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1
Meios de acesso à literatura para pessoas cegas
Amanda Cristina dos Santos Pereira
Paulo Eduardo Zorel
Vivian Santos
Graduandos do curso de Licenciatura em Educação Especial pela
Universidade Federal de São Carlos
Ailton Barcelos da Costa
Pós graduando do Programa de Pós Graduação em Educação Especial pela
Universidade Federal de São Carlos
Maria Amélia Almeida
Docente do curso de Licenciatura em Educação Especial pela Universidade
Federal de São Carlos
Eixo temático: Deficiência Visual.
Categoria: Pôster.
Resumo
O acesso à literatura por pessoas cegas acontece, prioritariamente, por meio
da literatura em braile. Devido ao avanço tecnológico tem ocorrido uma procura
maior pela literatura em áudio. O questionamento de como o acesso à literatura
por pessoas cegas vem ocorrendo diante disso, ancorou o presente estudo.
Assim, o objetivo deste é analisar as implicações da utilização desses meios de
acesso por pessoas cegas. Para realização deste, serão entrevistados dez
participantes cegos, destes, seis já foram entrevistados. Como instrumento de
coleta de dados, está sendo utilizado um roteiro de entrevista semiestruturado.
As entrevistas são gravadas e transcritas e os dados agrupados de acordo com
os blocos temáticos, em tabelas e gráficos, para análise qualitativa e
quantitativa. Resultados preliminares indicam que os sujeitos mais velhos, não
dão preferência por um ou outro meio, pois de acordo com os mesmos, ambos
têm suas vantagens e desvantagens. Quanto aos sujeitos mais jovens, um
aluno do ensino médio, revelou preferência pelo áudio, e dois outros alunos,
que já concluíram o ensino médio e estão se preparando para o ingresso no
ensino superior, demonstraram preferência pela utilização do braile, mas
afirmaram utilizar o áudio. Espera-se que a finalização da coleta de dados de
todos os participantes possibilite a apresentação de dados mais conclusivos.
Palavras-chave: deficiência visual, braile, literatura em áudio
Introdução
ISSN 1984-2279
1919
2
A definição científica da deficiência visual se modificou bastante com o
passar do tempo, sendo que a atual foi definida no Conselho Internacional de
Oftalmologia, que ocorreu em 20 de abril de 2002, em Sidney (Austrália), esta
nova definição divide a deficiência visual em cegueira (perda total da visão),
baixa visão (graus menores de perda de visão), visão diminuída (perda de
funções visuais, que pode ser medido quantitativamente), visão funcional
(capacidade da pessoa de usar a visão nas Atividades de Vida Diária) e perda
de visão (é um termo geral, usado em qualquer um dos casos de deficiência
visual) (REIS, EUFRÁSIO, BAZON, 2010).
Já do ponto de vista educacional, segundo Barraga (1985), pessoas
cegas são aquelas que possuem a percepção de luz insuficiente para enxergar,
fazendo-se necessário a utilização do sistema braile para aprender.
Neste trabalho abordaremos questões referentes apenas pessoas
cegas, de causa congênita ou adquirida, para tal, faremos um breve histórico
da deficiência visual, utilizando como referência os estudos de Mazzotta
(2005).
Até o século XVII, as informações científicas quanto à deficiência eram
bem limitadas, de forma que era mistificada e oculta. A falta de conhecimento
fez com que as pessoas com deficiência fossem ignoradas e marginalizadas
por um longo período de tempo.
Os primeiros representantes das pessoas com deficiência foram líderes
da sociedade e foi na Europa em que se iniciou o movimento em prol das
pessoas com deficiência, seguida dos Estados Unidos, Canadá e em seguida
de outros países, como o Brasil, sendo que a primeira obra sobre educação
especial é de autoria de Jean-Paul Bonet e foi impressa em 1620, na França.
No que diz respeito à deficiência visual, é preciso destacar Valentin
Haüy, que fundou em Paris (1784) o Instituto Nacional dos Jovens Cegos,
nessa época Haüy já utilizava letras em relevo para ensinar pessoas cegas.
ISSN 1984-2279
1920
3
Após a regularização na vida da França depois da Revolução Francesa,
outras escolas para cegos foram abertas, como exemplo temos “... as de Liver
Pool em 1791, de Londres em 1799 e, já no século XIX, de Viena em 1805 e de
Berlin em 1806.” (Silva apud Mazzotta. 2005: 19).
Em 1819, Charles Barbier, oficial do exército francês, visitou o Instituto
Nacional dos Jovens Cegos e sugeriu um processo de escrita utilizado para
transmitir mensagens durante a noite sem a utilização de luz para não atrair o
inimigo, este processo era baseado em pontos salientes que representavam os
trinta e seis sons básicos da língua francesa.
Ainda segundo Mazzotta “em 1829,... Louis Braille... fez uma adaptação
do código... para as necessidades dos cegos... denominada sonografia e, mais
tarde, de braile .” (2005, p.19), sendo que nos dias atuais o braile é um sistema
composto por simbologia especifica para Matemática, Química, Física e
Música.
Já no Brasil, foi fundado por D. Pedro II, em 12 de Setembro de 1854, o
Imperial Instituto dos Meninos Cegos, que passou a ser chamado de Instituto
Benjamin Constant (IBC), em 24 de Janeiro de 1891.
É importante ressaltar que nesta época o atendimento as pessoas
cegas, bem como as pessoas com outros tipos de deficiência, era bem
reduzido, como nos lembra Mazzotta (2005) ao ressaltar que em 1872, apesar
de haver 15.848 cegos no Brasil, somente 35 eram atendidos pelo IBC.
O IBC foi responsável por diversas ações no Brasil relacionadas às
pessoas com cegueira, como exemplo podemos citar a edição, em 1942, da
Revista Brasileira para Cegos, a instalação, em 1943, da imprensa braile e a
distribuição de livros em braile para pessoas cegas que assim solicitassem a
partir de 17 de setembro de 1949.
Além do IBC, outras instituições voltadas às pessoas cegas foram
fundadas, como a Fundação para o Livro do Cego no Brasil, instalada em São
ISSN 1984-2279
1921
4
Paulo no ano de 1946, graças aos esforços de Dorina Nowill. Em 1990, a
instituição passou a ser denominada Fundação Dorina Nowill para Cegos.
O governo federal assumiu o atendimento para as pessoas com
deficiência, a partir da criação de Campanhas voltadas para este fim, sendo
que a primeira ocorreu em 1957 e foi para os surdos, no ano seguinte foi criada
a Campanha Nacional de Educação e Reabilitação de Deficientes da Visão
que, pouco tempo depois teve seu nome modificado para Campanha Nacional
de Educação de Cegos, ela foi extinta em 3 de julho de 1973, com a criação do
CENESP (Centro Nacional de Educação Especial).
Em 1986, o CENESP se transformou na Secretaria de Educação
Especial – SESEP que, por sua vez, foi extinta em 15 de Março de 1990, e
suas atribuições foram transferidas para a Secretaria Nacional da Educação
Básica – SENEB.
Diversas outras leis foram implantadas com o passar dos anos, até
chegarmos à realidade atual, onde se visa à educação das pessoas com
deficiência em escolas regulares, recebendo o apoio de salas de recurso
multifuncionais (também conhecidas como salas de Atendimento Educacional
Especializado).
