O documento discute o papel e tratamento das mulheres em países do Oriente Médio e do sul da Ásia, com base nos relatos de jovens que viveram nessas regiões. Ele descreve como as mulheres são obrigadas a usar véus e roupas conservadoras, enfrentam segregação dos homens e têm menos direitos e liberdades. No entanto, também observa que as novas gerações desejam mais independência.
1. Direitos
cobertos por um véu
Jovens contam como as mulheres são tratadas
Divulgação
e seu papel na sociedade em países do Oriente
E
m tempos de globalização, ainda vemos discussões acirradas sobre
padrões de comportamento. Modos de vida aceitos pelo ocidente são
rejeitados pelo oriente e vice-versa, ao invés de serem entendidos co-
mo variantes de um mundo culturalmente heterogêneo. No caso do
tratamento da mulher não poderia ser diferente. Em países do oriente,
influências religiosas ajudam a delinear traços de uma identidade feminina marca-
da pela submissão ao masculino. À mulher é destinada uma posição hierarquica-
mente inferior ao homem, que atua sempre como dominante na sociedade.
Mas, de que forma os ocidentais enxergam estas diferenças em países com
legislação e religião mais restritos? O que justifica estes padrões comportamentais
e valores que regem estas mulheres e as fazem diferentes? Conversamos com jo-
vens brasileiros que já viveram em países orientais conhecidos por sua forte influ-
ência religiosa e com jovens nativos desses locais para conhecer um pouco das
diferenças sobre a posição da mulher na sociedade.
Março/2010 Revista Expansão | 41
2. [ EspEcial mulhEr ]
Entre usar e respeitar
A primeira imagem que nos vem à cabeça quando pen-
samos em países como Irã ou Afeganistão é provavelmente a
de mulheres cobertas com lenços, em roupas conhecidas como
burca (veste que cobre todo o corpo) ou hijab (lenço que escon-
de apenas o cabelo das mulheres e deixa seu rosto à mostra).
O uso dessas vestimentas causa polêmica ao redor do mundo,
pois muitos ocidentais pensam que elas simbolizam a desigual-
dade sexual e o aprisionamento das mulheres, enquanto os mu-
çulmanos –religião dominante em muitos países orientais – afir-
mam que os trajes preservam a dignidade da mulher e não as
degradam de forma alguma.
A estudante de arquite-
tura iraniana Mina Zarfsaz rela-
ta que desde, a revolução que
ocorreu no Irã, país localizado
no Oriente Médio, em 1979, não
existe mais separação entre go-
verno e religão e que as leis fa-
Cobrir os cabelos e esconder o corpo são atitudes vistas
voráveis às mulheres que exis- como submissão e repressão à liberdade feminina
tiam anteriormente foram alte-
radas. Alguns meses depois da
A relações públicas Ju-
revolução foi anunciado que to-
liana Marques, do Paraná, há
Mina Zarfsaz das as mulheres deveriam tra-
quatro meses no Egito, observa
jar o hijab em público, enquan-
que o país é bastante religioso,
to os homens estão livres para vestir o que quiserem. Mina re-
mas acredita que muitos sigam
side atualmente na Europa e não veste o véu por opção própria
os hábitos somente por obriga-
quando está longe do Irã.
ção. “Teoricamente as mulheres
usam burca para seguir a reli-
Fotos: Divulgação
gião e demonstrar respeito, co-
mo um modo diferente de en-
tenderem que devem ser sub-
missas.” Mas um amigo egípcio Juliana Marques
lhe falou que muitas mulheres
usam os trajes, mas não os respeitam. “Eles são uma fachada
para o que elas realmente fazem ou gostariam de fazer. Por isso
aqui é quase como qualquer outro lugar do mundo, só que algu-
mas coisas estão escondidas por baixo dos panos”, explica.
O paranaense Rafha-
el Bueno Dalto morou por um
ano na Malásia, país no sudes-
te asiático. Ele conta que o lo-
cal é um grande pólo turísti-
co, mas que nas praias não se
usa trajes de banho: todos en-
tram no mar com roupas. Lá, ao
contrário de outros países mu-
çulmanos, as vestimentas usa-
das pelas mulheres são colori-
Rafhael Bueno Dalto
das. “Elas usam véu na cabeça
e uma túnica que cobre o cor-
po todo, mas é bonito porque demonstra que para respeitar a
religião você pode ser vestir de maneira alegre, ao invés de se
cobrir totalmente de preto”, lembra.
