2. CENA 1
EXT.PRAÇA PRINCIPAL - DIA (FLASHBACK)
No passeio vemos três crianças de costas, os dois rapazes
são RICARDO e GONÇALO, a rapariga de longos cabelos ruivos é
LUISA.
Estão viradas para uma montra onde em ecrãs de vários
tamanhos passam as mesmas imagens: um médico e a sua equipa
num clima jovial inserem o Chip no pescoço de um paciente.
EXT.VÁRIOS LOCAIS - DIA (PRESENTE)
Prédios enormes tocam o céu, uma rua cheia de pessoas que se
movem como se fossem um, dois policias, o livro "Mil
Novecentos e Oitenta e Quatro" abre-se com o vento, família
de quatro membros fotografa o retrato perfeito, RICARDO e
GONÇALO agora adolescentes riem-se para nós, vários pescoços
com cicatrizes idênticas, busto de Aristóteles, LUISA também
adolescente virada para nós desaparece num borrão azulado
enquanto nos afastamos, plano pormenor do Chip.
COMO SE FOSSE UM SONHO, TUDO ESTÁ AZULADO E ESBRANQUIÇADO,
CORES MUITO CLARAS, AS PESSOAS E OBJECTOS SÃO ARRASTADOS. A
COR FICA NORMAL QUANDO O CHIP APARECE.
RICARDO (V.O)
O Chip. O Chip é, em toda a sua única e singular forma, o
controlo. O Chip é a segurança, o futuro, o Chip são todos
os problemas com que não temos de nos preocupar. O Chip é
esperança, o Chip é salvação, o Chip é o filho bastardo que
todo e qualquer filósofo nunca quis conhecer. O Chip já foi
só daqueles que o podiam ter, agora é de todos, mesmo
aqueles que não o querem. Este séc. não é diferente dos
outros, nenhum animal gosta mais de parasitas agora do que
gostava antes, mas o ser humano parece ter-se habituado
bastante bem em ter um enfiado no pescoço.
CENA 2
INT.CASA DO GONÇALO - QUARTO - DIA
GONÇALO esfrega o seu pescoço enquanto se olha ao espelho,
prepara-se para sair, RICARDO está poucos metros atrás dele
com um livro na mão.
(CONTINUED)
3. CONTINUED: 2.
GONÇALO
É indolor, barato. O chip que me
vai ser implantado é aquilo que me
vai separar dos animais.
RICARDO coloca o livro numa mesinha, é-nos revelado ser Mil
Novecentos e Oitenta e Quatro de George Orwell
RICARDO
(incomodado)
O chip é o que te vai tornar igual
a eles! GONÇALO, ouve-me nesta, tu
não queres fazer isso. Lê o livro,
pensa por um momento.
GONÇALO
(Virado para RICARDO)
Pensar farta, implica esquecimento,
não é prático. Eu não vou comprar
um pedaço metal, vou recuperar a
minha liberdade. A vida há muito
tempo que deixou de ser uma
história amigão...
RICARDO
Tu ouves os rumores, é realidade o
livro está-se a tornar realidade.
Temos de abrir agora os olhos antes
que eles nos sejam fechados para
sempre!
GONÇALO
Tu vais estar lá seu maníaco!
Relaxa por agora, se vires que o
médico me está a lavar o cérebro
atira-te a ele.
CENA 3
INT.CASA DO RICARDO - SALA - FIM DE TARDE
Vemos uma moldura electrónica, nela estão RICARDO, GONÇALO e
LUISA ainda adolescentes. De repente ouve-se um berro, é a
voz de GONÇALO, parece estar a ser estrangulado.
É-nos revelado que GONÇALO está a agarrar o seu próprio
pescoço virado para RICARDO que tem de novo o livro na mão.
GONÇALO
(Continuado o berro
sarcástico)
Eu já o consigo sentir, o Grande
Irmão está-se a apoderar de mim!
(CONTINUED)
4. CONTINUED: 3.
RICARDO
(Dando-lhe o livro)
Já que não me ouviste faz-me o
favor, é um bom livro.
GONÇALO
É um livro com 150 anos, eu quero
viver o AGORA!
RICARDO continua a olhar para GONÇALO com o livro apontado
na sua direcção.
