2. Introdução
Define-se por reprodução o conjunto de processos pelos quais os
seres vivos originam outros indivíduos idênticos a si próprios, permitindo a
continuidade da sua espécie ao longo do tempo.
Apesar de ser uma função comum a todos os seres vivos, torna-se
por vezes, biologicamente impossível, nomeadamente no ser humano.
Este problema tem persistido ao longo dos anos, designando-se
por infertilidade: a incapacidade de um casal conceber um filho após um
ano de relações sexuais sem contraceptivos.
Assim, a partir da segunda metade do século XX, a ciência e a
tecnologia permitiram um conhecimento mais aprofundado acerca da
infertilidade e do seu tratamento, como ainda o desenvolvimento de
métodos e técnicas que permitissem aos casais inférteis a produção de
descendência.!
3. Causas da Infertilidade
Infertilidade masculina
Origem Causas
• Ausência de espermatozóides/
quantidade reduzida de
espermatozóides
• Disfunções hormonais;
•Temperatura elevada durante a
espermatogénese;
• Doenças e infecções;
•Drogas e radiações;
•Causas genéticas.
Imobilidade dos espermatozóides • Anormalidade morfológica;
•Presença de leucócitos no
esperma.
4. Acção/exposição Consequências
Diminuição
do número
Formas
anormais
Modificações
no transnporte
Modificação
hormonal/
desempenho sexual
Condução
prolongada
Contacto com
solventes orgânicos
Trabalho em
fundições
metalúrgicas
(elevadas T)
Exposição a vapores
de mercúrio
Exposição a
radiações (ex.:
radares militares)
Radioactividade
Calor (sauna, banhos
quentes, roupa justa)
6. Métodos de diagnóstico das causas da infertilidade masculina
•Análises Hormonais: quantificação de gonadotrofinas e testosterona.
•Exames médicos: rastreio às principais causas orgânicas.
•Espermograma: avalia a quantidade e qualidade dos
espermatozóides no sémen.
•Testes genéticos: despistagem de doenças associadas à produção
de espermatozóides.
•Biopsia testicular: inferir acerca do funcionamento e estrutura
testiculares.
•Análise à urina: permite averiguar a presença de microorganismos no
tracto urinário (DST’s), principalmente dos sectores comuns ao sistema
reprodutor.
•Averiguação dos antecedentes e elaboração de um quadro histórico
da vida social e cultural do indivíduo.
7. Tratamentos para combater a infertilidade masculina
• Tratamentos hormonais: regulação da produção de espermatozóides
nos testículos.
• Tratamento de torções testiculares e determinadas doenças do
aparelho genital;
• Inibição da produção de anticorpos contra os espermatozóides, para
aumento da sua concentração no esperma;
• Desbloqueio das vias genitais;
• Resolução de patologias do foro psicológico ou associadas ao
sistema nervoso, que podem provocar distúrbios associados à erecção e
consequente desempenho sexual.
8. Caso estes métodos se mostrem ineficaz na resolução do problema, podem ser
implementadas técnicas de reprodução medicamente assistidas exclusivas
do homem, e que visam a recolha de espermatozóides directamente dos
testículos:
• Biopsia testicular – extracção e análise de pequenos fragmentos de
testículo, para verificação da existência de espermatozóides e, em caso
positivo, serem extraídos e utilizados em procedimentos de reprodução
assistida.
• Aspiração Testicular – uma fina agulha de biopsia retira pequeníssimos
fragmentos de tecido que podem conter espermatozóides.
• Aspiração Percutânea de esperma – inserção de uma agulha muito fina
nos epidídimos, para obtenção de um volume considerável de
espermatozóides.
9. Causas da Infertilidade
Infertilidade feminina
Origem Causas
• Falta de ovulação • Disfunções hormonais;
• Ovários anormais;
• Endometriose.
• Bloqueio das trompas • Infecções;
• Malformação congénita;
• Endometriose.
• Secreções vaginais/ cérvix hostis para
os espermatozóides
• Secreções vaginais agressivas;
•Secreção de muco anormal pelo cérvix
• Interrupção da nidação • Tumores uterinos;
•Degeneração prematura do corpo
lúteo;
• Endometriose.
• Idade •Aumento da probabilidade de formação
de oócitos com n.º anormal de
cromossomas
10. Métodos de diagnóstico das causas da infertilidade feminino
• Exames médicos: rastreio às principais causas orgânicas;
• Caracterização hormonal;
• Estudo das trompas de Falópio, de forma a verificar se há alguma
obstrução e, portanto, proceder à sua eliminação;
• Ecografia abdominal, para verificar o estado do útero, ovários e controlar
o ciclo ovárico;
• Análise ao muco cervical, com o objectivo de se avaliar a mobilidade dos
espermatozóides no colo do útero;
• Despistagem de DST’s;
• Testes Genéticos;
• Ultra-som vaginal;
• Biopsia Endometrial;
• Laparoscopia – pode detectar e corrigir problemas no sistema reprodutor
feminino, nomeadamente bloqueios que impedem o transporte dos
espermatozóides e dos oócitos.