42 | Revista Expansão Março/2010
3. Estrangeiras COMPLETA MENTE SAUDÁVEL
No dia 8 de março, também
Pouco frágeis Dia Internacional da Mulher,
A jornalista Bárbara Teles, de Minas Gerais, completamos três anos de atendimento
mora na Líbia, país no norte da África, desde ja- à comunidade e à essência feminina
neiro de 2009. Ela não se sente à vontade para
andar a pé sozinha pelas ruas. “Não que algo físi-
co possa me acontecer, mas me sinto incomoda-
da com a forma como as pessoas me olham por
eu estar de calça jeans e cabelos soltos.” Bárbara
poderia passar despercebida se cobrisse o cabe-
lo, mas prefere não adotar essa opção. Ela expli-
ca que as líbias têm uma imagem da mulher oci-
Bárbara Teles dental similar àquela vendida em filmes e revis-
tas, de certa forma vulgar. “Mas tenho visto que
as mulheres libanesas pouco têm de frágil e que de certo modo nascem saben-
do que precisarão ser fortes, independentemente do horizonte para o qual têm
permissão para olhar.” Saúde e bem-estar em busca
de melhor qualidade de vida
Fotos: Divulgação
Cada vez mais cedo temos que nos preocupar
com a saúde e melhorar nossa qualidade de vida.
Você já começou a cuidar da sua forma física? A
prática de exercícios físicos é muito importante.
Alie uma boa alimentação à prática contínua de
uma atividade física. Assim, você estará investin-
do em uma vida mais longa e saudável.
A Vic Center oferece opções tentadoras que
farão você sair da rotina.
Vão aí algumas dicas de atividades aquáticas
super dinâmicas.
Confira também nossos serviços estéticos.
- Hidrobike
- Hidrojump
- Hidroginástica
- Natação
O uso da burca divide opiniões, enquanto alguns acreditam que ela simboliza a repres- - Nado Sincronizado
são sexual, outros a vêem como ferramenta de preservação da dignidade da mulher - Hidroterapia
- Massagem Ayurvédica,
shirodhara, swedana
Renan Caixeiro Almeida, também jorna- e drenagem
lista de Minas Gerais, está há dois meses no Egi- - Salão de beleza
to, trabalhando em uma empresa de consultoria. - Tratamento Facial
Ele já percebeu que os homens egípcios são tra- - Design de sobrancelhas
dicionalistas e respeitosos com as muçulmanas,
mas não tanto quando se trata de estrangeiras.
“Eles não têm vergonha de elogiar, dizer que são Aguardamos você para uma aula experimental
ou uma avaliação estética gratuitamente.
bonitas e flertar.” Mas, avisa que não é recomen-
dado às mulheres usarem camisetas e roupas
que exponham partes do corpo como ombros
ou pernas, mesmo no verão. “O que ouvi aqui é
que isso não é bem visto e as mulheres podem
até ser insultadas”, explica. Renan Caixeiro Almeida
Março/2010 Revista Expansão | 43
4. [ EspEcial mulhEr ]
A segregação
A iraniana Mina explica que a separação entre os sexos
em seu país foi instituída de tal forma que em diversos locais, Aqui, as casas são
desde salas de aula até ônibus, são segregados por gêneros. construídas de modo que
Na Líbia, as mulheres não socializam com os homens, nem em há uma sala para eles e
ambiente particular. “Aqui, as casas são construídas de modo
outra para elas.
que há uma sala para eles e outra para elas”, revela Bárbara. Ela
conta que quando estão na rua, olham para o chão para evitar
contato visual com os homens e andam sempre como se esti-
vessem com pressa.
A estudante de Design
Fotos: Divulgação
de Moda Gisele Pelisoli saiu de
Porto Alegre no início de 2009
para ensinar inglês para crian-
ças na Índia. Ela já passou por
dificuldades por ser mulher, es-
pecialmente devido ao precon-
ceito. “As mulheres devem estar
cedo em casa, entre oito e nove
horas da noite. Não é bom que
uma mulher seja vista à noite
sem a família.” Gisele explica Gisele Pelisoli
que existem casas noturnas e
festas, mas que em geral somente mulheres casadas frequen-
tam, sempre com seus maridos.
Em alguns países do Oriente, ainda que tenham alto grau de
instrução, elas não têm os mesmos direitos que os homens
Trabalho
No Irã, de acordo com Mina, as mulheres podem ser elei-
tas para cargos do governo e quase 70% dos estudantes de ci-
ência e engenharia são mulheres, mas elas, mesmo com alto
grau de educação, não têm os mesmos direitos que os homens.
