3. Questões filosóficas.
Como surgiu o universo?
Como são essencialmente as coisas?
Qual é o lugar do ser humano no universo?
Como se entende o espaço?
4. Metafísica – A busca da realidade essencial
O que é o ser
Definir o substantivo ser no contexto filosófico é uma tarefa
bastante delicada.
Como se observa em relação a vários outros conceitos
filosóficos, cada pensador deu uma pincelada, tirou ou
acrescentou algo, às vezes até colocando suas distintas
interpretações em contradição.
E quanto mais abstrato o conceito, mais isso parece ocorrer.
Podemos dizer, no entanto, de maneira simplificada, que ser é
um termo genérico usado para se referir a qualquer coisa que é,
qualquer coisa que existe - por exemplo, um homem, uma
mulher, um pássaro ou uma pedra.
Nesse sentido, o termo mais adequado e específico seria ente.
5. O que é o ser
Normalmente, porque esses entes "se apresentam" a nós de
maneira caracteristicamente própria e distinta - isto é, de tal forma
que um não se confunde com outro, como um pássaro não se
confunde com uma pedra, uma mesa ou um ser humano -,
tendemos a pensar que eles são algo caracteristicamente próprio e
distinto.
Ora, se supomos que todas essas "coisas" são de maneira
caracteristicamente própria e distinta, acabamos inferindo que elas
"têm" algo que lhes é inerente, intrínseco, essencial, que as
constitui e determina.
Portanto, o termo ser também pode ser definido, stricto sensu,
como aquilo que uma coisa (um ser ou ente) é ou "tem" que lhe é
próprio e que não depende de outros seres ou de quaisquer
circunstâncias para ser.
O ser, neste último sentido, ficou conhecido mais tarde, no jargão
filosófico, como coisa em si, expressão adotada pelo filósofo
alemão Immanuel Kant no século XVIII.
Assim, no primeiro sentido, seria a coisa; no segundo, a coisa em
si.
6. O que é o ser
Inerente - que está em algo (ou alguém), fazendo parte
dele de maneira inseparável.
Intrínseco - que vem de dentro e faz parte de algo (ou
alguém) como próprio (por oposição a extrínseco, que vem
de fora).
Assim, articulando a primeira acepção de ser com a
segunda, podemos entender que o estudo do "ser
enquanto ser" é o estudo daquilo que existe em seus
termos mais essenciais e absolutos.
Por isso dizemos que a metafísica é a busca da realidade
fundamental de qualquer coisa ou de tudo.
É a tentativa de saber como as coisas são de verdade,
livres das aparências.
7. Ontologia e metafísica
A definição "ciência do ser enquanto ser" foi formulada por Aristóteles para o
que ele chamava filosofia primeira (aquela que vem antes e fundamenta todas
as outras).
A palavra metafísica, porém, não existia ainda em sua época.
Acredita-se que teria surgido no século I a.C. com a expressão grega tà metà tà
physiká para referir-se às "[obras] depois da física" [de Aristóteles], passando a
ser usada como unidade semântica (metaphysiká) somente na Idade Média (cf.
LALANDE, Vocabulário técnico e crítico da filosofia, vl. II, p. 83.).
Durante o século XVII, no entanto, cunhou-se um novo termo, ontologia (do
grego óntos, "ser" + logia), que significa literalmente estudo do ser (enquanto
ser).
A partir do século XVIII, a ontologia começou a ser entendida, por alguns
estudiosos, como uma disciplina independente da metafísica, já que a
metafísica incluía também outras investigações (cosmológicas, teológicas,
epistemológicas), não apenas as ontológicas.
Apesar dessa distinção, ainda hoje as palavras metafísica e ontologia são
empregadas com frequência como sinônimas em diversos contextos.
8. Problemas da Realidade
Distintas intuições do mundo levaram a distintas
reflexões sobre a natureza fundamental da realidade.
9. Problemas da Realidade
Algumas pessoas olham um cachorro e veem apenas um
ser que é como uma máquina biológica, que está aí para
nos ajudar ou incomodar.
Outras enxergam esse mesmo cão como um ser
inteligente e sensível, com direitos semelhantes aos dos
humanos.
Algumas pessoas olham o céu e pensam em um espaço
repleto de corpos siderais.
Outras fazem o mesmo e entendem que aí existem seres
sobrenaturais, Deus ou deuses, anjos etc.
Algumas pessoas veem um copo com água pela metade e
entendem que está meio cheio; outras, que está meio
vazio.
