SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 29
• os primórdios do HQ brasileiro
O uso de ilustrações em jornais ou revistas pode ser visto, pelo menos antes do aparecimento da
televisão, como a opção mais viável para que parte da população pudesse participar da vida social e
política de seu país. As histórias em quadrinhos no Brasil começaram a ser publicadas no século XIX.
Em 1837, circulou o primeiro desenho em formato de charge, de autoria de Manuel de Araújo Porto-
Alegre, que foi produzida através do processo de litografia e vendida em papel avulso. Angelo
Agostini continuou a tradição de introduzir nas publicações jornalísticas e populares brasileiras,
desenhos com temas de sátira política e social.
1.1Araújo Porto-Alegre (1806-1879)
Três meses depois que Diogo Antônio Feijó renunciou ao seu mandato de primeiro Regente Uno do
Brasil, o Jornal do Commercio do Rio de Janeiro – já presente no cenário brasileiro a 10 anos –
publicava pela primeira vez no Brasil, no editorial de dezembro de 1837, uma arte gráfica ilustrada: era o
desenho de Araújo Porto-Alegre que satirizava um destacado político da época, ao colocá-lo recebendo
suborno.
Nascido em 1806 na cidade de Rio Pardo (RS), Manuel de Araújo Porto-Alegre se tornou conhecido na
corte brasileira a partir da década de 1830 ao publicar sua primeira ilustração caricata no Jornal do
Commercio do Rio de Janeiro. Vale ressaltar que na época os periódicos não costumavam publicar em
suas páginas as caricaturas dessa forma: “[...] elas eram vendidas de maneira avulsa nas ruas da então
capital do império” (ABI, 2007)
Aluno de Debret e de vários artistas da época, foi Araújo Porto-Alegre que através do periódico A
lanterna Mágica (1844-1845) introduziu a caricatura nos jornais brasileiros.
Apesar de não ser considerado um exímio caricaturista Araújo, Porto-Alegre se destaca na história do
Brasil por inserir pela primeira vez a ilustração caricata nos periódicos brasileiros. O autor faleceu em
Lisboa em 29 de dezembro de 1879.
1.2Vida e obra de Angelo Agostini
Angelo Agostini (1843-1910), Nascido na Itália em 8 de Abril de 1843, Viveu sua infância e adolescência
em Paris, e em 1859, com dezesseis anos, veio para São Paulo com a sua mãe, a cantora lírica Raquel
Agostini.
Ele começou sua carreira lançando e organizando jornais e revistas de circulação restrita, num tempo
em que a imprensa era produzida de forma quase artesanal. Na virada do século, o panorama se altera.
A chegada da máquina rotativa, de novas formas de reprodução e a ampliação do público leitor a
transformam em empreendimento capitalista de porte. O artista deixa de ser dono de pequenas
publicações e torna-se colaborador de grandes empresas editoriais. Mais do que uma mudança
funcional, Agostini vivenciou duas fases decisivas da consolidação da imprensa brasileira.
Em 1864 deu início à carreira de cartunista, quando fundou, com Luís Gonzaga Pinto da Gama (1830 -
1882) e Sizenando Barreto Nabuco de Araújo (1842 - 1892), o Diabo Coxo, o primeiro jornal ilustrado
publicado em São Paulo, e que contava com textos do poeta abolicionista Luís Gama. Este periódico,
apesar de ter obtido repercussão, teve duração efêmera, sendo fechado em 1865. O artista lançou no
ano seguinte (1866) o Cabrião, cuja sede chegou a ser depredada, devido aos constantes ataques de
Agostino ao clero e às elites escravocratas paulistas. Este periódico veio a falir em1867.
O artista mudou-se para o Rio de Janeiro, onde prosseguiu desenvolvendo intensa atividade em favor da
abolição da escravatura, pelo que realizava diversas representações satíricas de D. Pedro II.
“As Aventuras de Nhô Quim” (1869/1870), publicada em nove capítulos consecutivos (algo tido como
inédito nos quadrinhos até Wash Tubbs, já em 1924), nas páginas do jornal “A vida Fluminense”, é o
primeiro esboço de Agostini rumo a uma linguagem de quadrinhos. Revela a preocupação do artista em
observar e retratar sua sociedade, ao passo em que desenvolve as potencialidades da mídia.
“As Aventuras de Zé Caipora” (1883 - 1906), com 23 episódios publicados até 1886, na “Revista
Illustrada” (sic), ganhou reedição especial, dividida em fascículos de seis episódios cada, antecipando as
publicações de álbuns com coletânea das tiras americanas. Foram publicadas, ainda, nas páginas de
“Don Quixote” (1901) e “O Malho” (1905), onde o último episódio é publicado em 1906, deixando a
entender que o autor previa continuação. Ao longo destes 23 anos, Agostini desenvolveu um gênero
novo.
Para Brian Kane, não existiam quadrinhos de aventura com temas e traço verossímeis, nos EUA, antes
da publicação de “Tarzan”, em 1929. Ora, Agostini já trazia o gênero para as HQs com Zé Caipora, que
se embrenhou na mata atlântica, fez amizade com um casal de índios e com eles, enfrentou tribos
inteiras, onças e outras “feras”, além de se inserir na vida pseudo-aristocrática do Rio de Janeiro
Imperial, casando-se com a filha de um Barão decadente, para quem ofereceu a riqueza burguesa em
troca do título cortesão, numa negociata típica da época vestida em roupagens românticas, já que José
Corimba (nome verdadeiro de nosso herói) amava, de fato, a jovem Memé (Amélia), filha do Barão.
Angelo Agostini chegara aqui ainda adolescente e ao longo de 43 anos fizera uma das mais longas
carreiras da imprensa nacional. se destacava em atividades tão diversas como as de caricaturista, pintor,
fotógrafo, repórter, crítico de costumes, editor, empresário e agitador político. Introdutor das histórias em
quadrinhos entre nós, o artista deixou como legado uma obra vasta, diferenciada e, sobretudo, irregular.
Seus traços estão fixados em pelo menos 3,2 mil páginas de jornal e revistas.
• Disseminação da revista de quadrinhos do país
• 2.1A primeira revista em quadrinhso do Brasil
• Idealizada pelo jornalista e caricaturista Renato de Castro, juntamente com o poeta Cardoso
Júnior, e o professor e também jornalista Manoel Bonfim, a proposta da revista foi apresentada
a Luís Bartolomeu de Souza e Silva, dono da Sociedade O Malho, que não só a acatou de forma
entusiasmada, como ajudou a moldá-la seguindo o formato de outras publicações da época. No
início do século XX, o Brasil ainda tinha uma grande influência européia, em particular da cultura
francesa, e veio justamente deste país a inspiração para se lançar O Tico-Tico, seguindo a linha
da revista La Semaine de Suzette (publicada de fevereiro de 1905 a junho de 1940, e de maio de
1946 a agosto de 1960).
• A revista O Tico Ticofoi a primeira a publicar histórias em quadrinhos no Brasil. Sua primeira
edição saiu no dia11 de outubro de 1905, uma quarta-feira e não em uma quinta como dizia a
capa.
• As revistas O Tico-Tico eram coloridas e moralistas. Muitas de suas histórias visavam à
educação das crianças e à construção de sólidas convicções morais.
• Isso, em uma época em que a linguagem gráfica seqüencial começava apenas a dar seus
primeiros passos, enfrentando pressões geradas pelo desconhecimento de suas características,
desconfiança quanto a seus benefícios sociais e preconceito quanto à sua qualidade artística e
méritos educacionais. A tudo isso a revista brasileira respondeu com uma postura sempre firme
em relação a seus objetivos didático-pedagógicos, mantendo-se arraigada, do início ao fim, à
missão de entreter, informar e formar de maneira sadia a criança brasileira.
• Os editores procuravam enriquecer o acervo cultural de seu jovem público com informações
diversas e entretenimentos, como poesias, contos, jogos, atrações educativas, referências a
datas históricas, além de textos sobre as séries mais populares do cinema, partituras, letras de
músicas e até peças teatrais.
• Os quadrinhos
• Especificamente, é preciso salientar que O Tico-Tico não era exatamente uma revista em
quadrinhos (ou um gibi, como depois elas vieram a se denominar no país). Era, muito mais, uma
revista infantil. Mas ela começou a publicar quadrinhos desde seus primeiros anos de vida e,
pouco a pouco, eles foram se tornando cada vez mais importantes para os leitores. Os
quadrinhos foram, talvez, o principal motivo para a permanente popularidade de O Tico-
Tico entre as crianças brasileiras, geração após geração. Não se tratava de uma revista como as
de hoje, dedicadas inteiramente a um personagem ou grupo de heróis. Era uma publicação que
reunia diversas expressões culturais, com ênfase na literatura, mas que abria um generoso
espaço para os quadrinhos, arte que começava a se firmar no país.
• Ao lado da literatura, dos textos educativos e dos jogos didáticos, os quadrinhos em O Tico-
Tico tinham uma linguagem envolvente para o público infantil, facilitando a leitura textual e
contribuindo para a disseminação dos códigos visuais que viriam a predominar no decorrer do
século.
• bebendo de fontes norte-americanas e européias. Da produção estadunidense, inclusive, veio
seu principal personagem, aqui batizado como Chiquinho, mas que nos jornais ianques era
conhecido como Buster Brown. Criação de Richard Felton Outcault, o garoto traquinas,
originalmente de classe alta, aqui desceu um pouco socialmente e adquiriu modos de um garoto
do povo, vivendo hilariantes aventuras ao lado de um típico menino de nossa realidade social
mais popular, o Benjamin, um garoto de origem africana criado por um dos autores brasileiros
que continuaram a obra de Outcault quando o material original já não chegava ao país. O autor
brasileiro, Luis Gomes Loureiro, foi apenas o primeiro de vários artistas nacionais que
trabalharam com o personagem, fazendo com que ele adquirisse características próprias da
cultura brasileira. Em seu conjunto, fizeram com que o conjunto das aventuras desses
personagens - aos quais se deve agregar necessariamente o cachorro Jagunço, originalmente
chamado de Tige -, representasse um pitoresco panorama da sociedade brasileira na primeira
metade do século 20. Nesse sentido, Augusto Rocha, Alfredo Storni, Paulo Afonso,Oswaldo
Storni e Miguel Hochmann realizaram um enorme serviço ao país, transformando um
personagem sem muita graça e com uma proposta extremamente elitista de público em uma
figura pulsante, elétrica mesmo, que agradava em cheio a seus leitores e fazia com que estes se
identificassem plenamente com ela. Não admira, com tudo isso, que durante vários anos
imaginassem os leitores ser Chiquinho o grande personagem de quadrinhos originalmente
produzido no Brasil.
• Vários outros personagens foram publicados regularmente na revista O Tico-Tico, tanto os
estrangeiros como aqueles produzidos em terras brasileiras. Entre os primeiros, destaque para
Mickey Mouse, inicialmente chamado de Ratinho Curioso, que aparecia em histórias desenhadas
por Ub Iwerks e depois por Floyd Gottfredson; Krazy Kat, de George Herriman, chamado
de Gato Maluco; Popeye, de Elsie Chrisler Segar, chamado de Brocoió; Gato Félix, de Pat
Sullivan; Mutt e Jeff, de Bud Fisher; Little Nemo in Slumberland, de Winsor McCay, entre outros.
Entre os brasileiros, figuras como Lamparina, do grande J. Carlos; Kaximbown, de Max
Yantok; Bolinha e Bolonha, de Nino Borges; Zé Macaco e Faustina, de Alfredo Storni; Pirolito,
de Fritz (Anísio Oscar Mota); Tinoco, o caçador de feras, de Théo; João Charuto, deEdmundo
Rodrigues; e Réco-Réco, Bolão e Azeitona, do inigualável Luis Sá, para apenas mencionar
alguns dos personagens que tiveram suas origens nas mãos de artistas aqui radicados.
• O decalque das historietas era prática comum na época, sendo as revistas infantis francesas e a
difusão dos quadrinhos norte-americanos a fonte para todo tipo de adaptação e cópia. Este
procedimento, contudo, não deixou de trazer bons frutos para os quadrinhos nacionais,
revelando artistas como J. Carlos, Max Yantok, Léo, Théo, Lino Borges, Luiz Sá, Daniel Cícero,
Percy Deane, Messias de Mello, André Le Blanc, entre outros.
• Apesar do sucesso incontestável da revista por décadas, a entrada dos quadrinhos norte-
americanos de forma massiva por intermédio das distribuidoras, os conhecidos syndicates, fez a
preferência do público começar a mudar, sobretudo quando surgiram os suplementos e revistas
povoados de super-heróis, entre as décadas de 1930 e 1950.
A ingenuidade e o encantamento começaram a perder espaço para as aventuras heróicas e
maniqueístas dos superseres, retrato de uma nova época em um mundo em ebulição.
O Tico-Tico resistiu até fevereiro de 1962. As edições semanais foram dando espaço às mensais
e depois bimestrais, aos almanaques e especiais dirigidos a pais e professores, até que,
finalmente, com a marca excepcional de 2097 edições e quase 57 anos de existência, encerrou
uma saga ainda não igualada pela revistas infantis nacionais.
• 2. 2 O Suplemento Juvenil e a explosão dos
quadrinhos norte-americanos no Brasil
• O Suplemento Juvenil – inicialmente denominado Suplemento Infantil , - consagrou, ao seu
tempo, uma proposta inovadora de publicação de histórias em quadrinhos no Brasil. Sendo
lançado inicialmente como um tablóide semanal, apêndice do jornal diárioA Nação , foi um
sucesso quase que imediato. A partir da edição de número 14, começou a ser publicado de
forma independente, logo passando a ter duas – e depois três - edições semanais.
• A publicação era baseada nos suplementos coloridos dos jornais norte-americanos, que Adolfo
Aizen havia conhecido quando viajava pelos Estados Unidos. Com um afiado faro para
novidades, ele trouxe a idéia para o Brasil, conseguindo vendê-la para os proprietários do jornal
carioca e recheando-o justamente com os mesmos personagens que faziam o sucesso dos
suplementos em terras ianques: Flash Gordon , Tarzan, Mandrake, Popeye, Brick
Bradford e Mickey Mouse , entre outros.
• Além de rapidamente passar a ter existência independente, o Suplemento Juvenil deu origem a
diversas outras publicações em formato tablóide ou meio-tablóide: Mirim, iniciado em 1937,
trazia, pela primeira vez no Brasil, personagens publicados nos comic books norte-americanos,
como Slam Bradley , Fantomas, Cyrus Sanders , Beck Jones , etc.; a Biblioteca Mirim ,
derivada do anterior, que publicava os personagens de quadrinhos em formato de livro de bolso;
e Lobinho, que não conseguiu alcançar o mesmo sucesso dos anteriores e acabou virando
revista mensal (Silva, 1976, p. 38-9).
• Como é comum de acontecer no Brasil, as boas idéias são sempre rapidamente imitadas. Assim,
não é de admirar que logo aparecessem concorrentes para o Suplemento Juvenil . O mais
destacado deles foi talvez O Globo Juvenil , uma cópia quase perfeita do Suplemento, que
também trazia personagens veiculados pelos tablóides norte-americanos. Em 1939, num golpe
comercial inesperado, esta última publicação conseguiu obter os direitos da maioria das histórias
publicadas pelo Suplemento, passando a publicá-los em suas paginas. Assim, personagens
como Li’l Abner , The Phantom , Mandrake, Alley Oop , etc. mudaram repentinamente de
endereço no Brasil, colocando sua antiga “casa” em dificuldades (o Suplemento
Juvenilsobreviveria por apenas mais seis anos, deixando de ser publicado em 1945).
• Afirmar que a publicação de Adolfo Aizen foi a primeira a veicular o modelo dos suplementos de
jornais no Brasil talvez seja uma imprecisão. Antes que tanto o Suplemento como o Globo
Juvenil tivessem aparecido nas bancas, já um jornal da cidade de São Paulo, A Gazeta , havia
lançado a sua edição infantil, que permaneceu nas bancas, com diversas interrupções, de 1929
a 1950. Foi publicada sob várias denominações diferentes, embora tenha sido sempre mais
conhecida pela forma como os seus jovens leitores a denominavam: A Gazetinha . Publicou
vários personagens norte-americanos , como Brick Bradford , Barney Baxter ,Felix, the
Cat , Little Nemo in Slumberland , entre outros. No entanto, contrariamente a suas
concorrentes, a Gazetinha parecia dar muito mais ênfase ao trabalho dos autores nacionais,
possibilitando que vários artistas brasileiros nela encontrassem espaço para veicular seus
trabalhos. Entre eles, destacam-se Nino Borges ( Piolim, Bolinha e Bolonha ), Belmonte
( Paulino e Balbina ) e Renato Silva , criador de um de seus personagens mais populares,
o Garra Cinzenta . De todos, porém, o nome de maior destaque é o de Messias de Mello, um
dos autores mais produtivos que este país já teve, que trabalhou na Gazetinha durante toda a
existência da publicação e praticamente foi responsável, sozinho, por porcentagem significativa
das histórias publicadas, desde adaptações de romances famosos a personagens de sua própria
criação ou de argumentistas nacionais. Na Gazetinha também trabalhou Jayme Cortez, um
artista português que depois se destacou por uma atuação marcante no panorama dos
quadrinhos brasileiros dirigidos ao público infantil e juvenil.
• Com a aceitação dos quadrinhos norte-americanos no Brasil, novas publicações por eles
protagonizadas logo começaram a surgir. Grande parte delas, na realidade, exerciam maior
atrativo sobre o público juvenil, em idade pré-adolescente, que propriamente no público infantil,
mas era consumido da mesma forma tanto por crianças menores como pelos jovens mais
avançados em idade. Foi para atender este filão do mercado que Adolfo Aizen fundou sua
própria casa publicadora – a Editora Brasil América Ltda (EBAL) – que posteriormente se
tornou uma das maiores editoras de histórias em quadrinhos da América do Sul.
• Desde o início, a atuação da empresa de Aizen demonstrou que sua prioridade era a publicação
dos quadrinhos norte-americanos, mantendo-se basicamente, durante muitos anos, com os
personagens da DC Comics e, posteriormente, com os daMarvel Comics . As únicas exceções
que parecia aceitar vinham ao encontro de sua preocupação em quebrar as barreiras que pais e
professores tinham em relação às histórias em quadrinhos em geral. Desta forma, com a
finalidade de tornar suas publicações mais aceitáveis pelo público adulto, ele (que era judeu)
patrocinou revistas que narravam as vidas dos santos católicos, a quadrinização da epopéia da
Padroeira do Brasil, a publicação do Novo Testamento e da Vida de Jesus em quadrinhos ,
etc., muitas delas encomendadas a artistas brasileiros (que muitas vezes, por absoluta falta de
documentação, inventavam os acontecimentos e quase todos os milagres atribuídos às figuras
santificadas). De forma similar, ele publicou revistas de histórias em quadrinhos que focalizavam
fatos concretos da história do Brasil e contratou desenhistas para ilustrarem as versões em
quadrinhos dos grandes títulos da nossa literatura, em séries que manteve durante vários anos –
Edições Maravilhosas e Álbum Gigante , – intercalando as obras brasileiras com outras de
autores da literatura internacional, traduzidos da revista Comics Illustrated .
• Os quadrinhos estrangeiros também receberam um grande incentivo de outra grande editora de
histórias em quadrinhos localizada na cidade do Rio de Janeiro, a Rio Gráfica
Editora (posteriormente Editora Globo ). Ela publicou muitos títulos de heróis norte-americanos,
principalmente aqueles veiculados ao King Features Syndicate . Foi também a responsável
pela revista mais popular que este país já teve, a Gibi – tão popular que acabou sendo utilizada
para denominar, em uma relação de sinonímia, todas as revistas de histórias em quadrinhos
publicadas no país (similar ao que aconteceu, por exemplo, em território espanhol, com a
revista T.B.O., que deu origem ao vocábulo tebeos).
• Tanto o Suplemento Juvenil como todas as outras publicações que apareceram em seu rastro
garantiram a predominância dos quadrinhos estrangeiros no território brasileiro- No caso
específico dos quadrinhos infantis, essa situação tornou-se ainda mais definitiva e aumentou as
dificuldades para os artistas nacionais a partir de 1950, quando a Editora Abril começou a
publicar sistematicamente os quadrinhos Disney no país – inicialmente com apenas um título, O
Pato Donald , que logo seria seguido por vários outros, como Mickey e Tio Patinhas .
• A partir de seu número 479, em 1961, a revista O Pato Donald , passou a ser publicada
quinzenalmente, alternando-se com o títuloZé Carioca , que tinha como protagonista o
personagem de um papagaio folgazão, criado para o filme Os Três Cavaleiros . Tratava-se de
uma iniciativa orquestrada pelos Estúdios Disney de colaborar com o esforço de boa vontade
com os países do continente latino-americano na época da Guerra Fria (uma forma de garantir a
sua simpatia para com a política ianque e evitar que se baldeassem para o lado dos adversários,
os soviéticos...).
• 2.3
• Em 1940, o jornalista Assis Chateaubriand, lança a revista "O Gury" (mais tarde teria a grafia
alterada para "O Guri") com o subtítulo "O Filhote do Diário da Noite", para ser publicada no
jornal Diário da Noite, embora tenha registrado o nome da publicação desde 1938. A revista era
composta de várias publicações da editora americana Fiction House, que publicava revistas
especificas para cada gênero: aventuras espaciais, aventuras nas selvas, lutas, e foi a primeira
revista impressa em quatro cores. Chateaubriand havia adquirido modernas impressoras
diretamente dos Estados Unidos, e a primeira edição era uma cópia exata da revista Planet
Comics #1 da Fiction House; posteriormente, a revista publicou histórias da Fawcett, da King
Features e da Timely Comics; o então adolescente Millôr Fernandes trabalhava como ajudante
de arquivo na revista O Cruzeiro e, como muitos adolescentes dessa época, era leitor de
histórias em quadrinhos (Millôr colecionava o Suplemento Juvenil de Adolfo Aizen) e acabaria
sendo um colaborar da revista O Guri
Em 1941, o grupo de comunicação de Chateaubriand cria a editora O Cruzeiro , nome retirado da
principal revista do grupo, fundada em 1928 ; na revista O Cruzeiro surgem os cartuns de O Amigo da
Onça de Péricles. Péricles também publicava em O Guri a tira Oliveira Trapalhão; O Amigo da Onça
também foi ilustrado por Carlos Estêvão, que desenhou o personagem após a morte de Péricles (que
cometera suicídio) . Em março de 1952, a editora O Cruzeiro lança uma nova versão da revista "O Guri",
impressa em preto e branco, através do processo de rotogravura; na primeira edição foram publicados
os heróis da Fox Feature Syndicate: Dagar, o rei do deserto, O Falcão dos sete mares e Rulah, a deusa
da selva .
Alfredo Machado e Décio de Abreu criam o primeiro syndicate brasileiro, Distribuidora Record de
Serviços de Imprensa; Em 1941, Machado viajou aos Estados, a fim de convencer que os três
maiores syndicates, King Features, Associated Press e United Press, fossem representados pela
Record; no entanto, as empresas alegaram já possuírem representantes no Brasil, e com isso a Record
passou a representar pequenos syndicates e as editoras de quadrinhos Fawcett Comics e Timely
Comics. A Record tinha entre seus clientes Aizen, Marinho e Chateaubriand. A empresa não apenas
vendia as histórias em quadrinhos e passatempos, como também prestava serviços de tradução e
editoração, como no caso da revista Vida Juvenil da editora Vida Doméstica lançada em1949 . Em 1946,
Luis Rosemberg cria um novo syndicate brasileiro e funda a Agência Periodista Latino-Americana (Apla).
A Apla não apenas distribuía tiras estrangeiras; o desenhista haitiano André LeBlanc criou a tira Morena
Flor, que foi distribuída não apenas no Brasil, mas também em outros países da América Latina e até
mesmo nos Estados Unidos . Na década de 1960, a Record também se tornou uma editora
.
Após 1942, Aizen passou a ter dificuldades financeiras, e logo vendeu sua editora para o governo
Vargas, mas continuou prestando serviços para o jornal A Noite; em 1945, Aizen pede a João Alberto,
diretor do jornal para que o ajude a conseguir um empréstimo no Banco do Brasil, e com um capital de
dois milhões de cruzeiros, funda a Editora Brasil-America Ltda. (mais conhecida pela sigla EBAL), tendo
como sócios o próprio João Alberto e Claudio Lins de Barros. Aizen lança a revista Seleções Coloridas,
trazendo personagens da Walt Disney Company, e a revista foi publicada em parceria com a argentina
"Editorial Abril" de Cesar Civita. Civita era um italkim (um judeu italiano) e, antes de ter a própria editora,
foi funcionário da italiana Arnoldo Mondadori Editore, que publicava os quadrinhos Disney; a experiência
na Itália lhe possibilitou conseguir a licença dos personagens Disney na América Latina, e a editora de
