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Entrevista LIA PICCI                                                                       RAFAELA PIETRA




Do Jornal ao Carnaval
A jornalista que virou carnavalesca por amor, defende a Industria do Carnaval como
uma maneira de impulsionar a profissionalização no setor carnavalesco.


O
      carnaval, a maior expressão da
      cultira e da felicidade brasileiras
      é visto com paixão por Lia Picci.
      A jornalista que deixou a profissão
para fazer aquilo que gosta, conta como
se afastou do jornalismo policial em
busca de novos desafios, aventurando-
-se no mundo da arte do povo, da cultura
e da alegria. Motivada pela necessidade
de utilizar sempre sua criatividade, a
também artesã se viu disposta a revolu-
cionar o trabalho, desenvolveu formas
de facilitar a máquina carnavalesca e
ajudou a transformar a festa em trabalho
e vida para muitas comunidades paulis-
tanas. Defendendo a profissionalização
do carnaval, Lia Picci nos fala sobre o
desenvolvimento do enredo, as difi-
culdades, as responsabilidades de uma
Agremiação Carnavalesca, o dinheiro e
a quantidade de pessoas envolvidas para
levar um bom carnaval para a avenida.
Nesta entrevista, poderemos conhecer
melhor este mundo, ouvindo as palavras
de alguém que defende o carnaval como
modo de vida.

Antes de se tornar carnavalesca, você
trabalhava com jornalismo. Como
você se envolveu com o carnaval? Eu
sempre quis trabalhar com uma área
cultural do jornalismo, e na época em
que eu trabalhei as opções eram de
jornalismo social, político ou policial.
Existia sim o lado cultural, que eu fiz
em criticas de cinema, teatro, literatu-
ra, mas que ao final das contas nunca
me satisfizeram.

Daí surgiu a idéia de trabalhar com
carnaval?Na verdade eu só optei. Fui
me envolver em alguma coisa mais
feliz, mais bonita, com um lado cultu-
ral mais alegre e mais saudável. Eu já
tinha um curso de artes plásticas, sou
artesã e trabalhei com isso anos, aliás,                                     “O carnaval nunca
faço muito disso ainda hoje e recebi
um convite de uma escola de samba                                            me decepcionou!”
para desenvolver um enredo e dese-
                                              veja/universidade cruzeiro do sul I 28 DE MAIO, 2011 I 17
Entrevista        LIA PICCI




nhar os figurinos do carnaval de 1984.
                                                 “Na Escola de                       bingos beneficentes, shows de bandas
Foi na Escola de Samba Imperador
do Ipiranga que eu me apaixonei pelo
                                              Samba Imperador,                       nacionais e até mesmo internacionais,
                                                                                     promovem almoços e apresentações
mundo do carnaval.                          institui a contratação                   diversas, sempre com o objetivo de
                                                                                     arrecadar fundos para garantir as
 Você diz que optou por algo mais feliz,
isso significa que antes não era feliz
                                                 de pessoas da                       despesas durante o período pré carna-
                                                                                     valesco.
no jornalismo? Não, de modo algum.
Quando achei que tinha feito tudo o
                                              comunidade como                        Falando em números, quanto uma esco-
                                                                                     la de samba pode contribuir para o mer-
que podia na área cultural eu parti
para a área policial e trabalhei nisso         trabalhadores de                      cado de trabalho? Hoje, uma escola de
durante quase 5 anos. No decorrer                                                    samba como a Mocidade Alegre, uma
deste período, você vai tomando                horário integral e                    de nossas grandes escolas de São Pau-
contato com o pior lado das pesso-                                                   lo, emprega em torno de 300 a 400
as, e isso foi me deixando mais fria,        criei alguns cursos                     pessoas para entregar um carnaval,
fazendo com que as cenas se tornas-                                                  utilizando-se de aderecistas, alegoris-
sem quase naturais, perdendo o real         para facilitar o nosso                   tas, marceneiros, pintores, costureiras
significado. É a isso que me refiro.                                                   entre tantos outros. Acho que são bons
                                             próprio trabalho. E                     números, não?
E por isso saiu do jornalismo policial?
Também. Eu tinha filhos, pequenos,
não podia mais lidar com aquilo, mes-
                                                  deu certo.          ”              E como se desenvolve um carnaval?
