SlideShare une entreprise Scribd logo
1  sur  4
Télécharger pour lire hors ligne
Roubaram o gravador do Juruna
           They stole Juruna’s tape-recorder

                                                       Olívio Jekupe*


       Juruna era um índio xavante que foi eleito o primeiro de-
putado do Brasil. Ao ser eleito toda a imprensa corriam atrás
dele sempre fazendo uma matéria, fazendo muitas perguntas e
nisso o povo brasileiro começou a comentar sobre ele e acha-
vam engraçado um índio ser deputado, e a cada vez que falava
na imprensa, mais conhecido ficava. E para o povo, era engra-
çado ver um índio cabeludo, falava um português arrastado, e
que no começo não queria usar gravata, pois tinha um costume
diferente, tinha vivido a vida toda no cerrado de sua aldeia. Só
que como agora se tornou um deputado então foi obrigado a
usar o terno do chamado homem branco.
       O tempo foi passando e o ele começou a perceber que
muitos políticos muitas vezes falavam algo e não cumpria e
outras vezes achava que muitos mentiam, não era sincero no
que dizia e nisso certo dia Mario Juruna pensou em algo estra-
nho para a época, resolveu gravar o que eles falavam para que           * Escritor e poeta, autor
usasse como prova. E que não tinha como mentir, dizer que não           de vários livros e de uma
                                                                        antologia na Itália, com
tinha falado. E depois que comprou o gravador, falou consigo            outros autores do Brasil.
mesmo:                                                                  Moro na aldeia Krukutu,
       – Amanhã será o dia serei um fiscal do povo e dos índios         comunidade guarani, e
                                                                        sou presidente da Asso-
porque gravarei tudo o que os deputados falarem.                        ciação Guarani Nhe’e
       E no dia seguinte Juruna aparece com um gravador na              Porã. Sou casado e tenho
                                                                        quatro filhos. Escrevo
mão, liga e inicia sua primeira gravação, e a imprensa e os de-         desde 1984 e adoro viver
putados ao ver aquilo acharam muito engraçado e começaram               na aldeia, pois a floresta
a rir do índio deputado, mas ele não se intimidou, porque sabia         é algo que me dá muita
que isso seria importante no seu dia a dia.                             inspiração para escrever.
                                                                        Também sou palestrante
       No dia seguinte foi comentário em todo o Brasil pois saiu        e gosto de falar sobre a
em vários jornais, e que para muitos virou uma brincadeira, só          literatura escrita por nós
                                                                        índios.
que na verdade para o deputado Mario Juruna era uma grande
                                                                        www.oliviojekupe.
arma que ele carregava em suas mãos, porque depois que come-            blogspot.com. E-mail:
çou a andar com o gravador , muitas vezes os deputados se               oliviojekupe@yahoo.com.br


           Tellus, ano 10, n. 19, p. 225-228, jul./dez. 2010
                         Campo Grande - MS
sentiam preso, e nem sempre dizia o que queria, porque perceberam que
o que dissesse poderia depois chegar nas mãos dos jornalista.
       Com o tempo muitos que riram do que ele fazia, notaram que aquela
brincadeira que muitos achavam era algo sério.
       E por isso Mario Juruna ficou muito conhecido no Brasil por tudo o
que fazia, pela coragem de dizer sempre a verdade, mas o que deixou
mais conhecido era andar com o gravador que sempre estava ao seu
lado.
       Com o passar do tempo muitos começaram a admirar por ele fazer
aquilo, gravando tudo e certo dia Mario Juruna foi dar uma palestra em
Brasília, e estava um dia muito gostoso, e como sempre estava com o
gravador e naquele momento não estava gravando nada, então deixou
ao lado de uma mesa, perto do local em que falava. E logo depois que
terminou de falar, foi pegar seu gravador que já estava em suas mãos
andando por todo o canto há um ano, e tinha desaparecido. O índio
deputado se assustou, parecia que ia desmaiar porque sentia algo forte
por aquele gravador, um forte sentimento, pois foi o primeiro que tinha
comprado, não era qualquer gravador, para ele era o seu predileto. Fa-
lou com algumas pessoas que seu gravador tinha sumido, mas nada de
encontrar.
       Mas no dia seguinte Mario Juruna foi até uma loja e comprou ou-
tro gravador, mas sentiu uma tristeza porque não era o primeiro. Tudo
bem, pensou ele, mas ia ter que se acostumar, quem sabe um dia ele
encontre quem foi que roubou. E certo dia o índio comentou com outro
xavante dizendo que se alguém encontrar um gravador parecido com o
dele que olhasse a marca para confirmar que era o dele.
       Os anos foram se passando, até que o prazo de deputado venceu,
Mario Juruna continuou morando em Brasília e por ali ficou e com aque-
la angústia de nunca mais ter recuperado seu primeiro objeto da cidade
que lhe deixou conhecido em todo o Brasil e que foi sua marca em que
fazia justiça aos índios e ao povo, escutando os absurdos dos deputados.
       Os anos passaram e ninguém nunca viu o tal do gravador, nem a
policia conseguiu achar, e com o passar dos anos, Mario Juruna havia
morrido, foi muito triste porque os povos indígenas perderam um dos
grandes defensores da causa indígena, o homem que mostrou a socieda-
de que os povos indígenas também podem governar na política muito
bem, que podemos ter nossos vereadores, deputados estaduais, federais
e quem sabe um poderemos ter um índio na Presidência, basta tirar de
dentro de si o preconceito porque assim irão conhecer muitos que estão

