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COMO VIVER PARA SER
                       FELIZ?
O que disseram os sábios gregos


     Prof. Aldenei Barros
Conhecimento e bondade (Platão).
No grego antigo, várias palavras traduziam distintos
aspectos da felicidade. A principal delas era
eudaimonia, derivada dos termos eu ("bem-
disposto") e daimon ("poder divino"). Trata-se da
felicidade entendida como um bem ou poder
concedido pelos deuses. Isso significa que a
felicidade era tida como uma espécie de fortuna ou
acaso - enfim, um bem instávelque dependia tanto
da conduta pessoal, como da boa vontade divina
(cf. LAURIOLA, De eudaimonia à felicidade...,
Revista Espaço Acadêmico, n. 59).
Para      entender     a     concepção       platônica  de
felicidade, precisamos compreender primeiramente sua
doutrina sobre a alma humana, contida na obra A
república. Para Platão, o ser humano é essencialmente
alma, que é imortal e existe previamente ao corpo. A
união da alma com o corpo é acidental, pois o lugar
próprio da alma não é o mundo sensível, e sim o mundo
inteligível. A alma se dividiria em três partes:
- alma concupiscente - situada no ventre e ligada aos
desejos carnais;
- alma irascível - situada no peito e vinculada às paixões;
e
- alma racional - situada na cabeça e relacionada com o
conhecimento.
A vida feliz de uma pessoa dependeria da devida
subordinação e harmonia entre essas três almas. A alma
racional regularia a irascível, e esta controlaria a
concupiscente, sempre com a supervisão da parte
racional. Há, portanto, uma primazia da parte racional
sobre as demais.
Para apoiar essa tarefa, Platão propunha duas práticas:
- ginástica - atividade física por meio da qual a pessoa
dominaria as inclinações negativas do corpo; e
- dialética - método de dialogar (praticado por Sócrates)
pelo qual se ascenderia progressivamente do mundo
sensível (que Platão considerava ilusório) ao mundo
inteligível (que ele considerava verdadeiro), onde se
encontram as ideias perfeitas (que correspondem
ao máximo grau de conhecimento e à realidade
verdadeira).
Por meio dessas práticas - especialmente da
dialética - a alma humana penetraria o mundo
inteligível, conhecido como mundo das ideias, e se
elevaria sucessivamente mediante a contemplação
das ideias perfeitas, até atingir a ideia suprema, que
é a ideia do bem.
Essa supremacia deve-se a que, para Platão, o bem é
a causa de todas as coisas justas e belas que
existem, incluindo as outras ideias perfeitas, como
justiça, beleza, coragem. Sem o bem não há
nenhuma delas, inclusive a ideia perfeita de
felicidade.
Questão Filosófica

Elabore uma reflexão sobre a importância da
ginástica, como propunha Platão (e a
educação grega em geral), ou de uma
atividade física sistemática em sua
vida. Como você se sente quando
a pratica? Que resultados concretos
obtém? Você vê relação entre os resultados e
a teoria platônica sobre a felicidade?
Vidas teórica e prática (Aristóteles).
Ocorre frequentemente, na história da filosofia, que
um discípulo acabe não sendo um seguidor fiel das
doutrinas de seu mestre e que até se oponha a ele em
vários aspectos, desenvolvendo um pensamento
independente e original.
É o caso de Aristóteles (384-322 a.C.), que refutou a
teoria do mundo das ideias, pilar da filosofia
platônica, propondo um pensamento que, embora
valorizasse                a                atividade
intelectual,    teórica,     contemplativa      como
fundamental, resgatava o papel dos bens
humanos, terrenos, materiais para alcançar uma vida
boa.
Aristóteles concordava com Platão que a finalidade última
de todos os indivíduos é a felicidade; mas como alcançá-
la? Sua resposta:

[...] o que é próprio de cada coisa é, por natureza, o que há
de melhor e de aprazível para ela; e assim, para o homem
a vida conforme a razão é a melhor e a mais aprazível, já
que a razão, mais que qualquer outra coisa, é o
homem. Donde se conclui que essa vida é também a mais
feliz (ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco, p. 190).

