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Corpos protéticos e corpos remodelados:
elementos da cibercultura em anúncios
publicitários de moda feminina na revista Elle.



Adriana Tulio Baggio
Faculdade Internacional de Curitiba

XXXIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação
Cibercultura como a cultura atual

 Não se deve encarar a cibercultura como uma subcultura específica, porque
 hoje ela é a nova forma da cultura (LÉVY citado por LEMOS, 2008).


 Estabelecimento da cibercultura nas décadas de 1980 e 1990; os conceitos e
 os elementos associados a ela passaram a fazer parte do espírito do tempo
 da época. É a quarta fase da cibercultura, “caracterizada pela
 popularização do ciberespaço e sua inserção na cultura
 contemporânea” (LEMOS, 2008, p. 102).


 “A cibercultura não se dinamiza apenas quando usuários ligam o
 computador. O ciberespaço e a cultura que ele gera não se limitam ao
 desktop” (SANTAELLA, 2003, p. 104).
A proposta

 Na medida em que a cibercultura é a sociedade atual, é nesta sociedade que
 diversos discursos vão buscar suas influências, inspirações e matéria-
 prima, inclusive os offline.


 A proposta deste trabalho é verificar a presença de temas da cibercultura,
 especificamente aqueles relacionados aos pós-humanismo, em anúncios
 publicitários de moda feminina veiculados na revista Elle.
Publicidade (discurso massivo) e cibercultura

 Publicidade:
 - caráter de massa, em oposição à comunicação dirigida;
 - objetivo de venda;
 - fenômeno ligado à indústria cultural, cujo funcionamento e existência
 acaba intermediando.


 Cultura digital pós-massiva x cultura industrial massiva >>> reconfiguração
 e remediação, alternância entre processos massivos e pós-massivos >>>
 característica da cibercultura (LEMOS, 2009).


 A cibercultura como “um cenário avançado ou high-tech da cultura de
 massas e da indústria cultural [...]. Na verdade, a cibercultura recicla o
 folclore mercantil da era das massas, embora também veicule uma
 alternativa” (RÜDIGER, 2008, p. 27).
Ciborgues e pós-humanos - do literal ao
metafórico


 - Ciborgues míticos do cinema >> Blade Runner, Robocop;

 - cyberpunk >> “corpos modificados, tatuados, perfurados, mixados de
 sangue, placas de silício e circuitos metálicos” (AMARAL, 2006, p. 77);

 - ciborgues da vida real >> Kevin Warwick, Wendy Carlos, Stephen Hawking
 (RÜDIGER, 2008);

 - neste final de século XX, somos todos ciborgues >> híbridos teorizados e
 fabricados de máquina e organismo (HARAWAY, 1991).

 - ciborgue real ou mitológico >> estamos no limite do corpo humano,
 primeiro sinal do pós-humanismo (RÜDIGER, 2008).
Classificações para análise
Lucia Santaella (2003; 2004) - corpo biocibernético
Corpos protéticos: ampliação das funções sensoriais e substituição ou ampliação
das funções orgânicas.
Corpos remodelados: plásticas, tatuagens, piercing.
Cristiane Mesquita (2004) - roupa e Moda como recurso de interferência e
modificação do corpo
Próteses reais: criações que modificam o corpo, seja de forma real (meia-calça e
sutiãs com enchimento) ou metafórica (roupa com bolso para celular, que acoplaria
ao corpo um canal de comunicação permanente).
Próteses imaginárias: próteses subjetivas - conceitos e valores que a marca
transmite por meio da publicidade e que o consumidor pode “vestir” para modificar
sua auto-imagem.
Suzana Avelar (2009) - apropriação do pós-humano pela Moda
Silhuetas peculiares: possibilidades geradas pela união homem-máquina, de fato ou
em nossa imaginação, diferentes de todas as anteriormente vistas.
A roupa como prótese
A roupa como prótese - final século XX

 Quando a moda passa a integrar os elementos e processos associados ao
 pós-humano, tais desenvolvimentos já se tornaram parte do nosso dia a dia.
 (AVELAR, 2009, p. 139)




 Uma secretária de futuro, 1988
Análise dos anúncios - metodologia

                      Elle x Vogue: popular x conceitual.


                      Recorte: anúncios de marcas de
                      vestuário feminino brasileiras.


                      Edição de julho 2010: 246 páginas, 33
                      anúncios, 8 dentro dos critérios.


                      Análise da representação das roupas e
                      dos elementos do anúncio.
Cenário árido e hostil (versus
campanha verão.
[imaginário ciborgue]



Macacão de formas soltas e
fluidas, comprimidas por um
largo cinto de couro marcando a
cintura: parecem deixar o corpo
livre e natural, mas há uma
remodelação da anatomia pelo
cinto largo e rígido.