O testemunho de uma mulher no tribunal tem a metade do va-
lor do de um homem e muitas leis não permitem alguns direi-
tos básicos às mulheres. Elas não podem lutar contra essas leis
porque ações assim seriam consideradas contrárias à base de
um governo religioso.
Na Líbia, Bárbara conta que existe inserção de mulheres
no mercado de trabalho, mas que não é muito comum, visto que
cabe a elas cuidar da casa e da família. Quando solteiras, fica a
critério do pai se podem ter uma profissão, e quando casadas, é
decisão do marido se vão ter alguma atividade além da domésti-
ca. Bárbara trabalha em uma grande empresa de construção civil
na Líbia e afirma que em seu ambiente de trabalho existe uma
No Irã, as mulheres até podem trabalhar mas não é muito comum, hierarquia: um homem dificilmente aceitaria ser gerenciado por
visto que a prioridade deve ser cuidar da casa e da família uma mulher, principalmente se for uma mulher local.
44 | Revista Expansão Março/2010
5. Fotos: Divulgação
A maternidade é algo para o qual as mulheres são quase
que exclusivamente preparadas desde muito cedo
Relacionamento
Na Índia, a portoalegrense Gisele aprendeu que
as meninas são criadas para casar, e que a idade máxi-
ma para o matrimônio é 25 anos – se a mulher não tem
alguém em vista, a família encontra um homem e faz um
casamento arranjado, ainda muito comum naquele pa-
ís. Quando se casam, as mulheres se mudam para a ca-
sa da família do noivo, e a nova família pode fazer o que
quiser com a vida da menina, desde mudar o jeito de ela
se vestir, o cabelo ou mandar parar de trabalhar. “Aqui as
mulheres são submissas. Muitas vezes quando converso
com um homem e discordo de alguma coisa, percebo o
choque deles ao serem contrariados”, observa.
Para os curiosos sobre a poligamia, Bárbara conta
que na Líbia o homem pode ter até quatro esposas, des-
de que ele trate todas de modo igualitário e justo e que
a primeira esposa concorde com o fato de ele ter outras.
Mas poucos são os homens que têm duas mulheres, o
país ainda está blindado contra a crise. “As gerações que
praticavam poligamia quase estagnaram na década de
60 e 70 devido à mudança econômica, então ter mais de
uma mulher ficou fora de moda.”
O iraniano Sina
Farahmand conta que
as mulheres, tradicional-
mente, são símbolos de
excelentes donas de ca-
sa em seu país. Mas seu
comportamento é dife-
rente de acordo com a
idade e grupo social, e
existe um grande movi-
mento do tradicionalis-
mo para o modernismo. Sina Farahmand
“Novas gerações bus-
cam ser mais independentes, querem continuar seus es-
tudos, trabalhar. As meninas têm a mente mais aberta,
algumas delas até têm namorados, o que antes era con-
siderado muito estranho”, conta.
Março/2010 Revista Expansão | 45
6. [ EspEcial mulhEr ]
A rainha na direção
Poliana Lopes/Divulgação
A
s mulheres lutaram durante o
A soberana de Feliz demonstra
século passado para conquistar
direitos e independência, e pe- feminilidade e determinação no
lo caminho deixaram um mundo comando do caminhão da família
transformado. Hoje, com mais
poder do que nunca em suas mãos, abrem
portas da sociedade para entrar também em Soberana
empregos majoritariamente masculinos. Para Em maio de 2009, um Digo Glaeser/Divulgação
provar que elas conseguem – e sem perder a dos sonhos de Fernanda tornou-
graça e a elegância – a rainha de Feliz, Fernan- se realidade e sua rotina mudou
da Winter, 20 anos, assume parte dos negócios completamente: foi eleita rainha
da família e a direção de um caminhão. de Feliz. Ela é soberana até 2011,
Fernanda vai a Porto Alegre diariamente e durante esse período tem mui-
na cabine de um caminhão, dirigindo o veículo to trabalho para fazer, receben-
que leva os hortifrutigranjeiros da família para a do convidados e divulgando fes-
Ceasa. Simpática e muito falante, ela conta que tas do município – neste ano, se-
dirigir é o que mais ama fazer na vida. “Com rão o Festival Nacional do Cho-
dez anos já dirigia um carro no terreno da mi- pp, em abril, e a Fenamor, em
nha casa e com 15 já conduzia um caminhão”. novembro.
