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I CONFERÊNCIA LATINO-AMERICANA DE CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL
                          X ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO
                          18-21 julho 2004, São Paulo. ISBN 85-89478-08-4.




        DESENHO DE ASSENTAMENTOS URBANOS SUSTENTÁVEIS:
                    PROPOSTA METODOLÓGICA

              Liza Maria Souza de Andrade (1); Marta Adriana Bustos Romero (2)
     (1) Mestranda do Programa de Pós-graduação da FAU da Universidade de Brasília, lizaandrade@uol.com.br
               (2)Prof. Doutora do Programa de Pós-graduação da FAU da Universidade de Brasília,,
                                          bustosromero@terra.com.br

RESUMO
A acelerada expansão urbana nos países em desenvolvimento criou deseconomias de aglomeração que
são externalizadas materialmente sobre o meio ambiente sob a forma de custo social, por meio de
grandes lançamentos de resíduos na atmosfera, águas superficiais e subterrâneas, e solos. Os
instrumentos de gestão ambiental urbana de formato preventivo, existentes no Brasil, podem contribuir
também para estabelecer princípios e estratégias para projetos urbanísticos. Os EIAs-Rimas, por
exemplo, deveriam ser utilizados anteriormente e durante os planos e projetos de intervenção, visando
uma economia de recursos em todo o processo. Tendo como base este panorama, o trabalho apresenta
estudo sobre princípios da ecologia complexa de Capra (2002) entre os quais podemos citar redes,
ciclos, energia solar, aliança, diversidade e equilíbrio dinâmico. A partir desses princípios e baseados
em autores que tratam a cidade como ecossistemas urbanos, estabeleceu-se um método de desenho
para assentamentos humanos em equilíbrio com a natureza, economicamente viáveis e lugares
agradáveis para se viver. Assim como o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental,
tradicionalmente, é traduzido em normas, neste recorte específico podem ser traduzidos em princípios
de sustentabilidade aplicáveis ao desenho urbano tais como proteção ecológica (biodivresidade),
adensamento urbano, revitalização urbana, implantação de centros de bairro e desenvolvimento da
economia local, implementação de transporte sustentável e moradias economicamente viáveis,
comunidades com sentido de vizinhança, tratamento de esgoto alternativo, drenagem natural, gestão
integrada da água, energias alternativas e finalmente as políticas baseadas nos 3R’s (reduzir, reusar
e reciclar). Escolheu-se como aplicação desses princípios, após um diagnóstico socioambiental por
meio de EIAs-RIMAs, o projeto de um condomínio localizado na área destinada ao uso residencial no
Centro de Atividades do Lago Norte de Brasília no Distrito Federal. Situado na Sub-bacia do Ribeirão
do Torto, dentro da APA do Paranoá, este setor foi projetado para ser um dos pontos significativos de
polarização de serviços e comércio da expansão Norte do DF, entretanto, não funciona como tal.
Palavras-Chaves: Ecossistemas, Ecossistemas Urbanos, Ecocidades, Comunidades Sustentáveis,
Condomínio Sustentável.

1.         INTRODUÇÃO
As cidades, lócus da cidadania e palco das relações sociais, são historicamente concentrações de poder
que controlam fluxos econômicos, sociais, culturais e políticos constituindo centros de acumulação de
riqueza e conhecimento. Desde o início da Revolução Industrial, a implantação de técnicas de
produção e um modo de consumo predatório vêm provocando um grande impacto das atividades
humanas sobre o meio ambiente. Segundo Bursztyn (1994), este impacto dá origem a problemas
críticos de degradação ambiental, é externalizada sob a forma de custo social, através dos grandes
lançamentos de resíduos na atmosfera, águas superficiais e subterrâneas e solos.
No início deste século, com os efeitos da mudança climática no planeta provocados pela dispersão de
dióxido de carbono, o esgotamento de certos recursos e o aumento da pobreza nos grandes centros
urbanos dos países em vias de desenvolvimento, fica evidente a busca por novas soluções para o
processo de desenvolvimento urbano, fundamentado no uso racional dos recursos naturais, para que
estes possam continuar disponíveis às futuras gerações.
A crescente concentração populacional nas áreas urbanas dos países do terceiro mundo aumenta a
demanda habitacional e exerce pressão sobre as infra-estruturas urbanas básicas, marcadas pela
insuficiência do atendimento, pela inexistência do serviço, pela escassez e, muitas vezes, pela adoção
de soluções ambientalmente condenáveis.
Somada a isto, a expansão das cidades, sem qualquer limitação do território, incentivada pelas
políticas públicas de periferização, diminui as áreas circundantes para agricultura e áreas de reservas
naturais ou impõe modificações irreversíveis a áreas ambientalmente sensíveis.
Os impactos ambientais urbanos são todos inter-relacionados e se associam na maioria das vezes a um
mesmo fato que gera uma seqüência em cadeia - a expansão urbana provoca a dependência do
automóvel que aumenta a demanda por infra-estruturas (pavimentação e redes) e por combustíveis
fósseis. Ainda contribui para o desmatamento que enfraquece o solo, causando erosão, que, aliado à
falta de um sistema adequado de drenagem, resulta no carreamento de terra e lixo para os corpos
d’água.
O assoreamento reduz a profundidade dos rios e lagos prejudicando seriamente a qualidade desses
recursos que são, ainda, comprometidos pela falta de saneamento ambiental e a presença de esgotos
clandestinos. Além disso, a constante impermeabilização do solo e o uso de redes de drenagem
subterrâneas contribuem para o efeito de ilhas de calor.
O aplainamento da topografia destrói as características ambientais com a ocupação das margens dos
rios e a destruição da vegetação local. Num estilo tabula rasa, áreas desflorestadas surgem como
bairros áridos carentes de espaços públicos adequados, jardins ou arborização.
À medida que infra-estruturas espalhadas são construídas para o automóvel, cria-se uma realidade
diferente de bairros mais densos construídos para pedestres. Existe um contraste, por exemplo, entre as
cidades antigas tradicionais européias e a expansão das cidades norte- americanas.
Os zoneamentos rígidos (cidades universitárias, distritos industriais, grandes conjuntos habitacionais
contínuos, áreas residenciais exclusivas, centros administrativos), sacramentados pelos CIAM1 e que
dominaram o pensamento urbanístico, dos anos 40 em diante, não cumpriram seus objetivos. Surgem
espaços ociosos, perigosos, sem graça, que acarretam fortes demonstrações de exclusão e respostas
cada vez mais comprometidas de experiências urbanas positivas.
Segundo Rogers, (2001), este modelo, que se tornou fracassado nos países desenvolvidos e se mantém
nos países em desenvolvimento, afasta investimentos em projetos de desenvolvimento urbano de uso
misto que poderiam ter benefícios sociais e ambientais.
O planejamento da capital do Brasil representa bem este pensamento urbanístico dos CIAMs.
Projetada segundo as normas de zoneamento e com objetivos de cidade polinucleada, Brasília foi
pensada para uma população de 600 mil habitantes para o Plano Piloto e chega hoje com apenas 240
mil. A política de periferização criou uma constelação de cidades circunscritas ao Plano, algumas com
avantajada população como Ceilândia (mais de 330 mil habitantes) e Taguatinga (com cerca de 240
mil).
A pressão constante da população migrante e o forte conteúdo preservacionista acabam segregando
aqueles sem poder aquisitivo para fixar residência ou estabelecer algum negócio no Plano Piloto pela
alta valorização desse espaço. Restam então, para esses, "cidades semi-urbanizadas" na periferia do
centro, por vezes distanciadas em mais de 40 km, carente de oportunidades de trabalho.


1
 CIAM – Congresso Internacional de Arquitetura Moderna - A Carta de Atenas de 1933 estabeleceu princípios do urbanismo
moderno definindo o zoneamento e o plano, com densidades razoáveis, a partir de quatro funções chaves, cada uma com sua
autonomia: habitar, trabalhar, lazer e circulação. Apesar das separações por usos, as áreas destinadas ao lazer ou áreas
verdes permeiam as cidades modernistas projetadas - como no caso de Brasília.
A valorização imobiliária do Plano Piloto, devida em grande parte ao monopólio exercido pelo Estado
sobre o solo urbano, o qual, por sua vez, não se explica sem fazer intervir a idéia de administração da
escassez, somada ao sonho de todo brasiliense de classe média de ter casas ou chácaras nos arredores
do Plano Piloto, implica na demanda por invasão de terras públicas. Neste sentido, um dos maiores
problemas que se enfrenta hoje no Distrito Federal, onde 95% da população é urbana, é a ocupação
desordenada de seu território.
Condomínios privados são criados irregularmente trazendo, como conseqüências, a destruição da
paisagem natural e a pressão sobre os recursos hídricos. A maioria dos loteamentos encontra-se em
Unidades de Conservação – paradoxalmente o Distrito Federal hoje é a unidade da federação brasileira
com maior percentual de áreas protegidas, principalmente depois da criação da APA do Planalto
Central em 2002, abrangendo todo o seu território.
Segundo Romero (2003): “A partir dos anos 80 e mais acentuadamente na última década do século
XX, as ações no sítio da capital têm intensificado os níveis de danos e de comprometimento ambiental.
Atualmente, o diagnóstico ambiental aponta um quadro crítico no Distrito Federal , especialmente
nos núcleos urbanos situados em áreas mais susceptíveis, onde a redução na qualidade de vida é
visível, em conseqüência não apenas do desenho pouco adequado e da infra-estrutura deficiente mas
também do processo contínuo de degradação e alteração dos ambientes locais (58% da vegetação
nativa destruída). Podemos distinguir diversos níveis da devastação ambiental, desde a ocupação
desordenada do espaço até a desfiguração de ambientes locais ou ambientes de escassa qualidade de
vida.”
Ainda segundo a autora: “A água desce desordenada pelas ruas, vinda de nascentes, de esgotos ou da
chuva. Sem estrutura adequada de escoamento, invade condomínios e leva lixo, dejetos e cascalho
para dentro dos córregos. Para se desfazer da água suja os moradores puxam encanamentos até os
córregos e constroem fossas ecologicamente incorretas; não há sistema de água potável. As nascentes
são usadas de forma desordenada pelos moradores, que constroem poços artesianos sem nenhum
critério. Muitos veios de água secaram; a área de proteção do córrego não é respeitada. Medições
feitas por especialistas da UnB revelam que em vários pontos do DF o nível das águas subterrâneas
está diminuindo rapidamente. Na região de São Sebastião, por exemplo, onde há dezenas de
condomínios, o abaixamento do lençol freático foi de quatro metros em cinco anos”.
Esses dilemas socioambientais urbanos que afligem os países em vias de desenvolvimento,
representados pela Agenda Marrom, ligada aos problemas de infra-estrutura e saneamento ambiental,
são vistos apenas como de curto prazo. Não são vistos em conjunto com os problemas globais, como
os da Agenda Verde tais como: aquecimento global, mudança climática, colapso dos oceanos ou
extinções de espécies. Faltam estratégias ou modelos para a aplicação de projetos que resolvam os
problemas relacionados às duas Agendas no planejamento e desenho de nossas cidades.
Fica então o desafio para os projetistas urbanos de descobrir como evitar os conflitos entre as duas
Agendas para que não seja necessário “destruir para crescer, principalmente porque são países que
não terão fundos para esta reconstrução urbana. De acordo com Register (2002) “a construção
constrói”, se não for levada em consideração a estrutura física da cidade e a sua organização, não
seremos capazes de resolver todos os problemas da desintegração do planeta. ...”Aquilo que se
constrói cria possibilidades e limites para o modo de se viver, ao mesmo tempo educa aqueles que
moram na cidade sobre os valores e as preocupações reais”.
No Brasil existem alguns instrumentos da gestão ambiental urbana de formato preventivo, como a
avaliação de impacto ambiental, que orienta a concepção dos projetos ou programas de
desenvolvimento, identificando e avaliando as conseqüências ambientais e sócio-culturais, numa
perspectiva de curto, médio e longo prazos. Segundo Bursztyn (1994), tem como funções: definir os
critérios relevantes ambientais, conhecer e identificar os processos sócio-econômicos, conhecer os
ecossistemas, fornecer subsídios para a tomada de decisão e viabilizar os canais de participação
sociedade. Por meio desse instrumento, pode-se reduzir ou anular benefícios socioeconômicos
previstos num determinado projeto.
É composto de uma sucessão de etapas que se encadeiam e se inter-relacionam sistematicamente:
planejamento e elaboração do projeto, diagnóstico ambiental, identificação, previsão e medição dos
impactos, interpretação e avaliação dos impactos, consulta e participação, e, por fim, programa de
acompanhamento e monitoramento.
Deve-se intervir numa etapa anterior da decisão à realização de um determinado projeto que acaba
resultando na elaboração de um estudo de impacto ambiental (EIA-RIMA). Este estudo visa abordar
preventivamente os impactos ambientais, apresentar e analisar alternativas, buscar fidelidade ao Termo
de Referência (termo adquirido pelo empreendedor no órgão ambiental com os itens necessários a
serem diagnosticados no EIA) e aos conteúdos da Resolução CONAMA 1/86 e, por fim, obter a
participação social.
No entanto, não está cumprindo seus objetivos. A variável ambiental tem uma inserção tardia no
processo decisório e, quando pode prevenir danos, há uma carência de propostas alternativas passando
por justificador do empreendimento proposto, por meio de um rol de medidas compensatórias ao invés
de medidas que evitem ou minimizem os impactos.
De acordo com Ribas (2001), quando os EIAs-RIMAs são aplicados diretamente em áreas urbanas
apresentam alguns problemas operacionais que comprometem sua credibilidade e sua eficácia de
avaliação: primeiramente, a necessidade de avaliação da hipótese de não realização do projeto
analisado ou suas alternativas de localização.
Em prosseguimento, trata da rotina processual de aprovação ou emissão de licenças – a prévia, a de
instalação e a de operação. Na visão deste autor, a licença de operação não se aplica à dinâmica
urbana, uma vez que, ao implantar o loteamento (desmatamento, abertura de vias, implantação de
infra-estrutura), já está se iniciando sua operação.
Por fim, apresenta o problema de estruturação metodológica de avaliação de impactos, pois são
estabelecidos pesos de avaliação iguais para atributos de natureza diversa, resultando em conclusões
hipotéticas e gerando documentos conclusivos ilegítimos, verdadeiras enciclopédias de dados, muitas
vezes irrelevantes e, quase sempre, onerosos para o agente empreendedor.
Além disso, a partir da análise das informações disponíveis sobre a região, pelas diversas áreas do
conhecimento, seria possível formular um desenho urbano verdadeiramente ecológico. Entretanto,
ainda existe uma lacuna entre as restrições impostas pelos estudos de impactos ambientais e as
soluções urbanísticas adotadas.
A utilização dos elementos ambientais diagnosticados nos EIAs-RIMAs sobre o local do futuro
assentamento, como o ar (sentido dos ventos), a água (recursos hídricos), o solo, a vegetação e a
posição do sol, podem representar uma poderosa ferramenta ou até mesmo uma economia de recursos
para o planejamento e desenho do espaço urbano. As cidades podem cultivar biodiversidade, restaurar
terras e águas, conservar a cobertura vegetal e, ao mesmo tempo, incorporar um conjunto de
estratégias de sobrevivência, integralmente presentes, como moradia, trabalho, alimentação,
saneamento, manufatura, lazer, vida social e comércio em proporções balanceadas, contribuindo para a
melhoria da saúde do planeta.
Por que não introduzir a dimensão ecológica nos vários processos de urbanização, desde o
planejamento, design e estratégias de desenvolvimento, ao invés de insistir no tratamento padrão de
nossas cidades, onde:
    •   O partido urbanístico escolhido altera as relações entre as escalas pública e privada e suprime
        a semi-pública; adotando quadras residenciais e entrequadras de equipamentos; implementa
        um sistema viário monumental, sugerindo paradoxalmente a utilização majoritária do
        automóvel para deslocamentos curtos;
    •   Vulgariza-se a previsão de equipamentos comunitários e não se implementa a fixação na
        cidade de fontes empregadoras da mão-de-obra local. Dita, junto com a rigidez do loteamento,
        a obrigatoriedade de muros entre lotes e a construção de habitações provisórias nos seus
        fundos, o rompimento da organização social e a perda da escala de vizinhança original, onde
        se priorizavam o caráter público e semipúblico do espaço.
Corrobora ainda, na criação de condições - até hoje mantidas - degradantes do meio urbano:
bioclimáticas (rajadas de vento / poeira, calor intenso nos dias de sol e visuais áridas), funcionais
(difícil e insegura mobilidade e falta de locais públicos para o lazer e o convívio comunitário),
ambientais (fraco senso de orientação locacional e baixo valor cênico), e socioeconômicas (violência e
falta de auto-sustentabilidade, com dependência do Plano Piloto, no caso de Brasília); em grande parte
atribuídas à presença de inúmeros vazios urbanos - lotes institucionais desocupados / áreas públicas
abandonadas - à falta de tratamento paisagístico, ao repetitivo padrão urbano adotado e à distância do
pólo produtivo.

