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ESCOLA PAULO APÓSTOLO
MÓDULO BÁSICO
A IDENTIDADE DA RCC 
DERCIDES PIRES DA SILVA
2
LISTA DE ABREVIATURAS
AA Apostolican Actuositatem
CATEC Catecismo da Igreja Católica
DU Constituição Dogmática Dei Verbum
LG Constituição Dogmática Lumem Gentium
CL Christifidelis Laici
CIC Código do Direito Canônico
AG Decreto Ad Gentes
CNBB Documentos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
RMI Redenptores Missio
3
SUMÁRO
Apresentação.........................................................................................................................01
1. Ofensiva Nacional da Renovação......................................................................................06
1.1Conceito de Ofensiva Nacional............................................... .........................................07
1.2 Ofensiva: Plano de Deus Para a Renovação Carismática..................................................09
1.3 Princípios Da Ofensiva Nacional......................................................................................11
1.4 Objetivos da Ofensiva Nacional.......................................................................................16
1.5 Conclusão.......................................................................................................................16
2. A espiritualidade Da Renovação Carismática Católica......................................................18
2.1Estatuto Do Serviço Internacional da Renovação Carismática Católica (ICCRS)..............19
2.2 Espiritualidade................................................................................................................19
2.3 Espiritualidade Da Renovação Carismática Católica........................................................20
2.4 Fundamentação Teológica da RCC.................................................................................25
2.5 Frutos da Espiritualidade da RCC...................................................................................40
3. Batismo No Espírito Santo.............................................................................................49
3.1 Conceito.........................................................................................................................49
3.2 Fundamentos..................................................................................................................50
3.3 Finalidade Do Batismo No Espírito Santo.......................................................................52
3.4 Frutos Do Batismo No Espírito Santo.............................................................................53
3.5 Jesus, O Batizador..........................................................................................................54
3.6 Quem Pode Ser Batizado No Espírito Santo...................................................................55
3.7 Condições Para Ser Batizado No Espírito Santo.............................................................56
3.8 Chave Do Batismo No Espírito Santo.............................................................................57
3.9 Conclusão.......................................................................................................................59
4. Renovação Carismática Como Um Novo Pentecostes.....................................................62
4.1 Primeiro Pentecostes......................................................................................................62
4.2 Pentecostes Atual...........................................................................................................65
5. Contexto Eclesial da Renovação Carismática Católica.....................................................72
5.1 Critérios de Eclesialidade................................................................................................72
5.2 A RCC Está Inserida No contexto Eclesial......................................................................73
5.3 Efeitos da Eclesialidade da Renovação............................................................................76
4
5
ABREVIATURAS USADAS
DOCUMENTO ABREVIATURA
Catecismo da Igreja Católica Catec.
Christifideles Laici CL
Código do Direito Canônico CIC
Constituição Dogmática Dei Verbum DV
Constituição Dogmática Lumen Gentium LG
Decreto Ad Gentes AG
Decreto Apostolicam Actuositatem AA
Documentos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil CNBB
Redemptoris Missio Rmi
6
APRESENTAÇÃO
Conta-se que aprouve ao rei de um
grande povo presentear sua filha com um
lindo retrato feito à mão. O presente seria
entregue em uma solenidade especial que
comporia os festejos dos seus quinze anos.
Expedidas as ordens reais, abriu-se o concurso, ao
qual acorreram os melhores artistas do mundo. Para a
concorrência deveriam exibir sua melhor criação. O
vencedor faria o retrato da princesa e seria regiamente
compensado. Entregues as pinturas, o ministro da cultura
supervisionou a seleção das melhores, que foram
entregues ao rei. Ele desejava fazer a escolha final,
pessoalmente, e marcou a entrevista dos artistas para um
dia de domingo.
No dia aprazado os pintores chegaram cedo e logo
foram entrevistados, um a um. A todos o monarca
indagava se a pintura apresentada era a melhor que
podiam fazer. Todos pressurosamente respondiam que
sim. Logo o rei começou a se angustiar. Embora os
quadros fossem bonitos, não estava gostando dos artistas;
julgava-os limitados. Todos estavam respondendo a
mesma coisa. Por fim um dos pintores deu a resposta que
o rei esperava:
–– Majestade, a minha melhor obra é sempre o
próximo quadro que pintarei. Sempre no próximo coloco
tudo que já aprendi com os grandes mestres, uso as novas
cores que descobri, emprego as últimas experiências que
adquiri, busco nova inspiração, não deixo de fora um
renovado desejo de fazer melhor do que já fiz. É por isso
que minha melhor arte é sempre a próxima. A cada
próxima dou tudo de mim.
Esta historieta ilustra o nosso sentimento enquanto
examinávamos o nosso antigo módulo básico. Sabemos
que cada feito poderá ser melhor do que o anterior, mas
também somos consciente de que o próximo poderá ser
ainda melhor. “Contudo, seja qual for o grau a que
chegamos, o que importa é prosseguir decididamente" (Flp
3,16).
Conscientes de nossas limitações, mas imbuídos
do desejo de contribuir para o crescimento dos irmãos,
examinamos o conteúdo das apostilas. Após meditar e
orar bastante, depois de muitas reflexões, partilhas e
debates, concluímos que ele deveria ficar como estava,
ou, então, ser reformulado por completo, sob pena de
quebrar sua unidade. Optamos por sua reformulação.
Aproveitamos alguns temas antigos, introduzindo-
lhes conteúdos novos, e acrescentamos outros, totalizando
oito apostilas, para tratar dos seguintes assuntos:
identidade da Renovação, carismas, grupo de oração, vida
de oração, liderança e santidade; outra para contemplar
um estudo introdutório sobre a Igreja e outra para
apresentar uma doutrina social com base na Sagrada
Escritura, na Sagrada Tradição e na Doutrina da Igreja.
Fizemos o melhor que podíamos, mas podemos
melhorar. Por isso contamos com as sugestões dos irmãos
para eliminar alguma coisa que ainda sobrar, bem como
para acrescentar outras. Nós mesmos estaremos
empenhados nisto.
Agora falemos desta apostila. Ela contém cinco
temas. No capítulo “Ofensiva Nacional da Renovação
Carismática Católica,” demonstramos que a Ofensiva é
um fenômeno espiritual afeto ao campo da revelação
privada, acontecido no âmbito da Renovação e dirigido a
ela.
Quando estudamos o capítulo sobre a
“Espiritualidade da Renovação Carismática Católica,”
nossa intenção principal foi apresentar fundamentos
teológicos para a nossa expressão de Igreja, pois
entendemos que o ponto gerador de perplexidade entre
muitas pessoas não é nossa organização como movimento
leigo, embora isto também tenha sido abordado. Os
dissabores que às vezes tem se abatido sobre os ânimos de
alguns tem sido por causa de nossa espiritualidade,
principalmente pelo desconhecimento dela. Acreditamos,
portanto, que se a espiritualidade que vivemos estiver
bem fundamentada, por extensão toda a Renovação
também estará.
Na abordagem do Batismo no Espírito Santo
assumimos o que ele realmente é: um Batismo no Espírito
Santo. Nada mais, nada menos. Colocamos a efusão como
seu paralelo. Buscamos, como já feito antes, resgatar suas
origens, seu desenvolvimento e suas implicações
pastorais, a partir do tempo dos Apóstolos.
Para apresentar a Renovação Carismática como
um novo Pentecostes, analisamos em primeiro lugar o
Pentecostes dos Apóstolos com seus antecedentes bíblicos
e seus desdobramentos na Igreja daquela época. Cremos
que o seu bom entendimento auxiliará os homens de hoje
a compreender o que ocorre em nossos dias. Após isso
apresentamos o nosso Pentecostes, como um paralelo do
Primitivo.
Enfim, “Contexto Eclesial da Renovação
Carismática Católica” esclarecemos, a começar dos
critérios de eclesialidade que a Igreja exige dos
movimentos, que a Renovação é uma legítima forma da
Igreja se expressar, com todos as decorrências desta
legitimidade.
7
Todos os capítulos são marcados por um caráter
enciclopédico, introdutório, genérico, pois considerados
em si mesmos dariam cada um obras completas. Mas, ao
mesmo tempo, apresentamos as questões fundamentais de
nossa identidade.
Em todo o tempo tivemos dois cuidados principais:
o primeiro foi não nos afastarmos da Sã Doutrina. Para
isso trilhamos os caminhos da Sagrada Escritura, da
Sagrada Tradição e do Magistério da Igreja. O segundo
foi apresentar o estudo com linguagem e fatos
consoladores aos irmãos.
Quanto à linguagem e à argumentação, seguindo as
pegadas dos Apóstolos, adotamos várias vezes um tom
apologético, pelo qual pedimos desculpa aos que, optando
pela tendência cientificista deste tempo, ou esperando a
linguagem sóbria dos tratados, possam se sentir
desconfortáveis com nossa abordagem.
Estamos abertos às críticas e sugestões.
Ainda uma palavra final. Esta não poderia faltar, é
de agradecimento sincero aos colegas da Comissão de
Formação Nacional da Renovação Carismática Católica
que, exaustivamente, analisaram esta apostila, mas de
maneira especial ao Marcos Dione Ugoski Volcan, que fez
a primeira revisão teológica, à Alides D. Mariotti, que fez
a primeira revisão de texto e ao Antônio Carlos Lugnani
que, dentre outras coisas, promoveu a organização das
citações e notas bibliográficas.
Expressamos também os mesmos agradecimentos
aos teólogos que gentilmente fizeram a revisão teológica
final, são eles: João Luiz da Silva, SVA, Reginaldo
Albuquerque da Silva, SVA e Cláudio José Cardoso.
Colaboração inestimável foi prestada na revisão
gramatical pelo professor Raul Pimenta. A ele também
agradecemos.
Finalmente, agradecemos às amigas Andréa
Paniago Fideles e Lília que abnegadamente doaram um
pouco do seu tempo para ler os originais e oferecer
acertadas sugestões, bem como a todos os irmãos que,
compreensivamente, esperaram a publicação deste
trabalho.
Oro a Deus para que dê a todos a recompensa do
profeta, com infinito amor.
Amém. Deus os abençoe. “Intensificai as vossas
invocações e súplicas. Orai também por mim” (Ef 6,18-
19).
Fraternalmente, Dercides Pires da Silv
a
8
CAPÍTULO PRIMEIRO
IDENTIDADE DA RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLIC
AExistem muitas formas de identificar um ser. Uma
pessoa, por exemplo, biologicamente é identificada como
um animal mamífero, bípede, homeotermo, dentre outras
designações. Filosoficamente o homem é um ser racional,
dotado de alma; psicologicamente é um conjunto
composto por emoções, sentimentos, vontade.
Teologicamente o homem é um ente que, sem deixar de
ser animal e portador de alma, é dotado de um espírito,
logo, é um ente espiritual-animal racional. Já socialmente
o ser humano é identificado por características bio-
sociais, isto é, pela estatura, pela cor dos olhos, pelo nome
e sobrenome. Isto demonstra que identificar um ser
complexo como o homem, de forma completa e
definitiva, não é tarefa fácil. Esta mesma dificuldade se
apresenta à identificação de um movimento religioso
como a Renovação Carismática Católica. Mas, tal como o
homem, ela também pode ser identificada, pois possui
caracteres que a aproximam de outros movimentos, bem
como alguns que lhe são próprios. Vamos a eles.
Partimos da idéia de que a Renovação possui
identidade, isto é, tem nome e sobrenome. Tal como o
homem que recebe sua identidade espiritual no Batismo
Sacramental, quando passa a ser filho de Deus, o nosso
Movimento recebe sua identidade com o batismo no
Espírito Santo, quando passa a ser Renovação Pentecostal
ou Carismática,1
conforme o costume do lugar em que for
organizada.
A Renovação possui muitas características. Todas
nos dizem que a Renovação é Renovação, como as do
homem nos dizem que ele é humano. Uma grande parte
delas será analisada nesta apostila. Todas nos ajudarão a
conhecer nosso Movimento, mas as três principais serão
analisadas neste capítulo. São elas: Batismo no Espírito
Santo, prática dos carismas, notadamente dos
extraordinários, e formas de vida comunitária. Em se
tratando de identificação, estas três características são o
DNA2
da Renovação, de tal forma que se em um grupo
1 Nota do autor: Pessoalmente, entendo que o
melhor nome para designar nosso Movimento é
“Renovação Pentecostal Católica,” pois entendo que
o termo “carismática” reduz seu significado, por
contemplar somente um dos elementos que a
identificam, que são os carismas. No início, pelos
carismas serem mais evidentes, e por surgirem
imediatamente após a efusão do Espírito Santo, foi
mais fácil, e até natural, ligá-los diretamente ao
nome da Renovação, chamando-a de Renovação
Carismática. Hoje, entretanto, após mais de três
décadas de existência do Movimento Pentecostal
Católico moderno, nota-se com clareza que o termo
“Pentecostal” o definiria com mais exatidão e com
larga vantagem, pois nele existem inúmeros frutos
pentecostais, além dos carismas.
2 DNA é a sigla inglesa do ácido
desoxirribonucléico. O DNA, atualmente, permite
faltar uma delas, não poderá ser tido como um genuíno
organismo do nosso Movimento.
Com efeito, para identificar nossa espiritualidade
com exatidão precisamos entender que sua essência é o
batismo no Espírito Santo e os seus desdobramentos são
as manifestações dos carismas bíblicos, a começar pelos
que se encontram em Marcos 16,17-18 e na Primeira
Carta aos Coríntios 12,7-10, bem como as comunidades
de aliança, de vida e os próprios grupos de oração, uma
vez que preenchem os requisitos teológicos para serem
designados como formas de comunidades cristãs eclesiais.
Isso é fácil de compreender, pois o que se entende por
identidade é formado por características ou dados
próprios do ser que se deseja identificar, seja este ser uma
pessoa ou uma instituição social.
Encontrar os dados que identificam a Renovação
só é possível porque ela possui algo próprio, que são os
elementos básicos de sua espiritualidade, ou seja, são as
características enumeradas acima. Alguém que a observar
de fora poderá dizer assim: “Este povo não pertence ao
Cursilho de Cristandade, nem ao Movimento dos
Focolares, nem aos Vicentinos, nem tampouco são de
alguma ordem terceira ligada a alguma ordem religiosa.
Este povo é, na verdade, o Movimento denominado de
Renovação Carismática Católica ou Renovação
Pentecostal Católica”.
Em nossa reflexão devemos entender que cada
movimento católico tem suas características peculiares.
Isto é um princípio, e dele partimos para dizer que é
exatamente por isso que os movimentos são expressões da
Igreja, isto é, um jeito de a Igreja se manifestar. Estas
características atraem as pessoas para eles, permitindo que
se organizem e coloquem seus carismas a serviço do
Reino. Os movimentos partilham várias características,
uma vez que têm a Santíssima Trindade como matriz; mas
cada um conserva algo próprio, algo que o torna único na
comunidade dos cristãos.
Quanto à Renovação, muitos dados a identificam,
além dos três elementos básicos – Batismo no Espírito
Santo, prática dos carismas e comunidades. Eis alguns:
Aceitação incondicional de Jesus como Salvador pessoal
e como Senhor Absoluto; amar a nós mesmos como filhos
de Deus, amar a Deus como Pai, cultivar os dons de nossa
santificação, docilidade ao Espírito Santo, engajamento
pastoral, experiência de filhos de Deus, fé, sólido e
equilibrado relacionamento com Maria, mãe de Jesus e
que, mediante exames laboratoriais, a ciência dê a
última palavra sobre a identificação dos seres vivos.
Assim, pela sua análise, determinam-se os reinos
dos seres vivos, concluindo se são animais ou
vegetais. Determinam-se também suas espécies e
até suas famílias. Assim, com grande margem de
segurança, indicam-se os parentescos mais
próximos possíveis, chegando até a determinar a
maternidade e a paternidade.
9
nossa; coração missionário, amor e zelo pelo Evangelho,
reconhecimento de nossa realidade pecadora,
relacionamento de amor com a Igreja, relacionamento
fraternal com os santos, vivência sacramental, promoção
humana e espiritual dos filhos de Deus, engajamento
sóciopolítico, conversão.
Os dados acima inegavelmente perpassam, em
forma de frutos, todo o perfil da espiritualidade da
Renovação. Entretanto não são suficientes para identificá-
la, pelo simples fato de também serem patrimônio, pelo
menos em parte, de todas as espiritualidades
genuinamente católicas. Por exemplo, amor e zelo pelo
Evangelho marcam profundamente os franciscanos e
focolarinos; promoção humana e espiritual dos pobres é o
objetivo dos vicentinos; já o engajamento sóciopolítico
recheia a cartilha do movimento das CEBs. A novidade da
Renovação neste caso é que nela se encontram, em vários
estágios, todos os dados acima enumerados, além de
outros não listados.
Assim nos resta analisar os elementos básicos de
nossa identidade que realmente nos distinguem:
1. BATISMO NO ESPÍRITO SANTO
Quanto ao batismo no Espírito Santo, ele, por si
só, ainda é pouco para nos identificar, mas é a essência de
nossa espiritualidade. Cremos ser sinal de maturidade
reconhecer isso. A razão é simples: é que toda pessoa
cristã, cujo batismo seja válido, foi batizada em nome do
Pai, do Filho e do Espírito Santo. Logo, todas são,
portanto, batizadas no Espírito Santo. Todos os
movimentos católicos podem dizer, com justiça, que seus
membros são batizados no Espírito Santo. Dizemos mais:
até mesmo as pessoas que não pertencem a nenhum
movimento religioso, a nenhuma forma de congregação
religiosa, desde que sejam batizadas sacramentalmente,
também podem dizer que são batizadas no Espírito do
Senhor, porque Jesus ordenou que os Apóstolos fizessem
discípulos para Ele batizando os neoconvertidos em nome
do Pai, do Filho e do Espírito Santo3
justamente para que,
plenos do Espírito, como Ele próprio, recebessem o poder
de se tornarem filhos de Deus.4
O dado novo que tem ocorrido na Renovação, em
relação ao Batismo no Espírito Santo, é que no seu seio
essa graça tem sido dinâmica e se renova continuamente,
como acontecia na Igreja Primitiva.5
Assim, essa
renovação constante do batismo, bem como o seu
dinamismo, nos tem dado uma identidade ímpar, em se
tratando de Igreja Católica; infelizmente única, pois o
ideal é que todos os católicos, senão todas as pessoas,6
vivam essa graça.
3 Cf. Mt 28,19-20
4 Cf. Jo 1,12; Rm 8,14
5 Cf. At 2,1-4; 4,29-31; Ef 5,18
6 Cf. Nm 11,29; Jl 3,1-2; Catec. 1287
Dado a sua importância, analisaremos este dado de
nossa identidade mais demoradamente.
Antes de analisar este tema gostaria de
lembrar sua importância. Lembremos que na análise
da Espiritualidade da Renovação, feita no capítulo
próprio, concluímos que o Batismo no Espírito Santo
é o fato gerador de nossa espiritualidade e com ela
nossa identidade. É com o Batismo que tudo
começa para o cristão. É com essa nova Efusão do
Espírito Santo que tudo começa para a Renovação.
O Batismo no Espírito Santo não é o fim da
Renovação; não é, em absoluto, seu ponto de
chegada. Ao invés, é seu princípio; tanto como
início, quanto como norma.
a) CONCEITO
Primeiramente digamos o que o batismo no
Espírito Santo não é.
“A Igreja Primitiva utilizava o
Batismo no Espírito Santo para a
iniciação cristã. O emprego desta frase,
hoje, para o despertar mais tardio da
graça sacramental original não significa,
de modo algum, um segundo Batismo".7
Então é isto: definitivamente o Batismo no
Espírito Santo não pode ser confundido com o
Sacramento do Batismo ministrado com rito próprio
pela Igreja, pois não são a mesma coisa.
Visto que o Batismo no Espírito Santo não é uma
repetição do Batismo Sacramental, vejamos o que ele é.
Para isso partiremos de uma idéia apresentada por Jesus
no principal dia de uma das Festas dos Tabernáculos
realizada em Jerusalém, quando Ele, de pé, proclamava:
“Se alguém tiver sede, venha a mim e beba. Quem
crê em mim, como diz a Escritura: Do seu interior
manarão rios de água viva" (João 7,37-38). O Evangelista
segue esclarecendo o significado destas palavras de Jesus,
dizendo: “(Jesus) Dizia isso, referindo-se ao Espírito
que haviam de receber os que cressem nele" (João
7,39).
Como vemos na pregação de Jesus, cuja
interpretação vem a lume por meio do Evangelista,
o Espírito Santo é apresentado metaforicamente
como sendo um Rio de Água Viva.
Encontramos a segunda idéia importante para
o conceito de Batismo no Espírito Santo no
significado etimológico da palavra batismo, que no
7 COMISSÃO DE SERVIÇO NACIONAL DA
RENOVAÇÃO CARISMÁTICA DOS EUA. Avivar a
Chama. Documento da Conferência do Coração da
Igreja de Teólogos e Líderes Pastorais, São Paulo:
Loyola, 1992.
10
grego, donde ela vem, designa o ato de submergir,
de mergulhar.8
Ora, já que o vocábulo batismo em sua
origem significa mergulho, nada mais natural do que
entender o mesmo que a Igreja Primitiva entendeu
dos ensinamentos de Jesus e de João Batista sobre
este acontecimento espiritual, isto é, que este
batismo feito por Jesus diretamente sobre os
primeiros discípulos, e a partir daí ministrado por
meio deles aos demais cristãos, é um verdadeiro
mergulho no Rio de Água Viva, que é o Espírito
Santo.
Das idéias acima fica claro que o desejo do
Senhor é que sejamos mergulhados por Ele em seu
próprio Espírito. É por isso que João Batista9
revelou que Jesus é aquele que batiza no Espírito
Santo (que mergulha no Espírito Santo).
O termo Batismo no Espírito Santo designa o
fenômeno espiritual que consiste no ato de uma
pessoa acolher a divina graça de ser colocada no
coração da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade
por meio da ação do Filho.
A graça deste batismo pode ser expressa de
outra forma. Estamos falando da Efusão do Espírito
Santo. A palavra efusão vem de efundir, que é
formada pelo verbo fundir antecedido pelo prefixo
“e”: e+fundir.
Entre os inúmeros significados de “fundir”
está o de unir, juntar. O prefixo “e” leva ao
significado de movimento externo, para fora; como
sair, por exemplo. Assim, efundir significa verter,
entornar, espalhar-se, derramar-se. Donde se
conclui que efusão é o ato de efundir-se.10
Relacionando estes significados com a Efusão do
Espírito Santo, é natural deduzir que ela denomina o
ato de Jesus derramar sobre os crentes o seu
próprio Espírito.
Enquanto o Batismo designa o movimento de
Jesus ao introduzir uma pessoa crente no Rio de
Água Viva, a Efusão leva à idéia de que o crente é
plenificado pelo Espírito Santo que a ele vem,
sempre por um ato de Jesus que O envia, que O
derrama sobre quem crê. Ambas significam uma
única realidade espiritual, que é a graça da
plenitude do Espírito Santo, concedida a uma
pessoa que crê em Jesus.
Assim, podemos concluir que o termo
Batismo no Espírito Santo nomeia a graça pela qual
o Pai e o Filho nos dão do seu Espírito. Também
pode ser designado de Efusão do Espírito Santo,
para significar o seu derramamento sobre nós. De
forma que, literalmente, Batismo no Espírito Santo
8 Cf. Catec. 1214
9 Cf. Mt 3,11
10 FERREIRA, Aurélio B. H. Novo Dicionário da
Língua Portuguesa., 1986.
significa nosso mergulho nEle; e efusão, seu
derramamento sobre nós.11
b) FUNDAMENTOS
Nos outros capítulos destas reflexões
encontram-se inúmeros fundamentos para o
Batismo no Espírito Santo, quer sejam bíblicos, quer
sejam doutrinários ou, ainda, extraídos da Tradição
que a Igreja recebeu de Jesus e dos Apóstolos para
viver e ensinar, desde sua fundação até a vinda
gloriosa de Cristo. Desta forma, neste capítulo
exporemos somente alguns fundamentos mais
específicos.
b.1) Fundamentos Bíblicos
O Batismo no Espírito é conhecido
sistematicamente no Novo Testamento, embora no
Velho tenha acontecido na vida dos profetas.12
É
assim que vemos já quase na abertura das
narrações evangélicas o profeta João Batista
revelando que o Messias batizaria os seus no
Espírito Santo e no Fogo.13
Posteriormente Jesus promete aos discípulos que
rogaria ao Pai para que Ele lhes mandasse outro Paráclito,
isto é, o Espírito Santo; ao mesmo tempo os instruiu
acerca do Espírito e do que Ele era capaz de fazer.14
Após a Ressurreição o Senhor sopra sobre os
discípulos dizendo-lhes: “Recebei o Espírito Santo” (Jo
20, 22). Também por essa época Jesus refaz a promessa
do envio do Paráclito, como vemos em Lucas 24,49 e
Atos 1,8.