226                            Olívio JEKUPE. Roubaram o gravador do Juruna.
preparados. Mas com a morte foi se também a história de que nunca
mais iria encontrar o gravador.
      E os anos continuavam passando como sempre passa, e no mês de
outubro de 2009 estava acontecendo o primeiro encontro dos escritores
apoiado pela Secretaria da Cultura do Estado de Mato Grosso, e nesse
evento foi feito um grande palco no centro da cidade para receber o
povo que iriam assistirem muitas palestras com índios de vários estados
do Brasil, onde cada um falaria sobre a novidade dessa literatura indíge-
na que poucos conhecem mas que era uma realidade do século. Também
foi preparado um local para stand onde varias livrarias colocariam seus
livros para vender e uma delas era a do Núcleo dos Escritores e Artistas
Indígenas (NEARIN), e havia um rapaz chamado Rafael que trabalha
no atendimento de vendas dos livros, onde havia livros de vários autores
indígenas. E ali iam chegando pessoas a todo momento, olhavam e ob-
servavam os livros dos autores.
      Já no terceiro dia do evento, o Rafael estava arrumando os livros
quando de repente chegou um velho já de uns 70 anos de idade e carre-
gava um gravador em suas mãos e nisso começou a prosear e disse:
      – Caro amigo eu queria que você fizesse um favor para mim, gosta-
ria de deixar esse gravador com a entidade de vocês, o NEARIN. Sei que
nas mãos de vocês esse gravador poderá fazer história e ficar guardado
para sempre.
      – Mas porque quer deixar esse gravador conosco, não é do senhor?
Uma lembrança?
      – Não na verdade esse gravador é do falecido Mario Juruna, certo
dia ele esteve em minha casa e esqueceu e nunca mais tive contato com
ele e aí ficou comigo até os dias de hoje, e parece que depois que ele
morreu, sinto algo no peito me apertando cobrando para devolver o gra-
vador para o Mario Juruna, e como vou entregar se já morreu. Sinto
uma pena de não ter conseguido entregar para ele antes de morrer. E
todas as noites parece que vejo ele perto de mim, cobrando, por isso é
que resolvi entregar para o NEARIN, sei que ele iria sentir melhor, é
como se estivesse devolvido o gravador.
      E havia alguns escritores conversando com algumas pessoas que
andavam pelos stands aí Rafael foi e disse que ia chamar um dos escrito-
res para receber o gravador e pediu para o velho ficar um estante. Nisso
o Rafael chamou dois índios e por coincidência havia um xavante tam-
bém nesse evento, que aliás não era escritor, mas fazia algo que o Mario
Juruna fez, gravava as coisas, mas em filme.

Tellus, ano 10, n. 19, jul./dez. 2010                               227
Ao chegar no local, o velho não estava mais, e nisso o Rafael come-
çou a contar toda a história que o velho tinha lhe contado, e mostrou o
gravador deixado pelo velho, que dizia que o Mario Juruna tinha esque-
cido em sua casa. Aí o xavante riu ao ver aquele gravador e começou a
dizer.
      – Na verdade o Mario Juruna nunca esqueceu o gravador na casa
desse homem, ele na verdade roubou o gravador do nosso parente, meu
pai disse certa vez que o Juruna estava dando uma palestra em Brasília e
depois de terminar notou que seu gravador tinha sido roubado e passou
alguns anos na esperança de encontrar, mas morreu sem conseguir. E
esse homem que trouxe o gravador deve ter sido o próprio que roubou e
agora deve estar arrependido, a consciência apertou por dentro. Por isso
é que ele deixou com você e fugiu para não deixar pista.
      Em seguida o Rafael falou com tom engraçado com aquele sotaque
da carioca que tem.
      – Pô meu irmão como vamos saber se esse gravador é mesmo do
Mario Juruna? vai que o velho é apenas um maluco?
      Nisso o índio xavante falou que:
      – Existe uma prova que pode ser visto se o gravador era o do Juruna,
e contou que quando o Mario Juruna comprou o gravador, ele deixou
seu nome em sigla, DMJ (Deputado Mario Juruna). – E está escrito den-
tro do gravador, onde é colocado as pilhas.
      Nisso o Rafael riu ao ouvir aquilo e falou para abrir logo porque
queria tirar a dúvida. E logo eles abriram e tiveram uma surpresa, a sigla
estava lá, do jeito que foi falado e aí não tiveram dúvida, o gravador era
mesmo do grande líder indígena e deputado, e carregando seu gravador
para todos os cantos.
      E aí o gravador ficou com o NEARIN, pois ia ser de grande valor
para o Núcleo, ter algo desse líder e que muitos quando quiserem ver o
gravador que fez história poderia ver.