1.1 Urbanismo Sustentável
O conceito de sustentabilidade foi criado por Lester Brown da WWI (Worldwatch Institute) no início
da década de 1980. Foi definido que “uma sociedade sustentável é aquela capaz de satisfazer suas
necessidades sem comprometer as chances de sobrevivências das gerações futuras”. Alguns anos
depois foi utilizado pela Comissão Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento, no famoso
Relatório Brundtland de 1986, a mesma definição para apresentar a noção de desenvolvimento
sustentável.
No entanto, essa definição não nos mostra como devemos construir uma sociedade sustentável e,
muito menos como devemos construir cidades sustentáveis. Segundo Ruano (2000), o Ecourbanismo
ou Urbanismo Sustentável é uma nova disciplina que articula múltiplas e complexas variáveis e
incorpora uma aproximação sistêmica ao desenho urbano com uma visão integrada e unificada,
trazendo, como conseqüência, a superação da divisão clássica do urbanismo tradicional e seus critérios
formais e estilísticos. A partir deste novo paradigma deve-se estabelecer uma relação dialética entre o
planejamento estratégico e o desenho urbano.
Para Sachs (1993), as estratégias de Ecodesenvolvimeto para os países em vias de desenvolvimento
podem ser triplamente vencedoras, pois, além de promover o progresso social por meio de geração de
empregos e contribuir para melhorar o meio ambiente, são economicamente justificáveis na medida
em que as atividades que geram uma economia de recursos se autofinanciam.
Na sua visão, as cidades poupadoras de recursos ou assentamentos urbanos sustentáveis devem ser
vistos como ecossistemas2, pois existem recursos que são subutilizados ou mal-utilizados, tais como:
terras agriculturáveis, lixo reciclável, potencial para conservação de energia e água, potencial para
poupança de recursos de capital, mediante a melhor manutenção de equipamentos, infra-estruturas e
imóveis. “...O aproveitamento desses recursos pode representar não só importante fonte de empregos,
financiada pela poupança de recursos, mas ainda, um meio para melhorar as condições ambientais”.
Nesta mesma linha, mas com um outro conceito, Girardet3 (2003) afirma que cidades ecológicas são
aquelas que apresentam um metabolismo circular, onde tudo é planejado e reaproveitado como um
ciclo, onde existe a consciência ambiental dos gestores e dos cidadãos.
De acordo com Capra4 (2002), a chave para se implantar comunidades humanas sustentáveis é
observar os ecossistemas naturais, ou melhor, compreender como eles se organizam a fim de
maximizar sua duração e empregar este conhecimento na construção de assentamentos humanos
duradouros. O diagnóstico para intervenções futuras deve-se basear em princípios ecológicos de
organização, comum a todos ecossistemas os quais desenvolveram para sustentar a teia da vida - a
compreensão sistêmica da vida.
Uma vez estabelecidos certos princípios, eles não se modificam em função de culturas, hábitos, estilos
ou modismos. No entanto, a forma na qual devemos aplicá-los, depende de cada bio-região com seus
aspectos físicos (geologia real, topografia e ecologia), culturais e socioeconômicos.
É com base nesses princípios que desenvolvemos nosso trabalho, estudando estratégias de desenho
para implantar comunidades sustentáveis e entender em que medida a anatomia de uma comunidade
construída, juntamente com a identificação de princípios de ecologia5 - entre os quais podemos citar
redes, ciclos, alianças, energia solar, diversidade e equilíbrio dinâmico, pode contribuir para o
estabelecimento de procedimentos e métodos para o desenho de assentamentos humanos em equilíbrio
com a natureza, economicamente viáveis e lugares agradáveis para se viver.
Assim como o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental, tradicionalmente é traduzido em
normas, neste tema específico podem ser traduzidos em princípios de sustentabilidade aplicados ao
desenho urbano.
2
  Ecossistema é um conjunto das interações entre os seres vivos no âmbito de um sítio geofísico. Corresponde a uma
organização espontânea, com suas regulações próprias. (Pena-Vega, 2003)
3
  Conferência Gaia, The Evolution of the Superorganism, St. Anne’s College, Oxford, 1996.
4
  Além de “As conexões ocultas”, 2002, “ Diálogos para um Brasil Sustentável, Brasília, 2003
5
  Baseado em autores como Morin (2003), Pena-Vega (2003) e Capra (2002)
Este trabalho está dividido em duas partes. A primeira é uma dissertação sobre os princípios da
ecologia considerando os aspectos teóricos e metodológicos, onde os autores tratam as cidades como
ecossistemas urbanos e estabelecem padrões.
Na segunda parte, trabalhou-se a aplicação desses princípios ao desenho de um loteamento urbano.
Trata-se de um projeto de um condomínio com tecnologias sustentáveis situado no Centro de
Atividades do Lago Norte de Brasília dentro da Sub-bacia do Ribeirão do Torto. Foi desenvolvido
pelas mestrandas, Liza Andrade e Rejane Jung, na disciplina Ateliê de Desenho Urbano do Programa
de Pós-graduação da Universidade de Brasília ministrado pela professora Doutora Marta Adriana
Bustos Romero no ano de 2002.

2.      ASPECTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS

2.1   Princípios ecológicos: diretrizes para a construção de comunidades humanas
      sustentáveis
O princípio fundamental da ecologia é baseado na interação e na interdependência. Pena-Vega (2003)
diz que, um ecossistema é um princípio dinâmico, um ciclo gigantesco que engloba o conjunto da
biosfera e no qual todas as unidades de interação são interconectadas em uma vasta e intrincada rede
de relações, que Capra chama de teia da vida. Assim, pode-se dizer que o ecossistema é uma
totalidade complexa auto-organizada e “auto-organizante”.
Na realidade, ele considera os ecossistemas como sistemas abertos ao contrário dos sistemas fechados
que predominaram na biologia convencional. Isto significa que os sistemas vivos mantêm uma troca
contínua de energia, matéria e informação com o seu meio para permanecerem vivos, sendo assim são
co-organizadores e co-progamadores do sistema vivo que nele se encontra integrado.
Nesta visão Morin (apud Pena-Vega, 2003) afirma que quanto mais um sistema vivo é autônomo, mais
é dependente do ecossistema, pois supõe-se uma grande riqueza de relações de todas as espécies com
o meio-ambiente, ou seja, depende de inter-relações, denominadas redes. Essas relações de
dependência acabam por constituírem as condições da relativa independência. Em outras palavras,
quanto mais um ecossistema é complexo, mais é diverso e rico e está apto a fornecer riqueza e
diversidade de objetos e de produtos.
Da mesma forma, uma comunidade para se tornar autônoma ou sustentável deve desenvolver seus
modos de vida no decorrer do tempo, mediante uma interação contínua com outros sistemas vivos,
tanto de humanos como de vegetais, animais e microorganismos.
De acordo com Capra (2002), existem alguns passos na direção da implantação de comunidades
sustentáveis. O primeiro é a educação ecológica, que consiste na compreensão dos princípios de
organização, comum a todos sistemas vivos, que os ecossistemas desenvolveram para sustentar as
redes auto-geradoras ou auto-organizadas - a compreensão sistêmica da vida por meio de uma
alfabetização ecológica. Os princípios ecológicos dizem respeito diretamente à sustentação da vida
tais como:
     • Redes são todas as relações que os sistemas vivos têm uns com os outros, partilhando seus
        recursos e transpondo seus limites, redes dentro de redes.
     • Ciclo é a continuidade dos fluxos de matéria e energia do ambiente que alimentam os
        organismos vivos e conseqüentemente produzem resíduos continuadamente. Os resíduos de
        uma espécie são os alimentos de outra.
     • Energia solar transformada em energia química pela fotossíntese das plantas verdes, é o que
        move todos os ciclos ecológicos.
     • Alianças é a cooperação generalizada que sustenta as trocas de energia e de recursos materiais
        num ecossistema que é a formação de parcerias entre os seres.
     • Diversidade causada pela riqueza e complexidade das teias ecológicas nos ecossitemas
        acabam por provocar resistência e capacidade de recuperação. Se a biodiversidade é maior esta
        capacidade aumenta.
     • Equilíbrio dinâmico mantém o ecossistema por meio da flexibilidade dos múltiplos elos e
         anéis de realimentação. Nenhuma variável chega sozinha a um valor máximo; todas as
         variáveis flutuam em torno do seu valor ótimo.
O segundo passo, ainda segundo Capra (2002), é o projeto ecológico, a aplicação direta dos
conhecimentos ecológicos na reformulação dos fundamentos de nossas tecnologias e instituições
sociais, para vencer a barreira que separa as criações humanas dos sistemas ecologicamente
sustentáveis da natureza. É a moldagem dos fluxos de energia e de materiais para fins humanos que
são cuidadosamente inseridos na grande rede que ele chama de teia da vida. Assim, os princípios do
desenho ecológico refletem os princípios de organização que a natureza desenvolveu para sustentar
suas redes de relações.

2.2   Ecossistemas Urbanos
A reprodução das estruturas urbanas, articuladas à sua base especificamente matéria, é referida por
Acselrad (2001) como técnico-material da cidade que podem ter o ajustamento das bases técnicas à
dois modelos: de racionalidade eco-energética e de metabolismo urbano.
O primeiro, fundado na racionalidade econômica aplicada aos fluxos de matéria e energia para reduzir
o impacto entrópico, adota tecnologias poupadoras de espaço, matéria e energia voltadas para a
reciclagem de materiais. A busca da ecoeficiência é baseada na redução do consumo per capita de
energia no âmbito do urbano, que favorecem a sustentabilidade global.
O segundo modelo baseia-se na representação ecossistêmica das cidades, nos movimentos interativos
de circulação, troca e transformação de recursos em trânsito. O modelo de equilíbrio de metabolismo
urbano tem o ajustamento apropriado dos fluxos e estoques de matéria e energia.
Neste entendimento, as cidades devem ser consideradas como ecossistemas complexos com uma
densa rede de processos metabólicos e intercâmbio de matéria, energia e informação, uma forma de
organização não–linear. Devem ser vistas com um metabolismo circular que integra os componentes
de um sistema sob diversos caminhos.
Os ecossistemas construídos se diferenciam internamente, em função de fatores econômicos, sociais,
culturais e também naturais. O desenvolvimento e a manutenção da autonomia de uma cidade, por
exemplo, estão relacionados a um grande número de redes educativas, culturais e técnicas Não
podemos analisar a cidade apenas na totalidade e nem tampouco como uma soma das partes do
ambiente urbano.
Se considerarmos a cidade um ecossistema composto de subsistemas de redes complexas, tais como
bairros ou vilas urbanas, devemos compreender o inter-relacionamento sistêmico como processos de
desorganização e organização que estes produzem (constituição de um organismo vivo). (Tabela 01)
Segundo Rueda (2000), as cidades são ecossistemas interdependentes de outro sistema que é seu
entorno e, portanto, a transferência de informação, matéria e energia que se produz entre a cidade e
seu entorno é a base que mantém e torna mais complexa a estrutura organizada da cidade. Tanto o
entorno quanto os assentamentos se modificam em conseqüência dessa relação. “... as cidades são
ecossistemas interdependentes de outros sistemas que constituem seu entorno, formando uma unidade
íntima cidade-entorno”.
Tabela 01 – Análise dos princípios dos ecossistemas nos ecossistemas urbanos
       PRINCÍPIOS                    ECOSSISTEMAS                               ECOSSISTEMAS URBANOS
    Redes                 Relações e comunicações dos sistemas vivos      Interações contínuas no modo de vida com
                          sem limites. Redes dentro de redes - sistemas   sistemas vivos tanto de humanos quanto de
                          abertos interdependentes.                       vegetais, animais e microorganismos e de
                                                                          dependências educativas, culturais e técnicas.
                          Todos os membros da comunidade ecológica
                          estão conectados numa ampla e complexa Bairros interdependentes - subsistemas de redes
                          rede de relações, a teia da vida.             complexas uns dentro de outros, organizados e
                                                                        associados a infra-estruturas.
                          Compreender a interdependência ecológica
                          significa entender as relações, pois do ponto Interdependência do entorno da cidade como um
                          de vista sistêmico, as interações entre as sistema aberto, um sistema cidade-entorno.
                          partes são tão ou mais importantes do que as
                          próprias partes do todo.                      Exemplos aplicados ao desenho: Rede de espaços
                                                                        públicos, de caminhos para pedestres e bicicletas,
                          Complexidade – quanto maior a autonomia, de transportes públicos, de bacias de drenagem e
                          maior dependência ou riqueza de relações – de captação de águas pluviais, de hortas urbanas,
                          maior a rede de comunicações.                 etc.