Referencial teórico
Revisamos os estudos científicos com temas iguais ao nosso, utilizando
tanto no “Google Acadêmico” quanto no Catálogo de Publicaciones de
Servicios Sociales, os seguintes descritores: áudio-livro, braile, meios de
acesso deficiente visual, literatura e cegueira. Não encontramos nenhum
resultado idêntico, já em relação aos temas semelhantes localizamos, através
do “Google Acadêmico” o artigo de Dallabrida e Lunardi (2008) que aborda
“...O acesso aos livros em braile, sua materialidade, circulação, práticas e usos,
disponíveis em uma biblioteca, para os sujeitos com deficiência visual...”
(Dallabrida, Lunardi, 2008, p. 191).
ISSN 1984-2279
1922
5
Por outro lado, através do Catálogo de Publicaciones de Servicios
Sociales, tivemos acesso a três trabalhos que julgamos convenientes para o
presente trabalho. O primeiro, de Rueda (1995), estuda como a informação
contextual pode ajudar em uma leitura mais rápida do sistema braile. Os
resultados de seus estudos mostram que esta facilidade em relacionar palavras
a contextos pode sim facilitar a leitura para os cegos, tornando-a mais rápida,
mas esta mesma facilidade está intimamente ligada também ao nível de
escolarização dos mesmos.
Já o segundo, de Hertlein (1998), defende que o ensino escolar (seja em
instituições especializadas ou em escolas regulares) de pessoas com
deficiência visual devem conter o ensino, treino e uso do Sistema Braille,
reafirmando a ideia de que com os avanços tecnológicos o Sistema Braile não
pode ser descartado da educação de pessoas com deficiência visual.
Por fim, o terceiro, de autoria de Cierco (2002), identifica as diversas
desvantagens encontradas por usuários do braile em Paris, que podem ser
vistas também nos dias de hoje em nosso país, como o acesso a produtos de
informática e equipamentos adaptados, que dificilmente são encontrados no
mercado.
Baseado no fato de não ter sido encontrado nenhum estudo idêntico ao
proposto, bem como o período tecnológico em que vivemos e a escassez de
estudos semelhantes, julgou-se importante dar início a uma pesquisa que
tivesse como base a influência da tecnologia para os meios de leitura
existentes para as pessoas cegas e que, das pesquisas encontradas, tem-se
como base opiniões de videntes, havendo necessidade de conhecer a
perspectiva das pessoas cegas diante do assunto.
Logo, surgiu a questão que procuramos elucidar no decorrer deste
projeto: a análise quali-quantitativa da utilização dos meios de acesso à
literatura por pessoas cegas, bem como as implicações da utilização de cada
um desses meios.
ISSN 1984-2279
1923
6
Objetivo
Diante do descrito, o presente trabalho tem por objetivo identificar os
meios de acesso à literatura, utilizados por pessoas cegas e analisar os pontos
positivos e negativos da utilização destes meios.
Método
Utilizou-se como método de pesquisa o modelo misto, que consiste,
segundo (Sampiere, Collado e Lucio, 2006), na combinação dos modelos
qualitativo e quantitativo. A escolha desse método ocorreu devido à
possibilidade de desenvolver uma pesquisa com dados estatísticos, pois a
utilização do método quantitativo torna possível a coleta de dados concretos,
estabelecendo-se com exatidão os padrões de resposta dos participantes, já o
modelo qualitativo, torna possível uma melhor interpretação das questões da
pesquisa.
A coleta de dados foi realizada no município de São Carlos/SP, na
instituição de ensino superior público, Universidade Federal de São Carlos.
Espera-se entrevistar dez indivíduos, com cegueira congênita ou
adquirida, a partir de 16 anos, que estejam cursando o ensino médio, curso
pré-vestibular, graduação ou pós-graduação, desconsiderando o gênero, a
profissão e a classe social dos mesmos. Devido à dificuldade de encontrar
participantes aptos, bem como a limitação de tempo existente para a pesquisa,
foi possível realizar, até o momento, entrevista com seis participantes,
seguindo os demais critérios propostos. Tenciona-se, até o final do ano de
2012, entrevistar os quatro demais.
No que diz respeito aos materiais utilizados, estes compreenderam em
folha de sulfite A4, lápis, caneta, borracha, entre outros. Já os equipamentos
utilizados foram: gravador, notebook e impressora.
Já o instrumento de coleta de dados consistiu em um roteiro de
entrevista semi-estruturada, composto por seis blocos temáticos, sendo estes:
ISSN 1984-2279
1924
7
a) Caracterização do entrevistado: visa conhecer um pouco sobre a
pessoa que entrevistaremos;
b) Conhecimento sobre o braile: abordará questões referentes sobre a
escrita, alfabetização e leitura em braile que o entrevistado por ventura possua;
c) Acesso ao braile: objetiva identificar os meios de acesso ao braile que
o entrevistado possui e/ou conhece;
d) Conhecimento sobre áudio-livros: busca saber se o entrevistado
conhece áudios-livros, se os utiliza e se considera que a narração do
interlocutor influencia na interpretação do conteúdo;
e) Acesso ao áudio-livro: consiste em identificar os meios de acesso a
áudio-livros que o entrevista possui e/ou conhece;
f) Preferência quanto à leitura: trata da preferência do entrevistado
quanto a leitura por meio do sistema braile ou áudio- livros, tendo como
objetivo central identificar as vantagens e desvantagens destes recursos.
Sobre a coleta de dados, cada participante foi entrevistado uma única
vez e separadamente. Conforme foi proposto no método houve a gravação do
áudio da entrevista e a leitura do termo de livre consentimento. Os
pesquisadores não encontraram dificuldade em implementar o instrumento e as
entrevistas transcorreram sem nenhum imprevisto.
Para a efetuação da análise dos dados, foram criadas tabelas e gráficos,
possibilitando maior compreensão dos dados quantitativos e qualitativos.
Para garantir o respeito do código de ética no tratamento do ser
humano, o trabalho foi submetido ao comitê de ética em pesquisa envolvendo
seres humanos da UFSCar, e mediante o parecer favorável do mesmo, foi
entregue aos participantes um termo de consentimento em braile, o qual foi lido
pelo pesquisador e pelo participante só havendo a realização da entrevista
após a assinatura deste termo por ambos os indivíduos e mais uma
testemunha vidente.
Além disto, destacamos que a identidade dos participantes foi
resguardada e que as informações obtidas serão utilizadas apenas para fins de
divulgação cientifica.
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1925
8
Resultados Parciais
Dos participantes envolvidos na pesquisa, 40% possuem idade entre 30
e 40 anos, 40% entre 20 e 30 e 20% entre 16 e 20. Já no que desrespeito a
escolarização e ao tipo de cegueira, como é possível visualizar nos gráficos
abaixo, pode-se perceber uma variação interessante entre os indivíduos
estudados no que se refere ao nível de escolaridade, bem como a
predominância da cegueira adquirida, sendo a causa e a idade (quando
adquirida) explicitados na tabela 1.
Gráfico 1: nível de escolaridade dos participantes.
Fonte: arquivo pessoal.
Gráfico 2: tipo de cegueira dos participantes.
Fonte: arquivo pessoal.
Tabela 1: causa e idade da perda de visão dos cegos adquiridos.
Causa e idade (quando adquirido) da perda da visão
E1 E2 E3 E4 E5
Causa
Acidente de
carro
Desconhecido
Retinose
pigmentar
Toxoplasmose
na gravidez
Má formação
cerebral
Idade 20 anos Congênito Congênito 10 anos 13 anos
Fonte: arquivo pessoal.
