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ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS NA ESCOLA:
DIMENSÃO DO PROBLEMA E
PROCEDIMENTOS
Palestrantes:
Dra. Camila Magalhães Silveira
Dr. Dartiu Xavier
Dr. Marcelo Sodelli
Objetivo da mesa:
 O consumo de substâncias psicoativas é um dos problemas mais
citados por educadores. Este foi o objeto de discussão da mesa, que
buscou apresentar modelos de prevenção ao uso de álcool e outras
drogas no ambiente escolar a partir do dimensionamento mais preciso
dos diversos padrões de consumo e, consequentemente, de seus riscos.
Camila Magalhães Silveira
 Médica psiquiatra pesquisadora do Programa do Grupo Interdisciplinar
de Estudos de Álcool e Drogas (GREA-IPq-HC-FMUSP), do Núcleo de
Epidemiologia Psiquiátrica do Departamento, do Instituto de Psiquiatria
do HCFMUSP (NEP-IPq-HC-FMUSP) e coordenadora do CISA – Centro de
Informações sobre Saúde e Álcool.
 A Dra Camila divulgou dados e enfatizou a importância da prevenção, a
qual deve ter início já nas primeiras relações, que são em casa e na
escola. Em um período repleto de mudanças físicas, psicológicas e
sociais, os jovens estão mais suscetíveis aos danos causados pelo álcool
e pelas drogas, e mais propensos a comportamentos de risco.
 Para a Dra Camila, a dependência do álcool é um transtorno
complexo, que envolve aspectos genéticos, psicológicos e socioculturais.
Entretanto,as ações, palavras e opções dos pais e familiares com relação
ao consumo de álcool também exercem uma grande influência nas
crianças e adolescentes.
Diferenças
 Camila explicou que existem diferentes graus de uso. De um lado, a
abstinência. Na outra ponta, a dependência química. A capacidade de
viciar também muda entre as substâncias. No caso do álcool, do total
de consumidores, por volta de 3% dos usuários desenvolvem
dependência. No Brasil, a idade média para o primeiro gole é de 15
anos.
“Enquanto a dependência para o crack é extremamente rápida, para o
álcool chega a levar de nove a dez anos para se instalar. Segundo a
Organização Mundial da Saúde (OMS), o álcool é a substância que
mais mata no mundo, se consumida de forma abusiva.
Prevenção:
 Uma das saídas, é detectar precocemente a fim de diminuir os
impacto, sobretudo quando se trata de crianças e adolescentes. Quanto
mais cedo o contato, maior é o risco de dependência. “Postergar o
contato com a droga é fundamental, porque é na adolescência que
acontece a maturação do funcionamento cognitivo, da fala, da atenção
e da memória”, adverte.
Dartiu Xavier
 Graduado pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Mestrado
e Doutorado em Psiquiatria e Psicologia Médica pela UNIFESP. É
Professor livre-docente da UNIFESP e Consultor do Ministério da saúde.
 Xavier levantou dados históricos para demonstrar as consequências das
políticas proibicionistas. Segundo ele, na época da Lei Seca
estadounidense – proibição da comercialização de álcool em todo o
país, ocorrida entre 1920 e 1933 –, por volta de cem mil pessoas
morreram ao consumir a substância por via endovenosa. Como o acesso
era muito mais difícil, quem conseguia queria experimentar pela forma
mais intensa, o que invariavelmente levava as pessoas à morte.
 Para Dartiu Xavier, um programa de prevenção nas escolas não pode
abordar o tema em palestras de forma repressiva, mas ressaltar a
promoção da saúde.
Saúde:
 Mudar o foco: no lugar da droga, ressaltar a promoção da saúde. Do
enfoque estritamente médico, pensar na participação e
corresponsabilidade do sujeito nos cuidados consigo mesmo. Esta é a
perspectiva do psiquiatra e especialista em dependência química. “Ao invés
da droga, tratar da qualidade de vida”.
 Como alternativa, Dartiu apresentou políticas de redução de
danos, voltada a diminuir os prejuízos biológicos, sociais e econômicos do
uso de drogas – inclusive as lícitas. “Cerca de 65% dos dependentes não
conseguem abandonar a droga. Mas muitos conseguem mudar a maneira
de consumo, tornando-a menos prejudicial e prosseguindo em uma vida
produtiva e criativa, sem que a droga seja um impedimento”.
