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Jornal-laboratório produzido pelos alunos de Jornalismo da Universidade Cruzeiro do Sul
Ano XII - Número 40 - Dezembro de 2011
Agressividade ao volante pode
trazer sérias consequências
Especialistas explicam o que leva os motoristas a
agirem de modo agressivo e sugerem formas de
lidar com esse problema. Página 3
Ecopontos da
prefeitura
recolhem
entulho
gratuitamente
O material recolhido
é reciclado e pode ser
usado em obras de
calçamento, sarjetas e
asfalto. Página 4
Passatempo profissional
Nossos entrevistados revelam por que decidi-
ram deixar de lado uma carreira profissional
estabilizada para se dedicarem a um hobby.
Página 3
Arquivo
Déborah
Aranhos
Acadêmicos do Tatuapé comemora 60 anos
Conheça a trajetória da escola que recebeu prêmio de melhor samba-
enredo do Carnaval 2012, com música em homenagem à cantora e
compositora Leci Brandão. Página 5
Campeões em superação
Atletas com necessidades especiais relatam a importância do esporte na
recuperação de sua autoestima. Página 2
Relatos de quem vive
ou já viveu nas ruas
Santos (foto) afirma que foi acolhido e fez
amigos no período em que esteve desabrigado.
Página 4
Aula de música nas escolas passa
a ser obrigatória em todo o país
Nova lei gera controvérsia entre
profissionais da área. Página 6
Depender do transporte
público traz transtornos à
pessoa com deficiência
As principais reclamações envolvem o desres-
peito ao Estatuto da Pessoa com Deficiência.
Página 6
Espetáculo a céu aberto
Apesar de não agradarem a todos e serem alvo
de repressão, os artistas de rua não desistem de
apresentar seu trabalho. Página 7
Rafael
Biazão
Talita
Cricca
Cleane
Brito
Segundo dados levantados pelo
Instituto Brasileiro de Geografia
Estatística (IBGE) no último censo
realizado no Brasil, em 2000 exis-
tiam cerca de 24,6 milhões de pesso-
as que se declararam portadoras de
deficiência, número que correspon-
de a 14,5% da população, que cres-
ceu 20 milhões entre 2000 e 2010.
Ações para a inclusão de pessoas
com deficiência têm sido feitas por
instituições como o Serviço Social
da Indústria (SESI), que abre suas
instalações esportivas para incenti-
var a prática de esportes adaptados.
O voleibol é umas dessas modali-
dades, que, para Antônio Carlos de
Oliveira Pinto, 31 anos, jogador do
time de vôlei adaptado do SESI, foi
uma opção para voltar a viver bem
e recuperar a autoestima. “A prática
do esporte me ajudou tanto finan-
ceiramente como intelectualmente.
Consegui construir uma família,
ter a minha casa, aprendi a valo-
rizar mais a vida”. Quanto ao pre-
conceito, o atleta diz que não leva
a sério. “A gente sofre mais com os
olhares das pessoas. Às vezes você
chega perto e as pessoas se afastam,
mas a gente leva na brincadeira”.
A seleção Brasileira Feminina
de Vôlei Paraolímpico conseguiu
recentemente o vice-campeonato
Parapanamericano, o que garantiu
sua classificação para as Paraolimpí-
adas de Londres. “Foi a primeira vez
que uma equipe feminina de volei-
bol sentado conseguiu se classificar
para uma Paraolimpíada”, afirma
o orientador de esportes de rendi-
mento Ronaldo Oliveira, 41 anos.
Treinador de pessoas com de-
ficiência há mais de uma década,
Oliveira diz que, para ele, treiná-
-los não tem nada de especial. “O
treino que eu dou para qualquer
pessoa, eu dou para eles. É só ques-
tão de verificar qual a deficiência e
o tipo de adaptação que você vai
fazer. Depois de passar 12 anos, eu
os vejo como qualquer outra pes-
soa. Cobro, brigo, mando embora
quando tem que mandar. Para mim,
é exatamente igual. É muito fácil
adaptar o treino para o deficiente.”
Uma das conquistadoras da
vaga nas Paraolimpíadas de Lon-
dres foi Regiane Cristina Costa,
36 anos. Para ela, essa é uma gran-
de vitória, pois o vôlei feminino
é um pouco esquecido. Segundo
Regiane, o time está treinando e
se desempenhando muito para
“chegar lá e fazer bonito”. “Falta
muita divulgação ainda, porque
a gente sediando uma competi-
ção de alto nível como essa (Pa-
rapanamericano), ninguém ficou
sabendo”. A atleta acredita que o
problemacomadivulgaçãotambém
é o que faz com que a procura pelo
esporte seja escassa.
“Hoje eu não vivo sem o esporte,
o esporte é a minha vida. Eu moro
no interior de São Paulo, venho de
São José do Rio Preto (para Suzano)
toda semana para treinar, então são
quase oito horas de viagem”, revela
Regiane, que afirma ter sido a práti-
ca esportiva a responsável por tê-la
livrado da depressão após ter sofrido
o acidente que lhe causou a ampu-
tação do membro inferior direito.
ESPORTE
PÁGINA 2 - DEZEMBRO DE 2011
Paraolimpíadas: uma forma de recomeçar
A prática esportiva pode recuperar a autoestima e a força de vontade de pessoas com deficiência
Os jogadores do SESI treinam às segundas, quartas e sextas na unidade de Suzano
Regiane joga na Seleção de Vôlei
Paraolímpico e encontrou no es-
porte uma saída para a superação
Daniele Motta
Déborah Aranhos
Gabriela Gundim
Déborah
Aranhos
Déborah
Aranhos
Editorial
Primeira experiência
Esta é a primeira edição
do Jornal Cidadão elabora-
da pelos alunos do 3º e 4º
semestres do curso de Jor-
nalismo, campi Anália Fran-
co e São Miguel Paulista.
A editoria Esporte (p. 2)
apresentahistóriasdesupera-
çãodeatletascomnecessida-
des especiais que encontra-
ram no voleibol uma forma de
recuperar a autoestima.
Em Comportamento (p.
3), são discutidas as causas
da agressividade dos moto-
ristas no trânsito da cidade
de São Paulo.
A editoria Mercado de
Trabalho (p. 3) traz relatos de
pessoas que transformaram
seus hobbies em profissão.
A reciclagem de entu-
lho é o tema da editoria
Meio Ambiente (p. 4), servi-
ço oferecido gratuitamente
pela prefeitura em diversos
ecopontos espalhados pela
cidade, mas ainda pouco
conhecido pela população.
Em Urbano (p. 4), são
apresentados relatos de pes-
soas que viveram e ainda vi-
vem nas ruas de São Paulo,
dentre eles, Kaká, que hoje
é líder de uma ONG que tem
como objetivo resgatar a au-
toestima dessas pessoas, e
Salústio Pessoa, que sonha
em terminar os estudos para
conquistar uma vida melhor.
A história da escola de
samba Acadêmicos do Ta-
tuapé, fundada em 1952
e premiada por melhor
samba-enredo do Carnaval
2012, é o assunto da editoria
Memória (p.5).
A editoria Educação (p.
6) aborda os prós e con-
tras da nova lei que de-
termina a obrigatoriedade
do ensino de música nas
escolas públicas e priva-
das do país ainda este ano.
Em Direitos Humanos (p.
6), pessoas com deficiência
falam das dificuldades que
enfrentam ao utilizar o trans-
porte público (ônibus e Me-
trô). Lucimara e Bernardo,
moradores da Zona Leste,
criticam o despreparo dos
funcionários em relação a
seus direitos e revelam como
lidam com o preconceito.
A editoria Cultura (p. 7)
apresenta o trabalho de artis-
tas de rua da cidade, como o
músico Tiago Ortaet e a es-
tátua viva Ruan Fernandes.
Esperamos que essa
nossa primeira experiên-
cia em jornalismo impresso
agrade a você, leitor.
Boa leitura!
Antônio Carlos diz não ter escolhido
o vôlei, e sim ter sido escolhido pelo
esporte
Paraolimpíadas Escolares
As Paraolimpíadas Escolares são a principal competição en-
tre alunos da rede pública e privada de todo o país. O evento,
que já está em sua 5ª edição e ocorre sempre no mês de agos-
to, conta com a participação de adolescentes de 12 a 19 anos.
A competição ajuda a recuperar a força de vontade e autoestima
de jovens que têm deficiência desde pequenos e sofrem com dificul-
dades financeiras. São aproximadamente 1.200 atletas que são inclusos
na sociedade e se tornam mais saudáveis com a prática dos esportes.
Vários tipos de modalidades fazem parte das Paraolimpía-
das Escolares, entre elas, natação, futebol, vôlei, atletismo e bocha.
Déborah
Aranhos
Reitora
Profª. Drª. Sueli Cristina Marquesi
Pró-Reitor de Graduação
Prof. Dr. Luiz Henrique Amaral
Pró-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Prof. Dr. Danilo Antonio Duarte
Pró-Reitor de Extensão e
Assuntos Comunitários
Prof. Dr. Renato Padovese
Coordenador dos Cursos
de Comunicação Social
Prof. Ms. Carlos Barros Monteiro
Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da
Universidade Cruzeiro do Sul
Ano XII – Número 40 – Dezembro de 2011
Telefone para contato: (11) 2037-5706
Tiragem: 1.500 exemplares
Impressão: Jornal Última Hora (11) 4226-7272
Diagramação Final: Eduardo Vianna
Professores Orientadores:
Drª. Flávia Serralvo e Ms. Regina Tavares 
Também participaram desta edição:
Aline Santos, André Miranda, Cristiano Hurtado,
Daniela Gomes, Dener Sabino, Efraim Caetano,
Estefano Perez, Kaíque Ferreira, Marco Antônio
Ramos, Mariana Rocha, Maurício Pizani,
Nataly Sales e Vitor Araújo
Observação: algumas pessoas declararam possuir mais de um tipo de defi-
ciência. Por isto, quando somadas as ocorrências de deficiências, o número
é maior do que 24,6 milhões.
Antônio Adriano de Jesus Dias,
39 anos, motorista desde os 18, sen-
te na pele diariamente os problemas
acarretados pelo estresse no trânsito.
Ele revela que, para extravasar sua
raiva em determinados momentos do
dia, bate no volante e no painel de seu
veículo, pois fica muito irritado e não
consegue pensar em mais nada.
O trânsito caótico e os motoris-
tas com pouca capacidade de con-
duzir veículos são as causas da irrita-
ção de Dias, e isso influencia em sua
vida fora do trabalho. “Quando eu
chego em casa, quero ficar quieto,
sozinho e não quero conversar nem
com a minha esposa. Às vezes ela
me pergunta alguma coisa e eu peço
para me deixar em paz. São reflexos
do estresse que passei no trânsito”.
Dias reconhece o fato de que a
maioria dos motoristas muda de com-
portamento ao conduzir um veículo,
principalmente se a pessoa tem um
problema em casa ou no trabalho e
assume o volante, qualquer coisa é
motivo para ficar com raiva.
Segundo a psicóloga Carla Cris-
tine de Almeida Zottino, do Centro
de Apoio Social da Polícia Militar
(CAS–PM), as pessoas têm comporta-
mentos diferentes quando são pedes-
tres e quando estão atrás do volante.
“Como pedestres, são mais fragiliza-
das. Já com o carro, mostram a força
que têm e passam a se comportar de
uma forma diferente, passam a agir
como se estivessem acima do pedestre,
usam o carro como forma de poder”.
Carla ressalta que essa situação vem se
agravando devido ao estresse do dia a
dia, mas sua origem é bastante antiga.
Já na década de 1950, os Estúdios
Walt Disney desenvolveram uma ani-
mação em que o personagem Pateta
vivencia exatamente a situação des-
crita por Carla a respeito dos motoris-
tas das grandes metrópoles. Segundo
Alexandre Pelegi, coordenador do
Núcleo de Comunicação Social de
Educação de Trânsito da Secretaria
Municipal de Transportes (SMT), o
desenho mostra que, quando o con-
dutor é pedestre, comporta-se como
uma pessoa pacata e gentil. Em con-
trapartida, quando está dirigindo seu
carro, transforma-se em um monstro.