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1926
9
Dos dados acima, pode-se perceber a prevalência de doenças no
que se desrespeito a perda da visão, o que pode ter base de vivermos em um
país em desenvolvimento, como explicita Temporini e Kara-José (2004, p. 598):
“Tomando por base dados populacionais de 1993, a OMS comparou
a prevalência de cegueira com dados econômicos de 229 países. Os
resultados mostraram que o desenvolvimento econômico de cada
país estava associado à respectiva prevalência de cegueira...”
Em termos de quantidade de membros na família, pode-se
perceber a predominância de três membros contando com o participante1
e
também nenhum membro outro membro da família é cego.
Tabela 2: Quantidade de membros na família dos participantes entrevistados.
Quantidade de membros na família
Entrevistado 1 Entrevistado 2 Entrevistado 3 Entrevistado 4 Entrevistado 5
3 3 1 3 5
Fonte: arquivo pessoal.
Por conseguinte, têm-se os dados referentes ao conhecimento sobre o
braile que os participantes envolvidos possuem. Para tal, em primeira instância
analisou-se se estes conhecem a história do braile (Gráfico 3), podendo-se
perceber que ao menos o básico é de conhecimento geral. Já no que
desrespeito a alfabetização em braile, todos os participantes passaram por este
processo, que ocorreu sempre em uma instituição especializada em deficiência
visual, com uma variação média de idade, tal dado pode ser analisado na
tabela 3.
Quanto à forma de escrita em braile, dos cinco entrevistados,
quatro citaram tanto o reglete quanto a máquina de escrever em braile e um
citou somente a máquina de escrever em braile2
.
1
Ver tabela 2.
2
Ver anexo 1.
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1927
10
Gráfico 3: Conhecimento sobre a história do braile.
Fonte: arquivo pessoal.
Tabela 3: Alfabetização em braile.
Alfabetização em braile
E1 E2 E3 E4 E5
Idade 26 anos 7 anos 10 anos 11 anos 17 anos
Local CIADEVA
3
CIADEVA
Internato
Padre Chico
4 DADV
5
DADV
Fonte: arquivo pessoal.
Sobre o acesso ao braile, analisamos se os participantes
conhecem locais onde existem textos disponíveis em braile, a resposta foi
positiva em todos os casos. Já quanto a locais onde há a possibilidade de
impressão de outros materiais gratuitamente houve somente uma resposta
negativa.
Quanto aos meios utilizados para escrever em braile houve uma
variação nas respostas, havendo prevalência da máquina em escrever em
braile, como é possível perceber no gráfico a seguir:
3
CIADEVA (Centro de Integração e Apoio ao Deficiência Visual e Auditivo) - É uma escola
especializada no atendimento à pessoas com deficiência visual e/ou auditiva. (Localizada em Taboão da
Serra – SP).
4
Instituto de Cegos “Padre Chico” é uma entidade sem fins lucrativos que mantém uma escola de ensino
fundamental, totalmente gratuita, em São Paulo, para pessoas cegas e com baixa visão.
5
DADV (Deficientes Auditivos e Deficientes Visuais) – É uma instituição localizada em Araras e
especializadas em pessoas com deficiência auditiva e deficiência visual.
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2
Ambos
Áudio-livro
Conhecimento sobre a história do braile
Quantidade de participantes
ISSN 1984-2279
1928
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Gráfico 4: Equipamento utilizado para escrever em braile.
Fonte: arquivo pessoal.
Da mesma forma que foi analisado o conhecimento sobre o braile
dos participantes, analisou-se o conhecimento dos mesmos quanto a áudio-
livros, onde pode-se perceber que a maioria dos participantes sabe da
existência do áudio-livro6
, havendo uma grande maioria que desconhece a
maneira como se transforma um livro online em áudio-livro7
, bem como que a
variação na influência da qualidade do livro8
e da entonação da voz do
narrador9
é a mesma,, sendo que o motivo da influência da entonação da voz
explicitado pelos participantes é semelhante10
.
Tabela 4: Definição de áudio-livro segundo os participantes.
Definição de áudio-livro segundo os participantes
E1 E2 E3 E4 E5
Definição
Uma voz
narrando o
conteúdo escrito;
isoladamente,
não é bom.
Livro em
áudio.
Não
respondeu.
Muito bom. Muito bom.
Fonte: arquivo pessoal.
6
Ver tabela 4.
7
Ver gráfico 5.
8
Ver gráfico 6.
9
Ver gráfico 7.
10
Ver tabela 5.
20%
20%
60%
Equipamento utilizado para escrever em braile
Ambos Áudio-livro Braile
ISSN 1984-2279
1929
12
Gráfico 5: Conhecimento sobre transformar livro digitalizado em áudio-livro.
Fonte: arquivo pessoal.
Gráfico 6: Influência da qualidade do áudio-livro.
Fonte: arquivo pessoal.
Gráfico 7: Influência da entonação da voz do narrador do áudio-livro.
Fonte: arquivo pessoal.
0
0,5
1
Ambos Áudio-livro
Transformar livro digitalizado em áudio-livro
No de
Participantes
20%
20%
60%
Influência da qualidade do áudio-livro
Ambos Áudio-livro Braile
20%
20%
60%
Influência da entonação da voz do narrador
do áudio-livro
Ambos Áudio-livro Braile
ISSN 1984-2279
1930
13
Tabela 5: causa(s) da influência da entonação da voz do narrador do áudio-livro.
Causa(s) da influência da entonação da voz do narrador do áudio-livro
E1 E2 E3 E4 E5
Causa(s)
Voz chata
não
desperta o
interesse
Não
respondeu.
Quando há muitas
pausas ou é narrado
muito rapidamente, sem
haver interpretação de
diálogos, etc, não
desperta interesse
Não
encontra
influência.
Não
encontra
influência.
Fonte: arquivo pessoal.
Sobre o acesso a áudio-livro, levou-se em primeiramente em
consideração se estes possuem acesso a um computador e a internet, pois
caso não possuíssem, seria complexo utilizar tal recurso. Todos os
participantes responderam positivamente a estas duas perguntas. Com isso,
analisou-se se eles conhecem locais onde se tem áudio-livros disponíveis11
, se
o utilizam e onde os obtém12
.
Gráfico 8: Conhecimento quanto a locais que disponibilizam áudio-livros.
Fonte: arquivo pessoal.
11
Ver gráfico 8.
12
Ver tabela 7.
50%
50%
Conhecimento quanto a locais que disponibilizam
áudio-livros
Ambos Áudio-livro
ISSN 1984-2279
1931
14
Tabela 7: Utilização de áudio-livros e locais onde obtém.
Utilização de áudio-livros e locais onde obtém
E1 E2 E3 E4 E5
Utilização Utiliza
Utiliza
pouco
Não utiliza Utiliza Utiliza
Onde
obtém
CIADEVA,
SENAC Santo
Amaro e Cento
Cultural de São
Paulo
Não
especificou
onde
obtém
Não utiliza, mas
sabe que é possível
obter no CIADEVA e
na fundação Dorina
Nowill
Não sabe
onde obter.
Não sabe
onde
obter.
Fonte: arquivo pessoal.
Todas as questões elucidadas acima, visavam introduzir o tema da
questão de pesquisa, o qual é respondido nos dados contidos a seguir, ou seja,
aqueles referentes a preferência do meio de acesso a literatura utilizado pelas
pessoas cegas bem como suas implicações positivas e negativas.
Sobre a preferência do meio de acesso, percebeu-se que o braile tem
grande destaque, estando presente em 80% das respostas, como é possível
analisar no gráfico abaixo.
Gráfico 9: Preferência do meio de acesso.
