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Aos pés do Hindu Kusk
Por Desmond R. Martin, escrito por Taslin, resumido por S
Mayo 30/Muharran 7, 1963 M.
Encravado nesta parte da Ásia Central, onde a União
Soviética, a China, a Pérsia e o Paquistão quase se tocam, o
montanhoso reino do Afeganistão certamente pode ser
considerado como uma das nações em desenvolvimento.
Entretanto, apesar dos enormes projetos novos de
agricultura, irrigação e educação, aplicados tanto por
Afegãos como por técnicos de vários países, a herança de
uma dúzia de culturas, cem invasões militares e um milhar
de cultos ainda está presente aqui.
Há pouco tempo eu me encontrava passeando num
bosquezinho de amoreiras, que poderia ser um jardim Inglês
se não me avistasse ao longo os picos foscos do Hindu Kush
ou as túnicas dos monges da comunidade Sarmoun.
Desde muitos séculos instalados ao norte do
Afeganistão, a irmandade (e a confraria de mulheres à qual
está associada) mantém esse estabelecimento como uma
espécie de retiro campestre, onde os aspirantes são treinados
nas antigas artes dos serviços e da autodisciplina,
características do culto. Os monges anciãos e os membros
leigos, que procedem de lugares tão afastados como Tunis ou
Armênia, para cá se dirigem, em sua última peregrinação ao
venerado lugar de Musa o Paciente, a peregrinação do retiro.
Os Sarmouni (o nome significa “As Abelhas”) foram
freqüentemente acusados de serem cristãos disfarçados,
budistas, sectários muçulmanos, ou de abrigarem crenças
ainda mais antigas, segundo alguns, derivadas da Babilônia.
Outros garantem que seu ensinamento sobreviveu ao Dilúvio;
mas eu não seria capaz de dizer qual dilúvio.
Entretanto, como suas homônimas, os membros
da ordem não são argumentativos, se ocupando tão
somente de realizar os termos de seu lema: ”O trabalho
produz uma doce Essência” (Amal misazad yak zaati
shirin).
Com apenas uma interrupção – à época da
invasão de Gengis Khan ao longo do Amu Daria, ao
norte, quando Balkh, a “Mãe das Cidades”, não foi
destruída – eles parecem estar vivendo aqui há tento
tempo, que não restam mais registros de suas origens.
De quanto pude observar, sua vida é boa. Muitos dos
exercícios devocionais, tais como o “Zikr” comunal, ou
o Recordativo, se realizam privadamente.
Sobre um muro recoberto de branco mármore afegão,
brilhava o símbolo da comunidade, traçado em rubis polidos.
Este é o místico “No-Koonja”, o eneágono Naqs ou “sinal”,
um emblema que mais tarde eu veria bordado de várias
formas nas roupas. Segundo me foi informado essa figura
revela o segredo mais interno do homem.
Seu funcionamento só pode ser manifestado, no tempo
preciso e sob condições especiais, pelo Senhor do Tempo, o
chefe da comunidade. Infelizmente ele estava ausente. De
qualquer forma, ele não residia neste monastério, e sim em
outro lugar, muito secreto, chamado Aubshaur. A eles se
referiam com grande respeito, como uma espécie de
encarnação humana de todos os mestres. È o Surkaur, o
“Guia do trabalho”.
Posto que o mármore, os rubis e o “lápis-lazúli” são
explorados nas minas do Afeganistão e muitos dos mineiros e
exploradores das minas são seguidores dos Sarmoun, este
extraordinário dote de riqueza não era estranho, como me
pareceu a princípio.
Existem muitas lendas a respeito do Sarmoun-Dargauh
(“Corte das Abelhas”) e uma delas é esta. O verdadeiro
conhecimento, se afirma, está presente com uma indiscutível
comodidade, como o mel das abelhas. Como o mel, pode ser
acumulado. Entretanto, de quando em quando na História
humana, ele permanece sem ser utilizado e começa a ser
esquecido. Nestas ocasiões, os Sarmonis e seus associados em
todo o mundo o recolhem e armazenam em um recipiente
especial. Logo, quando o tempo é adequado, o liberam ao
mundo de novo, através de emissários especialmente
treinados.
Quando os chefes dos narradores, de barba cinza,
relatou-me isto pensei que não era apenas no ocidente que
perduravam lenda a respeito de um conhecimento superior.