11. Laparoscopia
• Técnica utilizada para detectar e
corrigir problemas do sistema
reprodutor feminino como, por
exemplo, bloqueios que impedem o
transporte de oócitos ou de
espermatozóides.
• Consiste na abertura de pequenos
orifícios que permitem a entrada de
instrumentos no abdómen que é
previamente inoculado com gás
12. Um pouco de história…
• 1332 a primeira realizada em cavalos por árabes;
• 1779 – primeira inseminação científica realizada em cães por
Lázaro Spalanzani;
• 1791 - primeira gravidez por inseminação artificial;
• 25 de Julho de 1978 – nasce Louise Brown, a primeira bebé no
mundo concebida por fertilização in Vitro.
Louise Brown, o primeiro
bebé-proveta
13. Estimulação Ovárica
• Realiza-se com hormônios que estimulam os ovários, para
assegurar a obtenção de um bom número de oócitos maduros
para o procedimento.
• Entre o 3º e o 5º dia do ciclo sexual utiliza-se um hormônio
idêntico ao FSH que promove a maturação dos folículos.
• A partir do 10º dia utiliza-se um hormônio idêntico ao LH que
provoca a ovulação.
14. Injeções para indução
da ovulação
Injeções para provocar a
ovulação
Suplemento de progesterona
para manter o corpo lúteo
Semana 1 Semana 2 Semana 3 Semana 4 Semana 5
D S T Q Q S S D S T Q Q S S D S T Q Q S S D S T Q Q S S D S T Q Q S S
Análise
sanguínea para
quantificação
dos estrogénios
Ultra-sons regulares
para acompanhar o
desenvolvimento
folicular
Ultra-som vaginal
para detectar o
desenvolvimento
folicular
Transferência dos
embriões para útero
Recolha de oócitos
do útero por
aspiração folicular
Análise ao sangue
para detectar uma
possível gravidez
15. IA – Inseminação artificial
Em que consiste?
• Introdução de esperma lavado na vagina ou no cérvix, ocorrendo a
fecundação normalmente nas trompas de Falópio.
• Existem dois tipos de inseminação artificial: Intra-Cervical e Intra-Uterina.
Quando se utiliza?
• Em casais cujo homem apresenta oligoespermia. Pode ser inseminado
artificialmente esperma de várias ejaculações, concentrado em laboratório.
• É utilizado esperma de um dador quando o elemento masculino do casal é
infértil ou possui uma doença genética transmissível.
• É utilizado por mulheres sem companheiro que desejam ser mães.
16. Intra-Cervical
• Permite reproduzir as condições fisiológicas da relação sexual,
não apresentando nenhum elemento de superioridade em relação
ao acto sexual.
• É utilizada em casos de impossibilidade de uma relação sexual
normal ou de uma ejaculação intra-vaginal (malformação sexual;
distúrbios sexuais; distúrbios na ejaculação )
17. Intra-Uterina
• Consiste na deposição de espermatozóides móveis
capacitados (aptos a fertilizar após o seu tratamento em
laboratório) no fundo da cavidade uterina após a indução da
ovulação.
• O mínimo exigido são 5 milhões de espermatozóides
selecionados na preparação do esperma no laboratório.
18. Vantagens
• Não há a necessidade da presença de muco cervical.
• Permite aumentar o número de espermatozóides móveis que
penetram a cavidade uterina e atingem a trompa de Falópio, o local
da fecundação.
• Esta técnica é utilizada em casos de oligoespermia, incapacidade
do marido/parceiro ejacular no interior da vagina da sua parceira,
distúrbios de ovulação, alterações no muco cervical, determinadas
alterações na qualidade e/ou quantidade do esperma, alterações nos
oviductos, endometriose.
• A taxa de sucesso desta técnica varia entre 22-26% em cada
procedimento.
20. Fecundação in Vitro
Em que consiste?
• Conjunto de técnicas em que a união entre o ovócito e o espermatozóide é
feita em laboratório
•Existem várias modalidades consoante os requisitos médicos.
• FIVTE convencional
•Transferência de gâmetas nas trompas
•Transferências de zigotos nas trompas
•Transferência de embriões nas trompas
•Injeção intracitoplasmática de espermatozóides
•Injeção intracitoplasmática de espermatídeos
•Co-culturas
21. Quando se utiliza?
• Em casais cujo mulher tem um bloqueio nas trompas de Falópio mas útero
e ovários funcionais.
• Quando um dos membros do casal tem uma doença sexualmente
transmissível que é incurável, podendo o parceiro ser contaminado por
relações sexuais sem preservativo
22.
23. FIVTE convencional
Em que consiste?
Estimulação dos ovários Recuperação dos folículos hiper-estimulados
(laparoscopia ou ecografia transvaginal)
Isolam-se os ovócitos e colocam-se em
contacto com uma amostra de
espermatozóides
Embrião transferido para a cavidade uterina
24. GIFT – Transferência de gâmetas nas trompas
Em que consiste?
• Introdução de um par de ovócitos e pelo menos 40 mil espermatozóides.