GONÇALO (CONT’D)
Ok eu dou-lhe uma vista de olhos.
Agora tenho de ir usar a minha nova
marca para impressionar alguém,
devias aparecer por lá, vai ser uma
festa!
GONÇALO sai. RICARDO não se mexe, fica a olhar para a porta,
impotente, como se o amigo tivesse saído por uma das janelas
daquele 21º andar
CENA 4
EXT.VÁRIOS LOCAIS - NOITE
Luzes coloridas preenchem uma rua, centenas de pessoas
loucas numa discoteca psicadélica, dois policias perseguem
um sem-abrigo, livro "Mil Novecentos e Oitenta e Quatro"
continua a ser folheado pelo vento, quatro adolescentes
fotografam-se sentados no passeio, GONÇALO brinda para nós,
o sem-abrigo agora bem arranjado é puxado para uma poltrona
e rodeado por uma equipa médica, LUISA adolescente afasta-se
cada vez mais de RICARDO e GONÇALO adultos, o sem-abrigo
anda pela rua de fato e pasta na mão, parece um robô.
ESTÁ TUDO DE NOVO AZULADO E ESBRANQUIÇADO, CORES MUITO
CLARAS, AS PESSOAS E OBJECTOS SÃO ARRASTADOS. A COR FICA
NORMAL QUANDO O MENDIGO APARECE A ANDAR NA RUA.
RICARDO (V.O)
Sim, é isso que o Chip será, em toda a sua manipuladora e
perigosa forma, um modo social. O Chip será o ódio, será o
amor, o Chip será todas as traições que não teremos de
resolver. O Chip será a paixão, será a amizade... a amizade,
uma alma única que habita dois corpos, ela é sugada por ele,
deitada ao lixo pelo chip.
CENA 5
5. 4.
INT.CASA DO RICARDO - QUARTO - DIA
O despertador toca, RICARDO está deitado na cama a olhar
para o tecto, ao tentar para-lo derruba as caixas de
comprimidos em cima da mesinha de cabeceira.
INT.CASA DO RICARDO - SALA - DIA
RICARDO tem uma torrada na boca e aperta desajeitadamente o
nó da gravata, finalmente acaba agarrando numa pasta e
saindo de casa.
CENA 6
INT.PRÉDIO DO GONÇALO - CORREDOR - DIA
RICARDO bate incessantemente na porta, ninguém responde.
RICARDO
É a segunda vez esta semana desta
não vou esperar seu ressacado de
merda!
RICARDO desaperta a gravata e suspira, olha para o relógio e
depois de olhar em redor prega um pontapé na porta
magoando-se no processo.
Uma câmara ao canto da parede reage ao movimento.
RICARDO(CONT’D)
Lindo, para onde raio estás a
olhar?
A porta ao lado abre-se, dela sai uma senhora na casa dos 60
anos com um robe cor de rosa, introduzindo um código na
parede.
RICARDO (CONT’D)
(Mais calmo)
Sra. Rute não me sabe dizer se o
GONÇALO já saiu não?
SRA. RUTE
Quem saiu? Alguém está a fazer
muito barulho...
RICARDO
O seu vizinho...
Sra. Rute não responde, ficando a olhar para ele com um
sorriso elástico.
(CONTINUED)
6. CONTINUED: 5.
RICARDO (CONT’D)
O GONÇALO, da porta ao lado...
SRA. RUTE
(Surpresa)
Não brinque comigo rapaz e faça
pouco barulho!
Sra. Rute entra em casa, este impede-a de fechar a porta e
aproxima-se dela olhando-a com atenção. A sua cicatriz está
bem visível no pescoço, cada vez mais o olhar da Sra. Rute
se perde. RICARDO chega-se para trás com repulsa.
RICARDO
Que se está a passar aqui?
SRA. RUTE
Está tudo bem consigo?
RICARDO
(Voltando a olha-la com
atenção)
Você sabe quem eu sou certo?
SRA. RUTE
Claro que sei quem és RICARDO,
costumas estar sempre aqui ao lado!
RICARDO
(Cada vez mais perplexo)
Sim... e quem vive aqui ao lado?
SRA. RUTE
Ninguém nunca viveu aí ao lado.