Não foi muito explicito quando comecei a interroga-lo
tentando ver até que ponto tinha desenvolvido a sua doutrina.
Haveria alguns desses emissários na Europa? Havia
um, mas não devia falar sobre ele. Mas certamente ajudaria a
todos, se ele fosse publicamente reconhecido. Pelo contrário,
poderia ser um desastre, me informaram.
Ele precisava “trabalhar com uma abelha, em
particular” Poderia um visitante como eu experimentar um
pouco de “mel”? Não, e, coisa estranha, eu menos que
ninguém pois já havia ouvido e visto tanto que não poderia
receber mais.
“Não reparou que não lhe permitimos sequer tirar
fotografias, enquanto a outros estrangeiros sim, essa
permissão foi dada?” Eu havia visto os tesouros e isto era o
máximo que alguém podia obter.
Numa outra tarde assisti á representação da formosa
“Cerimônia da Chave”. Ao pôr do sol, nos reunimos, várias
dezenas de pessoas, sob a direção do “Mestre de
Cerimônias”, resplandecente numa túnica de aplicações
retangulares, intrincadamente bordada. À luz do sol poente
um derviche com braços cruzados, as mãos sobre os ombros,
plantou-se em frente ao Abade, que celebrava em lugar do
Surkaur.
Ao ser-lhe entregue uma grande chave, avançou até
uma porta entalhada, presa numa grande estrutura
quadrada de madeira, uma peça de cenário, decorada com
bandeiras, mastros e outros símbolos de poder e autoridade.
Introduziu a chave em uma fechadura ornamentada e girou.
Imediatamente, por meio de uma inteligente obra de
engenharia, a estrutura inteira se separou. A cena era
iluminada por uma procissão de homens carregando velas e
entoando o cântico Said em homenagem aos mestres. Logo
vimos que as peças da caixa giravam sobre eixos e se re-
agrupavam de diversas formas; a cena se transformou
completamente. Jardins, hortos, pássaros voando e outros
temas. Trabalhos em madeira e tela pintada substituíam a
gora a estrutura retangular.
O significado da apresentação foi-me explicado. Era
uma alegoria, baseada na idéia de que todo o ensinamento é
transformado, pela humanidade, em algo tão inatural e
institucionalizado como aquela caixa. “A Chave do Homem
Verdadeiro abre para a verdadeira alegria e significado da
vida”.
Se semelhante processo pudesse descer dos domínios
do pensamento e realizar-se no plano material... Se
unicamente pudesse aplicar-se ao nosso panorama ocidental,
onde o homem transforma cada pedaço de paisagem sobre o
qual constrói casas em algo não-natural e
institucionalizado, de modo que assim o feio e rígido edifício
fosse também transformado num passe de mágica... disse
isto ao Abade.
“O homem pode e fará isso”, disse ele, “quando possa
trabalhar da maneira adequada e com tanta energia quanto
a que os inimigos da paisagem despendem na sua obra”.
Tive de dizer-lhe que, em nosso país pelo menos,
trabalhávamos mais para a prevenção que para a
restauração.
“E por que não para ambos?”, foi tudo que disse.
Estou reconstruindo os passos que percorri naquele
tempo, porque fui convidado a fazê-lo e porque me dou
conta de quão importante é faze-lo.
Não se deve pressupor que meu estado atual seja
semelhante àqueles que me encontrava anteriormente, ao
realizar as investigações.
Naquela ocasião eu estava trabalhando de uma
maneira inteiramente racional. Ignorava as possibilidades
da percepção direta do fato.
Por esse motivo usei os instrumentos, os meios que
estavam ao meu alcance, para encontrar a pista dos
mestres, através do que de fato são métodos normais de
investigação.
Hoje em dia minha abordagem e a história seriam
diferentes. Aqueles que lerem estas palavras, fruto da
mentalidade de um estado anterior, devem recordar que
mesmo que este seja o estado no qual eles se encontram neste
momento (sua estação), o meu já não é o mesmo.
O deles também passará por uma mudança através da
qual, por meio da percepção direta, poderão ver as origens de
seu ensinamento e manter contato com ele, sem os métodos
primários que usamos atualmente para fazer intercâmbios.
Bibliografia:
Textos Sufis (Kalendar Ediciones, Nunes 25300, Buenos Aires) tradução Grace Alves Ferreira (Edições Dervish)
Meus agradecimentos á amiga Vanda Blazina pelos meios que tornaram possível esta pequena apresentação de
uma grande obra Sufi.
www.apollo.org -Centro de Porto Alegre

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Aos pés do hindu kusk

  • 1.
