O documento discute a evolução histórica da literatura e seu papel na educação. Aborda como a literatura foi ensinada na Grécia Antiga, Renascimento e Brasil, sempre oscilando entre objetivos morais e nacionalistas. Também reflete sobre possíveis soluções para tornar a literatura mais acessível e representativa na escola.
2. Primórdios da literatura Na Antiguidade grega: LITERATURA = POESIA (épica ou dramática). A Ilíada e a Odisséia, de Homero – caráter moralizante; Origem da propensão educadora da literatura; Interesse coletivo acima do privado.
3. A despeito de considerarem a escrita em determinados momentos perigosa (vide a tragédia Hipólito) os gregos não desmereceram seu poder. Importaram um alfabeto dos fenícios, acrescentaram alguns signos para representar as vogais e trataram de difundi-lo via escola. Os estudos nas escolas atenienses incluiam quatro assuntos básicos: linguagem (grammatike), literatura (mousike), aritmética (logistike) e atletismo (gymnastike).
4. A literatura no Renascimento Literatura – a poesia tinha caráter íntimo e particular; Na Antiguidade – predomínio do caráter comunitário e público; A educação passou a ser gerenciada pelas escolas. Deixa de ser um lugar facultativo para a aprendizagem e torna-se obrigatório;
5. A literatura foi integrada ao currículo escolar, dissolvendo-se entre a Gramática, a Lógica e a Retórica. Só após a Revolução de 1789, os franceses introduzem na escola a literatura nacional; A literatura não podia perder sua força educativa;
6. A literatura se modificou – deixou de ter finalidade intelectual e ética; A literatura adquire cunho linguístico; A escola foi veículo de difusão – consagrar os poetas de língua nacional.
7. A literatura no Brasil O ensino da literatura oscila entre: conhecer a norma linguística nacional e ao mesmo tempo a história da nação. Desejo de expressão nacional. Literatura + identidade nacional – fio condutor das histórias da literatura (cunho ideológico).
8. A literatura no Brasil As principais manifestações literárias surgiram com a ocupação do território brasileiro. Literatura destinada ao público leitor curioso pelas descrições da terra; Carta de Pero Vaz de Caminha, carta escrita em 1500 e publicada em 1507; Anchieta (1553) – escola voltada para a catequese e ensino da língua portuguesa e escrita.
9. A literatura no Brasil Ensino da literatura – cunho catequético mais sistemático; O caramuru (1781), de Santa Rita Durão ilustra essa situação; Exposição do projeto educacional da Companhia de Jesus.
10. A literatura no Brasil “Durão converte Diogo Alvares Correia num pedagogo exemplar que, impressionado com a ferocidade dos índios, antropófagos e sanguinários, dispõe-se a educá-los, resgatando a suposta humanidade dos índios” (LAJOLO & ZILBERMAN, 2002, p. 20)
11. Papel da escola e da literatura no Brasil Escola na literatura– local de punição; Literatura como escapismo; Literatura – leitura obrigatória;
12. Papel da escola e da literatura no Brasil Exemplos na literatura nacional: Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida, Conto de escola e Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis e O Ateneu, de Raul Pompéia. O texto literário como metalinguístico.
13. Papel da escola e da literatura no Brasil “Franco era silencioso, como arreceado de todos, tristonho, de uma melancolia parente da imbecilidade; tinha acessos refreados de raiva, queixas que não sabia formular. Os livros, causa primeira de seus desgostos, faziam-lhe horror. A necessidade de escrever por castigo promovera nele a habilidade dos galés: adquirira um desembaraço pasmoso na faina de encher de garranchos páginas e páginas. Esta interminável escrita fizera-lhe calos aos cantos das unhas [...]” (p. 108).
14. Papel da escola e da literatura no Brasil É no espaço Grêmio Literário Amor ao Saber, que os alunos entram em contato maior com os livros de forma mais prazerosa e sem obrigações escolares, bem como põem em prática suas idéias num periódico: “Na interessante publicação apareciam quadrinhas místicas do Ribas e sonetos lúbricos do Sanches. Barreto publicara meditações, espécie de harpa do crente em prosa arrebentada. O rodapé-romance era uma imitação d’O Guarani, emplumada de vocábulos indígenas e assinada – Aimbiré” (p. 143).
