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Cândido ou o Otimismo

       Voltaire
• Não é uma obra filosófica: não possui os
  procedimentos próprios a um escrito filosófico
• É literária: Apresenta estrutura narrativa.
• Tempo
• Espaço
• Personagens
• Enredo: Situação inicial; Quebra da situação
  inicial; conflito; desenvolvimento do conflito;
  clímax; desfecho ou conclusão.
• Foco narrativo
Compreensão da linguagem literária
• Literatura e sociedade
• O estudo de uma obra literária deve ser
  precedida pelo estudo da sociedade que a
  produz.
• uma obra literária é expressão de valores,
  interesses e cultura de uma ou outra classe
  social específica.
Marx e Freud
• Marx (1983) e Freud (1978), um se referindo a
  determinação social e o outro a determinação
  individual do pensamento, demoliram o castelo
  positivista da neutralidade e da objetividade.
• Um pensador pode ser ideólogo de uma classe
  social intencionalmente ou inintencionalmente
  (ou para utilizar terminologia equivocada de
  Falcon, “conscientemente” ou
  “inconscientemente”).
Ideologia social
• O que define se alguém é ideólogo de uma
  classe social específica não é a sua
  intencionalidade e sim a coincidência de suas
  ideias com os valores e interesses desta
  classe.
• Um indivíduo tende a representar os
  interesses e valores de sua própria classe, mas
  isto não ocorre necessariamente em todos os
  casos
Voltaire e sua ideologia
• A definição de Voltaire como ideólogo da burguesia
  não pode ser feita a priori, pois é necessário
  anteriormente ver a relação de coincidência ou não
  entre suas ideias e os valores, interesses e cultura da
  burguesia. A simples constatação de coincidência, por
  sua vez, não possui valor explicativo. Para entender as
  ideias de Voltaire é necessário não só ver qual classe
  social ele representa, mas também ver quais são as
  tarefas políticas e sociais do pensamento de tal classe
  no momento histórico em que ele é produzido e assim
  buscar compreender o pensador e suas ideias.
O mundo de Voltaire
• século XVIII : pela transformação social que
  marca a transição do feudalismo para o
  capitalismo.
• O comércio cria a riqueza mobiliária
• A aristocracia é substituída pela burguesia
• Mudança cultural, moral e intelectual
• Com a ascensão da burguesia surge o
  proletariado.
Voltaire e as mudanças sociais
• Assim como combatia a intolerância, o
  clericalismo, a propriedade feudal, também
  defendia algo: a razão, a tolerância, a
  liberdade e a propriedade burguesa.
O mundo de Cândido
• A literatura se caracteriza pela utilização de
  uma linguagem simbólica, ou seja, o autor
  nunca diz o que quer dizer de forma direta,
  clara, objetiva. A metáfora, os exemplos, etc.,
  são meios de se utilizar tal linguagem. Por
  isto, não se pode ler uma obra literária como
  se fosse um tratado político ou científico e
  não se deve tomar tudo ao pé da letra. O
  autor quer sempre transmitir uma mensagem
• A ridicularização da ideologia do “melhor dos
  mundos possíveis” de Leibniz é bastante fácil
  de se perceber
• O filósofo Pangloss é a corporificação de
  Leibniz. Ele “lecionava metafísico-teólogo-
  cosmolonigologia” e era o preceptor dos filhos
  do Barão e do bastardo Cândido.
• Pangloss “provava admiravelmente que sem
  causa não há efeito, e que, neste melhor dos
  mundos possíveis, o castelo de monsenhor o
  Barão era o mais belo dos castelos, e a
  senhora baronesa a melhor das baronesas
  possíveis” (Voltaire, 1984, p. 26).
Voltaire ironiza Pangloss
• para este, as coisas não poderiam ser de outra maneira e
  tudo foi feito para um determinado fim. Os narizes
  foram feitos para apoio dos óculos, as pernas para o uso
  dos calções, os porcos para serem comidos, etc. Certo
  dia, a Srta. Cunegundes, filha do Barão, viu “o maior
  filósofo da província” (Pangloss) “entregue a uma lição
  de física experimental com a criada-grave de sua mãe” e
  “como tivesse acentuada propensão para as ciências,
  observou, de fôlego suspenso, as experiências reiteradas
  de que se fizera testemunha; percebeu muito às claras a
  razão suficiente do doutor, os efeitos e as causas, e
  afastou-se agitada, toda pensativa, toda cheia de desejo
  de ser sábia, calculando bem poder, também ela, ser a
  razão suficiente do pequeno Cândido, que poderia, por
  seu turno, ser a sua” (Voltaire, 1984, p. 27-28).