  • 2. Aos pés do Hindu Kusk Por Desmond R. Martin, escrito por Taslin, resumido por S Mayo 30/Muharran 7, 1963 M.
  • 3. Encravado nesta parte da Ásia Central, onde a União Soviética, a China, a Pérsia e o Paquistão quase se tocam, o montanhoso reino do Afeganistão certamente pode ser considerado como uma das nações em desenvolvimento. Entretanto, apesar dos enormes projetos novos de agricultura, irrigação e educação, aplicados tanto por Afegãos como por técnicos de vários países, a herança de uma dúzia de culturas, cem invasões militares e um milhar de cultos ainda está presente aqui. Há pouco tempo eu me encontrava passeando num bosquezinho de amoreiras, que poderia ser um jardim Inglês se não me avistasse ao longo os picos foscos do Hindu Kush ou as túnicas dos monges da comunidade Sarmoun.
  • 4. Desde muitos séculos instalados ao norte do Afeganistão, a irmandade (e a confraria de mulheres à qual está associada) mantém esse estabelecimento como uma espécie de retiro campestre, onde os aspirantes são treinados nas antigas artes dos serviços e da autodisciplina, características do culto. Os monges anciãos e os membros leigos, que procedem de lugares tão afastados como Tunis ou Armênia, para cá se dirigem, em sua última peregrinação ao venerado lugar de Musa o Paciente, a peregrinação do retiro. Os Sarmouni (o nome significa “As Abelhas”) foram freqüentemente acusados de serem cristãos disfarçados, budistas, sectários muçulmanos, ou de abrigarem crenças ainda mais antigas, segundo alguns, derivadas da Babilônia. Outros garantem que seu ensinamento sobreviveu ao Dilúvio; mas eu não seria capaz de dizer qual dilúvio.
  • 5. Entretanto, como suas homônimas, os membros da ordem não são argumentativos, se ocupando tão somente de realizar os termos de seu lema: ”O trabalho produz uma doce Essência” (Amal misazad yak zaati shirin). Com apenas uma interrupção – à época da invasão de Gengis Khan ao longo do Amu Daria, ao norte, quando Balkh, a “Mãe das Cidades”, não foi destruída – eles parecem estar vivendo aqui há tento tempo, que não restam mais registros de suas origens. De quanto pude observar, sua vida é boa. Muitos dos exercícios devocionais, tais como o “Zikr” comunal, ou o Recordativo, se realizam privadamente.
  • 6. Sobre um muro recoberto de branco mármore afegão, brilhava o símbolo da comunidade, traçado em rubis polidos. Este é o místico “No-Koonja”, o eneágono Naqs ou “sinal”, um emblema que mais tarde eu veria bordado de várias formas nas roupas. Segundo me foi informado essa figura revela o segredo mais interno do homem. Seu funcionamento só pode ser manifestado, no tempo preciso e sob condições especiais, pelo Senhor do Tempo, o chefe da comunidade. Infelizmente ele estava ausente. De qualquer forma, ele não residia neste monastério, e sim em outro lugar, muito secreto, chamado Aubshaur. A eles se referiam com grande respeito, como uma espécie de encarnação humana de todos os mestres. È o Surkaur, o “Guia do trabalho”.
  • 7. Posto que o mármore, os rubis e o “lápis-lazúli” são explorados nas minas do Afeganistão e muitos dos mineiros e exploradores das minas são seguidores dos Sarmoun, este extraordinário dote de riqueza não era estranho, como me pareceu a princípio. Existem muitas lendas a respeito do Sarmoun-Dargauh (“Corte das Abelhas”) e uma delas é esta. O verdadeiro conhecimento, se afirma, está presente com uma indiscutível comodidade, como o mel das abelhas. Como o mel, pode ser acumulado. Entretanto, de quando em quando na História humana, ele permanece sem ser utilizado e começa a ser esquecido. Nestas ocasiões, os Sarmonis e seus associados em todo o mundo o recolhem e armazenam em um recipiente especial. Logo, quando o tempo é adequado, o liberam ao mundo de novo, através de emissários especialmente treinados.