15. A leitura... Para Ricardo Piglia (2006), “a leitura é ao mesmo tempo a construção de um universo e um refúgio diante da hostilidade do mundo” (p. 29);
16. Papel da escola e da literatura no Brasil Problema do final do século XIX = problema atual; Leituras obrigatórias na escola; Lista de livros mais lidos; Eleição do cânone – seleção e exclusão promovida pelas histórias da literatura;
17. Papel da escola e da literatura no Brasil O escritores em suas obras também fazem uma espécie de seleção de seus pares . N’OAteneu, na abertura solene do Grêmio, o palestrante Dr. Cláudio, escolhe o que para ele, seria o melhor de nossa literatura. Com efeito, elenca os seguintes nomes e movimentos literários: “[a] galhofa de Gregório de Matos e Antônio José, a epopéia de Durão, o idílio da escola mineira, a unção de Sousa Caldas e São Carlos, a influência de Magalhães, os ensaios do romance nacional, a glória de Gonçalves Dias e José de Alencar” (p. 151).
18. Papel da escola e da literatura no Brasil Obras não-eruditas são consideradas imperfeitas e inferiores. “...a Grande Literatura convive com outras literaturas, de menor prestígio, mas de grande apelo. Entre um e outro conjunto de livros (consagrados e não consagrados), a escola tende a aproximar-se da opinião dos intelectuais e esquecer – ou pior, estigmatizar – o gosto das pessoas comuns” (ABREU, 2006, p. 110).
19. Possíveis soluções Mudanças no critério de avaliação na eleição do canône; Discutir o que é literatura, pois ela é um fenômeno cultural e histórico e, portanto, passível de receber diferentes definições em diferentes épocas e por diferentes grupos sociais; Levar em conta o horizonte de expectativas do leitor – Estética da Recepção;
20. Possíveis soluções Trazer à baila textos escritores por mulheres (sobre mulheres), negros, pobres, enfim toda a sorte de temas e gêneros marginalizados e que fazem parte do cotidiano de muitas pessoas que afirmam não gostar da literatura. Solução proposta por Márcia Abreu e que parece se coadunar com a intenção dos Estudos Culturais (identidade, temas raciais e sexuais); Ler os clássicos, mas antes oportunizar que outros textos também façam parte do sistema literário;
21. Possíveis soluções: novos suportes Escrita e leitura não se ressentirão da mudança de suporte? Novos suportes implicam novas opções. Por exemplo, a simultaneidade evidencia mais propriamente o trabalho em hipertexto. O fazer literário alcança a interatividade com o usuário. A lógica do capitalismo, fundada na obsolescência programada, sugere que o livro não vai desaparecer, porque encontrará seu nicho no sistema. Talvez se torne ainda mais elitizado; ou, pelo contrário, ameaçado de desaparecimento, providencie no barateamento do custo e à renovação da popularidade.
22. Possíveis soluções “É preciso dessacralizar a literatura liberá-la de seus tabus sociais, abrindo caminho para o segredo de sua potência. Então talvez será possível refazer não a história da literatura, mas a história dos homens em sociedade, segundo o diálogo dos criadores de palavras, mitos e idéias com seus contemporâneos e com a posteridade, que agora chamamos literatura” (ESCARPIT)
23. Referências bibliográficas ABREU, Márcia. Cultura letrada. Literatura e leitura. São Paulo: Editora Unesp, 2006. CANDIDO, Antonio. Literatura e sociedade. São Paulo: T.A Queiroz Editor, 2000. ESCARPIT, Robert. Sociologia de la literatura. Espanha: OikosTau, s.d. LAJOLO, M. & ZILBERMAN, R. O preço da leitura. Leis e números por detrás das letras. São Paulo: Ática, 2001. PIGLIA, Ricardo. O último leitor. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. POMPÉIA, Raul. , 1981. O Ateneu. Crônica de Saudades. Organização de Afrânio Coutinho. V. II. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira. _____. A leitura rarefeita. Leitura e livro no Brasil. São Paulo: Ática, 2002. ZILBERMAN, Regina. A leitura e o Ensino da Literatura. São Paulo: Contexto, 1988.