O resultado disso é previsível:
• Cunegundes “encontrou-se com Cândido, ao voltar para o
  castelo, e enrubesceu: Cândido enrubesceu também. Deu-lhe
  bom-dia com voz entrecortada; Cândido respondeu-lhe sem
  saber o que dizia. No dia seguinte, depois do jantar, ao saírem
  da mesa, Cunegundes e Cândido se encontraram atrás de um
  biombo; Cunegundes deixou cair o lenço, Cândido apanhou;
  ela, inocentemente, segurou-lhe a mão, ao passo que,
  inocentemente, ele beijava a sua, com uma vivacidade, uma
  sensibilidade, uma graça toda particular; seus lábios se
  encontraram, seus olhos se incendiaram, os joelhos lhes
  tremeram, suas mãos perderam o rumo. O senhor Barão (...)
  passou perto do biombo, e, ao ver aquela causa e tal efeito,
  expulsou Cândido do castelo a violentos pontapés no traseiro;
  Cunegundes desmaiou; depois de retemperada, esbofeteou-a
  a senhora baronesa; e tudo foi consternação no mais belo e
  no mais agradável dos castelos possíveis” (Voltaire, 1984, p.
  28).
Crítica à injustiça e à ideologia do
    “melhor dos mundos possíveis”
• Cândido foi expulso do castelo. O que significa
  o castelo? Ele significa o mundo feudal, a
  idade das trevas. O Barão “era um dos mais
  poderosos suseranos da Vestfália”. A relação
  de vassalagem está presente e a separação
  entre nobres e plebeus proíbe a união entre
  Cunegundes e Cândido. Assim, Voltaire critica,
  ao mesmo tempo, a injustiça que reina no
  castelo e a ideologia que afirma ser este o
  “melhor dos mundos possíveis”.
A Sociedade de transição não é o
    “melhor dos mundos possíveis”
• A sociedade de transição que cerca o castelo
  também não é o melhor dos mundos
  possíveis. No decorrer da narrativa se
  desenrola uma série de catástrofes que se
  abate sobre os indivíduos (Cândido, Pangloss,
  Cunegundes, etc.) e sobre as sociedades
  (guerras, terremotos). Assim, torna-se
  questionável a filosofia de Pangloss, o
  otimismo.
Mudança de foco
• A viagem ao novo mundo significa que, através de Cândido,
  Voltaire muda o foco de sua crítica. O objeto da crítica passa a
  ser Rosseau. O “homem selvagem”, bom por natureza, é
  questionado. O “mito do bom selvagem” é destruído através de
  duas constatações: em primeiro lugar, o mundo novo já foi
  corrompido pelos europeus (espanhóis, portugueses, jesuítas,
  etc.) e não existe mais nenhum “estado de natureza” no
  continente americano; em segundo lugar, o homem em seu
  estado natural não é necessariamente bom, como demonstra os
  selvagens chamados “orelhões”. Eles confundem Cândido e seu
  companheiro Cacambo com jesuítas e querem comê-los. Cândido
  afirma: “vamos certamente ser assados ou cozidos. Ah! Que diria
  mestre Pangloss, se visse a pura natureza?” (Voltaire, 1984, p.
  76). A “pura natureza” convive com o canibalismo, o principal
  argumento existente contra a bondade natural dos selvagens.
O homem não é bom e nem mau por
natureza. É através da razão que ele se
               humaniza
• Por isso, emerge no interior do novo mundo um
  lugar onde os selvagens (os não-europeus) são
  bons e civilizados: o Eldorado. Neste país
  estranho, onde se despreza o ouro e não tem
  igreja e monges, vive-se na harmonia e na paz.