Funciona como uma espécie de
espartilho ao comprimir e
estruturar o tronco.

[corpo remodelado]
Sugestão: despojamento,
liberdade, natureza; a marca não
coaduna com as pressões de
modelar ou modificar a anatomia
feminina.


Por outro lado: tecido revela as
formas; modelagem frouxa não
“segura”; decote inviabiliza o uso
de sutiã >> não modela nem
modifica o corpo, mas
pressupõe que ele tenha
nascido ou tenha se tornado
perfeito para poder vesti-la.


[corpo remodelado]


Técnicas corporais complexas
sugeridas pela indumentária
(MALYSSE, 2008).
Ambiente hostil, escuro e sombrio.
Postura tensa; vigilância e fuga
(versus campanha verão).
[imaginário ciborgue]


Cinto largo, modela a cintura; calça
jeans ajustada. [corpo remodelado]


Pulseiras largas,
pesadas.
[corpo protético]


Tatuagem;
cabelos
descoloridos.
[corpo
remodelado]
Romântico x agressivo:

rosto rosado; lábios suaves;
vestido claro; detalhes em crochê;
pregas e babados; cintura estilo
império; pingente de coração

versus

dreadlock; olhos marcados de
preto; sorriso irônico; pingentes
grandes e pesados; presos por
correntes grossas; cenário
“pichado”.


Estética “malvada” >> marca
Sinistra >> para boas meninas que
desejam apimentar um pouco mais
sua imagem.

[prótese imaginária]
Predomínio do dourado; look
ajustado, modelando o corpo
com suavidade.



Dourado parece servir para
agregar mais valor a peças de
“modinha” >> uma prótese
para a roupa, revestindo-a de
um valor superficial; uma
prótese para tornar o corpo da
consumidora mais “precioso”
e “brilhante”.

[corpo protético]
Simplicidade e suavidade:
vestido de algodão com
estampas pequenas, cores
suaves e debruns em verde;
cenário em tons claros; cavalo
branco.

versus

Luxo e exagero: colar de
correntes douradas; pingente
enorme em pedra. Artefato
protético, amuleto mágico, revela
a princesa que existe na
camponesa.

[corpo protético]

Debruns em verde: estruturam a
cintura e o decote.

[corpo remodelado]
Cenário de verão.

Tomara-que-caia de tecido elástico
e com alguma firmeza; calça jeans
ajustada, desbotada, rasgada >>
remodelam o corpo.

Calça jeans “destruída” >> jeans
cumpre função remodeladora há
muito tempo.

Gasta, mesmo sendo nova >>
sugere todas as batalhas que as
calças jeans já enfrentaram para
diminuir quadris, segurar
abdômens, levantar bumbuns.


[corpo remodelado]
Postura: silhueta sinuosa e
sensual, dificilmente suportável
pelo corpo humano em condições
normais.

Os braços cruzados não apenas
cobrem como levantam os seios,
reproduzindo o efeito de corsets e
espartilhos >> a proposta de uma
roupa sensual não precisa ser
ilustrada pela própria roupa.

Os braços da modelo são o
instrumento que modifica seu
corpo.



[corpo remodelado]
Os corpos encontrados

 Imaginário ciborgue >> 2 ocorrências >> Aha (cenário árido, de guerra) e Six One
 (cenário hostil, referência à Tina Turner de Mad Max).

 Corpo protético >> 3 ocorrências >> Six One (pulseiras como reforço do punho),
 Jô Fashion (o dourado) e Chita Brasil (colar).

 Corpo remodelado >> 6 ocorrências >> Aha (cinto), Six One (cinto, cabelo
 descolorido, tatuagem), Chita Brasil (debruns estruturantes), KNT Jeans (top justo e
 calça jeans), Carmim (postura e braços remodelando) e Reserva Natural (corpo
 perfeito potencial).

 Prótese imaginária >> 1 ocorrência >> Sinistra (promessa de um estilo
 “malvado”).

 Silhuetas peculiares >> não estão presentes nos anúncios aqui analisados. Por
 aproximação, Aha (macacão largo e bolsos enormes; modelagem menos comum
 porque “engorda”).
Considerações e questões
 Escolha de modelos específicos >> abrangência das teorias, elasticidade
 do conceito de hibridização homem-máquina; parece que sempre haverá a
 presença do pós-humano na moda e em sua publicidade.


 Predominância do corpo remodelado >> moda buscando parte da verba
 que as mulheres estão gastando com opções para interferência no corpo.


 Imaginário ciborgue >> ambientes mais pessimistas não combinam com a
 “alegria” da primavera/verão. Um espírito do tempo mais carregado e
 desiludido, como uma narrativa cyberpunk?


 Ausência de silhuetas diferentes >> moda comercial e publicidade de
 massa, precisam ser aceitas pelos consumidores. Muita inovação = rejeição.