Focar no indivíduo, na consolidação dos seus vínculos sociais, pode ser
uma boa estratégia a ser adotada pelas escolas. “Um adolescente mal na
própria pele é um prato cheio para se tornar um dependente. Mas, se ao
contrário, ele estiver fortalecido, mesmo que experimente, o mais provável
é que se torne um usuário ocasional de droga”, conclui.
Marcelo Sodelli
 Doutor e mestre em Psicologia da Educação pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC-SP). Docente e pesquisador do curso de
Psicologia da PUC-SP. Membro da Sociedade Brasileira de Fenomenologia.
Presidente da ABRAMD - Associação Brasileira Multidisciplinar de Estudos
sobre Drogas. Membro do COED – Coordenação Estadual de Políticas
Públicas Sobre Drogas – SP. Autor de vários artigos científicos e do livro
“Uso de Drogas e Prevenção”.
 O Dr. Marcelo defende que é inerente ao sujeito provar, desde a
infância, diferentes estados de consciência. “Basta observar a alegria que
uma criança experimenta ao torcer as correntes de um balanço e depois
sair andando tonta do brinquedo.”
Um mundo livre de drogas?
 De acordo com o Dr. Marcelo, “nós não vamos acabar com as
drogas, nunca existiu um mundo livre das drogas”.
 Em primeiro lugar é importante repensarmos alguns conceitos que podem
nos auxiliar a esclarecer certos enganos. Falamos diversas vezes a palavra
drogas, mas o que são drogas?
 Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), drogas são substâncias que
provocam algum tipo de reação no sistema nervoso central. Assim, quando
falamos em drogas, estamos nos referindo as drogas: ilícitas como a
maconha, cocaína, crack, etc e as drogas lícitas como a
cafeína, álcool, tabaco e os remédios
(antidepressivos, anabolizantes,reguladores de apetite, etc).
Medidas de prevenção nas escolas
 Para resistir à vulnerabilidade social, reflete o psicologo, a escola deveria
assumir o papel que lhe cabe, ou seja, ensinar a pensar. “É fundamental
ensinar a fazer escolhas que façam sentido, sobretudo para si mesmo”.
Dessa forma, aprende-se ao invés do medo o cuidado consigo.
A proposta é que o professor adote para cada sala de aula, a cada
ano, uma dinâmica própria de prevenção, levando em conta as respostas
daqueles que são o alvo da ação. “Reduzir vulnerabilidades passa por
pensar estratégias que sejam específicas de acordo com cada grupo ou
turma”, defende.

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Resumo do 1º seminário de proteção Escolar

  • 1.
  • 2. ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS NA ESCOLA: DIMENSÃO DO PROBLEMA E PROCEDIMENTOS Palestrantes: Dra. Camila Magalhães Silveira Dr. Dartiu Xavier Dr. Marcelo Sodelli
  • 3. Objetivo da mesa:  O consumo de substâncias psicoativas é um dos problemas mais citados por educadores. Este foi o objeto de discussão da mesa, que buscou apresentar modelos de prevenção ao uso de álcool e outras drogas no ambiente escolar a partir do dimensionamento mais preciso dos diversos padrões de consumo e, consequentemente, de seus riscos.
  • 4. Camila Magalhães Silveira  Médica psiquiatra pesquisadora do Programa do Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas (GREA-IPq-HC-FMUSP), do Núcleo de Epidemiologia Psiquiátrica do Departamento, do Instituto de Psiquiatria do HCFMUSP (NEP-IPq-HC-FMUSP) e coordenadora do CISA – Centro de Informações sobre Saúde e Álcool.  A Dra Camila divulgou dados e enfatizou a importância da prevenção, a qual deve ter início já nas primeiras relações, que são em casa e na escola. Em um período repleto de mudanças físicas, psicológicas e sociais, os jovens estão mais suscetíveis aos danos causados pelo álcool e pelas drogas, e mais propensos a comportamentos de risco.  Para a Dra Camila, a dependência do álcool é um transtorno complexo, que envolve aspectos genéticos, psicológicos e socioculturais. Entretanto,as ações, palavras e opções dos pais e familiares com relação ao consumo de álcool também exercem uma grande influência nas crianças e adolescentes.
  • 5. Diferenças  Camila explicou que existem diferentes graus de uso. De um lado, a abstinência. Na outra ponta, a dependência química. A capacidade de viciar também muda entre as substâncias. No caso do álcool, do total de consumidores, por volta de 3% dos usuários desenvolvem dependência. No Brasil, a idade média para o primeiro gole é de 15 anos. “Enquanto a dependência para o crack é extremamente rápida, para o álcool chega a levar de nove a dez anos para se instalar. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o álcool é a substância que mais mata no mundo, se consumida de forma abusiva.