  Entretanto, Cândido e Cacambo chegam neste
  lugar por acaso e levados pela correnteza
  incontrolável de um rio. Os príncipes, no
  passado, ordenaram, com o consentimento da
  nação, que nenhum habitante pudesse sair do
  reino. Segundo o rei: “foi isto que nos conservou
  a inocência e a felicidade” (Voltaire, 1984, p. 83).
• Portanto, chegar em Eldorado é quase impossível
  e tal reino se mantém puro porque os
  estrangeiros não conseguem chegar até lá e os
  habitantes não querem sair de lá. Mesmo se
  quisessem, a saída é bastante difícil. Segundo o
  rei: “é impossível subir a correnteza que aqui vos
  trouxe por milagre, sob arcadas de rochedos. As
  montanhas que circundam meu reino têm de
  altura dez mil pés, e são retas como muralhas:
  elas ocupam, de largura, cada uma, um espaço
  de mais de dez léguas; não se pode descer senão
  por precipícios” (Voltaire, 1984, p. 86).
• Entretanto, o bondoso rei manda construir uma
  máquina engenhosa para transportar os dois
  estrangeiros. O Eldorado só continua existindo graças
  ao seu isolamento. É difícil para um estrangeiro viver
  em tal lugar, apesar de suas vantagens. Por isto,
  Cândido e Cacambo resolvem partir e isto significa que
  o Eldorado não é o nosso mundo e nem foi feito para
  nós. O “paraíso terrestre” é um lugar que nos impede
  de amar (Cândido) e de aventurar-se pelo mundo
  (Cacambo), significa, portanto, um retorno ao “paraíso
  celeste”, retorno impossível após se comer o fruto da
  árvore do conhecimento.
Decadência da nobreza
• Depois de muitas outras catástrofes, Cândido retorna à
  Europa. Passam pela França, Inglaterra e chegam à
  Veneza. Lá encontram seis reis destronados. Cândido
  afirma: “eis aí, todavia, seis reis destronados com
  quem vimos de cear! E ainda entre eles há um a quem
  dei esmola. É possível existirem muitos outros
  príncipes ainda mais desventurados”(Voltaire, 1984, p.
  124). Isto significa, ao mesmo tempo, a decadência da
  nobreza provocada pela artificialidade da forma como
  ela conquista suas riquezas e a mudança na relação
  entre um nobre e um plebeu, pois, hoje, é o último
  que dá esmola ao primeiro.
Oposição entre o mundo da nobreza e
       o mundo dos plebeus
• Cândido acaba chegando a Constantinopla. Lá estão juntos
  Cândido, Pangloss, Cunegundes e outros companheiros de
  aventuras. O reencontro com Cunegundes é
  surpreendente, pois ela havia perdido sua beleza, mas,
  mesmo assim, Cândido manteria sua promessa de
  casamento. Entretanto, ele encontraria a oposição do filho
  do Barão e irmão de Cunegundes. Apesar de não ter o
  mínimo desejo de casar, Cândido estava determinado,
  devido a impertinência do Barão, a concluir sua promessa.
  Logo se desfizeram do Barão e assim puniram “o orgulho
  de um Barão alemão”. Aqui, novamente, se vê a oposição
  entre a nobreza (e o mundo feudal e das trevas que ela
  representa) e o mundo dos plebeus, do “terceiro estado”,
  da burguesia nascente.
Conclusão
• O final da obra é um elogio a vida burguesa. Depois de
  se encontrarem com um velho que cultivava o seu
  jardim e produzia sua própria riqueza através do
  trabalho, Cândido e seus amigos resolvem fazer o
  mesmo. Segundo o velho: “o trabalho afasta de nós
  três grandes males: o tédio, o vício e a necessidade”
  (Voltaire, 1984, p. 136). Cândido diz que o velho
  conseguiu uma vida preferível à dos seis reis
  destronados, ou seja, mais uma vez se opõe nobreza e
  burguesia. Assim, todos se colocam a trabalhar na
  granja de Cândido e a “fazendola rendeu muito”.