Como Lucas narrou, estas promessas foram
literalmente cumpridas no dia de Pentecostes.15
Dessa forma, quando se fala em Batismo no
Espírito Santo, está-se fazendo referência uma graça
espiritual com profundas raízes bíblicas lançadas pelo
profeta João Batista e pelo próprio Mestre, quando,
segundo o testemunho dos evangelistas, a revelaram aos
discípulos e os instruíram a seu respeito, tendo-os o
Senhor, por fim, batizado.
11 O Batismo no Espírito Santo está relacionado
entre os objetivos da Renovação, nos Estatutos do
Serviço Internacional da Renovação Carismática
Católica (ICCRS), registrados no Vaticano, que,
antes de serem aprovados pelo Pontifício Conselho
para os Leigos, foram examinados por vários
canonistas e teólogos da Santa Sé (Cf. ALDAY,
Salvador Carrillo. Renovação Carismática, Um
Pentecostes Hoje, 1996, páginas 5 e 10).
12 Cf. Nm 11,1-30
13 Cf. Mt 3,11; Mc 1,8; Lc 3,16; Jo 1,33
14 Cf. Jo 14,15-16.26; 15,26; 16,7-15
15 Cf. At 2, 1-11
11
b.2) Fundamentos Doutrinários
A doutrina sobre o Batismo no Espírito Santo se
formou a partir dos ensinamentos que Jesus ministrou
pessoalmente aos Apóstolos e que estes transmitiram à
Igreja Primitiva. Desta forma é a partir desta Sagrada
Tradição que compreendemos os fundamentos
doutrinários da Efusão do Espírito Santo.
Naquele tempo o Batismo no Espírito Santo não
gerava polêmica entre os crentes, nem tampouco
perplexidades. Notamos isto desde os ensinamentos dos
escritores do período subapostólico, Inácio (†110) e
Policarpo (†155), por exemplo. Eles instruíam os
catecúmenos sobre o batismo já pressupondo a graça da
Efusão do Espírito. Quando catequizavam os
neoconvertidos os instruíam sobre os carismas do Espírito
Santo que, como se sabe, seguem-se à Efusão.
Na primeira versão desta apostila,16
já
encontramos a seguinte constatação:
“Além dos textos do Novo Testamento,
foram identificados alguns textos pós-bíblicos que
demonstram como os autores do início do
cristianismo compreendiam o Batismo no Espírito
Santo. O recebimento dos carismas, inclusive o
dom da revelação, pertenciam à celebração dos
Sacramentos do Batismo, da Confirmação e da
Eucaristia, através dos quais as pessoas
tornavam-se parte da Comunidade Cristã, isto é,
cristãs. Os testemunhos de Tertuliano (c. 160-
245), Hilário de Poitiers (c. 315-365), Cirilo de
Jerusalém (c. 315-389), João Crisóstomo (347-
407), Basílio de Cesaréia (c. 330-379) Gregório
Nazianzeno (329-389), entre outros afirmam que
os carismas eram recebidos na iniciação cristã. O
mesmo testemunho é dado pelas comunidades que
representam as culturas Latina, Grega e Síria”.
A esta conclusão chegam todos os que investigam
a doutrina cristã, como a Conferência do Coração da
Igreja de teólogos e líderes pastorais da Renovação
Carismática Católica dos Estados Unidos da América, em
seu documento Avivar a Chama.17
Neste documento
aquela conferência conclui e diz que “a iniciação
cristã é Batismo no Espírito Santo”. E segue com
a mesma linguagem incisiva:
“Os pentecostais ortodoxos
(pentecostais protestantes) não
inventaram o Batismo no Espírito. Mais
exatamente, ele pertence à integridade
da iniciação cristã testemunhada pelo
Novo Testamento e pelos primeiros
mestres pós-bíblicos da Igreja. Pedro
descreve os elementos essenciais da
16 RCC - Escola Paulo Apóstolo. Identidade da
RCC. p. 21
17 Cf. COMISSÃO... Avivar a Chama. Op. Cit., pp.
17 e 18
iniciação cristã com estas palavras:
‘Convertei-vos e cada um peça o Batismo em nome
de Jesus Cristo, para conseguir perdão dos
pecados. Assim, recebereis o dom do Espírito
Santo’ (At 2,38). A vida cristã começa com
uma conversão à pessoa de Jesus, mas
também envolve, essencialmente, o
dom do Espírito Santo”.
Com base na doutrina da Igreja só nos resta uma
conclusão lógica: o Batismo no Espírito Santo é liturgia
pública e é normativo. Justino Mártir, Orígenes, Dídimo,
o Cego, e Cirilo de Jerusalém o tinham por sinônimo de
iniciação cristã. Hilário de Poitiers, João Crisóstomo, João
de Apaméia, Filoxeno de Mabugo, Severo de Antioquia,
José de Hazaia e ainda Cirilo de Jerusalém, consideravam
o recebimento de carismas parte integrante da iniciação
cristã.18
Cirilo de Jerusalém (c. 315-387) em vinte e três
ensinos que ministrou sobre o Batismo, entendeu
“que a Igreja de Jerusalém, como
todas as outras, situa-se em uma
sucessão carismática, uma história do
Espírito iniciada com Moisés. O Espírito
é uma ‘nova espécie de água”.19
Com o passar dos séculos ninguém jamais duvidou
da presença do Espírito Santo nos Sacramentos de
iniciação cristã. Salvador Carrillo Alday, calcado no
ensinamento de São Tomás,20
vai mais além ao informar
que o Doutor Angélico admite o Batismo no Espírito
Santo e ensina sobre ele e seus efeitos em sua obra mais
célebre, a Suma Teológica. Diz ele que a cada novo envio
do Espírito a graça passa a operar de um modo
absolutamente novo. Para ele cada novo envio do Espírito
produz uma verdadeira ‘vida nova’.
O atual Catecismo da Igreja Católica, editado em
11 de outubro de 1992, recolheu esta doutrina em vários
parágrafos. Cito como exemplo os números 696, 731,
746, 1287 e 1699.
No parágrafo 696 o Catecismo repete Lucas 3,16,
dizendo que "João Batista (...) anuncia o Cristo
como aquele que ‘batizará com o Espírito Santo'..."
Já nos parágrafos 731 e 746, fala-se da Efusão do Espírito
Santo no dia de Pentecostes como sendo o seu
derramamento sobre os Apóstolos e seus companheiros.
Algo muito bom e reconfortante vem no número
1287, com as seguintes palavras:
“Ora, esta plenitude do Espírito
não devia ser apenas a do Messias;
devia ser comunicada a todo o povo
messiânico. Por várias vezes Cristo
18 Ibid., p. 20
19 Ibid., p. 23
20 ALDAY, Salvador Carrillo. Renovação
Carismática Católica. Um Pentecostes hoje, pp. 43-
44.
12
prometeu esta efusão do Espírito,
promessa que realizou primeiramente
no dia da Páscoa (Jo 20,22) e em
seguida, de maneira mais marcante, no
dia de Pentecostes (...).”
O parágrafo 1288 segue dizendo que a partir de
então os Apóstolos seguiram comunicando esta graça a
todos os que creram em Jesus e que assim esta graça é
perpetuada na Igreja.
Conclusivamente podemos dizer que a Doutrina da
Igreja, formada a partir da Tradição Apostólica, passando
pelos séculos chegou aos nossos dias fundamentando o
Batismo no Espírito Santo ou sua Efusão, como queiram.
c) FINALIDADE DO BATISMO NO
ESPÍRITO SANTO
Aparentemente muitas finalidades poderiam
ser ligadas ao Batismo no Espírito Santo, porém
somente uma poderá ser tida como finalidade real.
Trata-se da plenitude do Espírito Santo. Jesus nos
batiza no seu Espírito para, em primeiro lugar,
ficarmos cheios dEle. A partir desta plenitude é que
outros efeitos são gerados. Falamos aqui dos
efeitos visíveis e sensíveis que decorrem
imediatamente da Plenitude do Espírito que a sua
Efusão nos dá.
Esta consideração é muito importante, pois realça a
necessidade de se buscar a plenitude do Espírito do
Senhor, que nos alça à categoria de filhos de Altíssimo.21
O que faz a diferença entre nós e os demais seres
não é simplesmente a posse de uma alma racional, se bem
que isso é muito importante. Somos testemunhas de
quantidade infinita de pessoas inteligentes que têm
degradado seus relacionamentos interpessoais a níveis
infra-humanos. Aqui, mais uma vez, ressalta-se a
necessidade da plenitude do Espírito Santo para que o
homem possa atingir a sua maturidade, “até que todos
tenhamos chegado à unidade da fé e do
conhecimento do Filho de Deus, até atingirmos o
estado de homem feito, a estatura da maturidade de
Cristo. Para que não continuemos crianças ao sabor
das ondas, agitados por qualquer sopro de doutrina,
ao capricho da malignidade dos homens e de seus
artifícios enganadores. Mas, pela prática sincera da
21 "A todos aqueles que o receberam, aos que crêem no
seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de
Deus, pois todos os que são conduzidos pelo Espírito de
Deus são filhos de Deus. Porquanto não recebestes um
espírito de escravidão para viverdes ainda no temor, mas
recebestes o espírito de adoção pelo qual clamamos: Aba!
Pai! O Espírito mesmo dá testemunho ao nosso espírito de
que somos filhos de Deus" (Jo 1,12; Rm 8,14-16; Lc
24,49; At 1,8).
caridade, cresçamos em todos os sentidos, naquele
que é a cabeça, Cristo.22
Com palavras ocidentais não se expressa com
clareza a plenitude do Espírito. Com efeito, a palavra
grega utilizada no Novo Testamento para o que se traduz
por “cheio” no termo “cheio do Espírito” não tem similar
em nossa língua. O vocábulo que mais se aproxima é a
palavra “pleno”, que vem a ser cheio totalmente. Essa
dificuldade se dá porque o termo grego “pleró” (πλερο)
tem um significado dinâmico. Enquanto para nós ao se
encher alguma coisa, como um copo de água, por
exemplo, para-se de colocar a água nele assim que esta
atinge suas bordas, justamente por estar cheio, com a
palavra grega “pleró” não é assim. Apesar de ela também
designar algo cheio, não se trata de um cheio estático, mas
dinâmico, que não pára de se encher, igual a um copo que
se coloca sob torneira aberta. Ninguém dirá que o copo
não estará cheio quando a água começar a se derramar. O
copo ao permanecer debaixo da torneira aberta estará
continuamente cheio, não se esvaziará jamais, exatamente
como quer dizer a palavra “pleró:” cheio derramando. É
diferente de um copo que se enche e se coloca sobre a
mesa.
A partir do termo grego “pleró,” entendemos a
vontade de Deus para nós, em relação ao Seu Espírito. Ele
deseja que nosso Pentecostes seja perene, ininterrupto. É
por isso que Ele nos convida a acolhermos a presença do
Espírito Santo como um dom dinâmico, capaz de nos
fazer experimentar seu transbordamento
ininterruptamente.
A finalidade do Batismo no Espírito Santo, como
já foi dito, será mais esclarecida no item abaixo.
d) FRUTOS DO BATISMO NO ESPÍRITO
SANTO
Quem aceita o Batismo no Espírito Santo é
plenificado por Ele e torna-se apto a produzir seus frutos.
Assim, desde São Paulo,23
é conhecida a linguagem
“frutos do Espírito”. A chave de entendimento é simples,
mas é bom mencioná-la. Ei-la: o Batismo no Espírito
Santo leva à sua plenitude; esta produz os frutos. Assim
sabemos que os frutos do Espírito Santo decorrem de sua
plenitude em nosso ser, exceto um, que é o próprio
Espírito que recebemos por meio do Batismo.
A quem não é batizado o primeiro fruto do
Batismo é o próprio Dom do Espírito Santo. Mas nos dias
atuais, para os católicos que já são batizados em nome do
Pai, do Filho e do Espírito Santo, portanto já portadores
do Dom do Espírito, o primeiro fruto da Efusão tem sido
o “despertar” deste Dom, ou como alguns preferem dizer,
a sua renovação. Esta Efusão põe em operação a opus
operantis (a parte que o homem deve fazer para a eficácia
sacramental) em relação ao Sacramento do Batismo, a
qual que estava em parte somente “ligada;” estava "ex
22 Cf. Ef 4, 13-15
23 Cf. Gal 5,22-23
13
opere operantis", pois dependia de alguma ação ou
qualidade humana para ter eficácia. Em Deus, a partir de
Deus, todo Sacramento já nasce plenamente eficaz e apto
para produzir os frutos a que se destina. Da parte do
homem, contudo, não é assim. Pode haver inúmeros
obstáculos humanos a impedir a operação da graça. O
Batismo também está sujeito a estas mazelas do homem.
Muitos são batizados, mas sequer conseguem vislumbrar
uma vida digna de filhos de Deus. Com a efusão do
Espírito Santo que temos experimentado, o nosso Batismo
sacramental tem deixado de ser, para a nossa vida,
somente uma promessa, um presente em potencial, para
ser alçado ao grau de Dom ativo que libera em nós as
graças que nos pertenciam desde o tempo do nosso
precioso Sacramento Batismal.
De outra parte, todos os frutos mencionados no
capítulo sobre a espiritualidade, não são outra coisa senão
autênticos frutos do Batismo no Espírito Santo.
Para entender melhor esta idéia tomemos a noção
de sacramento “ligado” que o Frei Raniero
Cantalamessa,24
pregador da Casa Papal, nos traz. Ele se
baseia na teologia católica que adota a idéia de
sacramento lícito e válido, porém “ligado”. O sacramento
é dito “ligado” quando ministrado validamente, mas seus
frutos não são usufruídos por falta do implemento de
alguma condição. O Sacramento, com esta característica,
é uma graça em potencial, à espera de que a condição se
realize.
É óbvio que estamos falando de condições
humanas, pois da parte de Deus o sacramento já nasce
eficaz.
Ainda para esclarecer essas idéias um pouco mais,
lembremos a conexão do Batismo no Espírito Santo com
o Batismo Sacramental. No ensinamento teológico
reconhece-se que para inúmeros católicos o batismo é um
sacramento em parte apenas “ligado”. De fato, Deus, por
meio de um agir conhecido por opus operantum, faz gerar
os efeitos que dependem exclusivamente da graça divina.
Isto significa que desde o sagrado instante em que se
ministra o Batismo, ainda que o batizado seja uma
criança, os pecados anteriores são remidos, as virtudes
teologais da fé, da esperança e da caridade já são
concedidas e a filiação divina já se opera, tudo isso pela
eficácia da ação do Espírito Santo. Mas a parte do homem
também é necessária, embora não se revista da
importância da parte de Deus. Essa parte humana se
chama opus operantis, isto é, obra a realizar. É aquilo que
o homem precisa ainda fazer.
Em que consiste esta obra do homem? Ainda
segundo o pregador papal, que ensina embasado na
Doutrina da Igreja, a qual remonta ao tempo dos Santos
Padres, que a parte humana se resume na fé que torna o
batizado apto a acolher Nosso Senhor Jesus Cristo, bem
como o introduz no discipulado do Mestre.
Agora estamos em condições de entender melhor
os frutos sensíveis que o Batismo no Espírito Santo nos
24 CANTALAMESSA, Raniero. A Poderosa Unção
do Espírito Santo, 1996. p. 41
proporciona, a começar da plenitude do próprio Espírito,
passando pelas manifestações de carismas e chegando à
conversão, que impulsiona o crente cada vez mais para a
santidade de vida.
Mas tudo isso ocorre após a plenitude do Espírito
Santo, que se obtém por meio de sua Efusão. A Efusão é
aceita mediante a fé. É por isso que um adulto que foi
batizado quando criança, no momento em que crer em
Jesus basta acolher o Batismo no Espírito Santo para ter
os seus frutos. Acolhendo o seu Batismo, o resto é com o
Espírito Santo.
Assim, podemos elencar, a título de exemplo e de
lembrança do que já foi dito em outros capítulos, os
seguintes frutos do Batismo no Espírito Santo: o próprio
Espírito Santo,25
como Dom ativo, a vivência da filiação
divina, a conversão, a caridade e seus efeitos, a vida em
comunidade. Destes consideremos a importância da
vivência da filiação divina.
Em primeira João 3,1, nossa filiação divina é
afirmada categoricamente por estas palavras: “Considerai
com que amor nos amou o Pai, para que sejamos
considerados filhos de Deus. E nós o somos de fato”.
Em João 1,12 esta idéia é estendida pelo
Testemunho do Evangelista. Ao falar do Verbo ele diz:
“Mas a todos aqueles que o receberam, aos que crêem no
seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de
Deus”.
Pela fé sabemos que somos filhos de Deus de fato.
Sabemos também que Deus nos dá o poder de sermos
seus filhos. Mas que poder é este? Este é o poder do
Espírito Santo que recebemos em nosso batismo, “pois
todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus são
filhos de Deus)” (Rm 8, 14). Aqui se vê uma vez mais a
importância da plenitude do Espírito Santo, porque é por
meio dela que seremos conduzidos por Ele, que teremos a
Vida no Espírito.26
Existiria algum fruto, alguma dádiva,
alguma graça maior do que a filiação divina? a filiação
divina vivida a partir da vida terrena?
e) JESUS, O BATIZADOR
Uma verdade bíblica é que Jesus é aquele que
batiza no Espírito Santo.27
Ele próprio disse que mandaria
o seu Espírito para os seus.28
Entretanto também no
Evangelho Ele aparece dizendo: “E eu rogarei ao Pai, e
ele vos dará outro Paráclito)” (Jo 14, 16). E mais:
“...quanto mais vosso Pai celestial dará o Espírito
Santo aos que lho pedirem”. Segundo ainda o
testemunho de João, Jesus disse que o Espírito Santo
25 ALDAY, Salvador Carrillo. Op.cit., página 31.
26 Catec. 1699
27 Cf. Mt 3,11b; Mc 1,8; Lc 3,16; Jo 1,33
28 Cf. Lc 24,49
14
procede do Pai.29
Com base nestas revelações a Igreja,
desde os primeiros séculos, ensinou que o Espírito
procede do Pai e do Filho, porque ambos podem no-lo
dar.
Mais ainda: uma vez que o Espírito Santo é Deus,
podemos pedir por seu batismo diretamente a Ele. E isso a
Igreja sempre fez.
Com base nestas considerações não vejo motivo
para inquietação sobre quem nos batiza no Espírito Santo,
pois de qualquer das Pessoas da Santíssima Trindade a
quem o pedirmos, crendo em Jesus, com certeza o
receberemos.
Uma solução prática seria seguir o próprio
coração, que se move segundo o momento espiritual que
se vive, no que toca à intimidade com a Santíssima
Trindade. Lembrando o que se disse no capítulo sobre a
espiritualidade da Renovação, quando se analisou o
aspecto Trinitário de nossa espiritualidade, dissemos que
conforme o estágio espiritual que a pessoa está vivendo,
ora se liga mais ao Pai, ora ao Filho, ora ao Espírito
Santo, até que isto se equilibre numa intimidade
igualitária. Assim, quem se sentir mais íntimo do Pai,
peça a Ele o seu Batismo; quem se sentir mais ligado ao
Filho, pode pedir-lhe o Espírito Santo; quem estiver mais
ligado ao Espírito Santo, clame por Ele; enfim, quem se
relacionar equilibradamente com as Pessoas da Santíssima
Trindade, peça, então, a qualquer delas, ou a todas, como
Deus Trino, a desejada Efusão. Em qualquer destas
situações com certeza seremos batizados no Espírito
Santo.
f) QUEM PODE SER BATIZADO NO
ESPÍRITO SANTO
Nossa mentalidade cultural nos obriga a
merecer as coisas boas que a vida oferece. Uma
criança quando erra não encontra compreensão, é
castigada. Quando ela deseja algo bom, é-lhe
oferecida uma barganha: “Se você se comportar
bem, irá à casa dos primos, ganhará uma bola, um
sorvete”. Vivemos uma espécie de “cultura do
merecimento”. Esta mentalidade entrou em nossa
catequese há séculos. Já nem percebemos sua
nocividade para o nosso relacionamento com Deus.
É também por causa desta forma de pensar que
incontável quantidade de pessoas jamais acreditaram que
podem experimentar o amor de Deus. Acreditam que por
serem pecadoras não o merecem. Quem é prisioneiro
desta torção cultural deve buscar ajuda, pois com certeza
não deve estar conseguindo sequer pedir a Deus a cura de
uma simples dor de cabeça. Tudo por acreditar que não
merece.
De fato, confrontando nossos pecados com a
santidade de Deus, ninguém se verá merecedor de graça
alguma. Mas, por outro lado, se aceitarmos que Deus nos
29 Cf. Jo 15,26
ama porque Ele é amor,30
que Ele é apaixonado por nós
porque somos seus filhos e sua natureza é amor,
abriremos nosso coração para receber tudo o que Ele
quiser nos dar, por mais contraditório que seja perante
nossa mentalidade mundana.
E se realmente existe algum presente, algum bem,
algum Dom, que Deus deseja nos dar já nesta vida terrena
é o seu Espírito, porque, como já dissemos antes, o
Espírito Santo é o poder de Deus para gerar filhos para
Ele. Jesus encabeçou a lista desta geração como
primogênito de uma multidão de irmãos,31
agora é a nossa
vez.
Vejamos algumas passagens bíblicas que
demonstram esse desejo de Deus.
Um dia, quando o povo de Israel se tornara um
fardo muito pesado para Moisés, ele foi se queixar ao
Senhor. Deus se compadeceu dele e mandou que
escolhesse setenta anciãos de autoridade junto ao povo.
Ordenou que os escolhidos fossem para a Tenda de
Reunião a fim de receberem do mesmo Espírito que
conduzia o servo Moisés. Estes anciãos seriam seus
colaboradores na árdua missão de servir o povo eleito.
Cumprida a ordem, todos receberam o Espírito
Santo e começaram a profetizar. Entretanto dois dos
escolhidos não atenderam à ordem do Senhor,
permanecendo no Acampamento. Porém, mesmo assim,
profetizavam à vista de todo o povo. Um jovem ao
presenciar este fato correu à Tenda para noticiá-lo a
Moisés. Ao ouvir o relato daquele jovem, Josué, zeloso da
autoridade de Moisés, expressou o seu desejo de ver os
dois repreendidos. Graças a Deus o dócil servo Moisés
não os admoestou. Ao invés disso, proclamou uma linda
profecia com estas palavras:
“Por que és tão zeloso por mim? Prouvera a
Deus que todo o povo do Senhor profetizasse, e que
o Senhor lhe desse o seu espírito!” (Nm 11, 29)
Josué não conseguia ver a graça do Espírito Santo
que recaíra efusivamente sobre os anciãos. Ele via a
autoridade profética de Moisés conspurcada. Para ele os
que haviam permanecido no acampamento eram
pecadores desobedientes e não mereciam profetizar e nem
poderiam ter recebido do Espírito que animava Moisés.
Então este é o desejo de Deus: que todo o seu povo
profetize. Mas vemos também neste episódio que Ele deu
o Espírito Santo a todos os escolhidos, incluindo aqueles
que, aos olhos dos homens, não o mereciam.
Noutra época o Senhor disse:
“Depois disso, acontecerá que derramarei o
meu Espírito sobre todo ser vivo: vossos filhos e
vossas filhas profetizarão; vossos anciãos terão
sonhos, e vossos jovens terão visões. Naqueles dias,
30 Cf. 1ª Jo 4,16
31 Cf. Rm 8,29
15
derramarei também o meu Espírito sobre os
escravos e as escravas ” (Joel 3, 1-3).
No tempo desta profecia as mulheres e os filhos
não tinham valor social para a mentalidade da época. Os
escravos, menos ainda. E as escravas, muito menos. Mas
o Senhor é claro ao expressar o seu desejo: o seu Espírito
é para “todo ser vivo”. Ao Senhor não importa a
condição da pessoa. O Espírito Santo é destinado a todos.
Enfim chegou a vez de Jesus, a Palavra Viva do
Pai, dizer a quem Deus deseja dar o Espírito Santo. E Ele
disse assim:
“Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas
coisas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai
celestial dará o Espírito Santo aos que lho pedirem
” (Lc 11, 13).
Então vemos mais uma vez que Deus não deseja
excluir ninguém da graça de receber o seu Espírito.
Este desejo do Pai foi recolhido pela Doutrina da
Igreja. Lemos em nosso catecismo a seguinte formulação:
“Ora, esta plenitude do Espírito
Santo não devia ser apenas a do
Messias; devia ser comunicada a todo o
povo messiânico” (catec. , 1287).