RICARDO afasta-se intrigado, desequilibra-se para trás mas
estende as suas mãos pela parede agarrando-se, sempre virado
para a Sra. Rute. Esta não mostra qualquer estranheza,
ficando a olhar para ele.
RICARDO
Que raio lhe fizeram?
Ao fundo do corredor a câmara continua a seguir RICARDO,
este reage e ainda apoiando-se na parede dirige-se a ela.
Ele anda como se o mundo tivesse a baloiçar, como se o seu
equilíbrio não existisse.
Agarra na pasta e desajeitadamente tenta atingir a câmara
que continua a gravar até ser partida, caindo no chão.
(CONTINUED)
7. CONTINUED: 6.
RICARDO espreita por baixo da porta de GONÇALO, está tudo
brilhante, não vê nada. Continua a andar, passa pela Sra.
Rute que sorri para ele, finalmente chega ao fim do outro
lado do corredor e antes de entrar no elevador pára e olha
em frente. Ele descobriu algo.
CENA 7
INT. BIBLIOTECA - DIA
RICARDO desloca-se rapidamente pelo pavimento. Dirige-se em
direcção dos computadores no outro lado da divisão, senta-se
num deles e digita o seu nome e uma password.
No ecrã vemos a sua fotografia no meio, rodeada de um lado
por "Familiares" e do outro por "Amigos e Conhecidos".
Aqueles que têm o chip colocado estão identificados a
amarelo, a fotografia de RICARDO é umas das poucas a
vermelho. Ele dá uma rápida vista de olhos pelo ecrã e
começa a digitar.
Afastados dele apercebe-mo-nos que poucos metros em cima da
sua cabeça está uma enorme placa dourada onde se lê "Rede de
Identificação" e que poucos são aqueles sentados nos
computadores daquela secção.
RICARDO
Aparece! Tens de estar aqui.
Os movimentos de RICARDO enganam, ele parece não ter pressa,
mas os seus olhos mostram a sua urgência. O nome de GONÇALO
não está naquela página, RICARDO digita-o no canto direito,
passados uns 3 segundos a página muda: "Não foram
encontrados resultados".
RICARDO não se move por momentos. Esfrega a face e apoia-se
no ecrã vazio, quando este volta ao menu RICARDO levanta-se,
o seu mundo continua instável, as suas pernas não se
aguentam bem em pé.
Começa lentamente a andar para fora dali, à medida que
avança a sua velocidade aumenta, choca com uma mulher que
passa mas não pára até sair pela porta.
EXT. RUA 1 - DIA
Cada pessoa que passa por si tem uma marca no pescoço.
RICARDO coloca-se no meio da rua e olha para todos os lados
até notar um ecrã onde passa o mesmo anuncio com a equipa
médica a colocar o chip que foi mostrado no inicio.
Agarra-se ao pescoço, não está lá nada. A poucos metros de
(CONTINUED)
8. CONTINUED: 7.
si está um homem a falar alto ao telemóvel, RICARDO
dirige-se até ele.
RICARDO
Escuta tens de me ajudar um
conhecido meu desapareceu...
DESCONHECIDO
Deixe-me só acabar esta chamada,
afaste-se um pouco.
RICARDO
(Tirando-lhe o telemóvel do
ouvido)
Tens de me ajudar, esta pessoa,
eles vieram-no buscar!
DESCONHECIDO
(Empurrando-o e afastando-se)
Vieram buscar o quê? Tire-me as
mãos de cima e deixe-me em paz.
RICARDO olha para o pescoço do homem e vê a marca do chip.
CORTAR PARA:
Estamos afastados, de um contra-picado vemos que as pessoas
andam pela rua como se fossem uma massa conjunta.
CORTAR PARA:
RICARDO continua a olhar para todos os lados, está cada vez
mais assustado, rapidamente a imagem vai-se tornando clara,
azulada e esbranquiçada, como um sonho, as pessoas passam
por ele arrastadas.
O suor escorre pela sua face, RICARDO "desperta", esfrega a
face e tudo volta ao normal. Do seu lado direito está uma
cabine telefónica, ele dirige-se a esta.
CENA 8
EXT. RUA 1 - CABINE TELEFÓNICA - DIA - CONTINUAÇÃO
RICARDO entra e fecha-se dentro da cabine, passa um cartão
pela mesma, digita um código, um número curto e a chamada
começa a tocar.