O trabalho é necessário
• O filósofo Pangloss diz: “todos os acontecimentos
  se encadeiam no melhor dos mundos possíveis;
  porque, afinal, se não tivésseis sido expulso de
  um belo castelo a grandes pontapés no traseiro,
  por amor da senhorinha Cunegundes; se não
  tivésseis ido parar em mãos da inquisição; se não
  tivésseis percorrido a América, a pé; se não
  tivésseis assestado uma boa espadada no Barão;
  se não tivésseis perdidos vossos carneiros da boa
  terra de Eldorado; não estaríeis agora comendo
  confeitos de cidra e pistachas” (Voltaire, 1984, p.
  137). Cândido respondia que é preciso trabalhar.
O trabalho é que justifica a
               propriedade.
• . Voltaire, leitor e admirador de Locke, concordava
  com este na relação que ele via entre propriedade e
  trabalho. A granja é apenas um símbolo da
  propriedade burguesa e, portanto, não expressa
  nenhuma “utopia pequeno-burguesa”. A concepção
  de Voltaire é parecida com a de Locke (1978): o
  “estado de natureza” não era tão ruim como Hobbes
  supunha, pois a instituição do “estado social” e da
  propriedade burguesa é realizada para vivermos
  “melhor”. Aliás, no final da narrativa de Cândido ou o
  Otimismo, vemos uma inversão: é o mundo da granja,
  o mundo das luzes e da burguesia, que é o “melhor dos
  mundos possíveis”.
Final feliz
• No final da narrativa de Cândido ou o Otimismo, vemos
  uma inversão: é o mundo da granja, o mundo das luzes e
  da burguesia, que é o “melhor dos mundos possíveis”.
  Leibniz é o Pangloss do feudalismo e Voltaire é o Pangloss
  do capitalismo. O primeiro Pangloss é um ideólogo da
  nobreza e o segundo é o ideólogo da burguesia. A granja
  não significa retorno à pequena propriedade (pois ela é
  símbolo da propriedade burguesa) e nem é uma “utopia
  pequeno-burguesa”, sendo, na verdade, uma ideologia
  (inversão da realidade) burguesa. O mundo burguês torna-
  se o “melhor dos mundos possíveis”. No final da narrativa,
  Voltaire abandona a crítica da nobreza para fazer a
  apologia da burguesia.
Objetivo de Voltaire
• Em síntese, podemos dizer que Cândido ou o
  Otimismo não é uma crítica ao otimismo, mas
  uma crítica ao otimismo da nobreza. No seu
  lugar instaura o otimismo das luzes. O
  objetivo de Voltaire é contrapor o século das
  luzes à idade das trevas e demonstrar a
  superioridade do primeiro. E nós, herdeiros do
  iluminismo, continuamos otimistas e vivendo
  no “melhor dos mundos possíveis”.
•   BIBLIOGRAFIA
•   Chauí , Marilena. Da Realidade sem Mistérios ao Mistério do Mundo. 3aedição, São Paulo, Brasiliense, 1983.
•   Della Volpe, Galvano. Rosseau e Marx ¾ A Liberdade Igualitária. Lisboa, Edições 70, 1982.
•   Falcon, Francisco. O Iluminismo. São Paulo, Ática, 1986.
•   Fortes, Luiz Roberto Salinas. O Iluminismo e os Reis Filósofos. 2a edição, São Paulo, Brasiliense, 1985.
•   Foucault, Michel. O Que é o Iluminismo? In: Escobar, Carlos Henrique (Org.). Michel Foucault. Dossier. Rio de
    Janeiro, Taurus, 1984.
•   Freud, Sigmund. O Futuro de Uma Ilusão. In: Col. Os Pensadores. 3aedição, São Paulo: Abril Cultural, 1978.
•   Hobbes, Thomas. Leviatã. In: col. Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1978.
•   Locke, John. Segundo Tratado sobre o Governo Civil. In: Col. Os Pensadores, São Paulo: Abril Cultural, 1978.
•   Marx, Karl. Contribuição à Crítica da Economia Política. 3a edição, São Paulo: Martins Fontes, 1983.
•   Marx, Karl. O Dezoito Brumário e Cartas a Kugelmann. 5a edição, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.
•   Rousseau, Jean-Jacques. O Contrato Social. In: Col. Os Pensadores, 4aedição, São Paulo: Nova Cultural, 1987.