    Ciclos                Reciclagem de matéria e transferência de        Metabolismo circular - transforma resíduos em
                          energia                                         recursos - ciclo da água, do lixo e energias de
                                                                          biomassa.
    Energia Solar         Transformada em energia química é o que         Energia Solar, Aquecimento e Conforto Térmico e
                          move os ciclos ecológicos                       energias de fontes renováveis.
    Alianças              As trocas cíclicas de matéria e energia nos     Nas comunidades humanas, a parceria significa a
                          ecossistemas são sustentadas por uma            democracia e o empoderamento pessoal, por causa
                          cooperação difundida entre os membros da        dos diferentes papéis sociais desempenhados.
                          rede.                                           Pode-se estabelecer troca de habilidades.
    Diversidade           Biodiversidade – diversidade em espécies,       Diversidade de Usos – quanto maior a diversidade
                          organismos, em interdependência e               e a densidade urbana, menor a dependência de
                          informação. Um ecossistema diverso também       transporte motorizado, menor o impacto e maior a
                          será resiliente, pois ele possui muitas         troca de energia, matéria e informação com o meio
                          espécies que superpõem funções ecológicas       - Redução da pegada ecológica.
                          que podem ser parcialmente substituídas,
                          caso um elo da rede se desfaça.
    Equilíbrio Dinâmico   A flexibilidade de um ecossistema é que o       O equilíbrio e um bom funcionamento do sistema
                          traz ao ponto de equilíbrio após um período     dependem de um bom posicionamento dos
                          de mudanças nas condições ambientais            elementos a serem projetados de acordo com as
                                                                          necessidades e os deslocamentos e flexibilidade de
                                                                          usos.

Em um ecossistema, quanto maior a complexidade, maior a diversidade e riqueza de produtos e,
conseqüentemente, maior a troca de fluxos com o meio, isto é, melhor o ciclo. Para se maximizar a
entropia6 interna da cidade aumenta-se sua complexidade interna e para se minimizar a entropia
projetada para o entorno deve-se se reduzir a pegada ecológica7 do assentamento ou cidade.
O mesmo autor coloca ainda que o modelo que mais interpreta o aproveitamento de entropia é o de
cidade-compacta e diversa. A proximidade dos elementos faz com que haja redução do consumo de
materiais, energia, tempo e solo, ao mesmo tempo em que proporciona mecanismos de regulação e
controle, dá estabilidade ao sistema, um equilíbrio dinâmico. Na visão dele, compacidade e
diversidade são cruciais para manter a complexidade das trocas.


6
  Entropia – transferência de energia
7
  O conceito de Pegada ecológica criada por William Rees e Mathis Wackernagel em 1996 demonstra em termos de área
territorial o consumo das pessoas. Permite calcular a área de terreno produtivo necessária para sustentar o nosso estilo de
vida. As categorias de terrenos são: agrícola, pastagens, oceanos, floresta, energia fóssil e construídos e as de consumo são:
alimentação, habitação, energia, bens de consumo, transportes, etc. Cada categoria de consumo é convertida numa área de
terreno (em princípio de uma das categorias apresentadas) por meio de fatores calculados para o efeito. Para fazer o cálculo
para a alimentação, por exemplo basta dividir o consumo de dada cultura agrícola (expresso em toneladas, por exemplo) pela
produtividade da terra (expressa em toneladas por hectare). É ainda necessário ter em conta as importações e exportações
desse mesmo produto ou de produtos que o utilizem.
O adensamento urbano é uma das metas básicas do enfoque ambiental aplicado ao urbanismo, desde
que atendida a capacidade de suporte da bio-região. Numa cidade compacta, a proximidade da
moradia, do lugar de trabalho, dos serviços e dos equipamentos favorecem a otimização do uso do
espaço, a utilização racional das zonas naturais e a organização eficaz do transporte público. Reunir
pessoas significa reduzir distâncias, que por sua vez reduz a necessidade de deslocamentos e gasto de
energia para transporte, nível de poluição produzido e quantidade de terra pavimentada.
Entretanto, o grau de compacidade de cada cidade vai depender da proporção dos elementos
estruturadores do espaço urbano e de uma série de fatores a serem considerados como o clima, o tipo
de solo e a capacidade de recursos de cada região. Em uma cidade situada em uma região de clima
tropical, por exemplo, o grau de compacidade tem que ser diferente de uma outra situada em região de
clima temperado, mesmo que as estratégias sejam as mesmas, pois a troca de energia ou calor é
diferente.
Register (2002) afirma que, para se caminhar na direção da construção de Ecocidades, a metrópole
tem que se transformar em várias cidades ou vários bairros para pedestres com pequenos centros
comerciais de vizinhança ligados em ciclovias, com apoio para longas distâncias do transporte
público. As moradias têm que estar próximas aos espaços para trabalho, alimentação, educação e
lugares para sociabilização. Para este autor, é no uso da terra e na infra-estrutura urbana, na sua
anatomia8, que se encontra a chave para formular os elementos estruturadores de uma Ecocidade, pois
é na forma em que a cidade é desenhada e organizada que está a fundamentação para todas as outras
coisas e para a compreensão dos impactos causados pela população, consumo e tecnologia numa dada
região.

2.3 Princípios associados à morfologia urbana
O planejamento e desenho urbano baseado na ótica do urbanismo sustentável têm três eixos
fundamentais - a habitação, a infra-estrutura e a paisagem e, assim como nos ecossistemas, fazem
parte de um sistema integrado onde tudo é interligado e reaproveitado - como um ciclo. Tudo que sai
do sistema de produção deve ser reaproveitado, através de sistemas circulares de água, esgoto, energia
e alimentos, reduzindo o impacto sobre o meio ambiente e aumentando o rendimento geral da
comunidade.
Os sistemas de infra-estrutura interrompem o ciclo natural da água, ou melhor, o ciclo hidrológico,
com a crescente impermeabilização dos solos e rede de drenagens artificiais que carregam águas
pluviais e detritos lançados nas ruas para rios e lagos, contribuindo para o seu assoreamento. Além
disso, em alguns casos, as redes de águas pluviais recebem redes de esgotos clandestinos que
deságuam em locais com águas limpas sem nenhum tratamento prévio.
Explorando a cidade como um organismo vivo, Register (2002) faz uma analogia da anatomia da
cidade com a anatomia humana. As ruas, redes de água, esgoto, drenagem e gás funcionam como o
Sistema Circulatório, a arquitetura com seus elementos verticais funciona como apoio, similar ao
Sistema Esquelético, os alimentos e os combustíveis funcionam como o Sistema Digestivo, que
transformam a energia armazenada. Os sistemas de tratamento de água ou compostagem funcionam
com um Sistema de Filtragem e Reciclagem e, os lixos incineradores e saídas de esgotos atuam como
o Sistema de Excreção. Este tratamento pode ser interessante para efeitos de educação ambiental da
população, mas para o urbanismo o desempenho das atividades tem que estar associado à morfologia,
no lugar ou sítio em que cada cidade está implantada.
A anatomia do habitat construído é essencial para suavizar ou conectar cada uma dos condicionantes
do desenvolvimento de uma cidade. Funciona como um organismo que move a maior parte da riqueza
e consumo e organiza as tecnologias para maximizar trocas e minimizar deslocamentos. A qualidade e
o conteúdo das trocas no meio ambiente são determinados pelo espaço urbano por meio da forma
física e arranjo de suas partes num entendimento sistêmico.
O desenho das ruas, ou mais precisamente, a morfologia urbana é o elemento estruturador dessa
anatomia. Entretanto, se as ruas forem projetadas visando o máximo de aproveitamento da mobilidade
humana, a morfologia torna-se menos importante, pois pedestres exigem menos infraestrutura. Torna-
se inevitável, porém, associar o layout às estratégias de redução de impacto dos sistemas de infra-

8
    Anatomia urbana entendida como organização urbana associada à infra-estrutura – (Register, 2002)
estrutura, uma vez que esses sistemas constituem um meio de ligação significativa (subterrânea) entre
a cidade e o meio natural. Cabe ao projetista então uma série de estratégias ou princípios associados à
morfologia para assegurar a sustentabilidade ambiental.
No entanto, até chegar a forma ideal para essas Ecocidades, que dependem essencialmente do local em
que estão inseridas, é imprescindível estabelecer alguns princípios norteadores para a sua construção.
Existem autores que já estabeleceram alguns princípios tais como: Paolo Soleri na década de 60 para a
construção de Arcosanti, Bill Mollisson com os princípios da Permacultura nos anos 70, Paul
Downton para Ecopolis em 1998, Willian Mc Donough Associates para a Feira Mundial de Hanover
em 2000, etc.
Os princípios para Ecópolis do australiano Paul Downton de 1997 são uma evolução dos princípios da
Permacultura para o desenho de cidades. Tais princípios são apontados por Register (2002): restaurar
terras degradadas, adequar-se a bio-região, desenvolvimento equilibrado, conter a expansão urbana
(criar cidades compactas), otimizar o desempenho energético, contribuir para a economia,
proporcionar saúde e segurança, instaurar um sentido de comunidade, promover a equidade social,
respeitar a história, enriquecer a paisagem cultural e curar a Biosfera.
Dauncey (2001) coloca que existem alguns princípios que podem orientar a implantação e recuperação
de comunidades com impactos significantes e de longo alcance no seu desenvolvimento econômico e
na saúde social e ambiental. Tais princípios são: proteção ecológica (biodivresidade), adensamento
urbano, revitalização urbana, implantação de centros de bairro e desenvolvimento da economia local,
implementação de transporte sustentável e moradias economicamente viáveis, comunidades com
sentido de vizinhança, tratamento de esgoto alternativo, drenagem natural, gestão integrada da água,
energias alternativas e finalmente as políticas baseadas nos 3R’s (reduzir, reusar e reciclar).
Na verdade esses princípios não podem ser relevantes para todo empreendimento local, mas eles
formam uma estrutura sistêmica e integrada que nos ajudam a entender o potencial para implantar
assentamentos urbanos sustentáveis, que precisam ser considerados.
Segundo Romero9 (2002), cada escala é capaz de identificar diferentes tipos de estrutura ambiental,
por meio de sua vulnerabilidade e alternativas de uso, assim como, os níveis de degradação ambiental,
os aspectos de diversidade ambiental, de socioeconomia, de estética e de cultura. Para a autora, são
quatro as escalas de análise: a grande dimensão das estruturas urbanas, a escala intermediária da
área, as dimensões específicas do lugar e do edifício.
Na escala intermediária da área, ou melhor, na escala do bairro é onde se estabelece relação com o
usuário. É onde são desenvolvidas as relações morfológicas e sua respectiva resposta ambiental,
acessibilidade, homogeneidade, funcionalidade e conhecimento do local.
O bairro constitui o marco de vida da maioria das pessoas e sua escala de adapta a estratégia de um
projeto urbano ambiental que permite abordar os problemas causados pela exclusão social em zonas
críticas e resolver localmente a gestão da água e da energia, a seleção dos resíduos e a seleção dos
ruídos. Existem na Europa vários bairros sendo implantados ou recuperados segundo os princípios de
sustentabilidade, mesmo que a forma urbana, a arquitetura e a ecologia sejam bastante diferentes.
É nesta escala que os princípios de sustentabilidade aplicáveis ao desenho urbano são mais percebidos
e onde as tecnologias sustentáveis de infra-estruturas são detalhadas. A seguir serão mostrados os
procedimentos adotados para o desenho de um condomínio com bases sustentáveis.

3.       PROCEDIMETOS - APLICAÇÃO DO MÉTODO

3.1. Justificativa da escolha do local e procedimentos adotados
Este projeto foi desenvolvido na disciplina de Ateliê de Desenho Urbano visando a aplicação de
princípios de sustentabilidade para o desenho de um loteamento urbano situado em um Setor
Comercial de Brasília denominado Centro de Atividades do Lago Norte.


9
 ROMERO, Marta Adriana Bustos. Urbanismo Sustentável. Apostila para o Curso de Doutorado, FAU/UnB, Brasília,
2002.
A justificativa da escolha do local para a implantação do condomínio foi a potencialidade deste Setor.
Trata-se de uma área que foi projetada para ser um dos pontos significativos de polarização de
serviços e comércio da região provocado pelo adensamento urbano previsto para a região centro-norte
do DF, convencida pela regularização e urbanização dos bairros Boa Vista e Taquari, bem como pelo
adensamento proposto para a invasão da Vila Varjão.(Fig. 01)

                                                                                     Taquari
                                                                       Vila Varjão
                                     CA                                CA

                                                                                 SHIN
                                                                Asa Norte
                                                                                        Lago Paranoá

                                 Fig. 01 – Mapa de localização do Centro de Atividades (CA)
                                 Fonte: SICAD, SEDUH, 2003

Entretanto hoje não funciona como tal e pode ser caracterizado como uma ilha de asfalto salpicada por
edifícios, sem áreas verdes e espaços públicos adequados à convivência. O Centro de Atividades
poderia diminuir a dependência do Lago Norte em relação ao Plano Piloto e ser um ponto de
integração entre duas comunidades de rendas diferentes, a Vila Varjão e o Lago Norte (SHIN) por
meio de troca de serviços e habilidades.
O objetivo desta intervenção urbanística é criar um condomínio sustentável que atue como espaço de
propagação de pressupostos do desenvolvimento urbano sustentável para suas áreas de influência,
podendo exercer papel relevante nos processos de integração sócio-espacial da região. Propõe-se
incentivar o sentido de vizinhança e alianças comunitárias, por meio de espaços que propiciem a
interação social. Ainda que se reconheça que a configuração espacial não é determinante das relações
sociais, entende-se que o espaço não é uma instância passiva e neutra.
O trabalho foi desenvolvido em duas etapas que serão descritas a seguir.