Civita possuía uma impressora que possibilitava imprimir em quatro cores. Vale ressaltar que os
personagens Disney já haviam sido publicados nas revistas O Tico-Tico, Suplemento Juvenil, O Globo
Juvenil , O Lobinho, Mirim, Guri e Gibi, porém em Seleções Coloridas os leitores brasileiros puderam ler
pela primeira vez as histórias produzidas por Carl Barks . A revista teve 17 edições e foi publicada
até 1948. Em Julho de 1947, Aizen publica a primeira revista publicada apenas pela EBAL, O Heroi
(grafada sem acento), que publicou os heróis das selvas da Fiction House, além de histórias
de faroestes, e também é lançada a primeira revista Supermanno país (o nome Superman, era usado
apenas no título, dentro da revista era usada a grafia Super-Homem); no ano seguinte lança a
revista Edição Maravilhosa, inspirada nas americanas Classics Illustrated e Classic Comics que traziam
adaptações de livros em quadrinhos. Na época, os quadrinhos eram vistos como má influência por
educadores e religiosos, e durante 23 edições, a revista publicou histórias produzidas nos Estados
Unidos; na edição 24, Aizen encomendou a André LeBlanc uma adaptação de O Guarani. Para
aproveitar o sucesso dos quadrinhos entre as crianças, foram criadas as revista Sesinho (1947)
do Serviço Social da Indústria (o Sesi) e Nosso Amiguinho (década de 1950), da Casa Publicadora
Brasileira . Apesar de Seleções Coloridas serem impressas em cores, todas as publicações posteriores
da EBAL eram em preto e branco; em 1951, uma edição especial da revista Superman foi publicada em
cores , porém a editora só investiria em publicações coloridas na década de 1970 .
O nome do personagem Black Terror da editora americana Nedor Comics, deu origem no Brasil a
primeira revista dedicada ao terror no Brasil
Em março de 1947, o ilustrador português Jayme Cortez resolveu se mudar para o Brasil. Cortez havia
colaborado na revista portuguesa O Mosquito e no semanário feminino A Formiga. Ao chegar ao país,
começa a produzir charges políticas para o jornal O Dia; em maio do mesmo ano, produz a tira semanal
"A Caça dos Tubarões", publicada pelo Diário da Noite, e logo em seguida adapta o romance O Guarani,
no formato de tiras diárias para o mesmo jornal; em 1949, passa a trabalhar em A Gazeta Juvenil do
jornal A Gazeta, onde adapta O rajá de Pendjab de Coelho Neto.
Em 1949, o irmão de Cesar Civita, Victor se muda para o Brasil, e no ano seguinte resolve seguir os
passos do irmão, fundando a Editora Primavera. Sua primeira publicação foi a revista em quadrinhos
Raio Vermelho, uma revista no formato horizontal (21,5 x 28,5 cm) e composta por quadrinhos oriundos
da Itália; em Junho do mesmo ano, já com o nomeEditora Abril, publicou a revista O Pato Donald. Assim
como Aizen, Victor também não poderia ser dono de uma empresa no país, e para burlar a lei brasileira,
convida Giordano Rossi (um mineiro descendente de italianos) para ser seu sócio; Victor conhecera
Rossi quando este era funcionário de um banco, e com uma pequena cota de ações, Rossi atuava como
contador da editora. A revista O Pato Donald foi publicada inicialmente no formato americano, mas a
partir da 22ª edição, publicada em março de 1952, passou a ser publicada em Formato Pato (também
conhecido como formatinho) . O formato fora trazido da Itália: a revista Topolino (nome italiano do Mickey
Mouse) da Montadori, era publicada desde 1932 no formato tabloide , porém em 1939, a editora resolve
se basear no formato da revista Reader's Digest que também era publicada pela Mondadori. Nos
Estados Unidos, o formato é conhecido como "digest size" .
Em Janeiro de 1950, a Casa Editorial Vecchi, lança a revista O Pequeno Xerife no formato de talão
de cheque, outro formato importado da Itália; em julho do mesmo ano, O Globo também lançaria uma
revista nesse formato, Júnior, que em sua 28ª edição publicaria, pela primeira vez no país, o cowboy Tex
Willer, da Sergio Bonelli Editore .
Também em 1950, a "La Selva", distribuidora de jornais e revistas, torna-se uma editora. A empresa foi
fundada em 1935, pelo italiano Vito Antonio La Selva, que chegara em São Paulo em 1925, logo se
tornando jornaleiro de ruas, e oito anos depois, tornando-se dono de uma banca de jornal. Vito teve
como sócio um outro italiano de sobrenome Pelegrini, e a distribuidora lançou duas revistas, "Bom
Humor" e "Aventuras" (sendo Aventuras uma revista em quadrinhos). Em 1947, a sociedade com
Pelegrini é desfeita e Vito passa a trabalhar com os filhos, e em março de 1950, a "La Selva" torna-se
uma editora propriamente dita, com o lançamento da revista "Seleções de Rir Ilustrada". A editora não
demoraria a investir em quadrinhos, comprando a revista "O Cômico Colegial", de Auro Teixeira, criada
em 1949, que foi vendida pelo seu editor, em dificuldades financeiras. Para publicá-la, em julho de 1950,
a La Selva adquire, através da Record, os direitos de publicação do personagem "The Black Terror" da
Nedor Comics. A Record vendia personagens desconhecidos a menores preços a editoras pequenas, e
em julho de 1950 lança a revista "O Terro Negro" como suplemento extra da revista O Cômico Colegial;
a revista publicou heróis como o personagem título (que Reinaldo Oliveira e Jácomo La Selva pensaram
ser de uma história de terror) e de outros heróis como Doc Strange e Homem-Maravilha; na edição
seguinte, foi usada uma capa desenhada por Jayme Cortez, típica de histórias de terror, mostrando
a personificação da morte acordando um perplexo rapaz. Apenas na 9º edição (Março de 1951), a revista
deixou de trazer o nome da revista Cômico Colegial, trazendo apenas o nome O Terror Negro, chegando
a fazer sucesso. Por não possuir, porém, mais histórias do personagem principal para publicar, Jácomo
de Oliveira resolveu comprar direitos de quadrinhos de terror, como a revista Beyond, da editora Ace
Publication. Em 1953, O Terror Negro passou a ser quinzenal, e surgem outras revistas do gênero
Sobrenatural, tais como Contos de Terror, Frankenstein (no ano seguinte); as revistas eram todas
compostas de matéria estrangeira, e os artistas brasileiros eram responsáveis apenas pelas capas. A
editora também publicou as revistas infantis Capitão Radar, Bill Kid, Supermouse, Pato Dizzy, Seleções
Juvenis, entre outras. Ainda em 1953, as revistas da La Selva passam a ser impressas nas gráficas da
editora Abril. Selva e Civita se tornaram amigos por causa da origem italiana; Cláudio de Souza, que
trabalhava na Abril, passou a colaborar na La Selva, editando as revistas policiais Emoção e Conto de
Mistério e produzindo roteiros para os quadrinhos de "Arrelia e Pimentinha", "Fuzarca e Torresmo",
"Oscarito eGrande Otelo", "Fred e Carequinha" e "Mazzaropi". Em 1951, Claudio havia sido indicado
por Jerônymo Monteiro, primeiro editor da Abril, quando ela ainda se chamada Primavera , Claudio havia
trabalhado com ele no suplemento A Gazeta Juvenil, era editor do suplemento, onde também publicaria
histórias do personagem Dick Peter, personagem criado em 1937, criado para
uma radionovelatransmitida pela Rádio Tupi (uma outra empresa do grupo Diários Associados) , o
personagem ainda seria publicado em O Cômico Colegial, sendo adaptado também para um teleteatro
exibido pela TV Tupi , Monteiro também é reconhecido com um dos pioneiros da ficção científica
brasileira . Na Abril, Souza ajudou a criar a Distribuidora Nacional de Publicações (DINAP) e as
revistas Capricho,Cláudia e Placar, além de criar o Centro de Criação, responsável pela formação de
roteiristas e desenhistas para a editora .
Tanto nos Estados Unidos, quanto no Brasil, os títulos de terror foram os principais alvos de jornalistas e
psiquiatras que achavam que os quadrinhos eram má influência para crianças e adolescentes
Os quadrinhos de terror da editora foram bastante criticados pelo jornalista Carlos Lacerda, que afirmava
que tais revistas eram má influência para as crianças; tal pensamento também existia nos Estados
Unidos, sobretudo após a publicação do livro Seduction of the Innocent, do psicólogo alemão Frederic
Whertam em 1954. Whertam não criticava apenas as revistas de terror, e também não era o único
psiquiatra a defender a tese de que os quadrinhos eram nocivos - desde o início da década de 1950,
o Senado americano, já havia criado uma subcomissão para estudar a má influência dos quadrinhos em
crianças e adolescentes. O Senado americano convocou os artistas Walt Kelly, Milton Caniff e Joe
Musial, representantes da National Cartoonists Society, e embora não tenha sido convidado, William
Gaines da EC Comics (principal editora de quadrinhos terror, muitos deles chegaram a ser publicados
pela La Selva), e o próprio Whertam também compareceu. No dia seguinte ao depoimento, vários jornais
publicaram matérias não favoráveis sobre Gaines; em setembro do mesmo foi criada a Comic Magazine
Association of America, e no mês seguinte, a entidade criou o Comics Code Authority, um código de
autocensura; boa parte do código foi inspirado em códigos já existentes nas editoras DC e Archie
Comics (principal editora da entidade). Na verdade, esta não foi a primeira tentativa de se criar um
código de autocensura; em 1948, a Association of Comics Magazine Publishers também tentara, porém
não surtiu efeito. Em 1955, Adolfo Aizen e Alfredo Machado recebem um conjunto de nove livretos
contendo todas as 41 regras do Comics Code Authority.
Algumas das gráficas e colaboradores da La Selva se tornariam editoras, como a Bentivegna de
Salvador Bentivegna e a Novo Mundo de Victor Chiodi, Orbis, Júpiter e Continental. Vito La Selva morre
em 1967, a editora foi fechada em 1968, motivada por uma crise financeira e por brigas entre os filhos de
Vito.
Em 1951, Miguel Penteado, Reinaldo de Oliveira, Álvaro de Moya, Jayme Cortez e Syllas Roberg
organizam a Exposição Internacional de Histórias em Quadrinhos, onde foram expostas várias artes
originais dos autores das tiras de jornal: Alex Raymond (Flash Gordon),Milton Caniff (Terry e os piratas e
Steve Canyon), Hal Foster (Tarzan e Príncipe Valente) e Al Capp (Ferdinando) , no ano seguinte, os
artistas criam a ADESP (Associação dos Desenhistas de São Paulo), uma das principais bandeiras da
entidade era a nacionalização dos quadrinhos, ou seja, a criação de cotas para quadrinhos produzidos
por artistas brasileiros .
Em 1952, Roberto Marinho resolveu criar uma editora, de início escolheu o nome Editora Globo para
fazer alusão ao seu jornal, porém foi impedido, já que Livraria do Globo de Porto Alegre também atuava
como editora, assim Marinho cria a Rio Gráfica Editora (mais conhecida pela sigla RGE).
Na segunda metada da década de 1950, surgiram também os primeiros trabalhos independentes
de Carlos Zéfiro, autor doscatecismos (quadrinhos eróticos); Zefiro era o pseudônimo do carioca Alcides
Aguiar Caminha, cuja verdadeira identidade só seria revelada em 1991, pelo jornalista Juca
Kfouri nas Revista Playboy.
A editora Continental foi fundada em 1959 por Miguel Penteado, José Sidekerskis, Victor Chiodi, Heli
Otávio de Lacerda, Cláudio de Souza, Arthur de Oliveira e Jayme Cortez. Os quadrinhos da Continental
eram totalmente produzidos no país, e passaram pela editora:Gedeone Malagola, Júlio
Shimamoto, Flavio Colin, Gutemberg Monteiro, Nico Rosso, Paulo Hamasaki, Wilson Fernandes entre
outros. A editora lançou alguns títulos licenciados: Capitão 7 (baseado em uma série de televisão
da Rede Record, Capitão Estrela (um super-herói pertencente a Estrela , cujo seriado era exibido
pela TV Tupi , O Vigilante Rodoviário (da TV Excelsior), desenhado por Flavio Colin, e Jet Jackson, um
personagem surgido em um programa de rádios dos Estados Unidos com o nome de Captain Midnight; o
personagem já havida sido adaptado para os quadrinhos pela editora Fawcettt, no Brasil, essas histórias
foram publicadas na revista O Guri . A Continental também foi a primeira editora a publicar o
cãozinho Bidu, de Mauricio de Sousa, que havia estreado em tiras diárias publicadas no jornal Folha da
Manhã (atual Folha de São Paulo) no mesmo ano de fundação da editora . Quase dois anos depois de
sua fundação, a editora teve que mudar de nome para Outubro, pois os proprietários descobriram que já
havia uma empresa com o mesmo nome e que estava em processo de falência; o nome Outubro
também gerou problemas jurídicos, pois ao fundar a editora Abril, Victor Civita, havia registrado todos os
meses do ano. Em 1966, Miguel Penteado e Jayme Cortez saem da editora, Eli Lacerda e Manoel César
Cassoli a assumem e a batizam de Taíka (nome da filha de Lacerda); Penteado e Luiz Vicente Neto
fundam a GEP (Gráfica Editora Penteado)
.
Outras editoras passaram a publicar personagens licenciados; do rádio vieram As aventuras do Anjo,
pela RGE (também desenhada por Flavio Colin e por Walmir Amaral), Jerônimo, o Herói do Sertão e
Capitão Atlas pela Garimar (este último também trazia histórias de Morena Flor de LeBlanc) ; a Garimar
também publicou o Falcão Negro, uma espécie de Zorro medieval , personagem de um seriado televisivo
produzido e exibido pela TV Tupi, em São Paulo, que era interpretado por José Parisi, e no Rio de
Janeiro porGilberto Martinho (iniciada em 1957)
.
Na década de 1960, o sucesso do terror nacional fez com que as editoras
incentivassem seus colaboradores a investirem em novos gêneros. Desses,
um dos de que tiveram mais sucesso foram os super-heróis. O
estudioso Worney Almeida de Souza lista 34 super-heróis brasileiros
surgidos antes dos anos 1970, sem contar os super-vilões e heróis não-
mascarados.
Nosso primeiro grande super-herói foi o Capitão 7, no início dos anos 1960,
baseado num seriado homônimo exibido pela TV Record, de autoria
de Ayres Campos. O Capitão 7 é um menino do interior de São Paulo levado
a um planeta distante, de onde volta com super-força, super-inteligência,
capacidade de voar e um uniforme atômico. O personagem, cujo visual foi
criado por Jayme Cortez, foi desenhado por Júlio Shimamoto, Juarez
Odilon, Sérgio Limae Getúlio Delfim e fez muito sucesso, durando muitos
números, até por estar ancorado em uma atração televisiva. Chegaram a
existir até mesmo fantasias do personagem para a época de carnaval.
O sucesso do Capitão 7 fez com que a Estrela, maior fábrica de brinquedos
da época, encomendasse a criação do Capitão Estrela, em uma revista
lançada pela continental (a mesma do concorrente), que acabou não fazendo
sucesso.
O caminho aberto pelo Capitão 7 foi explorado por outros artistas, que se
aproveitaram do fato de muitos heróis ainda não serem conhecidos no Brasil.
Exemplo disso é o Raio Negro, criado por Gedeone Malagola para a
editora GEP. Gedeone tinha apresentado o Homem-lua (que depois seria
aproveitado), mas como ele não parecia tão super-herói, os editores pediram
que ele desse uma olhada no novo Lanterna Verde. Misturando os poderes
do Lanterna com o uniforme do Ciclope dos X-men, surgiu o Raio Negro,
um dos personagens de maior sucesso da época.
Um dos heróis mais interessantes surgidos no período foi o Golden Guitar,
um herói criado para aproveitar o sucesso da jovem guarda. Os donos da
editora Graúna queriam licenciar os personagens da série Archie para tentar
captar o interesse do público jovem. Como não conseguiram, encomendaram
para Macedo A. Torres um herói juvenil inspirado no movimento musical
Jovem guarda. O resultado foi um herói psicodélico, que usava como arma
uma guitarra, através da qual disparava dardos tranqüilizantes e outras
maluquices. Além dos quadrinhos, o gibi trazia letras das músicas
de Roberto Carlos, Erasmo e Wanderléa. Essa é atualmente uma das
revistas mais raras do período e também uma das mais procuradas pelos fãs.
A estréia dos chamados heróis Shell (os personagens da Marvel foram
lançados no Brasil numa campanha dessa rede de postos de gasolina) criou
um grande interesse pelo gênero e fez com que surgissem vários gibis
nacionais. Eugenio Colonnese criou Mylar, o homem mistério, para a
editora Taika.
Outro herói de sucesso foi O Escorpião. Tratava-se de uma cópia descarada
do Fantasma, feita por Wilson Fernandes a pedido da editora Taika, em
1966. Como a revista começou a vender muito (os dois primeiros números
esgotaram a tiragem de 50 mil exemplares), a editora ficou com medo
da King Features Syndicate, e pediu ao desenhista Rodolfo Zalla e ao
roteirista Francisco de Assis que reformulassem o personagem. Assim, o
Escorpião tornou-se um defensor das selvas amazônicas e continuou sua
carreira de sucesso.
Mas nenhum herói do período fez tanto sucesso quanto o Judoka, lançado
pela Ebal com roteiros de Pedro Anísio e desenho de vários artistas. O
personagem usava um collant com um quimono verde e branco, além de uma
máscara. Seu mestre no judô era o sábio Minamoto. Além disso, ele contava
com a ajuda de sua namorada Lúcia. A revista pegava a onda ufanista do
período militar e exaltava as belezas do Brasil. Para isso, o personagem
percorria diferentes pontos do país.
Os heróis brasileiros não resistiram aos anos 1970. Uma das razões disso
era a censura prévia. As revistas tinham de ser enviadas a Brasília, sendo
analisadas por censores, que muitas vezes cortavam cenas, páginas, ou
mandavam reformular histórias inteiras. Era mais fácil para as editoras
importar quadrinhos americanos, até porque esses não costumavam
despertar a atenção dos censores. Além disso, os endurecimentos da
ditadura e da crise econômica foram acabando com o sentimento patriótico e
ufanista dos leitores.
A moda passou a ser achar bom o que vinha de fora, especialmente dos
EUA. Com isso os super-heróis foram desaparecendo. Pior: começou a se
achar que esse era um gênero que não podia ser trabalhado por brasileiros,
pois tinha pouco a ver com a realidade nacional. De um lado os quadrinhos
nacionais de super-heróis eram perseguidos pelos censores da ditadura. Por
outro lado, eram perseguidos pelos intelectuais de esquerda, que achavam
que eles eram colonialismo imperial norte-americano. Com isso, até hoje, não
temos um grande herói nacional dos quadrinhos.
1960
Vivia-se intensamente a vida, a universidade, a arte, o debate cultural e novos métodos educacionais de
alfabetização (CIRNE, 1979, p. 34).
O personagem Pererê, criação de Ziraldo Alves Pinto, apareceu exatamente nesse momento.
Primeiramente, constituía apenas um cartum na publicação O Cruzeiro , revista semanal de variedades
que então ocupava os primeiros lugares de vendagem e penetração popular no país. Depois de algum
tempo, o personagem foi lançado como revista de histórias em quadrinhos pela mesma editora do
magazine, com periodicidade mensal.
O Pererê era uma espécie de diabo travesso do folclore brasileiro, apresentado como um menino tanto
nos cartuns como nas histórias em quadrinhos, nos quais aparecia sempre acompanhado por uma
variedade de personagens com características brasileiras bem evidentes: um indígena típico, uma
coruja, um tatu, um coelho, uma onça, um jabuti, um caçador tradicional do sertão brasileiro, etc. Tudo
isso resultava em um trabalho que, como muito poucos na literatura e arte populares brasileiras, foi
capaz de refletir fielmente a sua sociedade e o seu tempo. Desta forma, ele representou um novo
paradigma para os quadrinhos infantis no país, estabelecendo um modelo para todos os autores que
quisessem falar da realidade brasileira por intermédio das histórias em quadrinhos.
O Pererê foi publicado de 1960 a 1964, totalizando 43 números e 182 histórias (Cirne, 1975, p. 37). Sua
publicação deixou de acontecer exatamente quando o período que o personagem tão esplendidamente
representou foi abruptamente encerrado pelo golpe militar de 64. Mesmo que, eventualmente, os motivos
reais da interrupção da revista tenham sido econômicos e não políticos afinal, como as revistas são
preparadas com meses de antecedência, a decisão de interromper a publicação já estava tomada bem
antes da movimentação militar -, fica evidente que, nos novos e sombrios tempos que o país
mergulhava, não haveria mais lugar para o nacionalismo ingênuo que ela gostava de apregoar. Pelo
contrário, ele até poderia ser visto como uma espécie de subversão. E, considerando a visão de mundo
e as forças predominantes na época, certamente o seria...
Ziraldo, por uma questão talvez ideológica e de opção artística pessoal, sempre procurou focalizar, em
suas histórias, o mais amplo espectro possível de nossa brasilidade. Nas páginas de Pererê, os
aspectos muitas vezes esquecidos do modo de ser do povo brasileiro e de sua problemática social
desfilaram como nunca antes haviam feito em outra publicação de quadrinhos (e como, provavelmente,
jamais tornaram a fazer depois dela). Pelos vários anos de publicação da revista desfilaram temáticas
bem peculiares à visão de mundo do brasileiro, como a politicagem dos homens públicos, o carnaval, a
religiosidade popular, o futebol, as caçadas de onça, os jogos infantis, a alta burguesia carioca, etc.
Encerrada a experiência com Pererê, seu autor iniciou uma consagrada carreira desenhando cartuns
políticos, logo seguida pela elaboração de livros infantis extremamente populares entre as crianças
brasileiras. Duas vezes mais ele iria tentar voltar às aventuras do Pererê, uma durante a década de 70 e
outra nos anos 80. Em ambas as ocasiões, ele utilizou outros artistas para desenhar e/ou roteirizar as
histórias e foi relativamente bem sucedido em manter a mesma atmosfera da série original, com várias
histórias que se colocavam à altura das primeiras, por ele isoladamente criado. (Infelizmente as novas
experiências não foram bem sucedidas em seu objetivo principal, ou seja, o de obter a aprovação das
crianças brasileiras). Eram outros tempos, então; talvez, diferentes crianças.
A ADESP, composta por Mauricio de Sousa (presidente), Ely Barbosa (vice), Lyrio Aragão Dias
(secretário-geral), Luiz Saidenberg (primeiro-secretário), Daniel Messias (segundo-secretário), Júlio
Shimamoto (tesoureiro), José Gonçalves de Carvalho (primeiro tesoureiro) e Ernan Torres, Gedeone
Malagola e Enersto da Mata (conselho fiscal), continua sua campanha pela nacionalização dos
quadrinhos. Em 1961, o presidente eleito Jânio Quadros, chega a elaborar uma lei de reserva de
mercado para quadrinhos; temendo represálias, as principais editoras de quadrinhos da época: EBAL,
Rio Gráfica Editora, Abril, Record e O Cruzeiro criam "Código de Ética dos Quadrinhos", a versão
brasileira do Comics Code, tendo como base o código americano e os "Mandamentos das histórias em
quadrinhos" da EBAL. Tais mandamentos foram criados por Aizen ainda em 1954, e foram usados na
série inglesa Romeu Brown (as mulheres sensuais da série ganharam roupas mais comportadas) e na
adaptação de Casa-Grande & Senzala de Gilberto Freyre. Até mesmo séries americanas submetidas ao
Comics Code eram reavaliadas pelo código da editora, porém Jânio acaba renunciando no mesmo ano,
e o projeto de lei é abandonado; seu cunhado Leonel Brizola, então governador do Rio Grande do Sul,
resolve criar a CETPA (Cooperativa e Editora de Trabalho de Porto Alegre-RS), e a CETPA funcionaria
não só como editora, como também atuaria como syndicate, distribuindo tiras de artistas brasileiros. A
ideia foi proposta por José Geraldo (que já havia desenhado para a EBAL), e a editora publicou os
trabalhos de Júlio Shimamoto, Getúlio Delphin, João Mattini, Bendatti, Flávio Teixeira, Luiz Saidenberg
e Renato Canini; a CETPA, porém, duraria apenas dois anos. Em Setembro de 1963, o presidente João
Goulart assinou o Decreto-lei 52.497; além de cotas, a lei previa censura à nudez, racismo, guerra,
prostituição e sadismo, e as principais editoras de quadrinhos pediram a anulação do decreto-lei, em
outubro. O ministro do Supremo Tribunal Federal, Cândido Mota Filho, concordava com os editores,
alegando que a Presidência da República não poderia interferir na publicação de livros e periódicos,
porém o procurador geral da república, Osvaldo Trigueiro de Albuquerque Melo, defendia a lei, alegando
ser constitucional, e o ministro Hermes Lima pediu vistas do processo para que pudesse estudá-lo mais
detalhadamente. O STF se pronunciou favorável aos artistas dois anos depois, durante o mandato do
presidenteHumberto de Alencar Castelo Branco, entretanto, a lei não teve efeito legal, já que deveria ter
entrado em vigor em 1964. Com a instauração do Regime Militar, Mauricio de Sousa se retira da ADESP,
alegando que a entidade estaria ganhando conotação política.