Recebido em 21 de junho de 2010
Aprovado para publicação em 2 de julho de 2010




228                             Olívio JEKUPE. Roubaram o gravador do Juruna.

Contenu connexe

Similaire à Roubaram o Gravador do Juruna

Da cor do preconceito, o negro na teledramaturgia brasileira
Da cor do preconceito, o negro na teledramaturgia brasileiraDa cor do preconceito, o negro na teledramaturgia brasileira
Da cor do preconceito, o negro na teledramaturgia brasileiraTupi Taba
 
O jornalismo entrou na minha vida como válvula de escape: entrevista com Gerv...
O jornalismo entrou na minha vida como válvula de escape: entrevista com Gerv...O jornalismo entrou na minha vida como válvula de escape: entrevista com Gerv...
O jornalismo entrou na minha vida como válvula de escape: entrevista com Gerv...Viegas Fernandes da Costa
 
Seminário Bom Dia Camaradas de Ondjaki
Seminário Bom Dia Camaradas de OndjakiSeminário Bom Dia Camaradas de Ondjaki
Seminário Bom Dia Camaradas de OndjakiJoel S. Coleti
 
Biografia de Fernando Sabino
Biografia de Fernando SabinoBiografia de Fernando Sabino
Biografia de Fernando SabinoFernandabiiiia
 

Similaire à Roubaram o Gravador do Juruna (6)

Da cor do preconceito, o negro na teledramaturgia brasileira
Da cor do preconceito, o negro na teledramaturgia brasileiraDa cor do preconceito, o negro na teledramaturgia brasileira
Da cor do preconceito, o negro na teledramaturgia brasileira
 
O jornalismo entrou na minha vida como válvula de escape: entrevista com Gerv...
O jornalismo entrou na minha vida como válvula de escape: entrevista com Gerv...O jornalismo entrou na minha vida como válvula de escape: entrevista com Gerv...
O jornalismo entrou na minha vida como válvula de escape: entrevista com Gerv...
 
Mata sete
Mata seteMata sete
Mata sete
 
Seminário Bom Dia Camaradas de Ondjaki
Seminário Bom Dia Camaradas de OndjakiSeminário Bom Dia Camaradas de Ondjaki
Seminário Bom Dia Camaradas de Ondjaki
 
Slide 10 livros
Slide   10 livros Slide   10 livros
Slide 10 livros
 
Biografia de Fernando Sabino
Biografia de Fernando SabinoBiografia de Fernando Sabino
Biografia de Fernando Sabino
 

Plus de Instituto Uka

DE PERI A MUNDURUKU: A INSERÇÃO DO INDÍGENA NO CONTEXTO LITERÁRIO BRASILEIRO
DE PERI A MUNDURUKU: A INSERÇÃO DO INDÍGENA NO CONTEXTO LITERÁRIO BRASILEIRODE PERI A MUNDURUKU: A INSERÇÃO DO INDÍGENA NO CONTEXTO LITERÁRIO BRASILEIRO
DE PERI A MUNDURUKU: A INSERÇÃO DO INDÍGENA NO CONTEXTO LITERÁRIO BRASILEIROInstituto Uka
 
Tese completa e com revisão das notas pele silenciosa, pele sonora
Tese completa e com revisão das notas   pele silenciosa, pele sonoraTese completa e com revisão das notas   pele silenciosa, pele sonora
Tese completa e com revisão das notas pele silenciosa, pele sonoraInstituto Uka
 
Ilustração em obras de autores indígenas
Ilustração em obras de autores indígenasIlustração em obras de autores indígenas
Ilustração em obras de autores indígenasInstituto Uka
 
A Voz Indígena - por Evandro Vieira Ouriques
A Voz Indígena -  por Evandro Vieira OuriquesA Voz Indígena -  por Evandro Vieira Ouriques
A Voz Indígena - por Evandro Vieira OuriquesInstituto Uka
 
Editais Unesco/TV Escola‏
Editais Unesco/TV Escola‏Editais Unesco/TV Escola‏
Editais Unesco/TV Escola‏Instituto Uka
 
FUNDO BRASIL DE DIREITOS HUMANOS
FUNDO BRASIL DE DIREITOS HUMANOSFUNDO BRASIL DE DIREITOS HUMANOS
FUNDO BRASIL DE DIREITOS HUMANOSInstituto Uka
 