 Presença de elementos da cibercultura/pós-humanismo >> diluída em
 conceitos facilmente assimiláveis pelo consumidor.
Obrigada.


atbaggio@gmail.com

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Cibercultura na moda feminina

  • 1. Corpos protéticos e corpos remodelados: elementos da cibercultura em anúncios publicitários de moda feminina na revista Elle. Adriana Tulio Baggio Faculdade Internacional de Curitiba XXXIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação
  • 2. Cibercultura como a cultura atual Não se deve encarar a cibercultura como uma subcultura específica, porque hoje ela é a nova forma da cultura (LÉVY citado por LEMOS, 2008). Estabelecimento da cibercultura nas décadas de 1980 e 1990; os conceitos e os elementos associados a ela passaram a fazer parte do espírito do tempo da época. É a quarta fase da cibercultura, “caracterizada pela popularização do ciberespaço e sua inserção na cultura contemporânea” (LEMOS, 2008, p. 102). “A cibercultura não se dinamiza apenas quando usuários ligam o computador. O ciberespaço e a cultura que ele gera não se limitam ao desktop” (SANTAELLA, 2003, p. 104).
  • 3. A proposta Na medida em que a cibercultura é a sociedade atual, é nesta sociedade que diversos discursos vão buscar suas influências, inspirações e matéria- prima, inclusive os offline. A proposta deste trabalho é verificar a presença de temas da cibercultura, especificamente aqueles relacionados aos pós-humanismo, em anúncios publicitários de moda feminina veiculados na revista Elle.
  • 4. Publicidade (discurso massivo) e cibercultura Publicidade: - caráter de massa, em oposição à comunicação dirigida; - objetivo de venda; - fenômeno ligado à indústria cultural, cujo funcionamento e existência acaba intermediando. Cultura digital pós-massiva x cultura industrial massiva >>> reconfiguração e remediação, alternância entre processos massivos e pós-massivos >>> característica da cibercultura (LEMOS, 2009). A cibercultura como “um cenário avançado ou high-tech da cultura de massas e da indústria cultural [...]. Na verdade, a cibercultura recicla o folclore mercantil da era das massas, embora também veicule uma alternativa” (RÜDIGER, 2008, p. 27).
  • 5. Ciborgues e pós-humanos - do literal ao metafórico - Ciborgues míticos do cinema >> Blade Runner, Robocop; - cyberpunk >> “corpos modificados, tatuados, perfurados, mixados de sangue, placas de silício e circuitos metálicos” (AMARAL, 2006, p. 77); - ciborgues da vida real >> Kevin Warwick, Wendy Carlos, Stephen Hawking (RÜDIGER, 2008); - neste final de século XX, somos todos ciborgues >> híbridos teorizados e fabricados de máquina e organismo (HARAWAY, 1991). - ciborgue real ou mitológico >> estamos no limite do corpo humano, primeiro sinal do pós-humanismo (RÜDIGER, 2008).
  • 6. Classificações para análise Lucia Santaella (2003; 2004) - corpo biocibernético Corpos protéticos: ampliação das funções sensoriais e substituição ou ampliação das funções orgânicas. Corpos remodelados: plásticas, tatuagens, piercing. Cristiane Mesquita (2004) - roupa e Moda como recurso de interferência e modificação do corpo Próteses reais: criações que modificam o corpo, seja de forma real (meia-calça e sutiãs com enchimento) ou metafórica (roupa com bolso para celular, que acoplaria ao corpo um canal de comunicação permanente). Próteses imaginárias: próteses subjetivas - conceitos e valores que a marca transmite por meio da publicidade e que o consumidor pode “vestir” para modificar sua auto-imagem. Suzana Avelar (2009) - apropriação do pós-humano pela Moda Silhuetas peculiares: possibilidades geradas pela união homem-máquina, de fato ou em nossa imaginação, diferentes de todas as anteriormente vistas.
  • 7. A roupa como prótese
  • 8. A roupa como prótese - final século XX Quando a moda passa a integrar os elementos e processos associados ao pós-humano, tais desenvolvimentos já se tornaram parte do nosso dia a dia. (AVELAR, 2009, p. 139) Uma secretária de futuro, 1988
  • 9. Análise dos anúncios - metodologia Elle x Vogue: popular x conceitual. Recorte: anúncios de marcas de vestuário feminino brasileiras. Edição de julho 2010: 246 páginas, 33 anúncios, 8 dentro dos critérios. Análise da representação das roupas e dos elementos do anúncio.