Mauricio de Sousa começa a ampliar seus personagens infantis, surge
o Cebolinha (1960), Cascão (1961) e Mônica (1963), esta última baseada em sua própria filha, Mônica
Spada; logo em seguida o núcleo de personagens iniciados com Bidu e Franjinha passaria a ser
conhecido como A Turma da Mônica . Enquanto publica A Turma da Mônica no jornal Folha de São
Paulo, Sousa também lança o herói espacial Astronauta (1963) e homem das
cavernas Piteco (1964) pelo jornal paulista Diário da Noite, que também pertence ao
conglomerado Diários Associados, logo em seguida criaria um syndicate para publicar suas próprias
tiras
.
Em setembro de 1963, Lenita Miranda de Figueiredo cria a Folhinha, suplemento infantil do jornal Folha
de São Paulo. Mauricio de Sousa auxilia Lenita na produção do jornal, publicando tiras de seus
personagens, além de criar a mascote "Augustinha”. A pedido de Mauricio de Sousa, Julio Shimamoto
cria a tira O Gaúcho para ser publicada no suplemento, uma espécie de Zorro brasileiro; Em 1964, o
italiano de mãe brasileira Eugênio Colonnese se muda para o Brasil. Colonnese iniciou a carreira como
quadrinista na Argentina em 1949, e ao visitar a mãe em 1957, publica pela EBAL uma adaptação de O
Navio Negreiro de Castro Alves. Ao estabelecer residência no Brasil, começa a desenhar quadrinhos
românticos para a Ediex (Editormex), uma editora de origem mexicana, e logo retomaria parceiras com
artistas com quem trabalhou na Argentina: o roteirista Osvaldo Talo e o desenhista Rodolfo Zalla. Zalla
havia chegado ao Brasil no ano anterior, e seus primeiros trabalhos foram tiras diárias do personagem
Jacaré Mendonça para o jornal Última Hora; posteriormente, desenhou para a Taika o Targo (um herói
tipo Tarzan) e O Escorpião (uma espécie de Fantasma brasileiro criado por Wilson Fernandes; coube a
Zalla mudar o visual do personagem para evitar um processo de plágio pela King Features Syndicate).
Em 1966, Zalla e Colonnese fundaram o Estúdio D-Arte, que prestaria serviços a várias editoras
brasileiras ; em 1967, Colonesse cria para a editora Jotaesse, de José Sidekerskis, a sensual Mirza, a
mulher vampiro . Zalla e Colonnese foram responsáveis pela utilização da linguagem dos quadrinhos em
livros didáticos.
Ainda em 1964, o desenhista Minami Keizi resolve apresentar seu personagem Tupãzinho, o guri
atômico, em editoras paulistas. Inspirado emAstro Boy, de Osamu Tezuka, o personagem apresentava
as características típicas dos mangás (quadrinhos japoneses). Ao ver os desenhos do personagem, o
desenhista Wilson Fernandes aconselha Keizi a mudar a anatomia para um estilo mais próximo dos
quadrinhos americanos; no ano seguinte, Keizi publica tiras diárias do Tupãzinho no jornal Diário Popular
(atual Diário de São Paulo), e desta vez Keizi passa a se basear no estilo dos personagens da Harvey
Comics: Gasparzinho, Riquinho e Brasinha. No ano seguinte, publica uma revista do Tupãzinho pela
editora Pan Juvenil, de Salvador Bentivegna e Jinki Yamamoto, quando Keizi se torna supervisor da
editora. A Pan Juvenil não andava bem financeiramente, e ainda em 1966 Keizi publica o Álbum
Encantado, pela Bentivegna Editora, com adaptações de fábulas infantis escritas pelo próprio Keizi. O
que diferencia essa publicação é que Keizi orientou os desenhistas Fabiano Dias, José Carlos Crispim,
Luís Sátiro e Antonio Duarte a seguirem o estilo mangá; logo em seguida Bentivegna e Yamamoto
convidam Keizi para ser sócio na EDREL (Editora de Revistas e Livro); o Tupãzinho virou símbolo da
EDREL. A editora também foi responsável por revelar outro descendente de japoneses influenciado
pelos mangás, Claudio Seto.
Pela EDREL, Seto publicou os personagens Flavo (também inspirado em Astro Boy), Ninja, o Samurai
Mágico, Maria Erótica e O Samurai. Outros descendentes de japoneses trabalharam na editora,
como Fernando Ikoma e os irmãos Paulo e Roberto Fukue, entretanto, nenhum deles apresentava
influência dos mangás. Paulo Fukue, por exemplo, criou Tarun, um outro herói com influências de
Tarzan. Fernando Ikoma teve contato com os mangás através dos trabalhos de Keizi e de Seto, e
acabaria sendo o primeiro a escrever sobre mangás no livro "A técnica universal das histórias em
quadrinhos", publicado no início da década de 1970; o livro dava continuidade ao Curso Comics,
um curso por correspondência inicialmente escrito por Minami, Fabiano Dias, Crispim e Seto.
Em 1965, Edson Rontani lança Ficção (Boletim do Intercâmbio Ciência-Ficção Alex Raymond), o
primeiro fanzine brasileiro dedicado a histórias em quadrinhos, que trazia informações sobre os
quadrinhos brasileiros desde a publicação de O Tico-Tico em 1905.
Em 1967, a Rede Bandeirantes, compra a série de desenhos animados The Marvel Super Heroes, e com
isso a EBAL resolve lançar os quadrinhos da Marvel Comics, que era representada no Brasil pela Apla. A
editora estabelece uma parceria com os postos Shell, que distribuem edições promocionais
gratuitamente para quem abastecesse nos postos da empresa, porém a EBAL não adquire todos os
títulos da editora americana, prefere lançar os personagens que apareciam nos desenhos
animados: Capitão América, Hulk, Thor, Namore Homem de Ferro, enquanto outras editoras pequenas
lançam os títulos restantes: a GEP lançou X-Men, Surfista Prateado e Capitão Marvel na revista Edições
GEP e a Trieste lançou Nick Fury. O Homem-Aranha, só seria lançado pela EBAL em 1969, também por
decorrência de um desenho animado. Inicialmente, a editora reproduziu a revista tal qual sua matriz
americana, usando o formato americano e 32 páginas, exceto pela ausência das cores; posteriormente,
as revistas passaram a ter o dobro de páginas. Segundo o cartunista Ota, os leitores brasileiros não
estavam habituados com o método "continua no próximo número", usado pela editora americana.
Muitos personagens cujas histórias haviam sido canceladas nos Estados Unidos, tiveram novas histórias
produzidas por artistas brasileiros. Foi esse o caso do Homem-Mosca, da Archie Comics, de Jack
Kirby e Joe Simon(criadores do Capitão América), publicado pela La Selva; e Tor, de Joe Kubert.
Publicados em 1956, pela editora Novo Mundo, ambos ganharam roteiros de Gedeone Malagola. Tor,
que já havia aparecido no país em 1954, pela editora Vida Doméstica, seria publicado novamente no
Brasil na década de 1970, pela EBAL, que na ocasião importou as histórias produzidas por Kubert para
a DC Comics. Na década de 1950, o Capitão Marvel da Fawcett Comics, foi um personagem bastante
popular na Inglaterra, com o cancelamento (por conta de um processo de plágio movido pela National
Publications, atual DC Comics), a editora Len Miller & Son encomendou ao quadrinista Mick Anglo a
criação do Marvelman; na década de 1980, o personagem ganharia um releitura do roteirista Alan
Moore, que criou uma verdadadeira desconstrução do herói. No Brasil, durante a década de 1960, a
RGE publicou histórias do Marvelman junto com as histórias do Capitão Marvel, e o personagem era
chamada de Jack Marvel; posteriomente a editora publicou um inusitado crossover (encontro) entre o
Capitão e o andróide Tocha Humana da Timely Comics. Na GEP, Gedeone Malagola criou algumas
histórias dos X-Men para a revista Edições GEP, numa delas os mutantes se confrontaram com uma
versão alternativa do Thor . A editora Malagola também publicou seus super-heróis, Raio Negro (cujos
poderes e origem eram similares ao Lanterna Verde), o Homem-Lua (criado a partir de um roteiro
recusado pela RGE para O Fantasma de Lee Falk, e o Hydroman (inspirado no Namor da Marvel). Raio
Negro teve uma revista própria (onde também eram publicados Homem-Lua e Hydroman), e algumas
histórias publicadas na revista Edições GEP, além de protagonizar um curioso crossover com Unus, um
vilão dos X-Men. Na história, Unus era retratado como um herói (algo que nunca ocorreu em histórias da
Marvel).
No final de 1969, a EBAL, por conta do cancelamento da Revista do Mestre Judoca (personagens
daCharlton Comics nos EUA), encomenda a Pedro Anísio e Eduardo Baron um novo herói brasileiro:
oartista marcial mascarado Judoka. O personagem tinha roteiros escritos por Pedro Anísio e desenhos
de Eduardo Baron, Mário José de Lima, Fernando Ikoma e Floriano Hermeto. Em 1973, foi adaptado
para os cinemas em um filme estrelado por Pedro Aguinaga e Elisângela); apesar do filme, a revista do
herói foi cancelada no mesmo ano. A Rio Gráfica Editora também deu continuidade a personagens
de faroeste, que tiveram suas histórias encerradas: Rocky Lane (revista licenciada baseado em um ator
de filmes do gênero) e Cavaleiro Negro da Marvel Comics; neste último, para suprimir material, a editora
adaptou história do personagem espanhol Gringo, algumas delas produzidas pelo brasileiro Walmir
Amaral e pelo italiano Primaggio Mantovi ; Primaggio mudara para o Brasil com apenas nove anos de
idade. Ainda pela editora, seriam produzidas histórias do Recruta Zero, de Mort Walker. Walmir Amaral
e Gutemberg Monteiro também produziriam histórias do Fantasma, de Lee Falk.
No início dos anos 1970 os quadrinhos infantis no país predominaram, com o início da publicação das
revistas de Maurício de Sousa e a montagem pela Editora Abril de um estúdio artístico, dando
oportunidade a que vários quadrinistas começassem a atuar profissionalmente, produzindo
principalmente histórias do Zé Carioca e de vários personagens Disney, mas também trabalhando com
todos os personagens que a editora adquirira os direitos, como os da Hanna-Barbera. Artistas brasileiros
continuaram a desenhar histórias de personagens infanto-juvenis estrangeiros, como os contratados pela
RGE para darem continuidade à produção de histórias e capas das revistas de sucesso do O Fantasma,
Cavaleiro Negro, Flecha Ligeira, Recruta Zero e Mandrake. Assim como os artistas da RGE, Gedeone
Malagola escreveu roteiros para personagens como os X-Men, Homem Mosca, Tor, He-Man. Pelas suas
contas teria escrito 1500 roteiros, a maioria não creditado.
Os motivos da criação dessas histórias são:
1) As revistas em quadrinhos brasileiras costumavam ter mais páginas que um comic book tradicional de
22 páginas Isso é uma herança dos suplementos de quadrinhos e das antologias publicadas nos
Estados Unidos
2) Personagens cujas revistas foram canceladas no exterior fizeram relativo sucesso no país.
A prática de se criarem histórias de artistas brasileiros usando personagens estrangeiros é observada
desde O Tico Tico. Buster Brown ou (Chiquinho no Brasil) de Richard Felton Outcault foi o primeiro
personagem estrangeiro escrito e desenhado por brasileiros.
Vale mencionar a tentativa da Editora Abril em abrir espaço para personagens e autores brasileiros, com
o lançamento da Revista Crás! (1974-1975), que trazia alguns personagens satíricos como o Satanésio
(de Ruy Perotti) e o Kaktus Kid (de Canini, conhecido desenhista brasileiro do Zé Carioca).
Nos anos 1970, começou a circular no Brasil a revista MAD em português, que além do material original,
trazia trabalhos de artistas nacionais, com destaque para o do editor Ota. O sucesso desse lançamento,
também fez surgirem revistas similares, como Pancada (da Abril) e Crazy (da Bloch Editores).
Aproveitando a onda do western spaghetti foram criados Johnny Pecos, Chet, Chacal, Katy Apache
dentre outros.
Na linha da crítica política e social apareceu a revista Balão, de autoria de Laerte e Luiz Gê e publicada
por alunos da USP mas com curta duração de dez números. Alem da dupla de criadores, a revista
revelou vários autores igualmente consagrados nacionalmente até hoje, como os irmãos Paulo e Chico
Caruso, Xalberto, Sian e o incrível Guido (ou Gus), entre outros.
Em 1971, as regras do Comics Code se tornaram mais brandas. A Marvel Comics passou a publicar
títulos de terror e em meados da década de 1970, aBloch Editores que na época possuia licença dos
Quadrinhos Marvel, resolveu publicar esses títulos no Brasil. Tal como acontecera com os título
anteriores de terror, essas revistas também deram espaço para a produção local.
A metade da década é marcada pelo lançamento de diversos títulos de terror; em 1976, a Rio Gráfica
Editora lança a revista Kripta, uma revista no formato americano e em preto e branco, baseada nas
revistas Eerie e Creepie, da americana Warren Publishing . A editora iniciou sua linha de terror em 1964,
adotou o formato magazine (formato de revistas grandes como a brasileira Veja) e impressa em preto e
branco, e para evitar censura do Comics Code Authority, utilizou uma solução criada por William Gaines,
da EC Comics, na revista satírica Mad em 1955 (um ano após a implantação do código). Jim Warren
criador da Warren Publishing, convidou vários artistas que haviam trabalhado na EC antes da
implantação do código.
A década também foi marcada pelo surgimento de revistas em quadrinhos de humor que mesclaram
material estrangeiro e brasileiro e revista que resgataram tiras brasileiras e publicaram matérial inédito.
Abaixo, você poderá conferir uma série de capas de gibis vendidos em bancas entre o início dos anos 70
e começo dos 80.
Década de 1990
Na década de 1990, a História em Quadrinhos no Brasil ganhou impulso com a realização da 1ª e 2ª
Bienal de Quadrinhos do Rio de Janeiro, em 1991 e 1993, e a 3ª em 1997, em Belo Horizonte. Estes
eventos, realizado em grande número dos centros culturais da cidade, em cada versão contaram com
público de algumas dezenas de milhares de pessoas, com a presença de inúmeros quadrinistas
internacionais e praticamente todos os grandes nomes nacionais, além de exposições cenografadas,
debates, filmes, cursos, RPG e todos os tipos de atividades.
Em 1990, a editora Globo lança a revista Dreadstar: O Guerreiro das Estrelas, de Jim Starlin, mas a
revista durou apenas 10 edições; segundo o editor Leandro Luigi Dal Manto, o cancelamento ocorreu por
questões contratuais, pois Starlin havia trocado a Epic/Marvel pela First Comics, e a editora Globo não
conseguiu negociar com a nova editora.
Em 10 de maio de 1990, morre aos 93 anos o jornalista Adolfo Aizen, mas a editora ainda existiria
até 1995, quando publicaria o décimo quinto álbum do Príncipe Valente.
Em 1991, a Bloch Editores publicou a revista Mestre Kim, a revista era inspirada em Yong Min Kim,
coreano naturalizado brasileiro, no mestre de Tae-Kwon-Do, Kim, ensinou defesa pessoal à membros
da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro e da Polícia Federal e se apresentava em programas
da Rede Manchete (empresa do mesmo grupo do qual fazia parte a Bloch Editores)
192
, a revista teve
como roteiristas o próprio Kim, Antônio Ribeiro (assinando como Tony Carson) e desenhos de Eugênio
Colonnese e Marcello Quintanilha
.
Em 1993, Luiz Rosemberg fundador da Apla/Ica Press, morre e o syndicate é encerrado. Lourdes Belo
Pereira, que trabalhara na Apla desde 1964, criou a Intercontinental Press. Em 1995, a Editora Abril
Jovem, sob a direção editorial de Elizabeth Del Fiore, assina contrato com os ilustradores Jóta e Sany,
autores da revista Turma do Barulho, cujo universo, diagramação e o design das personagens inovavam
em relação aos outros personagens da época. Através de uma linguagem irreverente, Toby, Babi, Milu,
Kid Bestão, Bobi, entre outros, viviam aventuras dentro de um ambiente escolar longe de ser
politicamente correto, onde os roteiros eram desenvolvidos a partir da ideia "O humor pelo humor". A
revista Turma do Barulho foi um dos lançamentos que mais permaneceu no mercado naquele período,
sendo publicado pela Abril Jovem e logo em seguida pela Press Editora. Nessa época também apareceu
uma nova geração de quadrinistas, que foram contratados para trabalhar com as grandes editoras
americanas de super-heróis, Marvel e DC Comics: Mike Deodato e Luke Ross, dentre outros.
Apesar de continuar o lançamento de diversas revistas voltadas estritamente para a HQ brasileira, como
"Bundas" (já extinta), "Outra Coisa" (com informações sobre arte independente) e "Caô", pode-se
considerar que o gênero ainda não conseguiu se firmar no Brasil.
Graças ao sucesso de Os Cavaleiros do Zodiaco e outros animes na TV aberta, começam a surgir novas
revistas informativas, surgem a Revista Herói publicada em conjunto pela Acme e pela Nova
Sampa, Heróis do Futuro, além das revistas que traziam exclusivas sobre anime e mangá Japan Fury,
e Animax. Surgem também as revistas em quadrinhos inspiradas na estética mangás, como adaptações
dos Video gamesda Capcom Street Fighter, escrita por Marcelo Cassaro, Alexandre Nagado e Rodrigo
de Góes, pela Editora Escala; Megaman e Hypercomix pela Editora Magnum (editora que publicava
revista sobre armas de fogo), que teve a participação de artistas comoDaniel HDR (que desde 1995,
desenhava para o mercado americano, personagens comoGlory da Image Comics), Eduardo
Francisco e Érica Awano (onde os dois último fizeram sua estreia no mercado editorial).
Em 1995, surgem a primeira versão brasileira da revista Heavy Metal, publicada pela editora homônima,
a editora publicou as séries Druuna de Paolo Eleuteri Serpieri e Gullivera de Milo Manara , no ano
seguinte, o angolano Carlos Mann, dono da gibiteriaComnix Book Shop e o jornalista Dário Chaves,
publicam o álbum Brasilian Heavy Metal, o álbum teve 200 páginas e publicou apenas histórias
produzidas por brasileiros, tais como Leão Negro de Cynthia Carvalho (roteiro) e Ofeliano de Almeida
(desenhos), além de histórias produzidas por artistas como Júlio Shimamoto, Marisa Furtado, entre
outros , o lançamento surgiu em decorrência das comemorações de 10 anos da gibiteria Comix, no
mesmo ano, Sergio Guimarães, dono da editora Press convida Mann para ser editor da revista Heróis
do Futuro , a revista contou a colaboração de Chaves. Posteriormente, a editora Heavy Metal é dividida,
parte da editora é vendida para a Editora Escala e outra parte torna-se a editora Metal Pesado, a revista
Metal Pesado publicada pela editora ganhou em 1997, os prêmios Angelo Agostini e HQMix, a revista
Metal Pesado só publicava histórias de artistas brasileiros, a revista teve uma edição especial publicada
em comemoração dos 15 anos da Gibiteca de Curítiba, nela foi publicada histórias do herói O
Gralha produzidas por Alessandro Dutra, Gian Danton, José Aguiar, Antonio Eder, Luciano Lagares,
Tako X, Edson Kohatsu, Augusto Freitas e Nilson Müller. O Gralha é inspirado no obscuro herói Capitão
Gralha, um personagem que teve apenas uma revista publicada na década de 1940, sua criação é
atribuída a Francisco Iwerten, assim como Francisco Armound, roteirista de A Garra Cinzenta, a
verdadeira identidade de Iwerten é desconhecida, a editora também publicou as revista Zorro da Topps
Comics, Lobo da DC Comics e Preacher da Vertigo (selo adulto da DC). A editora mudaria usaria os
nomes Tudo em Quadrinhos, Fractal e por último Atitude Publicações, sendo encerrada em janeiro de
1999, no mês seguinte, o editor Eloy Pacheco cria uma nova editora derivada da Metal Pesado, a
Brainstore, que continua publicação de Preacher, cancelada pela Atitude , em 2005, a editora teve sua
sede invadida e assaltada, foram roubados computadores, scanners e impressoras da empresa, por
conta disso, a editora é encerrada.
Em 1996, a Editora Globo publicava os títulos da Sergio Bonelli Editore, e lançava no Brasil Sin City,
de Frank Miller, além da versão brasileira da Revista Wizard. Os títulos da Image Comics Gen, Wildcats,
Cyberforce e Witchblade, Savage Dragon e Spawn eram publicados pela editora Abril, e não durariam
muito tempo na editora, sendo cancelados, inclusive a revista Wizard, encerrada na décima quinta
edição, em 1998. Os títulos da Image, publicados pela Globo, retornariam às bancas brasileiras pela
Editora Abril. No mesmo ano, Dorival Vitor Lopes, Hélcio de Carvalho e Franco de Rosa criam a Mythos
Editora, que assume títulos da Sergio Bonelli Editore. No ano seguinte, Jotapê Martins cria a Via Lettera,
e em 1998, Franco de Rosa e Carlos Mann criam a Opera Graphica, inicialmente a Opera Graphica
funcionou como estúdio, Mann, Rosa e Chaves produziram as revistas HQ - Revista do Quadrinho
Brasileiro (uma outra revista inspirada na americana Heavy Metal), Graphic Talents, Comix Book Shop
Magazine, além de revista que ensinavam técnicas de desenho, todas publicadas pela Editora Escala,
além de quadrinhos eróticos publicadas pela editora Xanadu (um selo da Editora Escala).
Entre 1997 e 1998, Marcelo Cassaro consegue licença para lançar adaptações de Street Fighter Zero
3, Mortal Kombat 4 e lança suas HQs autorais Holy Avenger, U.F.O. Team.
Belo Horizonte tem se revelado um polo brasileiro para eventos ligados à nona arte. Recebendo a Bienal
Internacional de Quadrinhos em 1997, em sua terceira edição, durante as comemorações do centenário
da cidade, uma efervescência profissionalizante tomou conta da cidade, interessando diversos grupos e
empresas ligadas aos quadrinhos. Atualmente, Belo Horizonte conta com a Associação Cultural Nação
HQ, que implementa o Centro de Pesquisa e Memória do Quadrinho, além de promover encontros e
festivais anualmente. O Festival Internacional de Quadrinhos foi criado em 1999, substituindo a Bienal
Internacional de Quadrinhos, vindo a atender à demanda por um evento que abrigasse a produção
constante da cidade.
Em 1999 a Acme, de Cristiane Monti, André Forastieri, Renato Yada e Rogério de Campos, se
transforma em Conrad Editora e publica o primeiro mangá japonês no formato livro e com leitura oriental
(da direita para a esquerda): Gen Pés Descalços, de Keiji Nakazawa.
Tecnologia
Em pleno século XXI, as histórias em quadrinhos convivem com as mais avançadass tecnologias. Para
Nobu, essas novas técnicas ajudam no trabalho de produção das HQs.
“A tecnologia influencia em todos os ramos de atividade humana. Nos quadrinhos, especificamente, os
softwares de computação gráfica facilitam o trabalho dos artistas e mesmo a possibilidade de se criar
arquivos eletrônicos viabilizam, por exemplo, que um desenhista aqui do Brasil produza para editoras
norteamericanas e envie por e-mail o seu trabalho. Tecnologias de impressão também agilizam
processos e melhoram a qualidade do produto”, declarou.
Em relação ao futuro, o professor acredita que é complicado apontar uma direção certeira para HQs,
mas vê uma inclinação para o meio online. “Os quadrinhos via internet são uma tendência que vem se
revelando há algum tempo, mas que continuam como uma promessa. Pelo menos em termos de produto
que possa sustentar seu autor”.
É o caso dos blogs Wil Tirando, Vida de suporte e Mundo Memes, que produzem tirinhas voltadas para
o meio online, utilizando ferramentas desse ambiente, como linguagem específica, memes (apropriação
de imagens e símbolos que se espalham na internet passando uma mensagem, geralmente cômica)
e gifs (imagens animadas).
O professor destaca, porém, que as histórias em quadrinhos vão além dos gibis e das tirinhas online, por
exemplo. “A linguagem, a estética dos quadrinhos está por toda parte: na publicidade, no design, no
graffiti, na moda, no cinema, na comunicação visual. Os balões da fala, por exemplo, cujo uso foi
disseminado pelos quadrinhos, são utilizados em tudo quanto é lugar. E de uma forma tão constante que
nem nos damos conta. As onomatopeias, que também não são exclusivas dos quadrinhos, mas mais
comuns neles, estão na publicidade, nas marcas de produtos etc.”, comentou.
Aprendizado
Muitas vezes, as histórias em quadrinhos podem estar ligadas ainda a métodos para aprendizado. “Os
quadrinhos são uma linguagem muito boa para transmitir uma mensagem. São um tipo de narrativa que
agrada, entretém, mas também informa e ensina. Ler quadrinhos ativa os dois hemisférios cerebrais e
permite tratar de assuntos sem limite. Uma história em quadrinhos pode abordar temas históricos,
científicos e até metafísicos, com muita competência e bons resultados. Obviamente, desde que bem
feita”, explicou o professor.
O próprio professor adquiriu diversos conhecimentos por meio das histórias em quadrinho. “Pode
parecer exagero, mas muito da minha formação cultural devo aos quadrinhos. Eles também me deram a
oportunidade de conhecer pessoas fantásticas: autores, estudiosos ou apreciadores como eu. Alguns
deles eram meus ídolos e agora posso considerar meus amigos. Os quadrinhos são o tema do meu
doutorado e de alguns dos livros de que participei. Portanto, as HQs, sem dúvida nenhuma, representam
muito pra mim. Sou muito grato a eles”.