Edital - Mestrado em Patrimônio Cultural e Sociedade
Edital - Mestrado em Patrimônio Cultural e SociedadeEdital - Mestrado em Patrimônio Cultural e Sociedade
Edital - Mestrado em Patrimônio Cultural e SociedadeInstituto Uka
 
V ENCONTRO DA REDE MUNICIPAL DE BIBLIOTECAS ESCOLARES DE
V ENCONTRO DA REDE MUNICIPAL DE BIBLIOTECAS ESCOLARES DEV ENCONTRO DA REDE MUNICIPAL DE BIBLIOTECAS ESCOLARES DE
V ENCONTRO DA REDE MUNICIPAL DE BIBLIOTECAS ESCOLARES DEInstituto Uka
 
As identidades indígenas na escrita de Daniel Munduruku
As identidades indígenas na escrita de Daniel MundurukuAs identidades indígenas na escrita de Daniel Munduruku
As identidades indígenas na escrita de Daniel MundurukuInstituto Uka
 
Literatura afro-brasileira e indígena na escola
Literatura afro-brasileira e indígena na escolaLiteratura afro-brasileira e indígena na escola
Literatura afro-brasileira e indígena na escolaInstituto Uka
 
Literatura Infantil de Autoria Indígena
Literatura Infantil de Autoria IndígenaLiteratura Infantil de Autoria Indígena
Literatura Infantil de Autoria IndígenaInstituto Uka
 
O Índio Brasileiro: O que você precisa saber sobre os Povos Indígenas no Bras...
O Índio Brasileiro: O que você precisa saber sobre os Povos Indígenas no Bras...O Índio Brasileiro: O que você precisa saber sobre os Povos Indígenas no Bras...
O Índio Brasileiro: O que você precisa saber sobre os Povos Indígenas no Bras...Instituto Uka
 
As identidades indígenas na escrita de Daniel Munduruku
As identidades indígenas na escrita de Daniel MundurukuAs identidades indígenas na escrita de Daniel Munduruku
As identidades indígenas na escrita de Daniel MundurukuInstituto Uka
 
Declaração dos Direitos dos Povos Indígenas (PDF)
Declaração dos Direitos dos Povos Indígenas (PDF)Declaração dos Direitos dos Povos Indígenas (PDF)
Declaração dos Direitos dos Povos Indígenas (PDF)Instituto Uka
 
A [re]construção da identidade indígena pela literatura munduruku e o diálo...
A [re]construção da identidade indígena pela literatura   munduruku e o diálo...A [re]construção da identidade indígena pela literatura   munduruku e o diálo...
A [re]construção da identidade indígena pela literatura munduruku e o diálo...Instituto Uka
 
Leia a última edição do jornal Museu ao Vivo.
Leia a última edição do jornal Museu ao Vivo. Leia a última edição do jornal Museu ao Vivo.
Leia a última edição do jornal Museu ao Vivo. Instituto Uka
 
A LITERATURA INDÍGENA NA ESCOLA: UM CAMINHO PARA A REFLEXÃO SOBRE A PLURALID...
A LITERATURA INDÍGENA NA ESCOLA: UM CAMINHO PARA A  REFLEXÃO SOBRE A PLURALID...A LITERATURA INDÍGENA NA ESCOLA: UM CAMINHO PARA A  REFLEXÃO SOBRE A PLURALID...
A LITERATURA INDÍGENA NA ESCOLA: UM CAMINHO PARA A REFLEXÃO SOBRE A PLURALID...Instituto Uka
 
Folder reflexos da_ancestralidade
Folder reflexos da_ancestralidadeFolder reflexos da_ancestralidade
Folder reflexos da_ancestralidadeInstituto Uka
 
Livros indígenas em promoção
Livros indígenas em promoçãoLivros indígenas em promoção
Livros indígenas em promoçãoInstituto Uka
 

Plus de Instituto Uka (20)

DE PERI A MUNDURUKU: A INSERÇÃO DO INDÍGENA NO CONTEXTO LITERÁRIO BRASILEIRO
DE PERI A MUNDURUKU: A INSERÇÃO DO INDÍGENA NO CONTEXTO LITERÁRIO BRASILEIRODE PERI A MUNDURUKU: A INSERÇÃO DO INDÍGENA NO CONTEXTO LITERÁRIO BRASILEIRO
DE PERI A MUNDURUKU: A INSERÇÃO DO INDÍGENA NO CONTEXTO LITERÁRIO BRASILEIRO
 
Roteiro Karu Taru
Roteiro Karu TaruRoteiro Karu Taru
Roteiro Karu Taru
 
Tese completa e com revisão das notas pele silenciosa, pele sonora
Tese completa e com revisão das notas   pele silenciosa, pele sonoraTese completa e com revisão das notas   pele silenciosa, pele sonora
Tese completa e com revisão das notas pele silenciosa, pele sonora
 