Podemos       assim     resumir    a     resposta     do
filósofo, desenvolvida de maneira ampla e expressiva em
sua obra Ética a Nicômaco:
- Aristóteles afirma que um ser só alcança seu fim quando
cumpre a função (ou faculdade) que lhe é própria e o distingue
dos demais seres, isto é, sua virtude.
A palavra virtude é entendida aqui como aquela propriedade
de um ser que lhe é mais característica e essencial, cuja
aplicação conduz à excelência ou perfeição desse ser. Por
exemplo: a virtude de uma faca é o seu corte, de uma
laranjeira é produzir laranjas, de um dentista é tratar os dentes.
- O ser humano dispõe de uma grande quantidade de funções
ou                                                      faculdades
(caminhar, correr, comer, sentir, dormir, desejar, obrar, amar e
tc.), mas outros animais parecem também possuí-las. A única
faculdade que só ele possui e que o distingue dos
demais seres é a de pensar, especialmente a atividade
racional. Essa seria, portanto, sua virtude essencial.
- Assim, o ser humano só alcançará seu fim (a felicidade) se
atuar conforme sua virtude, a razão.
Para Aristóteles, portanto, não basta ter uma virtude (a
racionalidade). É preciso praticá-la. O ser humano precisa
esforçar-se para realizar aquilo que lhe é dado pela
natureza como potência (possibilidade de ser).
Desse modo, o filósofo preconizava que, para atingir a
felicidade verdadeira, o indivíduo deveria dedicar-se
fundamentalmente à vida teórica, no sentido de uma
contemplação intelectual, buscando observar a beleza e a
ordem do cosmo, a autêntica realidade das coisas. E
essa forma de atuar deveria manter-se durante a vida
inteira,
[...] porquanto uma andorinha não faz verão, nem um dia
tampouco; e da mesma forma um dia, ou um breve espaço
de tempo, não faz um homem feliz e venturoso. (Ética a
Nicômaco, p. 16).

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Como os sábios gregos viam a felicidade

