é ilegal (REBOUÇAS, 2012, p.35). A Lei tem pontos poucos objetivos e fazem com que o Estado através da Justiça interfira no direito de greve dos funcionários públicos. O Estado precisa ter menos participação e mais amadurecimentos de quem está realmente envolvido no movimento sindical. Seria necessária uma reforma na Lei da Greve, mas nessa discussão o Ceará, tem sido referência nacional, colocando-se como um dos três estados do País a terem na OAB um grupo exclusivo para tratar desse e de outros temas relacionados ao sindicalismo (REBOUÇAS, 2012). Em novembro de 2011 o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB/SP14) entregou o Projeto de Lei nº 710/11 para regulamentar o direito de greve do servidor público. Começou a tramitar, em 2012, no Congresso Nacional, o Projeto de Lei 710/11, de autoria do senador Aloysio Nunes. A proposta prevê que, em caso de paralisação, um percentual de 50% a 80% dos servidores permaneça trabalhando, dependendo do tipo de atividade. Atualmente, as paralisações no serviço público são julgadas a partir de regras criadas especificamente para o setor privado. O projeto de Nunes abrange os servidores da administração pública direta, autarquia e fundacional, de todos os poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário). De acordo com a matéria, os governos terão prazo de 30 dias para se pronunciar sobre as reivindicações apresentadas pela categoria, apresentando proposta de conciliação ou explicando o motivo de não atendê- las. A proposta também define como serviços essenciais aqueles que afetam o funcionamento dos três poderes e a vida, a saúde e a segurança do cidadão. São mencionados, especialmente, a assistência médico-hospitalar, a distribuição de equipamentos, o abastecimento e o tratamento de água, recolhimento de lixo, o pagamento de aposentadorias, a defesa civil, o controle de tráfego, o transporte coletivo e a produção e a distribuição de energia, gás e combustíveis (REBOUÇAS, 2012 p. 35). Mesmo intimados pela justiça os professores continuaram com a greve após assembleia com o sindicato. Reunidos com pais e alunos da rede estadual de ensino, a categoria realizou mais uma manifestação no dia 1 de setembro de 2011 na Praça da Imprensa em direção à Assembleia Legislativa para tentar uma mediação entre o 14 Partido Socialista Democrático Brasileiro de São Paulo
  • 10. presidente da casa, Roberto Cláudio (PSB15) e o governador Cid Gomes (FONTENELLE, 2011). No dia anterior, o projeto do governo que cria uma nova tabela vencimental para os profissionais de nível médio do grupo ocupacional magistério da educação básica foi aprovado com menos de 24 horas após ter sido lido no plenário. Apenas quatro deputados, Augustinho Moreira (PV), Roberto Mesquita (PV), Heitor Férrer (PDT) e Eliane Novais (PSB), votaram contra o projeto do Executivo, que desagradou os professores. A matéria começou a tramitar na Assembleia quarta-feira, mesmo dia em que foi aprovada a urgência, diminuindo o tempo de tramitação do projeto. Ontem, em reunião conjunta das comissões, a proposta foi apreciada e votada, seguindo, então, para votação no plenário. Do lado de fora, professores gritavam pedindo para que a mensagem não fosse votada (DIÁRIO DO NORDESTE 30.09.2011)16. O que os professores não esperam era a repercussão que essa manifestação fosse causar após a chegada na Assembleia Legislativa. Os manifestantes foram recebidos pelo Batalhão de Choque da Polícia Militar, acionados pela Assembleia por motivo de prevenção ao patrimônio público e segurança dos deputados. O clima ficou tenso e a presença do Batalhão de Choque incomodou os manifestantes, que reagiram intensificando a barulheira. A frase “Educação já!” chegou a ser pichada com tinta vermelha dentro da Assembleia, o que teria causado a revolta do presidente da Casa, Roberto Cláudio (PSB) (O POVO 02.09.2011). Lima (2011) ressalta que um dos objetivos dessa manifestação era para que fosse assinado o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), garantindo assim o Plano de Cargos e Carreiras (PCC) tendo como base a Lei 12/066, de 1993; a implantação do Piso Nacional e 1/3 de hora atividade. Lembra também das conquistas alcançadas pela categoria como a suspensão da tabela da carreira do magistério, elaborada pelo governo do Estado, que para os professores “aniquilava a carreira da categoria”. Os professores ficaram receosos em continuar com a greve que se continuasse além de R$ 10 mil por dia, seria feito o corte do cartão de ponto dos professores e após 30 dias fora da sala de aula seriam processados por abandono de emprego. Dessa forma o temor e a desarticulação do sindicato APEOC contribuíram para que os professores optassem pelo término da greve (ALMEIDA, 2011). 15 Partido Socialista Brasileiro 16 AL aprova mensagem apesar dos protestos. Diário do nordeste, Fortaleza, 30 de setembro de 2011. Caderno Política, p, A-3.