“Se uma pessoa está andando de
carro na rua e fica nervosa porque o
trânsito não anda e começa a buzinar
insistentemente, não será multada por
buzinar, mas o motorista que fizer isso
será condenado de forma moral pelos
demais, por demonstrar sua agressi-
vidade através de uma ação sonora, a
buzina”, afirma Pelegi.
Analisando esse tipo de comporta-
mento, a psicóloga Leila Letícia Silva,
do CAS–PM, conclui que as pessoas
estãosetornandointolerantes,poiselas
dependem daquele veículo para chegar
ao compromisso no horário marcado,
desencadeando a má educação e o des-
respeitocomasinalização.“Os paulis-
tanos precisam se conscientizar de
que talvez o transporte coletivo seja
mais viável. É necessário mesmo es-
tar sozinho dentro de um carro? Po-
demos recorrer àquelas situações de
grupo para sair, cada dia no carro de
uma pessoa. Essa é a solução”, pro-
põe Leila.
Para Pelegi, uma série de medidas
que tenham como prioridade o trans-
porte público poderiam ser tomadas,
tais como preferência no trânsito para
ônibus que transportam o mesmo que
100 carros; duas vias exclusivas para
os coletivos circularem, com semá-
foro e operações de tráfego que deem
preferência a sua circulação, além da
implantação do pedágio urbano.
A psicóloga Carla defende a me-
lhoria do processo seletivo para adqui-
rir a Carteira Nacional de Habilitação
(CNH), tendo em vista que se visa
principalmente ao lucro. “Não é inte-
ressante para o psicólogo que está ava-
liando ver o perfil do motorista, nem
é viável reprovar muita gente para não
perder clientes”. Carla afirma ainda
que um maior rigor no momento da
avaliação identificaria se a pessoa tem
tendência a ter mais agressividade e
impulsividade ao conduzir essa “arma”
que é o veículo.
COMPORTAMENTO
PÁGINA 3 - DEZEMBRO DE 2011
Dias sofreu um AVC (acidente vascular cerebral) e, segundo os médicos, a principal causa foi seu trabalho como motorista
Talita
Cricca
Trânsito: agressividade atrás do volante
Especialistas analisam as causas do comportamento agressivo dos motoristas que trafegam pelas ruas da capital paulista
Pelegi, que atua na Secretaria Municipal de Transportes de São Paulo,
acredita que é preciso priorizar o transporte público
Lucilene
Gomes
Gustavo Oliveira
Lucilene Gomes
Suellen Grangeiro
Diante de uma época de globali-
zação, o mercado de trabalho é sub-
metido a inúmeras mudanças: novas
oportunidades surgem, enquanto
outras tornam-se antigas e deixam
de existir. Com as inovações tecno-
lógicas, o mercado fica cada vez mais
competitivo entre empresas que,
consequentemente, passam a exi-
gir ainda mais de seus candidatos.
Uma das carreiras mais inovado-
ras na atualidade é o trabalho baseado
em hobbies. Pessoas que optam por
trabalhar com algo de que gostam
(que, até então, era apenas uma for-
ma de diversão ou lazer) passam a de-
dicar-se à prática, utilizando-a como
meio de sobrevivência.
Márcia Zoladz, 56 anos, é exem-
plo de profissional que abandonou
uma carreira e se dedicou inteiramen-
te a um hobby. Formada em design
gráfico com passagem pelo Califor-
nia College of Arts, em Oakland, nos
EUA, e com estudos de pós-gradua-
ção em Comunicação na Ruhr-Uni-
versität, em Bochum, Alemanha, ela
também trabalhou como diretora de
arte na revista Claudia e foi colunista
doUOL.Porém,optoupor abrir mão
de sua carreira ao sentir necessidade
de se dedicar a assuntos relacionados
ao mundo da culinária, que tanto
apreciava e que surgiu após sua visita
a uma feira do livro, em Frankfurt.
Hoje, Márcia tem diversos livros
de receitas publicados no Brasil e na
Alemanha, tais como “Muito prazer”
(2000) e “Brigadeiros e Bolinhas”
(2011). Ela é responsável pelo blog
“Etiquetéssima” e pelo site “Cozinha
da Márcia”. No início, conciliava
seu trabalho com suas receitas, para
que pudesse se manter. No entanto,
atualmente, dedica-se inteiramente
à culinária. “Eu não diria que errei a
minha carreira. Sempre gostei mui-
to de trabalhar com comunicação
de massa, mas sempre admirei as
comidas e suas histórias”, comenta.
Outro profissional que aban-
donou sua profissão para seguir
um hobby é o fotógrafo Alexandre
Peregrino, 37 anos. Ele trabalhava
como diretor de marketing de uma
casa noturna quando, para cortar
custos, passou a ser o responsável
pelas fotos do local. “Comprei uma
maquininha fotográfica, mandei o
fotógrafo embora e comecei a tirar
as fotos eu mesmo. Não foi uma op-
ção de profissão e, até então, não era
um hobby, mas, de certa forma, eu
me divertia fazendo aquilo”, revela.
Assim, Peregrino deu início a
uma carreira que o levou a traba-
lhar em diversas revistas, como Ca-
pricho, Tititi e Contigo. Fotogra-
fou também para a revista Playboy,
familiarizando-se então com o estilo
de fotografia com o qual passaria
a trabalhar: nudez e sensualidade.
Deixar que um hobby torne-se
uma profissão foge do padrão exigido
pela sociedade atual. Por conta disso,
não é raro que uma decisão como
essa, quando tomada, seja submetida
a diversas críticas direcionadas a sua
utilização como plano de carreira,
bem como a própria adaptação do
indivíduo no uso cotidiano de seu
hobby como trabalho. Para a analista
de recursos humanos Denise Couti-
nho, além de bons salários, o que as
pessoas procuram em suas profissões
hoje em dia é a satisfação com o que
estão exercendo. “Atualmente, as pes-
soas estão em busca do trabalho que
as satisfaça, que esteja envolvido com
sua área de interesse”, afirma Denise.
Vale ressaltar que tanto Márcia
quanto Peregrino estavam consolida-
dosemsuascarreirasantesdeoptarem
por seguir seus hobbies. Apesar de as
duas histórias citadas terem sido bem-
-sucedidas, é preciso tomar cuidado
ao se lançar a uma nova experiência
profissional para não se arrepender
depois. Márcia confessa que deixou
a culinária como um “plano B”, já
que levou um bom tempo até aban-
donar de fato a sua profissão para se
“aventurar” com os livros de cozinha.
Um hobby, por mais prazeroso
que seja, também exige dedicação,
entusiasmo, especialização e conhe-
cimentos no assunto. Embora, para
muitos, essa utilização seja simples e
fácil, sua prática demanda todos os
requisitos de uma tarefa comum no
ambiente de trabalho. A grande dife-
rença está no prazer em fazê-la e ter a
consciência da elaboração de algo que
realmente lhe proporcione benefí-
cios, tanto ao corpo quanto à mente.
MERCADO DE TRABALHO
Hobby: quando a diversão vira profissão
Carolina Coutinho
Denis Pritsch
Diego Motoda
Do hobby à profissão: Alexandre Peregrino, que antes era diretor de
marketing de uma casa noturna, hoje é fotógrafo profissional
Joaz
Nunes
Em busca da satisfação profissional, pessoas transformam seus hobbies em atividades lucrativas
MEIO AMBIENTE DEZEMBRO DE 2011 - PÁGINA 4
Reciclagem de entulho cresce em São Paulo
Prefeitura tem serviço que recolhe o material gratuitamente, mas população sofre com descarte irregular
Benedito Carlos de Souza, 50
anos, trabalha com reciclagem de
entulho há cerca de um ano. “Não
é fácil, mas é um trabalho, e é dig-
no”. Souza trabalha no ecoponto
Jardim São Nicolau, um dos 45
ecopontos da prefeitura de São
Paulo, que são postos de entrega
voluntária de entulho. Os postos
foram criados principalmente para
evitar o descarte irregular de entu-
lho, que muitas vezes vai parar em
acostamentos, praças municipais
e terrenos baldios. A criação dos
ecopontos deu à população a chan-
ce de descartar, gratuita e correta-
mente, esse tipo de material, além
de incentivar outra questão im-
portante: a reciclagem do entulho.
Segundo Laura Maria Mar-
ques Paulo, técnica em edificações
formada pelo Instituto Paula Sou-
za, a reciclagem desse material na
construção civil é vantajosa sob
muitos aspectos. “A vantagem prin-
cipal é a preservação dos recursos
naturais”, afirma Laura. “Quando
você usa uma areia que veio de re-
ciclagem, você poupa a da jazida
natural, preservando esse recurso
e deixando de simplesmente des-
cartar o entulho, que pode ser re-
aproveitado”. Os benefícios da re-
ciclagem não param por aí: o custo
da obra pode cair muito quando
são usados materiais reciclados.
O processo de reciclagem é re-
lativamente simples. O entulho re-
colhido passa por uma máquina de
trituramento até atingir diferentes
tamanhos de pedra e areia, o último
estágio de trituração. Esse material,
depois de triturado, substitui seus
equivalentes naturais com a mes-
ma garantia de qualidade, e pode
ser usado em todo tipo de obras
de calçamento, sarjetas e asfalto.
“O entulho reciclado só não pode
ser usado em obras estruturais, na
construção de prédios, por exem-
plo, mas em todo o resto o material
pode ser substituído pelo reciclado
sem problemas”, explica Laura.
Antes de trabalhar com entu-
lho, Souza era segurança e se diz à
vontade com o novo emprego. Para
ele, a parte mais difícil do trabalho
é o relacionamento com o públi-
co: “A gente lida com muita gente
mal educada, que não entende
que o ecoponto tem regras, limi-
tes e normas. Tem material que a
gente não pode receber e ainda as-
sim as pessoas vêm e insistem em
discutir”. Alguns materiais resul-
tantes da construção civil, como
gesso, tintas e solventes, não po-
dem ser descartados no ecopon-
to. “Esse tipo de material é consi-
derado lixo tóxico e não pode ser
reciclado, precisa ir para um ater-
ro e ter um descarte específico”,
afirma a técnica em edificações.
Cada pessoa pode levar gra-
tuitamente para o ecoponto até
10 metros cúbicos de material por
dia. De acordo com o site da pre-
feitura, entre janeiro e agosto des-
te ano, os ecopontos recolheram
mais de 30 mil metros cúbicos só
de entulho. Os volumosos, como
móveis velhos e restos de podas de
árvores, também são recolhidos nos
ecopontos, e, no mesmo período,
as entregas somaram mais de 120
mil metros cúbicos de material. Os
recicláveis, como vidro e alumínio,
somam quase 6 mil metros cúbicos.
E a tendência é melhorar. “Vai con-
tinuar dando certo, sim, e ficando
cada vez melhor”, acredita Souza.
Segundo ele, a reciclagem de entu-
lho é uma área promissora, e ele não
tem planos de sair dela tão cedo.
A presença dos ecopontos na ci-
dade ajuda as pessoas que, depois de
uma reforma simples em casa, não
sabem o que fazer com o entulho.
Por falta de informação, a maioria
desse lixo é dispensada em terrenos
baldios e esquinas, o que prejudi-
ca a população. Luzinete da Silva,
69 anos, é moradora do Jardim
Nordeste, na Zona Leste de São
Paulo, e sofre com esse problema.
Segundo ela, o entulho se acumula
na beira do córrego Tiquatira, per-
to de onde mora. “As pessoas não
têm consciência, os ratos e outros
bichos aparecem aqui por causa
desses lixos amontoados. Quando
chove, a gente só vê os sofás e espu-
mas boiando.” Luzinete não sabia
da existência dos ecopontos.
O que falta é principalmente
conscientização. “Convencer as pes-
soas a fazer a coisa certa é muito di-
fícil. Aqui do lado do ecoponto tem
uma praça, e os carros vêm e deixam
o entulho jogado lá, quando pode-
riam deixar aqui de graça”, conta
Souza. Se é preconceito? “Não, é
preguiça mesmo”, ele completa e ri.
