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Sumário 
IParte - A revelação 
1. Revelação Divina ..............................................................................................................4 
2. Paradoxo, Mistério e Contradição ........................................................................................7 
3. Revelação Geral Imediata e 
Mediada ..................................................................................9 
4. A Revelação Especial e a 
Bíblia ........................................................................................11 
5. A Lei de Deus..................................................................................................................12 
6. Os Profetas de Deus........................................................................................................13 
7. O Cânon das Escrituras...................................................................................................14 
8. A Interpretação da Bíblia.................................................................................................16 
9. A Interpretação Pessoal ..................................................................................................18 
IIParte - A Natureza e os Atributos de Deus 
10. A Incompreensibilidade de Deus....................................................................................20 
11. A Triunidade de Deus....................................................................................................22 
12. A Auto-Existência de Deus.............................................................................................23 
13. A Onipotência de Deus..................................................................................................24 
14. A Onipresença de Deus..................................................................................................26 
15. A Onisciência de Deus...................................................................................................27 
16. A Santidade de Deus .....................................................................................................29 
17. A Bondade de Deus.......................................................................................................30 
18. A Justiça de Deus..........................................................................................................32 
IIIParte - As Obras e os Decretos de Deus 
19.A Criação......................................................................................................................34 
20. A Providência ...............................................................................................................36 
21. Os Milagres ..................................................................................................................38 
22. A Vontade de Deus........................................................................................................39 
23. A Aliança.......................................................................................................................41 
24. A Aliança das Obras......................................................................................................42 
IVParte - Jesus Cristo 
25. A Divindade de Cristo....................................................................................................44 
26. A Subordinação de Cristo..............................................................................................45 
27. A Humanidade de Cristo................................................................................................46 
28. A Impecabilidade de Cristo............................................................................................47 
29. O Nascimento Virginal...................................................................................................48 
30. Jesus Cristo como o Unigênito.......................................................................................49 
31. O Batismo de Cristo.......................................................................................................51 
32. A Glória de Cristo..........................................................................................................52 
33. A Ascensão de Cristo.....................................................................................................53 
34. Jesus Cristo como Mediador..........................................................................................55 
35. Os Três Ofícios de Cristo ...............................................................................................56 
36. Os Títulos de Jesus.......................................................................................................57 
PARA COMPREENDER AS ESCRITURAS 
O preparo doutrinário dos convertidos é sempre um desafio para a igreja. Onde 
encontrar material? Qual será o nível adequado9 Que formatação e abordagem serão mais 
convenientes? 
É um privilégio apresentar Verdades Essenciais da Fé Cristã aos pastores e líderes. 
Criada por RC Sproul, mestre em Bíblia, essa obra foi originalmente publicada em um só 
volume, mas decidimos dividi-la em três cadernos e acrescentar as perguntas para avaliação e 
discussão, buscando torná-la mais útil no preparo dos crentes. A lista de assuntos dos dois 
outros cadernos encontra-se em cada um deles. 
Nossa época defende que basta crer, não importa em quê. Uma vez que a fé cristã é 
proposicional e a Palavra de Deus é a regra de fé e prática para o cristão, o conflito está 
armado e precisaremos de boa bagagem bíblica para resistir aos ataques do subjetivismo, do 
relativismo ou do agnosticismo dos nossos dias. 
Esta série certamente vai ajudar-nos a melhor compreender as Escrituras e a termos 
1
1 
mais firmeza em nossa fé. 
Por isso, bom estudo. 
Cláudio Marra–Editor 
PARTE 
I
1 
REVELAÇÃO DIVINA 1 
Salmos 19.1-14; Efésios 3.1-13; 2 Timóteo 3.14-17; Hebreus 1.1-4 
Tudo o que sabemos sobre o Cristianismo nos foi revelado por Deus. Revelar 
significa “tirar o véu”. Tem a ver com remover a cobertura e descobrir algo que está 
encoberto. 