3.1.1. Primeira Etapa: Diagnóstico Ambiental
Na primeira foram coletados todos os dados sobre a área a ser intervida por meio de estudos de
impactos ambientais para áreas adjacentes ao loteamento (EIA-RIMA do Setor Taquari de 1991, RIVI
da Vila Varjão 1997 e Diagnóstico Ambiental Integrado da Vila Varjão de 2000) e para o próprio
Centro de Atividades (EIA-RIMA do Centro de Atividades de 1997), quando foi criado.
A partir de todas as informações coletadas - tendo como unidade de planejamento uma unidade
hidrológica, a Sub-bacia do Ribeirão do Torto10 - foi possível fazer um diagnóstico ambiental do local,
por meio de tabelas que continham uma análise dos os conflitos ou problemas dos meios físicos,
bióticos e antrópicos e as diretrizes propositivas. (Tabela 02)




10
   Esta etapa culminou com uma apresentação no X Encontro Nacional da ANPUR de 2003 “Encruzilhadas do
Planejamento”sob o título de “Princípios de Sustentabilidade aplicados às diferentes escalas territoriais da Sub-Bacia do
Ribeirão do Torto. As informações podem ser obtidas nos anais do congresso, ver nas referências bibliográficas.
Tabela 02 – Diagnóstico Ambiental – (Tabela Meio Antrópico/Abastecimento de água)
                Fonte: Romero, 2002 – Disciplina de Ateliê de Desenho Urbano – PPG-FAU/UnB




3.1.2. Segunda Etapa: Estratégias Ecológicas
Depois de feita a caracterização e o diagnóstico ambiental da área partiu-se para o estabelecimento de
estratégias ecológicas antes de se chegar aos princípios de sustentabilidade aplicados ao desenho
urbano. As estratégias utilizadas basearam-se, primeiramente, nos princípios ecológicos citados
anteriormente como:
    •   Redes – a interdependência de áreas circundantes é importante para o desenvolvimento da
        auto-suficiência do condomínio, como por exemplo, o estabelecimento de redes de trabalho,
        de lazer, conhecimento, cultura e tecnologias. Uma vez estabelecida evita-se o deslocamento
        para outros locais
    •   Ciclo – evitar o metabolismo linear predominante e implantar o metabolismo circular
        minimizando novas entradas de energia e maximizando a reciclagem para todos os sistemas:
        água, alimentos, resíduos e esgoto.
    •   Energia Solar – a orientação solar do novo condomínio deve ser pensada para o maior
        aproveitamento possível no que diz respeito a energia, aquecimento e conforto térmico
        (bioclimatismo)
    •   Alianças – estabelecer estratégias de parcerias com comunidades vizinhas de diferentes
        classes sociais: as habilidades encontradas em uns servindo para o incremento de serviços para
        outros. A mão de obra da favela vizinha é importante para a demanda de serviços do
        condomínio.
    •   Diversidade – implantar maior a diversidade de usos e de pessoas para um melhor
        aproveitamento do espaço e maior a troca de energia, matéria e informação.
    •   Equilíbrio Dinâmico - O equilíbrio de um bom funcionamento do espaço depende de um
        bom posicionamento dos elementos a serem projetados de acordo com as necessidades e os
        deslocamentos. A flexibilidade dos espaços torna-se importante como um espaço com
        múltiplas funções.
Num segundo momento, por meio de tabelas, foram levantados os recursos ambientais e as estratégias
necessárias (concepção urbana) para que os princípios de sustentabilidade fossem transformados em
técnicas de desenho de acordo com Dauncey (2001), descritos anteriormente no item 2.3. (Tabela 03)
O projeto tem como foco instaurar um sentido de vizinhança, por meio de espaços comunitários e pela
mobilidade das pessoas em seu interior e para as demais áreas do Centro de Atividades. Serão
incentivados os deslocamentos a pé e de bicicleta de modo a reduzir uso do automóvel particular. O
parcelamento urbano proposto tem dimensões controladas e diversidade tipológica. Habitações –
unifamiliares e geminadas – economicamente mais viáveis, com o máximo de auto-suficiência
possível, particularmente nos aspectos de energia, água, reciclagem e alimentação.


            Tabela 03 – Princípios de Sustentabilidade utilizados na aplicação do parcelamento urbano
    Fonte: Liza Andrade e Rejane Jung Viana , 2002 - Disciplina Ateliê de Desenho Urbano PPG – FAU/UnB, 2002
                                          Estratégias:                                Técnicas Urbanas
Princípios De Sustentabilidade
                                       Concepção Urbana
Mobilidade Sustentável           1. Propiciar aos moradores locais   Ciclovias
                                 de trabalho e lazer próximo as      Apenas vias locais de 6m para automóveis separadas
                                 moradias p/ reduzir necessidades    da rede de ciclovias e de caminhos para pedestres
                                 de deslocamentos.                   com 2,5 de largura.Vias iluminadas e sinalizadas.




Revitalização Urbana e           1. Espaços Públicos que             Tratamento Bioclimático do espaço público:
Sentido de Vizinhança            propiciem encontros, reuniões e     Uso de pérgulas para sombreamento, captação da
                                 trabalhos conjuntos.                água da chuva por meio de espelhos d’água com
                                 2. Desenvolver um sentido de        climatizadores.
                                 lugar                               Predominância das tipologias na orientação solar
                                 3. Clube local com área de lazer    nordeste–sudoeste no sentido da topografia – boa
                                 4. Integrar o Centro de             incidência dos raios solares. As casas que estão no
                                 Atividades a outras regiões         sentido noroeste-sudeste receberão brises verticais e
                                                                     proteção com vegetação.

Adensamento Urbano               1. Desenho urbano para um           Tipologias:
                                 melhor aproveitamento da área       Casas geminadas – 22 x 233 m2 -lote de 264m2;
                                 de 22,5 hab/ha para 51 hab/ha.      Geminadas Escalonadas – casa páteo- térrea
                                 2. Conter a expansão                268m2/outra sobreposta 220m2 c/acessos
                                 desordenada no entorno.             independentes;
                                 3. Tipologias mais densas           Geminadas de 2 pav.- recuadas 2m 205m2 –lote de
                                 localizadas na cota mais alta.      225m2.


Proteção Ecológica               1. Corredor Ecológico - Parque      Zoneamento Permacultural:
                                 2. Agricultura Urbana com           zona 1 – hortas familiares: páteos e coberturas; zona
                                 Paisagismo Produtivo                2 – paisagismo produtivo: arborização das ruas,
                                 3. Implantar a Estação de Esgoto    estacionamentos, praças;
                                 Alternativa próxima ao corredor     zona 3 – abastecimento condominial: área para
                                 ecológico para atrair animais       produção agrícola intercalados com espaços de lazer
                                 silvestres.                         e pequenos canais de escoamento;
                                 4. Colocar a zona 3 próxima da      zona 4 – Parque Ecológico: repovoamento da flora e
                                 favela para aproveitar a mão de     da fauna, viveiro, lazer.
                                 obra.

Drenagem                         1. Manter o ciclo hidrológico na    Drenagem Natural
                                 Bacia do Lago Paranoá               O sistema é composto por dois subsistemas : um que
                                 2. Melhorar o microclima local e    absorve as águas das vias por meio de pavimentação
                                 os efeitos da seca                  permeável e pequenas canaletas, e outro que recebe
                                                                     as águas de grandes tempestades por meio de uma
                                                                     bacia de contensão de 900m de extensão por 10m de
                                                                     largura e 30cm de profundidade.


Economia Local                   1. Implantar o Centro de Bairro     Centro Comercial c/ 2 volumes:
                                 no ponto central na interseção de   Bloco 1 – 3 pavimentos de uso misto – galeria de
                                 caminhos com espaços que            lojas e escritórios e, unidades habitacionais no
                                 propiciem encontros e trocas        último pavimento. Bloco2 – destinado a atividades
                                 2. Destacar a volumetria no         comunitárias, cursos profissionalizantes. Praça –
                                 conjunto.                           vista panorâmica do Ribeirão do Torto, local de
                                 3. Socio-economia Solidária –       encontro dos moradores e da região, feiras e
                                 Proximidade com a favela            exposições.
Tratamento de Esgoto            1. Evitar que a capacidade da     Tratamento de Esgoto Alternativo - Tratamento
                                ETE Norte chegue ao limite para   de Esgoto com Reator Anaeróbio de Fluxo
                                não ocorrer o fenômeno de         Ascendente associado a leito cultivado de fluxo
                                eutrofização do Lago Paranoá.     superficial (wetlands). A Estação de Tratamento será
                                2. Incorporar a estação ao        localizada nas proximidades do corredor ecológico
                                desenho da paisagem               incorporada ao desenho paisagístico.



Gestão Integrada da Água        1. Reaproveitar as águas servidas Instalar filtros de areia nos jardins para fazer a
                                e as águas pluviais nos projetos  filtragem das águas.Projetos hidráulicos prevendo a
                                de arquitetura.                   tubulação necessária



Política dos 3R’s               1.Tratar o lixo na própria Sub-   Projetar uma Usina de Reciclagem e Compostagem
                                bacia do Ribeirão do Torto para   nas proximidades para atender toda a Sub-bacia do
                                evitar o esgotamento do Aterro    Ribeirão do Torto e a mão-de-obra da favela.
                                Sanitário.
Energia Solar                   1. Prever o uso de energia e      Implantação no sentido da orientação solar
                                aquecimento solar através de      nordeste-sudoeste, melhor eficiência dos raios
                                uma orientação adequada           solares para aproveitamento futuro de energia solar.



3.2 Condomínio Sustentável: desenho urbano
Este estudo se propõe a intervir sobre a parcela do Centro de Atividades, que ainda se encontra
desocupada. A quadra CA-6 (aproximadamente 20ha), conforme analisado na primeira fase do
trabalho, destina-se ao uso residencial. O loteamento atual prevê a criação de 92 lotes de unidades
autônomas, e de 4 lotes sob o regime de condomínios para 450 pessoas, o que resulta numa densidade
de 22,5 hab/há. O novo projeto adota densidades mais elevadas (51hab/ha), apropriadas à urbanidade,
que devem contribuir para imprimir vitalidade naquele centro de bairro. (Fig. 02)
Além disso, comporta um pequeno Centro Comercial Local, que traz para o centro da comunidade
usos diferenciados, com o intuito de incentivar a economia local e de aproximar o local de trabalho de
casa. Esse edifício comercial deverá proporcionar aos novos moradores, lojas e salas para profissionais
autônomos e, pequenas unidades habitacionais. Outro edifício, na área central, abrigará um Centro
Comunitário. Juntos, configuram uma praça que deverá estimular os contatos sociais.




        Fig. O2 – Planta do Condomínio Sustentável do centro de Atividades do Lago Norte
        Fonte: Trabalho desenvolvido na disciplina de Ateliê de Desenho Urbano da PPG-Fau/UnB , 2002
        Projeto: Liza Andrade e Rejane Jung , Desenho: Rejane Jung

Estão previstas, para ela, a implementação de coleta seletiva de lixo, a implantação, nas vizinhanças,
de uma Usina de Reciclagem (triagem e compostagem) e horta comunitária. O composto orgânico
originado na Usina pode ser reaproveitado como adubo na produção de alimentos local. A horta
comunitária, por sua vez, poderá contar com uma Escola Agrícola apoiada por técnicos da
EMBRAPA, para formar pequenos agricultores a fim de disseminar a produção de alimentos
especialmente na região da invasão da Vila Varjão.
Fazem parte também do desenho urbano, espaços públicos destinados ao tratamento de esgotos e ao
tratamento de águas pluviais das vias. Tratamento de Esgoto com Reator Anaeróbio de Fluxo
Ascendente associado a leito cultivado de fluxo superficial (wetlands – plantas aquáticas) pesquisado
juntamente com o Departamento de Engenharia Civil da Faculdade de Tecnologia da UnB. (Fig. 03)




 Fig. O3 – Detalhe da Estação de Tratamento do Condomínio Sustentável
 Fonte: Trabalho desenvolvido na disciplina de Ateliê de Desenho Urbano da PPG-Fau/UnB, 2002 –
 Projeto: Liza Andrade e Rejane Jung – modelagem: Valério Augusto Medeiros


4.       CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após analisar vários estudos de impactos ambientais para o exercício do projeto, observou-se que eles
se resumem em dados do local a ser implantado e soluções mitigadoras distantes de soluções aplicadas
ao desenho urbano. Era de se esperar que, da interface de informações do meio físico, biótico e
antrópicos, surgissem estratégias sustentáveis de uso e ocupação do solo urbano, ou melhor, surgissem
soluções mais ecológicas e conseqüentemente alternativas para os projetos urbanísticos tradicionais.
Entretanto, como os projetos urbanísticos foram desenvolvidos antes da avaliação de impactos, há uma
tendência em manter as formas tradicionais de desenho, muitas vezes pela falta de conhecimento de
soluções ecológicas ou mesmo pela opção de se adequar soluções, visando acelerar a aprovação do
processo para o empreendedor - o que muitas vezes mostra-se sem sentido dada a morosidade dos
processos de aprovação.
Neste sentido, se os impactos fossem estudados e analisados anteriormente aos projetos urbanísticos
como condição básica para se iniciar um estudo preliminar, poderiam contribuir com o
estabelecimento de estratégias e princípios norteadores, uma vez que, são diagnosticadas
características socioambientais por profissionais multidisciplinares.
Constatou-se também que, quando se considera a unidade de planejamento urbano, uma unidade
hidrológica (como foi o caso da Sub-bacia do Ribeirão do Torto), muda-se completamente de uma
visão imediatista para uma visão dos problemas a longo prazo, pois medidas pontuais imediatas
podem comprometer a eficiência de uma bacia hidrográfica.
Portanto, o estabelecimento de princípios de sustentabilidade, para aplicação ao desenho e
planejamento urbano é imprescindível, mesmo que as necessidades de cada região sejam diferenciadas
quanto aos aspectos físicos (geologia real, topografia e ecologia), culturais e socioeconômicos. Esses
princípios não se modificam em função de culturas, hábitos, estilos ou modismos, cabendo, então, ao
projetista adotar critérios locais de acordo com o lugar e, as bio-regiões ou micro-bacias, para que as
intervenções urbanas rompam com a tradição urbanística predominante que estabelece relações de
densidades e morfologias, e passe a adotar estratégias de planejamento e de desenho urbano
sustentáveis.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ACSELRAD, Henri. A Duração das Cidades: Sustentabilidade e Risco nas populações urbanas.
DP&A, Rio de Janeiro, 2001.
ANDRADE, Liza et al. Princípios de Sustentabilidade aplicados às diferentes escalas territoriais
da sub-bacia do Ribeirão do Torto, In : X Encontro Nacional da Anpur: Encruzilhadas do
Planejamento, Repensando Teorias e Práticas, Belo Horizonte: Anais, 2003.
BURSZTYN, Maria A. Gestão Ambiental, instrumentos e práticas. IBAMA, Brasília,1994.
CAPRA, Fritjof. As conexões ocultas, ciência para um vida sustentável. Editora Pensamento-
Cultrix Ltda, São Paulo, 2002.
DAUNCEY, Guy + PECK, Steven. 12 Features of Sustainable Community Development: Social,
Economic and Environmental Benefits and Two Case Studies, in Sustenaible Community
Development in Canada, New Urban Agenda, 2001. Internet: http://www.peck.ca/nua/
EIA-RIMA- Estudo de impacto ambiental para o Centro de Atividades do Lago Norte e ligações
das rodovias EPPN com a EPIA e da EPPR com EPTT, ENGEVIX/DER, Brasília, 1997.
MORIN, Edgar. A cabeça bem feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Bertrand Brasil
Rio de Janeiro, 8a edição, 2003.
PENA-VEGA, Alfredo. O Despertar Ecológico, Edgar Morin e a ecologia complexa. Idéias
Sustentáveis, Garamond, Rio de Janeiro, 2003.
REGISTER, Richard. Ecocities, building cities in balance with nature. Berkeley Hills Book,
Berkeley, Califórnia, , 2002.
RIBAS, Otto. A sustentabilidade das cidades: os instrumentos de gestão urbana e a construção
da qualidade ambiental.Tese de Doutorado, Brasília: CDS/UnB, 2003.
ROGERS, Richard + GUMUCHDJIAM, Philip. Cidades para um pequeno planeta, Editorial
Gustavo Gilli, Barcelona, 1997.
ROMERO, Marta Adriana Bustos. A sustentabilidade do ambiente urbano da capital. In: Paviani,
Aldo e Gouvêa, Luiz Alberto (orgs) Brasília: controvérsias ambientais. Editora UnB, Brasília, 2003.
RUANO, Miguel. Ecourbanism: Sustainable human settlements: 60 cases studies, Editorial
Gustavo Gilli, Barcelona, 2000.
RUEDA, Salvador. Modelos de ciudad: indicadores básicos. Las escalas de la sostenibilidade.
Quaderns – D’arquitetura e urbanismo – Collegio D’ Arquitetos de Catalunya, Barcelona, março de
2000.
SACHS, Ignacy. Estratégias de transição para o século XXI: desenvolvimento e meio ambiente.
Studio Nobel São Paulo,1993.