•   Soubol, Albert. A Revolução Francesa. 5a edição, São Paulo, Difel, 1985.
•   Viana, Nildo. Marxismo e Proletariado. Goiânia, UFG, 1995 (Dissertação de Mestrado).
•   Voltaire, Cândido ou o Otimismo. Rio de Janeiro, Tecnoprint, 1984.
•   Weber, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. 5a edição, São Paulo, Pioneira, 1987.
•
•   http://informecritica.blogspot.com.br/2011/05/candido-de-voltaire-auto-imagem-do.html

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Cândido ou o otimismo

  • 1. Cândido ou o Otimismo Voltaire
  • 2. • Não é uma obra filosófica: não possui os procedimentos próprios a um escrito filosófico • É literária: Apresenta estrutura narrativa. • Tempo • Espaço • Personagens • Enredo: Situação inicial; Quebra da situação inicial; conflito; desenvolvimento do conflito; clímax; desfecho ou conclusão. • Foco narrativo
  • 3. Compreensão da linguagem literária • Literatura e sociedade • O estudo de uma obra literária deve ser precedida pelo estudo da sociedade que a produz. • uma obra literária é expressão de valores, interesses e cultura de uma ou outra classe social específica.
  • 4. Marx e Freud • Marx (1983) e Freud (1978), um se referindo a determinação social e o outro a determinação individual do pensamento, demoliram o castelo positivista da neutralidade e da objetividade. • Um pensador pode ser ideólogo de uma classe social intencionalmente ou inintencionalmente (ou para utilizar terminologia equivocada de Falcon, “conscientemente” ou “inconscientemente”).
  • 5. Ideologia social • O que define se alguém é ideólogo de uma classe social específica não é a sua intencionalidade e sim a coincidência de suas ideias com os valores e interesses desta classe. • Um indivíduo tende a representar os interesses e valores de sua própria classe, mas isto não ocorre necessariamente em todos os casos
  • 6. Voltaire e sua ideologia • A definição de Voltaire como ideólogo da burguesia não pode ser feita a priori, pois é necessário anteriormente ver a relação de coincidência ou não entre suas ideias e os valores, interesses e cultura da burguesia. A simples constatação de coincidência, por sua vez, não possui valor explicativo. Para entender as ideias de Voltaire é necessário não só ver qual classe social ele representa, mas também ver quais são as tarefas políticas e sociais do pensamento de tal classe no momento histórico em que ele é produzido e assim buscar compreender o pensador e suas ideias.
  • 7. O mundo de Voltaire • século XVIII : pela transformação social que marca a transição do feudalismo para o capitalismo. • O comércio cria a riqueza mobiliária • A aristocracia é substituída pela burguesia • Mudança cultural, moral e intelectual • Com a ascensão da burguesia surge o proletariado.
  • 8. Voltaire e as mudanças sociais • Assim como combatia a intolerância, o clericalismo, a propriedade feudal, também defendia algo: a razão, a tolerância, a liberdade e a propriedade burguesa.
  • 9. O mundo de Cândido • A literatura se caracteriza pela utilização de uma linguagem simbólica, ou seja, o autor nunca diz o que quer dizer de forma direta, clara, objetiva. A metáfora, os exemplos, etc., são meios de se utilizar tal linguagem. Por isto, não se pode ler uma obra literária como se fosse um tratado político ou científico e não se deve tomar tudo ao pé da letra. O autor quer sempre transmitir uma mensagem
  • 10. • A ridicularização da ideologia do “melhor dos mundos possíveis” de Leibniz é bastante fácil de se perceber • O filósofo Pangloss é a corporificação de Leibniz. Ele “lecionava metafísico-teólogo- cosmolonigologia” e era o preceptor dos filhos do Barão e do bastardo Cândido.
  • 11. • Pangloss “provava admiravelmente que sem causa não há efeito, e que, neste melhor dos mundos possíveis, o castelo de monsenhor o Barão era o mais belo dos castelos, e a senhora baronesa a melhor das baronesas possíveis” (Voltaire, 1984, p. 26).