Gostaria de chamar a atenção para uma palavra
que foi empregada em todas as passagens acima. Trata-se
do pronome TODO. Três vezes ele veio literalmente e
uma, implicitamente. Em Números foi dito: “todo o povo
do Senhor”; Em Joel: “todo ser vivo”; Em Lucas: “aos
que”, significando “todos os que”; No Catecismo: “todo
o povo messiânico”. Não há dúvida, portanto, que
Deus deseja que todos os homens sejam batizados no
Espírito Santo.
Aqui não se indaga sobre a santidade ou o
merecimento de alguém. O Espírito Santo vem para todos.
Deus não espera que o pecador se santifique para dar-lhe
o Seu Espírito; o Espírito é que santifica o pecador. Deus
não aguarda que o homem se salve para plenificá-lo do
Espírito Santo; o pecador é tocado pelo Espírito para ir a
Jesus, o Salvador.32
Todo é um pronome indefinido. Isto significa que
o Espírito Santo não vem para pessoas determinadas,
“iluminadas” por algum dom pessoal ou por alguma
espécie de merecimento particular. Não. A ninguém o
Senhor definiu aprioristicamente para receber o Espírito
Santo. Ele é muito claro a este respeito. O Espírito Santo
é para todos; até para Saulo, até para Agostinho, até para
Madalena, até para Zaqueu... até para mim, você e eu
podemos dizer. Que bom saber disso! Amém.
g) CONDIÇÕES PARA SER BATIZADO NO
ESPÍRITO SANTO
32 Cf. Catec. 683.
Se o Espírito Santo é para todos, existiria
alguma condição para o seu Batismo? Naturalmente
que sim. Existe a parte do homem a ser feita.
Vamos a ela.
Em João 1,12 “a todos aqueles que o (o Verbo,
Jesus, acréscimo do autor) receberam, aos que crêem no
seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de
Deus”. Romanos 8,14-16 nos esclarece que este poder
que nos faz filhos de Deus é o Espírito Santo. Em Atos
encontramos: “Pedro lhes respondeu: Arrependei-vos e
cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo
para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do
Espírito Santo" (At 2,38).
Assim, de forma direta e pessoal, temos as
seguintes condições para a Efusão do Espírito Santo: crer
em Jesus33
, converter-se, batizar-se34
e receber Jesus.
Qual seria a utilidade dessas condições, já que o
Espírito Santo é para todos? Ao refletir sobre isso só
encontramos uma utilidade digna de nota: é a abertura de
coração para receber a graça de Deus. O Pai não força
ninguém a receber seus dons, por isso, para recebê-los, é
necessário aceitá-los. E esta aceitação deve ser sincera,
pois sabemos como Deus abomina a hipocrisia.
Caso houvesse algum jeito de alguém abrir o
coração para o Batismo no Espírito Santo sem as
condições acima, certamente o Pai, que é amor, lho daria.
Mas não há nenhum jeito de se abrir à graça de Deus que
não seja por estas condições. Elas são os chaveiros que
nos confeccionam a chave. A chave é o pedido. Sem crer
em Jesus nada lhe pediremos. Conversão é alteração de
rota, mudança de direção. Quem está sob a direção do
mundo, se não se voltar para a direção de Jesus, também
nada lhe pedirá. O batismo aqui significa aceitar o perdão
dos pecados. A recusa do perdão dos pecados foi o que
causou o suicídio de Judas Iscariotes. Ninguém que rejeita
a graça do perdão terá o coração aberto para o Espírito
Santo. Por fim, quem não recebe Jesus, não recebe o Pai e
permanecerá hermeticamente fechado para o Dom do
Espírito.
Sem estas condições seríamos presas fáceis do
pecado de Simão, o Mago.35
Este homem acreditou em
Jesus, O recebeu e foi batizado em Seu Nome. Contudo,
não saiu da direção do mundo, não se converteu, e
ofereceu dinheiro para comprar o Dom do Espírito Santo.
Por isso foi-lhe negada qualquer possibilidade de
participar do ministério dos Apóstolos.
Cumpridas estas condições estaremos aptos a
acionar a chave do Batismo no Espírito Santo. Mas
ninguém deve se preocupar em demasia com as condições
acima apresentadas, como se desejasse ter certeza de já tê-
las cumprido ou não. Quem isto fizer cairá no outro
extremo, isto é, na exigência da santidade para merecer o
Espírito Santo. O que se pede aqui é que se creia em
33 Cf. Catec. 1287
34 Cf. Catec. 1287
35 Cf. At 8,9-23
16
Jesus, que se receba Jesus, que se volte para Ele e que se
aceite a remissão dos pecados.
h) CHAVE DO BATISMO NO ESPÍRITO
SANTO
A chave que mencionamos está no capítulo onze
do Livro de Lucas. Precisamente no versículo treze.
Leiamo-lo diretamente do testemunho dos Apóstolos:
“Um dia, num certo lugar, estava Jesus a
rezar. Terminando a oração, disse-lhe um de seus
discípulos: Senhor, ensina-nos a rezar, como
também João ensinou a seus discípulos. Disse-lhes
ele, então: Quando orardes, dizei: Pai, santificado
seja o vosso nome; venha o vosso Reino; dai-nos
hoje o pão necessário ao nosso sustento; perdoai-
nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos
àqueles que nos ofenderam; e não nos deixeis cair
em tentação.
Em seguida, ele continuou: Se alguém de
vós tiver um amigo e for procurá-lo à meia-noite, e
lhe disser: Amigo, empresta-me três pães, pois um
amigo meu acaba de chegar à minha casa, de uma
viagem, e não tenho nada para lhe oferecer; e se ele
responder lá de dentro: Não me incomodes; a porta
já está fechada, meus filhos e eu estamos deitados;
não posso levantar-me para te dar os pães; eu vos
digo: no caso de não se levantar para lhe dar os
pães por ser seu amigo, certamente por causa da
sua importunação se levantará e lhe dará quantos
pães necessitar.
E eu vos digo: pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e
achareis; batei, e abrir-se-vos-á. Pois todo aquele
que pede, recebe; aquele que procura, acha; e ao que
bater, se lhe abrirá. Se um filho pedir um pão, qual
o pai entre vós lhe dará uma pedra? Se ele pedir
um peixe, acaso lhe dará uma serpente? Ou se lhe
pedir um ovo, dar-lhe-á porventura um escorpião?
Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas a
vossos filhos, quanto mais vosso Pai celestial dará
o Espírito Santo aos que lho pedirem"(Lc 11,1-13).
Vários aspectos deste trecho sagrado nos atraem.
Inicialmente vemos Jesus ensinando aos discípulos como
orar e o que pedir. Em seguida não se pode deixar de
notar que o Mestre está ensinando que se deve pedir o
Espírito Santo, especificamente. Completa o ensinamento
instruindo quando pedi-lo, como e até quando. Por fim,
encerra a lição dizendo que para ter o Espírito Santo basta
pedir.
É bastante consoladora esta promessa de Jesus:
basta pedir. Pedir é a chave. “vosso Pai celestial dará o
Espírito Santo aos que lho pedirem”. Ao examinar o
próprio coração e não descobrir nele a fé; ao olhar para si
e não ver nenhum pouquinho de conversão; se questionar
o próprio Batismo; se tentar aceitar Jesus e não conseguir;
mesmo assim tenha ânimo. Não seja seu próprio carrasco.
Lance as “redes” na Palavra do Mestre36
e peça o seu
Espírito. Ele garante que o Pai no-lo dará. Confiemos em
sua grande misericórdia.37
Notem como Jesus coloca o exemplo de um pai de
família pedindo comida para um amigo. Não pedia para
36 Cf. Lc 5,5
37 Testemunho do autor: “Certa vez, no ano de 1.984,
quando eu participava de uma seita de origem japonesa,
chamada Seicho-no-ie, vivi alguns anos de muita
confusão. Naquela época eu participava dos cultos da
seita aos domingos de manhã, nas tardes dos mesmos
domingos ia às missas. Também na mesma época
coordenava uma equipe de vigília de um encontro de
casais. Ainda devorava literatura das várias religiões
orientais e do espiritismo, além de flertar com a Rosa-
Cruz e desejar ser maçom.
Era realmente uma grande confusão,
principalmente porque a Seicho-no-ie me bombardeava
para me convencer de que ela portava a “verdade da vida”
e que todas as religiões “eram” boas e “vinham” de Deus.
Por aquele tempo, em uma tarde quando eu lia o
Evangelho de João, parei no capítulo dezesseis, onde diz
que “quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade,
ensinar-vos-á toda a verdade (versículo 13).” Naquele
momento pensei que se Deus existisse estaria mais
interessado em me convencer da verdade do que eu
mesmo. Então ajoelhei e clamei pelo Espírito Santo do
jeito que pude. Estava em minha casa, fechado em um
quarto. Pedi-lhe que me mostrasse qual era a verdade;
onde estava a verdade.
Orei e esqueci que havia orado. Mas Deus não se
esqueceu.
Alguns meses após, ao sair de uma missa, recebi
um panfleto no qual se convidava para o Encontro
Regional de Oração da Renovação Carismática em
Goiânia. Sem perceber a mão de Deus, imediatamente
senti-me pessoalmente convidado. E fui.
O encontro foi no primeiro fim de semana de
agosto do mesmo ano (1.984) em que fiz a oração ao
Espírito Santo. Fui sexta-feira e sábado. No domingo de
manhã havia o culto da Seicho-no-ie, ao qual eu não
faltava por três anos e meio. Até hoje não me lembro se
pensei no dito culto naquela manhã de domingo. Só sei
que fui para o encontro de Jesus, isto é, para o Encontrão
da Renovação, como é conhecido até hoje. O Espírito
Santo me levou aonde eu pude encontrar a Verdade e me
batizou. Como católico desde que nasci, certamente estive
em inúmeros lugares onde a Verdade estava, mas não a
havia reconhecido antes. Porém naquele fim de semana
feliz, A Reconheci e A aceitei. Assim, por uma
intervenção do Espírito Santo, fui salvo de todas as
armadilhas e artimanhas do inimigo. Amém!
17
si, mas mesmo assim precisava urgentemente da comida
para alimentar o seu hóspede. Se não por caridade, pelo
menos para cumprir o dever da hospitalidade.
A atitude deste anfitrião é a atitude que Deus
espera de nós ao pedir o seu Espírito. Aquele homem não
teve vergonha e nem medo das conseqüências de gritar ao
vizinho em altas horas da madrugada. Ele tinha certeza
que precisava de pão e pelo pão enfrentou o preconceito,
o orgulho, o apego à auto-imagem e os venceu. Enfrentou
até as negativas do vizinho, mas perseverante as venceu
também.
Todos sabem quando precisam de comida. É
quando se sente fome. Todos precisam aprender quando
estão vazios do Espírito Santo, para pedi-lo. De fato,
mesmo sem querer vamos contristando o Espírito Santo
até extinguir38
sua presença manifesta em nós. Isso
acontece por causa de nossos pecados.39
Quando estamos
vazios da presença do Espírito ficamos mornos, nossas
atividades religiosas tornam-se pesadas, substituímos os
louvores pelas lamúrias, o perdão passa a ser um esforço
sobre-humano, nossa vontade de orar se perde; perdemos
o entusiasmo, o ardor; ou, na melhor das hipóteses,
fazemos tudo isso com demasiado esforço. Estes são
somente alguns sinais.
Quantas vezes podemos pedir o Batismo no
Espírito Santo? Respondemos a esta pergunta com outras
duas: quantas vezes devemos alimentar o nosso corpo?
Quantas vezes devemos pedir o Espírito Santo? A Sagrada
Escritura nos mostra os Apóstolos recebendo o Espírito
Santo mais de uma vez. Em algumas a presença do
Espírito está implícita; noutras ela vem explicitamente.40
Até quando se deve pedir o Espírito Santo? Até
quando o pai de família da história de Jesus, narrada por
Lucas e transcrita acima, pediu pão? Pede-se comida até
recebê-la. Pede-se o Espírito Santo até encharcar-se dEle.
Como se sabe que se está cheio do Espírito Santo?
Quando Ele vem a nós, de alguma forma somos tocados.
Precisamos aprender a perceber seus toques. Você se
lembra daquele cântico dos primeiros anos da
Renovação? Aquele que diz assim: “Quando o Espírito do
Senhor se move em mim eu rezo como o Rei Davi... Eu
canto... eu danço... eu luto... eu venço... eu louvo como o
Rei Davi?”
Quando o Espírito do Senhor nos plenifica,
vencemos a tristeza, a mornidão, a apatia, vivemos como
filhos de Deus. Para entender isso basta lançar os olhos
para os cristãos que viam seus entes queridos sendo
assassinados pelos perseguidores da Igreja, sabendo ser
eles os próximos, mas mesmo assim permaneciam
cantando louvores que confundiam seus algozes.
Então neste item vimos que o Senhor nos deu uma
chave para “acionarmos” as comportas de Deus a fim de
saciarmos nossa sede com sua Água Viva. Vimos também
38 Cf. 1 Ts 5,12-22
39 Cf. Ef 4,17-32
40 Cf. Mt 10,1; Lc 10,1-19; Jo 20,22; At 2,1-4; 4,29-
31
que esta chave deve ser acionada sempre que não
estivermos vivendo como filhos de Deus, e também que
não se deve cessar de acioná-la enquanto não se vir pleno
do Espírito. Vimos ainda que se pode e deve-se acioná-la
quantas vezes necessitar e que ao acioná-la não se deve
ter vergonha, medo ou preconceito das conseqüências,
mesmo que nos chamem de bêbados,41
sob pena de
fechar-se o coração. Coração fechado é tudo que se deve
evitar no relacionamento com o Espírito Santo.
Ah! Mais uma coisa: para permanecer cheio do
Espírito Santo é necessário cultivar a santidade. Com o
Batismo O recebemos, mas não basta somente recebê-Lo.
É necessário que permaneçamos nEle e Ele em nós. Mas
isto é assunto para outro estudo. Até lá.
2. PRÁTICA DOS CARISMAS42
O dinamismo da efusão do Espírito de Deus na
Renovação se manifesta em inúmeros frutos. Um deles
compõem a trilogia que melhor nos identifica. Estamos
falando dos carismas; precisamente, da prática dos
carismas. Não trataremos simplesmente da aceitação dos
dons do Espírito, mas sim de uma prática sensível,
palpável, efetiva, real.
A identificação da Renovação pela prática dos
carismas é tão veemente que dispensa maiores análises.
Basta lembrar que o próprio nome com o qual nos
designam, “carismáticos”, advém dessa prática.
De fato, reforçando o que já foi dito acima,
lembremos que o ardor missionário, outras
espiritualidades o possuem. Igualmente as obras sociais, a
conscientização política, o amor fraterno, o surgimento de
pequenas comunidades. O mesmo se diga da aceitação
dos carismas. Deve ser dificílimo encontrar um só cristão
de outra espiritualidade que tenha coragem de dizer que
não aceita os carismas, que não acredita neles. Já, por
outro lado, conheço muitos que não os praticam, nos
moldes bíblicos e conforme a Tradição. Para muitos os
carismas existem... na Bíblia, na prática não. É como se
eles tivessem de ficar quietinhos no seu canto, dentro da
Bíblia, para não incomodar. Agem como se os carismas,
ao lançarem seus galhos na vida eclesial deixassem de ser
verdadeiros, deixassem de ser do Espírito Santo.
Por isso podemos concluir este pensamento
dizendo que a espiritualidade da Renovação Pentecostal
Católica é profundamente marcada pelos carismas, tanto
que em muitos lugares do mundo ela é conhecida por
Renovação Carismática Católica. A manifestação dos
carismas atesta o nosso batismo no Espírito Santo, logo,
podemos afirmar que o Batismo no Espírito Santo,
acompanhado das manifestações dos sinais do
41 Cf. At 2,13
42 A prática dos carismas é também um dos
objetivos relacionados nos Estatutos do Serviço
Internacional da Renovação Carismática Católica
(ICCRS), Cf. ALDAY, Salvador Carrillo. Op. cit.,
página 10.
18
Pentecostes prometidos por Jesus43
é, com certeza, nossa
identidade. O Senhor ao renovar o nosso batismo em seu
Espírito, nos impele a assumi-lo com todos os seus
efeitos, inclusive os carismas.
Devido à grande variedade dos carismas, um
estudo específico lhes será dedicado, por meio de uma
apostila própria. Por hora encerramos o seu assunto.
3. COMUNIDADES
O terceiro elemento básico de nossa identidade, a
vivência comunitária, existe também em outros
movimentos. Há muito tempo que os focolarinos levam
avante o seu projeto de comunhão de vida. Também os
cebianos lutam há dezenas de anos por suas comunidades
eclesiais de base. O que existe de novo em nossas
comunidades é que são carismáticas e têm nascido
espontaneamente, conforme o sopro do Espírito.
Entre nós existem os grupos de oração, cujos
elementos fundamentais os caracterizam como
verdadeiras comunidades eclesiais. Outras duas espécies
de comunidades ainda existem. Uma, reúne pessoas que
se comprometem umas com as outras com mais arrojo do
que nos grupos de oração. Partilham vários aspectos da
vida com mais profundidade. Ajudam-se mutuamente em
várias situações do viver humano, inclusive no financeiro,
caso seja necessário. Estas são as comunidades de aliança.
A outra espécie de comunidade, denominada
comunidade de vida, que tem nascido a partir de
experiências pneumatológicas no seio da Renovação,
podem se ligar à sua estrutura ou não. Caso optem por
vida independente, conservam em as graças pentecostais.
Nas comunidades de vida tudo é partilhado. Os
bens pertencem a todos, comumente, incluindo o dinheiro.
As comunidades, oportunamente, também terão
investigação própria.
4. CONCLUSÃO
Neste tema demonstrou-se que o batismo no
Espírito Santo sempre esteve presente na Igreja. Está bem
fundamentado na Sagrada Escritura, na Sagrada Tradição
e no Magistério. É uma graça atual, para os nossos dias,
como o foi sempre. Milhares de pessoas o recebem dentro
da Igreja Católica. Em nossos dias já existe literatura
católica produzida por bons teólogos investigando este
fenômeno. Assim podemos aceitá-lo, pedi-lo, vivê-lo,
propagá-lo, destemidamente e com fé.
Amém. Deus os abençoe. “Intensificai as vossas
invocações e súplicas. Orai também por mim” (Ef 6,18-
19)
43 Cf. Mc 16,17-18
19
.
RESUMO
A identidade da Renovação é composta pelo Batismo no Espírito Santo, pela prática dos carismas e
pela geração de comunidades.
Destes elementos analisamos somente o Batismo no Espírito Santo, deixando os outros para
posteriores estudos.
Recordemos, portanto, o que o batismo no Espírito Santo não é. “A Igreja Primitiva utilizava o Batismo
no Espírito Santo para a iniciação cristã. O emprego desta frase, hoje, para o despertar mais tardio da graça
sacramental original não significa, de modo algum, um segundo Batismo.” Então é isto: definitivamente o
Batismo no Espírito Santo não pode ser confundido com o Sacramento do Batismo ministrado com rito
próprio pela Igreja, pois não são a mesma coisa.
O termo Batismo no Espírito Santo designa o fenômeno espiritual que consiste no ato de uma pessoa
acolher a divina graça de ser colocada no coração da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade por meio da
ação do Filho. Enquanto o Batismo designa o movimento de Jesus ao introduzir uma pessoa crente no Rio
de Água Viva, a Efusão leva à idéia de que o crente é plenificado pelo Espírito Santo que a ele vem,
novamente por um ato de Jesus que O envia, que O derrama sobre quem crê.
Encontramos fundamentos bíblicos para o Batismo no Espírito Santo desde o Velho Testamento (Nm
11,1-30; Jl 3,1-2), que perpassam o Novo (Mt 3,11; Mc 1,8; Lc 3,16; 24,49; Jo 1,33; 14,15-16.26; 15,26;
16,7-15; Jo 20, 22 ; At 1,8; 2,1-11; 4,30-31; 10,44-46) e atinge em cheio a Patrística, no ensinamento de
padres como Inácio (†110) e Policarpo (†155) que instruíam os catecúmenos sobre o batismo já
pressupondo a graça da Efusão do Espírito. Quando catequizavam os neoconvertidos os instruíam sobre os
carismas do Espírito Santo. Outros ainda podemos lembrar neste momento. Cirilo de Jerusalém (c. 315-
387), que em vinte e três ensinos que ministrou sobre o Batismo, entendeu “que a Igreja de Jerusalém,
como todas as outras, situa-se em uma sucessão carismática, uma história do Espírito iniciada
com Moisés. O Espírito é uma ‘nova espécie de água’:” Santo Tomás também ensinou que no
Batismo no Espírito
Santo há um novo envio do Espírito e que a graça passa a operar de um modo absolutamente novo.
A respeito da presença do Espírito Santo, em manifestações carismáticas, o Padre Domenico Grasso
resume a doutrina encontrada na Igreja, desde os Apóstolos até o final do Século Vinte. Tudo comprovando
a efusão do Espírito Santo., desde o Apóstolo Paulo até nossos dias, ininterruptamente:
Mas algo muito bom e reconfortante vem no número 1287 do Catecismo da Igreja Católica com as
seguintes palavras:
“Ora, esta plenitude do Espírito não devia ser apenas a do Messias; devia
ser comunicada a todo o povo messiânico. Por várias vezes Cristo prometeu
esta efusão do Espírito, promessa que realizou primeiramente no dia da
Páscoa (Jo 20,22) e em seguida, de maneira mais marcante, no dia de
Pentecostes (...)”.
Portanto, com base na doutrina da Igreja só nos resta uma conclusão lógica: o
Batismo no Espírito Santo é liturgia pública e é normativo. Justino Mártir, Orígenes,
Dídimo, o Cego, e Cirilo de Jerusalém o tinham por sinônimo de iniciação cristã. Hilário de
Poitiers, João Crisóstomo, João de Apaméia, Filoxeno de Mabugo, Severo de Antioquia,
José de Hazaia e ainda Cirilo de Jerusalém, consideravam o recebimento de carismas
parte integrante da iniciação cristã:
Ponto importante a destacar neste resumo é a finalidade do Batismo no Espírito
Santo. Esta finalidade é nos plenificar do Espírito Santo, pois tudo mais em nossa vida
decorre desta plenitude. Não é por outro motivo que o Catecismo da Igreja Católica nos
convoca a viver no Espírito.44
Esta plenitude gera inúmeros frutos, como o despertar do
Dom do Espírito recebido no Batismo, a manifestação de carismas, a vivência da filiação
44 Cf. Catec.1699
20
divina, a vida em comunidade, a conversão, a caridade e seus frutos e todos os demais
frutos mencionados no capítulo sobre a espiritualidade da Renovação.
Falta ainda relembrar que Jesus é quem nos batiza no Espírito Santo, contudo,
devemos levar em consideração que a Santíssima Trindade é Uma, portanto, podemos
pedir o Batismo no Espírito Santo ao Pai, ao Filho e ao próprio Espírito.
A Santíssima Trindade batiza a todos que pedirem, quantas vezes pedirem. A chave do Batismo no Espírito Santo
é o pedido que se faz: “... O Pai do Céu dará o Espírito Santo aos que o pedirem.” (Lc 11,13).
CAPÍTULO SEGUNDO
OFENSIVA NACIONAL DA RENOVAÇÃO CARISMÁTICA
CATÓLICA
“Somos obra sua, criados em Jesus Cristo
para as boas ações, que Deus de antemão preparou
para que nós as praticássemos” (Ef 2,10).
Nosso Deus não ata o homem a uma cadeia de
fatalismo, entretanto planeja a sua salvação e o seu bem-
viver. No plano de salvação existe muito a realizar. Tudo
já está preparado para nós. Se aceitarmos, Ele nos
revelará.45
Caso não aceitemos o seu plano, poderemos
preparar outro, ou simplesmente seguir sem nenhum
projeto. Ele respeitará nossa decisão. Às vezes até
aceitamos o seu plano, mas o executamos à nossa
maneira. Ele aceita isso também, todavia nos orienta
conforme nossa fé, nosso discernimento e nossa
capacidade auditiva espiritual consigam distinguir sua
mão misteriosa a nos guiar.
Não é fácil acolher a direção divina em trabalhos
pastorais nem em outras atividades humanas. De imediato
duas dificuldades se impõem. A primeira vem de uma fé
imperfeita que nos impede de ter intimidade com Jesus,
por ser Ele invisível a olhos carnais. A segunda é gerada
por uma cultura que rejeita qualquer interferência nas
liberdades individuais. Imagine agora os efeitos maléficos
dessas dificuldades em nossa vida, em nossas atividades
pastorais! Para servir ao Pai em sua Obra é necessário
fazer tudo em nome de Jesus, como se fosse Ele mesmo
que estivesse fazendo. É que somos seus comissionados.
Ele nos constituiu como seus procuradores. Como alguém
poderia ser um bom procurador sem seguir fielmente as
orientações de quem o envia?
Estas dificuldades foram vencidas pelos Apóstolos
mediante os contatos que tiveram com Jesus
Ressuscitado. Pedro e seus companheiros os tiveram
fisicamente. Paulo, misticamente, no caminho de
Damasco.