10. Problemas da Realidade
Os primeiros filósofos - por primeiros filósofos nos
referimos aos pensadores gregos da Antiguidade - fizeram
isso.
Eles procuraram descobrir não apenas a origem de cada
ser, ou de tudo o que existe, mas também seu propósito,
sua finalidade.
Alguns se perguntaram sobre a constituição de cada coisa,
ou de todas as coisas, e se havia uma relação, uma ordem
ou uma hierarquia entre tudo o que existe.
Outros se voltaram para os processos observados na
realidade, como o crescimento e o envelhecimento,
vinculados ao passar do tempo.
11. Problemas da Realidade
Substância.
Quando observamos as coisas em busca de sua natureza
intrínseca, fundamental, essencial, tendemos a pensar
naquilo que, em filosofia, se designa substância.
Não se trata da substância como comumente a
entendemos hoje, isto é, uma entidade material qualquer
(por exemplo, leite ou cal), que pode ser concebida
também física ou quimicamente (por exemplo, cálcio ou
óxido de cálcio).
Na metafísica, especula-se a respeito da substância de
qualquer coisa: dos corpos, dos pensamentos, das
palavras ou mesmo de Deus.
12. Problemas da Realidade
Substância.
Quando observamos as coisas em busca de sua natureza
intrínseca, fundamental, essencial, tendemos a pensar
naquilo que, em filosofia, se designa substância.
Não se trata da substância como comumente a
entendemos hoje, isto é, uma entidade material qualquer
(por exemplo, leite ou cal), que pode ser concebida
também física ou quimicamente (por exemplo, cálcio ou
óxido de cálcio).
Na metafísica, especula-se a respeito da substância de
qualquer coisa: dos corpos, dos pensamentos, das
palavras ou mesmo de Deus.
13. Problemas da Realidade
Devir ou vir a ser.
Quando pensamos que todo ser deve ter uma substância, isto é,
uma realidade necessária e constante, estamos observando a
permanência nas coisas, aquilo que não varia (ou que supomos
que não varia).
No entanto, alguns filósofos - o primeiro foi Heráclito, que
estudaremos mais tarde - olharam para o universo e tiveram uma
intuição distinta.
Eles focalizaram sua atenção sobre a mudança.
Nesse caso, em vez de realizar uma reflexão sobre o ser,
desenvolveram uma sobre o vir a ser.
Vir a ser ou devir são termos sinônimos que se referem ao
processo de transformação dos seres e das coisas, ao conjunto de
mudanças que se manifestam à medida que o tempo evolui.
"Talvez nada permaneça no universo, tudo seja devir", pensaram
alguns estudiosos.
Nesse caso, se podemos falar em "essência" da realidade, ela seria
a impermanência.
14. Problemas da Realidade
Causa e causalidade
Até agora estávamos trabalhando alguns conceitos
metafísicos vinculados à pergunta "o quê?": "O que é tal
coisa?", "O que é essencial nela?", "O que é acidental?".
Mas, quando olhamos o mundo e seus fenômenos para
procurar entendê-los, também tendemos a perguntar "por
quê?".
Ao fazer isso, estamos investigando as causas - ou, em
metafísica, as causas primeiras, fundamentais.
Como escreveu Aristóteles, "não acreditamos conhecer
nada antes de ter apreendido cada vez o seu porquê (isto
é, apreendido a primeira causa)
15. Problemas da Realidade
Causa e causalidade
Aristóteles distinguia quatro tipos de causa: material,
eficiente, formal e final.
Modernamente, no entanto, quando falamos em causa,
estamos nos referindo geralmente àquilo que dá origem,
ou induz a algo mais, ou que o determina (uma
combinação entre as causas material e eficiente, do
filósofo grego).
Esse algo mais é o efeito, justamente aquilo que queremos
compreender, o que nos remete a uma causa.
Causa e efeito seriam, portanto, coisas ou fenômenos que
supomos vinculados por uma relação de causalidade, isto
é, de "influência" da primeira (a causa) sobre o segundo (o
efeito).
16. Problemas da Realidade
Causa e causalidade
Assim, a busca pela causa traz implícita a noção de que
todo ser, fenômeno ou acontecimento deve ter sido
originado ou determinado por outro ser ou acontecimento
que o precede no tempo.
Trata-se do chamado princípio de causalidade, o qual
sustenta que todo fenômeno tem uma causa.
O princípio de causalidade acabou tornando-se um dos
princípios fundamentais do pensamento moderno e
contemporâneo, especialmente nas ciências.