Quando meu filho era pequeno, nossa família desenvolveu uma tradição anual 
para comemorar seu aniversário. Em vez da prática geral de entregar os presentes, 
fazíamos isso por meio da nossa versão caseira do programa de televisão “Vamos Fazer 
um Trato”. Eu escondia os presentes destinados a ele, por exemplo, dentro de uma 
gaveta, debaixo do sofá ou atrás de uma cadeira. Então lhe dava algumas opções: 
“Você pode ganhar o que está na gaveta da minha escrivaninha ou o que está no meu 
bolso”. O ponto principal do jogo era o “grande trato do dia”. Eu colocava três 
cadeiras, uma ao lado da outra, cada uma delas coberta com um lençol. Cada lençol 
encobria um presente. Na primeira cadeira colocávamos um presente simples, na 
segunda o presente principal que ele iria ganhar e sobre a terceira uma muleta que ele 
havia usado quando quebrou a perna aos sete anos de idade. 
Meu filho escolheu a cadeira com a muleta por três anos consecutivos! (No final, 
sempre permitíamos que trocasse a muleta pelo presente.) No quarto ano, estava 
determinado a não escolher mais a muleta. Desta vez, eu escondi o presente principal 
junto com a muleta, na mesma cadeira, e deixei a ponta da muleta aparecendo por 
baixo do lençol. Ao ver a ponta da muleta, meu filho evitou cuidadosamente aquela 
cadeira. Ganhei de novo! 
A parte mais divertida da brincadeira era tentar adivinhar onde o presente estava 
escondido. Tratava-se contudo de um trabalho de mera suposição, pura especulação. 
A descoberta do verdadeiro tesouro só podia ser feita depois que o lençol era removido 
e o presente ficava exposto. 
O mesmo acontece com o nosso conhecimento de Deus. A especulação fútil sobre 
Deus é mera tolice. Se queremos conhecê-lo de verdade, temos de depender daquilo 
que ele revela sobre si mesmo. 
A Bíblia declara que Deus se revela de várias maneiras. Manifesta sua glória na 
natureza e por meio dela. Revelou-se nos tempos antigos por meio desonhose visões. 
As marcas da sua providência se manifestam nas páginas da História. Revela-se nas 
Escrituras inspiradas. O ponto mais alto da sua revelação é visualizado em Jesus 
Cristo, tornando-se ser humano — o que os teólogos chamam de “encarnação”. 
O autor da Carta aos Hebreus escreveu: 
Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, 
pelos profetas, nestes últimos dias nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro 
de todas as coisas, pelo qual também fez o universo. Hebreus 1.1,2 
Embora a Bíblia fale das “diversas maneiras” em que Deus se revela, 
distinguimos entre dois tipos principais de revelação — a geral e a especial. 
A revelação geral é chamada assim por duas razões: (1) ela é geral no conteúdo e 
(2) é revelada para uma audiência geral. 
Conteúdo geral 
A revelação geral nos proporciona o conhecimento de que Deus existe. “Os céus 
proclamam a glória de Deus”, diz o salmista. A glória de Deus é manifesta nas obras 
das suas mãos. Essa manifestação é tão clara e visível que nenhuma criatura pode
deixar de percebê-la. Ela revela o poder eterno de Deus e sua divindade (Rm 1.18-23). 
A revelação na natureza, porém, não proporciona uma revelação plena de Deus. Não 
nos dá informações sobre o Deus Redentor que encontramos na Bíblia. O Deus que se 
revela na natureza, entretanto, é o mesmo Deus que se revela na Bíblia. 
Público geral 
Nem todas as pessoas no mundo já leram a Bíblia ou ouviram a proclamação do 
Evangelho. A luz da natureza, porém, brilha sobre todos, em todos os lugares, em 
todo o tempo. A revelação geral de Deus acontece diariamente. Deus nunca fica sem 
um testemunho de si mesmo. O mundo visível é como um espelho que reflete a glória 
do seu Criador. 
O mundo é um palco para Deus. Ele é o ator principal, que aparece em primeiro 
plano e no centro. Nenhuma cortina pode fechar-se para obscurecer sua presença. 
Basta um olhar de relance na criação para se perceber que a natureza não é sua 
própria mãe. Não existe a tal “Mãe Natureza”. A natureza em si mesma não tem 
poderes para produzir qualquer tipo de vida. A natureza, em si, é estéril. O poder de 
produzir vida reside no Autor da natureza—Deus. Colocar a natureza como a fonte de 
vida é confundir a criatura com o Criador. Todas asformas de adoração da natureza, 
portanto, são atos de idolatria e silo abomináveis para Deus. 