  • 10. Cenário árido e hostil (versus campanha verão. [imaginário ciborgue] Macacão de formas soltas e fluidas, comprimidas por um largo cinto de couro marcando a cintura: parecem deixar o corpo livre e natural, mas há uma remodelação da anatomia pelo cinto largo e rígido. Funciona como uma espécie de espartilho ao comprimir e estruturar o tronco. [corpo remodelado]
  • 11. Sugestão: despojamento, liberdade, natureza; a marca não coaduna com as pressões de modelar ou modificar a anatomia feminina. Por outro lado: tecido revela as formas; modelagem frouxa não “segura”; decote inviabiliza o uso de sutiã >> não modela nem modifica o corpo, mas pressupõe que ele tenha nascido ou tenha se tornado perfeito para poder vesti-la. [corpo remodelado] Técnicas corporais complexas sugeridas pela indumentária (MALYSSE, 2008).
  • 12. Ambiente hostil, escuro e sombrio. Postura tensa; vigilância e fuga (versus campanha verão). [imaginário ciborgue] Cinto largo, modela a cintura; calça jeans ajustada. [corpo remodelado] Pulseiras largas, pesadas. [corpo protético] Tatuagem; cabelos descoloridos. [corpo remodelado]
  • 13. Romântico x agressivo: rosto rosado; lábios suaves; vestido claro; detalhes em crochê; pregas e babados; cintura estilo império; pingente de coração versus dreadlock; olhos marcados de preto; sorriso irônico; pingentes grandes e pesados; presos por correntes grossas; cenário “pichado”. Estética “malvada” >> marca Sinistra >> para boas meninas que desejam apimentar um pouco mais sua imagem. [prótese imaginária]
  • 14. Predomínio do dourado; look ajustado, modelando o corpo com suavidade. Dourado parece servir para agregar mais valor a peças de “modinha” >> uma prótese para a roupa, revestindo-a de um valor superficial; uma prótese para tornar o corpo da consumidora mais “precioso” e “brilhante”. [corpo protético]
  • 15. Simplicidade e suavidade: vestido de algodão com estampas pequenas, cores suaves e debruns em verde; cenário em tons claros; cavalo branco. versus Luxo e exagero: colar de correntes douradas; pingente enorme em pedra. Artefato protético, amuleto mágico, revela a princesa que existe na camponesa. [corpo protético] Debruns em verde: estruturam a cintura e o decote. [corpo remodelado]
  • 16. Cenário de verão. Tomara-que-caia de tecido elástico e com alguma firmeza; calça jeans ajustada, desbotada, rasgada >> remodelam o corpo. Calça jeans “destruída” >> jeans cumpre função remodeladora há muito tempo. Gasta, mesmo sendo nova >> sugere todas as batalhas que as calças jeans já enfrentaram para diminuir quadris, segurar abdômens, levantar bumbuns. [corpo remodelado]
  • 17. Postura: silhueta sinuosa e sensual, dificilmente suportável pelo corpo humano em condições normais. Os braços cruzados não apenas cobrem como levantam os seios, reproduzindo o efeito de corsets e espartilhos >> a proposta de uma roupa sensual não precisa ser ilustrada pela própria roupa. Os braços da modelo são o instrumento que modifica seu corpo. [corpo remodelado]
  • 18. Os corpos encontrados Imaginário ciborgue >> 2 ocorrências >> Aha (cenário árido, de guerra) e Six One (cenário hostil, referência à Tina Turner de Mad Max). Corpo protético >> 3 ocorrências >> Six One (pulseiras como reforço do punho), Jô Fashion (o dourado) e Chita Brasil (colar). Corpo remodelado >> 6 ocorrências >> Aha (cinto), Six One (cinto, cabelo descolorido, tatuagem), Chita Brasil (debruns estruturantes), KNT Jeans (top justo e calça jeans), Carmim (postura e braços remodelando) e Reserva Natural (corpo perfeito potencial). Prótese imaginária >> 1 ocorrência >> Sinistra (promessa de um estilo “malvado”). Silhuetas peculiares >> não estão presentes nos anúncios aqui analisados. Por aproximação, Aha (macacão largo e bolsos enormes; modelagem menos comum porque “engorda”).
  • 19. Considerações e questões Escolha de modelos específicos >> abrangência das teorias, elasticidade do conceito de hibridização homem-máquina; parece que sempre haverá a presença do pós-humano na moda e em sua publicidade. Predominância do corpo remodelado >> moda buscando parte da verba que as mulheres estão gastando com opções para interferência no corpo. Imaginário ciborgue >> ambientes mais pessimistas não combinam com a “alegria” da primavera/verão. Um espírito do tempo mais carregado e desiludido, como uma narrativa cyberpunk? Ausência de silhuetas diferentes >> moda comercial e publicidade de massa, precisam ser aceitas pelos consumidores. Muita inovação = rejeição. Presença de elementos da cibercultura/pós-humanismo >> diluída em conceitos facilmente assimiláveis pelo consumidor.