  • 11. A greve terminou no dia 5 de novembro de 2011 mesmo sem o governo ter colocado em prática o que a lei dispunha para a categoria. Todas as acusações contra Cid Gomes tomaram repercussão em noticiários locais e nacionais, principalmente, com o ocorrido na Assembleia Legislativa no final de setembro em que professores foram atacados por policiais que faziam a segurança do local. Vídeos e fotos circularam rapidamente pela internet, mas foi no Facebook que diversas charges tiveram forte apelação e levantou diversas acusações contra Cid Gomes. 3 As charges de Cid Gomes no Facebook A rede social Facebook mostrou, em 2011, um crescimento bastante significativo de novos usuários no Brasil. O número de usuários passou de 8,8 milhões no final de 2010 para 35,2 milhões em dezembro de 2011, um crescimento de 298,5%17. Nessa pesquisa usaremos a rede social Facebook como ferramenta de mobilização político social da sociedade. O ano de 2011 foi marcado por várias mobilizações sociais através dos sites de relacionamentos. As facilidades de acesso à Internet e ao barateamento dos celulares com câmeras de vídeo em alta definição e fotos de boa resolução serviram como armas contra diversas discussões políticas que estavam incomodando determinados grupos de civis de todos os cantos do mundo. No Estado do Ceará as imagens dos professores sendo agredidos dentro da Assembleia Legislativa foram compartilhadas pelo Facebook e teve grande repercussão. Quem não estava acompanhando pela imprensa pôde tomar conhecimento através das redes sociais sobre o que estava ocorrendo. Portanto, as redes sociais contribuíram para que a greve e as agressões com os professores tivessem mais repercussão. No Facebook essas charges foram compartilhadas pelos usuários, originando a associação aos mais diversos personagens da publicidade na época da campanha assim como o resgate da figura do coronel e um dos mais compartilhados Adolf Hittler18. 17 Revista Época. Disponível em : http://epocanegocios.globo.com/Revista/Common/0,,EMI287869-16355,00- BRASIL+E+O+PAIS+COM+MAIOR+CRESCIMENTO+NO+FACEBOOK+EM.html Acesso em 12 de abril de 2012 18 Adolf Hitler era austríaco. Sua cidade natal era Braunau, onde o pai trabalhava como funcionário da alfândega. Pelos padrões daquela época, Hitler teve oportunidades de educação acima da média. Sua ambição era belas-artes quando chegou a Viena aos 16 anos de idade. Após anos como pintor de pouca expressão, mudou-se para Munique, onde, no inicio da guerra, alistou-se no exército (BLAINEY, 2008).