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Mais procurados (20)

Pre modernismo
Pre modernismo Pre modernismo
Pre modernismo
 
Trabalho Monteiro
Trabalho MonteiroTrabalho Monteiro
Trabalho Monteiro
 
Cidades Mortas - 3ª A - 2011
Cidades Mortas - 3ª A - 2011Cidades Mortas - 3ª A - 2011
Cidades Mortas - 3ª A - 2011
 
Linha de tempo da vida de monteiro lobato
Linha de tempo da vida de monteiro lobatoLinha de tempo da vida de monteiro lobato
Linha de tempo da vida de monteiro lobato
 
Monteiro Lobato
Monteiro LobatoMonteiro Lobato
Monteiro Lobato
 
Pre modernismo
Pre modernismoPre modernismo
Pre modernismo
 
Slide lima barreto
Slide lima barretoSlide lima barreto
Slide lima barreto
 
t
tt
t
 
Conhecendo monteiro lobato
Conhecendo monteiro lobatoConhecendo monteiro lobato
Conhecendo monteiro lobato
 
O rádio nas páginas da Revista do Globo (1929-67)
O rádio nas páginas da Revista do Globo (1929-67)O rádio nas páginas da Revista do Globo (1929-67)
O rádio nas páginas da Revista do Globo (1929-67)
 
Lima barreto
Lima barretoLima barreto
Lima barreto
 
Autores e poetas negros
Autores e poetas negrosAutores e poetas negros
Autores e poetas negros
 
Negros nas hqs parte 05
Negros nas hqs parte 05Negros nas hqs parte 05
Negros nas hqs parte 05
 
trabalho
trabalhotrabalho
trabalho
 
GÊNERO TEXTUAL: CHARGE
GÊNERO TEXTUAL: CHARGEGÊNERO TEXTUAL: CHARGE
GÊNERO TEXTUAL: CHARGE
 
Pré modernismo
Pré modernismoPré modernismo
Pré modernismo
 
Slide sobre o escritor Monteiro Lobato
Slide sobre o escritor Monteiro LobatoSlide sobre o escritor Monteiro Lobato
Slide sobre o escritor Monteiro Lobato
 