Ilustração em obras de autores indígenas
Ilustração em obras de autores indígenasIlustração em obras de autores indígenas
Ilustração em obras de autores indígenas
 
A Voz Indígena - por Evandro Vieira Ouriques
A Voz Indígena -  por Evandro Vieira OuriquesA Voz Indígena -  por Evandro Vieira Ouriques
A Voz Indígena - por Evandro Vieira Ouriques
 
Editais Unesco/TV Escola‏
Editais Unesco/TV Escola‏Editais Unesco/TV Escola‏
Editais Unesco/TV Escola‏
 
FUNDO BRASIL DE DIREITOS HUMANOS
FUNDO BRASIL DE DIREITOS HUMANOSFUNDO BRASIL DE DIREITOS HUMANOS
FUNDO BRASIL DE DIREITOS HUMANOS
 
Edital - Mestrado em Patrimônio Cultural e Sociedade
Edital - Mestrado em Patrimônio Cultural e SociedadeEdital - Mestrado em Patrimônio Cultural e Sociedade
Edital - Mestrado em Patrimônio Cultural e Sociedade
 
V ENCONTRO DA REDE MUNICIPAL DE BIBLIOTECAS ESCOLARES DE
V ENCONTRO DA REDE MUNICIPAL DE BIBLIOTECAS ESCOLARES DEV ENCONTRO DA REDE MUNICIPAL DE BIBLIOTECAS ESCOLARES DE
V ENCONTRO DA REDE MUNICIPAL DE BIBLIOTECAS ESCOLARES DE
 
As identidades indígenas na escrita de Daniel Munduruku
As identidades indígenas na escrita de Daniel MundurukuAs identidades indígenas na escrita de Daniel Munduruku
As identidades indígenas na escrita de Daniel Munduruku
 
Literatura afro-brasileira e indígena na escola
Literatura afro-brasileira e indígena na escolaLiteratura afro-brasileira e indígena na escola
Literatura afro-brasileira e indígena na escola
 
Literatura Infantil de Autoria Indígena
Literatura Infantil de Autoria IndígenaLiteratura Infantil de Autoria Indígena
Literatura Infantil de Autoria Indígena
 
O Índio Brasileiro: O que você precisa saber sobre os Povos Indígenas no Bras...
O Índio Brasileiro: O que você precisa saber sobre os Povos Indígenas no Bras...O Índio Brasileiro: O que você precisa saber sobre os Povos Indígenas no Bras...
O Índio Brasileiro: O que você precisa saber sobre os Povos Indígenas no Bras...
 
As identidades indígenas na escrita de Daniel Munduruku
As identidades indígenas na escrita de Daniel MundurukuAs identidades indígenas na escrita de Daniel Munduruku
As identidades indígenas na escrita de Daniel Munduruku
 
Declaração dos Direitos dos Povos Indígenas (PDF)
Declaração dos Direitos dos Povos Indígenas (PDF)Declaração dos Direitos dos Povos Indígenas (PDF)
Declaração dos Direitos dos Povos Indígenas (PDF)
 
A [re]construção da identidade indígena pela literatura munduruku e o diálo...
A [re]construção da identidade indígena pela literatura   munduruku e o diálo...A [re]construção da identidade indígena pela literatura   munduruku e o diálo...
A [re]construção da identidade indígena pela literatura munduruku e o diálo...
 
Leia a última edição do jornal Museu ao Vivo.
Leia a última edição do jornal Museu ao Vivo. Leia a última edição do jornal Museu ao Vivo.
Leia a última edição do jornal Museu ao Vivo.
 
A LITERATURA INDÍGENA NA ESCOLA: UM CAMINHO PARA A REFLEXÃO SOBRE A PLURALID...
A LITERATURA INDÍGENA NA ESCOLA: UM CAMINHO PARA A  REFLEXÃO SOBRE A PLURALID...A LITERATURA INDÍGENA NA ESCOLA: UM CAMINHO PARA A  REFLEXÃO SOBRE A PLURALID...
A LITERATURA INDÍGENA NA ESCOLA: UM CAMINHO PARA A REFLEXÃO SOBRE A PLURALID...
 