Fonte: arquivo pessoal.
Sobre as implicações positivas da utilização do braile, houve a
prevalência pelo conhecimento da gramática, tendo havido também respostas
sobre a confiabilidade, o desenvolvimento da coordenação motora fina, a
20%
20%
60%
Preferência do meio de acesso
Ambos Áudio-livro Braile
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1932
15
possibilidade de reler com facilidade algum determinado trecho, como ilustra a
tabela a seguir:
Tabela 8: Implicações positivas da utilização do braile.
Implicações positivas da utilização do braile
E1 E2 E3 E4 E5
Confiabilidade,
conhecimento
da gramática e
da ortografia
Conhecimento
da gramática
Conhecimento
da gramática,
desenvolvimen
to da
coordenação
motora fina,
tato, etc.
Conhecimento
da gramática,
o que gera
facilidade ao
escrever
redações.
Possibilidade de
poder reler com
facilidade trechos
que não
compreendeu
gerando maior
compreensão do
que foi lido
Fonte: arquivo pessoal.
Sobre as implicações negativas da utilização do braile, foi apontada
principalmente a velocidade da leitura (lenta) e a falta de portabilidade, outras
implicações foram apontadas, havendo também participantes que não
vislumbram nenhuma implicação negativa na utilização do braile, como mostra
a tabela a seguir.
Tabela 9: Implicações negativas da utilização do braile.
Implicações negativas da utilização do braile
E1 E2 E3 E4 E5
Leitura lenta,
quantidade
grande de
folhas
Leitura lenta
e quantidade
de folhas
Pouco material em
Braile, quantidade de
folhas e desgaste
natural.
Nenhuma. Nenhuma.
Fonte: arquivo pessoal.
Já quanto às implicações positivas da utilização do áudio-livro, os itens
mais apontados foram à portabilidade, sobre as implicações negativas,
diferentemente do que os pesquisadores acreditavam no início da pesquisa,
somente foi citado um único fator, sendo este o desconhecimento da
gramática, como ilustra a tabela a seguir.
ISSN 1984-2279
1933
16
Tabela 10: Implicações positivas e negativas da utilização do áudio-livro.
Implicações positivas e negativas da utilização do áudio-livro
E1 E2 E3 E4 E5
Positivas
Leitura
rápida,
portabilidade
Leitura
rápida
Portabilidade,
agilidade.
Não citou
nenhuma
implicação.
Maior
facilidade para
compreender
o conteúdo da
bíblia
Negativas
Desconheci-
mento da
gramática e
da ortografia
Nenhuma
Desconheci-
mento da
gramática
Desconhecimento
da gramática
Não
encontrou
nenhuma
implicação
negativa
Fonte: arquivo pessoal.
Por fim, julgou-se interessante analisar um fato marcante da vida do
participante que envolvesse um meio de acesso, partindo do conceito de
valorização das experiências dos mesmos. A seguir têm-se as respostas dos
mesmos.
Tabela 11: Fato marcante relacionado ao braile e/ou ao áudio-livro.
Fato marcante relacionado ao braile e/ou ao áudio-livro
E1 O acesso à literatura em braile e áudio (depois de ficar cego).
E2 Como eu terminava a leitura em braile rapidamente, um professor me fez ler um livro
em braile do lado inverso (conta rindo o participante).
E3 Quando eu trabalhava com estética, ficava falando alto para estudar o conteúdo de um
concurso público e minhas clientes adoravam minha voz.
E4 Foi quando li o áudio-livro d história do Marly e Eu, pois tenho um cachorro que é
adestrado pra ser cão guia, então conforme a história ia passando eu fui pensando nele
e me emocionei muito.
E5 Em áudio-livro que eu possuo em casa (da bíblia), está escrito em Josué “enfrenta-te e
tem bom animo” e é o que a gente têm que faze né, mesmo sendo cego não devemos
ficar triste. Devemos enfrentar, ter bom ânimo e Jesus nos ajudará, é isso que eu
percebo com todas essas coisas que eu vejo ( ele ri ) que eu vejo não, que eu ouço,
claro.
Fonte: arquivo pessoal.
ISSN 1984-2279
1934
17
Conclusões
Pode-se, prioritariamente, concluir que ambos os meios de acesso
estudados possuem suas implicações positivas e negativas, de tal forma que
as pessoas cegas tendem a optar por ambos, mas apesar disso, em termos de
preferência o braile prevalece drasticamente.
Este fato é interessante, pois ao se analisar os dados, pode-se perceber
que existem mais implicações negativas em relação ao braile do que ao áudio
livro.
O fato de haver menos implicações negativas em relação ao áudio-livro
do que ao braile surpreendeu os pesquisadores envolvidos, que acreditavam
que o resultado seria o oposto.
Um fator que se acreditava que seria explicitado no decorrer da pesquisa
é a preferência pelo meio de acesso de acordo com o tipo da cegueira, mas
devido ao fato de ter-se um número maior de cegos adquiridos do que
congênitos, bem como ao pequeno número de participantes, não foi possível
elucidar essa questão, deixando-a para outra pesquisa.
Também é importante ressaltar o fato de que, até o momento, todos os
participantes envolvidos foram alfabetizados em uma instituição especializada
em pessoas com deficiência visual, de tal forma que quando forem
entrevistados participantes que não estão sob a ótica dessa realidade, existe a
possibilidade de haver grande modificação nos resultados.
Por fim, pode-se concluir que de acordo com os resultados encontrados,
independentemente das implicações negativas do braile estarem em maior
número do que do áudio-livro, as pessoas cegas continuam preferindo o
primeiro meio citado, de tal forma que é importante elaborar pesquisas que
visem melhorar ou sanar as implicações negativas do braile, tornando-o mais
portátil, aumentando sua agilidade na hora da leitura, trabalhando a questão do
desgaste manual das letras do alfabeto de seis pontos a partir do manuseio de
ISSN 1984-2279
1935
18
seu usuário e, por fim, a quantidade de folhas em comparação com os textos
impressos.
Referências
BARRAGA, N. C. Disminuidos visuales y aprendizaje. Madrid: ONCE, 1985.
CIERCO, J. Braille y las nuevas tecnologias. Entre dos mundos, n. 19, pp. 61-65,
Madrid, Ed. ONCE., ago 2002.
DALLABRIDA, A. M.; LUNARDI, G. M. O acesso negado e a reiteração da
dependência: a biblioteca e o seu papel no processo formativo de indivíduos cegos.
Cadernos Cedes, Campinas, v. 28, n. 75, p. 191-208, 2008.
HERTLEIN, J. Braille: requisito imprescindible para la enseñanza y formación de las
personas ciegas.. Entre dos mundos, n. 12, pp. 5-13, Madrid, Ed. ONCE., out 1998.
MAZZOTTA, M. J. S. Educação Especial no Brasil: História e Políticas Públicas.
5ed. São Paulo: Cortez, 2005. 208 p.
REIS, M. X. dos; EUFRÁSIO, D. A.; BAZON, F.V.M. A formação do professor para o
ensino superior: prática docente com alunos com deficiência visual. Educação em
Revista, Belo Horizonte, v. 26, n. 1, Abr. 2010. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-46982010000100006&script=sci_arttext>.
Acesso em: 13 jun. 2011.
RUEDA, C. S. Utilización de la información contextual en la lectura braille. Entre Dos
Mundos, nº 19, pp. 5-11. Madrid, Ed. ONCE., out 1995
SAMPIERI, R. H.; COLLADO, C. F.; LUCIO, P. B. O processo de pesquisa e os
enfoques quantitativo e qualitativo. In_____. Metodologia de pesquisa. São Paulo:
McGraw-Hill, 2006. 2-21.