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Projeto Condomínio Sustentável DF

  • 1. I CONFERÊNCIA LATINO-AMERICANA DE CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL X ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO 18-21 julho 2004, São Paulo. ISBN 85-89478-08-4. DESENHO DE ASSENTAMENTOS URBANOS SUSTENTÁVEIS: PROPOSTA METODOLÓGICA Liza Maria Souza de Andrade (1); Marta Adriana Bustos Romero (2) (1) Mestranda do Programa de Pós-graduação da FAU da Universidade de Brasília, lizaandrade@uol.com.br (2)Prof. Doutora do Programa de Pós-graduação da FAU da Universidade de Brasília,, bustosromero@terra.com.br RESUMO A acelerada expansão urbana nos países em desenvolvimento criou deseconomias de aglomeração que são externalizadas materialmente sobre o meio ambiente sob a forma de custo social, por meio de grandes lançamentos de resíduos na atmosfera, águas superficiais e subterrâneas, e solos. Os instrumentos de gestão ambiental urbana de formato preventivo, existentes no Brasil, podem contribuir também para estabelecer princípios e estratégias para projetos urbanísticos. Os EIAs-Rimas, por exemplo, deveriam ser utilizados anteriormente e durante os planos e projetos de intervenção, visando uma economia de recursos em todo o processo. Tendo como base este panorama, o trabalho apresenta estudo sobre princípios da ecologia complexa de Capra (2002) entre os quais podemos citar redes, ciclos, energia solar, aliança, diversidade e equilíbrio dinâmico. A partir desses princípios e baseados em autores que tratam a cidade como ecossistemas urbanos, estabeleceu-se um método de desenho para assentamentos humanos em equilíbrio com a natureza, economicamente viáveis e lugares agradáveis para se viver. Assim como o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental, tradicionalmente, é traduzido em normas, neste recorte específico podem ser traduzidos em princípios de sustentabilidade aplicáveis ao desenho urbano tais como proteção ecológica (biodivresidade), adensamento urbano, revitalização urbana, implantação de centros de bairro e desenvolvimento da economia local, implementação de transporte sustentável e moradias economicamente viáveis, comunidades com sentido de vizinhança, tratamento de esgoto alternativo, drenagem natural, gestão integrada da água, energias alternativas e finalmente as políticas baseadas nos 3R’s (reduzir, reusar e reciclar). Escolheu-se como aplicação desses princípios, após um diagnóstico socioambiental por meio de EIAs-RIMAs, o projeto de um condomínio localizado na área destinada ao uso residencial no Centro de Atividades do Lago Norte de Brasília no Distrito Federal. Situado na Sub-bacia do Ribeirão do Torto, dentro da APA do Paranoá, este setor foi projetado para ser um dos pontos significativos de polarização de serviços e comércio da expansão Norte do DF, entretanto, não funciona como tal. Palavras-Chaves: Ecossistemas, Ecossistemas Urbanos, Ecocidades, Comunidades Sustentáveis, Condomínio Sustentável. 1. INTRODUÇÃO As cidades, lócus da cidadania e palco das relações sociais, são historicamente concentrações de poder que controlam fluxos econômicos, sociais, culturais e políticos constituindo centros de acumulação de riqueza e conhecimento. Desde o início da Revolução Industrial, a implantação de técnicas de produção e um modo de consumo predatório vêm provocando um grande impacto das atividades humanas sobre o meio ambiente. Segundo Bursztyn (1994), este impacto dá origem a problemas críticos de degradação ambiental, é externalizada sob a forma de custo social, através dos grandes lançamentos de resíduos na atmosfera, águas superficiais e subterrâneas e solos.
  • 2. No início deste século, com os efeitos da mudança climática no planeta provocados pela dispersão de dióxido de carbono, o esgotamento de certos recursos e o aumento da pobreza nos grandes centros urbanos dos países em vias de desenvolvimento, fica evidente a busca por novas soluções para o processo de desenvolvimento urbano, fundamentado no uso racional dos recursos naturais, para que estes possam continuar disponíveis às futuras gerações. A crescente concentração populacional nas áreas urbanas dos países do terceiro mundo aumenta a demanda habitacional e exerce pressão sobre as infra-estruturas urbanas básicas, marcadas pela insuficiência do atendimento, pela inexistência do serviço, pela escassez e, muitas vezes, pela adoção de soluções ambientalmente condenáveis. Somada a isto, a expansão das cidades, sem qualquer limitação do território, incentivada pelas políticas públicas de periferização, diminui as áreas circundantes para agricultura e áreas de reservas naturais ou impõe modificações irreversíveis a áreas ambientalmente sensíveis. Os impactos ambientais urbanos são todos inter-relacionados e se associam na maioria das vezes a um mesmo fato que gera uma seqüência em cadeia - a expansão urbana provoca a dependência do automóvel que aumenta a demanda por infra-estruturas (pavimentação e redes) e por combustíveis fósseis. Ainda contribui para o desmatamento que enfraquece o solo, causando erosão, que, aliado à falta de um sistema adequado de drenagem, resulta no carreamento de terra e lixo para os corpos d’água. O assoreamento reduz a profundidade dos rios e lagos prejudicando seriamente a qualidade desses recursos que são, ainda, comprometidos pela falta de saneamento ambiental e a presença de esgotos clandestinos. Além disso, a constante impermeabilização do solo e o uso de redes de drenagem subterrâneas contribuem para o efeito de ilhas de calor. O aplainamento da topografia destrói as características ambientais com a ocupação das margens dos rios e a destruição da vegetação local. Num estilo tabula rasa, áreas desflorestadas surgem como bairros áridos carentes de espaços públicos adequados, jardins ou arborização. À medida que infra-estruturas espalhadas são construídas para o automóvel, cria-se uma realidade diferente de bairros mais densos construídos para pedestres. Existe um contraste, por exemplo, entre as cidades antigas tradicionais européias e a expansão das cidades norte- americanas. Os zoneamentos rígidos (cidades universitárias, distritos industriais, grandes conjuntos habitacionais contínuos, áreas residenciais exclusivas, centros administrativos), sacramentados pelos CIAM1 e que dominaram o pensamento urbanístico, dos anos 40 em diante, não cumpriram seus objetivos. Surgem espaços ociosos, perigosos, sem graça, que acarretam fortes demonstrações de exclusão e respostas cada vez mais comprometidas de experiências urbanas positivas. Segundo Rogers, (2001), este modelo, que se tornou fracassado nos países desenvolvidos e se mantém nos países em desenvolvimento, afasta investimentos em projetos de desenvolvimento urbano de uso misto que poderiam ter benefícios sociais e ambientais. O planejamento da capital do Brasil representa bem este pensamento urbanístico dos CIAMs. Projetada segundo as normas de zoneamento e com objetivos de cidade polinucleada, Brasília foi pensada para uma população de 600 mil habitantes para o Plano Piloto e chega hoje com apenas 240 mil. A política de periferização criou uma constelação de cidades circunscritas ao Plano, algumas com avantajada população como Ceilândia (mais de 330 mil habitantes) e Taguatinga (com cerca de 240 mil). A pressão constante da população migrante e o forte conteúdo preservacionista acabam segregando aqueles sem poder aquisitivo para fixar residência ou estabelecer algum negócio no Plano Piloto pela alta valorização desse espaço. Restam então, para esses, "cidades semi-urbanizadas" na periferia do centro, por vezes distanciadas em mais de 40 km, carente de oportunidades de trabalho. 1 CIAM – Congresso Internacional de Arquitetura Moderna - A Carta de Atenas de 1933 estabeleceu princípios do urbanismo moderno definindo o zoneamento e o plano, com densidades razoáveis, a partir de quatro funções chaves, cada uma com sua autonomia: habitar, trabalhar, lazer e circulação. Apesar das separações por usos, as áreas destinadas ao lazer ou áreas verdes permeiam as cidades modernistas projetadas - como no caso de Brasília.
  • 3. A valorização imobiliária do Plano Piloto, devida em grande parte ao monopólio exercido pelo Estado sobre o solo urbano, o qual, por sua vez, não se explica sem fazer intervir a idéia de administração da escassez, somada ao sonho de todo brasiliense de classe média de ter casas ou chácaras nos arredores do Plano Piloto, implica na demanda por invasão de terras públicas. Neste sentido, um dos maiores problemas que se enfrenta hoje no Distrito Federal, onde 95% da população é urbana, é a ocupação desordenada de seu território. Condomínios privados são criados irregularmente trazendo, como conseqüências, a destruição da paisagem natural e a pressão sobre os recursos hídricos. A maioria dos loteamentos encontra-se em Unidades de Conservação – paradoxalmente o Distrito Federal hoje é a unidade da federação brasileira com maior percentual de áreas protegidas, principalmente depois da criação da APA do Planalto Central em 2002, abrangendo todo o seu território. Segundo Romero (2003): “A partir dos anos 80 e mais acentuadamente na última década do século XX, as ações no sítio da capital têm intensificado os níveis de danos e de comprometimento ambiental. Atualmente, o diagnóstico ambiental aponta um quadro crítico no Distrito Federal , especialmente nos núcleos urbanos situados em áreas mais susceptíveis, onde a redução na qualidade de vida é visível, em conseqüência não apenas do desenho pouco adequado e da infra-estrutura deficiente mas também do processo contínuo de degradação e alteração dos ambientes locais (58% da vegetação nativa destruída). Podemos distinguir diversos níveis da devastação ambiental, desde a ocupação desordenada do espaço até a desfiguração de ambientes locais ou ambientes de escassa qualidade de vida.” Ainda segundo a autora: “A água desce desordenada pelas ruas, vinda de nascentes, de esgotos ou da chuva. Sem estrutura adequada de escoamento, invade condomínios e leva lixo, dejetos e cascalho para dentro dos córregos. Para se desfazer da água suja os moradores puxam encanamentos até os córregos e constroem fossas ecologicamente incorretas; não há sistema de água potável. As nascentes são usadas de forma desordenada pelos moradores, que constroem poços artesianos sem nenhum critério. Muitos veios de água secaram; a área de proteção do córrego não é respeitada. Medições feitas por especialistas da UnB revelam que em vários pontos do DF o nível das águas subterrâneas está diminuindo rapidamente. Na região de São Sebastião, por exemplo, onde há dezenas de condomínios, o abaixamento do lençol freático foi de quatro metros em cinco anos”. Esses dilemas socioambientais urbanos que afligem os países em vias de desenvolvimento, representados pela Agenda Marrom, ligada aos problemas de infra-estrutura e saneamento ambiental, são vistos apenas como de curto prazo. Não são vistos em conjunto com os problemas globais, como os da Agenda Verde tais como: aquecimento global, mudança climática, colapso dos oceanos ou extinções de espécies. Faltam estratégias ou modelos para a aplicação de projetos que resolvam os problemas relacionados às duas Agendas no planejamento e desenho de nossas cidades. Fica então o desafio para os projetistas urbanos de descobrir como evitar os conflitos entre as duas Agendas para que não seja necessário “destruir para crescer, principalmente porque são países que não terão fundos para esta reconstrução urbana. De acordo com Register (2002) “a construção constrói”, se não for levada em consideração a estrutura física da cidade e a sua organização, não seremos capazes de resolver todos os problemas da desintegração do planeta. ...”Aquilo que se constrói cria possibilidades e limites para o modo de se viver, ao mesmo tempo educa aqueles que moram na cidade sobre os valores e as preocupações reais”. No Brasil existem alguns instrumentos da gestão ambiental urbana de formato preventivo, como a avaliação de impacto ambiental, que orienta a concepção dos projetos ou programas de desenvolvimento, identificando e avaliando as conseqüências ambientais e sócio-culturais, numa perspectiva de curto, médio e longo prazos. Segundo Bursztyn (1994), tem como funções: definir os critérios relevantes ambientais, conhecer e identificar os processos sócio-econômicos, conhecer os ecossistemas, fornecer subsídios para a tomada de decisão e viabilizar os canais de participação sociedade. Por meio desse instrumento, pode-se reduzir ou anular benefícios socioeconômicos previstos num determinado projeto. É composto de uma sucessão de etapas que se encadeiam e se inter-relacionam sistematicamente: planejamento e elaboração do projeto, diagnóstico ambiental, identificação, previsão e medição dos impactos, interpretação e avaliação dos impactos, consulta e participação, e, por fim, programa de acompanhamento e monitoramento.