                                                                                     Bom, enquanto jornalista que eu ainda
mo sem querer me afastar totalmente                                                  sou, sem dúvida, eu sempre busco a
do contato com o povo, da cultura, e       com a qualidade do trabalho executa-      informação e a história das coisas, e
nem da notícia. As coisas começaram        do ou assina-se um contrato estipulan-    como carnavalesca eu analiso os fatos,
a me fazer mal, e ameaçavam não            do um valor único, pago de uma só         as características históricas do mo-
só a minha saúde, como minha vida          vez, ao término ou durante o período      mento ou do personagem. Faço uma
também.                                    de execução do carnaval. Normalmen-       pesquisa aprofundada com relação a
                                           te esse valor é suficiente para que o      datas, locais, fatos pitorescos, tudo o
E como surgiu essa paixão pelo carna-      profissional mantenha-se dignamente        que seja interessante e importante no
val? Me apaixonei porque tudo me           durante o ano.                            tema. A partir daí, com toda a infor-
exigia muita criatividade para a trans-                                              mação reunida, eu começo a dividir
missão da informação cultural de boa       Você diz que o carnaval além de alegria   em fazes e vou criando, ou recriando
qualidade. As possibilidades de levar      também leva cultura. Como? O car-         os fatos através de figuras, desenhos,
a história e a própria cultura para uma    naval transforma a informação em          cores, contando a história de maneira
parte da população que muitas vezes        algo bonito, em lazer. Faz com que        visual. Daí é só juntar tudo e colocar
não tem acesso a isso me fascinava. A      a história e a cultura façam parte da     na avenida.
literatura é uma parte da cultura que o    festa, daquele momento de descontra-
povo dificilmente acessa, ou por falta      ção, fazendo com que o povo guarde        Da maneira como você fala parece fácil.
de tempo ou por desinteresse mesmo.        aquilo, leve na lembrança e transmita     Não é tão simples, o carnaval na ave-
O carnaval possibilita o acesso a esse     a outros.                                 nida é uma história de anos, contada
tipo de informação mesmo que ele                                                     em 60 minutos e que leva em torno de
não tenha oportunidade de ir a um          Pensando em valores, como uma             6 meses ou mais para ser construída.
museu, conhecer a vida de uma perso-       Agremiação se mantém no resto do ano      Envolve muitas pessoas, é um traba-
nalidade importante, etc.                  em que a verba não está disponível?       lho árduo e difícil, mas extremamente
                                           Depende da Agremiação. As gran-           gratificante. O carnaval parece somen-
É possível então, encarar a profissão       des escolas geralmente dispõem de         te diversão, mas é também profissio-
de carnavalesco como modo de vida? É       mais recursos, conseguidos através        nalização em um mercado de trabalho
possível sustentar-se assim?Sim, sem       de eventos contratados, patrocínio        sempre em expansão. Os profissionais
dúvida. Um bom carnavalesco não            de empresas privadas, apresentações       utilizados na confecção do carnaval
trabalha apenas na época do carnaval.      no exterior, shows e etc. As escolas      vão desde engenheiros até os mais
Geralmente, cria-se um forte vínculo       menores, tem mais dificuldades, na-        simples empurradores das alegorias
entre a Agremiação e o carnavalesco,       turalmente, mas numa escala menor
transformando-o num funcionário de         acabam fazendo mais ou menos as           A profissionalização do carnaval é algo
tempo integral. Dessa forma, estabe-       mesmas coisas.Utilizam suas quadras       que temos visto na mídia nos últimos
lece-se um salário mensal, compatível      e barracões para promoverem festas,       anos. Como você acha possível desen-
18 I 28 DE MAIO, 2011 I veja/universidade cruzeiro do sul
volver isso? Acredito que seja neces-
                                            “Muita gente acha                     Qual o papel que uma escola de samba
sário criar cursos que profissionalizem        que o carnaval                      pode desempenhar na sociedade, além
as pessoas que trabalham no carnaval.                                             do fator profissionalizante? O papel
Essas pessoas geralmente são de
baixíssima renda ou estão desempre-
                                           mudou, que deixou                      mais importante que uma Agremiação
                                                                                  Carnavalesca pode e deve desem-
gadas e aproveitam a oportunidade
para aumentar o orçamento familiar.
                                           de ser cultural para                   penhar na sociedade é o cultural. As
                                                                                  escolas de samba e blocos carnava-
Isso deveria se tornar uma profissão,
pois atrai muitas pessoas e elas se
                                             ser empresarial.                     lescos tem o poder de levar a cultura
                                                                                  ao povo da maneira mais simples e
tornam indispensáveis, mais até que
os próprios carnavalescos, dentro das
                                            Acham que isso                        agradável que existe, através do lazer.