TEMPORINI, E. R.; KARA-JOSÉ, N. A perda da visão – estratégias de prevenção. Arq
Bras Oftalmol, v. 67, n. 4, p. 597-601. 2004. Disponível em: <
http://www.scielo.br/pdf/abo/v67n4/21405.pdf>. Acesso em: 20 dez. 2011.
ISSN 1984-2279
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Meios de acesso à literatura para cegos

  • 1. 1 Meios de acesso à literatura para pessoas cegas Amanda Cristina dos Santos Pereira Paulo Eduardo Zorel Vivian Santos Graduandos do curso de Licenciatura em Educação Especial pela Universidade Federal de São Carlos Ailton Barcelos da Costa Pós graduando do Programa de Pós Graduação em Educação Especial pela Universidade Federal de São Carlos Maria Amélia Almeida Docente do curso de Licenciatura em Educação Especial pela Universidade Federal de São Carlos Eixo temático: Deficiência Visual. Categoria: Pôster. Resumo O acesso à literatura por pessoas cegas acontece, prioritariamente, por meio da literatura em braile. Devido ao avanço tecnológico tem ocorrido uma procura maior pela literatura em áudio. O questionamento de como o acesso à literatura por pessoas cegas vem ocorrendo diante disso, ancorou o presente estudo. Assim, o objetivo deste é analisar as implicações da utilização desses meios de acesso por pessoas cegas. Para realização deste, serão entrevistados dez participantes cegos, destes, seis já foram entrevistados. Como instrumento de coleta de dados, está sendo utilizado um roteiro de entrevista semiestruturado. As entrevistas são gravadas e transcritas e os dados agrupados de acordo com os blocos temáticos, em tabelas e gráficos, para análise qualitativa e quantitativa. Resultados preliminares indicam que os sujeitos mais velhos, não dão preferência por um ou outro meio, pois de acordo com os mesmos, ambos têm suas vantagens e desvantagens. Quanto aos sujeitos mais jovens, um aluno do ensino médio, revelou preferência pelo áudio, e dois outros alunos, que já concluíram o ensino médio e estão se preparando para o ingresso no ensino superior, demonstraram preferência pela utilização do braile, mas afirmaram utilizar o áudio. Espera-se que a finalização da coleta de dados de todos os participantes possibilite a apresentação de dados mais conclusivos. Palavras-chave: deficiência visual, braile, literatura em áudio Introdução ISSN 1984-2279 1919
  • 2. 2 A definição científica da deficiência visual se modificou bastante com o passar do tempo, sendo que a atual foi definida no Conselho Internacional de Oftalmologia, que ocorreu em 20 de abril de 2002, em Sidney (Austrália), esta nova definição divide a deficiência visual em cegueira (perda total da visão), baixa visão (graus menores de perda de visão), visão diminuída (perda de funções visuais, que pode ser medido quantitativamente), visão funcional (capacidade da pessoa de usar a visão nas Atividades de Vida Diária) e perda de visão (é um termo geral, usado em qualquer um dos casos de deficiência visual) (REIS, EUFRÁSIO, BAZON, 2010). Já do ponto de vista educacional, segundo Barraga (1985), pessoas cegas são aquelas que possuem a percepção de luz insuficiente para enxergar, fazendo-se necessário a utilização do sistema braile para aprender. Neste trabalho abordaremos questões referentes apenas pessoas cegas, de causa congênita ou adquirida, para tal, faremos um breve histórico da deficiência visual, utilizando como referência os estudos de Mazzotta (2005). Até o século XVII, as informações científicas quanto à deficiência eram bem limitadas, de forma que era mistificada e oculta. A falta de conhecimento fez com que as pessoas com deficiência fossem ignoradas e marginalizadas por um longo período de tempo. Os primeiros representantes das pessoas com deficiência foram líderes da sociedade e foi na Europa em que se iniciou o movimento em prol das pessoas com deficiência, seguida dos Estados Unidos, Canadá e em seguida de outros países, como o Brasil, sendo que a primeira obra sobre educação especial é de autoria de Jean-Paul Bonet e foi impressa em 1620, na França. No que diz respeito à deficiência visual, é preciso destacar Valentin Haüy, que fundou em Paris (1784) o Instituto Nacional dos Jovens Cegos, nessa época Haüy já utilizava letras em relevo para ensinar pessoas cegas. ISSN 1984-2279 1920
  • 3. 3 Após a regularização na vida da França depois da Revolução Francesa, outras escolas para cegos foram abertas, como exemplo temos “... as de Liver Pool em 1791, de Londres em 1799 e, já no século XIX, de Viena em 1805 e de Berlin em 1806.” (Silva apud Mazzotta. 2005: 19). Em 1819, Charles Barbier, oficial do exército francês, visitou o Instituto Nacional dos Jovens Cegos e sugeriu um processo de escrita utilizado para transmitir mensagens durante a noite sem a utilização de luz para não atrair o inimigo, este processo era baseado em pontos salientes que representavam os trinta e seis sons básicos da língua francesa. Ainda segundo Mazzotta “em 1829,... Louis Braille... fez uma adaptação do código... para as necessidades dos cegos... denominada sonografia e, mais tarde, de braile .” (2005, p.19), sendo que nos dias atuais o braile é um sistema composto por simbologia especifica para Matemática, Química, Física e Música. Já no Brasil, foi fundado por D. Pedro II, em 12 de Setembro de 1854, o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, que passou a ser chamado de Instituto Benjamin Constant (IBC), em 24 de Janeiro de 1891. É importante ressaltar que nesta época o atendimento as pessoas cegas, bem como as pessoas com outros tipos de deficiência, era bem reduzido, como nos lembra Mazzotta (2005) ao ressaltar que em 1872, apesar de haver 15.848 cegos no Brasil, somente 35 eram atendidos pelo IBC. O IBC foi responsável por diversas ações no Brasil relacionadas às pessoas com cegueira, como exemplo podemos citar a edição, em 1942, da Revista Brasileira para Cegos, a instalação, em 1943, da imprensa braile e a distribuição de livros em braile para pessoas cegas que assim solicitassem a partir de 17 de setembro de 1949. Além do IBC, outras instituições voltadas às pessoas cegas foram fundadas, como a Fundação para o Livro do Cego no Brasil, instalada em São ISSN 1984-2279 1921
  • 4. 4 Paulo no ano de 1946, graças aos esforços de Dorina Nowill. Em 1990, a instituição passou a ser denominada Fundação Dorina Nowill para Cegos. O governo federal assumiu o atendimento para as pessoas com deficiência, a partir da criação de Campanhas voltadas para este fim, sendo que a primeira ocorreu em 1957 e foi para os surdos, no ano seguinte foi criada a Campanha Nacional de Educação e Reabilitação de Deficientes da Visão que, pouco tempo depois teve seu nome modificado para Campanha Nacional de Educação de Cegos, ela foi extinta em 3 de julho de 1973, com a criação do CENESP (Centro Nacional de Educação Especial). Em 1986, o CENESP se transformou na Secretaria de Educação Especial – SESEP que, por sua vez, foi extinta em 15 de Março de 1990, e suas atribuições foram transferidas para a Secretaria Nacional da Educação Básica – SENEB. Diversas outras leis foram implantadas com o passar dos anos, até chegarmos à realidade atual, onde se visa à educação das pessoas com deficiência em escolas regulares, recebendo o apoio de salas de recurso multifuncionais (também conhecidas como salas de Atendimento Educacional Especializado). Referencial teórico Revisamos os estudos científicos com temas iguais ao nosso, utilizando tanto no “Google Acadêmico” quanto no Catálogo de Publicaciones de Servicios Sociales, os seguintes descritores: áudio-livro, braile, meios de acesso deficiente visual, literatura e cegueira. Não encontramos nenhum resultado idêntico, já em relação aos temas semelhantes localizamos, através do “Google Acadêmico” o artigo de Dallabrida e Lunardi (2008) que aborda “...O acesso aos livros em braile, sua materialidade, circulação, práticas e usos, disponíveis em uma biblioteca, para os sujeitos com deficiência visual...” (Dallabrida, Lunardi, 2008, p. 191). ISSN 1984-2279 1922