• É pouco usada já que requer anestesia geral
TIZ – Transferência de zigotos nas trompas
Em que consiste?
• Após a FIV, os zigotos formados são transferidos para a trompa de falópio
através de uma laparoscopia
• Esta técnica já não é utilizada
25. TET – Transferência de embriões nas trompas
Em que consiste?
• Os embriões formados através da FIV e que se encontram em divisão
celular são depositados no aparelho reprodutor feminino
Co-culturas
Em que consiste?
• Os embriões obtidos através da FIV são cultivados até atingirem o estado
de blastocisto sobre uma camada de células do endométrio retiradas do
aparelho reprodutor feminino.
26. ICSI – Injecção intracitoplasmática de espermatozóides
Em que consiste?
• Introdução de um espermatozóide retirado ou da ejaculação ou
directamente do testículo no oócito
• Introdução é complementada com um equipamento de micro-injecção à luz
de um potente microscópio;
• Transferência do embrião resultante nas 48/72 horas seguintes.
Quando se utiliza?
• Quando os espermatozóides possuem anomalias que os tornam inaptos
para a fecundação
27. Imobilização do espermatozóide
Colocação do espermatozóide na micropipeta pela cauda
Inicio da injecção do espermatozóide no óvulo
Micropipeta com espermatozóide totalmente
dentro do óvulo
Injecção do espermatozóide e retirada da
micropipeta
28.
29. • É obrigatório o estudo genético do casal antes da aplicação desta
técnica
• É aconselhado o diagnóstico pré-natal (técnica usada em situações de
infertilidade grave
• Esta técnica quando tem indicação clínica, tem sido escolhida como
boa técnica de tratamento da infertilidade atingindo 41% de êxito em
mulheres com menos de 35 anos, embora seja a mais onerosa. Por esse
motivo, as vezes tem substituido a fertilização in vitro nas clínicas de
reprodução assistida, já que os seus resultados são um pouco
melhores.
30. ROSNI/ROSSI – Injecção intracitoplasmática de espermatídeos redondos
Em que consiste?
• Em tudo semelhante à ICSI: injecta-se um espermatídeo (célula percursora
do espermatozóide que se extrai do tecido testicular
Quando se utiliza?
• Quando os espermatozóides possuem anomalias que os tornam inaptos
para a fecundação
31. Biópsia ao primeiro glóbulo polar
Em que consiste?
• Extrai-se o primeiro glóbulo polar com uma micropipeta para a pesquisa
de certos genes.
• Este primeiro glóbulo partilha com o oócito o património genético da
mulher (verificou-se entre eles a segregação aleatória dos alelos
Quando se utiliza?
• Quando existem doenças genéticas na família da mulher. Caso se
encontre um alelo de uma doença genética no glóbulo polar, é possível
inferir que esse está ausente no oócito
32. Implantação de embriões após diagnóstico genético pré-implantação
Em que consiste?
• Remove-se uma célula a um blastómero (biópsia) para serem pesquisadas
anomalias nos cromossomas ou genes, na sua ausência, o embrião é
implantado no útero onde termina o seu desenvolvimento
Quando se utiliza?
• Em mulheres acima de 40 anos, que já tiveram vários abortos
espontâneos, sendo maior a probabilidade de existirem oócitos com um
número anormal de cromossomas.
• Para prevenir o nascimento de crianças com doenças hereditárias
presentes em irmãos.
33.
34. Crioconservação de gâmetas e embriões
• Os gametas que se destinam a técnicas de reprodução assistida e os
embriões que resultam do processo podem se congelados em
Nitrogênio líquido (impede a formação de cristais de gelo que podem
danificar as células).
Esperma • Esperma de dadores é armazenado em bancos de
esperma onde pode ser acompanhado de características
do dador.
• Usado em homens que vão ser sujeitos a quimioterapia
ou radioterapia
Oócitos • Processo mais complexo (células estão em metafase II
e o fuso acromático é uma estrutura sensível).
• Usado em mulheres que querem adiar a maternidade,
vão ser sujeitas a quimioterapia ou que trabalham com
substâncias tóxicas ou teratogénicas.
35. Embriões • Foram utilizados com sucesso embriões com 13 anos.
• Os casais envolvidos podem optar por:
– implantação futura;
– doação a outros canais com problemas de
infertilidade;
– destruição, após o tempo recomendado para
implantação.
• Condicionada pela legislação dos países.
• A sua utilização em investigação levanta problemas
éticos.
36. Doação temporária de útero
Em que consiste?
• É realizada uma fertilização in Vitro com oócitos e espermatozóides do
casal ou do doador e em vez de o embrião ser colocado no útero da mãe é
colocado no útero de outra pessoa, a barriga de aluguel.
• Custa cerca de 67 mil euros, estando incluído o pagamento da mãe de
substituição (Não permitido no Brasil), as taxas legais, taxas da clínica,
medicação, fertilização in vitro e despesas da viagem ( Valores de realização
na Europa)
Quando se utiliza?
• Quando as mulheres não têm útero mas têm ovários. Caso não tenham
também ovários, recorre-se a uma dadora de oócitos.