Para saber mais sobre a entrega
voluntária de entulho, localização
e horário de funcionamento dos
ecopontos, acesse: www.prefeitura.
sp.gov.br.
Aline Romero
Gisele Moniz
Entulho recolhido no ecoponto Jardim São Nicolau
Gisele
Moniz
O que mais se vê pelas esquinas
de São Paulo são pessoas dormindo
pelos cantos, enfiadas em buracos
ou em caixas de papelão, tentando
se proteger do frio, da violência e,
principalmente, da indiferença hu-
mana. Um estudo feito pela Funda-
ção Instituto de Pesquisas Econô-
micas (FIPE) em 2009 revelou que
existem cerca de 18.000 moradores
de rua em São Paulo, porém, segun-
do a prefeitura da cidade, o número
total é de cerca de 13.000 morado-
res. Deles, 84% são homens com
idade média de 40 anos. A maior
parte dos desabrigados está concen-
trada no centro da cidade, que con-
ta com 40 albergues da prefeitura.
Neles, cada morador de rua custa
R$ 350,00 mensais ao governo.
Todos os dados citados ante-
riormente foram divulgados pela
FIPE, já que os moradores de rua
não participam do censo do Ins-
tituto Brasileiro de Pesquisa de
Geografia e Estatística (IBGE),
pois não possuem residência e, na
maioria das vezes, nem mesmo RG.
Com base nessas estatísticas,
nossa equipe foi conhecer um pou-
co mais da história de algumas pes-
soas que vivem ou viveram nas ruas
da capital. Marivaldo da Silva San-
tos, 36 anos, saiu de Feira da San-
tana, na Bahia, com o intuito de
conseguir uma situação de vida me-
lhor. Porém, envolveu-se com dro-
gas, álcool e prostituição, o que o
prejudicou em seu emprego e o fez
perder o contato com sua família.
“Você é um semianalfabeto, ne-
gro, nordestino e, se você sair dessa
empresa hoje, não terá outra opor-
tunidade na vida”. Foi essa frase,
pronunciada pelo antigo patrão de
Santos durante uma conversa sobre
seu emprego, que o fez abandonar o
trabalho e passar a morar nas ruas.
Hoje, ele diz que essa frase teve
papel fundamental na sua mudan-
ça de vida em todos os aspectos.
Nas ruas, Santos foi acolhido e
fez alguns amigos. “O interessante
é que, quando você chega às ruas,
as pessoas que vivem lá já sabem
exatamente a qual grupo você vai
pertencer”, comenta. Após presen-
ciar o assassinato de alguns de seus
colegas, a conclusão era inevitável:
ou ele mudava aquela situação ou
viveria nas ruas para sempre. A par-
tir daí, Santos começou a passar
as noites em albergues, por con-
siderar que lá estaria mais seguro.
Além disso, retomou e concluiu
os estudos por meio de um dos
projetos sociais que auxiliam pes-
soas que estão em situação de rua.
Atualmente, Santos trabalha
como orientador ambiental institu-
cional na ONG BomPar, que ofe-
rece oportunidades para moradores
de rua trabalharem como agentes
comunitários. Para fazer parte do
quadro de colaboradores da ONG,
é preciso atender a dois pré-requi-
sitos:játervividoemsituaçãoderuae
ter concluído o ensino fundamental.
Salústio Nonato Pessoa, 46
anos, deixou Fortaleza em busca
de uma vida melhor em São Paulo,
por acreditar que, aqui, teria mais
oportunidades para concluir seus
estudos. Assim como Santos, ele já
morou nas ruas da capital e hoje re-
side em uma propriedade invadida
no bairro da Mooca. “Sei que essa
situação de vida não é fácil, mas te-
nho total certeza de que os estudos
são o caminho para minhas con-
quistas”. Sem emprego fixo e com a
responsabilidade de cuidar da mãe
idosa e de uma sobrinha pequena
que vieram do Ceará para viver
com ele, Pessoa trabalha esporadi-
camente como cabeleireiro e conta
com doações de ONGs, como a
Anjos da Noite.
Liderada por Antenor Ferrei-
ra, 58 anos, conhecido com Kaká,
a ONG Anjos da Noite foi criada
depois de um encontro com um
morador de rua em uma noite
muito fria de São Paulo. “O senhor
estava em uma situação deplorável,
com uma blusa totalmente rasgada
e sem calçados. Eu o levei para to-
mar um lanche e lá conversamos.
Ao nos despedirmos, ele segurou
em minha mão e disse: ‘você é um
anjo da noite’. Essas palavras ecoa-
ram em minha cabeça e foi aí que
resolvi montar o grupo Anjos da
Noite”, revela Kaká, que traba-
lha ainda como coordenador de
estágios obrigatórios da Supe-
rintendência Federal da Agri-
cultura no Estado de São Paulo.
O objetivo principal da ONG
é resgatar a autoestima dos mora-
dores de rua para possibilitar sua
reintegração social. “A mídia expõe
e não propõe mudanças. É neces-
sário desmistificar essa imagem de
que morador de rua é marginal. Não
bastasómudaronomedefavelapara
comunidade. É preciso uma quebra
de paradigma entre a sociedade, o
governo e a mídia”, propõe Kaká.
Superação e felicidade também moram na rua
Apesar das dificuldades de viver nas ruas, há quem consiga sorrir e sonhar com um futuro melhor
Pessoa saiu de Fortaleza para tentar uma vida melhor em São Paulo.
Hoje, reside em uma propriedade invadida no bairro da Mooca
URBANO
Rafael Galindo
Raphael Rufino
Raquel Torres
Cleane
Brito
MEMÓRIA DEZEMBRO DE 2011 - PÁGINA 5
Acadêmicos do Tatuapé: 60 anos de tradição
A história de uma comunidade que, além de unida, tem a música correndo nas veias e nos pés
O samba começou na Praça da
Sé, e o sucesso a tornou uma das
pioneiras do Carnaval de São Pau-
lo. O dia 26 de outubro de 1952
marcou o início de uma trajetória
de força, dedicação e união. Ini-
cialmente chamada de Unidos de
Vila Isabel, a Acadêmicos do Ta-
tuapé foi fundada por Osvaldo
Vilaça, conhecido como “Mala”,
na época, morador da região. “Em
1964, ele veio morar no bairro
e mudou o nome da escola para
Grêmio Recreativo Escola de Sam-
ba Acadêmicos do Tatuapé, como
é conhecida hoje”, conta o vice-
-presidente, Eduardo dos Santos.
Ainda garoto, ele iniciou suas
participações no Carnaval por volta
dos seis anos e conta que enfrentou
dificuldades devido às condições fi-
nanceiras. “Sou de uma época em
que o cara tinha um calçado. Ele
usava o mesmo para ir trabalhar, ir
à missa, para tudo. No Carnaval,
pintávamos os sapatos com cal para
que eles ficassem brancos para o des-
file. Depois era só lavar e continuar
usando. Hoje, a pessoa tem um para
o ensaio, outro para a apresentação
e outro para desfilar. Não sei se o
Carnaval de antigamente era mais
bonito do que o atual. Mas essas
coisas, como pintar o calçado, era
algo romântico”, recorda Santos.
As recompensas chegaram em
1968, com a classificação da Aca-
dêmicos do Tatuapé como vice-
-campeã do Grupo de Acesso. A
partir daí, começaram a desfilar
no Grupo Especial. “A quadra era
na rua Antônio de Barros, e a es-
cola saía no bairro com uma taça
na mão, de porta em porta, pe-
gando dinheiro para fazer o Car-
naval”, revela Roberto Munhoz,
presidente, sobre a diferença en-
tre os cenários de hoje e da época.
O declínio ocorreu em 1987,
quando foram desclassificados do
Grupo 2 - União das Escolas de
Samba Paulistanas (UESP), passan-
do três anos sem desfilar. Retorna-
ram à avenida em 1991 e conquista-
ram o 5º lugar no Grupo de Seleção
A. Em 2003, com o enredo “Abram
Alas Para o Rei Abacaxi”, de Babú
Energia, foram campeões do Grupo
de Acesso. Venceram grandes no-
mes do Carnaval, como a Impera-
dor do Ipiranga, Pérola Negra, Tom
Maior e Mancha Verde.
Munhoz, Santos e o coordena-
dor de casais Marcos Antônio da
Silva, conhecido como Toninho,
destacam o mesmo ponto como o
grande diferencial: ser uma “escola-
-família”. “Nunca ouvimos falar
que alguém foi visto usando drogas
aqui, e jamais veremos isso. Quan-
do as pessoas chegam são bem
recebidas, e quando vão embora
choram de saudade. Pai, mãe e fi-
lhos desfilam. Isto é uma família”,
comenta Toninho.
Ilza Moraes, 58 anos, desfila há
nove anos na escola. Ela começou
como baiana e hoje faz parte da
harmonia. “Na época em que fui
convidada, fazia parte do projeto
de caminhada do shopping Metrô
Tatuapé. A professora convidou al-
gumas senhoras para serem baianas
da escola. Eu fui, gostei e fiquei, e
quero continuar por muito tempo.
A Tatuapé, para mim, é como uma
família”. Este ano, a Acadêmicos
do Tatuapé conquistou o 6º lugar
no Grupo de Acesso, com o enre-
do “O Domingo é Especial”, in-
terpretado pelo carioca Preto Jóia,
tricampeão da Sapucaí e vencedor
de dois Estandartes de Ouro: em
1989 (melhor samba-enredo) e
1993 (melhor intérprete).
A escola irá para a avenida no
dia 19 de fevereiro de 2012 e, em
meio ao Carnaval, irá comemorar
os seus 60 anos de história e tradi-
ção. A música homenageará a can-
tora e compositora Leci Brandão, e
conta com direção do Carnavalesco
Mauro Xuxa, que tem 31 anos de
experiência. “Um dos maiores pro
blemas na minha função são deter-
minações da escola. Mas eu nunca
tive repressão no meu trabalho.
Aqui no Tatuapé, tenho liberdade
total para trabalhar”, declara Xuxa.
Leci acompanhou de perto a es-
colha do enredo. “A história da Aca-
dêmicos do Tatuapé é da Zona Les-
te. Tenho uma grande identificação
com eles. Sempre cantei aqui, mas
não esperava que fossem lembrar de
mim em seus 60 anos. Estou muito
feliz”, comenta. Tanto a identidade
da escola quanto a da cantora estão
na letra do enredo “Da arte do sam-
ba, nasci pra comunidade, defesa e
essência, sou guerreira, sou Leci
Brandão!”, que buscou unir ambas
em uma só canção.
Compositores recebem prêmio de melhor samba-enredo do Carnaval 2012
Eliene
Santana
Gustavo Lima
Rafael Biazão
Tayane Garcia
Rafael
Biazão
A cantora Leci Brandão, entre o mestre-sala e a porta-bandeira, é a
homenageada no Carnaval 2012
Ilza Moraes, que começou como baiana e hoje faz parte da harmonia da
escola, literalmente veste a camisa da Acadêmicos do Tataupé. “Aqui,
para mim, é como uma família”
Rafael
Biazão
Andando pela cidade, pode-
mos observar a quantidade de pes-
soas com deficiência que procuram
tratamento em São Paulo e que
convivem com a necessidade de
utilizar o transporte público para
esse fim. Renan Augusto Bernar-
do, 19 anos, é um desses cidadãos.
Ele convive com agenesia sacral e
mielomeningocele, uma má for-
mação da coluna e uma leve difi-
culdade de locomoção que o fazem
mancar, e conta com o transporte
público para fazer seu tratamento
na Associação de Assistência às
Crianças com Deficiência (AACD)
às terças-feiras.
Bernardo, que utiliza o trans-
porte público para realizar diversas
atividades, como o estudo, espor-
te, lazer e trabalho, critica o desca-
so dos passageiros e, segundo ele,
o maior problema é fazer valer seu
direito dentro do ônibus. Ele ale-
ga que já precisou discutir e brigar
com outras pessoas para usufruir
o direito ao assento preferencial e
acredita que isso só mudará quan-
do as crianças forem ensinadas, na
escola, a respeitar e a auxiliar as
pessoas com deficiência, ao invés de
agirem com descaso ou indiferença.