45 Cf. Catec. 66 e 67
Assim, experimentando a realidade da existência
de Deus, tiveram forças para se deixarem conduzir pelo
Espírito Santo. O resultado desta dinâmica pode ser
constatado no Livro dos Atos dos Apóstolos com muita
clareza, como naquele dia em que Pedro orava, enquanto
esperava que lhe preparassem uma refeição, quando
Senhor abriu o seu entendimento com uma visão,
revelando-lhe que o Evangelho não era só para os judeus,
como ele acreditava e estava praticando.46
Também em
outras passagens de Atos encontramos Jesus intervindo na
missão dos Apóstolos, como é o caso de Paulo em uma de
suas missões, que com alguns companheiros
protagonizaram um episódio narrado em Atos 16,1-10,
como segue:
“Chegou a Derbe e depois a Listra. Havia
ali um discípulo, chamado Timóteo, filho de uma
judia cristã, mas de pai grego, que gozava de ótima
reputação junto dos irmãos de Listra e de Icônio.
Paulo quis que ele fosse em sua companhia. Ao
tomá-lo consigo, circuncidou-o, por causa dos
judeus daqueles lugares, pois todos sabiam que o
seu pai era grego. Nas cidades pelas quais
passavam, ensinavam que observassem as decisões
que haviam sido tomadas pelos apóstolos e anciãos
em Jerusalém. Assim as igrejas eram confirmadas
na fé, e cresciam em número dia a dia.
Atravessando em seguida a Frígia e a província da
Galácia, foram impedidos pelo Espírito Santo de
anunciar a palavra de Deus na (província da)
Ásia. Ao chegarem aos confins da Mísia,
tencionavam seguir para a Bitínia, mas o Espírito
de Jesus não o permitiu. Depois de haverem
atravessado rapidamente a Mísia, desceram a
Trôade. De noite, Paulo teve uma visão: um
46 Cf. At 10, 1-46; 15,7-11
21
macedônio, em pé, diante dele, lhe rogava: Passa à
Macedônia, e vem em nosso auxílio! Assim que
teve essa visão, procuramos partir para a
Macedônia, certos de que Deus nos chamava a
pregar-lhes o Evangelho”.
O Senhor deseja nos orientar e o faz realmente.
Quando acatamos suas decisões ”procuramos partir
certos de que Deus nos chama a pregar o
Evangelho”. E quando estamos com Ele nosso trabalho é
confirmado por seus sinais,47
da mesma forma que um
outorgante ratifica os atos do seu procurador. Este é o
grande segredo do êxito dos Apóstolos. No exemplo
acima os evangelizadores, obedecendo ao Espírito Santo,
chegaram a Filipos. Lá conheceram Lídia e sua família.
Lá fundaram uma comunidade que muito agradou ao
Senhor.
É exatamente neste contexto de acolhimento das
boas ações de Deus revelada ao homem que enquadramos
a Ofensiva Nacional e também a própria Renovação. E é
nesta perspectiva que estudaremos a nossa espiritualidade
e que agora analisaremos a Ofensiva, pois ela é uma
dessas boas ações que Deus nos preparou.
1. CONCEITO DE OFENSIVA
NACIONAL
a) Ofensiva
Esta Ofensiva lembra um fato ocorrido em
nosso País na década de um mil e novecentos e
sessenta. Naquela época houve um terrível surto de
varíola. Inúmeras crianças e adultos eram
contaminados. Sofriam horrivelmente. A técnica
médica ainda era precária. Os doentes podiam
sofrer seqüelas permanentes, inclusive a cegueira.
Naquele tempo o governo desenvolveu uma
ação organizada para debelar a terrível peste.
Colocou à disposição de todos a vacina, os veículos
de transportes, muitos médicos e técnicos de saúde,
os recursos financeiros, a máquina administrativa;
chamou a si o rádio, o jornal, a televisão, as
revistas. Com isso mobilizou toda a Nação com um
só objetivo: vencer a varíola. E venceu. Graças a
Deus.
Na época se viam os carros do governo nas
ruas, nas praças; nas portas das Igrejas, das
escolas, dos cinemas. Também havia os cartazes,
os panfletos, os alto-falantes; os avisos dos padres,
das professoras, das catequistas, os comentários
dos vizinhos. As cidades viviam impressionadas
pela campanha. Logo os colonos também foram
envolvidos por ela. Pelas estatísticas da época
quase todos, se não todos, foram vacinados.
Outro fato que nossa Ofensiva recorda se
relaciona com os fazendeiros de Goiás, aqueles
47 Cf. Mc 16,20
cujas fazendas eram dotadas de terras que
produziam sem adubo. Na época nem se ouvia falar
em adubos químicos. Eram terras realmente férteis,
próprias para culturas de milho, arroz e feijão, que
exigem do solo umidade e temperaturas próprias de
climas tropicais.
Os maiores fazendeiros plantavam muitos
alqueires de arroz. Como sua plantação dependia
da chuva, era necessário plantar tudo de uma vez,
na melhor temporada da chuva. Com isso a lavoura
amadurecia também de uma vez. O arroz, quando
maduro, se não for colhido no tempo certo perde a
sua boa qualidade, pois fica quebradiço; “vira
quirera”, no dizer do sertanejo. Chuva sobre ele?
Nem pensar. Um simples chuvisco ou um sereno
mais forte são suficientes para pô-lo a perder.
Na época da colheita do arroz todos os
recursos financeiros, humanos e tecnológicos –
havia tecnologia rudimentar: cutelo, banca, veículos
de tração animal – eram mobilizados para a messe.
Quando os recursos próprios eram insuficientes,
buscava-se reforço nos arredores.
Nos exemplos acima vimos primeiramente
nossa Nação, depois uma diminuta parte dela, se
mobilizando e organizando suas forças para realizar
uma tarefa.
Estes exemplos servem para alargar o
conceito de ofensiva, que é um termo emprestado
da doutrina militar. Na caserna ele significa a ação
dos exércitos na qual todas as suas forças agem
coordenadamente, cumprindo cada qual sua missão
particular, porém todas sob comando único, com
vista a obter a vitória.
Nosso inimigo é pior do que aqueles que os
exércitos das nações enfrentam. Aliás, nenhuma
nação tem inimigos humanos verdadeiros. Seus
verdadeiros inimigos são o egoísmo e a intolerância,
que as fazem destruir impiedosamente milhões de
filhos de Deus. Nosso inimigo é o ateísmo que
impede a geração de filhos de Deus48
e ainda gera
filhos para o mundo. Se entendêssemos realmente
o que isso significa49
sentiríamos cada fibra do
nosso ser se abalar.
Em face de nossa inércia ante tal inimigo, é
compreensível que os filhos do mundo tenham sido
mais prudentes do que os filhos da Luz 50
nas
batalhas infindas ao longo dos séculos.
Para vencer este inimigo, que habilmente
esconde seu rosto entre os milhões de anônimos
espalhados por este mundo, podendo não estar em
nenhum lugar, mas também podendo ser
onipresente, ocupando casebres e palácios,
dirigindo cozinhas ou grandes empresas,
alfabetizando ou promulgando leis, falando por um
48 Cf. Jo 1,12
49 Cf. Jo 14,30
50 Cf. Lc 16,8
22
simples telefone ou sendo a voz da imagem
televisiva, devemos nos organizar. Não poderemos
vencer esta verdadeira guerra sem um bom
planejamento, acompanhado por uma boa
execução.
Ao lançar os olhos para a Ofensiva Nacional
da Renovação, nosso coração se enche de
esperança. Mas precisamos estar atentos, pois
ofensiva exige planejamento meticuloso, no qual se
analisa a situação do próprio exército, considerando
as armas disponíveis, o treinamento dos soldados,
as informações, as comunicações, os apoios
internos e externos, o terreno onde se desenvolverá
a ação, a visibilidade, o clima. Analisa-se também o
antagonista com os mesmos critérios.
A sua execução deverá ser perfeitamente
coordenada, sob pena de derrota. A história
universal narra a derrota de um hábil marechal
francês, chamado Napoleão Bonaparte. Ele estava
prestes a conquistar a Europa e realizar o sonho de
ter para si um império semelhante aos mais
famosos da humanidade. Planejou suas ações
como sempre. Ansiava pelo início da batalha. Cairia
sobre Waterloo como matilha de lobos sobre
coelhos.
Sua estratégia era combater o inimigo por um
flanco, empregando uma parte do seu exército, que
seria comandada por ele em pessoa. Quando o
exército adversário estivesse envolvido com ele o
restante de suas forças atacaria por outro flanco.
Assim o inimigo seria colhido entre dois fogos e
fatalmente derrotado. Antes de partir Napoleão
ordenou a um general, um dos seus melhores, que
aguardasse ordens para o ataque.
Tudo ia bem para Napoleão. O que fora
planejado estava se cumprindo. No momento certo
enviou ordens de avançar àquele general que o
apoiaria. Mas o mensageiro jamais chegou ao seu
destino. Enquanto Napoleão sustentava o seu
ataque e esperava o apoio planejado, o inesperado
aconteceu, outro exército o atacou pela retaguarda.
Ele ficou encurralado entre dois exércitos inimigos.
O velho ditado “o feitiço virou contra o feiticeiro”
recaiu sobre ele.
Entrementes, seu general, sem nada saber,
com o seu exército pronto e em ordem de marcha,
aguardava as ordens para avançar. Ordens que
jamais chegaram. De onde estava ouvia os ruídos
da batalha, mas não podia fazer nada, pois não via
e nem sabia o que estava acontecendo. Por falta de
coordenação Napoleão foi humilhado.
Não gostaríamos de trilhar os caminhos de
Napoleão. Mas ele pelos menos sofreu somente
uma derrota temporária. Não discutiremos aqui os
deméritos de suas guerras, nem as de outros tantos
marechais que já existiram e que ainda,
infelizmente, existirão.51
Mas não podemos nos dar
ao luxo de perder e perder; perder e perder. De
nossa vitória depende a felicidade do mundo. De
nosso êxito depende a instauração do Reino de
justiça. Em cada pessoa incrédula que existe neste
mundo podemos ver estampada nossa waterloo.
Com todas estas considerações, cremos que
já está bem caracterizado que uma ofensiva, para
ser realmente o que se propõe a ser, isto é, uma
ofensiva, deve ser uma ação planejada e executada
coordenadamente com vistas a conquistar um
objetivo, no nosso caso “a salvação de todos os
homens e do homem todo”.52
b) Ofensiva nacional da Renovação
A lavoura de arroz pronta para ser colhida é a
messe do agricultor. Se não for colhida
oportunamente a safra se perde; quando muito será
comida pelos animais selvagens, que não precisam
dela. As pessoas sedentas de Deus e ávidas por
salvação são a messe do Senhor; caso não sejam
hoje evangelizadas, o mundo as destruirá, no
mínimo as tomará para si e muitas, se não todas, se
perderão.
Lembrando que existe uma messe a ser
colhida,53
sintetizamos o conceito de Ofensiva
Nacional como sendo um plano de ação no mínimo
inspirado por Deus, no qual todas as suas
expressões deverão agir em conjunto, como um
corpo orgânico, onde cada uma, cumprindo seu
mister particular, concorrerá para o bom êxito da
missão geral que Jesus reservou à Renovação,
como expressão da Igreja.
2. OFENSIVA: PLANO DE DEUS PARA
A RENOVAÇÃO CARISMÁTICA
A fim de que nossos esforços evangelísticos
não descambem para ações estéreis, para fadigas
inúteis, Deus nos socorre revelando-nos o que
51 Abrindo um parêntesis, como poderíamos acabar
com as guerras? Com uma evangelização eficaz.
Mas até que a evangelização surta efeito, o que
fazer? Duas coisas, talvez: Primeira: impedir que os
adolescentes cresçam, pois enquanto houver jovens
que aceitem morrer pelos velhos – que são os que
realmente provocam as guerras (velhos não
somente em idade) – haverá guerra. Segunda:
enviar para os campos de batalhas, de fuzis em
punho, os generais, sem seus soldados; ou os reis e
presidentes, com seus parlamentos, mas sem seus
embaixadores. Que tal? Achou muito radical a
sugestão? Pode ser. Mas ajuda a pensar.
52 FLORES, José H. Prado. Formação de
Discípulos, p. 9
53 Cf. Mt 9,37
23
fazer.54
Com essa idéia inicial desejamos inserir
nossa Ofensiva Nacional no contexto da revelação
privada. É evidente que este espaço não é
apropriado para estudarmos as implicações
teológicas da revelação privada, mas para melhor
entendimento faremos algumas considerações.
Para entendê-la devemos partir da fé. Da fé
na existência de Deus, da confiança no seu amor. A
Sagrada Escritura nos dá certeza de que Ele
sempre revela seu plano aos seus enviados. Foi
assim com Moisés, com Elias e todos os profetas;
foi assim com os Apóstolos e com certeza deverá
ser sempre assim, porque Jesus está vivo;
ressuscitou e permanece o mesmo para toda a
eternidade.55
Se nos tempos apostólicos Ele esteve
presente na Igreja em sua humanidade e por seu
Espírito, se naqueles tempos Ele a assistiu e a
dirigiu,56
haverá de estar desejoso de fazer o
mesmo hoje, pois nossa santidade e sabedoria não
chegaram ao ponto de superar as daqueles que
conviveram com o Ressuscitado, nem serão
suficientes para nos fazer prescindir de sua
assistência. Ao inverso, necessitamos dela tanto ou
mais que antes, e não só intelectual, mas também
visivelmente, com sinais.
Outra consideração que devemos fazer é
sobre o ensinamento da Igreja. Quando lançamos
nosso olhar sobre a Igreja, vemos que ela, Mãe e
Mestra, não deseja nos desanimar quando vigia o
depósito da fé. Muito pelo contrário, sua intenção é
nos encorajar para prosseguirmos num proveitoso
relacionamento com nosso Deus.
Em matéria de Revelação, a Dei Verbum
ensinou normativamente que a Revelação de Deus
se consumou com Jesus Cristo e “não há que
esperar nenhuma nova revelação pública
antes da gloriosa manifestação de Nosso
Senhor Jesus Cristo” (DV, 4).
Naturalmente que esta regra da Constituição
Dogmática Dei Verbum diz respeito à Revelação
Pública, pois para a revelação privada a Igreja
destinou os seguintes parágrafos do nosso
Catecismo:
66. “(...) Todavia, embora a
Revelação esteja terminada, não está
explicitada por completo; caberá à fé
cristã captar gradualmente todo seu
alcance ao longo dos séculos.
67. No decurso dos séculos houve
revelações denominadas ‘privadas’, e
algumas delas têm sido reconhecidas
pela autoridade da Igreja. Elas não
pertencem, contudo, ao depósito da fé.
A função delas não é ‘melhorar’ ou
54 Cf. At 16,6-10
55 Cf. Jo 5,17; 1ª Cor 15,3-8; Heb 13,8
‘completar’ a Revelação definitiva de
Cristo, mas ajudar a viver dela com
mais plenitude em uma determinada
época da história. Guiado pelo
Magistério da Igreja, o senso dos fiéis
sabe discernir e acolher o que nessas
revelações constitui um apelo autêntico
de Cristo ou dos seus santos à Igreja.
A fé cristã não pode aceitar
‘revelações’ que pretendam ultrapassar
ou corrigir a Revelação da qual Cristo é
a perfeição. Este é o caso de certas
religiões não-cristãs e também de
certas seitas recentes que se
fundamentam em tais ‘revelações’”.
Ad. Tanquerey ensina que a “Revelação divina
em geral é a manifestação sobrenatural, feita por Deus,
duma verdade oculta. Quando esta manifestação se faz
para bem de toda a Igreja, é uma revelação pública;
quando se faz para utilidade particular dos que por ela são
favorecidos, chama-se revelação privada.57
Naturalmente que lecionando Teologia
Ascética e Mística, Tanquerey circunscreveu o
conceito de revelação privada aos limites do seu
trabalho, mas mesmo assim seus princípios
fundamentais foram expressos, e servem para
identificar uma revelação privada em qualquer
circunstância. São eles: a revelação é feita por
Deus, ela manifesta algo oculto e sua utilidade é
restrita aos que a recebem.58
Os três princípios acima estão presentes no
contexto do advento da Ofensiva Nacional. Isso
vemos claramente na seqüência de fatos que
antecederam o seu advento. Em uma reunião da
antiga Comissão Nacional da Renovação, realizada
no dia 05/8/92, o Senhor enviou a seguinte profecia:
“A Renovação é uma obra do Espírito
Santo. E, quando Eu a realizo neste tempo é para
voltar às origens. E uma das formas de voltar os
homens às origens é a oração. Neste caso a origem
é a oração de intercessão. A Renovação foi feita
para a intercessão, para vocês clamarem pelos
homens por meu coração. Neste momento renovo o
meu pedido, não só para intercederem pelo País de
vocês, como também pela Igreja. Intercedam muito
pelos meus sacerdotes.
56 Cf. At 8, 26.29; 10, 9-20; 15, 28; 16, 6-10
57 TANQUEREY, Ad. Compêndio de Teologia
Ascética e Mística), p. 937, § 1490.
58 Para aprofundar o significado da Revelação,
sugerimos uma consulta rápida ao Vocabulário de
Teologia Bíblica, Editora Vozes, Petrópolis-RJ: 1992
e ao Dicionário Enciclopédico da Bíblia. Editora
Vozes, Petrópolis-RJ: 1992.
24
Muitos se deixam levar pelas coisas do
mundo porque não oram. Façam um chamado para
uma grande intercessão pela Igreja e pelo País. É
um combate espiritual, e gravíssimo, de grande
proporção. Intercedam. Intercedam.
(Confirmação: Is 57,14-20).
“Eis o que declara o Senhor dos exércitos:
considerai o que fazeis! Semeais muito e recolheis
pouco; comeis e não vos saciais; bebeis e não
chegais a apagar a vossa sede; vestis, mas não vos
aqueceis; e o operário guarda o seu salário em saco
roto! Assim fala o Senhor dos exércitos: refleti no
que fazeis! Subi a montanha, trazei madeira e
reconstruí a minha casa; ela me será agradável e
nela serei glorificado, - oráculo do Senhor” (Ag
1,4b-8).
Discernimento: Deus tem um plano para este
momento. Ele é uma graça e não podemos deixar
de participar dela. Devemos buscar a unidade
nacional através da formação.
Meios de realizar a formação e a unidade
nacional: jornal de âmbito nacional, rede de
intercessão, cartas carismáticas, eventos:
congressos, grupos de trabalho-nacionais e
regionais, grupo teológico.
Conforme notícia divulgada no periódico
JESUS É O SENHOR, na época jornal oficial da
Comissão Nacional da Renovação Carismática
Católica, “Nº 04 Jul/Ago/93,” publicou-se que em
uma reunião do Conselho Nacional da Renovação,
realizada no dia 17/9/1992, quando os planos para
os próximos cinco anos estavam elaborados, o
Senhor manifestou-se por meio de profecias,
visualização e confirmação bíblica, consoante
apresentado abaixo:
Profecias:
“Meus planos são superiores aos vossos.
Rendei-vos a mim. Tendes segurado as coisas. Não
vos quero humilhar, porém toda a vossa
inteligência é mínima diante do meu plano.
Despojai-vos diante de mim.
Tudo que conquistastes e guardastes junto
a vós é nada em comparação com o enorme plano
que tenho a fazer.
Estais atrapalhando o meu plano. Despojai-
vos para que meu plano possa se realizar”
“Quero tirar dos vossos olhos os limites dos
planos pessoais, quero tirar-lhes a miopia. Disse-
vos que faríeis coisas maiores. É verdade! Mas sob
a condição de que façais segundo a vontade do Pai.
Sois servos e não senhores; sois
trabalhadores... sois trabalhadores e não
proprietários. Submetei-vos àquele que vos criou.”
Visualização:
“Conjunto de máquinas, cheias de
engrenagens, grandes e pequenas, trabalham bem,
sem parar, mas estão desconectadas entre si.
Trabalham soltas, isoladas.”
Confirmação: Eclo 29, 13-14:
“Perde o teu dinheiro em favor de teu irmão
e de teu amigo; não o escondas debaixo de uma
pedra para ficar perdido. Gasta o teu tesouro
segundo o preceito do Altíssimo, e isso te
aproveitará mais do que o ouro.”
Interpretação das profecias e das
visualizações acima: “Temos sido grupos isolados,
com atuação independente.”
Discernimento: “A unidade pretendida é a
unidade dentro de toda a diversidade de expressões
e carismas que caracterizam e enriquecem a própria
Renovação Carismática.”
Ação: “O Conselho Nacional traçou metas a
serem atingidas através de um planejamento
estratégico cujo nome é: OFENSIVA NACIONAL.”
Desta hora em diante o Conselho abandonou
aquele planejamento que já estava pronto e
retomou as orações de escuta a Deus para elaborar
novo plano, que só foi apresentado detalhadamente
meses após.
É que aquelas profecias, acompanhadas pela
visualização e o trecho do livro do Eclesiástico,
levaram o Conselho a discernir que o Senhor deseja
que a RCC, em suas várias expressões (pregação,
música, obras sociais, ação política) trabalhe
organizadamente, rumo a um mesmo objetivo:
EVANGELIZAR COM RENOVADO ARDOR
MISSIONÁRIO, A PARTIR DO BATISMO NO
ESPÍRITO SANTO.
Portanto, após meses de orações, escuta e
planejamento, a Renovação pôde afirmar, com
fundamento nas revelações proféticas classificadas pela
Igreja como revelações privadas, que “pareceu bem ao
Espírito Santo e a nós” (At 15,28) elaborar e instituir
um plano de ação no qual todas as expressões da
Renovação Carismática, alicerçadas sobre os princípios
da unidade, identidade e missão, trabalharão em conjunto,
realizando cada uma seu mister particular para propiciar à
Renovação, como expressão da Igreja, cumprimento
integral do mandato de Jesus Cristo: “Ide por todo mundo
e pregai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16, 15).
25
3. PRINCÍPIOS DA OFENSIVA
NACIONAL
São três os princípios da Ofensiva: unidade,
identidade e missão.
a) Unidade
O princípio da unidade é fundamental. Dele jamais
poderemos desistir. A ele nunca poderemos renunciar. A
unidade deve ser buscada até a última gota de suor, até o
último suspiro. A Bíblia contém muitas passagens fortes
sobre ela, como as seguintes:
“Tenho ainda outras ovelhas que não são
deste aprisco. Preciso conduzi-las também, e
ouvirão a minha voz e haverá um só rebanho e um
só pastor. Para que todos sejam um, assim como
tu, Pai, estás em mim e eu em ti, para que também
eles estejam em nós e o mundo creia que tu me
enviaste” (Jo 10,16; 17,21).
“Todos os fiéis viviam unidos e tinham tudo
em comum. Vendiam as suas propriedades e os
seus bens, e dividiam-nos por todos, segundo a
necessidade de cada um. Unidos de coração
freqüentavam todos os dias o templo. Partiam o
pão nas casas e tomavam a comida com alegria e
singeleza de coração, louvando a Deus e cativando
a simpatia de todo o povo. E o Senhor cada dia lhes
ajuntava outros que estavam a caminho da
salvação. A multidão dos fiéis era um só coração e
uma só alma. Ninguém dizia que eram suas as
coisas que possuía, mas tudo entre eles era
comum” (At 2,44-47; 4,32).
Nos tempos atuais fala-se tanto em unidade que
parece desnecessário acrescentar qualquer outra análise.
Que ela é fundamental, todos sabem. Que sem ela
qualquer organismo comete suicídio, é também do
conhecimento de todos, ou deveria ser. Que ela é
necessária para que “o mundo creia”, Jesus já o disse.
Que falta então? Você deve estar dizendo: “vivê-la”. E
tem razão. É isto mesmo. Só nos falta aperfeiçoar a
vivência deste princípio, que é na verdade um
mandamento de Jesus.
Esta reflexão parte do princípio que você deseja
viver a unidade. Você crê que seus amigos também
querem. No final de toda análise se concluirá que todos os
cristãos desejam ser “um”. Ora, se todos anelam a
unidade, por que não a conseguimos com perfeição? Seria
por falta de perdão ou por egoísmo? Seria por orgulho,
soberba, vaidade ou por machismo? Quem sabe seria por
não renunciarmos aos interesses pessoais? Isso nos leva
ao outro capítulo destes estudos: seria por falta do amor
generoso, o ágape? Poderia ser também por não entender,
em termos práticos, o que vem a ser unidade?
Unidade, na prática, é todos terem “um só
coração e uma só alma.” Significa todos terem o
mesmo desejo de se inserirem na comunidade que se
reúne em torno de Jesus. Esta comunidade, naturalmente,
visa a cumprir a missão proposta por Jesus Ressuscitado.