  • 8. Quando os chefes dos narradores, de barba cinza, relatou-me isto pensei que não era apenas no ocidente que perduravam lenda a respeito de um conhecimento superior. Não foi muito explicito quando comecei a interroga-lo tentando ver até que ponto tinha desenvolvido a sua doutrina. Haveria alguns desses emissários na Europa? Havia um, mas não devia falar sobre ele. Mas certamente ajudaria a todos, se ele fosse publicamente reconhecido. Pelo contrário, poderia ser um desastre, me informaram. Ele precisava “trabalhar com uma abelha, em particular” Poderia um visitante como eu experimentar um pouco de “mel”? Não, e, coisa estranha, eu menos que ninguém pois já havia ouvido e visto tanto que não poderia receber mais.
  • 9. “Não reparou que não lhe permitimos sequer tirar fotografias, enquanto a outros estrangeiros sim, essa permissão foi dada?” Eu havia visto os tesouros e isto era o máximo que alguém podia obter. Numa outra tarde assisti á representação da formosa “Cerimônia da Chave”. Ao pôr do sol, nos reunimos, várias dezenas de pessoas, sob a direção do “Mestre de Cerimônias”, resplandecente numa túnica de aplicações retangulares, intrincadamente bordada. À luz do sol poente um derviche com braços cruzados, as mãos sobre os ombros, plantou-se em frente ao Abade, que celebrava em lugar do Surkaur. Ao ser-lhe entregue uma grande chave, avançou até uma porta entalhada, presa numa grande estrutura quadrada de madeira, uma peça de cenário, decorada com bandeiras, mastros e outros símbolos de poder e autoridade.
  • 10. Introduziu a chave em uma fechadura ornamentada e girou. Imediatamente, por meio de uma inteligente obra de engenharia, a estrutura inteira se separou. A cena era iluminada por uma procissão de homens carregando velas e entoando o cântico Said em homenagem aos mestres. Logo vimos que as peças da caixa giravam sobre eixos e se re- agrupavam de diversas formas; a cena se transformou completamente. Jardins, hortos, pássaros voando e outros temas. Trabalhos em madeira e tela pintada substituíam a gora a estrutura retangular. O significado da apresentação foi-me explicado. Era uma alegoria, baseada na idéia de que todo o ensinamento é transformado, pela humanidade, em algo tão inatural e institucionalizado como aquela caixa. “A Chave do Homem Verdadeiro abre para a verdadeira alegria e significado da vida”.
  • 11. Se semelhante processo pudesse descer dos domínios do pensamento e realizar-se no plano material... Se unicamente pudesse aplicar-se ao nosso panorama ocidental, onde o homem transforma cada pedaço de paisagem sobre o qual constrói casas em algo não-natural e institucionalizado, de modo que assim o feio e rígido edifício fosse também transformado num passe de mágica... disse isto ao Abade. “O homem pode e fará isso”, disse ele, “quando possa trabalhar da maneira adequada e com tanta energia quanto a que os inimigos da paisagem despendem na sua obra”. Tive de dizer-lhe que, em nosso país pelo menos, trabalhávamos mais para a prevenção que para a restauração. “E por que não para ambos?”, foi tudo que disse.
  • 12. Estou reconstruindo os passos que percorri naquele tempo, porque fui convidado a fazê-lo e porque me dou conta de quão importante é faze-lo. Não se deve pressupor que meu estado atual seja semelhante àqueles que me encontrava anteriormente, ao realizar as investigações. Naquela ocasião eu estava trabalhando de uma maneira inteiramente racional. Ignorava as possibilidades da percepção direta do fato. Por esse motivo usei os instrumentos, os meios que estavam ao meu alcance, para encontrar a pista dos mestres, através do que de fato são métodos normais de investigação.
  • 13. Hoje em dia minha abordagem e a história seriam diferentes. Aqueles que lerem estas palavras, fruto da mentalidade de um estado anterior, devem recordar que mesmo que este seja o estado no qual eles se encontram neste momento (sua estação), o meu já não é o mesmo. O deles também passará por uma mudança através da qual, por meio da percepção direta, poderão ver as origens de seu ensinamento e manter contato com ele, sem os métodos primários que usamos atualmente para fazer intercâmbios.
  • 14. Bibliografia: Textos Sufis (Kalendar Ediciones, Nunes 25300, Buenos Aires) tradução Grace Alves Ferreira (Edições Dervish) Meus agradecimentos á amiga Vanda Blazina pelos meios que tornaram possível esta pequena apresentação de uma grande obra Sufi. www.apollo.org -Centro de Porto Alegre