TELEFONISTA
Procura de Identificação, em que
lhe posso ser útil?
(CONTINUED)
9. CONTINUED: 8.
RICARDO
Seria possível disponibilizar-me o
contacto do cidadão GONÇALO MARTIM
S. PESSOA por favor.
TELEFONISTA
Só um segundo...
RICARDO olha ao seu redor, não muito longe de si estão dois
policias a observar a multidão que passa.
TELEFONISTA (CONT’D)
O contacto de GONÇALO MARTIM S.
PESSOA não está disponível. Posso
ajuda-lo em mais alguma coisa?
RICARDO
Veja se ele colocou na Rede de
Identificação o local onde se
encontra de momento.
TELEFONISTA
Peço desculpa mas este nome não se
encontra na base de dados.
RICARDO
Não se encontra... Procure de novo!
TELEFONISTA
O nome dessa pessoa não existe na
base de dados.
RICARDO
Ouça, eu estive com com ele ontem,
eu garanto-lhe que ele está na sua
base de dados!
TELEFONISTA
O contacto que me deu não existe...
RICARDO
Como não existe? Eu estive com
ele...
TELEFONISTA
O contacto que me deu não existe...
RICARDO
Não exis... se ele não existe é
porque vocês o levaram para algum
lado! Eu quero saber onde está...
(CONTINUED)
10. CONTINUED: 9.
TELEFONISTA
Esta chamada vai ser terminada.
RICARDO
(Batendo com o telefone na
cabine)
Não me desligue sua... grande filha
da puta.
RICARDO larga o telefone, os dois policias andam na sua
direcção.
CENA 9
EXT. RUA 1 - DIA - CONTINUAÇÃO
RICARDO sai da cabine desloca-se rapidamente pela rua, olha
para trás e os policias ainda o seguem. Continua, começa de
novo a suar, a ofegar, olha para trás e os policias ainda o
seguem, sempre calmos. De repente é puxado, poucos metros à
frente vira numa estreita rua cheia de lixo.
CENA 10
EXT. BECO - DIA - CONTINUAÇÃO
RICARDO continua a correr por entre a porcaria até se
conseguir libertar parando. A pessoa vira-se para ele e sem
tirar o capuz revela ser uma mulher, com o cabelo loiro a
escorrer-lhe pelos ombros.
RICARDO
Que estás a fazer... quem és tu?
JULIA 1
(Escondendo a maior parte do
rosto na sombra do capuz)
Já não me reconheces? Sou eu, a
JULIA.
RICARDO
JULIA? Não pode ser... tu...
RICARDO tenta tocar no rosto de JULIA 1 mas ela afasta-se.
RICARDO (CONT’D)
Não pode ser... eu já nem sei quem
tu és.
Ambos agacham-se, JULIA 1 senta-se, RICARDO fica de cócoras.
(CONTINUED)
11. CONTINUED: 10.
JULIA 1
Já se passou muito tempo, aconteceu
muita coisa.
RICARDO
(A sussurrar)
Mas está tudo a acabar...
JULIA 1
Não, nada está acabado enquanto
pessoas como tu ainda existirem.
RICARDO
(Despertando)
Eu? Quem sou eu? Eu tornei-me na má
excepção... onde estiveste tu? Este
é o pior momento para regressares!
JULIA 1
Os nossos problemas, nós podemos
resolve-los. Tu sabes dos
atentados, o grupo que os faz,
estamos mais fortes. Quem sabe o
que podemos fazer...
RICARDO
Uma terrorista hum? Quer dizer...
que posso eu fazer? Sem um chip no
pescoço sou um alvo para tudo o que
me rodeia.
JULIA 1
Pensa no GONÇALO, nós podemos
descobri-lo. Pensa em nós os três,
pensa no que fazíamos, pensa no que
éramos antes do chip.
RICARDO
(Emocionado)
Ele não está em lado nenhum, eles
levaram-no, aqueles filhos da mãe
levaram-no...
JULIA 1
Quando o viste pela última vez?
RICARDO
Ontem. Fui a casa dele, esta semana
ele não parou, estava feliz.