  • 5. 5 Por outro lado, através do Catálogo de Publicaciones de Servicios Sociales, tivemos acesso a três trabalhos que julgamos convenientes para o presente trabalho. O primeiro, de Rueda (1995), estuda como a informação contextual pode ajudar em uma leitura mais rápida do sistema braile. Os resultados de seus estudos mostram que esta facilidade em relacionar palavras a contextos pode sim facilitar a leitura para os cegos, tornando-a mais rápida, mas esta mesma facilidade está intimamente ligada também ao nível de escolarização dos mesmos. Já o segundo, de Hertlein (1998), defende que o ensino escolar (seja em instituições especializadas ou em escolas regulares) de pessoas com deficiência visual devem conter o ensino, treino e uso do Sistema Braille, reafirmando a ideia de que com os avanços tecnológicos o Sistema Braile não pode ser descartado da educação de pessoas com deficiência visual. Por fim, o terceiro, de autoria de Cierco (2002), identifica as diversas desvantagens encontradas por usuários do braile em Paris, que podem ser vistas também nos dias de hoje em nosso país, como o acesso a produtos de informática e equipamentos adaptados, que dificilmente são encontrados no mercado. Baseado no fato de não ter sido encontrado nenhum estudo idêntico ao proposto, bem como o período tecnológico em que vivemos e a escassez de estudos semelhantes, julgou-se importante dar início a uma pesquisa que tivesse como base a influência da tecnologia para os meios de leitura existentes para as pessoas cegas e que, das pesquisas encontradas, tem-se como base opiniões de videntes, havendo necessidade de conhecer a perspectiva das pessoas cegas diante do assunto. Logo, surgiu a questão que procuramos elucidar no decorrer deste projeto: a análise quali-quantitativa da utilização dos meios de acesso à literatura por pessoas cegas, bem como as implicações da utilização de cada um desses meios. ISSN 1984-2279 1923
  • 6. 6 Objetivo Diante do descrito, o presente trabalho tem por objetivo identificar os meios de acesso à literatura, utilizados por pessoas cegas e analisar os pontos positivos e negativos da utilização destes meios. Método Utilizou-se como método de pesquisa o modelo misto, que consiste, segundo (Sampiere, Collado e Lucio, 2006), na combinação dos modelos qualitativo e quantitativo. A escolha desse método ocorreu devido à possibilidade de desenvolver uma pesquisa com dados estatísticos, pois a utilização do método quantitativo torna possível a coleta de dados concretos, estabelecendo-se com exatidão os padrões de resposta dos participantes, já o modelo qualitativo, torna possível uma melhor interpretação das questões da pesquisa. A coleta de dados foi realizada no município de São Carlos/SP, na instituição de ensino superior público, Universidade Federal de São Carlos. Espera-se entrevistar dez indivíduos, com cegueira congênita ou adquirida, a partir de 16 anos, que estejam cursando o ensino médio, curso pré-vestibular, graduação ou pós-graduação, desconsiderando o gênero, a profissão e a classe social dos mesmos. Devido à dificuldade de encontrar participantes aptos, bem como a limitação de tempo existente para a pesquisa, foi possível realizar, até o momento, entrevista com seis participantes, seguindo os demais critérios propostos. Tenciona-se, até o final do ano de 2012, entrevistar os quatro demais. No que diz respeito aos materiais utilizados, estes compreenderam em folha de sulfite A4, lápis, caneta, borracha, entre outros. Já os equipamentos utilizados foram: gravador, notebook e impressora. Já o instrumento de coleta de dados consistiu em um roteiro de entrevista semi-estruturada, composto por seis blocos temáticos, sendo estes: ISSN 1984-2279 1924
  • 7. 7 a) Caracterização do entrevistado: visa conhecer um pouco sobre a pessoa que entrevistaremos; b) Conhecimento sobre o braile: abordará questões referentes sobre a escrita, alfabetização e leitura em braile que o entrevistado por ventura possua; c) Acesso ao braile: objetiva identificar os meios de acesso ao braile que o entrevistado possui e/ou conhece; d) Conhecimento sobre áudio-livros: busca saber se o entrevistado conhece áudios-livros, se os utiliza e se considera que a narração do interlocutor influencia na interpretação do conteúdo; e) Acesso ao áudio-livro: consiste em identificar os meios de acesso a áudio-livros que o entrevista possui e/ou conhece; f) Preferência quanto à leitura: trata da preferência do entrevistado quanto a leitura por meio do sistema braile ou áudio- livros, tendo como objetivo central identificar as vantagens e desvantagens destes recursos. Sobre a coleta de dados, cada participante foi entrevistado uma única vez e separadamente. Conforme foi proposto no método houve a gravação do áudio da entrevista e a leitura do termo de livre consentimento. Os pesquisadores não encontraram dificuldade em implementar o instrumento e as entrevistas transcorreram sem nenhum imprevisto. Para a efetuação da análise dos dados, foram criadas tabelas e gráficos, possibilitando maior compreensão dos dados quantitativos e qualitativos. Para garantir o respeito do código de ética no tratamento do ser humano, o trabalho foi submetido ao comitê de ética em pesquisa envolvendo seres humanos da UFSCar, e mediante o parecer favorável do mesmo, foi entregue aos participantes um termo de consentimento em braile, o qual foi lido pelo pesquisador e pelo participante só havendo a realização da entrevista após a assinatura deste termo por ambos os indivíduos e mais uma testemunha vidente. Além disto, destacamos que a identidade dos participantes foi resguardada e que as informações obtidas serão utilizadas apenas para fins de divulgação cientifica. ISSN 1984-2279 1925
  • 8. 8 Resultados Parciais Dos participantes envolvidos na pesquisa, 40% possuem idade entre 30 e 40 anos, 40% entre 20 e 30 e 20% entre 16 e 20. Já no que desrespeito a escolarização e ao tipo de cegueira, como é possível visualizar nos gráficos abaixo, pode-se perceber uma variação interessante entre os indivíduos estudados no que se refere ao nível de escolaridade, bem como a predominância da cegueira adquirida, sendo a causa e a idade (quando adquirida) explicitados na tabela 1. Gráfico 1: nível de escolaridade dos participantes. Fonte: arquivo pessoal. Gráfico 2: tipo de cegueira dos participantes. Fonte: arquivo pessoal. Tabela 1: causa e idade da perda de visão dos cegos adquiridos. Causa e idade (quando adquirido) da perda da visão E1 E2 E3 E4 E5 Causa Acidente de carro Desconhecido Retinose pigmentar Toxoplasmose na gravidez Má formação cerebral Idade 20 anos Congênito Congênito 10 anos 13 anos Fonte: arquivo pessoal. ISSN 1984-2279 1926