  • 6. Prevenção:  Uma das saídas, é detectar precocemente a fim de diminuir os impacto, sobretudo quando se trata de crianças e adolescentes. Quanto mais cedo o contato, maior é o risco de dependência. “Postergar o contato com a droga é fundamental, porque é na adolescência que acontece a maturação do funcionamento cognitivo, da fala, da atenção e da memória”, adverte.
  • 7. Dartiu Xavier  Graduado pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Mestrado e Doutorado em Psiquiatria e Psicologia Médica pela UNIFESP. É Professor livre-docente da UNIFESP e Consultor do Ministério da saúde.  Xavier levantou dados históricos para demonstrar as consequências das políticas proibicionistas. Segundo ele, na época da Lei Seca estadounidense – proibição da comercialização de álcool em todo o país, ocorrida entre 1920 e 1933 –, por volta de cem mil pessoas morreram ao consumir a substância por via endovenosa. Como o acesso era muito mais difícil, quem conseguia queria experimentar pela forma mais intensa, o que invariavelmente levava as pessoas à morte.  Para Dartiu Xavier, um programa de prevenção nas escolas não pode abordar o tema em palestras de forma repressiva, mas ressaltar a promoção da saúde.
  • 8. Saúde:  Mudar o foco: no lugar da droga, ressaltar a promoção da saúde. Do enfoque estritamente médico, pensar na participação e corresponsabilidade do sujeito nos cuidados consigo mesmo. Esta é a perspectiva do psiquiatra e especialista em dependência química. “Ao invés da droga, tratar da qualidade de vida”.  Como alternativa, Dartiu apresentou políticas de redução de danos, voltada a diminuir os prejuízos biológicos, sociais e econômicos do uso de drogas – inclusive as lícitas. “Cerca de 65% dos dependentes não conseguem abandonar a droga. Mas muitos conseguem mudar a maneira de consumo, tornando-a menos prejudicial e prosseguindo em uma vida produtiva e criativa, sem que a droga seja um impedimento”. Focar no indivíduo, na consolidação dos seus vínculos sociais, pode ser uma boa estratégia a ser adotada pelas escolas. “Um adolescente mal na própria pele é um prato cheio para se tornar um dependente. Mas, se ao contrário, ele estiver fortalecido, mesmo que experimente, o mais provável é que se torne um usuário ocasional de droga”, conclui.
  • 9. Marcelo Sodelli  Doutor e mestre em Psicologia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Docente e pesquisador do curso de Psicologia da PUC-SP. Membro da Sociedade Brasileira de Fenomenologia. Presidente da ABRAMD - Associação Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas. Membro do COED – Coordenação Estadual de Políticas Públicas Sobre Drogas – SP. Autor de vários artigos científicos e do livro “Uso de Drogas e Prevenção”.  O Dr. Marcelo defende que é inerente ao sujeito provar, desde a infância, diferentes estados de consciência. “Basta observar a alegria que uma criança experimenta ao torcer as correntes de um balanço e depois sair andando tonta do brinquedo.”
  • 10. Um mundo livre de drogas?  De acordo com o Dr. Marcelo, “nós não vamos acabar com as drogas, nunca existiu um mundo livre das drogas”.  Em primeiro lugar é importante repensarmos alguns conceitos que podem nos auxiliar a esclarecer certos enganos. Falamos diversas vezes a palavra drogas, mas o que são drogas?  Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), drogas são substâncias que provocam algum tipo de reação no sistema nervoso central. Assim, quando falamos em drogas, estamos nos referindo as drogas: ilícitas como a maconha, cocaína, crack, etc e as drogas lícitas como a cafeína, álcool, tabaco e os remédios (antidepressivos, anabolizantes,reguladores de apetite, etc).
  • 11. Medidas de prevenção nas escolas  Para resistir à vulnerabilidade social, reflete o psicologo, a escola deveria assumir o papel que lhe cabe, ou seja, ensinar a pensar. “É fundamental ensinar a fazer escolhas que façam sentido, sobretudo para si mesmo”. Dessa forma, aprende-se ao invés do medo o cuidado consigo. A proposta é que o professor adote para cada sala de aula, a cada ano, uma dinâmica própria de prevenção, levando em conta as respostas daqueles que são o alvo da ação. “Reduzir vulnerabilidades passa por pensar estratégias que sejam específicas de acordo com cada grupo ou turma”, defende.