                                                                                  No carnaval, aprendemos muito nos
agremiações.                                                                      divertindo. Outro fator muito im-
                                            descaracterizou o                     portante e que defendo muito são os
Isso significa carteira de trabalho as-                                            projetos sociais que as Agremiações
sinada pelas Agremiações? A profis-          carnaval. Eu não                      desenvolvem. Quando se trabalha
sionalização da mão de obra utilizada                                             no carnaval, percebemos o poder
no carnaval abre um novo nicho de         concordo. O carnaval                    que o povo unido tem. Uma maneira
trabalho que pode abrigar uma grande                                              maravilhosa de utilizar esse poder é o
parte de famílias carentes, além de       mudou sim, mas pra                      desenvolvimento de projetos sociais
desenvolver e promover a arte, a cria-
tividade e a cultura. Porque não?            muito melhor.             ”          como acesso a médicos, dentistas,
                                                                                  palestras com profissionais gabarita-
                                                                                  dos para a população jovem, cursos,
Quanto a sua experiência no carnaval,                                             oficinas de arte, tudo o que possa con-
o que as instituições podem fazer para   carnaval.                                tribuir para o desenvolvimento social
contribuir com essa profissionalização?                                            e cultural daquela counidade. Isso é
Quando eu entrei no carnaval, não        A idéia de uma “Indústria do Carnaval”   muito importante.
havia o habito de se contratar pessoas   te agrada então? Muita gente acha que
especializadas para esse trabalho.       o carnaval mudou, que deixou de ser     Conhecemos as grandes agremiações,
Tudo era feito pela comunidade, nas      cultural para ser empresarial. Acham    mas como vivem os blocos carnavales-
horas vagas. Todos participavam. Isso    que isso descaracterizou o carnaval.    cos e as escolas de menor visibilidade?
criava grandes problemas. Logica-        Eu não concordo. O carnaval mudou       É mais fácil trabalhar com elas? As
mente que todos faziam com muito         sim, mas pra muito melhor. O espetá-    escolas menores e blocos carnavales-
carinho, mas mesmo assim as coisas       culo hoje tem muito mais qualidade      cos têm suas dificuldades, geralmente
não corriam como deviam, respeitan-      visual, os artistas se dedicam a esse   financeiras, mas por outro lado, essas
do prazos e outras imposições do tra-    trabalho são pessoas da mais alta       Agremiações são mais unidas, suas
balho. Na Escola de Samba Imperador      competência, reconhecidos mundial-      comunidades participam muito ativa-
do Ipiranga, eu institui a contratação   mente. Claro que não devemos virar      mente dentro delas pois não há apenas
de pessoas da comunidade como            as costas para a tradição do carnaval,  o objetivo de ganhar dinheiro traba-
trabalhadores de horário integral, com   que é lindíssima por sinal.             lhando para o carnaval. Não acho que
salário, alimentação, transporte, etc.                                           seja mais fácil ou mais difícil traba-
Criei alguns cursos ministrados por      Então não há motivos para afastarmos    lhar com elas pois o trabalho é muito
mim e outros profissionais fora do        a idéia de uma boa empresa carnava-     parecido. Obviamente se ganha menos
período do carnaval para facilitar o     lesca, funcionando realmente como       dinheiro mas a compensação pessoal é
nosso próprio trabalho. E deu certo.     uma indústria da arte? Veja, o carnaval muitas vezes maior. Convive-se mais
                                         do RJ é o maior espetáculo da terra     com a comunidade, faz-se amigos
Você acredita então que as Agremia-      e atrai pessoas do mundo todo. O        para a vida toda. Eu gosto muito
ções devem investir mais nisso? A        carnaval de Parintins é a prova da      e nunca me recusei a fazer o meu
escola de samba deve sim agir como       competência artística do brasileiro,    trabalho numa escola pequena mesmo
uma empresa criando oportunidades        transformando a cultura indígena num    que por vezes não tenha tido nenhuma
e auxiliando no desenvolvimento da       espetáculo de beleza incomparável.      remuneração. Ganhei muito mais que
sua própria comunidade. Hoje, nos        Nós mesmos contamos com a ajuda         dinheiro, ganhei pessoas maravilhosas
carnavais que faço, emprego durante      de alguns desses profissionais de        que fizeram uma enorme diferença na
pelo menos 6 meses muitas pessoas        Parintins nos carnavais de São Paulo    minha vida. Ganhei amigos que leva-
que todos os anos voltam como uma        e Rio de Janeiro e aprendemos muito     rei para sempre. Gente a quem ajudei
equipe. Isso é gratificante para mim      com eles. Tudo é uma questão de se      e que me ajudou muito. O carnaval
e extremamente vantajoso para o          enxergar o lado bom e útil das coisas.  nunca me decepcionou!