  • 9. 9 Dos dados acima, pode-se perceber a prevalência de doenças no que se desrespeito a perda da visão, o que pode ter base de vivermos em um país em desenvolvimento, como explicita Temporini e Kara-José (2004, p. 598): “Tomando por base dados populacionais de 1993, a OMS comparou a prevalência de cegueira com dados econômicos de 229 países. Os resultados mostraram que o desenvolvimento econômico de cada país estava associado à respectiva prevalência de cegueira...” Em termos de quantidade de membros na família, pode-se perceber a predominância de três membros contando com o participante1 e também nenhum membro outro membro da família é cego. Tabela 2: Quantidade de membros na família dos participantes entrevistados. Quantidade de membros na família Entrevistado 1 Entrevistado 2 Entrevistado 3 Entrevistado 4 Entrevistado 5 3 3 1 3 5 Fonte: arquivo pessoal. Por conseguinte, têm-se os dados referentes ao conhecimento sobre o braile que os participantes envolvidos possuem. Para tal, em primeira instância analisou-se se estes conhecem a história do braile (Gráfico 3), podendo-se perceber que ao menos o básico é de conhecimento geral. Já no que desrespeito a alfabetização em braile, todos os participantes passaram por este processo, que ocorreu sempre em uma instituição especializada em deficiência visual, com uma variação média de idade, tal dado pode ser analisado na tabela 3. Quanto à forma de escrita em braile, dos cinco entrevistados, quatro citaram tanto o reglete quanto a máquina de escrever em braile e um citou somente a máquina de escrever em braile2 . 1 Ver tabela 2. 2 Ver anexo 1. ISSN 1984-2279 1927
  • 10. 10 Gráfico 3: Conhecimento sobre a história do braile. Fonte: arquivo pessoal. Tabela 3: Alfabetização em braile. Alfabetização em braile E1 E2 E3 E4 E5 Idade 26 anos 7 anos 10 anos 11 anos 17 anos Local CIADEVA 3 CIADEVA Internato Padre Chico 4 DADV 5 DADV Fonte: arquivo pessoal. Sobre o acesso ao braile, analisamos se os participantes conhecem locais onde existem textos disponíveis em braile, a resposta foi positiva em todos os casos. Já quanto a locais onde há a possibilidade de impressão de outros materiais gratuitamente houve somente uma resposta negativa. Quanto aos meios utilizados para escrever em braile houve uma variação nas respostas, havendo prevalência da máquina em escrever em braile, como é possível perceber no gráfico a seguir: 3 CIADEVA (Centro de Integração e Apoio ao Deficiência Visual e Auditivo) - É uma escola especializada no atendimento à pessoas com deficiência visual e/ou auditiva. (Localizada em Taboão da Serra – SP). 4 Instituto de Cegos “Padre Chico” é uma entidade sem fins lucrativos que mantém uma escola de ensino fundamental, totalmente gratuita, em São Paulo, para pessoas cegas e com baixa visão. 5 DADV (Deficientes Auditivos e Deficientes Visuais) – É uma instituição localizada em Araras e especializadas em pessoas com deficiência auditiva e deficiência visual. 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 Ambos Áudio-livro Conhecimento sobre a história do braile Quantidade de participantes ISSN 1984-2279 1928
  • 11. 11 Gráfico 4: Equipamento utilizado para escrever em braile. Fonte: arquivo pessoal. Da mesma forma que foi analisado o conhecimento sobre o braile dos participantes, analisou-se o conhecimento dos mesmos quanto a áudio- livros, onde pode-se perceber que a maioria dos participantes sabe da existência do áudio-livro6 , havendo uma grande maioria que desconhece a maneira como se transforma um livro online em áudio-livro7 , bem como que a variação na influência da qualidade do livro8 e da entonação da voz do narrador9 é a mesma,, sendo que o motivo da influência da entonação da voz explicitado pelos participantes é semelhante10 . Tabela 4: Definição de áudio-livro segundo os participantes. Definição de áudio-livro segundo os participantes E1 E2 E3 E4 E5 Definição Uma voz narrando o conteúdo escrito; isoladamente, não é bom. Livro em áudio. Não respondeu. Muito bom. Muito bom. Fonte: arquivo pessoal. 6 Ver tabela 4. 7 Ver gráfico 5. 8 Ver gráfico 6. 9 Ver gráfico 7. 10 Ver tabela 5. 20% 20% 60% Equipamento utilizado para escrever em braile Ambos Áudio-livro Braile ISSN 1984-2279 1929
  • 12. 12 Gráfico 5: Conhecimento sobre transformar livro digitalizado em áudio-livro. Fonte: arquivo pessoal. Gráfico 6: Influência da qualidade do áudio-livro. Fonte: arquivo pessoal. Gráfico 7: Influência da entonação da voz do narrador do áudio-livro. Fonte: arquivo pessoal. 0 0,5 1 Ambos Áudio-livro Transformar livro digitalizado em áudio-livro No de Participantes 20% 20% 60% Influência da qualidade do áudio-livro Ambos Áudio-livro Braile 20% 20% 60% Influência da entonação da voz do narrador do áudio-livro Ambos Áudio-livro Braile ISSN 1984-2279 1930
  • 13. 13 Tabela 5: causa(s) da influência da entonação da voz do narrador do áudio-livro. Causa(s) da influência da entonação da voz do narrador do áudio-livro E1 E2 E3 E4 E5 Causa(s) Voz chata não desperta o interesse Não respondeu. Quando há muitas pausas ou é narrado muito rapidamente, sem haver interpretação de diálogos, etc, não desperta interesse Não encontra influência. Não encontra influência. Fonte: arquivo pessoal. Sobre o acesso a áudio-livro, levou-se em primeiramente em consideração se estes possuem acesso a um computador e a internet, pois caso não possuíssem, seria complexo utilizar tal recurso. Todos os participantes responderam positivamente a estas duas perguntas. Com isso, analisou-se se eles conhecem locais onde se tem áudio-livros disponíveis11 , se o utilizam e onde os obtém12 . Gráfico 8: Conhecimento quanto a locais que disponibilizam áudio-livros. Fonte: arquivo pessoal. 11 Ver gráfico 8. 12 Ver tabela 7. 50% 50% Conhecimento quanto a locais que disponibilizam áudio-livros Ambos Áudio-livro ISSN 1984-2279 1931
  • 14. 14 Tabela 7: Utilização de áudio-livros e locais onde obtém. Utilização de áudio-livros e locais onde obtém E1 E2 E3 E4 E5 Utilização Utiliza Utiliza pouco Não utiliza Utiliza Utiliza Onde obtém CIADEVA, SENAC Santo Amaro e Cento Cultural de São Paulo Não especificou onde obtém Não utiliza, mas sabe que é possível obter no CIADEVA e na fundação Dorina Nowill Não sabe onde obter. Não sabe onde obter. Fonte: arquivo pessoal. Todas as questões elucidadas acima, visavam introduzir o tema da questão de pesquisa, o qual é respondido nos dados contidos a seguir, ou seja, aqueles referentes a preferência do meio de acesso a literatura utilizado pelas pessoas cegas bem como suas implicações positivas e negativas. Sobre a preferência do meio de acesso, percebeu-se que o braile tem grande destaque, estando presente em 80% das respostas, como é possível analisar no gráfico abaixo. Gráfico 9: Preferência do meio de acesso. Fonte: arquivo pessoal. Sobre as implicações positivas da utilização do braile, houve a prevalência pelo conhecimento da gramática, tendo havido também respostas sobre a confiabilidade, o desenvolvimento da coordenação motora fina, a 20% 20% 60% Preferência do meio de acesso Ambos Áudio-livro Braile ISSN 1984-2279 1932