RICARDO aproxima-se de JULIA 1.
(CONTINUED)
12. CONTINUED: 11.
RICARDO (CONT’D)
Ele é a minha última memória de nós
os três, ele é a nossa última
ligação. Colocaram-lhe aquela ideia
na cabeça, colocaram-lhe chip no
pescoço e agora arrancaram-no do
mundo.
JULIA 1
Ainda o podemos encontrar...
RICARDO
(Uma lágrima escorre-lhe pelo
rosto)
Eles apagaram-no! Tudo se tornou
realidade, aquele livro, é agora!
RICARDO e JULIA 1 encaram-se.
Num flash voltamos a ver o livro "Mil Novecentos e Oitenta e
Quatro" e o tempo reverte-se, as páginas começam a fechar.
RICARDO estende as mãos, tem o rosto molhado, retira o capuz
encarando de perto os olhos azuis de JULIA 1. Sente
o cabelo nas suas mãos, coloca-as na face desta,
acariciando-a.
A emoção dos olhos de JULIA 1 lentamente desaparece.
RICARDO (CONT’D)
Mas tu estás aqui, tu voltaste...
As mãos de RICARDO sentem a pele como seda, cada poro é
explorado pelos seus dedos.
RICARDO (CONT’D)
E estás bem, tudo pode voltar a...
Os dedos de RICARDO param, ele fica imóvel enquanto os
começa a descer pelo pescoço dela. De novo uma lágrima
escorre-lhe pelo olhos, está horrorizado.
CORTAR PARA:
CENA 11
EXT/INT. VÁRIOS LOCAIS - DIA/NOITE (FLASHBACK)
O livro "Mil Novecentos e Oitenta e Quatro" continua a
fechar, o tempo está a andar de trás para a frente,
aproximamo-nos de RICARDO, GONÇALO e LUISA crianças no
passeio a olhar para os ecrãs, a rua entupida de pessoas
(CONTINUED)
13. CONTINUED: 12.
como uma massa conjunta anda para trás, vários pescoços com
cicatrizes idênticas, GONÇALO brinda para nós, RICARDO,
GONÇALO e LUISA sentados na relva a sorrirem.
RICARDO
(Colocando o livro numa
mesinha, é-nos mostrado ser
Mil Novecentos e Oitenta e
Quatro de George Orwell)
O chip é o que te vai tornar igual
a eles! GONÇALO, ouve-me nesta, tu
não queres fazer isso. Lê o livro,
pensa por um momento.
O livro "Mil Novecentos e Oitenta e Quatro" fecha-se
finalmente. Começamos a ouvir RICARDO a berrar ao fundo.
MAIS UMA VEZ TUDO ESTÁ AZULADO E ESBRANQUIÇADO, CORES MUITO
CLARAS, AS PESSOAS E OBJECTOS SÃO ARRASTADOS.
CORTAR PARA:
CENA 12
EXT. BECO - DIA - CONTINUAÇÃO
LUISA 1 olha para a frente, a sua cabeça parece vazia como o
mendigo, como o robô. O som vai aumentando, vemos RICARDO de
joelhos em frente de LUISA 1.
RICARDO
NÃO! NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃO! NÃO!
Uma mão pesa sobre o ombro dele, os dois policias
agarram-no, RICARDO não resiste apenas continua a berrar em
direcção de LUISA 1.
RICARDO (CONT’D)
NÃO! ISTO NÃO! EU NÃO TE AMO! EU
NÃO TE AMO! NÃO SOU COMO VOCÊS! EU
NÃO TE AMO! NÃO! NÃÃÃÃÃÃÃÃO!
EXT.PRAÇA PRINCIPAL - DIA
Dois pares de pernas avançam por entre a multidão. São-nos
reveladas serem de RICARDO, que carrega a sua pasta, e de
GONÇALO. Ambos estão sorridentes, está muito sol, é-nos
revelado agora que ambos têm a marca do chip no pescoço.
Os seus olhares são vazios e quando RICARDO choca com uma
mulher não pára, continuado a seguir o seu caminho.
14. 13.
Vemos então a mulher a olhar para ambos surpresa, sem marca
no pescoço e um longo cabelo ruivo. Olha para o chão triste
e hesita mas decide continuar em frente.