Lucimara Novaes de Oliveira,
42 anos, funcionária aposentada
do Metrô, também convive com
uma deficiência e depende do
transporte público para se locomo-
ver. Ela perdeu os movimentos dos
braços devido a uma doença dege-
nerativa que foi identificada origi-
nalmente como uma tendinite e,
após uma cirurgia, não possui con-
dições de realizar tarefas simples,
como vestir-se, comer ou tomar
banho sozinha. Ela, que conta com
a ajuda da mãe e dos filhos, man-
tém uma vida ativa, apesar das difi-
culdades de locomoção, indo cons-
tantemente ao shopping e fazendo
diversos programas em família.
A aposentada diz que prefere
utilizar o Metrô, pois os funcioná-
rios são muito prestativos e estão
sempre disponíveis para ajudá-la a
se locomover pelas estações, e res-
salta que, apesar de já ter tido que
esperar por atendimento, nunca foi
maltratada, o que não é o caso dos
ônibus. Lucimara conta que, além
de ser mais complicado andar de
ônibus por conta da paralisia nos
braços, ela tem que conviver com
o descaso e muitas vezes a ignorân-
cia dos funcionários que não reco-
nhecem os direitos garantidos pelo
Estatuto do Deficiente, no qual
é permitido, por exemplo, que o
acompanhante do deficiente físico
também não pague pela passagem.
“A dificuldade do acesso ao
transporte público pode dificultar
o tratamento da pessoa com defici-
ência e afeta sua disponibilidade e
acesso à cultura e ao lazer”, afirma
a psicóloga Alessandra Quintana
Narti, que trabalha com pessoas
em situação social precária. Ela
ressalta que o cidadão que convive
com uma deficiência passa a sentir,
devido ao preconceito e às dificul-
dades, que não está bem situado
na sociedade, o que atinge forte-
mente sua autoestima, fazendo-o
ficar isolado e não lutar por seus
direitos, e que a pessoa com defici-
ência deve ir contra estes fatores e
fazer valer a lei.
A psicóloga acredita que o
transporte público e os passa-
geiros não estão preparados para
receber esses cidadãos e que não
há um número suficiente de fun-
cionários devidamente treinados
para realizar um atendimento
qualificado e satisfatório. Mas,
segundo a Secretaria Municipal
da Pessoa com Deficiência e Mo-
bilidade Reduzida, existem mais
de 5.633 ônibus adaptados cir-
culando na cidade e mais de 140
mil bilhetes especiais distribuídos
para pessoas com deficiência que
necessitam de acompanhante.
Por meio de sua assessoria, a
Secretaria alega também que to-
dos os funcionários do transporte
público da cidade de São Paulo
são treinados para lidar com os
equipamentos e com a pessoa com
deficiência dentro dos veículos
adaptados, que são constantemen-
te revisados. Ainda de acordo com
a Secretaria, conforme o Estatuto
da Pessoa com Deficiência, “Os
prestadores de serviço de transpor-
te público interestadual de passa-
geiros são obrigados a reservar, em
cada viagem, quantidade de assen-
tos equivalente a 5% (cinco por
cento) da capacidade indicada de
cada veículo”, por isso os funcio-
nários devem também fiscalizar o
uso devido dos assentos durante os
percursos do ônibus e Metrô, para
que a lei não se torne um mero re-
lato formal e seja aplicada correta-
mente no cotidiano urbano.
EDUCAÇÃO DEZEMBRO DE 2011 - PÁGINA 6
Lei determina educação musical nas escolas
Após 40 anos de ausência, a disciplina de música volta a fazer parte da grade curricular brasileira
De acordo com a Lei 11.769,
aprovada em 2008, todas as escolas
do país devem ter em sua grade cur-
ricular aulas de música, ou incluir
um conteúdo mínimo e obrigatório
nas aulas de artes dos ensinos infan-
til e fundamental. O prazo para que
as escolas se adaptem à lei acaba este
ano. Essa nova disciplina tem como
objetivo principal desenvolver a mu-
sicalidade, ou seja, ritmo, coordena-
ção motora, audição, entre outros.
O ensino de música já fez parte
das grades curriculares das escolas do
país, porém, foi retirado na década
de 1970. A senadora Roseana Sar-
ney apresentou ao Congresso o pro-
jeto de retorno dessa disciplina, que
surgiu com a mobilização do GAP
(Grupo de Articulação Parlamentar
Pró-Música), formado por 86 enti-
dades, como associações, universida-
des e cooperativas de músicos.
O ano de 2011 é o prazo final
para que todas as escolas, públicas e
privadas, incluam o ensino de músi-
ca em sua grade curricular. A nova
lei, aprovada pelo ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, altera a LDB
(Lei de Diretrizes e Bases da Educa-
ção), que determina o aprendizado
de Artes, mas não especifica o conte-
údo. Seu principal objetivo não é for-
mar músicos, e sim desenvolver sen-
sibilidade, criatividade e integração.
“A música ajuda na formação
do intelectual, na construção do
ser humano através dos conceitos
trabalhados. E a importância disso
no aspecto mundo é que a música
te situa na sociedade, tanto na parte
cultural, social e filosófica”, afirma
o professor de música Elias Gomes.
Para ele, existe uma grande defici-
ência de profissionais de música no
país, e essa nova lei é um grande
passo para o Brasil suprir essa neces-
sidade, porém, deve-se atentar para
o planejamento da forma de ensino.
O ex-presidente Lula vetou o ar-
tigodaleiquepreviaaformaçãoespe-
cífica de professores na área musical
para ministrar a disciplina. As razões
do veto foram publicadas oficial-
mente pela Subchefia para Assuntos
Jurídicos da Presidência da Repúbli-
ca e publicadas no Diário Oficial da
União ainda em agosto. De acordo
com o texto, “a música é uma prá-
tica social e no Brasil existem diver-
sos profissionais atuantes nessa área
sem formação acadêmica ou oficial
em música e que são reconhecidos
nacionalmente. Esses profissionais
estariam impossibilitados de minis-
trar tal conteúdo na maneira em que
este dispositivo está proposto”.
Gabriel Souza, 15 anos, é aluno
de música desde os 8 anos. Suas pri-
meiras aulas foram no serviço social
do grupo Perseverança, que, em par-
ceria com a prefeitura de São Paulo,
auxilia crianças de baixa renda. Seu
primeiro instrumento foi o violão, e
hoje toca quase todos os instrumen-
tos de corda. “Desde que comecei, a
música se tornou um grande hobby.
Hoje, já não vejo mais um futuro
sem ela”, comenta o adolescente.
Para ele, a música serviu ainda como
auxílio a matérias básicas, como Ma-
temática e Física.
Souza acredita que, se mais jo-
vens tivessem acesso a aulas de mú-
sica, a criminalidade diminuiria.
“Todo tempo depositado na música
não foi desperdício, mas, se eu não
tivesse depositado esse tempo, onde
eu estaria? Assistindo à TV, jogando
videogame? Talvez pelo lugar onde
eu moro e pela falta de instrução,
até nas drogas”.
Por mais que o planejamento
seja de livre escolha e responsabi-
lidade da instituição de ensino, o
Ministério da Educação recomenda
que, além das noções básicas de mú-
sica, dos cantos cívicos nacionais e
dos sons de instrumentos de orques-
tra, os alunos aprendam cantos, rit-
mos, danças e sons de instrumentos
regionais e folclóricos para, assim,
conhecerem a diversidade cultural
do Brasil.
Alexandre Ulbanele, regente
pela Universidade de São Paulo e
Mestre em Musicologia e Etnomu-
sicologia pela Universidade Estadual
Paulista, acredita que a exigência do
ensino de música nas escolas foi mal
planejada. “Essa lei é tardia e está
sendo discutida há mais de dez anos
no Congresso. O problema é que
não existe interesse em fazer conhe-
cer música, porque, se você conhece
música, você para de consumir as
músicas que você consome. Isso gera
um problema grave, porque tudo
gira em torno da idiotização”.
Fernando Aumada
Maris Landim
Renata Vieira
Gomes: “A música ajuda na forma-
ção do intelectual, na construção
do ser humano”
Arquivo
pessoal
Souza estuda música há sete anos e acredita que, se mais jovens tives-
sem acesso a aulas de música, a criminalidade diminuiria
Fernando
Aumada
DIREITOS HUMANOS
Anderson
Duschek
Utilizar o transporte público ainda é um
Moradores da Zona Leste revelam se os seus direitos têm sido respeitados nos ônibus e no Metrô da cidade
Bernardo afirma que já precisou
brigar para garantir o direito de
utilizar o assento preferencial
desafio para pessoas com deficiência
Anderson Duschek
Eduardo Silva
Rafaela Pietra
Estátuas vivas, músicos, poetas
e dançarinos representam o mundo
da arte de rua. O trabalho de um
saltimbanco (denominação atri-
buída a atores de rua que se apre-
sentavam na antiguidade) consiste
em apresentar a arte que domina
publicamente em locais de gran-
de movimentação de pessoas. Em
troca, recebe o reconhecimento do
espectador com aplausos e algum
“trocado”, que vai desde moedas a
notas de dinheiro de grande valor,
que serve como compensação ao
seu esforço após o espetáculo de rua.
A prática da arte urbana ser-
ve tanto como sustento para a vida
quanto válvula de escape por meio
da qual a expressão de seu trabalho
artístico é realizada. Segundo Ruan
de Freitas Fernandes, 49 anos, está-
tua viva, a arte vai além do dinhei-
ro arrecadado. “Eu gosto de alegrar
os outros, essa é minha função.
Eu assusto os outros e eles gos-
tam. A gente tem que fazer as coi-
sas não por dinheiro, tem que
fazer por amor. Eu faço isso por-
que eu me sinto bem”, afirma.
De acordo com o pintor de
azulejos Marcos Aparecido, 39
anos, o êxito de seu trabalho ga-
rante sua sobrevivência. “É uma
arte artesanal, mas eles [os poli-
ciais] falam que eu só poderia estar
demonstrando meu trabalho e não
vendendo, mas a gente precisa co-
mer e pagar aluguel, então eu me
arrisco e vendo meus trabalhos”.
O apreço pela arte também
atinge o público infantil. O grupo
de teatro de rua Buraco d’Oráculo
apresenta-se há mais de 13 anos no
bairro de São Miguel Paulista, Zona
Leste de São Paulo, e também nas
dependências das estações de trens
da CPTM (Companhia Paulista de
Trens Metropolitanos). O conteúdo
das apresentações do grupo visa à co-
micidade para entreter.
Em contrapartida, há a deprecia-
çãoaotrabalhorealizadoporartistasde
rua. Em novembro de 2010, Gilberto
Kassab, prefeito de São Paulo, causou
polêmica com a “Operação Delega-
da”, que proibiu o trabalho de artistas
de rua na Avenida Paulista, principal
centro financeiro da capital. Contudo,
em julho deste ano, a prefeitura assi-
nou um decreto que permitiu a regula-
mentação desses profissionais, porém,
com restrições que proíbem a venda
de produtos do artista, a reserva de
espaço para apresentação e o desres-
peito aos limites da lei do silêncio
(“Psiu”). Sobre o ocorrido, Tiago
Ortaet, 28 anos, professor de artes
na rede estadual, é contrário à lei
dos artistas de rua. “Artista não pre-
cisa de cartilha. Desde que as leis de
convivência sejam respeitadas, pre-
zando pela ética e o respeito, não há
limites para a criação artística, até
porque todo artista é um contesta-
dor nato, ele é o personagem da vida
real que sempre irá subverter a reali-
dade a fim de expressar suas ideias”.
Espetáculos a céu aberto não
agradam a todos. O gerente de loja
Zinel Silva Teixeira de Souza, 36
anos, comenta que a montagem de
aparelhos de som é perturbadora.
“Eu não tenho nada contra, mas eu
não gosto do barulho, o som muito
alto. Me incomoda”. Mas o profis-
sional, que trabalha no centro da
cidade, mostra-se tolerante quanto
ao trabalho dos artistas de rua. “O
pessoal às vezes chama a polícia.