Para cumprir a missão organiza-se planejando. Nos planos
escolhem-se objetivos, definem-se metas, distribuem-se
tarefas, traçam-se estratégias, metodologias, prioridades.
Tudo isso considerando as pessoas e contando com elas.
Toda esta organização parece engolir a unidade. Onde está
a unidade? A unidade deve estar onde sempre esteve, no
coração de cada irmão que abraça, com a comunidade, a
execução das tarefas planejadas para cumprir o mandato
missionário de Jesus, materializado pelo Evangelista,
quando recorda: “Ide por todo o mundo e pregai o
Evangelho a toda criatura” (Mc 16,15).
Realizar as tarefas que visam ao cumprimento da
missão é importantíssimo para construir a unidade. Cada
tarefa que se cumpre é um tijolo que se assenta no edifício
da unidade. Mas este tijolo necessita de cimento para não
cair. O cimento do edifício da unidade é o ágape, aquele
amor generoso, infinito. Miremos Jesus na cruz para
abrirmos o coração a este ágape. Acolhamos do Espírito
Santo o dom da caridade, príncipe dos carismas. Somente
com ele poderemos cimentar nossa unidade, que é outro
carisma mais que precioso.
Ressalte-se, para concluir este tópico, que nossa
vitória depende do bom êxito de nossa ofensiva e esta
depende do bom funcionamento de várias engrenagens,
que são as diversas expressões da Renovação. Estas
expressões – música, pregação, intercessão, etc. – como
engrenagens, são compostas por pessoas dotadas de
sentimento, razão, emoção, liberdade, virtudes, pecados,
marcas psicológicas. Cada pessoa que se insere nesta obra
não vem para ser a ofensiva, nem para ser a engrenagem
da ofensiva, mas para se tornar um dente de alguma
engrenagem. Dente importantíssimo, porém dente. Tudo
isso eleva às nuvens a necessidade da unidade, e aos céus
a urgência do amor.
b) Identidade
Outro princípio muito importante para a Ofensiva
é o da identidade. Ele, para a Renovação, é fundamental.
Como se sabe, a identidade integra a personalidade dos
seres vivos e dos entes sociais. Quem perde a identidade
se despersonaliza, se aliena. Se alguns de seus elementos
básicos forem destruídos, quem os perde passa a não
existir.
A identidade da Ofensiva Nacional é a identidade
da Renovação, cujos elementos básicos, conforme vistos
antes, são: Batismos no Espírito Santo, prática dos
Carismas e formas de vida comunitária que têm nascido
espontaneamente.
Cabe ao plano geral de ação, denominado
Ofensiva Nacional, esclarecer nossa identidade, haurindo
da Igreja seus elementos, principalmente os fundamentais,
de forma que sejamos inseridos com mais vigor e
26
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A identidade da RCC

  • 1. ESCOLA PAULO APÓSTOLO MÓDULO BÁSICO A IDENTIDADE DA RCC 
  • 3. LISTA DE ABREVIATURAS AA Apostolican Actuositatem CATEC Catecismo da Igreja Católica DU Constituição Dogmática Dei Verbum LG Constituição Dogmática Lumem Gentium CL Christifidelis Laici CIC Código do Direito Canônico AG Decreto Ad Gentes CNBB Documentos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil RMI Redenptores Missio 3
  • 4. SUMÁRO Apresentação.........................................................................................................................01 1. Ofensiva Nacional da Renovação......................................................................................06 1.1Conceito de Ofensiva Nacional............................................... .........................................07 1.2 Ofensiva: Plano de Deus Para a Renovação Carismática..................................................09 1.3 Princípios Da Ofensiva Nacional......................................................................................11 1.4 Objetivos da Ofensiva Nacional.......................................................................................16 1.5 Conclusão.......................................................................................................................16 2. A espiritualidade Da Renovação Carismática Católica......................................................18 2.1Estatuto Do Serviço Internacional da Renovação Carismática Católica (ICCRS)..............19 2.2 Espiritualidade................................................................................................................19 2.3 Espiritualidade Da Renovação Carismática Católica........................................................20 2.4 Fundamentação Teológica da RCC.................................................................................25 2.5 Frutos da Espiritualidade da RCC...................................................................................40 3. Batismo No Espírito Santo.............................................................................................49 3.1 Conceito.........................................................................................................................49 3.2 Fundamentos..................................................................................................................50 3.3 Finalidade Do Batismo No Espírito Santo.......................................................................52 3.4 Frutos Do Batismo No Espírito Santo.............................................................................53 3.5 Jesus, O Batizador..........................................................................................................54 3.6 Quem Pode Ser Batizado No Espírito Santo...................................................................55 3.7 Condições Para Ser Batizado No Espírito Santo.............................................................56 3.8 Chave Do Batismo No Espírito Santo.............................................................................57 3.9 Conclusão.......................................................................................................................59 4. Renovação Carismática Como Um Novo Pentecostes.....................................................62 4.1 Primeiro Pentecostes......................................................................................................62 4.2 Pentecostes Atual...........................................................................................................65 5. Contexto Eclesial da Renovação Carismática Católica.....................................................72 5.1 Critérios de Eclesialidade................................................................................................72 5.2 A RCC Está Inserida No contexto Eclesial......................................................................73 5.3 Efeitos da Eclesialidade da Renovação............................................................................76 4
  • 5. 5
  • 6. ABREVIATURAS USADAS DOCUMENTO ABREVIATURA Catecismo da Igreja Católica Catec. Christifideles Laici CL Código do Direito Canônico CIC Constituição Dogmática Dei Verbum DV Constituição Dogmática Lumen Gentium LG Decreto Ad Gentes AG Decreto Apostolicam Actuositatem AA Documentos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil CNBB Redemptoris Missio Rmi 6
  • 7. APRESENTAÇÃO Conta-se que aprouve ao rei de um grande povo presentear sua filha com um lindo retrato feito à mão. O presente seria entregue em uma solenidade especial que comporia os festejos dos seus quinze anos. Expedidas as ordens reais, abriu-se o concurso, ao qual acorreram os melhores artistas do mundo. Para a concorrência deveriam exibir sua melhor criação. O vencedor faria o retrato da princesa e seria regiamente compensado. Entregues as pinturas, o ministro da cultura supervisionou a seleção das melhores, que foram entregues ao rei. Ele desejava fazer a escolha final, pessoalmente, e marcou a entrevista dos artistas para um dia de domingo. No dia aprazado os pintores chegaram cedo e logo foram entrevistados, um a um. A todos o monarca indagava se a pintura apresentada era a melhor que podiam fazer. Todos pressurosamente respondiam que sim. Logo o rei começou a se angustiar. Embora os quadros fossem bonitos, não estava gostando dos artistas; julgava-os limitados. Todos estavam respondendo a mesma coisa. Por fim um dos pintores deu a resposta que o rei esperava: –– Majestade, a minha melhor obra é sempre o próximo quadro que pintarei. Sempre no próximo coloco tudo que já aprendi com os grandes mestres, uso as novas cores que descobri, emprego as últimas experiências que adquiri, busco nova inspiração, não deixo de fora um renovado desejo de fazer melhor do que já fiz. É por isso que minha melhor arte é sempre a próxima. A cada próxima dou tudo de mim. Esta historieta ilustra o nosso sentimento enquanto examinávamos o nosso antigo módulo básico. Sabemos que cada feito poderá ser melhor do que o anterior, mas também somos consciente de que o próximo poderá ser ainda melhor. “Contudo, seja qual for o grau a que chegamos, o que importa é prosseguir decididamente" (Flp 3,16). Conscientes de nossas limitações, mas imbuídos do desejo de contribuir para o crescimento dos irmãos, examinamos o conteúdo das apostilas. Após meditar e orar bastante, depois de muitas reflexões, partilhas e debates, concluímos que ele deveria ficar como estava, ou, então, ser reformulado por completo, sob pena de quebrar sua unidade. Optamos por sua reformulação. Aproveitamos alguns temas antigos, introduzindo- lhes conteúdos novos, e acrescentamos outros, totalizando oito apostilas, para tratar dos seguintes assuntos: identidade da Renovação, carismas, grupo de oração, vida de oração, liderança e santidade; outra para contemplar um estudo introdutório sobre a Igreja e outra para apresentar uma doutrina social com base na Sagrada Escritura, na Sagrada Tradição e na Doutrina da Igreja. Fizemos o melhor que podíamos, mas podemos melhorar. Por isso contamos com as sugestões dos irmãos para eliminar alguma coisa que ainda sobrar, bem como para acrescentar outras. Nós mesmos estaremos empenhados nisto. Agora falemos desta apostila. Ela contém cinco temas. No capítulo “Ofensiva Nacional da Renovação Carismática Católica,” demonstramos que a Ofensiva é um fenômeno espiritual afeto ao campo da revelação privada, acontecido no âmbito da Renovação e dirigido a ela. Quando estudamos o capítulo sobre a “Espiritualidade da Renovação Carismática Católica,” nossa intenção principal foi apresentar fundamentos teológicos para a nossa expressão de Igreja, pois entendemos que o ponto gerador de perplexidade entre muitas pessoas não é nossa organização como movimento leigo, embora isto também tenha sido abordado. Os dissabores que às vezes tem se abatido sobre os ânimos de alguns tem sido por causa de nossa espiritualidade, principalmente pelo desconhecimento dela. Acreditamos, portanto, que se a espiritualidade que vivemos estiver bem fundamentada, por extensão toda a Renovação também estará. Na abordagem do Batismo no Espírito Santo assumimos o que ele realmente é: um Batismo no Espírito Santo. Nada mais, nada menos. Colocamos a efusão como seu paralelo. Buscamos, como já feito antes, resgatar suas origens, seu desenvolvimento e suas implicações pastorais, a partir do tempo dos Apóstolos. Para apresentar a Renovação Carismática como um novo Pentecostes, analisamos em primeiro lugar o Pentecostes dos Apóstolos com seus antecedentes bíblicos e seus desdobramentos na Igreja daquela época. Cremos que o seu bom entendimento auxiliará os homens de hoje a compreender o que ocorre em nossos dias. Após isso apresentamos o nosso Pentecostes, como um paralelo do Primitivo. Enfim, “Contexto Eclesial da Renovação Carismática Católica” esclarecemos, a começar dos critérios de eclesialidade que a Igreja exige dos movimentos, que a Renovação é uma legítima forma da Igreja se expressar, com todos as decorrências desta legitimidade. 7
  • 8. Todos os capítulos são marcados por um caráter enciclopédico, introdutório, genérico, pois considerados em si mesmos dariam cada um obras completas. Mas, ao mesmo tempo, apresentamos as questões fundamentais de nossa identidade. Em todo o tempo tivemos dois cuidados principais: o primeiro foi não nos afastarmos da Sã Doutrina. Para isso trilhamos os caminhos da Sagrada Escritura, da Sagrada Tradição e do Magistério da Igreja. O segundo foi apresentar o estudo com linguagem e fatos consoladores aos irmãos. Quanto à linguagem e à argumentação, seguindo as pegadas dos Apóstolos, adotamos várias vezes um tom apologético, pelo qual pedimos desculpa aos que, optando pela tendência cientificista deste tempo, ou esperando a linguagem sóbria dos tratados, possam se sentir desconfortáveis com nossa abordagem. Estamos abertos às críticas e sugestões. Ainda uma palavra final. Esta não poderia faltar, é de agradecimento sincero aos colegas da Comissão de Formação Nacional da Renovação Carismática Católica que, exaustivamente, analisaram esta apostila, mas de maneira especial ao Marcos Dione Ugoski Volcan, que fez a primeira revisão teológica, à Alides D. Mariotti, que fez a primeira revisão de texto e ao Antônio Carlos Lugnani que, dentre outras coisas, promoveu a organização das citações e notas bibliográficas. Expressamos também os mesmos agradecimentos aos teólogos que gentilmente fizeram a revisão teológica final, são eles: João Luiz da Silva, SVA, Reginaldo Albuquerque da Silva, SVA e Cláudio José Cardoso. Colaboração inestimável foi prestada na revisão gramatical pelo professor Raul Pimenta. A ele também agradecemos. Finalmente, agradecemos às amigas Andréa Paniago Fideles e Lília que abnegadamente doaram um pouco do seu tempo para ler os originais e oferecer acertadas sugestões, bem como a todos os irmãos que, compreensivamente, esperaram a publicação deste trabalho. Oro a Deus para que dê a todos a recompensa do profeta, com infinito amor. Amém. Deus os abençoe. “Intensificai as vossas invocações e súplicas. Orai também por mim” (Ef 6,18- 19). Fraternalmente, Dercides Pires da Silv a 8
  • 9. CAPÍTULO PRIMEIRO IDENTIDADE DA RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLIC AExistem muitas formas de identificar um ser. Uma pessoa, por exemplo, biologicamente é identificada como um animal mamífero, bípede, homeotermo, dentre outras designações. Filosoficamente o homem é um ser racional, dotado de alma; psicologicamente é um conjunto composto por emoções, sentimentos, vontade. Teologicamente o homem é um ente que, sem deixar de ser animal e portador de alma, é dotado de um espírito, logo, é um ente espiritual-animal racional. Já socialmente o ser humano é identificado por características bio- sociais, isto é, pela estatura, pela cor dos olhos, pelo nome e sobrenome. Isto demonstra que identificar um ser complexo como o homem, de forma completa e definitiva, não é tarefa fácil. Esta mesma dificuldade se apresenta à identificação de um movimento religioso como a Renovação Carismática Católica. Mas, tal como o homem, ela também pode ser identificada, pois possui caracteres que a aproximam de outros movimentos, bem como alguns que lhe são próprios. Vamos a eles. Partimos da idéia de que a Renovação possui identidade, isto é, tem nome e sobrenome. Tal como o homem que recebe sua identidade espiritual no Batismo Sacramental, quando passa a ser filho de Deus, o nosso Movimento recebe sua identidade com o batismo no Espírito Santo, quando passa a ser Renovação Pentecostal ou Carismática,1 conforme o costume do lugar em que for organizada. A Renovação possui muitas características. Todas nos dizem que a Renovação é Renovação, como as do homem nos dizem que ele é humano. Uma grande parte delas será analisada nesta apostila. Todas nos ajudarão a conhecer nosso Movimento, mas as três principais serão analisadas neste capítulo. São elas: Batismo no Espírito Santo, prática dos carismas, notadamente dos extraordinários, e formas de vida comunitária. Em se tratando de identificação, estas três características são o DNA2 da Renovação, de tal forma que se em um grupo 1 Nota do autor: Pessoalmente, entendo que o melhor nome para designar nosso Movimento é “Renovação Pentecostal Católica,” pois entendo que o termo “carismática” reduz seu significado, por contemplar somente um dos elementos que a identificam, que são os carismas. No início, pelos carismas serem mais evidentes, e por surgirem imediatamente após a efusão do Espírito Santo, foi mais fácil, e até natural, ligá-los diretamente ao nome da Renovação, chamando-a de Renovação Carismática. Hoje, entretanto, após mais de três décadas de existência do Movimento Pentecostal Católico moderno, nota-se com clareza que o termo “Pentecostal” o definiria com mais exatidão e com larga vantagem, pois nele existem inúmeros frutos pentecostais, além dos carismas. 2 DNA é a sigla inglesa do ácido desoxirribonucléico. O DNA, atualmente, permite faltar uma delas, não poderá ser tido como um genuíno organismo do nosso Movimento. Com efeito, para identificar nossa espiritualidade com exatidão precisamos entender que sua essência é o batismo no Espírito Santo e os seus desdobramentos são as manifestações dos carismas bíblicos, a começar pelos que se encontram em Marcos 16,17-18 e na Primeira Carta aos Coríntios 12,7-10, bem como as comunidades de aliança, de vida e os próprios grupos de oração, uma vez que preenchem os requisitos teológicos para serem designados como formas de comunidades cristãs eclesiais. Isso é fácil de compreender, pois o que se entende por identidade é formado por características ou dados próprios do ser que se deseja identificar, seja este ser uma pessoa ou uma instituição social. Encontrar os dados que identificam a Renovação só é possível porque ela possui algo próprio, que são os elementos básicos de sua espiritualidade, ou seja, são as características enumeradas acima. Alguém que a observar de fora poderá dizer assim: “Este povo não pertence ao Cursilho de Cristandade, nem ao Movimento dos Focolares, nem aos Vicentinos, nem tampouco são de alguma ordem terceira ligada a alguma ordem religiosa. Este povo é, na verdade, o Movimento denominado de Renovação Carismática Católica ou Renovação Pentecostal Católica”. Em nossa reflexão devemos entender que cada movimento católico tem suas características peculiares. Isto é um princípio, e dele partimos para dizer que é exatamente por isso que os movimentos são expressões da Igreja, isto é, um jeito de a Igreja se manifestar. Estas características atraem as pessoas para eles, permitindo que se organizem e coloquem seus carismas a serviço do Reino. Os movimentos partilham várias características, uma vez que têm a Santíssima Trindade como matriz; mas cada um conserva algo próprio, algo que o torna único na comunidade dos cristãos. Quanto à Renovação, muitos dados a identificam, além dos três elementos básicos – Batismo no Espírito Santo, prática dos carismas e comunidades. Eis alguns: Aceitação incondicional de Jesus como Salvador pessoal e como Senhor Absoluto; amar a nós mesmos como filhos de Deus, amar a Deus como Pai, cultivar os dons de nossa santificação, docilidade ao Espírito Santo, engajamento pastoral, experiência de filhos de Deus, fé, sólido e equilibrado relacionamento com Maria, mãe de Jesus e que, mediante exames laboratoriais, a ciência dê a última palavra sobre a identificação dos seres vivos. Assim, pela sua análise, determinam-se os reinos dos seres vivos, concluindo se são animais ou vegetais. Determinam-se também suas espécies e até suas famílias. Assim, com grande margem de segurança, indicam-se os parentescos mais próximos possíveis, chegando até a determinar a maternidade e a paternidade. 9
  • 10. nossa; coração missionário, amor e zelo pelo Evangelho, reconhecimento de nossa realidade pecadora, relacionamento de amor com a Igreja, relacionamento fraternal com os santos, vivência sacramental, promoção humana e espiritual dos filhos de Deus, engajamento sóciopolítico, conversão. Os dados acima inegavelmente perpassam, em forma de frutos, todo o perfil da espiritualidade da Renovação. Entretanto não são suficientes para identificá- la, pelo simples fato de também serem patrimônio, pelo menos em parte, de todas as espiritualidades genuinamente católicas. Por exemplo, amor e zelo pelo Evangelho marcam profundamente os franciscanos e focolarinos; promoção humana e espiritual dos pobres é o objetivo dos vicentinos; já o engajamento sóciopolítico recheia a cartilha do movimento das CEBs. A novidade da Renovação neste caso é que nela se encontram, em vários estágios, todos os dados acima enumerados, além de outros não listados. Assim nos resta analisar os elementos básicos de nossa identidade que realmente nos distinguem: 1. BATISMO NO ESPÍRITO SANTO Quanto ao batismo no Espírito Santo, ele, por si só, ainda é pouco para nos identificar, mas é a essência de nossa espiritualidade. Cremos ser sinal de maturidade reconhecer isso. A razão é simples: é que toda pessoa cristã, cujo batismo seja válido, foi batizada em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Logo, todas são, portanto, batizadas no Espírito Santo. Todos os movimentos católicos podem dizer, com justiça, que seus membros são batizados no Espírito Santo. Dizemos mais: até mesmo as pessoas que não pertencem a nenhum movimento religioso, a nenhuma forma de congregação religiosa, desde que sejam batizadas sacramentalmente, também podem dizer que são batizadas no Espírito do Senhor, porque Jesus ordenou que os Apóstolos fizessem discípulos para Ele batizando os neoconvertidos em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo3 justamente para que, plenos do Espírito, como Ele próprio, recebessem o poder de se tornarem filhos de Deus.4 O dado novo que tem ocorrido na Renovação, em relação ao Batismo no Espírito Santo, é que no seu seio essa graça tem sido dinâmica e se renova continuamente, como acontecia na Igreja Primitiva.5 Assim, essa renovação constante do batismo, bem como o seu dinamismo, nos tem dado uma identidade ímpar, em se tratando de Igreja Católica; infelizmente única, pois o ideal é que todos os católicos, senão todas as pessoas,6 vivam essa graça. 3 Cf. Mt 28,19-20 4 Cf. Jo 1,12; Rm 8,14 5 Cf. At 2,1-4; 4,29-31; Ef 5,18 6 Cf. Nm 11,29; Jl 3,1-2; Catec. 1287 Dado a sua importância, analisaremos este dado de nossa identidade mais demoradamente. Antes de analisar este tema gostaria de lembrar sua importância. Lembremos que na análise da Espiritualidade da Renovação, feita no capítulo próprio, concluímos que o Batismo no Espírito Santo é o fato gerador de nossa espiritualidade e com ela nossa identidade. É com o Batismo que tudo começa para o cristão. É com essa nova Efusão do Espírito Santo que tudo começa para a Renovação. O Batismo no Espírito Santo não é o fim da Renovação; não é, em absoluto, seu ponto de chegada. Ao invés, é seu princípio; tanto como início, quanto como norma. a) CONCEITO Primeiramente digamos o que o batismo no Espírito Santo não é. “A Igreja Primitiva utilizava o Batismo no Espírito Santo para a iniciação cristã. O emprego desta frase, hoje, para o despertar mais tardio da graça sacramental original não significa, de modo algum, um segundo Batismo".7 Então é isto: definitivamente o Batismo no Espírito Santo não pode ser confundido com o Sacramento do Batismo ministrado com rito próprio pela Igreja, pois não são a mesma coisa. Visto que o Batismo no Espírito Santo não é uma repetição do Batismo Sacramental, vejamos o que ele é. Para isso partiremos de uma idéia apresentada por Jesus no principal dia de uma das Festas dos Tabernáculos realizada em Jerusalém, quando Ele, de pé, proclamava: “Se alguém tiver sede, venha a mim e beba. Quem crê em mim, como diz a Escritura: Do seu interior manarão rios de água viva" (João 7,37-38). O Evangelista segue esclarecendo o significado destas palavras de Jesus, dizendo: “(Jesus) Dizia isso, referindo-se ao Espírito que haviam de receber os que cressem nele" (João 7,39). Como vemos na pregação de Jesus, cuja interpretação vem a lume por meio do Evangelista, o Espírito Santo é apresentado metaforicamente como sendo um Rio de Água Viva. Encontramos a segunda idéia importante para o conceito de Batismo no Espírito Santo no significado etimológico da palavra batismo, que no 7 COMISSÃO DE SERVIÇO NACIONAL DA RENOVAÇÃO CARISMÁTICA DOS EUA. Avivar a Chama. Documento da Conferência do Coração da Igreja de Teólogos e Líderes Pastorais, São Paulo: Loyola, 1992. 10