Folder reflexos da_ancestralidade
Folder reflexos da_ancestralidadeFolder reflexos da_ancestralidade
Folder reflexos da_ancestralidade
 
Livros indígenas em promoção
Livros indígenas em promoçãoLivros indígenas em promoção
Livros indígenas em promoção
 

Dernier

Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividades
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividadesRevolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividades
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividadesFabianeMartins35
 
SSE_BQ_Matematica_4A_SR.pdfffffffffffffffffffffffffffffffffff
SSE_BQ_Matematica_4A_SR.pdfffffffffffffffffffffffffffffffffffSSE_BQ_Matematica_4A_SR.pdfffffffffffffffffffffffffffffffffff
SSE_BQ_Matematica_4A_SR.pdfffffffffffffffffffffffffffffffffffNarlaAquino
 
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcanteCOMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcanteVanessaCavalcante37
 
Camadas da terra -Litosfera conteúdo 6º ano
Camadas da terra -Litosfera  conteúdo 6º anoCamadas da terra -Litosfera  conteúdo 6º ano
Camadas da terra -Litosfera conteúdo 6º anoRachel Facundo
 
Análise poema país de abril (Mauel alegre)
Análise poema país de abril (Mauel alegre)Análise poema país de abril (Mauel alegre)
Análise poema país de abril (Mauel alegre)ElliotFerreira
 
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdfCurrículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdfTutor de matemática Ícaro
 
Projeto Nós propomos! Sertã, 2024 - Chupetas Eletrónicas.pptx
Projeto Nós propomos! Sertã, 2024 - Chupetas Eletrónicas.pptxProjeto Nós propomos! Sertã, 2024 - Chupetas Eletrónicas.pptx
Projeto Nós propomos! Sertã, 2024 - Chupetas Eletrónicas.pptxIlda Bicacro
 
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdfPROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdfHELENO FAVACHO
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIAPROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIAHELENO FAVACHO
 
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de HotéisAbout Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéisines09cachapa
 
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdfProjeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdfHELENO FAVACHO
 
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.
Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.Mary Alvarenga
 
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdfLeloIurk1
 
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEMPRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEMHELENO FAVACHO
 
LISTA DE EXERCICIOS envolveto grandezas e medidas e notação cientifica 1 ANO ...
LISTA DE EXERCICIOS envolveto grandezas e medidas e notação cientifica 1 ANO ...LISTA DE EXERCICIOS envolveto grandezas e medidas e notação cientifica 1 ANO ...
LISTA DE EXERCICIOS envolveto grandezas e medidas e notação cientifica 1 ANO ...Francisco Márcio Bezerra Oliveira
 
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdfApresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdfcomercial400681
 
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Ilda Bicacro
 
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdfReta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdfWagnerCamposCEA
 
Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptx
Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptxTeoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptx
Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptxTailsonSantos1
 
migração e trabalho 2º ano.pptx fenomenos
migração e trabalho 2º ano.pptx fenomenosmigração e trabalho 2º ano.pptx fenomenos
migração e trabalho 2º ano.pptx fenomenosLucianoPrado15
 

Dernier (20)

Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividades
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividadesRevolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividades
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividades
 
SSE_BQ_Matematica_4A_SR.pdfffffffffffffffffffffffffffffffffff
SSE_BQ_Matematica_4A_SR.pdfffffffffffffffffffffffffffffffffffSSE_BQ_Matematica_4A_SR.pdfffffffffffffffffffffffffffffffffff
SSE_BQ_Matematica_4A_SR.pdfffffffffffffffffffffffffffffffffff
 
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcanteCOMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
 
Camadas da terra -Litosfera conteúdo 6º ano
Camadas da terra -Litosfera  conteúdo 6º anoCamadas da terra -Litosfera  conteúdo 6º ano
Camadas da terra -Litosfera conteúdo 6º ano
 
Análise poema país de abril (Mauel alegre)
Análise poema país de abril (Mauel alegre)Análise poema país de abril (Mauel alegre)
Análise poema país de abril (Mauel alegre)
 
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdfCurrículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
 
Projeto Nós propomos! Sertã, 2024 - Chupetas Eletrónicas.pptx
Projeto Nós propomos! Sertã, 2024 - Chupetas Eletrónicas.pptxProjeto Nós propomos! Sertã, 2024 - Chupetas Eletrónicas.pptx
Projeto Nós propomos! Sertã, 2024 - Chupetas Eletrónicas.pptx
 
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdfPROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIAPROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
 
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de HotéisAbout Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
 
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdfProjeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
 
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.
Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.
 
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
 
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEMPRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
 
LISTA DE EXERCICIOS envolveto grandezas e medidas e notação cientifica 1 ANO ...
LISTA DE EXERCICIOS envolveto grandezas e medidas e notação cientifica 1 ANO ...LISTA DE EXERCICIOS envolveto grandezas e medidas e notação cientifica 1 ANO ...
LISTA DE EXERCICIOS envolveto grandezas e medidas e notação cientifica 1 ANO ...
 