  • 12. Essas charges servem também para demonstrar o modelo de governo ao qual estamos fazendo parte. E uma análise do que mudou ao longo dos anos no Ceará após cada governador que tentava se desvincular da imagem de coronel mesmo exercendo ações e tomando posturas que lembravam o sistema antigo de governo. 3.2 Pônei Maldito A empresa de carros japonesa Nissan no dia 29 de julho de 2011, lançou uma propaganda utilizando animais coloridos e um jingle bem marcante. Era o comercial dos Pôneis Malditos, que teve como um dos canais de comunicação as redes sociais para ser divulgada. O comercial consiste numa analogia, na qual, ao invés de cavalos o carro da concorrência possuiria a potência de pôneis. Os pôneis em questão são animais fofinhos e coloridos, aparentemente retirados do desenho animado infantil My Little Pônei. Os animaizinhos cantam uma música exclusiva e exaustiva. A música é cantada por vozes infantis, tendo com refrão: “Pôneis Malditos/ Pôneis Malditos/ lálálálálá...” [...] Segundo um levantamento realizado pela montadora e divulgado no portal de notícias UOL, na página do Portal Imprensa, até a tarde do dia 04 de agosto, a campanha já havia sido comentada em 640 blogs e citada em 80 fóruns. Sendo que o vídeo oficial contava com mais de 6 milhões de visualizações no Youtube. Ainda de acordo com a Exame.com foram criadas 500 comunidades no Orkut, 8 perfis no Twitter, somando 34 mil seguidores, e mil vídeos foram reproduzidos no Youtube (RICARDO, 2011, p. 2). Na Figura 3, Cid Gomes foi comparado ao Pônei Maldito da campanha de carros da empresa Nissan. Os internautas não perderam tempo e criaram também um jingle (Figura 4) para Cid que estava contra o Plano de Cargos e Carreira (PCC) dos professores. Figura 3 Cid Maldito em alusão a Campanha do comercial Pônei Maldito da Nissan
  • 13. Figura 4 Adaptação da internauta Alice Teixeira para Cid Gomes com o jingle Pônei Maldito 3.3 Valéria Vasques – Zorra Total O bordão “Ai como eu tô bandida!” da personagem Valéria Vasques, interpretado pelo ator Rodrigo Sant’Anna do programa humorístico Zorra Total, da Rede Globo, é um travesti que não gosta de ser chamado de Valdemar, seu nome de nascimento, por sua colega Janete dentro do metrô do Zorra Brazil. Tornou-se conhecido nacionalmente e com a utilização das redes sociais ficou mais conhecido e polêmico. Cid Gomes teve sua imagem associada ao bordão (Figura 5). Figura 5 – Com o bordão de Valéria Vasques do Zorra Total
  • 14. 3.4 Todo Mundo Odeia o Chris O seriado americano “Todo mundo odeia o Chris” (Everybody rates Chris), que em Fortaleza exibido às tardes de segunda a sexta no canal 8 da TV Cidade, conta a história de um garoto que tem mania de perseguição com amigos e familiares, imagina várias situações do seu dia a dia na escola sem que muita delas não acontecem. Cid Gomes foi comparado com Chris sem querer ceder o aumento dos professores (Figura 6). Nessa charge Cid Gomes está com uma bolsa cheia de dinheiro simulando seu salário e o balão está como se fosse de pensamento com a frase “Meu salário não...” Figura 6 Julius (pai), Rochelle (mãe ), Greg (amigo de infância), Drew (irmão mais velho), Tonya (irmã mais nova) e Cid Gomes como personagem principal (Chris) do seriado Todo mundo odeia Chris 3.5 O encantador do PIB menos da educação Durante seu segundo mandado como governador, Cid Gomes contribuiu para o aumento do Produto Interno Bruto (PIB)19 no Estado. A economia cearense, medida pelo Produto Interno Bruto (PIB) a preços de mercado, cresceu 4,3% em 2011, isso em relação a 2010, e superou o desempenho da economia brasileira no ano passado, que foi de 2,7%. Com o resultado, o PIB do Ceará totalizou, em 2011, um valor de R$ 84 bilhões, resultando em uma renda per capita de R$ 9.865,00. Os números foram divulgados nesta terça-feira (20) pela Secretaria de Planejamento e Gestão (Seplag) do Governo do Estado e pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece) (DINIZ, 2012, Polítika com K). 19 O Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país.