  • 1. COMO VIVER PARA SER FELIZ? O que disseram os sábios gregos Prof. Aldenei Barros
  • 2. Conhecimento e bondade (Platão). No grego antigo, várias palavras traduziam distintos aspectos da felicidade. A principal delas era eudaimonia, derivada dos termos eu ("bem- disposto") e daimon ("poder divino"). Trata-se da felicidade entendida como um bem ou poder concedido pelos deuses. Isso significa que a felicidade era tida como uma espécie de fortuna ou acaso - enfim, um bem instávelque dependia tanto da conduta pessoal, como da boa vontade divina (cf. LAURIOLA, De eudaimonia à felicidade..., Revista Espaço Acadêmico, n. 59).
  • 3. Para entender a concepção platônica de felicidade, precisamos compreender primeiramente sua doutrina sobre a alma humana, contida na obra A república. Para Platão, o ser humano é essencialmente alma, que é imortal e existe previamente ao corpo. A união da alma com o corpo é acidental, pois o lugar próprio da alma não é o mundo sensível, e sim o mundo inteligível. A alma se dividiria em três partes: - alma concupiscente - situada no ventre e ligada aos desejos carnais; - alma irascível - situada no peito e vinculada às paixões; e - alma racional - situada na cabeça e relacionada com o conhecimento.
  • 4. A vida feliz de uma pessoa dependeria da devida subordinação e harmonia entre essas três almas. A alma racional regularia a irascível, e esta controlaria a concupiscente, sempre com a supervisão da parte racional. Há, portanto, uma primazia da parte racional sobre as demais. Para apoiar essa tarefa, Platão propunha duas práticas: - ginástica - atividade física por meio da qual a pessoa dominaria as inclinações negativas do corpo; e - dialética - método de dialogar (praticado por Sócrates) pelo qual se ascenderia progressivamente do mundo sensível (que Platão considerava ilusório) ao mundo inteligível (que ele considerava verdadeiro), onde se encontram as ideias perfeitas (que correspondem ao máximo grau de conhecimento e à realidade verdadeira).
  • 5. Por meio dessas práticas - especialmente da dialética - a alma humana penetraria o mundo inteligível, conhecido como mundo das ideias, e se elevaria sucessivamente mediante a contemplação das ideias perfeitas, até atingir a ideia suprema, que é a ideia do bem. Essa supremacia deve-se a que, para Platão, o bem é a causa de todas as coisas justas e belas que existem, incluindo as outras ideias perfeitas, como justiça, beleza, coragem. Sem o bem não há nenhuma delas, inclusive a ideia perfeita de felicidade.
  • 6. Questão Filosófica Elabore uma reflexão sobre a importância da ginástica, como propunha Platão (e a educação grega em geral), ou de uma atividade física sistemática em sua vida. Como você se sente quando a pratica? Que resultados concretos obtém? Você vê relação entre os resultados e a teoria platônica sobre a felicidade?
  • 7. Vidas teórica e prática (Aristóteles). Ocorre frequentemente, na história da filosofia, que um discípulo acabe não sendo um seguidor fiel das doutrinas de seu mestre e que até se oponha a ele em vários aspectos, desenvolvendo um pensamento independente e original. É o caso de Aristóteles (384-322 a.C.), que refutou a teoria do mundo das ideias, pilar da filosofia platônica, propondo um pensamento que, embora valorizasse a atividade intelectual, teórica, contemplativa como fundamental, resgatava o papel dos bens humanos, terrenos, materiais para alcançar uma vida boa.
  • 8. Aristóteles concordava com Platão que a finalidade última de todos os indivíduos é a felicidade; mas como alcançá- la? Sua resposta: [...] o que é próprio de cada coisa é, por natureza, o que há de melhor e de aprazível para ela; e assim, para o homem a vida conforme a razão é a melhor e a mais aprazível, já que a razão, mais que qualquer outra coisa, é o homem. Donde se conclui que essa vida é também a mais feliz (ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco, p. 190). Podemos assim resumir a resposta do filósofo, desenvolvida de maneira ampla e expressiva em sua obra Ética a Nicômaco:
  • 9. - Aristóteles afirma que um ser só alcança seu fim quando cumpre a função (ou faculdade) que lhe é própria e o distingue dos demais seres, isto é, sua virtude. A palavra virtude é entendida aqui como aquela propriedade de um ser que lhe é mais característica e essencial, cuja aplicação conduz à excelência ou perfeição desse ser. Por exemplo: a virtude de uma faca é o seu corte, de uma laranjeira é produzir laranjas, de um dentista é tratar os dentes. - O ser humano dispõe de uma grande quantidade de funções ou faculdades (caminhar, correr, comer, sentir, dormir, desejar, obrar, amar e tc.), mas outros animais parecem também possuí-las. A única faculdade que só ele possui e que o distingue dos demais seres é a de pensar, especialmente a atividade racional. Essa seria, portanto, sua virtude essencial. - Assim, o ser humano só alcançará seu fim (a felicidade) se atuar conforme sua virtude, a razão.
  • 10. Para Aristóteles, portanto, não basta ter uma virtude (a racionalidade). É preciso praticá-la. O ser humano precisa esforçar-se para realizar aquilo que lhe é dado pela natureza como potência (possibilidade de ser). Desse modo, o filósofo preconizava que, para atingir a felicidade verdadeira, o indivíduo deveria dedicar-se fundamentalmente à vida teórica, no sentido de uma contemplação intelectual, buscando observar a beleza e a ordem do cosmo, a autêntica realidade das coisas. E essa forma de atuar deveria manter-se durante a vida inteira, [...] porquanto uma andorinha não faz verão, nem um dia tampouco; e da mesma forma um dia, ou um breve espaço de tempo, não faz um homem feliz e venturoso. (Ética a Nicômaco, p. 16).