  • 12. Voltaire ironiza Pangloss • para este, as coisas não poderiam ser de outra maneira e tudo foi feito para um determinado fim. Os narizes foram feitos para apoio dos óculos, as pernas para o uso dos calções, os porcos para serem comidos, etc. Certo dia, a Srta. Cunegundes, filha do Barão, viu “o maior filósofo da província” (Pangloss) “entregue a uma lição de física experimental com a criada-grave de sua mãe” e “como tivesse acentuada propensão para as ciências, observou, de fôlego suspenso, as experiências reiteradas de que se fizera testemunha; percebeu muito às claras a razão suficiente do doutor, os efeitos e as causas, e afastou-se agitada, toda pensativa, toda cheia de desejo de ser sábia, calculando bem poder, também ela, ser a razão suficiente do pequeno Cândido, que poderia, por seu turno, ser a sua” (Voltaire, 1984, p. 27-28).
  • 13. O resultado disso é previsível: • Cunegundes “encontrou-se com Cândido, ao voltar para o castelo, e enrubesceu: Cândido enrubesceu também. Deu-lhe bom-dia com voz entrecortada; Cândido respondeu-lhe sem saber o que dizia. No dia seguinte, depois do jantar, ao saírem da mesa, Cunegundes e Cândido se encontraram atrás de um biombo; Cunegundes deixou cair o lenço, Cândido apanhou; ela, inocentemente, segurou-lhe a mão, ao passo que, inocentemente, ele beijava a sua, com uma vivacidade, uma sensibilidade, uma graça toda particular; seus lábios se encontraram, seus olhos se incendiaram, os joelhos lhes tremeram, suas mãos perderam o rumo. O senhor Barão (...) passou perto do biombo, e, ao ver aquela causa e tal efeito, expulsou Cândido do castelo a violentos pontapés no traseiro; Cunegundes desmaiou; depois de retemperada, esbofeteou-a a senhora baronesa; e tudo foi consternação no mais belo e no mais agradável dos castelos possíveis” (Voltaire, 1984, p. 28).
  • 14. Crítica à injustiça e à ideologia do “melhor dos mundos possíveis” • Cândido foi expulso do castelo. O que significa o castelo? Ele significa o mundo feudal, a idade das trevas. O Barão “era um dos mais poderosos suseranos da Vestfália”. A relação de vassalagem está presente e a separação entre nobres e plebeus proíbe a união entre Cunegundes e Cândido. Assim, Voltaire critica, ao mesmo tempo, a injustiça que reina no castelo e a ideologia que afirma ser este o “melhor dos mundos possíveis”.
  • 15. A Sociedade de transição não é o “melhor dos mundos possíveis” • A sociedade de transição que cerca o castelo também não é o melhor dos mundos possíveis. No decorrer da narrativa se desenrola uma série de catástrofes que se abate sobre os indivíduos (Cândido, Pangloss, Cunegundes, etc.) e sobre as sociedades (guerras, terremotos). Assim, torna-se questionável a filosofia de Pangloss, o otimismo.
  • 16. Mudança de foco • A viagem ao novo mundo significa que, através de Cândido, Voltaire muda o foco de sua crítica. O objeto da crítica passa a ser Rosseau. O “homem selvagem”, bom por natureza, é questionado. O “mito do bom selvagem” é destruído através de duas constatações: em primeiro lugar, o mundo novo já foi corrompido pelos europeus (espanhóis, portugueses, jesuítas, etc.) e não existe mais nenhum “estado de natureza” no continente americano; em segundo lugar, o homem em seu estado natural não é necessariamente bom, como demonstra os selvagens chamados “orelhões”. Eles confundem Cândido e seu companheiro Cacambo com jesuítas e querem comê-los. Cândido afirma: “vamos certamente ser assados ou cozidos. Ah! Que diria mestre Pangloss, se visse a pura natureza?” (Voltaire, 1984, p. 76). A “pura natureza” convive com o canibalismo, o principal argumento existente contra a bondade natural dos selvagens.
  • 17. O homem não é bom e nem mau por natureza. É através da razão que ele se humaniza • Por isso, emerge no interior do novo mundo um lugar onde os selvagens (os não-europeus) são bons e civilizados: o Eldorado. Neste país estranho, onde se despreza o ouro e não tem igreja e monges, vive-se na harmonia e na paz. Entretanto, Cândido e Cacambo chegam neste lugar por acaso e levados pela correnteza incontrolável de um rio. Os príncipes, no passado, ordenaram, com o consentimento da nação, que nenhum habitante pudesse sair do reino. Segundo o rei: “foi isto que nos conservou a inocência e a felicidade” (Voltaire, 1984, p. 83).