  • 15. Porém, o investimento na educação e a desvalorização dos professores não estavam agradando a categoria. O último e único concurso realizado fora em 2009 e mesmo assim houve uma demora para que todos os candidatos fossem convocados. Mais motivos de protestos para os professores que lutam também por 10% do PIB para ser investido na educação, mas o governador foi totalmente irrevogável em suas propostas sem mostrar flexibilidade com a categoria. Figura 7 - Cid Gomes o encantador do Produto Interno Bruto (PIB) menos da educação Figura 8 - Cid de ouvidos tapados para as reinvidicações dos professores 3.6 Coronel Cid Gomes A Figura 7 faz uma referência ao modelo de governo predominante no Estado durante a gestão dos coronéis Virgílio Távora, Marcos Cals e Adauto Bezerra até a
  • 16. geração cambeba de Tasso e Ciro. Cid teve essa associação devido ao modo de governar o estado e por diversas burocratizações no estado. Ele foi culpado por autorizar o vice- presidente da Assembleia Legislativa a acionar o Batalhão de choque no dia da passeata que terminou na Assembleia e que teve professores agredidos. Cid Gomes nesse episódio estava no exterior. Figura 9 - Coronel Cid Gomes 3.7 Cid O Ditador Vários personagens foram atribuídos ao governador Cid e uma das comparações mais fortes que circularam no Facebook fora a de Adolf Hitler (Figura 8). “Uma pessoa com uma imagem negativa, um ditador cínico e agressor, culpado do genocídio, doente mental, criminoso social e um dotado orador (PAIS, 1999)”. Em passeatas, no período da greve, estudantes e professores seguram cartazes comparando Cid a um ditador.
  • 17. Figura 10 Cid Gomes comparado a um Ditador semelhante a Hitler Figura 11 Fora Cid! E Cumpra a Lei, respeite o Piso O modelo de governo praticado por Cid Gomes incomodava diversas classes de trabalhadores assim como os professores do Estado. E devido aos diversos mandados, muitos deles contra as manifestações, ele ficava cada vez mais parecido com o tipo de governo desenvolvido por Hitler. No governo de Hitler a juventude e os trabalhadores foram enquadrados em organizações controladas pelos nazistas, ao mesmo tempo em que se fundavam corporações de patrões e empregados, sendo a greve proibida. A educação voltou-se basicamente para os esportes. Realizaram-se grandes obras publicas, visando a dar o “pleno emprego” prometido (AQUINO et al, 2003, pg 419). Usuários com perfis no Facebook participaram através de comentários em apoio à greve dos professores e não pouparam acusações sobre as atitudes e o comportamento de Cid Gomes. Além de comentar as charges, os usuários fizeram comparações com outros personagens da história mundial como foi ocaso de Luiz XIV 20 (Figura 12). Reacendendo a indignação dos fortalezenses perante o modo de governo exercido por Cid. 20 Luís XIV foi o homem que batizou o papa, pois foi um religioso muito convicto que se tornou rei com a morte do pai. Conhecido também como o rei do sol.
  • 18. Figura 12 - Comentários no Facebook Cid Gomes, que tem um perfil no Twitter atualizado, ás vezes por ele, geralmente para anunciar alguma obra do Governo do Estado, em nenhum momento fez uso do perfil para se defender ou até mesmo explicar-se diante das acusações de ter sido o responsável pela agressão aos professores. A figura 13 mostra o Twitter do governador que, no decorrer de dois meses da greve (de agosto à outubro de 2011), Cid evitou usar o microblog.
  • 19. Figura 13 Twitter oficial do governador Cid Gomes No Facebook, que não é oficial do governador, foi também evitado qualquer defesa ou esclarecimento, reforçando ainda mais as acusações dos usuários em relação à imagem dele. Os perfis dessa rede social foram mais pertinentes e visíveis devido ao fato das pessoas que publicavam as fotos irem marcando outras pessoas e compartilhando com amigos e familiares de cada rede pessoal. O fato do Facebook do governador não ser oficial e do microblog Twitter ser atualizado e oficial do governador, todas as postagens feitas por ele tem um tom pessoal ao invés de um discurso formal já que o backgroud (imagem de fundo) do perfil no Twitter tem uma logomarca com o nome Governo do Estado e o brasão. Esse discurso talvez tenha como objetivo uma aproximação com seus eleitores ou não. Charaudeau discorre sobre a mídia e a política quando se misturam:
  • 20. (...) O que caracteriza de modo especifico a sociedade midiatizada e precisamente o fato de ela embaralhar as cartas ao confundir os espaços e que, do mesmo modo, toda ação política encontra-se sob a dependência da midiatização da opinião, a ponto de ela mesma ter de entrar no jogo se quiser obter algum resultado. (Miege apud Charaudeau, 2008, p. 26). Fortaleza não foi a primeira e nem será a última a utilizar as redes sociais para protestar contra uma autoridade pública. Temos como exemplo a Primavera Árabe21 que se destacou em 2011 com a utilização dessas redes. Esses movimentos todos – que usaram canais como Youtube, Twitter e Facebook para se articular e ganhar massa – mostram uma nova forma de ativismo. Ele não se baseia no instinto de combate e rebeldia das passeatas contra a Ditadura ou a Guerra do Vietnã, nos anos 60, mas em se sentir parte de um todo. A internet e as redes sociais fortaleceram nossa necessidade de compartilhar idéias e colaborar uns com os outros[...] Essa vontade de se unir para defender ideais vale não apenas para causas de peso, como derrubar presidentes ou protestar contra a selvageria do capitalismo. Por trás dessas grandes bandeiras, há milhares de outras, menores mais segmentadas, até mesmo pessoais – como fazer uma viagem, defender as bicicletas como meio de transporte ou conseguir dinheiro para uma instituição – que também encontram seus seguidores. Mesmo que não sejam milhares, eles podem ser suficientes para uma transformação (GALILEU, 2012, pg. 38). A trajetória política no Ceará sempre foi muito passiva e pouco atuante como movimento sindical. A cada quatro anos entra um novo governador no poder e as mudanças ocorrem em passos lentos. Em 2011 não poderia ser diferente, com o uso dessas plataformas digitais os usuários deixaram essa passividade de lado e promoveram diversas manifestações contra Cid Gomes como o Fora Cid Gomes Ditador22, Fora – Cid Ferreira Gomes23, Um milhão de vozes contra Cid Gomes!24 E Fora Cid Hitler Gomes25. A utilização do humor em relação aos personagens associados a Cid Gomes contribuiu para popularização da manifestação dentro do Facebook. O humor que todo cearense tem e pelo fato de rir da própria desgraça. Esse humor pode-se comparar também à Charge e Caricatura26 devido ao uso de imagens com uma mensagem política. 21 Movimento político-social que teve a utilização das redes sociais para protestar contra os presidentes que governavam por vários anos países do Oriente Médio como Síria, Egito, Iêmen etc. 22 http://www.facebook.com/pages/FORA-CID-GOMES-DITADOR/154464787980299 23 http://www.facebook.com/pages/Fora-Cid-Ferreira-Gomes/184847798280027 24 http://www.facebook.com/groups/1milhaodevozes/ 25 http://www.facebook.com/groups/279641802055324/ 26 Usualmente empregada no sentido de gênero, a caricatura envolve e constitui o elemento formal da charge. O significado que este termo adquiriu no Brasil acabou incorporando o sinônimo francês da caricatura, numa ligação íntima com a imprensa, como uma sátira gráfica a um acontecimento político. Enquanto manifestação comunicativa baseada na condensação de idéias, a sua compreensão requer um entendimento contemporâneo ao momento exposto na relação dos personagens (NOGUEIRA, Intercom 2003).
  • 21. Porém, Nogueira (2003) destaca a diferença da charge no contexto prático: A charge, entretanto, se desprende da função de apenas ilustrar o cotidiano [...] Com uma síntese dos acontecimentos filtrados pelo olhar de seus atentos produtores e a utilização de recursos visuais e linguisticos, a charge transforma a intenção artística, nem sempre objetivando o riso - embora o tenha como atrativo - em uma prática política, como uma forma de resistência aos acontecimentos. O desgaste das intenções de sua temática, centrada na atualidade, é inevitável, entretanto, dentro de um contexto histórico, poderá por diversas vezes repetir-se, ou seja, permanecer atual enquanto crítica ao stablishment econômico ou social de um país. E para Miani (2001, p. 2) apud Cagnin, caricatura seria: [...] um retrato, uma representação humorística da cara, em que se ressaltam os traços característicos, sobretudo os defeitos faciais, para provocar o riso, quando não ferir com a sátira mordaz e o deboche. (...) Certamente a cara, o rosto, presente em quase todos os desenhos de humor, por ser a figura humana extremamente familiar. Miani (2001, p. 3) explica a diferença entre o que se pensa sobre a origem do nome caricatura. No