O poema "The Sick Rose" de William Blake descreve uma rosa doente que está sendo destruída por um inseto invisível. O inseto representa algo que está prejudicando a vida da rosa de forma secreta e obscura. O poema pode ser lido como uma advertência à mulher (representada pela rosa) sobre algum mal escondido que ameaça sua vida ou inocência.
1. “The sick rose” - “A ROSA DOENTE” de William Blake
O poema “The Sick Rose” foi composto por William Blake (1757-1827), um dos mais importantes
representantes do Romantismo inglês. O poema comporta múltiplas interpretações, e sugestões, conforme a rica
bibliografia existente sobre ele.
O rose, thou art sick! Ó rosa, tu estás doente!
The invisible worm O inseto invisível
That flies in the night, Que voa na noite,
In the howling storm, Na tempestade uivante,
Has found out thy bed Alojou-se em teu leito
Of crimson joy, De alegria carmim,
And his dark secret love E seu amor secreto e escuro
Does thy life destroy. A tua vida destrói.
A primeira leitura é aquela meramente denotativa. O poeta dirige-se à rosa, alertando-a de que ela está doente
(ela, personificada, não está consciente disso, precisa ser alertada para o fato). Em seguida, refere-se ao inseto
(literalmente, ao verme- “worm”) invisível, que, normalmente, é levado pelo vento, nas noites de tempestade. Esse
inseto já se alojou nela, em seu “leito de alegria carmim”. E “seu amor secreto e escuro” está destruindo a vida da flor.
Uma leitura atenta, em busca do significado mais recôndito do poema, suscita muitas questões. Em primeiro
lugar, há uma polarização evidente entre “rose” e “worm”. Qual o significado desses dois elementos da natureza?
Da rosa, o poema afirma o seguinte: 1) ela está doente; o amor do inseto está destruindo sua vida; 2) é
vermelha, possui um “leito de alegria carmim”.
Do inseto, afirma-se que 1) é invisível; 2) está associado à noite, à tempestade uivante; 3) é ativo (ao contrário
da rosa, que é passiva), aloja-se na flor, e é causa da destruição da vida dela.
Por outro lado, para identificar o sentido desses dois elementos, é necessário incorporar também as idéias
usualmente associadas à rosa e ao verme, ou inseto. À rosa está associada a idéia de beleza natural, de mulher
(inclusive, é prenome feminino), de vida, em sua manifestação ostensiva na natureza. Quanto ao verme, ao inseto, as
associações são negativas: ele é elemento repugnante, nocivo à saúde, feio, secreto (não ostensivo, como a rosa).
Em nossa opinião, Blake, ao dirigir-se à flor, quer dirigir-se, na realidade, à mulher (uma vez que “Rose” é
nome de flor e prenome feminino). Pretende alertá-la de que está doente, em decorrência da presença de algo danoso à
sua vida alojado nela. Que doença é essa, da qual ela não se dá conta? (ela se sente bem, portanto). É uma doença
imperceptível, que levará à sua morte. Esses termos (doença, vida, morte) podem ser entendidos tanto num sentido
físico quanto espiritual.
No sentido físico, a mulher, embora se sentindo bem no momento, já pode estar contaminada pelo vírus da
doença, que destruirá a vida dela.
No sentido espiritual, o verme poderá significar qualquer coisa que represente dano à vida da mulher, em sua
expressão mais verdadeira, ou elevada (por exemplo, a religião, reprimindo a sua sexualidade; o mal comprometendo a
sua beleza; o pecado ameaçando a sua inocência, e assim por diante).
É possível, todavia, entender o poema num sentido menos abstrato, referindo-se à mulher (virgem) que se
envolveu numa relação amorosa “secreta e noturna”, pecaminosa, conforme a concepção judaico-cristã do poeta. O
visitante noturno, um verme moral (“The invisible worm/ That flies in the night”), associado ao Mal (“night”/
“howling storm”), já deitou em seu leito ( “Has found out thy bed”), “de alegria carmim” (“Of crimson joy”), leito esse
associado não só ao prazer (alegria), mas também ao carmim, do sangue do desvirginamento. Assim, o amor secreto
(sem o reconhecimento social) e escuro (das trevas, do Mal, em contraposição ao Bem, associado à luz) desse visitante
noturno, masculino (cf. pronome em “And his dark secret love”, grifo nosso) destrói a vida da mulher que, por viver
em pecado, está condenada no além. Assim como o inseto, o caruncho, destrói a vida da flor, esse amor destrói a vida
da mulher, não necessariamente no sentido físico (embora o advento da AIDS, em nosso tempo, também possa
significar isso), mas no sentido espiritual, significando a morte da inocência, do espírito, subjugado que foi pela
matéria, pelos apelos da carne.