  • 15. 15 possibilidade de reler com facilidade algum determinado trecho, como ilustra a tabela a seguir: Tabela 8: Implicações positivas da utilização do braile. Implicações positivas da utilização do braile E1 E2 E3 E4 E5 Confiabilidade, conhecimento da gramática e da ortografia Conhecimento da gramática Conhecimento da gramática, desenvolvimen to da coordenação motora fina, tato, etc. Conhecimento da gramática, o que gera facilidade ao escrever redações. Possibilidade de poder reler com facilidade trechos que não compreendeu gerando maior compreensão do que foi lido Fonte: arquivo pessoal. Sobre as implicações negativas da utilização do braile, foi apontada principalmente a velocidade da leitura (lenta) e a falta de portabilidade, outras implicações foram apontadas, havendo também participantes que não vislumbram nenhuma implicação negativa na utilização do braile, como mostra a tabela a seguir. Tabela 9: Implicações negativas da utilização do braile. Implicações negativas da utilização do braile E1 E2 E3 E4 E5 Leitura lenta, quantidade grande de folhas Leitura lenta e quantidade de folhas Pouco material em Braile, quantidade de folhas e desgaste natural. Nenhuma. Nenhuma. Fonte: arquivo pessoal. Já quanto às implicações positivas da utilização do áudio-livro, os itens mais apontados foram à portabilidade, sobre as implicações negativas, diferentemente do que os pesquisadores acreditavam no início da pesquisa, somente foi citado um único fator, sendo este o desconhecimento da gramática, como ilustra a tabela a seguir. ISSN 1984-2279 1933
  • 16. 16 Tabela 10: Implicações positivas e negativas da utilização do áudio-livro. Implicações positivas e negativas da utilização do áudio-livro E1 E2 E3 E4 E5 Positivas Leitura rápida, portabilidade Leitura rápida Portabilidade, agilidade. Não citou nenhuma implicação. Maior facilidade para compreender o conteúdo da bíblia Negativas Desconheci- mento da gramática e da ortografia Nenhuma Desconheci- mento da gramática Desconhecimento da gramática Não encontrou nenhuma implicação negativa Fonte: arquivo pessoal. Por fim, julgou-se interessante analisar um fato marcante da vida do participante que envolvesse um meio de acesso, partindo do conceito de valorização das experiências dos mesmos. A seguir têm-se as respostas dos mesmos. Tabela 11: Fato marcante relacionado ao braile e/ou ao áudio-livro. Fato marcante relacionado ao braile e/ou ao áudio-livro E1 O acesso à literatura em braile e áudio (depois de ficar cego). E2 Como eu terminava a leitura em braile rapidamente, um professor me fez ler um livro em braile do lado inverso (conta rindo o participante). E3 Quando eu trabalhava com estética, ficava falando alto para estudar o conteúdo de um concurso público e minhas clientes adoravam minha voz. E4 Foi quando li o áudio-livro d história do Marly e Eu, pois tenho um cachorro que é adestrado pra ser cão guia, então conforme a história ia passando eu fui pensando nele e me emocionei muito. E5 Em áudio-livro que eu possuo em casa (da bíblia), está escrito em Josué “enfrenta-te e tem bom animo” e é o que a gente têm que faze né, mesmo sendo cego não devemos ficar triste. Devemos enfrentar, ter bom ânimo e Jesus nos ajudará, é isso que eu percebo com todas essas coisas que eu vejo ( ele ri ) que eu vejo não, que eu ouço, claro. Fonte: arquivo pessoal. ISSN 1984-2279 1934
  • 17. 17 Conclusões Pode-se, prioritariamente, concluir que ambos os meios de acesso estudados possuem suas implicações positivas e negativas, de tal forma que as pessoas cegas tendem a optar por ambos, mas apesar disso, em termos de preferência o braile prevalece drasticamente. Este fato é interessante, pois ao se analisar os dados, pode-se perceber que existem mais implicações negativas em relação ao braile do que ao áudio livro. O fato de haver menos implicações negativas em relação ao áudio-livro do que ao braile surpreendeu os pesquisadores envolvidos, que acreditavam que o resultado seria o oposto. Um fator que se acreditava que seria explicitado no decorrer da pesquisa é a preferência pelo meio de acesso de acordo com o tipo da cegueira, mas devido ao fato de ter-se um número maior de cegos adquiridos do que congênitos, bem como ao pequeno número de participantes, não foi possível elucidar essa questão, deixando-a para outra pesquisa. Também é importante ressaltar o fato de que, até o momento, todos os participantes envolvidos foram alfabetizados em uma instituição especializada em pessoas com deficiência visual, de tal forma que quando forem entrevistados participantes que não estão sob a ótica dessa realidade, existe a possibilidade de haver grande modificação nos resultados. Por fim, pode-se concluir que de acordo com os resultados encontrados, independentemente das implicações negativas do braile estarem em maior número do que do áudio-livro, as pessoas cegas continuam preferindo o primeiro meio citado, de tal forma que é importante elaborar pesquisas que visem melhorar ou sanar as implicações negativas do braile, tornando-o mais portátil, aumentando sua agilidade na hora da leitura, trabalhando a questão do desgaste manual das letras do alfabeto de seis pontos a partir do manuseio de ISSN 1984-2279 1935
  • 18. 18 seu usuário e, por fim, a quantidade de folhas em comparação com os textos impressos. Referências BARRAGA, N. C. Disminuidos visuales y aprendizaje. Madrid: ONCE, 1985. CIERCO, J. Braille y las nuevas tecnologias. Entre dos mundos, n. 19, pp. 61-65, Madrid, Ed. ONCE., ago 2002. DALLABRIDA, A. M.; LUNARDI, G. M. O acesso negado e a reiteração da dependência: a biblioteca e o seu papel no processo formativo de indivíduos cegos. Cadernos Cedes, Campinas, v. 28, n. 75, p. 191-208, 2008. HERTLEIN, J. Braille: requisito imprescindible para la enseñanza y formación de las personas ciegas.. Entre dos mundos, n. 12, pp. 5-13, Madrid, Ed. ONCE., out 1998. MAZZOTTA, M. J. S. Educação Especial no Brasil: História e Políticas Públicas. 5ed. São Paulo: Cortez, 2005. 208 p. REIS, M. X. dos; EUFRÁSIO, D. A.; BAZON, F.V.M. A formação do professor para o ensino superior: prática docente com alunos com deficiência visual. Educação em Revista, Belo Horizonte, v. 26, n. 1, Abr. 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-46982010000100006&script=sci_arttext>. Acesso em: 13 jun. 2011. RUEDA, C. S. Utilización de la información contextual en la lectura braille. Entre Dos Mundos, nº 19, pp. 5-11. Madrid, Ed. ONCE., out 1995 SAMPIERI, R. H.; COLLADO, C. F.; LUCIO, P. B. O processo de pesquisa e os enfoques quantitativo e qualitativo. In_____. Metodologia de pesquisa. São Paulo: McGraw-Hill, 2006. 2-21. TEMPORINI, E. R.; KARA-JOSÉ, N. A perda da visão – estratégias de prevenção. Arq Bras Oftalmol, v. 67, n. 4, p. 597-601. 2004. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/abo/v67n4/21405.pdf>. Acesso em: 20 dez. 2011. ISSN 1984-2279 1936