  • 11. grego, donde ela vem, designa o ato de submergir, de mergulhar.8 Ora, já que o vocábulo batismo em sua origem significa mergulho, nada mais natural do que entender o mesmo que a Igreja Primitiva entendeu dos ensinamentos de Jesus e de João Batista sobre este acontecimento espiritual, isto é, que este batismo feito por Jesus diretamente sobre os primeiros discípulos, e a partir daí ministrado por meio deles aos demais cristãos, é um verdadeiro mergulho no Rio de Água Viva, que é o Espírito Santo. Das idéias acima fica claro que o desejo do Senhor é que sejamos mergulhados por Ele em seu próprio Espírito. É por isso que João Batista9 revelou que Jesus é aquele que batiza no Espírito Santo (que mergulha no Espírito Santo). O termo Batismo no Espírito Santo designa o fenômeno espiritual que consiste no ato de uma pessoa acolher a divina graça de ser colocada no coração da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade por meio da ação do Filho. A graça deste batismo pode ser expressa de outra forma. Estamos falando da Efusão do Espírito Santo. A palavra efusão vem de efundir, que é formada pelo verbo fundir antecedido pelo prefixo “e”: e+fundir. Entre os inúmeros significados de “fundir” está o de unir, juntar. O prefixo “e” leva ao significado de movimento externo, para fora; como sair, por exemplo. Assim, efundir significa verter, entornar, espalhar-se, derramar-se. Donde se conclui que efusão é o ato de efundir-se.10 Relacionando estes significados com a Efusão do Espírito Santo, é natural deduzir que ela denomina o ato de Jesus derramar sobre os crentes o seu próprio Espírito. Enquanto o Batismo designa o movimento de Jesus ao introduzir uma pessoa crente no Rio de Água Viva, a Efusão leva à idéia de que o crente é plenificado pelo Espírito Santo que a ele vem, sempre por um ato de Jesus que O envia, que O derrama sobre quem crê. Ambas significam uma única realidade espiritual, que é a graça da plenitude do Espírito Santo, concedida a uma pessoa que crê em Jesus. Assim, podemos concluir que o termo Batismo no Espírito Santo nomeia a graça pela qual o Pai e o Filho nos dão do seu Espírito. Também pode ser designado de Efusão do Espírito Santo, para significar o seu derramamento sobre nós. De forma que, literalmente, Batismo no Espírito Santo 8 Cf. Catec. 1214 9 Cf. Mt 3,11 10 FERREIRA, Aurélio B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa., 1986. significa nosso mergulho nEle; e efusão, seu derramamento sobre nós.11 b) FUNDAMENTOS Nos outros capítulos destas reflexões encontram-se inúmeros fundamentos para o Batismo no Espírito Santo, quer sejam bíblicos, quer sejam doutrinários ou, ainda, extraídos da Tradição que a Igreja recebeu de Jesus e dos Apóstolos para viver e ensinar, desde sua fundação até a vinda gloriosa de Cristo. Desta forma, neste capítulo exporemos somente alguns fundamentos mais específicos. b.1) Fundamentos Bíblicos O Batismo no Espírito é conhecido sistematicamente no Novo Testamento, embora no Velho tenha acontecido na vida dos profetas.12 É assim que vemos já quase na abertura das narrações evangélicas o profeta João Batista revelando que o Messias batizaria os seus no Espírito Santo e no Fogo.13 Posteriormente Jesus promete aos discípulos que rogaria ao Pai para que Ele lhes mandasse outro Paráclito, isto é, o Espírito Santo; ao mesmo tempo os instruiu acerca do Espírito e do que Ele era capaz de fazer.14 Após a Ressurreição o Senhor sopra sobre os discípulos dizendo-lhes: “Recebei o Espírito Santo” (Jo 20, 22). Também por essa época Jesus refaz a promessa do envio do Paráclito, como vemos em Lucas 24,49 e Atos 1,8. Como Lucas narrou, estas promessas foram literalmente cumpridas no dia de Pentecostes.15 Dessa forma, quando se fala em Batismo no Espírito Santo, está-se fazendo referência uma graça espiritual com profundas raízes bíblicas lançadas pelo profeta João Batista e pelo próprio Mestre, quando, segundo o testemunho dos evangelistas, a revelaram aos discípulos e os instruíram a seu respeito, tendo-os o Senhor, por fim, batizado. 11 O Batismo no Espírito Santo está relacionado entre os objetivos da Renovação, nos Estatutos do Serviço Internacional da Renovação Carismática Católica (ICCRS), registrados no Vaticano, que, antes de serem aprovados pelo Pontifício Conselho para os Leigos, foram examinados por vários canonistas e teólogos da Santa Sé (Cf. ALDAY, Salvador Carrillo. Renovação Carismática, Um Pentecostes Hoje, 1996, páginas 5 e 10). 12 Cf. Nm 11,1-30 13 Cf. Mt 3,11; Mc 1,8; Lc 3,16; Jo 1,33 14 Cf. Jo 14,15-16.26; 15,26; 16,7-15 15 Cf. At 2, 1-11 11
  • 12. b.2) Fundamentos Doutrinários A doutrina sobre o Batismo no Espírito Santo se formou a partir dos ensinamentos que Jesus ministrou pessoalmente aos Apóstolos e que estes transmitiram à Igreja Primitiva. Desta forma é a partir desta Sagrada Tradição que compreendemos os fundamentos doutrinários da Efusão do Espírito Santo. Naquele tempo o Batismo no Espírito Santo não gerava polêmica entre os crentes, nem tampouco perplexidades. Notamos isto desde os ensinamentos dos escritores do período subapostólico, Inácio (†110) e Policarpo (†155), por exemplo. Eles instruíam os catecúmenos sobre o batismo já pressupondo a graça da Efusão do Espírito. Quando catequizavam os neoconvertidos os instruíam sobre os carismas do Espírito Santo que, como se sabe, seguem-se à Efusão. Na primeira versão desta apostila,16 já encontramos a seguinte constatação: “Além dos textos do Novo Testamento, foram identificados alguns textos pós-bíblicos que demonstram como os autores do início do cristianismo compreendiam o Batismo no Espírito Santo. O recebimento dos carismas, inclusive o dom da revelação, pertenciam à celebração dos Sacramentos do Batismo, da Confirmação e da Eucaristia, através dos quais as pessoas tornavam-se parte da Comunidade Cristã, isto é, cristãs. Os testemunhos de Tertuliano (c. 160- 245), Hilário de Poitiers (c. 315-365), Cirilo de Jerusalém (c. 315-389), João Crisóstomo (347- 407), Basílio de Cesaréia (c. 330-379) Gregório Nazianzeno (329-389), entre outros afirmam que os carismas eram recebidos na iniciação cristã. O mesmo testemunho é dado pelas comunidades que representam as culturas Latina, Grega e Síria”. A esta conclusão chegam todos os que investigam a doutrina cristã, como a Conferência do Coração da Igreja de teólogos e líderes pastorais da Renovação Carismática Católica dos Estados Unidos da América, em seu documento Avivar a Chama.17 Neste documento aquela conferência conclui e diz que “a iniciação cristã é Batismo no Espírito Santo”. E segue com a mesma linguagem incisiva: “Os pentecostais ortodoxos (pentecostais protestantes) não inventaram o Batismo no Espírito. Mais exatamente, ele pertence à integridade da iniciação cristã testemunhada pelo Novo Testamento e pelos primeiros mestres pós-bíblicos da Igreja. Pedro descreve os elementos essenciais da 16 RCC - Escola Paulo Apóstolo. Identidade da RCC. p. 21 17 Cf. COMISSÃO... Avivar a Chama. Op. Cit., pp. 17 e 18 iniciação cristã com estas palavras: ‘Convertei-vos e cada um peça o Batismo em nome de Jesus Cristo, para conseguir perdão dos pecados. Assim, recebereis o dom do Espírito Santo’ (At 2,38). A vida cristã começa com uma conversão à pessoa de Jesus, mas também envolve, essencialmente, o dom do Espírito Santo”. Com base na doutrina da Igreja só nos resta uma conclusão lógica: o Batismo no Espírito Santo é liturgia pública e é normativo. Justino Mártir, Orígenes, Dídimo, o Cego, e Cirilo de Jerusalém o tinham por sinônimo de iniciação cristã. Hilário de Poitiers, João Crisóstomo, João de Apaméia, Filoxeno de Mabugo, Severo de Antioquia, José de Hazaia e ainda Cirilo de Jerusalém, consideravam o recebimento de carismas parte integrante da iniciação cristã.18 Cirilo de Jerusalém (c. 315-387) em vinte e três ensinos que ministrou sobre o Batismo, entendeu “que a Igreja de Jerusalém, como todas as outras, situa-se em uma sucessão carismática, uma história do Espírito iniciada com Moisés. O Espírito é uma ‘nova espécie de água”.19 Com o passar dos séculos ninguém jamais duvidou da presença do Espírito Santo nos Sacramentos de iniciação cristã. Salvador Carrillo Alday, calcado no ensinamento de São Tomás,20 vai mais além ao informar que o Doutor Angélico admite o Batismo no Espírito Santo e ensina sobre ele e seus efeitos em sua obra mais célebre, a Suma Teológica. Diz ele que a cada novo envio do Espírito a graça passa a operar de um modo absolutamente novo. Para ele cada novo envio do Espírito produz uma verdadeira ‘vida nova’. O atual Catecismo da Igreja Católica, editado em 11 de outubro de 1992, recolheu esta doutrina em vários parágrafos. Cito como exemplo os números 696, 731, 746, 1287 e 1699. No parágrafo 696 o Catecismo repete Lucas 3,16, dizendo que "João Batista (...) anuncia o Cristo como aquele que ‘batizará com o Espírito Santo'..." Já nos parágrafos 731 e 746, fala-se da Efusão do Espírito Santo no dia de Pentecostes como sendo o seu derramamento sobre os Apóstolos e seus companheiros. Algo muito bom e reconfortante vem no número 1287, com as seguintes palavras: “Ora, esta plenitude do Espírito não devia ser apenas a do Messias; devia ser comunicada a todo o povo messiânico. Por várias vezes Cristo 18 Ibid., p. 20 19 Ibid., p. 23 20 ALDAY, Salvador Carrillo. Renovação Carismática Católica. Um Pentecostes hoje, pp. 43- 44. 12
  • 13. prometeu esta efusão do Espírito, promessa que realizou primeiramente no dia da Páscoa (Jo 20,22) e em seguida, de maneira mais marcante, no dia de Pentecostes (...).” O parágrafo 1288 segue dizendo que a partir de então os Apóstolos seguiram comunicando esta graça a todos os que creram em Jesus e que assim esta graça é perpetuada na Igreja. Conclusivamente podemos dizer que a Doutrina da Igreja, formada a partir da Tradição Apostólica, passando pelos séculos chegou aos nossos dias fundamentando o Batismo no Espírito Santo ou sua Efusão, como queiram. c) FINALIDADE DO BATISMO NO ESPÍRITO SANTO Aparentemente muitas finalidades poderiam ser ligadas ao Batismo no Espírito Santo, porém somente uma poderá ser tida como finalidade real. Trata-se da plenitude do Espírito Santo. Jesus nos batiza no seu Espírito para, em primeiro lugar, ficarmos cheios dEle. A partir desta plenitude é que outros efeitos são gerados. Falamos aqui dos efeitos visíveis e sensíveis que decorrem imediatamente da Plenitude do Espírito que a sua Efusão nos dá. Esta consideração é muito importante, pois realça a necessidade de se buscar a plenitude do Espírito do Senhor, que nos alça à categoria de filhos de Altíssimo.21 O que faz a diferença entre nós e os demais seres não é simplesmente a posse de uma alma racional, se bem que isso é muito importante. Somos testemunhas de quantidade infinita de pessoas inteligentes que têm degradado seus relacionamentos interpessoais a níveis infra-humanos. Aqui, mais uma vez, ressalta-se a necessidade da plenitude do Espírito Santo para que o homem possa atingir a sua maturidade, “até que todos tenhamos chegado à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, até atingirmos o estado de homem feito, a estatura da maturidade de Cristo. Para que não continuemos crianças ao sabor das ondas, agitados por qualquer sopro de doutrina, ao capricho da malignidade dos homens e de seus artifícios enganadores. Mas, pela prática sincera da 21 "A todos aqueles que o receberam, aos que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus, pois todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Porquanto não recebestes um espírito de escravidão para viverdes ainda no temor, mas recebestes o espírito de adoção pelo qual clamamos: Aba! Pai! O Espírito mesmo dá testemunho ao nosso espírito de que somos filhos de Deus" (Jo 1,12; Rm 8,14-16; Lc 24,49; At 1,8). caridade, cresçamos em todos os sentidos, naquele que é a cabeça, Cristo.22 Com palavras ocidentais não se expressa com clareza a plenitude do Espírito. Com efeito, a palavra grega utilizada no Novo Testamento para o que se traduz por “cheio” no termo “cheio do Espírito” não tem similar em nossa língua. O vocábulo que mais se aproxima é a palavra “pleno”, que vem a ser cheio totalmente. Essa dificuldade se dá porque o termo grego “pleró” (πλερο) tem um significado dinâmico. Enquanto para nós ao se encher alguma coisa, como um copo de água, por exemplo, para-se de colocar a água nele assim que esta atinge suas bordas, justamente por estar cheio, com a palavra grega “pleró” não é assim. Apesar de ela também designar algo cheio, não se trata de um cheio estático, mas dinâmico, que não pára de se encher, igual a um copo que se coloca sob torneira aberta. Ninguém dirá que o copo não estará cheio quando a água começar a se derramar. O copo ao permanecer debaixo da torneira aberta estará continuamente cheio, não se esvaziará jamais, exatamente como quer dizer a palavra “pleró:” cheio derramando. É diferente de um copo que se enche e se coloca sobre a mesa. A partir do termo grego “pleró,” entendemos a vontade de Deus para nós, em relação ao Seu Espírito. Ele deseja que nosso Pentecostes seja perene, ininterrupto. É por isso que Ele nos convida a acolhermos a presença do Espírito Santo como um dom dinâmico, capaz de nos fazer experimentar seu transbordamento ininterruptamente. A finalidade do Batismo no Espírito Santo, como já foi dito, será mais esclarecida no item abaixo. d) FRUTOS DO BATISMO NO ESPÍRITO SANTO Quem aceita o Batismo no Espírito Santo é plenificado por Ele e torna-se apto a produzir seus frutos. Assim, desde São Paulo,23 é conhecida a linguagem “frutos do Espírito”. A chave de entendimento é simples, mas é bom mencioná-la. Ei-la: o Batismo no Espírito Santo leva à sua plenitude; esta produz os frutos. Assim sabemos que os frutos do Espírito Santo decorrem de sua plenitude em nosso ser, exceto um, que é o próprio Espírito que recebemos por meio do Batismo. A quem não é batizado o primeiro fruto do Batismo é o próprio Dom do Espírito Santo. Mas nos dias atuais, para os católicos que já são batizados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, portanto já portadores do Dom do Espírito, o primeiro fruto da Efusão tem sido o “despertar” deste Dom, ou como alguns preferem dizer, a sua renovação. Esta Efusão põe em operação a opus operantis (a parte que o homem deve fazer para a eficácia sacramental) em relação ao Sacramento do Batismo, a qual que estava em parte somente “ligada;” estava "ex 22 Cf. Ef 4, 13-15 23 Cf. Gal 5,22-23 13
  • 14. opere operantis", pois dependia de alguma ação ou qualidade humana para ter eficácia. Em Deus, a partir de Deus, todo Sacramento já nasce plenamente eficaz e apto para produzir os frutos a que se destina. Da parte do homem, contudo, não é assim. Pode haver inúmeros obstáculos humanos a impedir a operação da graça. O Batismo também está sujeito a estas mazelas do homem. Muitos são batizados, mas sequer conseguem vislumbrar uma vida digna de filhos de Deus. Com a efusão do Espírito Santo que temos experimentado, o nosso Batismo sacramental tem deixado de ser, para a nossa vida, somente uma promessa, um presente em potencial, para ser alçado ao grau de Dom ativo que libera em nós as graças que nos pertenciam desde o tempo do nosso precioso Sacramento Batismal. De outra parte, todos os frutos mencionados no capítulo sobre a espiritualidade, não são outra coisa senão autênticos frutos do Batismo no Espírito Santo. Para entender melhor esta idéia tomemos a noção de sacramento “ligado” que o Frei Raniero Cantalamessa,24 pregador da Casa Papal, nos traz. Ele se baseia na teologia católica que adota a idéia de sacramento lícito e válido, porém “ligado”. O sacramento é dito “ligado” quando ministrado validamente, mas seus frutos não são usufruídos por falta do implemento de alguma condição. O Sacramento, com esta característica, é uma graça em potencial, à espera de que a condição se realize. É óbvio que estamos falando de condições humanas, pois da parte de Deus o sacramento já nasce eficaz. Ainda para esclarecer essas idéias um pouco mais, lembremos a conexão do Batismo no Espírito Santo com o Batismo Sacramental. No ensinamento teológico reconhece-se que para inúmeros católicos o batismo é um sacramento em parte apenas “ligado”. De fato, Deus, por meio de um agir conhecido por opus operantum, faz gerar os efeitos que dependem exclusivamente da graça divina. Isto significa que desde o sagrado instante em que se ministra o Batismo, ainda que o batizado seja uma criança, os pecados anteriores são remidos, as virtudes teologais da fé, da esperança e da caridade já são concedidas e a filiação divina já se opera, tudo isso pela eficácia da ação do Espírito Santo. Mas a parte do homem também é necessária, embora não se revista da importância da parte de Deus. Essa parte humana se chama opus operantis, isto é, obra a realizar. É aquilo que o homem precisa ainda fazer. Em que consiste esta obra do homem? Ainda segundo o pregador papal, que ensina embasado na Doutrina da Igreja, a qual remonta ao tempo dos Santos Padres, que a parte humana se resume na fé que torna o batizado apto a acolher Nosso Senhor Jesus Cristo, bem como o introduz no discipulado do Mestre. Agora estamos em condições de entender melhor os frutos sensíveis que o Batismo no Espírito Santo nos 24 CANTALAMESSA, Raniero. A Poderosa Unção do Espírito Santo, 1996. p. 41 proporciona, a começar da plenitude do próprio Espírito, passando pelas manifestações de carismas e chegando à conversão, que impulsiona o crente cada vez mais para a santidade de vida. Mas tudo isso ocorre após a plenitude do Espírito Santo, que se obtém por meio de sua Efusão. A Efusão é aceita mediante a fé. É por isso que um adulto que foi batizado quando criança, no momento em que crer em Jesus basta acolher o Batismo no Espírito Santo para ter os seus frutos. Acolhendo o seu Batismo, o resto é com o Espírito Santo. Assim, podemos elencar, a título de exemplo e de lembrança do que já foi dito em outros capítulos, os seguintes frutos do Batismo no Espírito Santo: o próprio Espírito Santo,25 como Dom ativo, a vivência da filiação divina, a conversão, a caridade e seus efeitos, a vida em comunidade. Destes consideremos a importância da vivência da filiação divina. Em primeira João 3,1, nossa filiação divina é afirmada categoricamente por estas palavras: “Considerai com que amor nos amou o Pai, para que sejamos considerados filhos de Deus. E nós o somos de fato”. Em João 1,12 esta idéia é estendida pelo Testemunho do Evangelista. Ao falar do Verbo ele diz: “Mas a todos aqueles que o receberam, aos que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus”. Pela fé sabemos que somos filhos de Deus de fato. Sabemos também que Deus nos dá o poder de sermos seus filhos. Mas que poder é este? Este é o poder do Espírito Santo que recebemos em nosso batismo, “pois todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus)” (Rm 8, 14). Aqui se vê uma vez mais a importância da plenitude do Espírito Santo, porque é por meio dela que seremos conduzidos por Ele, que teremos a Vida no Espírito.26 Existiria algum fruto, alguma dádiva, alguma graça maior do que a filiação divina? a filiação divina vivida a partir da vida terrena? e) JESUS, O BATIZADOR Uma verdade bíblica é que Jesus é aquele que batiza no Espírito Santo.27 Ele próprio disse que mandaria o seu Espírito para os seus.28 Entretanto também no Evangelho Ele aparece dizendo: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Paráclito)” (Jo 14, 16). E mais: “...quanto mais vosso Pai celestial dará o Espírito Santo aos que lho pedirem”. Segundo ainda o testemunho de João, Jesus disse que o Espírito Santo 25 ALDAY, Salvador Carrillo. Op.cit., página 31. 26 Catec. 1699 27 Cf. Mt 3,11b; Mc 1,8; Lc 3,16; Jo 1,33 28 Cf. Lc 24,49 14
  • 15. procede do Pai.29 Com base nestas revelações a Igreja, desde os primeiros séculos, ensinou que o Espírito procede do Pai e do Filho, porque ambos podem no-lo dar. Mais ainda: uma vez que o Espírito Santo é Deus, podemos pedir por seu batismo diretamente a Ele. E isso a Igreja sempre fez. Com base nestas considerações não vejo motivo para inquietação sobre quem nos batiza no Espírito Santo, pois de qualquer das Pessoas da Santíssima Trindade a quem o pedirmos, crendo em Jesus, com certeza o receberemos. Uma solução prática seria seguir o próprio coração, que se move segundo o momento espiritual que se vive, no que toca à intimidade com a Santíssima Trindade. Lembrando o que se disse no capítulo sobre a espiritualidade da Renovação, quando se analisou o aspecto Trinitário de nossa espiritualidade, dissemos que conforme o estágio espiritual que a pessoa está vivendo, ora se liga mais ao Pai, ora ao Filho, ora ao Espírito Santo, até que isto se equilibre numa intimidade igualitária. Assim, quem se sentir mais íntimo do Pai, peça a Ele o seu Batismo; quem se sentir mais ligado ao Filho, pode pedir-lhe o Espírito Santo; quem estiver mais ligado ao Espírito Santo, clame por Ele; enfim, quem se relacionar equilibradamente com as Pessoas da Santíssima Trindade, peça, então, a qualquer delas, ou a todas, como Deus Trino, a desejada Efusão. Em qualquer destas situações com certeza seremos batizados no Espírito Santo. f) QUEM PODE SER BATIZADO NO ESPÍRITO SANTO Nossa mentalidade cultural nos obriga a merecer as coisas boas que a vida oferece. Uma criança quando erra não encontra compreensão, é castigada. Quando ela deseja algo bom, é-lhe oferecida uma barganha: “Se você se comportar bem, irá à casa dos primos, ganhará uma bola, um sorvete”. Vivemos uma espécie de “cultura do merecimento”. Esta mentalidade entrou em nossa catequese há séculos. Já nem percebemos sua nocividade para o nosso relacionamento com Deus. É também por causa desta forma de pensar que incontável quantidade de pessoas jamais acreditaram que podem experimentar o amor de Deus. Acreditam que por serem pecadoras não o merecem. Quem é prisioneiro desta torção cultural deve buscar ajuda, pois com certeza não deve estar conseguindo sequer pedir a Deus a cura de uma simples dor de cabeça. Tudo por acreditar que não merece. De fato, confrontando nossos pecados com a santidade de Deus, ninguém se verá merecedor de graça alguma. Mas, por outro lado, se aceitarmos que Deus nos 29 Cf. Jo 15,26 ama porque Ele é amor,30 que Ele é apaixonado por nós porque somos seus filhos e sua natureza é amor, abriremos nosso coração para receber tudo o que Ele quiser nos dar, por mais contraditório que seja perante nossa mentalidade mundana. E se realmente existe algum presente, algum bem, algum Dom, que Deus deseja nos dar já nesta vida terrena é o seu Espírito, porque, como já dissemos antes, o Espírito Santo é o poder de Deus para gerar filhos para Ele. Jesus encabeçou a lista desta geração como primogênito de uma multidão de irmãos,31 agora é a nossa vez. Vejamos algumas passagens bíblicas que demonstram esse desejo de Deus. Um dia, quando o povo de Israel se tornara um fardo muito pesado para Moisés, ele foi se queixar ao Senhor. Deus se compadeceu dele e mandou que escolhesse setenta anciãos de autoridade junto ao povo. Ordenou que os escolhidos fossem para a Tenda de Reunião a fim de receberem do mesmo Espírito que conduzia o servo Moisés. Estes anciãos seriam seus colaboradores na árdua missão de servir o povo eleito. Cumprida a ordem, todos receberam o Espírito Santo e começaram a profetizar. Entretanto dois dos escolhidos não atenderam à ordem do Senhor, permanecendo no Acampamento. Porém, mesmo assim, profetizavam à vista de todo o povo. Um jovem ao presenciar este fato correu à Tenda para noticiá-lo a Moisés. Ao ouvir o relato daquele jovem, Josué, zeloso da autoridade de Moisés, expressou o seu desejo de ver os dois repreendidos. Graças a Deus o dócil servo Moisés não os admoestou. Ao invés disso, proclamou uma linda profecia com estas palavras: “Por que és tão zeloso por mim? Prouvera a Deus que todo o povo do Senhor profetizasse, e que o Senhor lhe desse o seu espírito!” (Nm 11, 29) Josué não conseguia ver a graça do Espírito Santo que recaíra efusivamente sobre os anciãos. Ele via a autoridade profética de Moisés conspurcada. Para ele os que haviam permanecido no acampamento eram pecadores desobedientes e não mereciam profetizar e nem poderiam ter recebido do Espírito que animava Moisés. Então este é o desejo de Deus: que todo o seu povo profetize. Mas vemos também neste episódio que Ele deu o Espírito Santo a todos os escolhidos, incluindo aqueles que, aos olhos dos homens, não o mereciam. Noutra época o Senhor disse: “Depois disso, acontecerá que derramarei o meu Espírito sobre todo ser vivo: vossos filhos e vossas filhas profetizarão; vossos anciãos terão sonhos, e vossos jovens terão visões. Naqueles dias, 30 Cf. 1ª Jo 4,16 31 Cf. Rm 8,29 15