  • 4. Deve-se intervir numa etapa anterior da decisão à realização de um determinado projeto que acaba resultando na elaboração de um estudo de impacto ambiental (EIA-RIMA). Este estudo visa abordar preventivamente os impactos ambientais, apresentar e analisar alternativas, buscar fidelidade ao Termo de Referência (termo adquirido pelo empreendedor no órgão ambiental com os itens necessários a serem diagnosticados no EIA) e aos conteúdos da Resolução CONAMA 1/86 e, por fim, obter a participação social. No entanto, não está cumprindo seus objetivos. A variável ambiental tem uma inserção tardia no processo decisório e, quando pode prevenir danos, há uma carência de propostas alternativas passando por justificador do empreendimento proposto, por meio de um rol de medidas compensatórias ao invés de medidas que evitem ou minimizem os impactos. De acordo com Ribas (2001), quando os EIAs-RIMAs são aplicados diretamente em áreas urbanas apresentam alguns problemas operacionais que comprometem sua credibilidade e sua eficácia de avaliação: primeiramente, a necessidade de avaliação da hipótese de não realização do projeto analisado ou suas alternativas de localização. Em prosseguimento, trata da rotina processual de aprovação ou emissão de licenças – a prévia, a de instalação e a de operação. Na visão deste autor, a licença de operação não se aplica à dinâmica urbana, uma vez que, ao implantar o loteamento (desmatamento, abertura de vias, implantação de infra-estrutura), já está se iniciando sua operação. Por fim, apresenta o problema de estruturação metodológica de avaliação de impactos, pois são estabelecidos pesos de avaliação iguais para atributos de natureza diversa, resultando em conclusões hipotéticas e gerando documentos conclusivos ilegítimos, verdadeiras enciclopédias de dados, muitas vezes irrelevantes e, quase sempre, onerosos para o agente empreendedor. Além disso, a partir da análise das informações disponíveis sobre a região, pelas diversas áreas do conhecimento, seria possível formular um desenho urbano verdadeiramente ecológico. Entretanto, ainda existe uma lacuna entre as restrições impostas pelos estudos de impactos ambientais e as soluções urbanísticas adotadas. A utilização dos elementos ambientais diagnosticados nos EIAs-RIMAs sobre o local do futuro assentamento, como o ar (sentido dos ventos), a água (recursos hídricos), o solo, a vegetação e a posição do sol, podem representar uma poderosa ferramenta ou até mesmo uma economia de recursos para o planejamento e desenho do espaço urbano. As cidades podem cultivar biodiversidade, restaurar terras e águas, conservar a cobertura vegetal e, ao mesmo tempo, incorporar um conjunto de estratégias de sobrevivência, integralmente presentes, como moradia, trabalho, alimentação, saneamento, manufatura, lazer, vida social e comércio em proporções balanceadas, contribuindo para a melhoria da saúde do planeta. Por que não introduzir a dimensão ecológica nos vários processos de urbanização, desde o planejamento, design e estratégias de desenvolvimento, ao invés de insistir no tratamento padrão de nossas cidades, onde: • O partido urbanístico escolhido altera as relações entre as escalas pública e privada e suprime a semi-pública; adotando quadras residenciais e entrequadras de equipamentos; implementa um sistema viário monumental, sugerindo paradoxalmente a utilização majoritária do automóvel para deslocamentos curtos; • Vulgariza-se a previsão de equipamentos comunitários e não se implementa a fixação na cidade de fontes empregadoras da mão-de-obra local. Dita, junto com a rigidez do loteamento, a obrigatoriedade de muros entre lotes e a construção de habitações provisórias nos seus fundos, o rompimento da organização social e a perda da escala de vizinhança original, onde se priorizavam o caráter público e semipúblico do espaço. Corrobora ainda, na criação de condições - até hoje mantidas - degradantes do meio urbano: bioclimáticas (rajadas de vento / poeira, calor intenso nos dias de sol e visuais áridas), funcionais (difícil e insegura mobilidade e falta de locais públicos para o lazer e o convívio comunitário), ambientais (fraco senso de orientação locacional e baixo valor cênico), e socioeconômicas (violência e falta de auto-sustentabilidade, com dependência do Plano Piloto, no caso de Brasília); em grande parte atribuídas à presença de inúmeros vazios urbanos - lotes institucionais desocupados / áreas públicas
  • 5. abandonadas - à falta de tratamento paisagístico, ao repetitivo padrão urbano adotado e à distância do pólo produtivo. 1.1 Urbanismo Sustentável O conceito de sustentabilidade foi criado por Lester Brown da WWI (Worldwatch Institute) no início da década de 1980. Foi definido que “uma sociedade sustentável é aquela capaz de satisfazer suas necessidades sem comprometer as chances de sobrevivências das gerações futuras”. Alguns anos depois foi utilizado pela Comissão Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento, no famoso Relatório Brundtland de 1986, a mesma definição para apresentar a noção de desenvolvimento sustentável. No entanto, essa definição não nos mostra como devemos construir uma sociedade sustentável e, muito menos como devemos construir cidades sustentáveis. Segundo Ruano (2000), o Ecourbanismo ou Urbanismo Sustentável é uma nova disciplina que articula múltiplas e complexas variáveis e incorpora uma aproximação sistêmica ao desenho urbano com uma visão integrada e unificada, trazendo, como conseqüência, a superação da divisão clássica do urbanismo tradicional e seus critérios formais e estilísticos. A partir deste novo paradigma deve-se estabelecer uma relação dialética entre o planejamento estratégico e o desenho urbano. Para Sachs (1993), as estratégias de Ecodesenvolvimeto para os países em vias de desenvolvimento podem ser triplamente vencedoras, pois, além de promover o progresso social por meio de geração de empregos e contribuir para melhorar o meio ambiente, são economicamente justificáveis na medida em que as atividades que geram uma economia de recursos se autofinanciam. Na sua visão, as cidades poupadoras de recursos ou assentamentos urbanos sustentáveis devem ser vistos como ecossistemas2, pois existem recursos que são subutilizados ou mal-utilizados, tais como: terras agriculturáveis, lixo reciclável, potencial para conservação de energia e água, potencial para poupança de recursos de capital, mediante a melhor manutenção de equipamentos, infra-estruturas e imóveis. “...O aproveitamento desses recursos pode representar não só importante fonte de empregos, financiada pela poupança de recursos, mas ainda, um meio para melhorar as condições ambientais”. Nesta mesma linha, mas com um outro conceito, Girardet3 (2003) afirma que cidades ecológicas são aquelas que apresentam um metabolismo circular, onde tudo é planejado e reaproveitado como um ciclo, onde existe a consciência ambiental dos gestores e dos cidadãos. De acordo com Capra4 (2002), a chave para se implantar comunidades humanas sustentáveis é observar os ecossistemas naturais, ou melhor, compreender como eles se organizam a fim de maximizar sua duração e empregar este conhecimento na construção de assentamentos humanos duradouros. O diagnóstico para intervenções futuras deve-se basear em princípios ecológicos de organização, comum a todos ecossistemas os quais desenvolveram para sustentar a teia da vida - a compreensão sistêmica da vida. Uma vez estabelecidos certos princípios, eles não se modificam em função de culturas, hábitos, estilos ou modismos. No entanto, a forma na qual devemos aplicá-los, depende de cada bio-região com seus aspectos físicos (geologia real, topografia e ecologia), culturais e socioeconômicos. É com base nesses princípios que desenvolvemos nosso trabalho, estudando estratégias de desenho para implantar comunidades sustentáveis e entender em que medida a anatomia de uma comunidade construída, juntamente com a identificação de princípios de ecologia5 - entre os quais podemos citar redes, ciclos, alianças, energia solar, diversidade e equilíbrio dinâmico, pode contribuir para o estabelecimento de procedimentos e métodos para o desenho de assentamentos humanos em equilíbrio com a natureza, economicamente viáveis e lugares agradáveis para se viver. Assim como o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental, tradicionalmente é traduzido em normas, neste tema específico podem ser traduzidos em princípios de sustentabilidade aplicados ao desenho urbano. 2 Ecossistema é um conjunto das interações entre os seres vivos no âmbito de um sítio geofísico. Corresponde a uma organização espontânea, com suas regulações próprias. (Pena-Vega, 2003) 3 Conferência Gaia, The Evolution of the Superorganism, St. Anne’s College, Oxford, 1996. 4 Além de “As conexões ocultas”, 2002, “ Diálogos para um Brasil Sustentável, Brasília, 2003 5 Baseado em autores como Morin (2003), Pena-Vega (2003) e Capra (2002)
  • 6. Este trabalho está dividido em duas partes. A primeira é uma dissertação sobre os princípios da ecologia considerando os aspectos teóricos e metodológicos, onde os autores tratam as cidades como ecossistemas urbanos e estabelecem padrões. Na segunda parte, trabalhou-se a aplicação desses princípios ao desenho de um loteamento urbano. Trata-se de um projeto de um condomínio com tecnologias sustentáveis situado no Centro de Atividades do Lago Norte de Brasília dentro da Sub-bacia do Ribeirão do Torto. Foi desenvolvido pelas mestrandas, Liza Andrade e Rejane Jung, na disciplina Ateliê de Desenho Urbano do Programa de Pós-graduação da Universidade de Brasília ministrado pela professora Doutora Marta Adriana Bustos Romero no ano de 2002. 2. ASPECTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS 2.1 Princípios ecológicos: diretrizes para a construção de comunidades humanas sustentáveis O princípio fundamental da ecologia é baseado na interação e na interdependência. Pena-Vega (2003) diz que, um ecossistema é um princípio dinâmico, um ciclo gigantesco que engloba o conjunto da biosfera e no qual todas as unidades de interação são interconectadas em uma vasta e intrincada rede de relações, que Capra chama de teia da vida. Assim, pode-se dizer que o ecossistema é uma totalidade complexa auto-organizada e “auto-organizante”. Na realidade, ele considera os ecossistemas como sistemas abertos ao contrário dos sistemas fechados que predominaram na biologia convencional. Isto significa que os sistemas vivos mantêm uma troca contínua de energia, matéria e informação com o seu meio para permanecerem vivos, sendo assim são co-organizadores e co-progamadores do sistema vivo que nele se encontra integrado. Nesta visão Morin (apud Pena-Vega, 2003) afirma que quanto mais um sistema vivo é autônomo, mais é dependente do ecossistema, pois supõe-se uma grande riqueza de relações de todas as espécies com o meio-ambiente, ou seja, depende de inter-relações, denominadas redes. Essas relações de dependência acabam por constituírem as condições da relativa independência. Em outras palavras, quanto mais um ecossistema é complexo, mais é diverso e rico e está apto a fornecer riqueza e diversidade de objetos e de produtos. Da mesma forma, uma comunidade para se tornar autônoma ou sustentável deve desenvolver seus modos de vida no decorrer do tempo, mediante uma interação contínua com outros sistemas vivos, tanto de humanos como de vegetais, animais e microorganismos. De acordo com Capra (2002), existem alguns passos na direção da implantação de comunidades sustentáveis. O primeiro é a educação ecológica, que consiste na compreensão dos princípios de organização, comum a todos sistemas vivos, que os ecossistemas desenvolveram para sustentar as redes auto-geradoras ou auto-organizadas - a compreensão sistêmica da vida por meio de uma alfabetização ecológica. Os princípios ecológicos dizem respeito diretamente à sustentação da vida tais como: • Redes são todas as relações que os sistemas vivos têm uns com os outros, partilhando seus recursos e transpondo seus limites, redes dentro de redes. • Ciclo é a continuidade dos fluxos de matéria e energia do ambiente que alimentam os organismos vivos e conseqüentemente produzem resíduos continuadamente. Os resíduos de uma espécie são os alimentos de outra. • Energia solar transformada em energia química pela fotossíntese das plantas verdes, é o que move todos os ciclos ecológicos. • Alianças é a cooperação generalizada que sustenta as trocas de energia e de recursos materiais num ecossistema que é a formação de parcerias entre os seres. • Diversidade causada pela riqueza e complexidade das teias ecológicas nos ecossitemas acabam por provocar resistência e capacidade de recuperação. Se a biodiversidade é maior esta capacidade aumenta. • Equilíbrio dinâmico mantém o ecossistema por meio da flexibilidade dos múltiplos elos e anéis de realimentação. Nenhuma variável chega sozinha a um valor máximo; todas as variáveis flutuam em torno do seu valor ótimo.
  • 7. O segundo passo, ainda segundo Capra (2002), é o projeto ecológico, a aplicação direta dos conhecimentos ecológicos na reformulação dos fundamentos de nossas tecnologias e instituições sociais, para vencer a barreira que separa as criações humanas dos sistemas ecologicamente sustentáveis da natureza. É a moldagem dos fluxos de energia e de materiais para fins humanos que são cuidadosamente inseridos na grande rede que ele chama de teia da vida. Assim, os princípios do desenho ecológico refletem os princípios de organização que a natureza desenvolveu para sustentar suas redes de relações. 2.2 Ecossistemas Urbanos A reprodução das estruturas urbanas, articuladas à sua base especificamente matéria, é referida por Acselrad (2001) como técnico-material da cidade que podem ter o ajustamento das bases técnicas à dois modelos: de racionalidade eco-energética e de metabolismo urbano. O primeiro, fundado na racionalidade econômica aplicada aos fluxos de matéria e energia para reduzir o impacto entrópico, adota tecnologias poupadoras de espaço, matéria e energia voltadas para a reciclagem de materiais. A busca da ecoeficiência é baseada na redução do consumo per capita de energia no âmbito do urbano, que favorecem a sustentabilidade global. O segundo modelo baseia-se na representação ecossistêmica das cidades, nos movimentos interativos de circulação, troca e transformação de recursos em trânsito. O modelo de equilíbrio de metabolismo urbano tem o ajustamento apropriado dos fluxos e estoques de matéria e energia. Neste entendimento, as cidades devem ser consideradas como ecossistemas complexos com uma densa rede de processos metabólicos e intercâmbio de matéria, energia e informação, uma forma de organização não–linear. Devem ser vistas com um metabolismo circular que integra os componentes de um sistema sob diversos caminhos. Os ecossistemas construídos se diferenciam internamente, em função de fatores econômicos, sociais, culturais e também naturais. O desenvolvimento e a manutenção da autonomia de uma cidade, por exemplo, estão relacionados a um grande número de redes educativas, culturais e técnicas Não podemos analisar a cidade apenas na totalidade e nem tampouco como uma soma das partes do ambiente urbano. Se considerarmos a cidade um ecossistema composto de subsistemas de redes complexas, tais como bairros ou vilas urbanas, devemos compreender o inter-relacionamento sistêmico como processos de desorganização e organização que estes produzem (constituição de um organismo vivo). (Tabela 01) Segundo Rueda (2000), as cidades são ecossistemas interdependentes de outro sistema que é seu entorno e, portanto, a transferência de informação, matéria e energia que se produz entre a cidade e seu entorno é a base que mantém e torna mais complexa a estrutura organizada da cidade. Tanto o entorno quanto os assentamentos se modificam em conseqüência dessa relação. “... as cidades são ecossistemas interdependentes de outros sistemas que constituem seu entorno, formando uma unidade íntima cidade-entorno”.