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdfApresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
 
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
 
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdfReta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
 
Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptx
Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptxTeoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptx
Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptx
 
migração e trabalho 2º ano.pptx fenomenos
migração e trabalho 2º ano.pptx fenomenosmigração e trabalho 2º ano.pptx fenomenos
migração e trabalho 2º ano.pptx fenomenos
 

Roubaram o Gravador do Juruna

  • 1. Roubaram o gravador do Juruna They stole Juruna’s tape-recorder Olívio Jekupe* Juruna era um índio xavante que foi eleito o primeiro de- putado do Brasil. Ao ser eleito toda a imprensa corriam atrás dele sempre fazendo uma matéria, fazendo muitas perguntas e nisso o povo brasileiro começou a comentar sobre ele e acha- vam engraçado um índio ser deputado, e a cada vez que falava na imprensa, mais conhecido ficava. E para o povo, era engra- çado ver um índio cabeludo, falava um português arrastado, e que no começo não queria usar gravata, pois tinha um costume diferente, tinha vivido a vida toda no cerrado de sua aldeia. Só que como agora se tornou um deputado então foi obrigado a usar o terno do chamado homem branco. O tempo foi passando e o ele começou a perceber que muitos políticos muitas vezes falavam algo e não cumpria e outras vezes achava que muitos mentiam, não era sincero no que dizia e nisso certo dia Mario Juruna pensou em algo estra- nho para a época, resolveu gravar o que eles falavam para que * Escritor e poeta, autor usasse como prova. E que não tinha como mentir, dizer que não de vários livros e de uma antologia na Itália, com tinha falado. E depois que comprou o gravador, falou consigo outros autores do Brasil. mesmo: Moro na aldeia Krukutu, – Amanhã será o dia serei um fiscal do povo e dos índios comunidade guarani, e sou presidente da Asso- porque gravarei tudo o que os deputados falarem. ciação Guarani Nhe’e E no dia seguinte Juruna aparece com um gravador na Porã. Sou casado e tenho quatro filhos. Escrevo mão, liga e inicia sua primeira gravação, e a imprensa e os de- desde 1984 e adoro viver putados ao ver aquilo acharam muito engraçado e começaram na aldeia, pois a floresta a rir do índio deputado, mas ele não se intimidou, porque sabia é algo que me dá muita que isso seria importante no seu dia a dia. inspiração para escrever. Também sou palestrante No dia seguinte foi comentário em todo o Brasil pois saiu e gosto de falar sobre a em vários jornais, e que para muitos virou uma brincadeira, só literatura escrita por nós índios. que na verdade para o deputado Mario Juruna era uma grande www.oliviojekupe. arma que ele carregava em suas mãos, porque depois que come- blogspot.com. E-mail: çou a andar com o gravador , muitas vezes os deputados se oliviojekupe@yahoo.com.br Tellus, ano 10, n. 19, p. 225-228, jul./dez. 2010 Campo Grande - MS
  • 2. sentiam preso, e nem sempre dizia o que queria, porque perceberam que o que dissesse poderia depois chegar nas mãos dos jornalista. Com o tempo muitos que riram do que ele fazia, notaram que aquela brincadeira que muitos achavam era algo sério. E por isso Mario Juruna ficou muito conhecido no Brasil por tudo o que fazia, pela coragem de dizer sempre a verdade, mas o que deixou mais conhecido era andar com o gravador que sempre estava ao seu lado. Com o passar do tempo muitos começaram a admirar por ele fazer aquilo, gravando tudo e certo dia Mario Juruna foi dar uma palestra em Brasília, e estava um dia muito gostoso, e como sempre estava com o gravador e naquele momento não estava gravando nada, então deixou ao lado de uma mesa, perto do local em que falava. E logo depois que terminou de falar, foi pegar seu gravador que já estava em suas mãos andando por todo o canto há um ano, e tinha desaparecido. O índio deputado se assustou, parecia que ia desmaiar porque sentia algo forte por aquele gravador, um forte sentimento, pois foi o primeiro que tinha comprado, não era qualquer gravador, para ele era o seu predileto. Fa- lou com algumas pessoas que seu gravador tinha sumido, mas nada de encontrar. Mas no dia seguinte Mario Juruna foi até uma loja e comprou ou- tro gravador, mas sentiu uma tristeza porque não era o primeiro. Tudo bem, pensou ele, mas ia ter que se acostumar, quem sabe um dia ele encontre quem foi que roubou. E certo dia o índio comentou com outro xavante dizendo que se alguém encontrar um gravador parecido com o dele que olhasse a marca para confirmar que era o dele. Os anos foram se passando, até que o prazo de deputado venceu, Mario Juruna continuou morando em Brasília e por ali ficou e com aque- la angústia de nunca mais ter recuperado seu primeiro objeto da cidade que lhe deixou conhecido em todo o Brasil e que foi sua marca em que fazia justiça aos índios e ao povo, escutando os absurdos dos deputados. Os anos passaram e ninguém nunca viu o tal do gravador, nem a policia conseguiu achar, e com o passar dos anos, Mario Juruna havia morrido, foi muito triste porque os povos indígenas perderam um dos grandes defensores da causa indígena, o homem que mostrou a socieda- de que os povos indígenas também podem governar na política muito bem, que podemos ter nossos vereadores, deputados estaduais, federais e quem sabe um poderemos ter um índio na Presidência, basta tirar de dentro de si o preconceito porque assim irão conhecer muitos que estão 226 Olívio JEKUPE. Roubaram o gravador do Juruna.