Movimento Literário Realismo no Brasil
Movimento Literário Realismo no BrasilMovimento Literário Realismo no Brasil
Movimento Literário Realismo no Brasil
 
Pré modernismo
Pré modernismoPré modernismo
Pré modernismo
 
Poetas E Escritores Republicanos (2)
Poetas E Escritores Republicanos (2)Poetas E Escritores Republicanos (2)
Poetas E Escritores Republicanos (2)
 

Semelhante a Os primórdios do HQ brasileiro

Semelhante a Os primórdios do HQ brasileiro (20)

Charge e Cartum
Charge e CartumCharge e Cartum
Charge e Cartum
 
A ORIGEM DAS HQ.pptx
A  ORIGEM DAS HQ.pptxA  ORIGEM DAS HQ.pptx
A ORIGEM DAS HQ.pptx
 
HQs
HQsHQs
HQs
 
Meu blog raphael miguel história
Meu blog raphael miguel históriaMeu blog raphael miguel história
Meu blog raphael miguel história
 
A escrava isaura03
A escrava isaura03A escrava isaura03
A escrava isaura03
 
A escrava isaura (Pituka)
A escrava isaura (Pituka)A escrava isaura (Pituka)
A escrava isaura (Pituka)
 
A caricatura na imprensa do Rio
A caricatura na imprensa do RioA caricatura na imprensa do Rio
A caricatura na imprensa do Rio
 
Artigo anpuh 2013 joão carlos de freitas borges
Artigo anpuh 2013   joão carlos de freitas borgesArtigo anpuh 2013   joão carlos de freitas borges
Artigo anpuh 2013 joão carlos de freitas borges
 
Alguns riscos da caricatura no teatro de revista
Alguns riscos da caricatura no teatro de revistaAlguns riscos da caricatura no teatro de revista
Alguns riscos da caricatura no teatro de revista
 
Pré modernismo (1902- 1922) profª karin
Pré modernismo (1902- 1922) profª karinPré modernismo (1902- 1922) profª karin
Pré modernismo (1902- 1922) profª karin
 
O REALISMO NO BRASIL
 O REALISMO NO BRASIL O REALISMO NO BRASIL
O REALISMO NO BRASIL
 
O guarani - José de Alencar
O guarani - José de AlencarO guarani - José de Alencar
O guarani - José de Alencar
 
A crônica e os cronistas capixabas
A crônica e os cronistas capixabasA crônica e os cronistas capixabas
A crônica e os cronistas capixabas
 
3373962 literatura-aula-19-pre modernismo-brasil
3373962 literatura-aula-19-pre modernismo-brasil3373962 literatura-aula-19-pre modernismo-brasil
3373962 literatura-aula-19-pre modernismo-brasil
 
Realismo no brasil
Realismo no brasil  Realismo no brasil
Realismo no brasil
 
Pré modernismo
Pré modernismoPré modernismo
Pré modernismo
 
Semana da Arte Moderna
Semana da Arte Moderna Semana da Arte Moderna
Semana da Arte Moderna
 
Historia da BD
Historia da BDHistoria da BD
Historia da BD
 
j carlos
j carlosj carlos
j carlos
 
Literatura do pré modernismo
Literatura do pré modernismoLiteratura do pré modernismo
Literatura do pré modernismo
 