Eu jamais vou fazer isso, porque
é o meio de vida dele. Ele está ga-
nhando o pão de cada dia. É o tra-
balho dele, eu gostando ou não.”
Aliada ao preconceito, está a
barreira da repressão à base da vio-
lência à qual os artistas são subme-
tidos. Ortaet relembra uma inter-
venção artística que marcou sua
vida. “Em 2009, numa situação
no Metrô Tucuruvi, estávamos re-
alizando uma performance teatral
intitulada “Ecos”, sobre os maus
tratos às crianças. Na ocasião, 25
alunos e eu caminhávamos na cal-
çada da estação, mascarados, com
tochas e carregando um caixão.
Imediatamente, os seguranças do
Metrô agiram truculentos, disse-
ram que não podíamos ficar ali”.
São muitos os percalços que
envolvem a vida de um artista de
rua, mas isso não impede que a
arte seja veiculada e esteja viva na
sociedade. Com dificuldades ou
não, sempre haverá um artista
para se apresentar nos mais diver-
sos locais, pois sua vida é dividida
como as máscaras do teatro gre-
go: entre a alegria e a tragédia.
CULTURA
PÁGINA 7 - DEZEMBRO DE 2011
A tortuosa caminhada do artista de rua
Eles fazem das ruas seu palco e lá recebem aplausos e xingamentos, mas nada os tira do espetáculo
Heila Lima
Henrique Santiago
Tamiris Gomes
Arte nas ruas: grupo de teatro Buraco d’Oráculo empolga público infantil na Zona Leste
Juliana
Cardoso
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Fernandes, 49 anos: ator que representa estátua viva no centro de São Paulo
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Músico traduz sua arte em forma de notas musicais
PÁGINA 8 - DEZEMBRO DE 2011

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Jornal cidadão diagramado dez 2011

  • 1. Jornal-laboratório produzido pelos alunos de Jornalismo da Universidade Cruzeiro do Sul Ano XII - Número 40 - Dezembro de 2011 Agressividade ao volante pode trazer sérias consequências Especialistas explicam o que leva os motoristas a agirem de modo agressivo e sugerem formas de lidar com esse problema. Página 3 Ecopontos da prefeitura recolhem entulho gratuitamente O material recolhido é reciclado e pode ser usado em obras de calçamento, sarjetas e asfalto. Página 4 Passatempo profissional Nossos entrevistados revelam por que decidi- ram deixar de lado uma carreira profissional estabilizada para se dedicarem a um hobby. Página 3 Arquivo Déborah Aranhos Acadêmicos do Tatuapé comemora 60 anos Conheça a trajetória da escola que recebeu prêmio de melhor samba- enredo do Carnaval 2012, com música em homenagem à cantora e compositora Leci Brandão. Página 5 Campeões em superação Atletas com necessidades especiais relatam a importância do esporte na recuperação de sua autoestima. Página 2 Relatos de quem vive ou já viveu nas ruas Santos (foto) afirma que foi acolhido e fez amigos no período em que esteve desabrigado. Página 4 Aula de música nas escolas passa a ser obrigatória em todo o país Nova lei gera controvérsia entre profissionais da área. Página 6 Depender do transporte público traz transtornos à pessoa com deficiência As principais reclamações envolvem o desres- peito ao Estatuto da Pessoa com Deficiência. Página 6 Espetáculo a céu aberto Apesar de não agradarem a todos e serem alvo de repressão, os artistas de rua não desistem de apresentar seu trabalho. Página 7 Rafael Biazão Talita Cricca Cleane Brito
  • 2. Segundo dados levantados pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) no último censo realizado no Brasil, em 2000 exis- tiam cerca de 24,6 milhões de pesso- as que se declararam portadoras de deficiência, número que correspon- de a 14,5% da população, que cres- ceu 20 milhões entre 2000 e 2010. Ações para a inclusão de pessoas com deficiência têm sido feitas por instituições como o Serviço Social da Indústria (SESI), que abre suas instalações esportivas para incenti- var a prática de esportes adaptados. O voleibol é umas dessas modali- dades, que, para Antônio Carlos de Oliveira Pinto, 31 anos, jogador do time de vôlei adaptado do SESI, foi uma opção para voltar a viver bem e recuperar a autoestima. “A prática do esporte me ajudou tanto finan- ceiramente como intelectualmente. Consegui construir uma família, ter a minha casa, aprendi a valo- rizar mais a vida”. Quanto ao pre- conceito, o atleta diz que não leva a sério. “A gente sofre mais com os olhares das pessoas. Às vezes você chega perto e as pessoas se afastam, mas a gente leva na brincadeira”. A seleção Brasileira Feminina de Vôlei Paraolímpico conseguiu recentemente o vice-campeonato Parapanamericano, o que garantiu sua classificação para as Paraolimpí- adas de Londres. “Foi a primeira vez que uma equipe feminina de volei- bol sentado conseguiu se classificar para uma Paraolimpíada”, afirma o orientador de esportes de rendi- mento Ronaldo Oliveira, 41 anos. Treinador de pessoas com de- ficiência há mais de uma década, Oliveira diz que, para ele, treiná- -los não tem nada de especial. “O treino que eu dou para qualquer pessoa, eu dou para eles. É só ques- tão de verificar qual a deficiência e o tipo de adaptação que você vai fazer. Depois de passar 12 anos, eu os vejo como qualquer outra pes- soa. Cobro, brigo, mando embora quando tem que mandar. Para mim, é exatamente igual. É muito fácil adaptar o treino para o deficiente.” Uma das conquistadoras da vaga nas Paraolimpíadas de Lon- dres foi Regiane Cristina Costa, 36 anos. Para ela, essa é uma gran- de vitória, pois o vôlei feminino é um pouco esquecido. Segundo Regiane, o time está treinando e se desempenhando muito para “chegar lá e fazer bonito”. “Falta muita divulgação ainda, porque a gente sediando uma competi- ção de alto nível como essa (Pa- rapanamericano), ninguém ficou sabendo”. A atleta acredita que o problemacomadivulgaçãotambém é o que faz com que a procura pelo esporte seja escassa. “Hoje eu não vivo sem o esporte, o esporte é a minha vida. Eu moro no interior de São Paulo, venho de São José do Rio Preto (para Suzano) toda semana para treinar, então são quase oito horas de viagem”, revela Regiane, que afirma ter sido a práti- ca esportiva a responsável por tê-la livrado da depressão após ter sofrido o acidente que lhe causou a ampu- tação do membro inferior direito. ESPORTE PÁGINA 2 - DEZEMBRO DE 2011 Paraolimpíadas: uma forma de recomeçar A prática esportiva pode recuperar a autoestima e a força de vontade de pessoas com deficiência Os jogadores do SESI treinam às segundas, quartas e sextas na unidade de Suzano Regiane joga na Seleção de Vôlei Paraolímpico e encontrou no es- porte uma saída para a superação Daniele Motta Déborah Aranhos Gabriela Gundim Déborah Aranhos Déborah Aranhos Editorial Primeira experiência Esta é a primeira edição do Jornal Cidadão elabora- da pelos alunos do 3º e 4º semestres do curso de Jor- nalismo, campi Anália Fran- co e São Miguel Paulista. A editoria Esporte (p. 2) apresentahistóriasdesupera- çãodeatletascomnecessida- des especiais que encontra- ram no voleibol uma forma de recuperar a autoestima. Em Comportamento (p. 3), são discutidas as causas da agressividade dos moto- ristas no trânsito da cidade de São Paulo. A editoria Mercado de Trabalho (p. 3) traz relatos de pessoas que transformaram seus hobbies em profissão. A reciclagem de entu- lho é o tema da editoria Meio Ambiente (p. 4), servi- ço oferecido gratuitamente pela prefeitura em diversos ecopontos espalhados pela cidade, mas ainda pouco conhecido pela população. Em Urbano (p. 4), são apresentados relatos de pes- soas que viveram e ainda vi- vem nas ruas de São Paulo, dentre eles, Kaká, que hoje é líder de uma ONG que tem como objetivo resgatar a au- toestima dessas pessoas, e Salústio Pessoa, que sonha em terminar os estudos para conquistar uma vida melhor. A história da escola de samba Acadêmicos do Ta- tuapé, fundada em 1952 e premiada por melhor samba-enredo do Carnaval 2012, é o assunto da editoria Memória (p.5). A editoria Educação (p. 6) aborda os prós e con- tras da nova lei que de- termina a obrigatoriedade do ensino de música nas escolas públicas e priva- das do país ainda este ano. Em Direitos Humanos (p. 6), pessoas com deficiência falam das dificuldades que enfrentam ao utilizar o trans- porte público (ônibus e Me- trô). Lucimara e Bernardo, moradores da Zona Leste, criticam o despreparo dos funcionários em relação a seus direitos e revelam como lidam com o preconceito. A editoria Cultura (p. 7) apresenta o trabalho de artis- tas de rua da cidade, como o músico Tiago Ortaet e a es- tátua viva Ruan Fernandes. Esperamos que essa nossa primeira experiên- cia em jornalismo impresso agrade a você, leitor. Boa leitura! Antônio Carlos diz não ter escolhido o vôlei, e sim ter sido escolhido pelo esporte Paraolimpíadas Escolares As Paraolimpíadas Escolares são a principal competição en- tre alunos da rede pública e privada de todo o país. O evento, que já está em sua 5ª edição e ocorre sempre no mês de agos- to, conta com a participação de adolescentes de 12 a 19 anos. A competição ajuda a recuperar a força de vontade e autoestima de jovens que têm deficiência desde pequenos e sofrem com dificul- dades financeiras. São aproximadamente 1.200 atletas que são inclusos na sociedade e se tornam mais saudáveis com a prática dos esportes. Vários tipos de modalidades fazem parte das Paraolimpía- das Escolares, entre elas, natação, futebol, vôlei, atletismo e bocha. Déborah Aranhos Reitora Profª. Drª. Sueli Cristina Marquesi Pró-Reitor de Graduação Prof. Dr. Luiz Henrique Amaral Pró-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Prof. Dr. Danilo Antonio Duarte Pró-Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários Prof. Dr. Renato Padovese Coordenador dos Cursos de Comunicação Social Prof. Ms. Carlos Barros Monteiro Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Cruzeiro do Sul Ano XII – Número 40 – Dezembro de 2011 Telefone para contato: (11) 2037-5706 Tiragem: 1.500 exemplares Impressão: Jornal Última Hora (11) 4226-7272 Diagramação Final: Eduardo Vianna Professores Orientadores: Drª. Flávia Serralvo e Ms. Regina Tavares  Também participaram desta edição: Aline Santos, André Miranda, Cristiano Hurtado, Daniela Gomes, Dener Sabino, Efraim Caetano, Estefano Perez, Kaíque Ferreira, Marco Antônio Ramos, Mariana Rocha, Maurício Pizani, Nataly Sales e Vitor Araújo Observação: algumas pessoas declararam possuir mais de um tipo de defi- ciência. Por isto, quando somadas as ocorrências de deficiências, o número é maior do que 24,6 milhões.