  • 18. • Portanto, chegar em Eldorado é quase impossível e tal reino se mantém puro porque os estrangeiros não conseguem chegar até lá e os habitantes não querem sair de lá. Mesmo se quisessem, a saída é bastante difícil. Segundo o rei: “é impossível subir a correnteza que aqui vos trouxe por milagre, sob arcadas de rochedos. As montanhas que circundam meu reino têm de altura dez mil pés, e são retas como muralhas: elas ocupam, de largura, cada uma, um espaço de mais de dez léguas; não se pode descer senão por precipícios” (Voltaire, 1984, p. 86).
  • 19. • Entretanto, o bondoso rei manda construir uma máquina engenhosa para transportar os dois estrangeiros. O Eldorado só continua existindo graças ao seu isolamento. É difícil para um estrangeiro viver em tal lugar, apesar de suas vantagens. Por isto, Cândido e Cacambo resolvem partir e isto significa que o Eldorado não é o nosso mundo e nem foi feito para nós. O “paraíso terrestre” é um lugar que nos impede de amar (Cândido) e de aventurar-se pelo mundo (Cacambo), significa, portanto, um retorno ao “paraíso celeste”, retorno impossível após se comer o fruto da árvore do conhecimento.
  • 20. Decadência da nobreza • Depois de muitas outras catástrofes, Cândido retorna à Europa. Passam pela França, Inglaterra e chegam à Veneza. Lá encontram seis reis destronados. Cândido afirma: “eis aí, todavia, seis reis destronados com quem vimos de cear! E ainda entre eles há um a quem dei esmola. É possível existirem muitos outros príncipes ainda mais desventurados”(Voltaire, 1984, p. 124). Isto significa, ao mesmo tempo, a decadência da nobreza provocada pela artificialidade da forma como ela conquista suas riquezas e a mudança na relação entre um nobre e um plebeu, pois, hoje, é o último que dá esmola ao primeiro.
  • 21. Oposição entre o mundo da nobreza e o mundo dos plebeus • Cândido acaba chegando a Constantinopla. Lá estão juntos Cândido, Pangloss, Cunegundes e outros companheiros de aventuras. O reencontro com Cunegundes é surpreendente, pois ela havia perdido sua beleza, mas, mesmo assim, Cândido manteria sua promessa de casamento. Entretanto, ele encontraria a oposição do filho do Barão e irmão de Cunegundes. Apesar de não ter o mínimo desejo de casar, Cândido estava determinado, devido a impertinência do Barão, a concluir sua promessa. Logo se desfizeram do Barão e assim puniram “o orgulho de um Barão alemão”. Aqui, novamente, se vê a oposição entre a nobreza (e o mundo feudal e das trevas que ela representa) e o mundo dos plebeus, do “terceiro estado”, da burguesia nascente.
  • 22. Conclusão • O final da obra é um elogio a vida burguesa. Depois de se encontrarem com um velho que cultivava o seu jardim e produzia sua própria riqueza através do trabalho, Cândido e seus amigos resolvem fazer o mesmo. Segundo o velho: “o trabalho afasta de nós três grandes males: o tédio, o vício e a necessidade” (Voltaire, 1984, p. 136). Cândido diz que o velho conseguiu uma vida preferível à dos seis reis destronados, ou seja, mais uma vez se opõe nobreza e burguesia. Assim, todos se colocam a trabalhar na granja de Cândido e a “fazendola rendeu muito”.
  • 23. O trabalho é necessário • O filósofo Pangloss diz: “todos os acontecimentos se encadeiam no melhor dos mundos possíveis; porque, afinal, se não tivésseis sido expulso de um belo castelo a grandes pontapés no traseiro, por amor da senhorinha Cunegundes; se não tivésseis ido parar em mãos da inquisição; se não tivésseis percorrido a América, a pé; se não tivésseis assestado uma boa espadada no Barão; se não tivésseis perdidos vossos carneiros da boa terra de Eldorado; não estaríeis agora comendo confeitos de cidra e pistachas” (Voltaire, 1984, p. 137). Cândido respondia que é preciso trabalhar.