  • 16. derramarei também o meu Espírito sobre os escravos e as escravas ” (Joel 3, 1-3). No tempo desta profecia as mulheres e os filhos não tinham valor social para a mentalidade da época. Os escravos, menos ainda. E as escravas, muito menos. Mas o Senhor é claro ao expressar o seu desejo: o seu Espírito é para “todo ser vivo”. Ao Senhor não importa a condição da pessoa. O Espírito Santo é destinado a todos. Enfim chegou a vez de Jesus, a Palavra Viva do Pai, dizer a quem Deus deseja dar o Espírito Santo. E Ele disse assim: “Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai celestial dará o Espírito Santo aos que lho pedirem ” (Lc 11, 13). Então vemos mais uma vez que Deus não deseja excluir ninguém da graça de receber o seu Espírito. Este desejo do Pai foi recolhido pela Doutrina da Igreja. Lemos em nosso catecismo a seguinte formulação: “Ora, esta plenitude do Espírito Santo não devia ser apenas a do Messias; devia ser comunicada a todo o povo messiânico” (catec. , 1287). Gostaria de chamar a atenção para uma palavra que foi empregada em todas as passagens acima. Trata-se do pronome TODO. Três vezes ele veio literalmente e uma, implicitamente. Em Números foi dito: “todo o povo do Senhor”; Em Joel: “todo ser vivo”; Em Lucas: “aos que”, significando “todos os que”; No Catecismo: “todo o povo messiânico”. Não há dúvida, portanto, que Deus deseja que todos os homens sejam batizados no Espírito Santo. Aqui não se indaga sobre a santidade ou o merecimento de alguém. O Espírito Santo vem para todos. Deus não espera que o pecador se santifique para dar-lhe o Seu Espírito; o Espírito é que santifica o pecador. Deus não aguarda que o homem se salve para plenificá-lo do Espírito Santo; o pecador é tocado pelo Espírito para ir a Jesus, o Salvador.32 Todo é um pronome indefinido. Isto significa que o Espírito Santo não vem para pessoas determinadas, “iluminadas” por algum dom pessoal ou por alguma espécie de merecimento particular. Não. A ninguém o Senhor definiu aprioristicamente para receber o Espírito Santo. Ele é muito claro a este respeito. O Espírito Santo é para todos; até para Saulo, até para Agostinho, até para Madalena, até para Zaqueu... até para mim, você e eu podemos dizer. Que bom saber disso! Amém. g) CONDIÇÕES PARA SER BATIZADO NO ESPÍRITO SANTO 32 Cf. Catec. 683. Se o Espírito Santo é para todos, existiria alguma condição para o seu Batismo? Naturalmente que sim. Existe a parte do homem a ser feita. Vamos a ela. Em João 1,12 “a todos aqueles que o (o Verbo, Jesus, acréscimo do autor) receberam, aos que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus”. Romanos 8,14-16 nos esclarece que este poder que nos faz filhos de Deus é o Espírito Santo. Em Atos encontramos: “Pedro lhes respondeu: Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo" (At 2,38). Assim, de forma direta e pessoal, temos as seguintes condições para a Efusão do Espírito Santo: crer em Jesus33 , converter-se, batizar-se34 e receber Jesus. Qual seria a utilidade dessas condições, já que o Espírito Santo é para todos? Ao refletir sobre isso só encontramos uma utilidade digna de nota: é a abertura de coração para receber a graça de Deus. O Pai não força ninguém a receber seus dons, por isso, para recebê-los, é necessário aceitá-los. E esta aceitação deve ser sincera, pois sabemos como Deus abomina a hipocrisia. Caso houvesse algum jeito de alguém abrir o coração para o Batismo no Espírito Santo sem as condições acima, certamente o Pai, que é amor, lho daria. Mas não há nenhum jeito de se abrir à graça de Deus que não seja por estas condições. Elas são os chaveiros que nos confeccionam a chave. A chave é o pedido. Sem crer em Jesus nada lhe pediremos. Conversão é alteração de rota, mudança de direção. Quem está sob a direção do mundo, se não se voltar para a direção de Jesus, também nada lhe pedirá. O batismo aqui significa aceitar o perdão dos pecados. A recusa do perdão dos pecados foi o que causou o suicídio de Judas Iscariotes. Ninguém que rejeita a graça do perdão terá o coração aberto para o Espírito Santo. Por fim, quem não recebe Jesus, não recebe o Pai e permanecerá hermeticamente fechado para o Dom do Espírito. Sem estas condições seríamos presas fáceis do pecado de Simão, o Mago.35 Este homem acreditou em Jesus, O recebeu e foi batizado em Seu Nome. Contudo, não saiu da direção do mundo, não se converteu, e ofereceu dinheiro para comprar o Dom do Espírito Santo. Por isso foi-lhe negada qualquer possibilidade de participar do ministério dos Apóstolos. Cumpridas estas condições estaremos aptos a acionar a chave do Batismo no Espírito Santo. Mas ninguém deve se preocupar em demasia com as condições acima apresentadas, como se desejasse ter certeza de já tê- las cumprido ou não. Quem isto fizer cairá no outro extremo, isto é, na exigência da santidade para merecer o Espírito Santo. O que se pede aqui é que se creia em 33 Cf. Catec. 1287 34 Cf. Catec. 1287 35 Cf. At 8,9-23 16
  • 17. Jesus, que se receba Jesus, que se volte para Ele e que se aceite a remissão dos pecados. h) CHAVE DO BATISMO NO ESPÍRITO SANTO A chave que mencionamos está no capítulo onze do Livro de Lucas. Precisamente no versículo treze. Leiamo-lo diretamente do testemunho dos Apóstolos: “Um dia, num certo lugar, estava Jesus a rezar. Terminando a oração, disse-lhe um de seus discípulos: Senhor, ensina-nos a rezar, como também João ensinou a seus discípulos. Disse-lhes ele, então: Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o vosso nome; venha o vosso Reino; dai-nos hoje o pão necessário ao nosso sustento; perdoai- nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos àqueles que nos ofenderam; e não nos deixeis cair em tentação. Em seguida, ele continuou: Se alguém de vós tiver um amigo e for procurá-lo à meia-noite, e lhe disser: Amigo, empresta-me três pães, pois um amigo meu acaba de chegar à minha casa, de uma viagem, e não tenho nada para lhe oferecer; e se ele responder lá de dentro: Não me incomodes; a porta já está fechada, meus filhos e eu estamos deitados; não posso levantar-me para te dar os pães; eu vos digo: no caso de não se levantar para lhe dar os pães por ser seu amigo, certamente por causa da sua importunação se levantará e lhe dará quantos pães necessitar. E eu vos digo: pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. Pois todo aquele que pede, recebe; aquele que procura, acha; e ao que bater, se lhe abrirá. Se um filho pedir um pão, qual o pai entre vós lhe dará uma pedra? Se ele pedir um peixe, acaso lhe dará uma serpente? Ou se lhe pedir um ovo, dar-lhe-á porventura um escorpião? Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai celestial dará o Espírito Santo aos que lho pedirem"(Lc 11,1-13). Vários aspectos deste trecho sagrado nos atraem. Inicialmente vemos Jesus ensinando aos discípulos como orar e o que pedir. Em seguida não se pode deixar de notar que o Mestre está ensinando que se deve pedir o Espírito Santo, especificamente. Completa o ensinamento instruindo quando pedi-lo, como e até quando. Por fim, encerra a lição dizendo que para ter o Espírito Santo basta pedir. É bastante consoladora esta promessa de Jesus: basta pedir. Pedir é a chave. “vosso Pai celestial dará o Espírito Santo aos que lho pedirem”. Ao examinar o próprio coração e não descobrir nele a fé; ao olhar para si e não ver nenhum pouquinho de conversão; se questionar o próprio Batismo; se tentar aceitar Jesus e não conseguir; mesmo assim tenha ânimo. Não seja seu próprio carrasco. Lance as “redes” na Palavra do Mestre36 e peça o seu Espírito. Ele garante que o Pai no-lo dará. Confiemos em sua grande misericórdia.37 Notem como Jesus coloca o exemplo de um pai de família pedindo comida para um amigo. Não pedia para 36 Cf. Lc 5,5 37 Testemunho do autor: “Certa vez, no ano de 1.984, quando eu participava de uma seita de origem japonesa, chamada Seicho-no-ie, vivi alguns anos de muita confusão. Naquela época eu participava dos cultos da seita aos domingos de manhã, nas tardes dos mesmos domingos ia às missas. Também na mesma época coordenava uma equipe de vigília de um encontro de casais. Ainda devorava literatura das várias religiões orientais e do espiritismo, além de flertar com a Rosa- Cruz e desejar ser maçom. Era realmente uma grande confusão, principalmente porque a Seicho-no-ie me bombardeava para me convencer de que ela portava a “verdade da vida” e que todas as religiões “eram” boas e “vinham” de Deus. Por aquele tempo, em uma tarde quando eu lia o Evangelho de João, parei no capítulo dezesseis, onde diz que “quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, ensinar-vos-á toda a verdade (versículo 13).” Naquele momento pensei que se Deus existisse estaria mais interessado em me convencer da verdade do que eu mesmo. Então ajoelhei e clamei pelo Espírito Santo do jeito que pude. Estava em minha casa, fechado em um quarto. Pedi-lhe que me mostrasse qual era a verdade; onde estava a verdade. Orei e esqueci que havia orado. Mas Deus não se esqueceu. Alguns meses após, ao sair de uma missa, recebi um panfleto no qual se convidava para o Encontro Regional de Oração da Renovação Carismática em Goiânia. Sem perceber a mão de Deus, imediatamente senti-me pessoalmente convidado. E fui. O encontro foi no primeiro fim de semana de agosto do mesmo ano (1.984) em que fiz a oração ao Espírito Santo. Fui sexta-feira e sábado. No domingo de manhã havia o culto da Seicho-no-ie, ao qual eu não faltava por três anos e meio. Até hoje não me lembro se pensei no dito culto naquela manhã de domingo. Só sei que fui para o encontro de Jesus, isto é, para o Encontrão da Renovação, como é conhecido até hoje. O Espírito Santo me levou aonde eu pude encontrar a Verdade e me batizou. Como católico desde que nasci, certamente estive em inúmeros lugares onde a Verdade estava, mas não a havia reconhecido antes. Porém naquele fim de semana feliz, A Reconheci e A aceitei. Assim, por uma intervenção do Espírito Santo, fui salvo de todas as armadilhas e artimanhas do inimigo. Amém! 17
  • 18. si, mas mesmo assim precisava urgentemente da comida para alimentar o seu hóspede. Se não por caridade, pelo menos para cumprir o dever da hospitalidade. A atitude deste anfitrião é a atitude que Deus espera de nós ao pedir o seu Espírito. Aquele homem não teve vergonha e nem medo das conseqüências de gritar ao vizinho em altas horas da madrugada. Ele tinha certeza que precisava de pão e pelo pão enfrentou o preconceito, o orgulho, o apego à auto-imagem e os venceu. Enfrentou até as negativas do vizinho, mas perseverante as venceu também. Todos sabem quando precisam de comida. É quando se sente fome. Todos precisam aprender quando estão vazios do Espírito Santo, para pedi-lo. De fato, mesmo sem querer vamos contristando o Espírito Santo até extinguir38 sua presença manifesta em nós. Isso acontece por causa de nossos pecados.39 Quando estamos vazios da presença do Espírito ficamos mornos, nossas atividades religiosas tornam-se pesadas, substituímos os louvores pelas lamúrias, o perdão passa a ser um esforço sobre-humano, nossa vontade de orar se perde; perdemos o entusiasmo, o ardor; ou, na melhor das hipóteses, fazemos tudo isso com demasiado esforço. Estes são somente alguns sinais. Quantas vezes podemos pedir o Batismo no Espírito Santo? Respondemos a esta pergunta com outras duas: quantas vezes devemos alimentar o nosso corpo? Quantas vezes devemos pedir o Espírito Santo? A Sagrada Escritura nos mostra os Apóstolos recebendo o Espírito Santo mais de uma vez. Em algumas a presença do Espírito está implícita; noutras ela vem explicitamente.40 Até quando se deve pedir o Espírito Santo? Até quando o pai de família da história de Jesus, narrada por Lucas e transcrita acima, pediu pão? Pede-se comida até recebê-la. Pede-se o Espírito Santo até encharcar-se dEle. Como se sabe que se está cheio do Espírito Santo? Quando Ele vem a nós, de alguma forma somos tocados. Precisamos aprender a perceber seus toques. Você se lembra daquele cântico dos primeiros anos da Renovação? Aquele que diz assim: “Quando o Espírito do Senhor se move em mim eu rezo como o Rei Davi... Eu canto... eu danço... eu luto... eu venço... eu louvo como o Rei Davi?” Quando o Espírito do Senhor nos plenifica, vencemos a tristeza, a mornidão, a apatia, vivemos como filhos de Deus. Para entender isso basta lançar os olhos para os cristãos que viam seus entes queridos sendo assassinados pelos perseguidores da Igreja, sabendo ser eles os próximos, mas mesmo assim permaneciam cantando louvores que confundiam seus algozes. Então neste item vimos que o Senhor nos deu uma chave para “acionarmos” as comportas de Deus a fim de saciarmos nossa sede com sua Água Viva. Vimos também 38 Cf. 1 Ts 5,12-22 39 Cf. Ef 4,17-32 40 Cf. Mt 10,1; Lc 10,1-19; Jo 20,22; At 2,1-4; 4,29- 31 que esta chave deve ser acionada sempre que não estivermos vivendo como filhos de Deus, e também que não se deve cessar de acioná-la enquanto não se vir pleno do Espírito. Vimos ainda que se pode e deve-se acioná-la quantas vezes necessitar e que ao acioná-la não se deve ter vergonha, medo ou preconceito das conseqüências, mesmo que nos chamem de bêbados,41 sob pena de fechar-se o coração. Coração fechado é tudo que se deve evitar no relacionamento com o Espírito Santo. Ah! Mais uma coisa: para permanecer cheio do Espírito Santo é necessário cultivar a santidade. Com o Batismo O recebemos, mas não basta somente recebê-Lo. É necessário que permaneçamos nEle e Ele em nós. Mas isto é assunto para outro estudo. Até lá. 2. PRÁTICA DOS CARISMAS42 O dinamismo da efusão do Espírito de Deus na Renovação se manifesta em inúmeros frutos. Um deles compõem a trilogia que melhor nos identifica. Estamos falando dos carismas; precisamente, da prática dos carismas. Não trataremos simplesmente da aceitação dos dons do Espírito, mas sim de uma prática sensível, palpável, efetiva, real. A identificação da Renovação pela prática dos carismas é tão veemente que dispensa maiores análises. Basta lembrar que o próprio nome com o qual nos designam, “carismáticos”, advém dessa prática. De fato, reforçando o que já foi dito acima, lembremos que o ardor missionário, outras espiritualidades o possuem. Igualmente as obras sociais, a conscientização política, o amor fraterno, o surgimento de pequenas comunidades. O mesmo se diga da aceitação dos carismas. Deve ser dificílimo encontrar um só cristão de outra espiritualidade que tenha coragem de dizer que não aceita os carismas, que não acredita neles. Já, por outro lado, conheço muitos que não os praticam, nos moldes bíblicos e conforme a Tradição. Para muitos os carismas existem... na Bíblia, na prática não. É como se eles tivessem de ficar quietinhos no seu canto, dentro da Bíblia, para não incomodar. Agem como se os carismas, ao lançarem seus galhos na vida eclesial deixassem de ser verdadeiros, deixassem de ser do Espírito Santo. Por isso podemos concluir este pensamento dizendo que a espiritualidade da Renovação Pentecostal Católica é profundamente marcada pelos carismas, tanto que em muitos lugares do mundo ela é conhecida por Renovação Carismática Católica. A manifestação dos carismas atesta o nosso batismo no Espírito Santo, logo, podemos afirmar que o Batismo no Espírito Santo, acompanhado das manifestações dos sinais do 41 Cf. At 2,13 42 A prática dos carismas é também um dos objetivos relacionados nos Estatutos do Serviço Internacional da Renovação Carismática Católica (ICCRS), Cf. ALDAY, Salvador Carrillo. Op. cit., página 10. 18
  • 19. Pentecostes prometidos por Jesus43 é, com certeza, nossa identidade. O Senhor ao renovar o nosso batismo em seu Espírito, nos impele a assumi-lo com todos os seus efeitos, inclusive os carismas. Devido à grande variedade dos carismas, um estudo específico lhes será dedicado, por meio de uma apostila própria. Por hora encerramos o seu assunto. 3. COMUNIDADES O terceiro elemento básico de nossa identidade, a vivência comunitária, existe também em outros movimentos. Há muito tempo que os focolarinos levam avante o seu projeto de comunhão de vida. Também os cebianos lutam há dezenas de anos por suas comunidades eclesiais de base. O que existe de novo em nossas comunidades é que são carismáticas e têm nascido espontaneamente, conforme o sopro do Espírito. Entre nós existem os grupos de oração, cujos elementos fundamentais os caracterizam como verdadeiras comunidades eclesiais. Outras duas espécies de comunidades ainda existem. Uma, reúne pessoas que se comprometem umas com as outras com mais arrojo do que nos grupos de oração. Partilham vários aspectos da vida com mais profundidade. Ajudam-se mutuamente em várias situações do viver humano, inclusive no financeiro, caso seja necessário. Estas são as comunidades de aliança. A outra espécie de comunidade, denominada comunidade de vida, que tem nascido a partir de experiências pneumatológicas no seio da Renovação, podem se ligar à sua estrutura ou não. Caso optem por vida independente, conservam em as graças pentecostais. Nas comunidades de vida tudo é partilhado. Os bens pertencem a todos, comumente, incluindo o dinheiro. As comunidades, oportunamente, também terão investigação própria. 4. CONCLUSÃO Neste tema demonstrou-se que o batismo no Espírito Santo sempre esteve presente na Igreja. Está bem fundamentado na Sagrada Escritura, na Sagrada Tradição e no Magistério. É uma graça atual, para os nossos dias, como o foi sempre. Milhares de pessoas o recebem dentro da Igreja Católica. Em nossos dias já existe literatura católica produzida por bons teólogos investigando este fenômeno. Assim podemos aceitá-lo, pedi-lo, vivê-lo, propagá-lo, destemidamente e com fé. Amém. Deus os abençoe. “Intensificai as vossas invocações e súplicas. Orai também por mim” (Ef 6,18- 19) 43 Cf. Mc 16,17-18 19
  • 20. . RESUMO A identidade da Renovação é composta pelo Batismo no Espírito Santo, pela prática dos carismas e pela geração de comunidades. Destes elementos analisamos somente o Batismo no Espírito Santo, deixando os outros para posteriores estudos. Recordemos, portanto, o que o batismo no Espírito Santo não é. “A Igreja Primitiva utilizava o Batismo no Espírito Santo para a iniciação cristã. O emprego desta frase, hoje, para o despertar mais tardio da graça sacramental original não significa, de modo algum, um segundo Batismo.” Então é isto: definitivamente o Batismo no Espírito Santo não pode ser confundido com o Sacramento do Batismo ministrado com rito próprio pela Igreja, pois não são a mesma coisa. O termo Batismo no Espírito Santo designa o fenômeno espiritual que consiste no ato de uma pessoa acolher a divina graça de ser colocada no coração da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade por meio da ação do Filho. Enquanto o Batismo designa o movimento de Jesus ao introduzir uma pessoa crente no Rio de Água Viva, a Efusão leva à idéia de que o crente é plenificado pelo Espírito Santo que a ele vem, novamente por um ato de Jesus que O envia, que O derrama sobre quem crê. Encontramos fundamentos bíblicos para o Batismo no Espírito Santo desde o Velho Testamento (Nm 11,1-30; Jl 3,1-2), que perpassam o Novo (Mt 3,11; Mc 1,8; Lc 3,16; 24,49; Jo 1,33; 14,15-16.26; 15,26; 16,7-15; Jo 20, 22 ; At 1,8; 2,1-11; 4,30-31; 10,44-46) e atinge em cheio a Patrística, no ensinamento de padres como Inácio (†110) e Policarpo (†155) que instruíam os catecúmenos sobre o batismo já pressupondo a graça da Efusão do Espírito. Quando catequizavam os neoconvertidos os instruíam sobre os carismas do Espírito Santo. Outros ainda podemos lembrar neste momento. Cirilo de Jerusalém (c. 315- 387), que em vinte e três ensinos que ministrou sobre o Batismo, entendeu “que a Igreja de Jerusalém, como todas as outras, situa-se em uma sucessão carismática, uma história do Espírito iniciada com Moisés. O Espírito é uma ‘nova espécie de água’:” Santo Tomás também ensinou que no Batismo no Espírito Santo há um novo envio do Espírito e que a graça passa a operar de um modo absolutamente novo. A respeito da presença do Espírito Santo, em manifestações carismáticas, o Padre Domenico Grasso resume a doutrina encontrada na Igreja, desde os Apóstolos até o final do Século Vinte. Tudo comprovando a efusão do Espírito Santo., desde o Apóstolo Paulo até nossos dias, ininterruptamente: Mas algo muito bom e reconfortante vem no número 1287 do Catecismo da Igreja Católica com as seguintes palavras: “Ora, esta plenitude do Espírito não devia ser apenas a do Messias; devia ser comunicada a todo o povo messiânico. Por várias vezes Cristo prometeu esta efusão do Espírito, promessa que realizou primeiramente no dia da Páscoa (Jo 20,22) e em seguida, de maneira mais marcante, no dia de Pentecostes (...)”. Portanto, com base na doutrina da Igreja só nos resta uma conclusão lógica: o Batismo no Espírito Santo é liturgia pública e é normativo. Justino Mártir, Orígenes, Dídimo, o Cego, e Cirilo de Jerusalém o tinham por sinônimo de iniciação cristã. Hilário de Poitiers, João Crisóstomo, João de Apaméia, Filoxeno de Mabugo, Severo de Antioquia, José de Hazaia e ainda Cirilo de Jerusalém, consideravam o recebimento de carismas parte integrante da iniciação cristã: Ponto importante a destacar neste resumo é a finalidade do Batismo no Espírito Santo. Esta finalidade é nos plenificar do Espírito Santo, pois tudo mais em nossa vida decorre desta plenitude. Não é por outro motivo que o Catecismo da Igreja Católica nos convoca a viver no Espírito.44 Esta plenitude gera inúmeros frutos, como o despertar do Dom do Espírito recebido no Batismo, a manifestação de carismas, a vivência da filiação 44 Cf. Catec.1699 20
  • 21. divina, a vida em comunidade, a conversão, a caridade e seus frutos e todos os demais frutos mencionados no capítulo sobre a espiritualidade da Renovação. Falta ainda relembrar que Jesus é quem nos batiza no Espírito Santo, contudo, devemos levar em consideração que a Santíssima Trindade é Uma, portanto, podemos pedir o Batismo no Espírito Santo ao Pai, ao Filho e ao próprio Espírito. A Santíssima Trindade batiza a todos que pedirem, quantas vezes pedirem. A chave do Batismo no Espírito Santo é o pedido que se faz: “... O Pai do Céu dará o Espírito Santo aos que o pedirem.” (Lc 11,13). CAPÍTULO SEGUNDO OFENSIVA NACIONAL DA RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA “Somos obra sua, criados em Jesus Cristo para as boas ações, que Deus de antemão preparou para que nós as praticássemos” (Ef 2,10). Nosso Deus não ata o homem a uma cadeia de fatalismo, entretanto planeja a sua salvação e o seu bem- viver. No plano de salvação existe muito a realizar. Tudo já está preparado para nós. Se aceitarmos, Ele nos revelará.45 Caso não aceitemos o seu plano, poderemos preparar outro, ou simplesmente seguir sem nenhum projeto. Ele respeitará nossa decisão. Às vezes até aceitamos o seu plano, mas o executamos à nossa maneira. Ele aceita isso também, todavia nos orienta conforme nossa fé, nosso discernimento e nossa capacidade auditiva espiritual consigam distinguir sua mão misteriosa a nos guiar. Não é fácil acolher a direção divina em trabalhos pastorais nem em outras atividades humanas. De imediato duas dificuldades se impõem. A primeira vem de uma fé imperfeita que nos impede de ter intimidade com Jesus, por ser Ele invisível a olhos carnais. A segunda é gerada por uma cultura que rejeita qualquer interferência nas liberdades individuais. Imagine agora os efeitos maléficos dessas dificuldades em nossa vida, em nossas atividades pastorais! Para servir ao Pai em sua Obra é necessário fazer tudo em nome de Jesus, como se fosse Ele mesmo que estivesse fazendo. É que somos seus comissionados. Ele nos constituiu como seus procuradores. Como alguém poderia ser um bom procurador sem seguir fielmente as orientações de quem o envia? Estas dificuldades foram vencidas pelos Apóstolos mediante os contatos que tiveram com Jesus Ressuscitado. Pedro e seus companheiros os tiveram fisicamente. Paulo, misticamente, no caminho de Damasco. 45 Cf. Catec. 66 e 67 Assim, experimentando a realidade da existência de Deus, tiveram forças para se deixarem conduzir pelo Espírito Santo. O resultado desta dinâmica pode ser constatado no Livro dos Atos dos Apóstolos com muita clareza, como naquele dia em que Pedro orava, enquanto esperava que lhe preparassem uma refeição, quando Senhor abriu o seu entendimento com uma visão, revelando-lhe que o Evangelho não era só para os judeus, como ele acreditava e estava praticando.46 Também em outras passagens de Atos encontramos Jesus intervindo na missão dos Apóstolos, como é o caso de Paulo em uma de suas missões, que com alguns companheiros protagonizaram um episódio narrado em Atos 16,1-10, como segue: “Chegou a Derbe e depois a Listra. Havia ali um discípulo, chamado Timóteo, filho de uma judia cristã, mas de pai grego, que gozava de ótima reputação junto dos irmãos de Listra e de Icônio. Paulo quis que ele fosse em sua companhia. Ao tomá-lo consigo, circuncidou-o, por causa dos judeus daqueles lugares, pois todos sabiam que o seu pai era grego. Nas cidades pelas quais passavam, ensinavam que observassem as decisões que haviam sido tomadas pelos apóstolos e anciãos em Jerusalém. Assim as igrejas eram confirmadas na fé, e cresciam em número dia a dia. Atravessando em seguida a Frígia e a província da Galácia, foram impedidos pelo Espírito Santo de anunciar a palavra de Deus na (província da) Ásia. Ao chegarem aos confins da Mísia, tencionavam seguir para a Bitínia, mas o Espírito de Jesus não o permitiu. Depois de haverem atravessado rapidamente a Mísia, desceram a Trôade. De noite, Paulo teve uma visão: um 46 Cf. At 10, 1-46; 15,7-11 21