  • 3. Antônio Adriano de Jesus Dias, 39 anos, motorista desde os 18, sen- te na pele diariamente os problemas acarretados pelo estresse no trânsito. Ele revela que, para extravasar sua raiva em determinados momentos do dia, bate no volante e no painel de seu veículo, pois fica muito irritado e não consegue pensar em mais nada. O trânsito caótico e os motoris- tas com pouca capacidade de con- duzir veículos são as causas da irrita- ção de Dias, e isso influencia em sua vida fora do trabalho. “Quando eu chego em casa, quero ficar quieto, sozinho e não quero conversar nem com a minha esposa. Às vezes ela me pergunta alguma coisa e eu peço para me deixar em paz. São reflexos do estresse que passei no trânsito”. Dias reconhece o fato de que a maioria dos motoristas muda de com- portamento ao conduzir um veículo, principalmente se a pessoa tem um problema em casa ou no trabalho e assume o volante, qualquer coisa é motivo para ficar com raiva. Segundo a psicóloga Carla Cris- tine de Almeida Zottino, do Centro de Apoio Social da Polícia Militar (CAS–PM), as pessoas têm comporta- mentos diferentes quando são pedes- tres e quando estão atrás do volante. “Como pedestres, são mais fragiliza- das. Já com o carro, mostram a força que têm e passam a se comportar de uma forma diferente, passam a agir como se estivessem acima do pedestre, usam o carro como forma de poder”. Carla ressalta que essa situação vem se agravando devido ao estresse do dia a dia, mas sua origem é bastante antiga. Já na década de 1950, os Estúdios Walt Disney desenvolveram uma ani- mação em que o personagem Pateta vivencia exatamente a situação des- crita por Carla a respeito dos motoris- tas das grandes metrópoles. Segundo Alexandre Pelegi, coordenador do Núcleo de Comunicação Social de Educação de Trânsito da Secretaria Municipal de Transportes (SMT), o desenho mostra que, quando o con- dutor é pedestre, comporta-se como uma pessoa pacata e gentil. Em con- trapartida, quando está dirigindo seu carro, transforma-se em um monstro. “Se uma pessoa está andando de carro na rua e fica nervosa porque o trânsito não anda e começa a buzinar insistentemente, não será multada por buzinar, mas o motorista que fizer isso será condenado de forma moral pelos demais, por demonstrar sua agressi- vidade através de uma ação sonora, a buzina”, afirma Pelegi. Analisando esse tipo de comporta- mento, a psicóloga Leila Letícia Silva, do CAS–PM, conclui que as pessoas estãosetornandointolerantes,poiselas dependem daquele veículo para chegar ao compromisso no horário marcado, desencadeando a má educação e o des- respeitocomasinalização.“Os paulis- tanos precisam se conscientizar de que talvez o transporte coletivo seja mais viável. É necessário mesmo es- tar sozinho dentro de um carro? Po- demos recorrer àquelas situações de grupo para sair, cada dia no carro de uma pessoa. Essa é a solução”, pro- põe Leila. Para Pelegi, uma série de medidas que tenham como prioridade o trans- porte público poderiam ser tomadas, tais como preferência no trânsito para ônibus que transportam o mesmo que 100 carros; duas vias exclusivas para os coletivos circularem, com semá- foro e operações de tráfego que deem preferência a sua circulação, além da implantação do pedágio urbano. A psicóloga Carla defende a me- lhoria do processo seletivo para adqui- rir a Carteira Nacional de Habilitação (CNH), tendo em vista que se visa principalmente ao lucro. “Não é inte- ressante para o psicólogo que está ava- liando ver o perfil do motorista, nem é viável reprovar muita gente para não perder clientes”. Carla afirma ainda que um maior rigor no momento da avaliação identificaria se a pessoa tem tendência a ter mais agressividade e impulsividade ao conduzir essa “arma” que é o veículo. COMPORTAMENTO PÁGINA 3 - DEZEMBRO DE 2011 Dias sofreu um AVC (acidente vascular cerebral) e, segundo os médicos, a principal causa foi seu trabalho como motorista Talita Cricca Trânsito: agressividade atrás do volante Especialistas analisam as causas do comportamento agressivo dos motoristas que trafegam pelas ruas da capital paulista Pelegi, que atua na Secretaria Municipal de Transportes de São Paulo, acredita que é preciso priorizar o transporte público Lucilene Gomes Gustavo Oliveira Lucilene Gomes Suellen Grangeiro Diante de uma época de globali- zação, o mercado de trabalho é sub- metido a inúmeras mudanças: novas oportunidades surgem, enquanto outras tornam-se antigas e deixam de existir. Com as inovações tecno- lógicas, o mercado fica cada vez mais competitivo entre empresas que, consequentemente, passam a exi- gir ainda mais de seus candidatos. Uma das carreiras mais inovado- ras na atualidade é o trabalho baseado em hobbies. Pessoas que optam por trabalhar com algo de que gostam (que, até então, era apenas uma for- ma de diversão ou lazer) passam a de- dicar-se à prática, utilizando-a como meio de sobrevivência. Márcia Zoladz, 56 anos, é exem- plo de profissional que abandonou uma carreira e se dedicou inteiramen- te a um hobby. Formada em design gráfico com passagem pelo Califor- nia College of Arts, em Oakland, nos EUA, e com estudos de pós-gradua- ção em Comunicação na Ruhr-Uni- versität, em Bochum, Alemanha, ela também trabalhou como diretora de arte na revista Claudia e foi colunista doUOL.Porém,optoupor abrir mão de sua carreira ao sentir necessidade de se dedicar a assuntos relacionados ao mundo da culinária, que tanto apreciava e que surgiu após sua visita a uma feira do livro, em Frankfurt. Hoje, Márcia tem diversos livros de receitas publicados no Brasil e na Alemanha, tais como “Muito prazer” (2000) e “Brigadeiros e Bolinhas” (2011). Ela é responsável pelo blog “Etiquetéssima” e pelo site “Cozinha da Márcia”. No início, conciliava seu trabalho com suas receitas, para que pudesse se manter. No entanto, atualmente, dedica-se inteiramente à culinária. “Eu não diria que errei a minha carreira. Sempre gostei mui- to de trabalhar com comunicação de massa, mas sempre admirei as comidas e suas histórias”, comenta. Outro profissional que aban- donou sua profissão para seguir um hobby é o fotógrafo Alexandre Peregrino, 37 anos. Ele trabalhava como diretor de marketing de uma casa noturna quando, para cortar custos, passou a ser o responsável pelas fotos do local. “Comprei uma maquininha fotográfica, mandei o fotógrafo embora e comecei a tirar as fotos eu mesmo. Não foi uma op- ção de profissão e, até então, não era um hobby, mas, de certa forma, eu me divertia fazendo aquilo”, revela. Assim, Peregrino deu início a uma carreira que o levou a traba- lhar em diversas revistas, como Ca- pricho, Tititi e Contigo. Fotogra- fou também para a revista Playboy, familiarizando-se então com o estilo de fotografia com o qual passaria a trabalhar: nudez e sensualidade. Deixar que um hobby torne-se uma profissão foge do padrão exigido pela sociedade atual. Por conta disso, não é raro que uma decisão como essa, quando tomada, seja submetida a diversas críticas direcionadas a sua utilização como plano de carreira, bem como a própria adaptação do indivíduo no uso cotidiano de seu hobby como trabalho. Para a analista de recursos humanos Denise Couti- nho, além de bons salários, o que as pessoas procuram em suas profissões hoje em dia é a satisfação com o que estão exercendo. “Atualmente, as pes- soas estão em busca do trabalho que as satisfaça, que esteja envolvido com sua área de interesse”, afirma Denise. Vale ressaltar que tanto Márcia quanto Peregrino estavam consolida- dosemsuascarreirasantesdeoptarem por seguir seus hobbies. Apesar de as duas histórias citadas terem sido bem- -sucedidas, é preciso tomar cuidado ao se lançar a uma nova experiência profissional para não se arrepender depois. Márcia confessa que deixou a culinária como um “plano B”, já que levou um bom tempo até aban- donar de fato a sua profissão para se “aventurar” com os livros de cozinha. Um hobby, por mais prazeroso que seja, também exige dedicação, entusiasmo, especialização e conhe- cimentos no assunto. Embora, para muitos, essa utilização seja simples e fácil, sua prática demanda todos os requisitos de uma tarefa comum no ambiente de trabalho. A grande dife- rença está no prazer em fazê-la e ter a consciência da elaboração de algo que realmente lhe proporcione benefí- cios, tanto ao corpo quanto à mente. MERCADO DE TRABALHO Hobby: quando a diversão vira profissão Carolina Coutinho Denis Pritsch Diego Motoda Do hobby à profissão: Alexandre Peregrino, que antes era diretor de marketing de uma casa noturna, hoje é fotógrafo profissional Joaz Nunes Em busca da satisfação profissional, pessoas transformam seus hobbies em atividades lucrativas
  • 4. MEIO AMBIENTE DEZEMBRO DE 2011 - PÁGINA 4 Reciclagem de entulho cresce em São Paulo Prefeitura tem serviço que recolhe o material gratuitamente, mas população sofre com descarte irregular Benedito Carlos de Souza, 50 anos, trabalha com reciclagem de entulho há cerca de um ano. “Não é fácil, mas é um trabalho, e é dig- no”. Souza trabalha no ecoponto Jardim São Nicolau, um dos 45 ecopontos da prefeitura de São Paulo, que são postos de entrega voluntária de entulho. Os postos foram criados principalmente para evitar o descarte irregular de entu- lho, que muitas vezes vai parar em acostamentos, praças municipais e terrenos baldios. A criação dos ecopontos deu à população a chan- ce de descartar, gratuita e correta- mente, esse tipo de material, além de incentivar outra questão im- portante: a reciclagem do entulho. Segundo Laura Maria Mar- ques Paulo, técnica em edificações formada pelo Instituto Paula Sou- za, a reciclagem desse material na construção civil é vantajosa sob muitos aspectos. “A vantagem prin- cipal é a preservação dos recursos naturais”, afirma Laura. “Quando você usa uma areia que veio de re- ciclagem, você poupa a da jazida natural, preservando esse recurso e deixando de simplesmente des- cartar o entulho, que pode ser re- aproveitado”. Os benefícios da re- ciclagem não param por aí: o custo da obra pode cair muito quando são usados materiais reciclados. O processo de reciclagem é re- lativamente simples. O entulho re- colhido passa por uma máquina de trituramento até atingir diferentes tamanhos de pedra e areia, o último estágio de trituração. Esse material, depois de triturado, substitui seus equivalentes naturais com a mes- ma garantia de qualidade, e pode ser usado em todo tipo de obras de calçamento, sarjetas e asfalto. “O entulho reciclado só não pode ser usado em obras estruturais, na construção de prédios, por exem- plo, mas em todo o resto o material pode ser substituído pelo reciclado sem problemas”, explica Laura. Antes de trabalhar com entu- lho, Souza era segurança e se diz à vontade com o novo emprego. Para ele, a parte mais difícil do trabalho é o relacionamento com o públi- co: “A gente lida com muita gente mal educada, que não entende que o ecoponto tem regras, limi- tes e normas. Tem material que a gente não pode receber e ainda as- sim as pessoas vêm e insistem em discutir”. Alguns materiais resul- tantes da construção civil, como gesso, tintas e solventes, não po- dem ser descartados no ecopon- to. “Esse tipo de material é consi- derado lixo tóxico e não pode ser reciclado, precisa ir para um ater- ro e ter um descarte específico”, afirma a técnica em edificações. Cada pessoa pode levar gra- tuitamente para o ecoponto até 10 metros cúbicos de material por dia. De acordo com o site da pre- feitura, entre janeiro e agosto des- te ano, os ecopontos recolheram mais de 30 mil metros cúbicos só de entulho. Os volumosos, como móveis velhos e restos de podas de árvores, também são recolhidos nos ecopontos, e, no mesmo período, as entregas somaram mais de 120 mil metros cúbicos de material. Os recicláveis, como vidro e alumínio, somam quase 6 mil metros cúbicos. E a tendência é melhorar. “Vai con- tinuar dando certo, sim, e ficando cada vez melhor”, acredita Souza. Segundo ele, a reciclagem de entu- lho é uma área promissora, e ele não tem planos de sair dela tão cedo. A presença dos ecopontos na ci- dade ajuda as pessoas que, depois de uma