Há um ano, desde que tem a carteira A jovem mantém a hu-
de motorista, sua rotina envolve as idas para mildade e simplicidade, mesmo
a capital pela manhã e retorno à noite. “Meu com a importante posição que
pai volta comigo até a Unisinos, onde eu fico assumiu. “Sendo rainha ou não,
para minhas aulas de Administração de Em- o que vale é a pessoa que tu és”, reflete. E desse modo ela segue
presas e ele segue dirigindo nosso caminhão com suas ambições, com os sonhos de quem quer ter seu pró-
para casa”. Mas quando estão todos juntos, prio negócio e com o trabalho e estudos – e ainda sobra tempo
quem tem a preferência para dirigir? “Ah, eu, para divulgar a cidade e cuidar da vaidade, com a delicadeza de
é claro”, revela, com humor. uma rainha e a força e firmeza na direção de um caminhão.
46 | Revista Expansão Março/2010
8. [ EspEcial mulhEr ]
A DOCE
voz feminina
C
om canções que falam so-
A portoalegrense Vivi Fields
bre relacionamentos, uni-
verso feminino, sonhos prova que as mulheres
e conquistas, a portoale- marcam presença na música
grense Vivi Fields, 35 anos,
apresenta sua voz doce e marcante e
Igor Sperotto/Divulgação
mostra por que as mulheres entraram
no mundo da música para ficar. Fã da
cantora canadense Alanis Morissete, Vi-
vi conta que ela é sua maior inspiração
para cantar. “Todas as músicas da Alanis
são composições próprias e suas obras
são como uma autobiografia. Ela mesma
faz a produção dos seus CDs e do palco
de seus shows.”
Vivi lembra que quando começou
a tocar em bares, restaurantes e casas
noturnas, há mais de dez anos, não ha-
via muitas mulheres na música, mas afir-
ma que hoje essa realidade mudou, em- A cantora se prepara para lançar CD com composições próprias
bora a maioria dos músicos ativos ainda
sejam homens. “Atualmente as mulheres
interpretam suas próprias canções, não Apresentações
são mais somente intérpretes de outros Vivi é filha de um músico tradicionalista e cresceu em um am-
compositores.” biente musical. Ela toca violão e gaita de boca e iniciou sua carreira
Após muitos anos fazendo covers profissional como cantora em 1995, aos 21 anos, apesar de já cantar
de outros músicos – especialmente mu- em uma paróquia em Porto Alegre desde os 13 anos. Ela se formou
lheres, como Madonna, Shakira, Janis em Letras na Unisinos e trabalhava no hospital da Ulbra, mas há
Joplin, Joss Stone, Marisa Monte, Rita quatro anos decidiu largar tudo para dedicar-se somente à música.
Lee e, claro, sua favorita Alanis Morissete Atualmente, trabalha em vários projetos musicais parale-
– Vivi Fields está pronta para gravar seu los, entre eles o Vivi Fields e Banda, a banda Yellowstone, perfor-
álbum com composições próprias, em in- mances em dupla e solo. Todas as quartas-feiras e sábados toca
glês e português, que deve ser lançado no café Santo de Casa, na Casa de Cultura Mário Quintana, e às
ainda este ano. “Pode-se esperar do meu quintas-feiras no Entreato Pub, ambos em Porto Alegre. Outros
CD músicas pop rock com pitadas de folk locais que contam duas vezes por mês com sua presença são o
e estilo soft rock. Minhas composições Riversides Shikki Café, o Barbazul, o bar Opinião, o Cult Pub e o
são um retrato do que sempre ouvi.” Su- Abbey Road, todos também na capital.
as canções são suaves e leves como sua Suas apresentações costumam ter grande receptividade e
voz. “É muito importante a interpretação identificação com o público. “Como toco em lugares fixos algu-
de uma música composta pelo próprio mas pessoas vão especificamente para assistir ao show. Recebo
artista, assim ele revela também um pou- um enorme carinho dos que admiram o meu trabalho, isso é o ali-
co do seu eu, na sua própria poesia”, reflete. mento do artista”, conclui.
48 | Revista Expansão Março/2010
10. [ Estética & bElEza ]
Pixel Imagem Digital/Divulgação
Neste visual,
cria-se uma atmosfera
angelical, como nos
personagens de filmes
de contos de fadas.
Uma criatura pura e
imaculada, apesar
da aparência frágil
tem um forte poder
de sedução. Os cílios
de plumas brancas
lembram as asas
dos anjos. Modelo:
Shelega Bock (Joy
Model Management)
50 | Revista Expansão Março/2010