Os primórdios do HQ brasileiro

  • 1. • os primórdios do HQ brasileiro O uso de ilustrações em jornais ou revistas pode ser visto, pelo menos antes do aparecimento da televisão, como a opção mais viável para que parte da população pudesse participar da vida social e política de seu país. As histórias em quadrinhos no Brasil começaram a ser publicadas no século XIX. Em 1837, circulou o primeiro desenho em formato de charge, de autoria de Manuel de Araújo Porto- Alegre, que foi produzida através do processo de litografia e vendida em papel avulso. Angelo Agostini continuou a tradição de introduzir nas publicações jornalísticas e populares brasileiras, desenhos com temas de sátira política e social. 1.1Araújo Porto-Alegre (1806-1879) Três meses depois que Diogo Antônio Feijó renunciou ao seu mandato de primeiro Regente Uno do Brasil, o Jornal do Commercio do Rio de Janeiro – já presente no cenário brasileiro a 10 anos – publicava pela primeira vez no Brasil, no editorial de dezembro de 1837, uma arte gráfica ilustrada: era o desenho de Araújo Porto-Alegre que satirizava um destacado político da época, ao colocá-lo recebendo suborno. Nascido em 1806 na cidade de Rio Pardo (RS), Manuel de Araújo Porto-Alegre se tornou conhecido na corte brasileira a partir da década de 1830 ao publicar sua primeira ilustração caricata no Jornal do Commercio do Rio de Janeiro. Vale ressaltar que na época os periódicos não costumavam publicar em suas páginas as caricaturas dessa forma: “[...] elas eram vendidas de maneira avulsa nas ruas da então capital do império” (ABI, 2007) Aluno de Debret e de vários artistas da época, foi Araújo Porto-Alegre que através do periódico A lanterna Mágica (1844-1845) introduziu a caricatura nos jornais brasileiros. Apesar de não ser considerado um exímio caricaturista Araújo, Porto-Alegre se destaca na história do Brasil por inserir pela primeira vez a ilustração caricata nos periódicos brasileiros. O autor faleceu em Lisboa em 29 de dezembro de 1879. 1.2Vida e obra de Angelo Agostini Angelo Agostini (1843-1910), Nascido na Itália em 8 de Abril de 1843, Viveu sua infância e adolescência em Paris, e em 1859, com dezesseis anos, veio para São Paulo com a sua mãe, a cantora lírica Raquel Agostini. Ele começou sua carreira lançando e organizando jornais e revistas de circulação restrita, num tempo em que a imprensa era produzida de forma quase artesanal. Na virada do século, o panorama se altera. A chegada da máquina rotativa, de novas formas de reprodução e a ampliação do público leitor a transformam em empreendimento capitalista de porte. O artista deixa de ser dono de pequenas publicações e torna-se colaborador de grandes empresas editoriais. Mais do que uma mudança funcional, Agostini vivenciou duas fases decisivas da consolidação da imprensa brasileira. Em 1864 deu início à carreira de cartunista, quando fundou, com Luís Gonzaga Pinto da Gama (1830 - 1882) e Sizenando Barreto Nabuco de Araújo (1842 - 1892), o Diabo Coxo, o primeiro jornal ilustrado publicado em São Paulo, e que contava com textos do poeta abolicionista Luís Gama. Este periódico, apesar de ter obtido repercussão, teve duração efêmera, sendo fechado em 1865. O artista lançou no ano seguinte (1866) o Cabrião, cuja sede chegou a ser depredada, devido aos constantes ataques de Agostino ao clero e às elites escravocratas paulistas. Este periódico veio a falir em1867.
  • 2. O artista mudou-se para o Rio de Janeiro, onde prosseguiu desenvolvendo intensa atividade em favor da abolição da escravatura, pelo que realizava diversas representações satíricas de D. Pedro II. “As Aventuras de Nhô Quim” (1869/1870), publicada em nove capítulos consecutivos (algo tido como inédito nos quadrinhos até Wash Tubbs, já em 1924), nas páginas do jornal “A vida Fluminense”, é o primeiro esboço de Agostini rumo a uma linguagem de quadrinhos. Revela a preocupação do artista em observar e retratar sua sociedade, ao passo em que desenvolve as potencialidades da mídia. “As Aventuras de Zé Caipora” (1883 - 1906), com 23 episódios publicados até 1886, na “Revista Illustrada” (sic), ganhou reedição especial, dividida em fascículos de seis episódios cada, antecipando as publicações de álbuns com coletânea das tiras americanas. Foram publicadas, ainda, nas páginas de “Don Quixote” (1901) e “O Malho” (1905), onde o último episódio é publicado em 1906, deixando a entender que o autor previa continuação. Ao longo destes 23 anos, Agostini desenvolveu um gênero novo. Para Brian Kane, não existiam quadrinhos de aventura com temas e traço verossímeis, nos EUA, antes da publicação de “Tarzan”, em 1929. Ora, Agostini já trazia o gênero para as HQs com Zé Caipora, que se embrenhou na mata atlântica, fez amizade com um casal de índios e com eles, enfrentou tribos inteiras, onças e outras “feras”, além de se inserir na vida pseudo-aristocrática do Rio de Janeiro Imperial, casando-se com a filha de um Barão decadente, para quem ofereceu a riqueza burguesa em troca do título cortesão, numa negociata típica da época vestida em roupagens românticas, já que José Corimba (nome verdadeiro de nosso herói) amava, de fato, a jovem Memé (Amélia), filha do Barão. Angelo Agostini chegara aqui ainda adolescente e ao longo de 43 anos fizera uma das mais longas carreiras da imprensa nacional. se destacava em atividades tão diversas como as de caricaturista, pintor, fotógrafo, repórter, crítico de costumes, editor, empresário e agitador político. Introdutor das histórias em quadrinhos entre nós, o artista deixou como legado uma obra vasta, diferenciada e, sobretudo, irregular. Seus traços estão fixados em pelo menos 3,2 mil páginas de jornal e revistas. • Disseminação da revista de quadrinhos do país • 2.1A primeira revista em quadrinhso do Brasil • Idealizada pelo jornalista e caricaturista Renato de Castro, juntamente com o poeta Cardoso Júnior, e o professor e também jornalista Manoel Bonfim, a proposta da revista foi apresentada a Luís Bartolomeu de Souza e Silva, dono da Sociedade O Malho, que não só a acatou de forma entusiasmada, como ajudou a moldá-la seguindo o formato de outras publicações da época. No início do século XX, o Brasil ainda tinha uma grande influência européia, em particular da cultura francesa, e veio justamente deste país a inspiração para se lançar O Tico-Tico, seguindo a linha da revista La Semaine de Suzette (publicada de fevereiro de 1905 a junho de 1940, e de maio de 1946 a agosto de 1960).
  • 3. • A revista O Tico Ticofoi a primeira a publicar histórias em quadrinhos no Brasil. Sua primeira edição saiu no dia11 de outubro de 1905, uma quarta-feira e não em uma quinta como dizia a capa. • As revistas O Tico-Tico eram coloridas e moralistas. Muitas de suas histórias visavam à educação das crianças e à construção de sólidas convicções morais. • Isso, em uma época em que a linguagem gráfica seqüencial começava apenas a dar seus primeiros passos, enfrentando pressões geradas pelo desconhecimento de suas características, desconfiança quanto a seus benefícios sociais e preconceito quanto à sua qualidade artística e méritos educacionais. A tudo isso a revista brasileira respondeu com uma postura sempre firme em relação a seus objetivos didático-pedagógicos, mantendo-se arraigada, do início ao fim, à missão de entreter, informar e formar de maneira sadia a criança brasileira. • Os editores procuravam enriquecer o acervo cultural de seu jovem público com informações diversas e entretenimentos, como poesias, contos, jogos, atrações educativas, referências a datas históricas, além de textos sobre as séries mais populares do cinema, partituras, letras de músicas e até peças teatrais. • Os quadrinhos • Especificamente, é preciso salientar que O Tico-Tico não era exatamente uma revista em quadrinhos (ou um gibi, como depois elas vieram a se denominar no país). Era, muito mais, uma revista infantil. Mas ela começou a publicar quadrinhos desde seus primeiros anos de vida e, pouco a pouco, eles foram se tornando cada vez mais importantes para os leitores. Os quadrinhos foram, talvez, o principal motivo para a permanente popularidade de O Tico- Tico entre as crianças brasileiras, geração após geração. Não se tratava de uma revista como as de hoje, dedicadas inteiramente a um personagem ou grupo de heróis. Era uma publicação que reunia diversas expressões culturais, com ênfase na literatura, mas que abria um generoso espaço para os quadrinhos, arte que começava a se firmar no país. • Ao lado da literatura, dos textos educativos e dos jogos didáticos, os quadrinhos em O Tico- Tico tinham uma linguagem envolvente para o público infantil, facilitando a leitura textual e contribuindo para a disseminação dos códigos visuais que viriam a predominar no decorrer do século. • bebendo de fontes norte-americanas e européias. Da produção estadunidense, inclusive, veio seu principal personagem, aqui batizado como Chiquinho, mas que nos jornais ianques era conhecido como Buster Brown. Criação de Richard Felton Outcault, o garoto traquinas, originalmente de classe alta, aqui desceu um pouco socialmente e adquiriu modos de um garoto do povo, vivendo hilariantes aventuras ao lado de um típico menino de nossa realidade social mais popular, o Benjamin, um garoto de origem africana criado por um dos autores brasileiros que continuaram a obra de Outcault quando o material original já não chegava ao país. O autor brasileiro, Luis Gomes Loureiro, foi apenas o primeiro de vários artistas nacionais que trabalharam com o personagem, fazendo com que ele adquirisse características próprias da cultura brasileira. Em seu conjunto, fizeram com que o conjunto das aventuras desses personagens - aos quais se deve agregar necessariamente o cachorro Jagunço, originalmente
  • 4. chamado de Tige -, representasse um pitoresco panorama da sociedade brasileira na primeira metade do século 20. Nesse sentido, Augusto Rocha, Alfredo Storni, Paulo Afonso,Oswaldo Storni e Miguel Hochmann realizaram um enorme serviço ao país, transformando um personagem sem muita graça e com uma proposta extremamente elitista de público em uma figura pulsante, elétrica mesmo, que agradava em cheio a seus leitores e fazia com que estes se identificassem plenamente com ela. Não admira, com tudo isso, que durante vários anos imaginassem os leitores ser Chiquinho o grande personagem de quadrinhos originalmente produzido no Brasil. • Vários outros personagens foram publicados regularmente na revista O Tico-Tico, tanto os estrangeiros como aqueles produzidos em terras brasileiras. Entre os primeiros, destaque para Mickey Mouse, inicialmente chamado de Ratinho Curioso, que aparecia em histórias desenhadas por Ub Iwerks e depois por Floyd Gottfredson; Krazy Kat, de George Herriman, chamado de Gato Maluco; Popeye, de Elsie Chrisler Segar, chamado de Brocoió; Gato Félix, de Pat Sullivan; Mutt e Jeff, de Bud Fisher; Little Nemo in Slumberland, de Winsor McCay, entre outros. Entre os brasileiros, figuras como Lamparina, do grande J. Carlos; Kaximbown, de Max Yantok; Bolinha e Bolonha, de Nino Borges; Zé Macaco e Faustina, de Alfredo Storni; Pirolito, de Fritz (Anísio Oscar Mota); Tinoco, o caçador de feras, de Théo; João Charuto, deEdmundo Rodrigues; e Réco-Réco, Bolão e Azeitona, do inigualável Luis Sá, para apenas mencionar alguns dos personagens que tiveram suas origens nas mãos de artistas aqui radicados. • O decalque das historietas era prática comum na época, sendo as revistas infantis francesas e a difusão dos quadrinhos norte-americanos a fonte para todo tipo de adaptação e cópia. Este procedimento, contudo, não deixou de trazer bons frutos para os quadrinhos nacionais, revelando artistas como J. Carlos, Max Yantok, Léo, Théo, Lino Borges, Luiz Sá, Daniel Cícero, Percy Deane, Messias de Mello, André Le Blanc, entre outros. • Apesar do sucesso incontestável da revista por décadas, a entrada dos quadrinhos norte- americanos de forma massiva por intermédio das distribuidoras, os conhecidos syndicates, fez a preferência do público começar a mudar, sobretudo quando surgiram os suplementos e revistas povoados de super-heróis, entre as décadas de 1930 e 1950. A ingenuidade e o encantamento começaram a perder espaço para as aventuras heróicas e maniqueístas dos superseres, retrato de uma nova época em um mundo em ebulição. O Tico-Tico resistiu até fevereiro de 1962. As edições semanais foram dando espaço às mensais e depois bimestrais, aos almanaques e especiais dirigidos a pais e professores, até que, finalmente, com a marca excepcional de 2097 edições e quase 57 anos de existência, encerrou uma saga ainda não igualada pela revistas infantis nacionais. • 2. 2 O Suplemento Juvenil e a explosão dos quadrinhos norte-americanos no Brasil • O Suplemento Juvenil – inicialmente denominado Suplemento Infantil , - consagrou, ao seu tempo, uma proposta inovadora de publicação de histórias em quadrinhos no Brasil. Sendo lançado inicialmente como um tablóide semanal, apêndice do jornal diárioA Nação , foi um sucesso quase que imediato. A partir da edição de número 14, começou a ser publicado de forma independente, logo passando a ter duas – e depois três - edições semanais.
  • 5. • A publicação era baseada nos suplementos coloridos dos jornais norte-americanos, que Adolfo Aizen havia conhecido quando viajava pelos Estados Unidos. Com um afiado faro para novidades, ele trouxe a idéia para o Brasil, conseguindo vendê-la para os proprietários do jornal carioca e recheando-o justamente com os mesmos personagens que faziam o sucesso dos suplementos em terras ianques: Flash Gordon , Tarzan, Mandrake, Popeye, Brick Bradford e Mickey Mouse , entre outros. • Além de rapidamente passar a ter existência independente, o Suplemento Juvenil deu origem a diversas outras publicações em formato tablóide ou meio-tablóide: Mirim, iniciado em 1937, trazia, pela primeira vez no Brasil, personagens publicados nos comic books norte-americanos, como Slam Bradley , Fantomas, Cyrus Sanders , Beck Jones , etc.; a Biblioteca Mirim , derivada do anterior, que publicava os personagens de quadrinhos em formato de livro de bolso; e Lobinho, que não conseguiu alcançar o mesmo sucesso dos anteriores e acabou virando revista mensal (Silva, 1976, p. 38-9). • Como é comum de acontecer no Brasil, as boas idéias são sempre rapidamente imitadas. Assim, não é de admirar que logo aparecessem concorrentes para o Suplemento Juvenil . O mais destacado deles foi talvez O Globo Juvenil , uma cópia quase perfeita do Suplemento, que também trazia personagens veiculados pelos tablóides norte-americanos. Em 1939, num golpe comercial inesperado, esta última publicação conseguiu obter os direitos da maioria das histórias publicadas pelo Suplemento, passando a publicá-los em suas paginas. Assim, personagens como Li’l Abner , The Phantom , Mandrake, Alley Oop , etc. mudaram repentinamente de endereço no Brasil, colocando sua antiga “casa” em dificuldades (o Suplemento Juvenilsobreviveria por apenas mais seis anos, deixando de ser publicado em 1945). • Afirmar que a publicação de Adolfo Aizen foi a primeira a veicular o modelo dos suplementos de jornais no Brasil talvez seja uma imprecisão. Antes que tanto o Suplemento como o Globo Juvenil tivessem aparecido nas bancas, já um jornal da cidade de São Paulo, A Gazeta , havia lançado a sua edição infantil, que permaneceu nas bancas, com diversas interrupções, de 1929 a 1950. Foi publicada sob várias denominações diferentes, embora tenha sido sempre mais conhecida pela forma como os seus jovens leitores a denominavam: A Gazetinha . Publicou vários personagens norte-americanos , como Brick Bradford , Barney Baxter ,Felix, the Cat , Little Nemo in Slumberland , entre outros. No entanto, contrariamente a suas concorrentes, a Gazetinha parecia dar muito mais ênfase ao trabalho dos autores nacionais, possibilitando que vários artistas brasileiros nela encontrassem espaço para veicular seus trabalhos. Entre eles, destacam-se Nino Borges ( Piolim, Bolinha e Bolonha ), Belmonte ( Paulino e Balbina ) e Renato Silva , criador de um de seus personagens mais populares, o Garra Cinzenta . De todos, porém, o nome de maior destaque é o de Messias de Mello, um dos autores mais produtivos que este país já teve, que trabalhou na Gazetinha durante toda a existência da publicação e praticamente foi responsável, sozinho, por porcentagem significativa das histórias publicadas, desde adaptações de romances famosos a personagens de sua própria criação ou de argumentistas nacionais. Na Gazetinha também trabalhou Jayme Cortez, um artista português que depois se destacou por uma atuação marcante no panorama dos quadrinhos brasileiros dirigidos ao público infantil e juvenil. • Com a aceitação dos quadrinhos norte-americanos no Brasil, novas publicações por eles protagonizadas logo começaram a surgir. Grande parte delas, na realidade, exerciam maior atrativo sobre o público juvenil, em idade pré-adolescente, que propriamente no público infantil, mas era consumido da mesma forma tanto por crianças menores como pelos jovens mais avançados em idade. Foi para atender este filão do mercado que Adolfo Aizen fundou sua própria casa publicadora – a Editora Brasil América Ltda (EBAL) – que posteriormente se tornou uma das maiores editoras de histórias em quadrinhos da América do Sul. • Desde o início, a atuação da empresa de Aizen demonstrou que sua prioridade era a publicação dos quadrinhos norte-americanos, mantendo-se basicamente, durante muitos anos, com os personagens da DC Comics e, posteriormente, com os daMarvel Comics . As únicas exceções que parecia aceitar vinham ao encontro de sua preocupação em quebrar as barreiras que pais e professores tinham em relação às histórias em quadrinhos em geral. Desta forma, com a finalidade de tornar suas publicações mais aceitáveis pelo público adulto, ele (que era judeu)
  • 6. patrocinou revistas que narravam as vidas dos santos católicos, a quadrinização da epopéia da Padroeira do Brasil, a publicação do Novo Testamento e da Vida de Jesus em quadrinhos , etc., muitas delas encomendadas a artistas brasileiros (que muitas vezes, por absoluta falta de documentação, inventavam os acontecimentos e quase todos os milagres atribuídos às figuras santificadas). De forma similar, ele publicou revistas de histórias em quadrinhos que focalizavam fatos concretos da história do Brasil e contratou desenhistas para ilustrarem as versões em quadrinhos dos grandes títulos da nossa literatura, em séries que manteve durante vários anos – Edições Maravilhosas e Álbum Gigante , – intercalando as obras brasileiras com outras de autores da literatura internacional, traduzidos da revista Comics Illustrated . • Os quadrinhos estrangeiros também receberam um grande incentivo de outra grande editora de histórias em quadrinhos localizada na cidade do Rio de Janeiro, a Rio Gráfica Editora (posteriormente Editora Globo ). Ela publicou muitos títulos de heróis norte-americanos, principalmente aqueles veiculados ao King Features Syndicate . Foi também a responsável pela revista mais popular que este país já teve, a Gibi – tão popular que acabou sendo utilizada para denominar, em uma relação de sinonímia, todas as revistas de histórias em quadrinhos publicadas no país (similar ao que aconteceu, por exemplo, em território espanhol, com a revista T.B.O., que deu origem ao vocábulo tebeos). • Tanto o Suplemento Juvenil como todas as outras publicações que apareceram em seu rastro garantiram a predominância dos quadrinhos estrangeiros no território brasileiro- No caso específico dos quadrinhos infantis, essa situação tornou-se ainda mais definitiva e aumentou as dificuldades para os artistas nacionais a partir de 1950, quando a Editora Abril começou a publicar sistematicamente os quadrinhos Disney no país – inicialmente com apenas um título, O Pato Donald , que logo seria seguido por vários outros, como Mickey e Tio Patinhas . • A partir de seu número 479, em 1961, a revista O Pato Donald , passou a ser publicada quinzenalmente, alternando-se com o títuloZé Carioca , que tinha como protagonista o personagem de um papagaio folgazão, criado para o filme Os Três Cavaleiros . Tratava-se de uma iniciativa orquestrada pelos Estúdios Disney de colaborar com o esforço de boa vontade com os países do continente latino-americano na época da Guerra Fria (uma forma de garantir a sua simpatia para com a política ianque e evitar que se baldeassem para o lado dos adversários, os soviéticos...). • 2.3 • Em 1940, o jornalista Assis Chateaubriand, lança a revista "O Gury" (mais tarde teria a grafia alterada para "O Guri") com o subtítulo "O Filhote do Diário da Noite", para ser publicada no jornal Diário da Noite, embora tenha registrado o nome da publicação desde 1938. A revista era composta de várias publicações da editora americana Fiction House, que publicava revistas especificas para cada gênero: aventuras espaciais, aventuras nas selvas, lutas, e foi a primeira revista impressa em quatro cores. Chateaubriand havia adquirido modernas impressoras diretamente dos Estados Unidos, e a primeira edição era uma cópia exata da revista Planet Comics #1 da Fiction House; posteriormente, a revista publicou histórias da Fawcett, da King Features e da Timely Comics; o então adolescente Millôr Fernandes trabalhava como ajudante de arquivo na revista O Cruzeiro e, como muitos adolescentes dessa época, era leitor de histórias em quadrinhos (Millôr colecionava o Suplemento Juvenil de Adolfo Aizen) e acabaria sendo um colaborar da revista O Guri
  • 7. Em 1941, o grupo de comunicação de Chateaubriand cria a editora O Cruzeiro , nome retirado da principal revista do grupo, fundada em 1928 ; na revista O Cruzeiro surgem os cartuns de O Amigo da Onça de Péricles. Péricles também publicava em O Guri a tira Oliveira Trapalhão; O Amigo da Onça também foi ilustrado por Carlos Estêvão, que desenhou o personagem após a morte de Péricles (que cometera suicídio) . Em março de 1952, a editora O Cruzeiro lança uma nova versão da revista "O Guri", impressa em preto e branco, através do processo de rotogravura; na primeira edição foram publicados os heróis da Fox Feature Syndicate: Dagar, o rei do deserto, O Falcão dos sete mares e Rulah, a deusa da selva . Alfredo Machado e Décio de Abreu criam o primeiro syndicate brasileiro, Distribuidora Record de Serviços de Imprensa; Em 1941, Machado viajou aos Estados, a fim de convencer que os três maiores syndicates, King Features, Associated Press e United Press, fossem representados pela Record; no entanto, as empresas alegaram já possuírem representantes no Brasil, e com isso a Record passou a representar pequenos syndicates e as editoras de quadrinhos Fawcett Comics e Timely Comics. A Record tinha entre seus clientes Aizen, Marinho e Chateaubriand. A empresa não apenas vendia as histórias em quadrinhos e passatempos, como também prestava serviços de tradução e editoração, como no caso da revista Vida Juvenil da editora Vida Doméstica lançada em1949 . Em 1946, Luis Rosemberg cria um novo syndicate brasileiro e funda a Agência Periodista Latino-Americana (Apla). A Apla não apenas distribuía tiras estrangeiras; o desenhista haitiano André LeBlanc criou a tira Morena Flor, que foi distribuída não apenas no Brasil, mas também em outros países da América Latina e até mesmo nos Estados Unidos . Na década de 1960, a Record também se tornou uma editora . Após 1942, Aizen passou a ter dificuldades financeiras, e logo vendeu sua editora para o governo Vargas, mas continuou prestando serviços para o jornal A Noite; em 1945, Aizen pede a João Alberto, diretor do jornal para que o ajude a conseguir um empréstimo no Banco do Brasil, e com um capital de dois milhões de cruzeiros, funda a Editora Brasil-America Ltda. (mais conhecida pela sigla EBAL), tendo como sócios o próprio João Alberto e Claudio Lins de Barros. Aizen lança a revista Seleções Coloridas, trazendo personagens da Walt Disney Company, e a revista foi publicada em parceria com a argentina "Editorial Abril" de Cesar Civita. Civita era um italkim (um judeu italiano) e, antes de ter a própria editora, foi funcionário da italiana Arnoldo Mondadori Editore, que publicava os quadrinhos Disney; a experiência na Itália lhe possibilitou conseguir a licença dos personagens Disney na América Latina, e a editora de Civita possuía uma impressora que possibilitava imprimir em quatro cores. Vale ressaltar que os personagens Disney já haviam sido publicados nas revistas O Tico-Tico, Suplemento Juvenil, O Globo Juvenil , O Lobinho, Mirim, Guri e Gibi, porém em Seleções Coloridas os leitores brasileiros puderam ler pela primeira vez as histórias produzidas por Carl Barks . A revista teve 17 edições e foi publicada até 1948. Em Julho de 1947, Aizen publica a primeira revista publicada apenas pela EBAL, O Heroi (grafada sem acento), que publicou os heróis das selvas da Fiction House, além de histórias de faroestes, e também é lançada a primeira revista Supermanno país (o nome Superman, era usado apenas no título, dentro da revista era usada a grafia Super-Homem); no ano seguinte lança a revista Edição Maravilhosa, inspirada nas americanas Classics Illustrated e Classic Comics que traziam adaptações de livros em quadrinhos. Na época, os quadrinhos eram vistos como má influência por educadores e religiosos, e durante 23 edições, a revista publicou histórias produzidas nos Estados Unidos; na edição 24, Aizen encomendou a André LeBlanc uma adaptação de O Guarani. Para aproveitar o sucesso dos quadrinhos entre as crianças, foram criadas as revista Sesinho (1947) do Serviço Social da Indústria (o Sesi) e Nosso Amiguinho (década de 1950), da Casa Publicadora Brasileira . Apesar de Seleções Coloridas serem impressas em cores, todas as publicações posteriores da EBAL eram em preto e branco; em 1951, uma edição especial da revista Superman foi publicada em cores , porém a editora só investiria em publicações coloridas na década de 1970 .