  • 24. O trabalho é que justifica a propriedade. • . Voltaire, leitor e admirador de Locke, concordava com este na relação que ele via entre propriedade e trabalho. A granja é apenas um símbolo da propriedade burguesa e, portanto, não expressa nenhuma “utopia pequeno-burguesa”. A concepção de Voltaire é parecida com a de Locke (1978): o “estado de natureza” não era tão ruim como Hobbes supunha, pois a instituição do “estado social” e da propriedade burguesa é realizada para vivermos “melhor”. Aliás, no final da narrativa de Cândido ou o Otimismo, vemos uma inversão: é o mundo da granja, o mundo das luzes e da burguesia, que é o “melhor dos mundos possíveis”.
  • 25. Final feliz • No final da narrativa de Cândido ou o Otimismo, vemos uma inversão: é o mundo da granja, o mundo das luzes e da burguesia, que é o “melhor dos mundos possíveis”. Leibniz é o Pangloss do feudalismo e Voltaire é o Pangloss do capitalismo. O primeiro Pangloss é um ideólogo da nobreza e o segundo é o ideólogo da burguesia. A granja não significa retorno à pequena propriedade (pois ela é símbolo da propriedade burguesa) e nem é uma “utopia pequeno-burguesa”, sendo, na verdade, uma ideologia (inversão da realidade) burguesa. O mundo burguês torna- se o “melhor dos mundos possíveis”. No final da narrativa, Voltaire abandona a crítica da nobreza para fazer a apologia da burguesia.
  • 26. Objetivo de Voltaire • Em síntese, podemos dizer que Cândido ou o Otimismo não é uma crítica ao otimismo, mas uma crítica ao otimismo da nobreza. No seu lugar instaura o otimismo das luzes. O objetivo de Voltaire é contrapor o século das luzes à idade das trevas e demonstrar a superioridade do primeiro. E nós, herdeiros do iluminismo, continuamos otimistas e vivendo no “melhor dos mundos possíveis”.
  • 27. BIBLIOGRAFIA • Chauí , Marilena. Da Realidade sem Mistérios ao Mistério do Mundo. 3aedição, São Paulo, Brasiliense, 1983. • Della Volpe, Galvano. Rosseau e Marx ¾ A Liberdade Igualitária. Lisboa, Edições 70, 1982. • Falcon, Francisco. O Iluminismo. São Paulo, Ática, 1986. • Fortes, Luiz Roberto Salinas. O Iluminismo e os Reis Filósofos. 2a edição, São Paulo, Brasiliense, 1985. • Foucault, Michel. O Que é o Iluminismo? In: Escobar, Carlos Henrique (Org.). Michel Foucault. Dossier. Rio de Janeiro, Taurus, 1984. • Freud, Sigmund. O Futuro de Uma Ilusão. In: Col. Os Pensadores. 3aedição, São Paulo: Abril Cultural, 1978. • Hobbes, Thomas. Leviatã. In: col. Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1978. • Locke, John. Segundo Tratado sobre o Governo Civil. In: Col. Os Pensadores, São Paulo: Abril Cultural, 1978. • Marx, Karl. Contribuição à Crítica da Economia Política. 3a edição, São Paulo: Martins Fontes, 1983. • Marx, Karl. O Dezoito Brumário e Cartas a Kugelmann. 5a edição, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986. • Rousseau, Jean-Jacques. O Contrato Social. In: Col. Os Pensadores, 4aedição, São Paulo: Nova Cultural, 1987. • Soubol, Albert. A Revolução Francesa. 5a edição, São Paulo, Difel, 1985. • Viana, Nildo. Marxismo e Proletariado. Goiânia, UFG, 1995 (Dissertação de Mestrado). • Voltaire, Cândido ou o Otimismo. Rio de Janeiro, Tecnoprint, 1984. • Weber, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. 5a edição, São Paulo, Pioneira, 1987. • • http://informecritica.blogspot.com.br/2011/05/candido-de-voltaire-auto-imagem-do.html