  • 8. Tabela 01 – Análise dos princípios dos ecossistemas nos ecossistemas urbanos PRINCÍPIOS ECOSSISTEMAS ECOSSISTEMAS URBANOS Redes Relações e comunicações dos sistemas vivos Interações contínuas no modo de vida com sem limites. Redes dentro de redes - sistemas sistemas vivos tanto de humanos quanto de abertos interdependentes. vegetais, animais e microorganismos e de dependências educativas, culturais e técnicas. Todos os membros da comunidade ecológica estão conectados numa ampla e complexa Bairros interdependentes - subsistemas de redes rede de relações, a teia da vida. complexas uns dentro de outros, organizados e associados a infra-estruturas. Compreender a interdependência ecológica significa entender as relações, pois do ponto Interdependência do entorno da cidade como um de vista sistêmico, as interações entre as sistema aberto, um sistema cidade-entorno. partes são tão ou mais importantes do que as próprias partes do todo. Exemplos aplicados ao desenho: Rede de espaços públicos, de caminhos para pedestres e bicicletas, Complexidade – quanto maior a autonomia, de transportes públicos, de bacias de drenagem e maior dependência ou riqueza de relações – de captação de águas pluviais, de hortas urbanas, maior a rede de comunicações. etc. Ciclos Reciclagem de matéria e transferência de Metabolismo circular - transforma resíduos em energia recursos - ciclo da água, do lixo e energias de biomassa. Energia Solar Transformada em energia química é o que Energia Solar, Aquecimento e Conforto Térmico e move os ciclos ecológicos energias de fontes renováveis. Alianças As trocas cíclicas de matéria e energia nos Nas comunidades humanas, a parceria significa a ecossistemas são sustentadas por uma democracia e o empoderamento pessoal, por causa cooperação difundida entre os membros da dos diferentes papéis sociais desempenhados. rede. Pode-se estabelecer troca de habilidades. Diversidade Biodiversidade – diversidade em espécies, Diversidade de Usos – quanto maior a diversidade organismos, em interdependência e e a densidade urbana, menor a dependência de informação. Um ecossistema diverso também transporte motorizado, menor o impacto e maior a será resiliente, pois ele possui muitas troca de energia, matéria e informação com o meio espécies que superpõem funções ecológicas - Redução da pegada ecológica. que podem ser parcialmente substituídas, caso um elo da rede se desfaça. Equilíbrio Dinâmico A flexibilidade de um ecossistema é que o O equilíbrio e um bom funcionamento do sistema traz ao ponto de equilíbrio após um período dependem de um bom posicionamento dos de mudanças nas condições ambientais elementos a serem projetados de acordo com as necessidades e os deslocamentos e flexibilidade de usos. Em um ecossistema, quanto maior a complexidade, maior a diversidade e riqueza de produtos e, conseqüentemente, maior a troca de fluxos com o meio, isto é, melhor o ciclo. Para se maximizar a entropia6 interna da cidade aumenta-se sua complexidade interna e para se minimizar a entropia projetada para o entorno deve-se se reduzir a pegada ecológica7 do assentamento ou cidade. O mesmo autor coloca ainda que o modelo que mais interpreta o aproveitamento de entropia é o de cidade-compacta e diversa. A proximidade dos elementos faz com que haja redução do consumo de materiais, energia, tempo e solo, ao mesmo tempo em que proporciona mecanismos de regulação e controle, dá estabilidade ao sistema, um equilíbrio dinâmico. Na visão dele, compacidade e diversidade são cruciais para manter a complexidade das trocas. 6 Entropia – transferência de energia 7 O conceito de Pegada ecológica criada por William Rees e Mathis Wackernagel em 1996 demonstra em termos de área territorial o consumo das pessoas. Permite calcular a área de terreno produtivo necessária para sustentar o nosso estilo de vida. As categorias de terrenos são: agrícola, pastagens, oceanos, floresta, energia fóssil e construídos e as de consumo são: alimentação, habitação, energia, bens de consumo, transportes, etc. Cada categoria de consumo é convertida numa área de terreno (em princípio de uma das categorias apresentadas) por meio de fatores calculados para o efeito. Para fazer o cálculo para a alimentação, por exemplo basta dividir o consumo de dada cultura agrícola (expresso em toneladas, por exemplo) pela produtividade da terra (expressa em toneladas por hectare). É ainda necessário ter em conta as importações e exportações desse mesmo produto ou de produtos que o utilizem.
  • 9. O adensamento urbano é uma das metas básicas do enfoque ambiental aplicado ao urbanismo, desde que atendida a capacidade de suporte da bio-região. Numa cidade compacta, a proximidade da moradia, do lugar de trabalho, dos serviços e dos equipamentos favorecem a otimização do uso do espaço, a utilização racional das zonas naturais e a organização eficaz do transporte público. Reunir pessoas significa reduzir distâncias, que por sua vez reduz a necessidade de deslocamentos e gasto de energia para transporte, nível de poluição produzido e quantidade de terra pavimentada. Entretanto, o grau de compacidade de cada cidade vai depender da proporção dos elementos estruturadores do espaço urbano e de uma série de fatores a serem considerados como o clima, o tipo de solo e a capacidade de recursos de cada região. Em uma cidade situada em uma região de clima tropical, por exemplo, o grau de compacidade tem que ser diferente de uma outra situada em região de clima temperado, mesmo que as estratégias sejam as mesmas, pois a troca de energia ou calor é diferente. Register (2002) afirma que, para se caminhar na direção da construção de Ecocidades, a metrópole tem que se transformar em várias cidades ou vários bairros para pedestres com pequenos centros comerciais de vizinhança ligados em ciclovias, com apoio para longas distâncias do transporte público. As moradias têm que estar próximas aos espaços para trabalho, alimentação, educação e lugares para sociabilização. Para este autor, é no uso da terra e na infra-estrutura urbana, na sua anatomia8, que se encontra a chave para formular os elementos estruturadores de uma Ecocidade, pois é na forma em que a cidade é desenhada e organizada que está a fundamentação para todas as outras coisas e para a compreensão dos impactos causados pela população, consumo e tecnologia numa dada região. 2.3 Princípios associados à morfologia urbana O planejamento e desenho urbano baseado na ótica do urbanismo sustentável têm três eixos fundamentais - a habitação, a infra-estrutura e a paisagem e, assim como nos ecossistemas, fazem parte de um sistema integrado onde tudo é interligado e reaproveitado - como um ciclo. Tudo que sai do sistema de produção deve ser reaproveitado, através de sistemas circulares de água, esgoto, energia e alimentos, reduzindo o impacto sobre o meio ambiente e aumentando o rendimento geral da comunidade. Os sistemas de infra-estrutura interrompem o ciclo natural da água, ou melhor, o ciclo hidrológico, com a crescente impermeabilização dos solos e rede de drenagens artificiais que carregam águas pluviais e detritos lançados nas ruas para rios e lagos, contribuindo para o seu assoreamento. Além disso, em alguns casos, as redes de águas pluviais recebem redes de esgotos clandestinos que deságuam em locais com águas limpas sem nenhum tratamento prévio. Explorando a cidade como um organismo vivo, Register (2002) faz uma analogia da anatomia da cidade com a anatomia humana. As ruas, redes de água, esgoto, drenagem e gás funcionam como o Sistema Circulatório, a arquitetura com seus elementos verticais funciona como apoio, similar ao Sistema Esquelético, os alimentos e os combustíveis funcionam como o Sistema Digestivo, que transformam a energia armazenada. Os sistemas de tratamento de água ou compostagem funcionam com um Sistema de Filtragem e Reciclagem e, os lixos incineradores e saídas de esgotos atuam como o Sistema de Excreção. Este tratamento pode ser interessante para efeitos de educação ambiental da população, mas para o urbanismo o desempenho das atividades tem que estar associado à morfologia, no lugar ou sítio em que cada cidade está implantada. A anatomia do habitat construído é essencial para suavizar ou conectar cada uma dos condicionantes do desenvolvimento de uma cidade. Funciona como um organismo que move a maior parte da riqueza e consumo e organiza as tecnologias para maximizar trocas e minimizar deslocamentos. A qualidade e o conteúdo das trocas no meio ambiente são determinados pelo espaço urbano por meio da forma física e arranjo de suas partes num entendimento sistêmico. O desenho das ruas, ou mais precisamente, a morfologia urbana é o elemento estruturador dessa anatomia. Entretanto, se as ruas forem projetadas visando o máximo de aproveitamento da mobilidade humana, a morfologia torna-se menos importante, pois pedestres exigem menos infraestrutura. Torna- se inevitável, porém, associar o layout às estratégias de redução de impacto dos sistemas de infra- 8 Anatomia urbana entendida como organização urbana associada à infra-estrutura – (Register, 2002)
  • 10. estrutura, uma vez que esses sistemas constituem um meio de ligação significativa (subterrânea) entre a cidade e o meio natural. Cabe ao projetista então uma série de estratégias ou princípios associados à morfologia para assegurar a sustentabilidade ambiental. No entanto, até chegar a forma ideal para essas Ecocidades, que dependem essencialmente do local em que estão inseridas, é imprescindível estabelecer alguns princípios norteadores para a sua construção. Existem autores que já estabeleceram alguns princípios tais como: Paolo Soleri na década de 60 para a construção de Arcosanti, Bill Mollisson com os princípios da Permacultura nos anos 70, Paul Downton para Ecopolis em 1998, Willian Mc Donough Associates para a Feira Mundial de Hanover em 2000, etc. Os princípios para Ecópolis do australiano Paul Downton de 1997 são uma evolução dos princípios da Permacultura para o desenho de cidades. Tais princípios são apontados por Register (2002): restaurar terras degradadas, adequar-se a bio-região, desenvolvimento equilibrado, conter a expansão urbana (criar cidades compactas), otimizar o desempenho energético, contribuir para a economia, proporcionar saúde e segurança, instaurar um sentido de comunidade, promover a equidade social, respeitar a história, enriquecer a paisagem cultural e curar a Biosfera. Dauncey (2001) coloca que existem alguns princípios que podem orientar a implantação e recuperação de comunidades com impactos significantes e de longo alcance no seu desenvolvimento econômico e na saúde social e ambiental. Tais princípios são: proteção ecológica (biodivresidade), adensamento urbano, revitalização urbana, implantação de centros de bairro e desenvolvimento da economia local, implementação de transporte sustentável e moradias economicamente viáveis, comunidades com sentido de vizinhança, tratamento de esgoto alternativo, drenagem natural, gestão integrada da água, energias alternativas e finalmente as políticas baseadas nos 3R’s (reduzir, reusar e reciclar). Na verdade esses princípios não podem ser relevantes para todo empreendimento local, mas eles formam uma estrutura sistêmica e integrada que nos ajudam a entender o potencial para implantar assentamentos urbanos sustentáveis, que precisam ser considerados. Segundo Romero9 (2002), cada escala é capaz de identificar diferentes tipos de estrutura ambiental, por meio de sua vulnerabilidade e alternativas de uso, assim como, os níveis de degradação ambiental, os aspectos de diversidade ambiental, de socioeconomia, de estética e de cultura. Para a autora, são quatro as escalas de análise: a grande dimensão das estruturas urbanas, a escala intermediária da área, as dimensões específicas do lugar e do edifício. Na escala intermediária da área, ou melhor, na escala do bairro é onde se estabelece relação com o usuário. É onde são desenvolvidas as relações morfológicas e sua respectiva resposta ambiental, acessibilidade, homogeneidade, funcionalidade e conhecimento do local. O bairro constitui o marco de vida da maioria das pessoas e sua escala de adapta a estratégia de um projeto urbano ambiental que permite abordar os problemas causados pela exclusão social em zonas críticas e resolver localmente a gestão da água e da energia, a seleção dos resíduos e a seleção dos ruídos. Existem na Europa vários bairros sendo implantados ou recuperados segundo os princípios de sustentabilidade, mesmo que a forma urbana, a arquitetura e a ecologia sejam bastante diferentes. É nesta escala que os princípios de sustentabilidade aplicáveis ao desenho urbano são mais percebidos e onde as tecnologias sustentáveis de infra-estruturas são detalhadas. A seguir serão mostrados os procedimentos adotados para o desenho de um condomínio com bases sustentáveis. 3. PROCEDIMETOS - APLICAÇÃO DO MÉTODO 3.1. Justificativa da escolha do local e procedimentos adotados Este projeto foi desenvolvido na disciplina de Ateliê de Desenho Urbano visando a aplicação de princípios de sustentabilidade para o desenho de um loteamento urbano situado em um Setor Comercial de Brasília denominado Centro de Atividades do Lago Norte. 9 ROMERO, Marta Adriana Bustos. Urbanismo Sustentável. Apostila para o Curso de Doutorado, FAU/UnB, Brasília, 2002.
  • 11. A justificativa da escolha do local para a implantação do condomínio foi a potencialidade deste Setor. Trata-se de uma área que foi projetada para ser um dos pontos significativos de polarização de serviços e comércio da região provocado pelo adensamento urbano previsto para a região centro-norte do DF, convencida pela regularização e urbanização dos bairros Boa Vista e Taquari, bem como pelo adensamento proposto para a invasão da Vila Varjão.(Fig. 01) Taquari Vila Varjão CA CA SHIN Asa Norte Lago Paranoá Fig. 01 – Mapa de localização do Centro de Atividades (CA) Fonte: SICAD, SEDUH, 2003 Entretanto hoje não funciona como tal e pode ser caracterizado como uma ilha de asfalto salpicada por edifícios, sem áreas verdes e espaços públicos adequados à convivência. O Centro de Atividades poderia diminuir a dependência do Lago Norte em relação ao Plano Piloto e ser um ponto de integração entre duas comunidades de rendas diferentes, a Vila Varjão e o Lago Norte (SHIN) por meio de troca de serviços e habilidades. O objetivo desta intervenção urbanística é criar um condomínio sustentável que atue como espaço de propagação de pressupostos do desenvolvimento urbano sustentável para suas áreas de influência, podendo exercer papel relevante nos processos de integração sócio-espacial da região. Propõe-se incentivar o sentido de vizinhança e alianças comunitárias, por meio de espaços que propiciem a interação social. Ainda que se reconheça que a configuração espacial não é determinante das relações sociais, entende-se que o espaço não é uma instância passiva e neutra. O trabalho foi desenvolvido em duas etapas que serão descritas a seguir. 3.1.1. Primeira Etapa: Diagnóstico Ambiental Na primeira foram coletados todos os dados sobre a área a ser intervida por meio de estudos de impactos ambientais para áreas adjacentes ao loteamento (EIA-RIMA do Setor Taquari de 1991, RIVI da Vila Varjão 1997 e Diagnóstico Ambiental Integrado da Vila Varjão de 2000) e para o próprio Centro de Atividades (EIA-RIMA do Centro de Atividades de 1997), quando foi criado. A partir de todas as informações coletadas - tendo como unidade de planejamento uma unidade hidrológica, a Sub-bacia do Ribeirão do Torto10 - foi possível fazer um diagnóstico ambiental do local, por meio de tabelas que continham uma análise dos os conflitos ou problemas dos meios físicos, bióticos e antrópicos e as diretrizes propositivas. (Tabela 02) 10 Esta etapa culminou com uma apresentação no X Encontro Nacional da ANPUR de 2003 “Encruzilhadas do Planejamento”sob o título de “Princípios de Sustentabilidade aplicados às diferentes escalas territoriais da Sub-Bacia do Ribeirão do Torto. As informações podem ser obtidas nos anais do congresso, ver nas referências bibliográficas.