reforma simples em casa, não sabem o que fazer com o entulho. Por falta de informação, a maioria desse lixo é dispensada em terrenos baldios e esquinas, o que prejudi- ca a população. Luzinete da Silva, 69 anos, é moradora do Jardim Nordeste, na Zona Leste de São Paulo, e sofre com esse problema. Segundo ela, o entulho se acumula na beira do córrego Tiquatira, per- to de onde mora. “As pessoas não têm consciência, os ratos e outros bichos aparecem aqui por causa desses lixos amontoados. Quando chove, a gente só vê os sofás e espu- mas boiando.” Luzinete não sabia da existência dos ecopontos. O que falta é principalmente conscientização. “Convencer as pes- soas a fazer a coisa certa é muito di- fícil. Aqui do lado do ecoponto tem uma praça, e os carros vêm e deixam o entulho jogado lá, quando pode- riam deixar aqui de graça”, conta Souza. Se é preconceito? “Não, é preguiça mesmo”, ele completa e ri. Para saber mais sobre a entrega voluntária de entulho, localização e horário de funcionamento dos ecopontos, acesse: www.prefeitura. sp.gov.br. Aline Romero Gisele Moniz Entulho recolhido no ecoponto Jardim São Nicolau Gisele Moniz O que mais se vê pelas esquinas de São Paulo são pessoas dormindo pelos cantos, enfiadas em buracos ou em caixas de papelão, tentando se proteger do frio, da violência e, principalmente, da indiferença hu- mana. Um estudo feito pela Funda- ção Instituto de Pesquisas Econô- micas (FIPE) em 2009 revelou que existem cerca de 18.000 moradores de rua em São Paulo, porém, segun- do a prefeitura da cidade, o número total é de cerca de 13.000 morado- res. Deles, 84% são homens com idade média de 40 anos. A maior parte dos desabrigados está concen- trada no centro da cidade, que con- ta com 40 albergues da prefeitura. Neles, cada morador de rua custa R$ 350,00 mensais ao governo. Todos os dados citados ante- riormente foram divulgados pela FIPE, já que os moradores de rua não participam do censo do Ins- tituto Brasileiro de Pesquisa de Geografia e Estatística (IBGE), pois não possuem residência e, na maioria das vezes, nem mesmo RG. Com base nessas estatísticas, nossa equipe foi conhecer um pou- co mais da história de algumas pes- soas que vivem ou viveram nas ruas da capital. Marivaldo da Silva San- tos, 36 anos, saiu de Feira da San- tana, na Bahia, com o intuito de conseguir uma situação de vida me- lhor. Porém, envolveu-se com dro- gas, álcool e prostituição, o que o prejudicou em seu emprego e o fez perder o contato com sua família. “Você é um semianalfabeto, ne- gro, nordestino e, se você sair dessa empresa hoje, não terá outra opor- tunidade na vida”. Foi essa frase, pronunciada pelo antigo patrão de Santos durante uma conversa sobre seu emprego, que o fez abandonar o trabalho e passar a morar nas ruas. Hoje, ele diz que essa frase teve papel fundamental na sua mudan- ça de vida em todos os aspectos. Nas ruas, Santos foi acolhido e fez alguns amigos. “O interessante é que, quando você chega às ruas, as pessoas que vivem lá já sabem exatamente a qual grupo você vai pertencer”, comenta. Após presen- ciar o assassinato de alguns de seus colegas, a conclusão era inevitável: ou ele mudava aquela situação ou viveria nas ruas para sempre. A par- tir daí, Santos começou a passar as noites em albergues, por con- siderar que lá estaria mais seguro. Além disso, retomou e concluiu os estudos por meio de um dos projetos sociais que auxiliam pes- soas que estão em situação de rua. Atualmente, Santos trabalha como orientador ambiental institu- cional na ONG BomPar, que ofe- rece oportunidades para moradores de rua trabalharem como agentes comunitários. Para fazer parte do quadro de colaboradores da ONG, é preciso atender a dois pré-requi- sitos:játervividoemsituaçãoderuae ter concluído o ensino fundamental. Salústio Nonato Pessoa, 46 anos, deixou Fortaleza em busca de uma vida melhor em São Paulo, por acreditar que, aqui, teria mais oportunidades para concluir seus estudos. Assim como Santos, ele já morou nas ruas da capital e hoje re- side em uma propriedade invadida no bairro da Mooca. “Sei que essa situação de vida não é fácil, mas te- nho total certeza de que os estudos são o caminho para minhas con- quistas”. Sem emprego fixo e com a responsabilidade de cuidar da mãe idosa e de uma sobrinha pequena que vieram do Ceará para viver com ele, Pessoa trabalha esporadi- camente como cabeleireiro e conta com doações de ONGs, como a Anjos da Noite. Liderada por Antenor Ferrei- ra, 58 anos, conhecido com Kaká, a ONG Anjos da Noite foi criada depois de um encontro com um morador de rua em uma noite muito fria de São Paulo. “O senhor estava em uma situação deplorável, com uma blusa totalmente rasgada e sem calçados. Eu o levei para to- mar um lanche e lá conversamos. Ao nos despedirmos, ele segurou em minha mão e disse: ‘você é um anjo da noite’. Essas palavras ecoa- ram em minha cabeça e foi aí que resolvi montar o grupo Anjos da Noite”, revela Kaká, que traba- lha ainda como coordenador de estágios obrigatórios da Supe- rintendência Federal da Agri- cultura no Estado de São Paulo. O objetivo principal da ONG é resgatar a autoestima dos mora- dores de rua para possibilitar sua reintegração social. “A mídia expõe e não propõe mudanças. É neces- sário desmistificar essa imagem de que morador de rua é marginal. Não bastasómudaronomedefavelapara comunidade. É preciso uma quebra de paradigma entre a sociedade, o governo e a mídia”, propõe Kaká. Superação e felicidade também moram na rua Apesar das dificuldades de viver nas ruas, há quem consiga sorrir e sonhar com um futuro melhor Pessoa saiu de Fortaleza para tentar uma vida melhor em São Paulo. Hoje, reside em uma propriedade invadida no bairro da Mooca URBANO Rafael Galindo Raphael Rufino Raquel Torres Cleane Brito
  • 5. MEMÓRIA DEZEMBRO DE 2011 - PÁGINA 5 Acadêmicos do Tatuapé: 60 anos de tradição A história de uma comunidade que, além de unida, tem a música correndo nas veias e nos pés O samba começou na Praça da Sé, e o sucesso a tornou uma das pioneiras do Carnaval de São Pau- lo. O dia 26 de outubro de 1952 marcou o início de uma trajetória de força, dedicação e união. Ini- cialmente chamada de Unidos de Vila Isabel, a Acadêmicos do Ta- tuapé foi fundada por Osvaldo Vilaça, conhecido como “Mala”, na época, morador da região. “Em 1964, ele veio morar no bairro e mudou o nome da escola para Grêmio Recreativo Escola de Sam- ba Acadêmicos do Tatuapé, como é conhecida hoje”, conta o vice- -presidente, Eduardo dos Santos. Ainda garoto, ele iniciou suas participações no Carnaval por volta dos seis anos e conta que enfrentou dificuldades devido às condições fi- nanceiras. “Sou de uma época em que o cara tinha um calçado. Ele usava o mesmo para ir trabalhar, ir à missa, para tudo. No Carnaval, pintávamos os sapatos com cal para que eles ficassem brancos para o des- file. Depois era só lavar e continuar usando. Hoje, a pessoa tem um para o ensaio, outro para a apresentação e outro para desfilar. Não sei se o Carnaval de antigamente era mais bonito do que o atual. Mas essas coisas, como pintar o calçado, era algo romântico”, recorda Santos. As recompensas chegaram em 1968, com a classificação da Aca- dêmicos do Tatuapé como vice- -campeã do Grupo de Acesso. A partir daí, começaram a desfilar no Grupo Especial. “A quadra era na rua Antônio de Barros, e a es- cola saía no bairro com uma taça na mão, de porta em porta, pe- gando dinheiro para fazer o Car- naval”, revela Roberto Munhoz, presidente, sobre a diferença en- tre os cenários de hoje e da época. O declínio ocorreu em 1987, quando foram desclassificados do Grupo 2 - União das Escolas de Samba Paulistanas (UESP), passan- do três anos sem desfilar. Retorna- ram à avenida em 1991 e conquista- ram o 5º lugar no Grupo de Seleção A. Em 2003, com o enredo “Abram Alas Para o Rei Abacaxi”, de Babú Energia, foram campeões do Grupo de Acesso. Venceram grandes no- mes do Carnaval, como a Impera- dor do Ipiranga, Pérola Negra, Tom Maior e Mancha Verde. Munhoz, Santos e o coordena- dor de casais Marcos Antônio da Silva, conhecido como Toninho, destacam o mesmo ponto como o grande diferencial: ser uma “escola- -família”. “Nunca ouvimos falar que alguém foi visto usando drogas aqui, e jamais veremos isso. Quan- do as pessoas chegam são bem recebidas, e quando vão embora choram de saudade. Pai, mãe e fi- lhos desfilam. Isto é uma família”, comenta Toninho. Ilza Moraes, 58 anos, desfila há nove anos na escola. Ela começou como baiana e hoje faz parte da harmonia. “Na época em que fui convidada, fazia parte do projeto de caminhada do shopping Metrô Tatuapé. A professora convidou al- gumas senhoras para serem baianas da escola. Eu fui, gostei e fiquei, e quero continuar por muito tempo. A Tatuapé, para mim, é como uma família”. Este ano, a Acadêmicos do Tatuapé conquistou o 6º lugar no Grupo de Acesso, com o enre- do “O Domingo é Especial”, in- terpretado pelo carioca Preto Jóia, tricampeão da Sapucaí e vencedor de dois Estandartes de Ouro: em 1989 (melhor samba-enredo) e 1993 (melhor intérprete). A escola irá para a avenida no dia 19 de fevereiro de 2012 e, em meio ao Carnaval, irá comemorar os seus 60 anos de história e tradi- ção. A música homenageará a can- tora e compositora Leci Brandão, e conta com direção do Carnavalesco Mauro Xuxa, que tem 31 anos de experiência. “Um dos maiores pro blemas na minha função são deter- minações da escola. Mas eu nunca tive repressão no meu trabalho. Aqui no Tatuapé, tenho liberdade total para trabalhar”, declara Xuxa. Leci acompanhou de perto a es- colha do enredo. “A história da Aca- dêmicos do Tatuapé é da Zona Les- te. Tenho uma grande identificação com eles. Sempre cantei aqui, mas não esperava que fossem lembrar de mim em seus 60 anos. Estou muito feliz”, comenta. Tanto a identidade da escola quanto a da cantora estão na letra do enredo “Da arte do sam- ba, nasci pra comunidade, defesa e essência, sou guerreira, sou Leci Brandão!”, que buscou unir ambas em uma só canção. Compositores recebem prêmio de melhor samba-enredo do Carnaval 2012 Eliene Santana Gustavo Lima Rafael Biazão Tayane Garcia Rafael Biazão A cantora Leci Brandão, entre o mestre-sala e a porta-bandeira, é a homenageada no Carnaval 2012 Ilza Moraes, que começou como baiana e hoje faz parte da harmonia da escola, literalmente veste a camisa da Acadêmicos do Tataupé. “Aqui, para mim, é como uma família” Rafael Biazão