  • 8. O nome do personagem Black Terror da editora americana Nedor Comics, deu origem no Brasil a primeira revista dedicada ao terror no Brasil Em março de 1947, o ilustrador português Jayme Cortez resolveu se mudar para o Brasil. Cortez havia colaborado na revista portuguesa O Mosquito e no semanário feminino A Formiga. Ao chegar ao país, começa a produzir charges políticas para o jornal O Dia; em maio do mesmo ano, produz a tira semanal "A Caça dos Tubarões", publicada pelo Diário da Noite, e logo em seguida adapta o romance O Guarani, no formato de tiras diárias para o mesmo jornal; em 1949, passa a trabalhar em A Gazeta Juvenil do jornal A Gazeta, onde adapta O rajá de Pendjab de Coelho Neto. Em 1949, o irmão de Cesar Civita, Victor se muda para o Brasil, e no ano seguinte resolve seguir os passos do irmão, fundando a Editora Primavera. Sua primeira publicação foi a revista em quadrinhos Raio Vermelho, uma revista no formato horizontal (21,5 x 28,5 cm) e composta por quadrinhos oriundos da Itália; em Junho do mesmo ano, já com o nomeEditora Abril, publicou a revista O Pato Donald. Assim como Aizen, Victor também não poderia ser dono de uma empresa no país, e para burlar a lei brasileira, convida Giordano Rossi (um mineiro descendente de italianos) para ser seu sócio; Victor conhecera Rossi quando este era funcionário de um banco, e com uma pequena cota de ações, Rossi atuava como contador da editora. A revista O Pato Donald foi publicada inicialmente no formato americano, mas a partir da 22ª edição, publicada em março de 1952, passou a ser publicada em Formato Pato (também conhecido como formatinho) . O formato fora trazido da Itália: a revista Topolino (nome italiano do Mickey Mouse) da Montadori, era publicada desde 1932 no formato tabloide , porém em 1939, a editora resolve se basear no formato da revista Reader's Digest que também era publicada pela Mondadori. Nos Estados Unidos, o formato é conhecido como "digest size" . Em Janeiro de 1950, a Casa Editorial Vecchi, lança a revista O Pequeno Xerife no formato de talão de cheque, outro formato importado da Itália; em julho do mesmo ano, O Globo também lançaria uma revista nesse formato, Júnior, que em sua 28ª edição publicaria, pela primeira vez no país, o cowboy Tex Willer, da Sergio Bonelli Editore .
  • 9. Também em 1950, a "La Selva", distribuidora de jornais e revistas, torna-se uma editora. A empresa foi fundada em 1935, pelo italiano Vito Antonio La Selva, que chegara em São Paulo em 1925, logo se tornando jornaleiro de ruas, e oito anos depois, tornando-se dono de uma banca de jornal. Vito teve como sócio um outro italiano de sobrenome Pelegrini, e a distribuidora lançou duas revistas, "Bom Humor" e "Aventuras" (sendo Aventuras uma revista em quadrinhos). Em 1947, a sociedade com Pelegrini é desfeita e Vito passa a trabalhar com os filhos, e em março de 1950, a "La Selva" torna-se uma editora propriamente dita, com o lançamento da revista "Seleções de Rir Ilustrada". A editora não demoraria a investir em quadrinhos, comprando a revista "O Cômico Colegial", de Auro Teixeira, criada em 1949, que foi vendida pelo seu editor, em dificuldades financeiras. Para publicá-la, em julho de 1950, a La Selva adquire, através da Record, os direitos de publicação do personagem "The Black Terror" da Nedor Comics. A Record vendia personagens desconhecidos a menores preços a editoras pequenas, e em julho de 1950 lança a revista "O Terro Negro" como suplemento extra da revista O Cômico Colegial; a revista publicou heróis como o personagem título (que Reinaldo Oliveira e Jácomo La Selva pensaram ser de uma história de terror) e de outros heróis como Doc Strange e Homem-Maravilha; na edição seguinte, foi usada uma capa desenhada por Jayme Cortez, típica de histórias de terror, mostrando a personificação da morte acordando um perplexo rapaz. Apenas na 9º edição (Março de 1951), a revista deixou de trazer o nome da revista Cômico Colegial, trazendo apenas o nome O Terror Negro, chegando a fazer sucesso. Por não possuir, porém, mais histórias do personagem principal para publicar, Jácomo de Oliveira resolveu comprar direitos de quadrinhos de terror, como a revista Beyond, da editora Ace Publication. Em 1953, O Terror Negro passou a ser quinzenal, e surgem outras revistas do gênero Sobrenatural, tais como Contos de Terror, Frankenstein (no ano seguinte); as revistas eram todas compostas de matéria estrangeira, e os artistas brasileiros eram responsáveis apenas pelas capas. A editora também publicou as revistas infantis Capitão Radar, Bill Kid, Supermouse, Pato Dizzy, Seleções Juvenis, entre outras. Ainda em 1953, as revistas da La Selva passam a ser impressas nas gráficas da editora Abril. Selva e Civita se tornaram amigos por causa da origem italiana; Cláudio de Souza, que trabalhava na Abril, passou a colaborar na La Selva, editando as revistas policiais Emoção e Conto de Mistério e produzindo roteiros para os quadrinhos de "Arrelia e Pimentinha", "Fuzarca e Torresmo", "Oscarito eGrande Otelo", "Fred e Carequinha" e "Mazzaropi". Em 1951, Claudio havia sido indicado por Jerônymo Monteiro, primeiro editor da Abril, quando ela ainda se chamada Primavera , Claudio havia trabalhado com ele no suplemento A Gazeta Juvenil, era editor do suplemento, onde também publicaria histórias do personagem Dick Peter, personagem criado em 1937, criado para uma radionovelatransmitida pela Rádio Tupi (uma outra empresa do grupo Diários Associados) , o personagem ainda seria publicado em O Cômico Colegial, sendo adaptado também para um teleteatro exibido pela TV Tupi , Monteiro também é reconhecido com um dos pioneiros da ficção científica brasileira . Na Abril, Souza ajudou a criar a Distribuidora Nacional de Publicações (DINAP) e as revistas Capricho,Cláudia e Placar, além de criar o Centro de Criação, responsável pela formação de roteiristas e desenhistas para a editora . Tanto nos Estados Unidos, quanto no Brasil, os títulos de terror foram os principais alvos de jornalistas e psiquiatras que achavam que os quadrinhos eram má influência para crianças e adolescentes Os quadrinhos de terror da editora foram bastante criticados pelo jornalista Carlos Lacerda, que afirmava que tais revistas eram má influência para as crianças; tal pensamento também existia nos Estados Unidos, sobretudo após a publicação do livro Seduction of the Innocent, do psicólogo alemão Frederic Whertam em 1954. Whertam não criticava apenas as revistas de terror, e também não era o único
  • 10. psiquiatra a defender a tese de que os quadrinhos eram nocivos - desde o início da década de 1950, o Senado americano, já havia criado uma subcomissão para estudar a má influência dos quadrinhos em crianças e adolescentes. O Senado americano convocou os artistas Walt Kelly, Milton Caniff e Joe Musial, representantes da National Cartoonists Society, e embora não tenha sido convidado, William Gaines da EC Comics (principal editora de quadrinhos terror, muitos deles chegaram a ser publicados pela La Selva), e o próprio Whertam também compareceu. No dia seguinte ao depoimento, vários jornais publicaram matérias não favoráveis sobre Gaines; em setembro do mesmo foi criada a Comic Magazine Association of America, e no mês seguinte, a entidade criou o Comics Code Authority, um código de autocensura; boa parte do código foi inspirado em códigos já existentes nas editoras DC e Archie Comics (principal editora da entidade). Na verdade, esta não foi a primeira tentativa de se criar um código de autocensura; em 1948, a Association of Comics Magazine Publishers também tentara, porém não surtiu efeito. Em 1955, Adolfo Aizen e Alfredo Machado recebem um conjunto de nove livretos contendo todas as 41 regras do Comics Code Authority. Algumas das gráficas e colaboradores da La Selva se tornariam editoras, como a Bentivegna de Salvador Bentivegna e a Novo Mundo de Victor Chiodi, Orbis, Júpiter e Continental. Vito La Selva morre em 1967, a editora foi fechada em 1968, motivada por uma crise financeira e por brigas entre os filhos de Vito. Em 1951, Miguel Penteado, Reinaldo de Oliveira, Álvaro de Moya, Jayme Cortez e Syllas Roberg organizam a Exposição Internacional de Histórias em Quadrinhos, onde foram expostas várias artes originais dos autores das tiras de jornal: Alex Raymond (Flash Gordon),Milton Caniff (Terry e os piratas e Steve Canyon), Hal Foster (Tarzan e Príncipe Valente) e Al Capp (Ferdinando) , no ano seguinte, os artistas criam a ADESP (Associação dos Desenhistas de São Paulo), uma das principais bandeiras da entidade era a nacionalização dos quadrinhos, ou seja, a criação de cotas para quadrinhos produzidos por artistas brasileiros . Em 1952, Roberto Marinho resolveu criar uma editora, de início escolheu o nome Editora Globo para fazer alusão ao seu jornal, porém foi impedido, já que Livraria do Globo de Porto Alegre também atuava como editora, assim Marinho cria a Rio Gráfica Editora (mais conhecida pela sigla RGE). Na segunda metada da década de 1950, surgiram também os primeiros trabalhos independentes de Carlos Zéfiro, autor doscatecismos (quadrinhos eróticos); Zefiro era o pseudônimo do carioca Alcides Aguiar Caminha, cuja verdadeira identidade só seria revelada em 1991, pelo jornalista Juca Kfouri nas Revista Playboy. A editora Continental foi fundada em 1959 por Miguel Penteado, José Sidekerskis, Victor Chiodi, Heli Otávio de Lacerda, Cláudio de Souza, Arthur de Oliveira e Jayme Cortez. Os quadrinhos da Continental eram totalmente produzidos no país, e passaram pela editora:Gedeone Malagola, Júlio Shimamoto, Flavio Colin, Gutemberg Monteiro, Nico Rosso, Paulo Hamasaki, Wilson Fernandes entre outros. A editora lançou alguns títulos licenciados: Capitão 7 (baseado em uma série de televisão da Rede Record, Capitão Estrela (um super-herói pertencente a Estrela , cujo seriado era exibido pela TV Tupi , O Vigilante Rodoviário (da TV Excelsior), desenhado por Flavio Colin, e Jet Jackson, um personagem surgido em um programa de rádios dos Estados Unidos com o nome de Captain Midnight; o personagem já havida sido adaptado para os quadrinhos pela editora Fawcettt, no Brasil, essas histórias foram publicadas na revista O Guri . A Continental também foi a primeira editora a publicar o cãozinho Bidu, de Mauricio de Sousa, que havia estreado em tiras diárias publicadas no jornal Folha da Manhã (atual Folha de São Paulo) no mesmo ano de fundação da editora . Quase dois anos depois de sua fundação, a editora teve que mudar de nome para Outubro, pois os proprietários descobriram que já
  • 11. havia uma empresa com o mesmo nome e que estava em processo de falência; o nome Outubro também gerou problemas jurídicos, pois ao fundar a editora Abril, Victor Civita, havia registrado todos os meses do ano. Em 1966, Miguel Penteado e Jayme Cortez saem da editora, Eli Lacerda e Manoel César Cassoli a assumem e a batizam de Taíka (nome da filha de Lacerda); Penteado e Luiz Vicente Neto fundam a GEP (Gráfica Editora Penteado) . Outras editoras passaram a publicar personagens licenciados; do rádio vieram As aventuras do Anjo, pela RGE (também desenhada por Flavio Colin e por Walmir Amaral), Jerônimo, o Herói do Sertão e Capitão Atlas pela Garimar (este último também trazia histórias de Morena Flor de LeBlanc) ; a Garimar também publicou o Falcão Negro, uma espécie de Zorro medieval , personagem de um seriado televisivo produzido e exibido pela TV Tupi, em São Paulo, que era interpretado por José Parisi, e no Rio de Janeiro porGilberto Martinho (iniciada em 1957) . Na década de 1960, o sucesso do terror nacional fez com que as editoras incentivassem seus colaboradores a investirem em novos gêneros. Desses, um dos de que tiveram mais sucesso foram os super-heróis. O estudioso Worney Almeida de Souza lista 34 super-heróis brasileiros surgidos antes dos anos 1970, sem contar os super-vilões e heróis não- mascarados. Nosso primeiro grande super-herói foi o Capitão 7, no início dos anos 1960, baseado num seriado homônimo exibido pela TV Record, de autoria de Ayres Campos. O Capitão 7 é um menino do interior de São Paulo levado a um planeta distante, de onde volta com super-força, super-inteligência, capacidade de voar e um uniforme atômico. O personagem, cujo visual foi criado por Jayme Cortez, foi desenhado por Júlio Shimamoto, Juarez Odilon, Sérgio Limae Getúlio Delfim e fez muito sucesso, durando muitos números, até por estar ancorado em uma atração televisiva. Chegaram a existir até mesmo fantasias do personagem para a época de carnaval. O sucesso do Capitão 7 fez com que a Estrela, maior fábrica de brinquedos da época, encomendasse a criação do Capitão Estrela, em uma revista lançada pela continental (a mesma do concorrente), que acabou não fazendo sucesso. O caminho aberto pelo Capitão 7 foi explorado por outros artistas, que se aproveitaram do fato de muitos heróis ainda não serem conhecidos no Brasil. Exemplo disso é o Raio Negro, criado por Gedeone Malagola para a editora GEP. Gedeone tinha apresentado o Homem-lua (que depois seria aproveitado), mas como ele não parecia tão super-herói, os editores pediram que ele desse uma olhada no novo Lanterna Verde. Misturando os poderes do Lanterna com o uniforme do Ciclope dos X-men, surgiu o Raio Negro, um dos personagens de maior sucesso da época. Um dos heróis mais interessantes surgidos no período foi o Golden Guitar, um herói criado para aproveitar o sucesso da jovem guarda. Os donos da editora Graúna queriam licenciar os personagens da série Archie para tentar captar o interesse do público jovem. Como não conseguiram, encomendaram para Macedo A. Torres um herói juvenil inspirado no movimento musical Jovem guarda. O resultado foi um herói psicodélico, que usava como arma uma guitarra, através da qual disparava dardos tranqüilizantes e outras maluquices. Além dos quadrinhos, o gibi trazia letras das músicas de Roberto Carlos, Erasmo e Wanderléa. Essa é atualmente uma das revistas mais raras do período e também uma das mais procuradas pelos fãs.
  • 12. A estréia dos chamados heróis Shell (os personagens da Marvel foram lançados no Brasil numa campanha dessa rede de postos de gasolina) criou um grande interesse pelo gênero e fez com que surgissem vários gibis nacionais. Eugenio Colonnese criou Mylar, o homem mistério, para a editora Taika. Outro herói de sucesso foi O Escorpião. Tratava-se de uma cópia descarada do Fantasma, feita por Wilson Fernandes a pedido da editora Taika, em 1966. Como a revista começou a vender muito (os dois primeiros números esgotaram a tiragem de 50 mil exemplares), a editora ficou com medo da King Features Syndicate, e pediu ao desenhista Rodolfo Zalla e ao roteirista Francisco de Assis que reformulassem o personagem. Assim, o Escorpião tornou-se um defensor das selvas amazônicas e continuou sua carreira de sucesso. Mas nenhum herói do período fez tanto sucesso quanto o Judoka, lançado pela Ebal com roteiros de Pedro Anísio e desenho de vários artistas. O personagem usava um collant com um quimono verde e branco, além de uma máscara. Seu mestre no judô era o sábio Minamoto. Além disso, ele contava com a ajuda de sua namorada Lúcia. A revista pegava a onda ufanista do período militar e exaltava as belezas do Brasil. Para isso, o personagem percorria diferentes pontos do país. Os heróis brasileiros não resistiram aos anos 1970. Uma das razões disso era a censura prévia. As revistas tinham de ser enviadas a Brasília, sendo analisadas por censores, que muitas vezes cortavam cenas, páginas, ou mandavam reformular histórias inteiras. Era mais fácil para as editoras importar quadrinhos americanos, até porque esses não costumavam despertar a atenção dos censores. Além disso, os endurecimentos da ditadura e da crise econômica foram acabando com o sentimento patriótico e ufanista dos leitores. A moda passou a ser achar bom o que vinha de fora, especialmente dos EUA. Com isso os super-heróis foram desaparecendo. Pior: começou a se achar que esse era um gênero que não podia ser trabalhado por brasileiros, pois tinha pouco a ver com a realidade nacional. De um lado os quadrinhos nacionais de super-heróis eram perseguidos pelos censores da ditadura. Por outro lado, eram perseguidos pelos intelectuais de esquerda, que achavam que eles eram colonialismo imperial norte-americano. Com isso, até hoje, não temos um grande herói nacional dos quadrinhos. 1960 Vivia-se intensamente a vida, a universidade, a arte, o debate cultural e novos métodos educacionais de alfabetização (CIRNE, 1979, p. 34). O personagem Pererê, criação de Ziraldo Alves Pinto, apareceu exatamente nesse momento. Primeiramente, constituía apenas um cartum na publicação O Cruzeiro , revista semanal de variedades que então ocupava os primeiros lugares de vendagem e penetração popular no país. Depois de algum tempo, o personagem foi lançado como revista de histórias em quadrinhos pela mesma editora do magazine, com periodicidade mensal. O Pererê era uma espécie de diabo travesso do folclore brasileiro, apresentado como um menino tanto nos cartuns como nas histórias em quadrinhos, nos quais aparecia sempre acompanhado por uma variedade de personagens com características brasileiras bem evidentes: um indígena típico, uma coruja, um tatu, um coelho, uma onça, um jabuti, um caçador tradicional do sertão brasileiro, etc. Tudo isso resultava em um trabalho que, como muito poucos na literatura e arte populares brasileiras, foi capaz de refletir fielmente a sua sociedade e o seu tempo. Desta forma, ele representou um novo
  • 13. paradigma para os quadrinhos infantis no país, estabelecendo um modelo para todos os autores que quisessem falar da realidade brasileira por intermédio das histórias em quadrinhos. O Pererê foi publicado de 1960 a 1964, totalizando 43 números e 182 histórias (Cirne, 1975, p. 37). Sua publicação deixou de acontecer exatamente quando o período que o personagem tão esplendidamente representou foi abruptamente encerrado pelo golpe militar de 64. Mesmo que, eventualmente, os motivos reais da interrupção da revista tenham sido econômicos e não políticos afinal, como as revistas são preparadas com meses de antecedência, a decisão de interromper a publicação já estava tomada bem antes da movimentação militar -, fica evidente que, nos novos e sombrios tempos que o país mergulhava, não haveria mais lugar para o nacionalismo ingênuo que ela gostava de apregoar. Pelo contrário, ele até poderia ser visto como uma espécie de subversão. E, considerando a visão de mundo e as forças predominantes na época, certamente o seria... Ziraldo, por uma questão talvez ideológica e de opção artística pessoal, sempre procurou focalizar, em suas histórias, o mais amplo espectro possível de nossa brasilidade. Nas páginas de Pererê, os aspectos muitas vezes esquecidos do modo de ser do povo brasileiro e de sua problemática social desfilaram como nunca antes haviam feito em outra publicação de quadrinhos (e como, provavelmente, jamais tornaram a fazer depois dela). Pelos vários anos de publicação da revista desfilaram temáticas bem peculiares à visão de mundo do brasileiro, como a politicagem dos homens públicos, o carnaval, a religiosidade popular, o futebol, as caçadas de onça, os jogos infantis, a alta burguesia carioca, etc. Encerrada a experiência com Pererê, seu autor iniciou uma consagrada carreira desenhando cartuns políticos, logo seguida pela elaboração de livros infantis extremamente populares entre as crianças brasileiras. Duas vezes mais ele iria tentar voltar às aventuras do Pererê, uma durante a década de 70 e outra nos anos 80. Em ambas as ocasiões, ele utilizou outros artistas para desenhar e/ou roteirizar as histórias e foi relativamente bem sucedido em manter a mesma atmosfera da série original, com várias histórias que se colocavam à altura das primeiras, por ele isoladamente criado. (Infelizmente as novas experiências não foram bem sucedidas em seu objetivo principal, ou seja, o de obter a aprovação das crianças brasileiras). Eram outros tempos, então; talvez, diferentes crianças. A ADESP, composta por Mauricio de Sousa (presidente), Ely Barbosa (vice), Lyrio Aragão Dias (secretário-geral), Luiz Saidenberg (primeiro-secretário), Daniel Messias (segundo-secretário), Júlio Shimamoto (tesoureiro), José Gonçalves de Carvalho (primeiro tesoureiro) e Ernan Torres, Gedeone Malagola e Enersto da Mata (conselho fiscal), continua sua campanha pela nacionalização dos quadrinhos. Em 1961, o presidente eleito Jânio Quadros, chega a elaborar uma lei de reserva de mercado para quadrinhos; temendo represálias, as principais editoras de quadrinhos da época: EBAL, Rio Gráfica Editora, Abril, Record e O Cruzeiro criam "Código de Ética dos Quadrinhos", a versão brasileira do Comics Code, tendo como base o código americano e os "Mandamentos das histórias em quadrinhos" da EBAL. Tais mandamentos foram criados por Aizen ainda em 1954, e foram usados na série inglesa Romeu Brown (as mulheres sensuais da série ganharam roupas mais comportadas) e na adaptação de Casa-Grande & Senzala de Gilberto Freyre. Até mesmo séries americanas submetidas ao Comics Code eram reavaliadas pelo código da editora, porém Jânio acaba renunciando no mesmo ano, e o projeto de lei é abandonado; seu cunhado Leonel Brizola, então governador do Rio Grande do Sul, resolve criar a CETPA (Cooperativa e Editora de Trabalho de Porto Alegre-RS), e a CETPA funcionaria não só como editora, como também atuaria como syndicate, distribuindo tiras de artistas brasileiros. A ideia foi proposta por José Geraldo (que já havia desenhado para a EBAL), e a editora publicou os trabalhos de Júlio Shimamoto, Getúlio Delphin, João Mattini, Bendatti, Flávio Teixeira, Luiz Saidenberg e Renato Canini; a CETPA, porém, duraria apenas dois anos. Em Setembro de 1963, o presidente João Goulart assinou o Decreto-lei 52.497; além de cotas, a lei previa censura à nudez, racismo, guerra, prostituição e sadismo, e as principais editoras de quadrinhos pediram a anulação do decreto-lei, em outubro. O ministro do Supremo Tribunal Federal, Cândido Mota Filho, concordava com os editores, alegando que a Presidência da República não poderia interferir na publicação de livros e periódicos, porém o procurador geral da república, Osvaldo Trigueiro de Albuquerque Melo, defendia a lei, alegando ser constitucional, e o ministro Hermes Lima pediu vistas do processo para que pudesse estudá-lo mais detalhadamente. O STF se pronunciou favorável aos artistas dois anos depois, durante o mandato do