  • 12. Tabela 02 – Diagnóstico Ambiental – (Tabela Meio Antrópico/Abastecimento de água) Fonte: Romero, 2002 – Disciplina de Ateliê de Desenho Urbano – PPG-FAU/UnB 3.1.2. Segunda Etapa: Estratégias Ecológicas Depois de feita a caracterização e o diagnóstico ambiental da área partiu-se para o estabelecimento de estratégias ecológicas antes de se chegar aos princípios de sustentabilidade aplicados ao desenho urbano. As estratégias utilizadas basearam-se, primeiramente, nos princípios ecológicos citados anteriormente como: • Redes – a interdependência de áreas circundantes é importante para o desenvolvimento da auto-suficiência do condomínio, como por exemplo, o estabelecimento de redes de trabalho, de lazer, conhecimento, cultura e tecnologias. Uma vez estabelecida evita-se o deslocamento para outros locais • Ciclo – evitar o metabolismo linear predominante e implantar o metabolismo circular minimizando novas entradas de energia e maximizando a reciclagem para todos os sistemas: água, alimentos, resíduos e esgoto. • Energia Solar – a orientação solar do novo condomínio deve ser pensada para o maior aproveitamento possível no que diz respeito a energia, aquecimento e conforto térmico (bioclimatismo) • Alianças – estabelecer estratégias de parcerias com comunidades vizinhas de diferentes classes sociais: as habilidades encontradas em uns servindo para o incremento de serviços para outros. A mão de obra da favela vizinha é importante para a demanda de serviços do condomínio. • Diversidade – implantar maior a diversidade de usos e de pessoas para um melhor aproveitamento do espaço e maior a troca de energia, matéria e informação. • Equilíbrio Dinâmico - O equilíbrio de um bom funcionamento do espaço depende de um bom posicionamento dos elementos a serem projetados de acordo com as necessidades e os deslocamentos. A flexibilidade dos espaços torna-se importante como um espaço com múltiplas funções. Num segundo momento, por meio de tabelas, foram levantados os recursos ambientais e as estratégias necessárias (concepção urbana) para que os princípios de sustentabilidade fossem transformados em técnicas de desenho de acordo com Dauncey (2001), descritos anteriormente no item 2.3. (Tabela 03) O projeto tem como foco instaurar um sentido de vizinhança, por meio de espaços comunitários e pela mobilidade das pessoas em seu interior e para as demais áreas do Centro de Atividades. Serão incentivados os deslocamentos a pé e de bicicleta de modo a reduzir uso do automóvel particular. O parcelamento urbano proposto tem dimensões controladas e diversidade tipológica. Habitações –
  • 13. unifamiliares e geminadas – economicamente mais viáveis, com o máximo de auto-suficiência possível, particularmente nos aspectos de energia, água, reciclagem e alimentação. Tabela 03 – Princípios de Sustentabilidade utilizados na aplicação do parcelamento urbano Fonte: Liza Andrade e Rejane Jung Viana , 2002 - Disciplina Ateliê de Desenho Urbano PPG – FAU/UnB, 2002 Estratégias: Técnicas Urbanas Princípios De Sustentabilidade Concepção Urbana Mobilidade Sustentável 1. Propiciar aos moradores locais Ciclovias de trabalho e lazer próximo as Apenas vias locais de 6m para automóveis separadas moradias p/ reduzir necessidades da rede de ciclovias e de caminhos para pedestres de deslocamentos. com 2,5 de largura.Vias iluminadas e sinalizadas. Revitalização Urbana e 1. Espaços Públicos que Tratamento Bioclimático do espaço público: Sentido de Vizinhança propiciem encontros, reuniões e Uso de pérgulas para sombreamento, captação da trabalhos conjuntos. água da chuva por meio de espelhos d’água com 2. Desenvolver um sentido de climatizadores. lugar Predominância das tipologias na orientação solar 3. Clube local com área de lazer nordeste–sudoeste no sentido da topografia – boa 4. Integrar o Centro de incidência dos raios solares. As casas que estão no Atividades a outras regiões sentido noroeste-sudeste receberão brises verticais e proteção com vegetação. Adensamento Urbano 1. Desenho urbano para um Tipologias: melhor aproveitamento da área Casas geminadas – 22 x 233 m2 -lote de 264m2; de 22,5 hab/ha para 51 hab/ha. Geminadas Escalonadas – casa páteo- térrea 2. Conter a expansão 268m2/outra sobreposta 220m2 c/acessos desordenada no entorno. independentes; 3. Tipologias mais densas Geminadas de 2 pav.- recuadas 2m 205m2 –lote de localizadas na cota mais alta. 225m2. Proteção Ecológica 1. Corredor Ecológico - Parque Zoneamento Permacultural: 2. Agricultura Urbana com zona 1 – hortas familiares: páteos e coberturas; zona Paisagismo Produtivo 2 – paisagismo produtivo: arborização das ruas, 3. Implantar a Estação de Esgoto estacionamentos, praças; Alternativa próxima ao corredor zona 3 – abastecimento condominial: área para ecológico para atrair animais produção agrícola intercalados com espaços de lazer silvestres. e pequenos canais de escoamento; 4. Colocar a zona 3 próxima da zona 4 – Parque Ecológico: repovoamento da flora e favela para aproveitar a mão de da fauna, viveiro, lazer. obra. Drenagem 1. Manter o ciclo hidrológico na Drenagem Natural Bacia do Lago Paranoá O sistema é composto por dois subsistemas : um que 2. Melhorar o microclima local e absorve as águas das vias por meio de pavimentação os efeitos da seca permeável e pequenas canaletas, e outro que recebe as águas de grandes tempestades por meio de uma bacia de contensão de 900m de extensão por 10m de largura e 30cm de profundidade. Economia Local 1. Implantar o Centro de Bairro Centro Comercial c/ 2 volumes: no ponto central na interseção de Bloco 1 – 3 pavimentos de uso misto – galeria de caminhos com espaços que lojas e escritórios e, unidades habitacionais no propiciem encontros e trocas último pavimento. Bloco2 – destinado a atividades 2. Destacar a volumetria no comunitárias, cursos profissionalizantes. Praça – conjunto. vista panorâmica do Ribeirão do Torto, local de 3. Socio-economia Solidária – encontro dos moradores e da região, feiras e Proximidade com a favela exposições.
  • 14. Tratamento de Esgoto 1. Evitar que a capacidade da Tratamento de Esgoto Alternativo - Tratamento ETE Norte chegue ao limite para de Esgoto com Reator Anaeróbio de Fluxo não ocorrer o fenômeno de Ascendente associado a leito cultivado de fluxo eutrofização do Lago Paranoá. superficial (wetlands). A Estação de Tratamento será 2. Incorporar a estação ao localizada nas proximidades do corredor ecológico desenho da paisagem incorporada ao desenho paisagístico. Gestão Integrada da Água 1. Reaproveitar as águas servidas Instalar filtros de areia nos jardins para fazer a e as águas pluviais nos projetos filtragem das águas.Projetos hidráulicos prevendo a de arquitetura. tubulação necessária Política dos 3R’s 1.Tratar o lixo na própria Sub- Projetar uma Usina de Reciclagem e Compostagem bacia do Ribeirão do Torto para nas proximidades para atender toda a Sub-bacia do evitar o esgotamento do Aterro Ribeirão do Torto e a mão-de-obra da favela. Sanitário. Energia Solar 1. Prever o uso de energia e Implantação no sentido da orientação solar aquecimento solar através de nordeste-sudoeste, melhor eficiência dos raios uma orientação adequada solares para aproveitamento futuro de energia solar. 3.2 Condomínio Sustentável: desenho urbano Este estudo se propõe a intervir sobre a parcela do Centro de Atividades, que ainda se encontra desocupada. A quadra CA-6 (aproximadamente 20ha), conforme analisado na primeira fase do trabalho, destina-se ao uso residencial. O loteamento atual prevê a criação de 92 lotes de unidades autônomas, e de 4 lotes sob o regime de condomínios para 450 pessoas, o que resulta numa densidade de 22,5 hab/há. O novo projeto adota densidades mais elevadas (51hab/ha), apropriadas à urbanidade, que devem contribuir para imprimir vitalidade naquele centro de bairro. (Fig. 02) Além disso, comporta um pequeno Centro Comercial Local, que traz para o centro da comunidade usos diferenciados, com o intuito de incentivar a economia local e de aproximar o local de trabalho de casa. Esse edifício comercial deverá proporcionar aos novos moradores, lojas e salas para profissionais autônomos e, pequenas unidades habitacionais. Outro edifício, na área central, abrigará um Centro Comunitário. Juntos, configuram uma praça que deverá estimular os contatos sociais. Fig. O2 – Planta do Condomínio Sustentável do centro de Atividades do Lago Norte Fonte: Trabalho desenvolvido na disciplina de Ateliê de Desenho Urbano da PPG-Fau/UnB , 2002 Projeto: Liza Andrade e Rejane Jung , Desenho: Rejane Jung Estão previstas, para ela, a implementação de coleta seletiva de lixo, a implantação, nas vizinhanças, de uma Usina de Reciclagem (triagem e compostagem) e horta comunitária. O composto orgânico originado na Usina pode ser reaproveitado como adubo na produção de alimentos local. A horta comunitária, por sua vez, poderá contar com uma Escola Agrícola apoiada por técnicos da EMBRAPA, para formar pequenos agricultores a fim de disseminar a produção de alimentos especialmente na região da invasão da Vila Varjão.
  • 15. Fazem parte também do desenho urbano, espaços públicos destinados ao tratamento de esgotos e ao tratamento de águas pluviais das vias. Tratamento de Esgoto com Reator Anaeróbio de Fluxo Ascendente associado a leito cultivado de fluxo superficial (wetlands – plantas aquáticas) pesquisado juntamente com o Departamento de Engenharia Civil da Faculdade de Tecnologia da UnB. (Fig. 03) Fig. O3 – Detalhe da Estação de Tratamento do Condomínio Sustentável Fonte: Trabalho desenvolvido na disciplina de Ateliê de Desenho Urbano da PPG-Fau/UnB, 2002 – Projeto: Liza Andrade e Rejane Jung – modelagem: Valério Augusto Medeiros 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Após analisar vários estudos de impactos ambientais para o exercício do projeto, observou-se que eles se resumem em dados do local a ser implantado e soluções mitigadoras distantes de soluções aplicadas ao desenho urbano. Era de se esperar que, da interface de informações do meio físico, biótico e antrópicos, surgissem estratégias sustentáveis de uso e ocupação do solo urbano, ou melhor, surgissem soluções mais ecológicas e conseqüentemente alternativas para os projetos urbanísticos tradicionais. Entretanto, como os projetos urbanísticos foram desenvolvidos antes da avaliação de impactos, há uma tendência em manter as formas tradicionais de desenho, muitas vezes pela falta de conhecimento de soluções ecológicas ou mesmo pela opção de se adequar soluções, visando acelerar a aprovação do processo para o empreendedor - o que muitas vezes mostra-se sem sentido dada a morosidade dos processos de aprovação. Neste sentido, se os impactos fossem estudados e analisados anteriormente aos projetos urbanísticos como condição básica para se iniciar um estudo preliminar, poderiam contribuir com o estabelecimento de estratégias e princípios norteadores, uma vez que, são diagnosticadas características socioambientais por profissionais multidisciplinares. Constatou-se também que, quando se considera a unidade de planejamento urbano, uma unidade hidrológica (como foi o caso da Sub-bacia do Ribeirão do Torto), muda-se completamente de uma visão imediatista para uma visão dos problemas a longo prazo, pois medidas pontuais imediatas podem comprometer a eficiência de uma bacia hidrográfica. Portanto, o estabelecimento de princípios de sustentabilidade, para aplicação ao desenho e planejamento urbano é imprescindível, mesmo que as necessidades de cada região sejam diferenciadas quanto aos aspectos físicos (geologia real, topografia e ecologia), culturais e socioeconômicos. Esses princípios não se modificam em função de culturas, hábitos, estilos ou modismos, cabendo, então, ao projetista adotar critérios locais de acordo com o lugar e, as bio-regiões ou micro-bacias, para que as intervenções urbanas rompam com a tradição urbanística predominante que estabelece relações de densidades e morfologias, e passe a adotar estratégias de planejamento e de desenho urbano sustentáveis. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACSELRAD, Henri. A Duração das Cidades: Sustentabilidade e Risco nas populações urbanas. DP&A, Rio de Janeiro, 2001. ANDRADE, Liza et al. Princípios de Sustentabilidade aplicados às diferentes escalas territoriais da sub-bacia do Ribeirão do Torto, In : X Encontro Nacional da Anpur: Encruzilhadas do Planejamento, Repensando Teorias e Práticas, Belo Horizonte: Anais, 2003. BURSZTYN, Maria A. Gestão Ambiental, instrumentos e práticas. IBAMA, Brasília,1994.
  • 16. CAPRA, Fritjof. As conexões ocultas, ciência para um vida sustentável. Editora Pensamento- Cultrix Ltda, São Paulo, 2002. DAUNCEY, Guy + PECK, Steven. 12 Features of Sustainable Community Development: Social, Economic and Environmental Benefits and Two Case Studies, in Sustenaible Community Development in Canada, New Urban Agenda, 2001. Internet: http://www.peck.ca/nua/ EIA-RIMA- Estudo de impacto ambiental para o Centro de Atividades do Lago Norte e ligações das rodovias EPPN com a EPIA e da EPPR com EPTT, ENGEVIX/DER, Brasília, 1997. MORIN, Edgar. A cabeça bem feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Bertrand Brasil Rio de Janeiro, 8a edição, 2003. PENA-VEGA, Alfredo. O Despertar Ecológico, Edgar Morin e a ecologia complexa. Idéias Sustentáveis, Garamond, Rio de Janeiro, 2003. REGISTER, Richard. Ecocities, building cities in balance with nature. Berkeley Hills Book, Berkeley, Califórnia, , 2002. RIBAS, Otto. A sustentabilidade das cidades: os instrumentos de gestão urbana e a construção da qualidade ambiental.Tese de Doutorado, Brasília: CDS/UnB, 2003. ROGERS, Richard + GUMUCHDJIAM, Philip. Cidades para um pequeno planeta, Editorial Gustavo Gilli, Barcelona, 1997. ROMERO, Marta Adriana Bustos. A sustentabilidade do ambiente urbano da capital. In: Paviani, Aldo e Gouvêa, Luiz Alberto (orgs) Brasília: controvérsias ambientais. Editora UnB, Brasília, 2003. RUANO, Miguel. Ecourbanism: Sustainable human settlements: 60 cases studies, Editorial Gustavo Gilli, Barcelona, 2000. RUEDA, Salvador. Modelos de ciudad: indicadores básicos. Las escalas de la sostenibilidade. Quaderns – D’arquitetura e urbanismo – Collegio D’ Arquitetos de Catalunya, Barcelona, março de 2000. SACHS, Ignacy. Estratégias de transição para o século XXI: desenvolvimento e meio ambiente. Studio Nobel São Paulo,1993.