                                                               veja/universidade cruzeiro do sul I 28 DE MAIO, 2011 I 19

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Paginas Amarelas - RAFAELA PIETRA

  • 1. Entrevista LIA PICCI RAFAELA PIETRA Do Jornal ao Carnaval A jornalista que virou carnavalesca por amor, defende a Industria do Carnaval como uma maneira de impulsionar a profissionalização no setor carnavalesco. O carnaval, a maior expressão da cultira e da felicidade brasileiras é visto com paixão por Lia Picci. A jornalista que deixou a profissão para fazer aquilo que gosta, conta como se afastou do jornalismo policial em busca de novos desafios, aventurando- -se no mundo da arte do povo, da cultura e da alegria. Motivada pela necessidade de utilizar sempre sua criatividade, a também artesã se viu disposta a revolu- cionar o trabalho, desenvolveu formas de facilitar a máquina carnavalesca e ajudou a transformar a festa em trabalho e vida para muitas comunidades paulis- tanas. Defendendo a profissionalização do carnaval, Lia Picci nos fala sobre o desenvolvimento do enredo, as difi- culdades, as responsabilidades de uma Agremiação Carnavalesca, o dinheiro e a quantidade de pessoas envolvidas para levar um bom carnaval para a avenida. Nesta entrevista, poderemos conhecer melhor este mundo, ouvindo as palavras de alguém que defende o carnaval como modo de vida. Antes de se tornar carnavalesca, você trabalhava com jornalismo. Como você se envolveu com o carnaval? Eu sempre quis trabalhar com uma área cultural do jornalismo, e na época em que eu trabalhei as opções eram de jornalismo social, político ou policial. Existia sim o lado cultural, que eu fiz em criticas de cinema, teatro, literatu- ra, mas que ao final das contas nunca me satisfizeram. Daí surgiu a idéia de trabalhar com carnaval?Na verdade eu só optei. Fui me envolver em alguma coisa mais feliz, mais bonita, com um lado cultu- ral mais alegre e mais saudável. Eu já tinha um curso de artes plásticas, sou artesã e trabalhei com isso anos, aliás, “O carnaval nunca faço muito disso ainda hoje e recebi um convite de uma escola de samba me decepcionou!” para desenvolver um enredo e dese- veja/universidade cruzeiro do sul I 28 DE MAIO, 2011 I 17
  • 2. Entrevista LIA PICCI nhar os figurinos do carnaval de 1984. “Na Escola de bingos beneficentes, shows de bandas Foi na Escola de Samba Imperador do Ipiranga que eu me apaixonei pelo Samba Imperador, nacionais e até mesmo internacionais, promovem almoços e apresentações mundo do carnaval. institui a contratação diversas, sempre com o objetivo de arrecadar fundos para garantir as Você diz que optou por algo mais feliz, isso significa que antes não era feliz de pessoas da despesas durante o período pré carna- valesco. no jornalismo? Não, de modo algum. Quando achei que tinha feito tudo o comunidade como Falando em números, quanto uma esco- la de samba pode contribuir para o mer- que podia na área cultural eu parti para a área policial e trabalhei nisso trabalhadores de cado de trabalho? Hoje, uma escola de durante quase 5 anos. No decorrer samba como a Mocidade Alegre, uma deste período, você vai tomando horário integral e de nossas grandes escolas de São Pau- contato com o pior lado das pesso- lo, emprega em torno de 300 a 400 as, e isso foi me deixando mais fria, criei alguns cursos pessoas para entregar um carnaval, fazendo com que as cenas se tornas- utilizando-se de aderecistas, alegoris- sem quase naturais, perdendo o real para facilitar o nosso tas, marceneiros, pintores, costureiras significado. É a isso que me refiro. entre tantos outros. Acho que são bons próprio trabalho. E números, não? E por isso saiu do jornalismo policial? Também. Eu tinha filhos, pequenos, não podia mais lidar com aquilo, mes- deu certo. ” E como se desenvolve um carnaval? Bom, enquanto jornalista que eu ainda mo sem querer me afastar totalmente sou, sem dúvida, eu sempre busco a do contato com o povo, da cultura, e com a qualidade do trabalho executa- informação e a história das coisas, e nem da notícia. As coisas começaram do ou assina-se um contrato estipulan- como carnavalesca eu analiso