  • 6. Andando pela cidade, pode- mos observar a quantidade de pes- soas com deficiência que procuram tratamento em São Paulo e que convivem com a necessidade de utilizar o transporte público para esse fim. Renan Augusto Bernar- do, 19 anos, é um desses cidadãos. Ele convive com agenesia sacral e mielomeningocele, uma má for- mação da coluna e uma leve difi- culdade de locomoção que o fazem mancar, e conta com o transporte público para fazer seu tratamento na Associação de Assistência às Crianças com Deficiência (AACD) às terças-feiras. Bernardo, que utiliza o trans- porte público para realizar diversas atividades, como o estudo, espor- te, lazer e trabalho, critica o desca- so dos passageiros e, segundo ele, o maior problema é fazer valer seu direito dentro do ônibus. Ele ale- ga que já precisou discutir e brigar com outras pessoas para usufruir o direito ao assento preferencial e acredita que isso só mudará quan- do as crianças forem ensinadas, na escola, a respeitar e a auxiliar as pessoas com deficiência, ao invés de agirem com descaso ou indiferença. Lucimara Novaes de Oliveira, 42 anos, funcionária aposentada do Metrô, também convive com uma deficiência e depende do transporte público para se locomo- ver. Ela perdeu os movimentos dos braços devido a uma doença dege- nerativa que foi identificada origi- nalmente como uma tendinite e, após uma cirurgia, não possui con- dições de realizar tarefas simples, como vestir-se, comer ou tomar banho sozinha. Ela, que conta com a ajuda da mãe e dos filhos, man- tém uma vida ativa, apesar das difi- culdades de locomoção, indo cons- tantemente ao shopping e fazendo diversos programas em família. A aposentada diz que prefere utilizar o Metrô, pois os funcioná- rios são muito prestativos e estão sempre disponíveis para ajudá-la a se locomover pelas estações, e res- salta que, apesar de já ter tido que esperar por atendimento, nunca foi maltratada, o que não é o caso dos ônibus. Lucimara conta que, além de ser mais complicado andar de ônibus por conta da paralisia nos braços, ela tem que conviver com o descaso e muitas vezes a ignorân- cia dos funcionários que não reco- nhecem os direitos garantidos pelo Estatuto do Deficiente, no qual é permitido, por exemplo, que o acompanhante do deficiente físico também não pague pela passagem. “A dificuldade do acesso ao transporte público pode dificultar o tratamento da pessoa com defici- ência e afeta sua disponibilidade e acesso à cultura e ao lazer”, afirma a psicóloga Alessandra Quintana Narti, que trabalha com pessoas em situação social precária. Ela ressalta que o cidadão que convive com uma deficiência passa a sentir, devido ao preconceito e às dificul- dades, que não está bem situado na sociedade, o que atinge forte- mente sua autoestima, fazendo-o ficar isolado e não lutar por seus direitos, e que a pessoa com defici- ência deve ir contra estes fatores e fazer valer a lei. A psicóloga acredita que o transporte público e os passa- geiros não estão preparados para receber esses cidadãos e que não há um número suficiente de fun- cionários devidamente treinados para realizar um atendimento qualificado e satisfatório. Mas, segundo a Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Mo- bilidade Reduzida, existem mais de 5.633 ônibus adaptados cir- culando na cidade e mais de 140 mil bilhetes especiais distribuídos para pessoas com deficiência que necessitam de acompanhante. Por meio de sua assessoria, a Secretaria alega também que to- dos os funcionários do transporte público da cidade de São Paulo são treinados para lidar com os equipamentos e com a pessoa com deficiência dentro dos veículos adaptados, que são constantemen- te revisados. Ainda de acordo com a Secretaria, conforme o Estatuto da Pessoa com Deficiência, “Os prestadores de serviço de transpor- te público interestadual de passa- geiros são obrigados a reservar, em cada viagem, quantidade de assen- tos equivalente a 5% (cinco por cento) da capacidade indicada de cada veículo”, por isso os funcio- nários devem também fiscalizar o uso devido dos assentos durante os percursos do ônibus e Metrô, para que a lei não se torne um mero re- lato formal e seja aplicada correta- mente no cotidiano urbano. EDUCAÇÃO DEZEMBRO DE 2011 - PÁGINA 6 Lei determina educação musical nas escolas Após 40 anos de ausência, a disciplina de música volta a fazer parte da grade curricular brasileira De acordo com a Lei 11.769, aprovada em 2008, todas as escolas do país devem ter em sua grade cur- ricular aulas de música, ou incluir um conteúdo mínimo e obrigatório nas aulas de artes dos ensinos infan- til e fundamental. O prazo para que as escolas se adaptem à lei acaba este ano. Essa nova disciplina tem como objetivo principal desenvolver a mu- sicalidade, ou seja, ritmo, coordena- ção motora, audição, entre outros. O ensino de música já fez parte das grades curriculares das escolas do país, porém, foi retirado na década de 1970. A senadora Roseana Sar- ney apresentou ao Congresso o pro- jeto de retorno dessa disciplina, que surgiu com a mobilização do GAP (Grupo de Articulação Parlamentar Pró-Música), formado por 86 enti- dades, como associações, universida- des e cooperativas de músicos. O ano de 2011 é o prazo final para que todas as escolas, públicas e privadas, incluam o ensino de músi- ca em sua grade curricular. A nova lei, aprovada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, altera a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educa- ção), que determina o aprendizado de Artes, mas não especifica o conte- údo. Seu principal objetivo não é for- mar músicos, e sim desenvolver sen- sibilidade, criatividade e integração. “A música ajuda na formação do intelectual, na construção do ser humano através dos conceitos trabalhados. E a importância disso no aspecto mundo é que a música te situa na sociedade, tanto na parte cultural, social e filosófica”, afirma o professor de música Elias Gomes. Para ele, existe uma grande defici- ência de profissionais de música no país, e essa nova lei é um grande passo para o Brasil suprir essa neces- sidade, porém, deve-se atentar para o planejamento da forma de ensino. O ex-presidente Lula vetou o ar- tigodaleiquepreviaaformaçãoespe- cífica de professores na área musical para ministrar a disciplina. As razões do veto foram publicadas oficial- mente pela Subchefia para Assuntos Jurídicos da Presidência da Repúbli- ca e publicadas no Diário Oficial da União ainda em agosto. De acordo com o texto, “a música é uma prá- tica social e no Brasil existem diver- sos profissionais atuantes nessa área sem formação acadêmica ou oficial em música e que são reconhecidos nacionalmente. Esses profissionais estariam impossibilitados de minis- trar tal conteúdo na maneira em que este dispositivo está proposto”. Gabriel Souza, 15 anos, é aluno de música desde os 8 anos. Suas pri- meiras aulas foram no serviço social do grupo Perseverança, que, em par- ceria com a prefeitura de São Paulo, auxilia crianças de baixa renda. Seu primeiro instrumento foi o violão, e hoje toca quase todos os instrumen- tos de corda. “Desde que comecei, a música se tornou um grande hobby. Hoje, já não vejo mais um futuro sem ela”, comenta o adolescente. Para ele, a música serviu ainda como auxílio a matérias básicas, como Ma- temática e Física. Souza acredita que, se mais jo- vens tivessem acesso a aulas de mú- sica, a criminalidade diminuiria. “Todo tempo depositado na música não foi desperdício, mas, se eu não tivesse depositado esse tempo, onde eu estaria? Assistindo à TV, jogando videogame? Talvez pelo lugar onde eu moro e pela falta de instrução, até nas drogas”. Por mais que o planejamento seja de livre escolha e responsabi- lidade da instituição de ensino, o Ministério da Educação recomenda que, além das noções básicas de mú- sica, dos cantos cívicos nacionais e dos sons de instrumentos de orques- tra, os alunos aprendam cantos, rit- mos, danças e sons de instrumentos regionais e folclóricos para, assim, conhecerem a diversidade cultural do Brasil. Alexandre Ulbanele, regente pela Universidade de São Paulo e Mestre em Musicologia e Etnomu- sicologia pela Universidade Estadual Paulista, acredita que a exigência do ensino de música nas escolas foi mal planejada. “Essa lei é tardia e está sendo discutida há mais de dez anos no Congresso. O problema é que não existe interesse em fazer conhe- cer música, porque, se você conhece música, você para de consumir as músicas que você consome. Isso gera um problema grave, porque tudo gira em torno da idiotização”. Fernando Aumada Maris Landim Renata Vieira Gomes: “A música ajuda na forma- ção do intelectual, na construção do ser humano” Arquivo pessoal Souza estuda música há sete anos e acredita que, se mais jovens tives- sem acesso a aulas de música, a criminalidade diminuiria Fernando Aumada DIREITOS HUMANOS Anderson Duschek Utilizar o transporte público ainda é um Moradores da Zona Leste revelam se os seus direitos têm sido respeitados nos ônibus e no Metrô da cidade Bernardo afirma que já precisou brigar para garantir o direito de utilizar o assento preferencial desafio para pessoas com deficiência Anderson Duschek Eduardo Silva Rafaela Pietra
  • 7. Estátuas vivas, músicos, poetas e dançarinos representam o mundo da arte de rua. O trabalho de um saltimbanco (denominação atri- buída a atores de rua que se apre- sentavam na antiguidade) consiste em apresentar a arte que domina publicamente em locais de gran- de movimentação de pessoas. Em troca, recebe o reconhecimento do espectador com aplausos e algum “trocado”, que vai desde moedas a notas de dinheiro de grande valor, que serve como compensação ao seu esforço após o espetáculo de rua. A prática da arte urbana ser- ve tanto como sustento para a vida quanto válvula de escape por meio da qual a expressão de seu trabalho artístico é realizada. Segundo Ruan de Freitas Fernandes, 49 anos, está- tua viva, a arte vai além do dinhei- ro arrecadado. “Eu gosto de alegrar os outros, essa é minha função. Eu assusto os outros e eles gos- tam. A gente tem que fazer as coi- sas não por dinheiro, tem que fazer por amor. Eu faço isso por- que eu me sinto bem”, afirma. De acordo com o pintor de azulejos Marcos Aparecido, 39 anos, o êxito de seu trabalho ga- rante sua sobrevivência. “É uma arte artesanal, mas eles [os poli- ciais] falam que eu só poderia estar demonstrando meu trabalho e não vendendo, mas a gente precisa co- mer e pagar aluguel, então eu me arrisco e vendo meus trabalhos”. O apreço pela arte também atinge o público infantil. O grupo de teatro de rua Buraco d’Oráculo apresenta-se há mais de 13 anos no bairro de São Miguel Paulista, Zona Leste de São Paulo, e também nas dependências das estações de trens da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos). O conteúdo das apresentações do grupo visa à co- micidade para entreter. Em contrapartida, há a deprecia- çãoaotrabalhorealizadoporartistasde rua. Em novembro de 2010, Gilberto Kassab, prefeito de São Paulo, causou polêmica com a “Operação Delega- da”, que proibiu o trabalho de artistas de rua na Avenida Paulista, principal centro financeiro da capital. Contudo, em julho deste ano, a prefeitura assi- nou um decreto que permitiu a regula- mentação desses profissionais, porém, com restrições que proíbem a venda de produtos do artista, a reserva de espaço para apresentação e o desres- peito aos limites da lei do silêncio (“Psiu”). Sobre o ocorrido, Tiago Ortaet, 28 anos, professor de artes na rede estadual, é contrário à lei dos artistas de rua. “Artista não pre- cisa de cartilha. Desde que as leis de convivência sejam respeitadas, pre- zando pela ética e o respeito, não há limites para a criação artística, até porque todo artista é um contesta- dor nato, ele é o personagem da vida real que sempre irá subverter a reali- dade a fim de expressar suas ideias”. Espetáculos a céu aberto não agradam a todos. O gerente de loja Zinel Silva Teixeira de Souza, 36 anos, comenta que a montagem de aparelhos de som é perturbadora. “Eu não tenho nada contra, mas eu não gosto do barulho, o som muito alto. Me incomoda”. Mas o profis- sional, que trabalha no centro da cidade, mostra-se tolerante quanto ao trabalho dos artistas de rua. “O pessoal às vezes chama a polícia. Eu jamais vou fazer isso, porque é o meio de vida dele. Ele está ga- nhando o pão de cada dia. É o tra- balho dele, eu gostando ou não.” Aliada ao preconceito, está a barreira da repressão à base da vio- lência à qual os artistas são subme- tidos. Ortaet relembra uma inter- venção artística que marcou sua vida. “Em 2009, numa situação no Metrô Tucuruvi, estávamos re- alizando uma performance teatral intitulada “Ecos”, sobre os maus tratos às crianças. Na ocasião, 25 alunos e eu caminhávamos na cal- çada da estação, mascarados, com tochas e carregando um caixão. Imediatamente, os seguranças do Metrô agiram truculentos, disse- ram que não podíamos ficar ali”. São muitos os percalços que envolvem a vida de um artista de rua, mas isso não impede que a arte seja veiculada e esteja viva na sociedade. Com dificuldades ou não, sempre haverá um artista para se apresentar nos mais diver- sos locais, pois sua vida é dividida como as máscaras do teatro gre- go: entre a alegria e a tragédia. CULTURA PÁGINA 7 - DEZEMBRO DE 2011 A tortuosa caminhada do artista de rua Eles fazem das ruas seu palco e lá recebem aplausos e xingamentos, mas nada os tira do espetáculo Heila Lima Henrique Santiago Tamiris Gomes Arte nas ruas: grupo de teatro Buraco d’Oráculo empolga público infantil na Zona Leste Juliana Cardoso Tamiris Gomes Fernandes, 49 anos: ator que representa estátua viva no centro de São Paulo Tamiris Gomes Músico traduz sua arte em forma de notas musicais
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