  • 14. presidenteHumberto de Alencar Castelo Branco, entretanto, a lei não teve efeito legal, já que deveria ter entrado em vigor em 1964. Com a instauração do Regime Militar, Mauricio de Sousa se retira da ADESP, alegando que a entidade estaria ganhando conotação política. Mauricio de Sousa começa a ampliar seus personagens infantis, surge o Cebolinha (1960), Cascão (1961) e Mônica (1963), esta última baseada em sua própria filha, Mônica Spada; logo em seguida o núcleo de personagens iniciados com Bidu e Franjinha passaria a ser conhecido como A Turma da Mônica . Enquanto publica A Turma da Mônica no jornal Folha de São Paulo, Sousa também lança o herói espacial Astronauta (1963) e homem das cavernas Piteco (1964) pelo jornal paulista Diário da Noite, que também pertence ao conglomerado Diários Associados, logo em seguida criaria um syndicate para publicar suas próprias tiras . Em setembro de 1963, Lenita Miranda de Figueiredo cria a Folhinha, suplemento infantil do jornal Folha de São Paulo. Mauricio de Sousa auxilia Lenita na produção do jornal, publicando tiras de seus personagens, além de criar a mascote "Augustinha”. A pedido de Mauricio de Sousa, Julio Shimamoto cria a tira O Gaúcho para ser publicada no suplemento, uma espécie de Zorro brasileiro; Em 1964, o italiano de mãe brasileira Eugênio Colonnese se muda para o Brasil. Colonnese iniciou a carreira como quadrinista na Argentina em 1949, e ao visitar a mãe em 1957, publica pela EBAL uma adaptação de O Navio Negreiro de Castro Alves. Ao estabelecer residência no Brasil, começa a desenhar quadrinhos românticos para a Ediex (Editormex), uma editora de origem mexicana, e logo retomaria parceiras com artistas com quem trabalhou na Argentina: o roteirista Osvaldo Talo e o desenhista Rodolfo Zalla. Zalla havia chegado ao Brasil no ano anterior, e seus primeiros trabalhos foram tiras diárias do personagem Jacaré Mendonça para o jornal Última Hora; posteriormente, desenhou para a Taika o Targo (um herói tipo Tarzan) e O Escorpião (uma espécie de Fantasma brasileiro criado por Wilson Fernandes; coube a Zalla mudar o visual do personagem para evitar um processo de plágio pela King Features Syndicate). Em 1966, Zalla e Colonnese fundaram o Estúdio D-Arte, que prestaria serviços a várias editoras brasileiras ; em 1967, Colonesse cria para a editora Jotaesse, de José Sidekerskis, a sensual Mirza, a mulher vampiro . Zalla e Colonnese foram responsáveis pela utilização da linguagem dos quadrinhos em livros didáticos. Ainda em 1964, o desenhista Minami Keizi resolve apresentar seu personagem Tupãzinho, o guri atômico, em editoras paulistas. Inspirado emAstro Boy, de Osamu Tezuka, o personagem apresentava as características típicas dos mangás (quadrinhos japoneses). Ao ver os desenhos do personagem, o desenhista Wilson Fernandes aconselha Keizi a mudar a anatomia para um estilo mais próximo dos quadrinhos americanos; no ano seguinte, Keizi publica tiras diárias do Tupãzinho no jornal Diário Popular (atual Diário de São Paulo), e desta vez Keizi passa a se basear no estilo dos personagens da Harvey Comics: Gasparzinho, Riquinho e Brasinha. No ano seguinte, publica uma revista do Tupãzinho pela editora Pan Juvenil, de Salvador Bentivegna e Jinki Yamamoto, quando Keizi se torna supervisor da editora. A Pan Juvenil não andava bem financeiramente, e ainda em 1966 Keizi publica o Álbum Encantado, pela Bentivegna Editora, com adaptações de fábulas infantis escritas pelo próprio Keizi. O que diferencia essa publicação é que Keizi orientou os desenhistas Fabiano Dias, José Carlos Crispim, Luís Sátiro e Antonio Duarte a seguirem o estilo mangá; logo em seguida Bentivegna e Yamamoto convidam Keizi para ser sócio na EDREL (Editora de Revistas e Livro); o Tupãzinho virou símbolo da EDREL. A editora também foi responsável por revelar outro descendente de japoneses influenciado pelos mangás, Claudio Seto. Pela EDREL, Seto publicou os personagens Flavo (também inspirado em Astro Boy), Ninja, o Samurai Mágico, Maria Erótica e O Samurai. Outros descendentes de japoneses trabalharam na editora,
  • 15. como Fernando Ikoma e os irmãos Paulo e Roberto Fukue, entretanto, nenhum deles apresentava influência dos mangás. Paulo Fukue, por exemplo, criou Tarun, um outro herói com influências de Tarzan. Fernando Ikoma teve contato com os mangás através dos trabalhos de Keizi e de Seto, e acabaria sendo o primeiro a escrever sobre mangás no livro "A técnica universal das histórias em quadrinhos", publicado no início da década de 1970; o livro dava continuidade ao Curso Comics, um curso por correspondência inicialmente escrito por Minami, Fabiano Dias, Crispim e Seto. Em 1965, Edson Rontani lança Ficção (Boletim do Intercâmbio Ciência-Ficção Alex Raymond), o primeiro fanzine brasileiro dedicado a histórias em quadrinhos, que trazia informações sobre os quadrinhos brasileiros desde a publicação de O Tico-Tico em 1905. Em 1967, a Rede Bandeirantes, compra a série de desenhos animados The Marvel Super Heroes, e com isso a EBAL resolve lançar os quadrinhos da Marvel Comics, que era representada no Brasil pela Apla. A editora estabelece uma parceria com os postos Shell, que distribuem edições promocionais gratuitamente para quem abastecesse nos postos da empresa, porém a EBAL não adquire todos os títulos da editora americana, prefere lançar os personagens que apareciam nos desenhos animados: Capitão América, Hulk, Thor, Namore Homem de Ferro, enquanto outras editoras pequenas lançam os títulos restantes: a GEP lançou X-Men, Surfista Prateado e Capitão Marvel na revista Edições GEP e a Trieste lançou Nick Fury. O Homem-Aranha, só seria lançado pela EBAL em 1969, também por decorrência de um desenho animado. Inicialmente, a editora reproduziu a revista tal qual sua matriz americana, usando o formato americano e 32 páginas, exceto pela ausência das cores; posteriormente, as revistas passaram a ter o dobro de páginas. Segundo o cartunista Ota, os leitores brasileiros não estavam habituados com o método "continua no próximo número", usado pela editora americana. Muitos personagens cujas histórias haviam sido canceladas nos Estados Unidos, tiveram novas histórias produzidas por artistas brasileiros. Foi esse o caso do Homem-Mosca, da Archie Comics, de Jack Kirby e Joe Simon(criadores do Capitão América), publicado pela La Selva; e Tor, de Joe Kubert. Publicados em 1956, pela editora Novo Mundo, ambos ganharam roteiros de Gedeone Malagola. Tor, que já havia aparecido no país em 1954, pela editora Vida Doméstica, seria publicado novamente no Brasil na década de 1970, pela EBAL, que na ocasião importou as histórias produzidas por Kubert para a DC Comics. Na década de 1950, o Capitão Marvel da Fawcett Comics, foi um personagem bastante popular na Inglaterra, com o cancelamento (por conta de um processo de plágio movido pela National Publications, atual DC Comics), a editora Len Miller & Son encomendou ao quadrinista Mick Anglo a criação do Marvelman; na década de 1980, o personagem ganharia um releitura do roteirista Alan Moore, que criou uma verdadadeira desconstrução do herói. No Brasil, durante a década de 1960, a RGE publicou histórias do Marvelman junto com as histórias do Capitão Marvel, e o personagem era chamada de Jack Marvel; posteriomente a editora publicou um inusitado crossover (encontro) entre o Capitão e o andróide Tocha Humana da Timely Comics. Na GEP, Gedeone Malagola criou algumas histórias dos X-Men para a revista Edições GEP, numa delas os mutantes se confrontaram com uma versão alternativa do Thor . A editora Malagola também publicou seus super-heróis, Raio Negro (cujos poderes e origem eram similares ao Lanterna Verde), o Homem-Lua (criado a partir de um roteiro recusado pela RGE para O Fantasma de Lee Falk, e o Hydroman (inspirado no Namor da Marvel). Raio Negro teve uma revista própria (onde também eram publicados Homem-Lua e Hydroman), e algumas histórias publicadas na revista Edições GEP, além de protagonizar um curioso crossover com Unus, um vilão dos X-Men. Na história, Unus era retratado como um herói (algo que nunca ocorreu em histórias da Marvel). No final de 1969, a EBAL, por conta do cancelamento da Revista do Mestre Judoca (personagens daCharlton Comics nos EUA), encomenda a Pedro Anísio e Eduardo Baron um novo herói brasileiro:
  • 16. oartista marcial mascarado Judoka. O personagem tinha roteiros escritos por Pedro Anísio e desenhos de Eduardo Baron, Mário José de Lima, Fernando Ikoma e Floriano Hermeto. Em 1973, foi adaptado para os cinemas em um filme estrelado por Pedro Aguinaga e Elisângela); apesar do filme, a revista do herói foi cancelada no mesmo ano. A Rio Gráfica Editora também deu continuidade a personagens de faroeste, que tiveram suas histórias encerradas: Rocky Lane (revista licenciada baseado em um ator de filmes do gênero) e Cavaleiro Negro da Marvel Comics; neste último, para suprimir material, a editora adaptou história do personagem espanhol Gringo, algumas delas produzidas pelo brasileiro Walmir Amaral e pelo italiano Primaggio Mantovi ; Primaggio mudara para o Brasil com apenas nove anos de idade. Ainda pela editora, seriam produzidas histórias do Recruta Zero, de Mort Walker. Walmir Amaral e Gutemberg Monteiro também produziriam histórias do Fantasma, de Lee Falk. No início dos anos 1970 os quadrinhos infantis no país predominaram, com o início da publicação das revistas de Maurício de Sousa e a montagem pela Editora Abril de um estúdio artístico, dando oportunidade a que vários quadrinistas começassem a atuar profissionalmente, produzindo principalmente histórias do Zé Carioca e de vários personagens Disney, mas também trabalhando com todos os personagens que a editora adquirira os direitos, como os da Hanna-Barbera. Artistas brasileiros continuaram a desenhar histórias de personagens infanto-juvenis estrangeiros, como os contratados pela RGE para darem continuidade à produção de histórias e capas das revistas de sucesso do O Fantasma, Cavaleiro Negro, Flecha Ligeira, Recruta Zero e Mandrake. Assim como os artistas da RGE, Gedeone Malagola escreveu roteiros para personagens como os X-Men, Homem Mosca, Tor, He-Man. Pelas suas contas teria escrito 1500 roteiros, a maioria não creditado. Os motivos da criação dessas histórias são: 1) As revistas em quadrinhos brasileiras costumavam ter mais páginas que um comic book tradicional de 22 páginas Isso é uma herança dos suplementos de quadrinhos e das antologias publicadas nos Estados Unidos 2) Personagens cujas revistas foram canceladas no exterior fizeram relativo sucesso no país. A prática de se criarem histórias de artistas brasileiros usando personagens estrangeiros é observada desde O Tico Tico. Buster Brown ou (Chiquinho no Brasil) de Richard Felton Outcault foi o primeiro personagem estrangeiro escrito e desenhado por brasileiros. Vale mencionar a tentativa da Editora Abril em abrir espaço para personagens e autores brasileiros, com o lançamento da Revista Crás! (1974-1975), que trazia alguns personagens satíricos como o Satanésio (de Ruy Perotti) e o Kaktus Kid (de Canini, conhecido desenhista brasileiro do Zé Carioca).
  • 17. Nos anos 1970, começou a circular no Brasil a revista MAD em português, que além do material original, trazia trabalhos de artistas nacionais, com destaque para o do editor Ota. O sucesso desse lançamento, também fez surgirem revistas similares, como Pancada (da Abril) e Crazy (da Bloch Editores). Aproveitando a onda do western spaghetti foram criados Johnny Pecos, Chet, Chacal, Katy Apache dentre outros. Na linha da crítica política e social apareceu a revista Balão, de autoria de Laerte e Luiz Gê e publicada por alunos da USP mas com curta duração de dez números. Alem da dupla de criadores, a revista revelou vários autores igualmente consagrados nacionalmente até hoje, como os irmãos Paulo e Chico Caruso, Xalberto, Sian e o incrível Guido (ou Gus), entre outros. Em 1971, as regras do Comics Code se tornaram mais brandas. A Marvel Comics passou a publicar títulos de terror e em meados da década de 1970, aBloch Editores que na época possuia licença dos Quadrinhos Marvel, resolveu publicar esses títulos no Brasil. Tal como acontecera com os título anteriores de terror, essas revistas também deram espaço para a produção local. A metade da década é marcada pelo lançamento de diversos títulos de terror; em 1976, a Rio Gráfica Editora lança a revista Kripta, uma revista no formato americano e em preto e branco, baseada nas revistas Eerie e Creepie, da americana Warren Publishing . A editora iniciou sua linha de terror em 1964, adotou o formato magazine (formato de revistas grandes como a brasileira Veja) e impressa em preto e branco, e para evitar censura do Comics Code Authority, utilizou uma solução criada por William Gaines, da EC Comics, na revista satírica Mad em 1955 (um ano após a implantação do código). Jim Warren criador da Warren Publishing, convidou vários artistas que haviam trabalhado na EC antes da implantação do código. A década também foi marcada pelo surgimento de revistas em quadrinhos de humor que mesclaram material estrangeiro e brasileiro e revista que resgataram tiras brasileiras e publicaram matérial inédito. Abaixo, você poderá conferir uma série de capas de gibis vendidos em bancas entre o início dos anos 70 e começo dos 80.
  • 18.
  • 19.
  • 20.
  • 21.
  • 22.
  • 23.
  • 24.
  • 25.
  • 26. Década de 1990 Na década de 1990, a História em Quadrinhos no Brasil ganhou impulso com a realização da 1ª e 2ª Bienal de Quadrinhos do Rio de Janeiro, em 1991 e 1993, e a 3ª em 1997, em Belo Horizonte. Estes
  • 27. eventos, realizado em grande número dos centros culturais da cidade, em cada versão contaram com público de algumas dezenas de milhares de pessoas, com a presença de inúmeros quadrinistas internacionais e praticamente todos os grandes nomes nacionais, além de exposições cenografadas, debates, filmes, cursos, RPG e todos os tipos de atividades. Em 1990, a editora Globo lança a revista Dreadstar: O Guerreiro das Estrelas, de Jim Starlin, mas a revista durou apenas 10 edições; segundo o editor Leandro Luigi Dal Manto, o cancelamento ocorreu por questões contratuais, pois Starlin havia trocado a Epic/Marvel pela First Comics, e a editora Globo não conseguiu negociar com a nova editora. Em 10 de maio de 1990, morre aos 93 anos o jornalista Adolfo Aizen, mas a editora ainda existiria até 1995, quando publicaria o décimo quinto álbum do Príncipe Valente. Em 1991, a Bloch Editores publicou a revista Mestre Kim, a revista era inspirada em Yong Min Kim, coreano naturalizado brasileiro, no mestre de Tae-Kwon-Do, Kim, ensinou defesa pessoal à membros da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro e da Polícia Federal e se apresentava em programas da Rede Manchete (empresa do mesmo grupo do qual fazia parte a Bloch Editores) 192 , a revista teve como roteiristas o próprio Kim, Antônio Ribeiro (assinando como Tony Carson) e desenhos de Eugênio Colonnese e Marcello Quintanilha . Em 1993, Luiz Rosemberg fundador da Apla/Ica Press, morre e o syndicate é encerrado. Lourdes Belo Pereira, que trabalhara na Apla desde 1964, criou a Intercontinental Press. Em 1995, a Editora Abril Jovem, sob a direção editorial de Elizabeth Del Fiore, assina contrato com os ilustradores Jóta e Sany, autores da revista Turma do Barulho, cujo universo, diagramação e o design das personagens inovavam em relação aos outros personagens da época. Através de uma linguagem irreverente, Toby, Babi, Milu, Kid Bestão, Bobi, entre outros, viviam aventuras dentro de um ambiente escolar longe de ser politicamente correto, onde os roteiros eram desenvolvidos a partir da ideia "O humor pelo humor". A revista Turma do Barulho foi um dos lançamentos que mais permaneceu no mercado naquele período, sendo publicado pela Abril Jovem e logo em seguida pela Press Editora. Nessa época também apareceu uma nova geração de quadrinistas, que foram contratados para trabalhar com as grandes editoras americanas de super-heróis, Marvel e DC Comics: Mike Deodato e Luke Ross, dentre outros. Apesar de continuar o lançamento de diversas revistas voltadas estritamente para a HQ brasileira, como "Bundas" (já extinta), "Outra Coisa" (com informações sobre arte independente) e "Caô", pode-se considerar que o gênero ainda não conseguiu se firmar no Brasil. Graças ao sucesso de Os Cavaleiros do Zodiaco e outros animes na TV aberta, começam a surgir novas revistas informativas, surgem a Revista Herói publicada em conjunto pela Acme e pela Nova Sampa, Heróis do Futuro, além das revistas que traziam exclusivas sobre anime e mangá Japan Fury, e Animax. Surgem também as revistas em quadrinhos inspiradas na estética mangás, como adaptações dos Video gamesda Capcom Street Fighter, escrita por Marcelo Cassaro, Alexandre Nagado e Rodrigo de Góes, pela Editora Escala; Megaman e Hypercomix pela Editora Magnum (editora que publicava revista sobre armas de fogo), que teve a participação de artistas comoDaniel HDR (que desde 1995, desenhava para o mercado americano, personagens comoGlory da Image Comics), Eduardo Francisco e Érica Awano (onde os dois último fizeram sua estreia no mercado editorial). Em 1995, surgem a primeira versão brasileira da revista Heavy Metal, publicada pela editora homônima, a editora publicou as séries Druuna de Paolo Eleuteri Serpieri e Gullivera de Milo Manara , no ano seguinte, o angolano Carlos Mann, dono da gibiteriaComnix Book Shop e o jornalista Dário Chaves,
  • 28. publicam o álbum Brasilian Heavy Metal, o álbum teve 200 páginas e publicou apenas histórias produzidas por brasileiros, tais como Leão Negro de Cynthia Carvalho (roteiro) e Ofeliano de Almeida (desenhos), além de histórias produzidas por artistas como Júlio Shimamoto, Marisa Furtado, entre outros , o lançamento surgiu em decorrência das comemorações de 10 anos da gibiteria Comix, no mesmo ano, Sergio Guimarães, dono da editora Press convida Mann para ser editor da revista Heróis do Futuro , a revista contou a colaboração de Chaves. Posteriormente, a editora Heavy Metal é dividida, parte da editora é vendida para a Editora Escala e outra parte torna-se a editora Metal Pesado, a revista Metal Pesado publicada pela editora ganhou em 1997, os prêmios Angelo Agostini e HQMix, a revista Metal Pesado só publicava histórias de artistas brasileiros, a revista teve uma edição especial publicada em comemoração dos 15 anos da Gibiteca de Curítiba, nela foi publicada histórias do herói O Gralha produzidas por Alessandro Dutra, Gian Danton, José Aguiar, Antonio Eder, Luciano Lagares, Tako X, Edson Kohatsu, Augusto Freitas e Nilson Müller. O Gralha é inspirado no obscuro herói Capitão Gralha, um personagem que teve apenas uma revista publicada na década de 1940, sua criação é atribuída a Francisco Iwerten, assim como Francisco Armound, roteirista de A Garra Cinzenta, a verdadeira identidade de Iwerten é desconhecida, a editora também publicou as revista Zorro da Topps Comics, Lobo da DC Comics e Preacher da Vertigo (selo adulto da DC). A editora mudaria usaria os nomes Tudo em Quadrinhos, Fractal e por último Atitude Publicações, sendo encerrada em janeiro de 1999, no mês seguinte, o editor Eloy Pacheco cria uma nova editora derivada da Metal Pesado, a Brainstore, que continua publicação de Preacher, cancelada pela Atitude , em 2005, a editora teve sua sede invadida e assaltada, foram roubados computadores, scanners e impressoras da empresa, por conta disso, a editora é encerrada. Em 1996, a Editora Globo publicava os títulos da Sergio Bonelli Editore, e lançava no Brasil Sin City, de Frank Miller, além da versão brasileira da Revista Wizard. Os títulos da Image Comics Gen, Wildcats, Cyberforce e Witchblade, Savage Dragon e Spawn eram publicados pela editora Abril, e não durariam muito tempo na editora, sendo cancelados, inclusive a revista Wizard, encerrada na décima quinta edição, em 1998. Os títulos da Image, publicados pela Globo, retornariam às bancas brasileiras pela Editora Abril. No mesmo ano, Dorival Vitor Lopes, Hélcio de Carvalho e Franco de Rosa criam a Mythos Editora, que assume títulos da Sergio Bonelli Editore. No ano seguinte, Jotapê Martins cria a Via Lettera, e em 1998, Franco de Rosa e Carlos Mann criam a Opera Graphica, inicialmente a Opera Graphica funcionou como estúdio, Mann, Rosa e Chaves produziram as revistas HQ - Revista do Quadrinho Brasileiro (uma outra revista inspirada na americana Heavy Metal), Graphic Talents, Comix Book Shop Magazine, além de revista que ensinavam técnicas de desenho, todas publicadas pela Editora Escala, além de quadrinhos eróticos publicadas pela editora Xanadu (um selo da Editora Escala). Entre 1997 e 1998, Marcelo Cassaro consegue licença para lançar adaptações de Street Fighter Zero 3, Mortal Kombat 4 e lança suas HQs autorais Holy Avenger, U.F.O. Team. Belo Horizonte tem se revelado um polo brasileiro para eventos ligados à nona arte. Recebendo a Bienal Internacional de Quadrinhos em 1997, em sua terceira edição, durante as comemorações do centenário da cidade, uma efervescência profissionalizante tomou conta da cidade, interessando diversos grupos e empresas ligadas aos quadrinhos. Atualmente, Belo Horizonte conta com a Associação Cultural Nação HQ, que implementa o Centro de Pesquisa e Memória do Quadrinho, além de promover encontros e festivais anualmente. O Festival Internacional de Quadrinhos foi criado em 1999, substituindo a Bienal Internacional de Quadrinhos, vindo a atender à demanda por um evento que abrigasse a produção constante da cidade.
  • 29. Em 1999 a Acme, de Cristiane Monti, André Forastieri, Renato Yada e Rogério de Campos, se transforma em Conrad Editora e publica o primeiro mangá japonês no formato livro e com leitura oriental (da direita para a esquerda): Gen Pés Descalços, de Keiji Nakazawa. Tecnologia Em pleno século XXI, as histórias em quadrinhos convivem com as mais avançadass tecnologias. Para Nobu, essas novas técnicas ajudam no trabalho de produção das HQs. “A tecnologia influencia em todos os ramos de atividade humana. Nos quadrinhos, especificamente, os softwares de computação gráfica facilitam o trabalho dos artistas e mesmo a possibilidade de se criar arquivos eletrônicos viabilizam, por exemplo, que um desenhista aqui do Brasil produza para editoras norteamericanas e envie por e-mail o seu trabalho. Tecnologias de impressão também agilizam processos e melhoram a qualidade do produto”, declarou. Em relação ao futuro, o professor acredita que é complicado apontar uma direção certeira para HQs, mas vê uma inclinação para o meio online. “Os quadrinhos via internet são uma tendência que vem se revelando há algum tempo, mas que continuam como uma promessa. Pelo menos em termos de produto que possa sustentar seu autor”. É o caso dos blogs Wil Tirando, Vida de suporte e Mundo Memes, que produzem tirinhas voltadas para o meio online, utilizando ferramentas desse ambiente, como linguagem específica, memes (apropriação de imagens e símbolos que se espalham na internet passando uma mensagem, geralmente cômica) e gifs (imagens animadas). O professor destaca, porém, que as histórias em quadrinhos vão além dos gibis e das tirinhas online, por exemplo. “A linguagem, a estética dos quadrinhos está por toda parte: na publicidade, no design, no graffiti, na moda, no cinema, na comunicação visual. Os balões da fala, por exemplo, cujo uso foi disseminado pelos quadrinhos, são utilizados em tudo quanto é lugar. E de uma forma tão constante que nem nos damos conta. As onomatopeias, que também não são exclusivas dos quadrinhos, mas mais comuns neles, estão na publicidade, nas marcas de produtos etc.”, comentou. Aprendizado Muitas vezes, as histórias em quadrinhos podem estar ligadas ainda a métodos para aprendizado. “Os quadrinhos são uma linguagem muito boa para transmitir uma mensagem. São um tipo de narrativa que agrada, entretém, mas também informa e ensina. Ler quadrinhos ativa os dois hemisférios cerebrais e permite tratar de assuntos sem limite. Uma história em quadrinhos pode abordar temas históricos, científicos e até metafísicos, com muita competência e bons resultados. Obviamente, desde que bem feita”, explicou o professor. O próprio professor adquiriu diversos conhecimentos por meio das histórias em quadrinho. “Pode parecer exagero, mas muito da minha formação cultural devo aos quadrinhos. Eles também me deram a oportunidade de conhecer pessoas fantásticas: autores, estudiosos ou apreciadores como eu. Alguns deles eram meus ídolos e agora posso considerar meus amigos. Os quadrinhos são o tema do meu doutorado e de alguns dos livros de que participei. Portanto, as HQs, sem dúvida nenhuma, representam muito pra mim. Sou muito grato a eles”.