os fatos, a me fazer mal, e ameaçavam não do um valor único, pago de uma só as características históricas do mo- só a minha saúde, como minha vida vez, ao término ou durante o período mento ou do personagem. Faço uma também. de execução do carnaval. Normalmen- pesquisa aprofundada com relação a te esse valor é suficiente para que o datas, locais, fatos pitorescos, tudo o E como surgiu essa paixão pelo carna- profissional mantenha-se dignamente que seja interessante e importante no val? Me apaixonei porque tudo me durante o ano. tema. A partir daí, com toda a infor- exigia muita criatividade para a trans- mação reunida, eu começo a dividir missão da informação cultural de boa Você diz que o carnaval além de alegria em fazes e vou criando, ou recriando qualidade. As possibilidades de levar também leva cultura. Como? O car- os fatos através de figuras, desenhos, a história e a própria cultura para uma naval transforma a informação em cores, contando a história de maneira parte da população que muitas vezes algo bonito, em lazer. Faz com que visual. Daí é só juntar tudo e colocar não tem acesso a isso me fascinava. A a história e a cultura façam parte da na avenida. literatura é uma parte da cultura que o festa, daquele momento de descontra- povo dificilmente acessa, ou por falta ção, fazendo com que o povo guarde Da maneira como você fala parece fácil. de tempo ou por desinteresse mesmo. aquilo, leve na lembrança e transmita Não é tão simples, o carnaval na ave- O carnaval possibilita o acesso a esse a outros. nida é uma história de anos, contada tipo de informação mesmo que ele em 60 minutos e que leva em torno de não tenha oportunidade de ir a um Pensando em valores, como uma 6 meses ou mais para ser construída. museu, conhecer a vida de uma perso- Agremiação se mantém no resto do ano Envolve muitas pessoas, é um traba- nalidade importante, etc. em que a verba não está disponível? lho árduo e difícil, mas extremamente Depende da Agremiação. As gran- gratificante. O carnaval parece somen- É possível então, encarar a profissão des escolas geralmente dispõem de te diversão, mas é também profissio- de carnavalesco como modo de vida? É mais recursos, conseguidos através nalização em um mercado de trabalho possível sustentar-se assim?Sim, sem de eventos contratados, patrocínio sempre em expansão. Os profissionais dúvida. Um bom carnavalesco não de empresas privadas, apresentações utilizados na confecção do carnaval trabalha apenas na época do carnaval. no exterior, shows e etc. As escolas vão desde engenheiros até os mais Geralmente, cria-se um forte vínculo menores, tem mais dificuldades, na- simples empurradores das alegorias entre a Agremiação e o carnavalesco, turalmente, mas numa escala menor transformando-o num funcionário de acabam fazendo mais ou menos as A profissionalização do carnaval é algo tempo integral. Dessa forma, estabe- mesmas coisas.Utilizam suas quadras que temos visto na mídia nos últimos lece-se um salário mensal, compatível e barracões para promoverem festas, anos. Como você acha possível desen- 18 I 28 DE MAIO, 2011 I veja/universidade cruzeiro do sul
  • 3. volver isso? Acredito que seja neces- “Muita gente acha Qual o papel que uma escola de samba sário criar cursos que profissionalizem que o carnaval pode desempenhar na sociedade, além as pessoas que trabalham no carnaval. do fator profissionalizante? O papel Essas pessoas geralmente são de baixíssima renda ou estão desempre- mudou, que deixou mais importante que uma Agremiação Carnavalesca pode e deve desem- gadas e aproveitam a oportunidade para aumentar o orçamento familiar. de ser cultural para penhar na sociedade é o cultural. As escolas de samba e blocos carnava- Isso deveria se tornar uma profissão, pois atrai muitas pessoas e elas se ser empresarial. lescos tem o poder de levar a cultura ao povo da maneira mais simples e tornam indispensáveis, mais até que os próprios carnavalescos, dentro das Acham que isso agradável que existe, através do lazer. No carnaval, aprendemos muito nos agremiações. divertindo. Outro fator muito im- descaracterizou o portante e que defendo muito são os Isso significa carteira