  • 3. preparados. Mas com a morte foi se também a história de que nunca mais iria encontrar o gravador. E os anos continuavam passando como sempre passa, e no mês de outubro de 2009 estava acontecendo o primeiro encontro dos escritores apoiado pela Secretaria da Cultura do Estado de Mato Grosso, e nesse evento foi feito um grande palco no centro da cidade para receber o povo que iriam assistirem muitas palestras com índios de vários estados do Brasil, onde cada um falaria sobre a novidade dessa literatura indíge- na que poucos conhecem mas que era uma realidade do século. Também foi preparado um local para stand onde varias livrarias colocariam seus livros para vender e uma delas era a do Núcleo dos Escritores e Artistas Indígenas (NEARIN), e havia um rapaz chamado Rafael que trabalha no atendimento de vendas dos livros, onde havia livros de vários autores indígenas. E ali iam chegando pessoas a todo momento, olhavam e ob- servavam os livros dos autores. Já no terceiro dia do evento, o Rafael estava arrumando os livros quando de repente chegou um velho já de uns 70 anos de idade e carre- gava um gravador em suas mãos e nisso começou a prosear e disse: – Caro amigo eu queria que você fizesse um favor para mim, gosta- ria de deixar esse gravador com a entidade de vocês, o NEARIN. Sei que nas mãos de vocês esse gravador poderá fazer história e ficar guardado para sempre. – Mas porque quer deixar esse gravador conosco, não é do senhor? Uma lembrança? – Não na verdade esse gravador é do falecido Mario Juruna, certo dia ele esteve em minha casa e esqueceu e nunca mais tive contato com ele e aí ficou comigo até os dias de hoje, e parece que depois que ele morreu, sinto algo no peito me apertando cobrando para devolver o gra- vador para o Mario Juruna, e como vou entregar se já morreu. Sinto uma pena de não ter conseguido entregar para ele antes de morrer. E todas as noites parece que vejo ele perto de mim, cobrando, por isso é que resolvi entregar para o NEARIN, sei que ele iria sentir melhor, é como se estivesse devolvido o gravador. E havia alguns escritores conversando com algumas pessoas que andavam pelos stands aí Rafael foi e disse que ia chamar um dos escrito- res para receber o gravador e pediu para o velho ficar um estante. Nisso o Rafael chamou dois índios e por coincidência havia um xavante tam- bém nesse evento, que aliás não era escritor, mas fazia algo que o Mario Juruna fez, gravava as coisas, mas em filme. Tellus, ano 10, n. 19, jul./dez. 2010 227
  • 4. Ao chegar no local, o velho não estava mais, e nisso o Rafael come- çou a contar toda a história que o velho tinha lhe contado, e mostrou o gravador deixado pelo velho, que dizia que o Mario Juruna tinha esque- cido em sua casa. Aí o xavante riu ao ver aquele gravador e começou a dizer. – Na verdade o Mario Juruna nunca esqueceu o gravador na casa desse homem, ele na verdade roubou o gravador do nosso parente, meu pai disse certa vez que o Juruna estava dando uma palestra em Brasília e depois de terminar notou que seu gravador tinha sido roubado e passou alguns anos na esperança de encontrar, mas morreu sem conseguir. E esse homem que trouxe o gravador deve ter sido o próprio que roubou e agora deve estar arrependido, a consciência apertou por dentro. Por isso é que ele deixou com você e fugiu para não deixar pista. Em seguida o Rafael falou com tom engraçado com aquele sotaque da carioca que tem. – Pô meu irmão como vamos saber se esse gravador é mesmo do Mario Juruna? vai que o velho é apenas um maluco? Nisso o índio xavante falou que: – Existe uma prova que pode ser visto se o gravador era o do Juruna, e contou que quando o Mario Juruna comprou o gravador, ele deixou seu nome em sigla, DMJ (Deputado Mario Juruna). – E está escrito den- tro do gravador, onde é colocado as pilhas. Nisso o Rafael riu ao ouvir aquilo e falou para abrir logo porque queria tirar a dúvida. E logo eles abriram e tiveram uma surpresa, a sigla estava lá, do jeito que foi falado e aí não tiveram dúvida, o gravador era mesmo do grande líder indígena e deputado, e carregando seu gravador para todos os cantos. E aí o gravador ficou com o NEARIN, pois ia ser de grande valor para o Núcleo, ter algo desse líder e que muitos quando quiserem ver o gravador que fez história poderia ver. Recebido em 21 de junho de 2010 Aprovado para publicação em 2 de julho de 2010 228 Olívio JEKUPE. Roubaram o gravador do Juruna.