sentido de desfazer essa associação grosseira, lembramos que a palavra “caricatura” não vem de cara e sim de “caricare” que, em italiano, quer dizer a ação material de “carregar”, pôr, ou impor um grande peso sobre alguma coisa, pessoa, ou animal; significa também exagerar, aumentar de coisas e atos além da medida. Por esta interpretação, a caricatura seria então aquela imagem em que se "carregam" os traços mais evidentes e destacados de um fato ou pessoa, principalmente os seus defeitos, com a finalidade de levar ao riso (Miani, 2001, pg. 03). Portanto, para Miani (2001, pg.03), a charge é “herdeira da caricatura” mesmo com outro nome ela continua com seu significado e função. Utilizando-se do humor e esquecida quando o acontecimento a que se refere se apaga de nossa memória individual ou social, porém, ela permanece viva enquanto memória histórica. Agostinho (1993) defende que existe uma função social atribuída à charge pois, “ela se constitui realidade inquestionável no universo da comunicação, dentro do qual não pretende apenas distrair, mas, ao contrário, alertar, denunciar, coibir e levar à reflexão”. Ela ainda “dirige-se à ação do indivíduo dentro do social e, como conseqüência, necessita de vários elementos gráficos para se materializar, tais como: cenário, espaço, perspectiva, movimento, onomatopéias e, às vezes, texto verbal para completar a ação ou para dar voz aos personagens (AGOSTINHO, 1993, p. 228)”.
  • 22. Além da utilização da charge a campanha dos internautas a favor da greve dos professores estaduais no Facebook fez parte do que é conhecido como Ciberativismo, que é a utilização do ciberespaço para realizar manifestações com o uso das novas tecnologias e redes sociais. Um espaço onde há democracia e todos fala sobre o que quer sobre determinado assunto. Existe um resgate de pertencimento dentro dessas redes; mais pessoas têm voz para falar de assuntos que lhes interessam com maior ou menor conhecimento de causa, sem hierarquia e com pluralidade de olhares. Uma vez parte de um grupo, mais forte e mais ligada a uma determinada causa a pessoa fica. Se tudo começa com pequenos passos como mudanças no avatar, tweets e assinaturas de petições online, alguns seguem adiante, participam de discussões, aprofundam no tema e promovem ações ainda maiores e chegam a incluir essas lutas no seu dia‐a‐dia (BARRETO, 2011, p.163 para entender as mídias sociais). De acordo com Ugarte (2008), ciberativismo pode ser definido como toda estratégica que persegue a mudança da agenda pública, a inclusão de um novo tema na ordem do dia da grande discussão social, mediante a difusão de uma determinada mensagem e sua propagação através do “boca a boa” multiplicada pelos meios de comunicação e publicação eletrônico pessoal. O ciberativismo não é uma técnica, mas uma estratégica. É a identificação em uma causa que irá mobilizar outras pessoas e assim formar grupos em torno da defesa dessa causa. Foi assim que se deu inicio a Primavera Árabe e a campanha no Facebook para o governador do estado Cid Gomes. Não queremos aqui comparar, mas sim encontrar identidades em torno dessas manifestações que teve como cenário o ciberespaço. Assuntos políticos discutidos em rede por jovens que se importam pelo crescimento e melhores condições em seu país ou estado. Apesar dos desafios postos, a web desempenha um papel significativo para os grupos organizados É possível ser dito que a Internet se constitui uma ferramenta imprescindível para as lutas sociais contemporâneas, já que facilita as atividades (em termos de tempo e custo), pode unir e mobilizar pessoas e entidades de diferentes localidades em prol de uma causa local ou transnacional, bem como quebrar o monopólio da emissão e divulgar informações “alternativas” sobre qualquer assunto (RIGITANO 2003, p. 02). Ou seja, a internet passou a ser uma ferramenta para reivindicar e mudar a realidade de grupos que não tinham espaço na grande mídia e que conseguiram através do conhecimento em diversas plataformas, como as redes sociais, a tornar favorável essa ferramenta para publicar suas visões e realidades. A política foi o principal motivo
  • 23. para que esses atores dessem inicio aos diversos movimentos ocorridos em 2011. Apenas no Brasil, em 2011, foram 23 greves com duração média de 39,2 dias, nos dois anos anteriores, a duração e o número de paralisações haviam recuado (Rebouças, 2012, p.33).