de trabalho as- projetos sociais que as Agremiações sinada pelas Agremiações? A profis- carnaval. Eu não desenvolvem. Quando se trabalha sionalização da mão de obra utilizada no carnaval, percebemos o poder no carnaval abre um novo nicho de concordo. O carnaval que o povo unido tem. Uma maneira trabalho que pode abrigar uma grande maravilhosa de utilizar esse poder é o parte de famílias carentes, além de mudou sim, mas pra desenvolvimento de projetos sociais desenvolver e promover a arte, a cria- tividade e a cultura. Porque não? muito melhor. ” como acesso a médicos, dentistas, palestras com profissionais gabarita- dos para a população jovem, cursos, Quanto a sua experiência no carnaval, oficinas de arte, tudo o que possa con- o que as instituições podem fazer para carnaval. tribuir para o desenvolvimento social contribuir com essa profissionalização? e cultural daquela counidade. Isso é Quando eu entrei no carnaval, não A idéia de uma “Indústria do Carnaval” muito importante. havia o habito de se contratar pessoas te agrada então? Muita gente acha que especializadas para esse trabalho. o carnaval mudou, que deixou de ser Conhecemos as grandes agremiações, Tudo era feito pela comunidade, nas cultural para ser empresarial. Acham mas como vivem os blocos carnavales- horas vagas. Todos participavam. Isso que isso descaracterizou o carnaval. cos e as escolas de menor visibilidade? criava grandes problemas. Logica- Eu não concordo. O carnaval mudou É mais fácil trabalhar com elas? As mente que todos faziam com muito sim, mas pra muito melhor. O espetá- escolas menores e blocos carnavales- carinho, mas mesmo assim as coisas culo hoje tem muito mais qualidade cos têm suas dificuldades, geralmente não corriam como deviam, respeitan- visual, os artistas se dedicam a esse financeiras, mas por outro lado, essas do prazos e outras imposições do tra- trabalho são pessoas da mais alta Agremiações são mais unidas, suas balho. Na Escola de Samba Imperador competência, reconhecidos mundial- comunidades participam muito ativa- do Ipiranga, eu institui a contratação mente. Claro que não devemos virar mente dentro delas pois não há apenas de pessoas da comunidade como as costas para a tradição do carnaval, o objetivo de ganhar dinheiro traba- trabalhadores de horário integral, com que é lindíssima por sinal. lhando para o carnaval. Não acho que salário, alimentação, transporte, etc. seja mais fácil ou mais difícil traba- Criei alguns cursos ministrados por Então não há motivos para afastarmos lhar com elas pois o trabalho é muito mim e outros profissionais fora do a idéia de uma boa empresa carnava- parecido. Obviamente se ganha menos período do carnaval para facilitar o lesca, funcionando realmente como dinheiro mas a compensação pessoal é nosso próprio trabalho. E deu certo. uma indústria da arte? Veja, o carnaval muitas vezes maior. Convive-se mais do RJ é o maior espetáculo da terra com a comunidade, faz-se amigos Você acredita então que as Agremia- e atrai pessoas do mundo todo. O para a vida toda. Eu gosto muito ções devem investir mais nisso? A carnaval de Parintins é a prova da e nunca me recusei a fazer o meu escola de samba deve sim agir como competência artística do brasileiro, trabalho numa escola pequena mesmo uma empresa criando oportunidades transformando a cultura indígena num que por vezes não tenha tido nenhuma e auxiliando no desenvolvimento da espetáculo de beleza incomparável. remuneração. Ganhei muito mais que sua própria comunidade. Hoje, nos Nós mesmos contamos com a ajuda dinheiro, ganhei pessoas maravilhosas carnavais que faço, emprego durante de alguns desses profissionais de que fizeram uma enorme diferença na pelo menos 6 meses muitas pessoas Parintins nos carnavais de São Paulo minha vida. Ganhei amigos que leva- que todos os anos voltam como uma e Rio de Janeiro e aprendemos muito rei para sempre. Gente a quem ajudei equipe. Isso é gratificante para mim com eles. Tudo é uma questão de se e que me ajudou muito. O carnaval e extremamente vantajoso para o enxergar o lado bom e útil das coisas. nunca me decepcionou! veja/universidade cruzeiro do sul I 28 DE MAIO, 2011 I 19