  • 22. macedônio, em pé, diante dele, lhe rogava: Passa à Macedônia, e vem em nosso auxílio! Assim que teve essa visão, procuramos partir para a Macedônia, certos de que Deus nos chamava a pregar-lhes o Evangelho”. O Senhor deseja nos orientar e o faz realmente. Quando acatamos suas decisões ”procuramos partir certos de que Deus nos chama a pregar o Evangelho”. E quando estamos com Ele nosso trabalho é confirmado por seus sinais,47 da mesma forma que um outorgante ratifica os atos do seu procurador. Este é o grande segredo do êxito dos Apóstolos. No exemplo acima os evangelizadores, obedecendo ao Espírito Santo, chegaram a Filipos. Lá conheceram Lídia e sua família. Lá fundaram uma comunidade que muito agradou ao Senhor. É exatamente neste contexto de acolhimento das boas ações de Deus revelada ao homem que enquadramos a Ofensiva Nacional e também a própria Renovação. E é nesta perspectiva que estudaremos a nossa espiritualidade e que agora analisaremos a Ofensiva, pois ela é uma dessas boas ações que Deus nos preparou. 1. CONCEITO DE OFENSIVA NACIONAL a) Ofensiva Esta Ofensiva lembra um fato ocorrido em nosso País na década de um mil e novecentos e sessenta. Naquela época houve um terrível surto de varíola. Inúmeras crianças e adultos eram contaminados. Sofriam horrivelmente. A técnica médica ainda era precária. Os doentes podiam sofrer seqüelas permanentes, inclusive a cegueira. Naquele tempo o governo desenvolveu uma ação organizada para debelar a terrível peste. Colocou à disposição de todos a vacina, os veículos de transportes, muitos médicos e técnicos de saúde, os recursos financeiros, a máquina administrativa; chamou a si o rádio, o jornal, a televisão, as revistas. Com isso mobilizou toda a Nação com um só objetivo: vencer a varíola. E venceu. Graças a Deus. Na época se viam os carros do governo nas ruas, nas praças; nas portas das Igrejas, das escolas, dos cinemas. Também havia os cartazes, os panfletos, os alto-falantes; os avisos dos padres, das professoras, das catequistas, os comentários dos vizinhos. As cidades viviam impressionadas pela campanha. Logo os colonos também foram envolvidos por ela. Pelas estatísticas da época quase todos, se não todos, foram vacinados. Outro fato que nossa Ofensiva recorda se relaciona com os fazendeiros de Goiás, aqueles 47 Cf. Mc 16,20 cujas fazendas eram dotadas de terras que produziam sem adubo. Na época nem se ouvia falar em adubos químicos. Eram terras realmente férteis, próprias para culturas de milho, arroz e feijão, que exigem do solo umidade e temperaturas próprias de climas tropicais. Os maiores fazendeiros plantavam muitos alqueires de arroz. Como sua plantação dependia da chuva, era necessário plantar tudo de uma vez, na melhor temporada da chuva. Com isso a lavoura amadurecia também de uma vez. O arroz, quando maduro, se não for colhido no tempo certo perde a sua boa qualidade, pois fica quebradiço; “vira quirera”, no dizer do sertanejo. Chuva sobre ele? Nem pensar. Um simples chuvisco ou um sereno mais forte são suficientes para pô-lo a perder. Na época da colheita do arroz todos os recursos financeiros, humanos e tecnológicos – havia tecnologia rudimentar: cutelo, banca, veículos de tração animal – eram mobilizados para a messe. Quando os recursos próprios eram insuficientes, buscava-se reforço nos arredores. Nos exemplos acima vimos primeiramente nossa Nação, depois uma diminuta parte dela, se mobilizando e organizando suas forças para realizar uma tarefa. Estes exemplos servem para alargar o conceito de ofensiva, que é um termo emprestado da doutrina militar. Na caserna ele significa a ação dos exércitos na qual todas as suas forças agem coordenadamente, cumprindo cada qual sua missão particular, porém todas sob comando único, com vista a obter a vitória. Nosso inimigo é pior do que aqueles que os exércitos das nações enfrentam. Aliás, nenhuma nação tem inimigos humanos verdadeiros. Seus verdadeiros inimigos são o egoísmo e a intolerância, que as fazem destruir impiedosamente milhões de filhos de Deus. Nosso inimigo é o ateísmo que impede a geração de filhos de Deus48 e ainda gera filhos para o mundo. Se entendêssemos realmente o que isso significa49 sentiríamos cada fibra do nosso ser se abalar. Em face de nossa inércia ante tal inimigo, é compreensível que os filhos do mundo tenham sido mais prudentes do que os filhos da Luz 50 nas batalhas infindas ao longo dos séculos. Para vencer este inimigo, que habilmente esconde seu rosto entre os milhões de anônimos espalhados por este mundo, podendo não estar em nenhum lugar, mas também podendo ser onipresente, ocupando casebres e palácios, dirigindo cozinhas ou grandes empresas, alfabetizando ou promulgando leis, falando por um 48 Cf. Jo 1,12 49 Cf. Jo 14,30 50 Cf. Lc 16,8 22
  • 23. simples telefone ou sendo a voz da imagem televisiva, devemos nos organizar. Não poderemos vencer esta verdadeira guerra sem um bom planejamento, acompanhado por uma boa execução. Ao lançar os olhos para a Ofensiva Nacional da Renovação, nosso coração se enche de esperança. Mas precisamos estar atentos, pois ofensiva exige planejamento meticuloso, no qual se analisa a situação do próprio exército, considerando as armas disponíveis, o treinamento dos soldados, as informações, as comunicações, os apoios internos e externos, o terreno onde se desenvolverá a ação, a visibilidade, o clima. Analisa-se também o antagonista com os mesmos critérios. A sua execução deverá ser perfeitamente coordenada, sob pena de derrota. A história universal narra a derrota de um hábil marechal francês, chamado Napoleão Bonaparte. Ele estava prestes a conquistar a Europa e realizar o sonho de ter para si um império semelhante aos mais famosos da humanidade. Planejou suas ações como sempre. Ansiava pelo início da batalha. Cairia sobre Waterloo como matilha de lobos sobre coelhos. Sua estratégia era combater o inimigo por um flanco, empregando uma parte do seu exército, que seria comandada por ele em pessoa. Quando o exército adversário estivesse envolvido com ele o restante de suas forças atacaria por outro flanco. Assim o inimigo seria colhido entre dois fogos e fatalmente derrotado. Antes de partir Napoleão ordenou a um general, um dos seus melhores, que aguardasse ordens para o ataque. Tudo ia bem para Napoleão. O que fora planejado estava se cumprindo. No momento certo enviou ordens de avançar àquele general que o apoiaria. Mas o mensageiro jamais chegou ao seu destino. Enquanto Napoleão sustentava o seu ataque e esperava o apoio planejado, o inesperado aconteceu, outro exército o atacou pela retaguarda. Ele ficou encurralado entre dois exércitos inimigos. O velho ditado “o feitiço virou contra o feiticeiro” recaiu sobre ele. Entrementes, seu general, sem nada saber, com o seu exército pronto e em ordem de marcha, aguardava as ordens para avançar. Ordens que jamais chegaram. De onde estava ouvia os ruídos da batalha, mas não podia fazer nada, pois não via e nem sabia o que estava acontecendo. Por falta de coordenação Napoleão foi humilhado. Não gostaríamos de trilhar os caminhos de Napoleão. Mas ele pelos menos sofreu somente uma derrota temporária. Não discutiremos aqui os deméritos de suas guerras, nem as de outros tantos marechais que já existiram e que ainda, infelizmente, existirão.51 Mas não podemos nos dar ao luxo de perder e perder; perder e perder. De nossa vitória depende a felicidade do mundo. De nosso êxito depende a instauração do Reino de justiça. Em cada pessoa incrédula que existe neste mundo podemos ver estampada nossa waterloo. Com todas estas considerações, cremos que já está bem caracterizado que uma ofensiva, para ser realmente o que se propõe a ser, isto é, uma ofensiva, deve ser uma ação planejada e executada coordenadamente com vistas a conquistar um objetivo, no nosso caso “a salvação de todos os homens e do homem todo”.52 b) Ofensiva nacional da Renovação A lavoura de arroz pronta para ser colhida é a messe do agricultor. Se não for colhida oportunamente a safra se perde; quando muito será comida pelos animais selvagens, que não precisam dela. As pessoas sedentas de Deus e ávidas por salvação são a messe do Senhor; caso não sejam hoje evangelizadas, o mundo as destruirá, no mínimo as tomará para si e muitas, se não todas, se perderão. Lembrando que existe uma messe a ser colhida,53 sintetizamos o conceito de Ofensiva Nacional como sendo um plano de ação no mínimo inspirado por Deus, no qual todas as suas expressões deverão agir em conjunto, como um corpo orgânico, onde cada uma, cumprindo seu mister particular, concorrerá para o bom êxito da missão geral que Jesus reservou à Renovação, como expressão da Igreja. 2. OFENSIVA: PLANO DE DEUS PARA A RENOVAÇÃO CARISMÁTICA A fim de que nossos esforços evangelísticos não descambem para ações estéreis, para fadigas inúteis, Deus nos socorre revelando-nos o que 51 Abrindo um parêntesis, como poderíamos acabar com as guerras? Com uma evangelização eficaz. Mas até que a evangelização surta efeito, o que fazer? Duas coisas, talvez: Primeira: impedir que os adolescentes cresçam, pois enquanto houver jovens que aceitem morrer pelos velhos – que são os que realmente provocam as guerras (velhos não somente em idade) – haverá guerra. Segunda: enviar para os campos de batalhas, de fuzis em punho, os generais, sem seus soldados; ou os reis e presidentes, com seus parlamentos, mas sem seus embaixadores. Que tal? Achou muito radical a sugestão? Pode ser. Mas ajuda a pensar. 52 FLORES, José H. Prado. Formação de Discípulos, p. 9 53 Cf. Mt 9,37 23
  • 24. fazer.54 Com essa idéia inicial desejamos inserir nossa Ofensiva Nacional no contexto da revelação privada. É evidente que este espaço não é apropriado para estudarmos as implicações teológicas da revelação privada, mas para melhor entendimento faremos algumas considerações. Para entendê-la devemos partir da fé. Da fé na existência de Deus, da confiança no seu amor. A Sagrada Escritura nos dá certeza de que Ele sempre revela seu plano aos seus enviados. Foi assim com Moisés, com Elias e todos os profetas; foi assim com os Apóstolos e com certeza deverá ser sempre assim, porque Jesus está vivo; ressuscitou e permanece o mesmo para toda a eternidade.55 Se nos tempos apostólicos Ele esteve presente na Igreja em sua humanidade e por seu Espírito, se naqueles tempos Ele a assistiu e a dirigiu,56 haverá de estar desejoso de fazer o mesmo hoje, pois nossa santidade e sabedoria não chegaram ao ponto de superar as daqueles que conviveram com o Ressuscitado, nem serão suficientes para nos fazer prescindir de sua assistência. Ao inverso, necessitamos dela tanto ou mais que antes, e não só intelectual, mas também visivelmente, com sinais. Outra consideração que devemos fazer é sobre o ensinamento da Igreja. Quando lançamos nosso olhar sobre a Igreja, vemos que ela, Mãe e Mestra, não deseja nos desanimar quando vigia o depósito da fé. Muito pelo contrário, sua intenção é nos encorajar para prosseguirmos num proveitoso relacionamento com nosso Deus. Em matéria de Revelação, a Dei Verbum ensinou normativamente que a Revelação de Deus se consumou com Jesus Cristo e “não há que esperar nenhuma nova revelação pública antes da gloriosa manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo” (DV, 4). Naturalmente que esta regra da Constituição Dogmática Dei Verbum diz respeito à Revelação Pública, pois para a revelação privada a Igreja destinou os seguintes parágrafos do nosso Catecismo: 66. “(...) Todavia, embora a Revelação esteja terminada, não está explicitada por completo; caberá à fé cristã captar gradualmente todo seu alcance ao longo dos séculos. 67. No decurso dos séculos houve revelações denominadas ‘privadas’, e algumas delas têm sido reconhecidas pela autoridade da Igreja. Elas não pertencem, contudo, ao depósito da fé. A função delas não é ‘melhorar’ ou 54 Cf. At 16,6-10 55 Cf. Jo 5,17; 1ª Cor 15,3-8; Heb 13,8 ‘completar’ a Revelação definitiva de Cristo, mas ajudar a viver dela com mais plenitude em uma determinada época da história. Guiado pelo Magistério da Igreja, o senso dos fiéis sabe discernir e acolher o que nessas revelações constitui um apelo autêntico de Cristo ou dos seus santos à Igreja. A fé cristã não pode aceitar ‘revelações’ que pretendam ultrapassar ou corrigir a Revelação da qual Cristo é a perfeição. Este é o caso de certas religiões não-cristãs e também de certas seitas recentes que se fundamentam em tais ‘revelações’”. Ad. Tanquerey ensina que a “Revelação divina em geral é a manifestação sobrenatural, feita por Deus, duma verdade oculta. Quando esta manifestação se faz para bem de toda a Igreja, é uma revelação pública; quando se faz para utilidade particular dos que por ela são favorecidos, chama-se revelação privada.57 Naturalmente que lecionando Teologia Ascética e Mística, Tanquerey circunscreveu o conceito de revelação privada aos limites do seu trabalho, mas mesmo assim seus princípios fundamentais foram expressos, e servem para identificar uma revelação privada em qualquer circunstância. São eles: a revelação é feita por Deus, ela manifesta algo oculto e sua utilidade é restrita aos que a recebem.58 Os três princípios acima estão presentes no contexto do advento da Ofensiva Nacional. Isso vemos claramente na seqüência de fatos que antecederam o seu advento. Em uma reunião da antiga Comissão Nacional da Renovação, realizada no dia 05/8/92, o Senhor enviou a seguinte profecia: “A Renovação é uma obra do Espírito Santo. E, quando Eu a realizo neste tempo é para voltar às origens. E uma das formas de voltar os homens às origens é a oração. Neste caso a origem é a oração de intercessão. A Renovação foi feita para a intercessão, para vocês clamarem pelos homens por meu coração. Neste momento renovo o meu pedido, não só para intercederem pelo País de vocês, como também pela Igreja. Intercedam muito pelos meus sacerdotes. 56 Cf. At 8, 26.29; 10, 9-20; 15, 28; 16, 6-10 57 TANQUEREY, Ad. Compêndio de Teologia Ascética e Mística), p. 937, § 1490. 58 Para aprofundar o significado da Revelação, sugerimos uma consulta rápida ao Vocabulário de Teologia Bíblica, Editora Vozes, Petrópolis-RJ: 1992 e ao Dicionário Enciclopédico da Bíblia. Editora Vozes, Petrópolis-RJ: 1992. 24
  • 25. Muitos se deixam levar pelas coisas do mundo porque não oram. Façam um chamado para uma grande intercessão pela Igreja e pelo País. É um combate espiritual, e gravíssimo, de grande proporção. Intercedam. Intercedam. (Confirmação: Is 57,14-20). “Eis o que declara o Senhor dos exércitos: considerai o que fazeis! Semeais muito e recolheis pouco; comeis e não vos saciais; bebeis e não chegais a apagar a vossa sede; vestis, mas não vos aqueceis; e o operário guarda o seu salário em saco roto! Assim fala o Senhor dos exércitos: refleti no que fazeis! Subi a montanha, trazei madeira e reconstruí a minha casa; ela me será agradável e nela serei glorificado, - oráculo do Senhor” (Ag 1,4b-8). Discernimento: Deus tem um plano para este momento. Ele é uma graça e não podemos deixar de participar dela. Devemos buscar a unidade nacional através da formação. Meios de realizar a formação e a unidade nacional: jornal de âmbito nacional, rede de intercessão, cartas carismáticas, eventos: congressos, grupos de trabalho-nacionais e regionais, grupo teológico. Conforme notícia divulgada no periódico JESUS É O SENHOR, na época jornal oficial da Comissão Nacional da Renovação Carismática Católica, “Nº 04 Jul/Ago/93,” publicou-se que em uma reunião do Conselho Nacional da Renovação, realizada no dia 17/9/1992, quando os planos para os próximos cinco anos estavam elaborados, o Senhor manifestou-se por meio de profecias, visualização e confirmação bíblica, consoante apresentado abaixo: Profecias: “Meus planos são superiores aos vossos. Rendei-vos a mim. Tendes segurado as coisas. Não vos quero humilhar, porém toda a vossa inteligência é mínima diante do meu plano. Despojai-vos diante de mim. Tudo que conquistastes e guardastes junto a vós é nada em comparação com o enorme plano que tenho a fazer. Estais atrapalhando o meu plano. Despojai- vos para que meu plano possa se realizar” “Quero tirar dos vossos olhos os limites dos planos pessoais, quero tirar-lhes a miopia. Disse- vos que faríeis coisas maiores. É verdade! Mas sob a condição de que façais segundo a vontade do Pai. Sois servos e não senhores; sois trabalhadores... sois trabalhadores e não proprietários. Submetei-vos àquele que vos criou.” Visualização: “Conjunto de máquinas, cheias de engrenagens, grandes e pequenas, trabalham bem, sem parar, mas estão desconectadas entre si. Trabalham soltas, isoladas.” Confirmação: Eclo 29, 13-14: “Perde o teu dinheiro em favor de teu irmão e de teu amigo; não o escondas debaixo de uma pedra para ficar perdido. Gasta o teu tesouro segundo o preceito do Altíssimo, e isso te aproveitará mais do que o ouro.” Interpretação das profecias e das visualizações acima: “Temos sido grupos isolados, com atuação independente.” Discernimento: “A unidade pretendida é a unidade dentro de toda a diversidade de expressões e carismas que caracterizam e enriquecem a própria Renovação Carismática.” Ação: “O Conselho Nacional traçou metas a serem atingidas através de um planejamento estratégico cujo nome é: OFENSIVA NACIONAL.” Desta hora em diante o Conselho abandonou aquele planejamento que já estava pronto e retomou as orações de escuta a Deus para elaborar novo plano, que só foi apresentado detalhadamente meses após. É que aquelas profecias, acompanhadas pela visualização e o trecho do livro do Eclesiástico, levaram o Conselho a discernir que o Senhor deseja que a RCC, em suas várias expressões (pregação, música, obras sociais, ação política) trabalhe organizadamente, rumo a um mesmo objetivo: EVANGELIZAR COM RENOVADO ARDOR MISSIONÁRIO, A PARTIR DO BATISMO NO ESPÍRITO SANTO. Portanto, após meses de orações, escuta e planejamento, a Renovação pôde afirmar, com fundamento nas revelações proféticas classificadas pela Igreja como revelações privadas, que “pareceu bem ao Espírito Santo e a nós” (At 15,28) elaborar e instituir um plano de ação no qual todas as expressões da Renovação Carismática, alicerçadas sobre os princípios da unidade, identidade e missão, trabalharão em conjunto, realizando cada uma seu mister particular para propiciar à Renovação, como expressão da Igreja, cumprimento integral do mandato de Jesus Cristo: “Ide por todo mundo e pregai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16, 15). 25
  • 26. 3. PRINCÍPIOS DA OFENSIVA NACIONAL São três os princípios da Ofensiva: unidade, identidade e missão. a) Unidade O princípio da unidade é fundamental. Dele jamais poderemos desistir. A ele nunca poderemos renunciar. A unidade deve ser buscada até a última gota de suor, até o último suspiro. A Bíblia contém muitas passagens fortes sobre ela, como as seguintes: “Tenho ainda outras ovelhas que não são deste aprisco. Preciso conduzi-las também, e ouvirão a minha voz e haverá um só rebanho e um só pastor. Para que todos sejam um, assim como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, para que também eles estejam em nós e o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 10,16; 17,21). “Todos os fiéis viviam unidos e tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e os seus bens, e dividiam-nos por todos, segundo a necessidade de cada um. Unidos de coração freqüentavam todos os dias o templo. Partiam o pão nas casas e tomavam a comida com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e cativando a simpatia de todo o povo. E o Senhor cada dia lhes ajuntava outros que estavam a caminho da salvação. A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém dizia que eram suas as coisas que possuía, mas tudo entre eles era comum” (At 2,44-47; 4,32). Nos tempos atuais fala-se tanto em unidade que parece desnecessário acrescentar qualquer outra análise. Que ela é fundamental, todos sabem. Que sem ela qualquer organismo comete suicídio, é também do conhecimento de todos, ou deveria ser. Que ela é necessária para que “o mundo creia”, Jesus já o disse. Que falta então? Você deve estar dizendo: “vivê-la”. E tem razão. É isto mesmo. Só nos falta aperfeiçoar a vivência deste princípio, que é na verdade um mandamento de Jesus. Esta reflexão parte do princípio que você deseja viver a unidade. Você crê que seus amigos também querem. No final de toda análise se concluirá que todos os cristãos desejam ser “um”. Ora, se todos anelam a unidade, por que não a conseguimos com perfeição? Seria por falta de perdão ou por egoísmo? Seria por orgulho, soberba, vaidade ou por machismo? Quem sabe seria por não renunciarmos aos interesses pessoais? Isso nos leva ao outro capítulo destes estudos: seria por falta do amor generoso, o ágape? Poderia ser também por não entender, em termos práticos, o que vem a ser unidade? Unidade, na prática, é todos terem “um só coração e uma só alma.” Significa todos terem o mesmo desejo de se inserirem na comunidade que se reúne em torno de Jesus. Esta comunidade, naturalmente, visa a cumprir a missão proposta por Jesus Ressuscitado. Para cumprir a missão organiza-se planejando. Nos planos escolhem-se objetivos, definem-se metas, distribuem-se tarefas, traçam-se estratégias, metodologias, prioridades. Tudo isso considerando as pessoas e contando com elas. Toda esta organização parece engolir a unidade. Onde está a unidade? A unidade deve estar onde sempre esteve, no coração de cada irmão que abraça, com a comunidade, a execução das tarefas planejadas para cumprir o mandato missionário de Jesus, materializado pelo Evangelista, quando recorda: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16,15). Realizar as tarefas que visam ao cumprimento da missão é importantíssimo para construir a unidade. Cada tarefa que se cumpre é um tijolo que se assenta no edifício da unidade. Mas este tijolo necessita de cimento para não cair. O cimento do edifício da unidade é o ágape, aquele amor generoso, infinito. Miremos Jesus na cruz para abrirmos o coração a este ágape. Acolhamos do Espírito Santo o dom da caridade, príncipe dos carismas. Somente com ele poderemos cimentar nossa unidade, que é outro carisma mais que precioso. Ressalte-se, para concluir este tópico, que nossa vitória depende do bom êxito de nossa ofensiva e esta depende do bom funcionamento de várias engrenagens, que são as diversas expressões da Renovação. Estas expressões – música, pregação, intercessão, etc. – como engrenagens, são compostas por pessoas dotadas de sentimento, razão, emoção, liberdade, virtudes, pecados, marcas psicológicas. Cada pessoa que se insere nesta obra não vem para ser a ofensiva, nem para ser a engrenagem da ofensiva, mas para se tornar um dente de alguma engrenagem. Dente importantíssimo, porém dente. Tudo isso eleva às nuvens a necessidade da unidade, e aos céus a urgência do amor. b) Identidade Outro princípio muito importante para a Ofensiva é o da identidade. Ele, para a Renovação, é fundamental. Como se sabe, a identidade integra a personalidade dos seres vivos e dos entes sociais. Quem perde a identidade se despersonaliza, se aliena. Se alguns de seus elementos básicos forem destruídos, quem os perde passa a não existir. A identidade da Ofensiva Nacional é a identidade da Renovação, cujos elementos básicos, conforme vistos antes, são: Batismos no Espírito Santo, prática dos Carismas e formas de vida comunitária que têm nascido espontaneamente. Cabe ao plano geral de ação, denominado Ofensiva Nacional, esclarecer nossa identidade, haurindo da Igreja seus elementos, principalmente os fundamentais, de forma que sejamos inseridos com mais vigor e 26