A luz da força da revelação geral, todo ser humano sabe que Deus existe. O 
ateísmo envolve a negação total de algo que é reconhecido como verdadeiro. Por isso a 
Bíblia diz: “Diz o insensato no seu coração: Não há Deus” (SI 14.1). Quando as 
Escrituras tratam tão severamente o ateu, chamando-o de “insensato”, elas estão 
fazendo um julgamento moral dele. Ser insensato, em termos bíblicos, não significa 
ter pouco entendimento ou falta de inteligência; é ser imoral. Como o temor do Senhor 
é o princípio da sabedoria, assim a negação de Deus é o máximo da loucura. 
1 
DEUS 
REVELAÇÃO 
SERES HUMANOS 
Semelhantemente, o agnóstico nega a validade da revelação geral. () agnóstico, 
porém, é menos berrante que o ateu. Ele não nega terminantemente a existência de 
Deus. Pelo contrário, ele declara que as evidências são insuficientes para se decidir de 
uma maneira ou de outra quanto à existência de Deus. Prefere suspender seu 
julgamento, deixando o tema da existência de Deus uma questão em aberto. A luz da 
clareza da revelação geral, entretanto, a posição do agnosticismo não é menos 
abominável para Deus do que a do ateísta militante. 
Para qualquer pessoa, porém, cuja mente e coração'estão abertos, a glória de 
Deus é maravilhosa de se ver — desde os bilhões de universos no firmamento, até as 
partículas subatômicas que formam a menor das moléculas. Que Deus incrível nós 
servimos! 
Sumário 
1.O cristianismo é uma religião revelada. 
2.A revelação de Deus é uma automanifestação. Ele remove o véu que nos impede de 
conhecê-lo. 
3.Não podemos conhecer a Deus por meio de especulação. 
4.Deus se revelou de várias maneiras ao longo da História. 
5.A revelação geral é comunicada a todos os seres humanos. 
6.O ateísmo e o agnosticismo são baseados na negação daquilo que as pessoas sabem
ser a verdade. 
7.A insensatez tem por fundamento a negação de Deus. 
8.A sabedoria tem por fundamento o temor de Deus. 
Para discussão e avaliação 
1.Qual a diferença entre “Conteúdo geral” e “público geral”? 
2.Que argumentos o autor usa para combater a ideia da natureza como “mãe”? 
3.Qual a diferença entre ateísmo e agnosticismo? 
4.Que revelações sobre o caráter e a natureza de Deus podem ser observadas na natureza? 
5.Há alguma forma convincente de tentarmos explicar a origem da vida e de todas as 
coisas criadas excluindo completamente a existência de Deus? Porquê? 
6.Certas pessoas ouvem a pregação da Palavra de Deus por muitos anos sem nenhuma 
reação diante de suas verdades. Permanecem indiferentes a tudo o que diz respeito a 
Deus e às coisas santas. Mas, no momento em que se convertem, tudo aquilo que 
sempre ouviram com indiferença passa a fazer sentido para eles e de repente sua atenção 
é despertada. O que aconteceu com essas pessoas que chegam até mesmo a dizer: “Como 
é que eu não compreendi isso antes?” 
1 
Revelação geral: 
Deus, o Criador. 
Revelação Especial: 
Deus o Redentor, é 
revelado aos que 
ouvem. 
Revelação comunicada a 
todos os humanos
PARADOXO, MISTÉRIO E CONTRADIÇÃO 2 
Mateus 13.11; Mateus 16.25; Romanos 16.25-27; 1 Coríntios2.7; 1Coríntios 14.33 
Ainfluência de vários movimentos em nossa cultura, tais como a Nova Era, as religiões 
orientais e a filosofia irracional tem provocado uma crise no entendimento. Uma nova forma de 
misticismo tem surgido, a qual exalta o absurdo como a marca registrada da verdade religiosa. 
Lembremo-nos da máxima do Zen Budismo, de que “Deus é uma mão batendo palmas” como uma 
ilustração desse padrão. 
Dizer que Deus é uma mão batendo palmas tem uma ressonância profunda. Tal afirmação 
confunde a mente consciente, pois é um golpe nos padrões normais de pensamento. Soa “profundo” 
e intrigante, até analisarmos cuidadosamente e descobrirmos que na raiz é simplesmente destituída 
de sentido. 
A irracionalidade é um tipo de caos mental. Fundamenta-se na confusão que se opõe ao Autor 
de toda a verdade, o qual não é de forma alguma autor de confusão. 
O Cristianismo bíblico é vulnerável a tais correntes de irracionalidade exaltada, porque 
irracionalidade admite candidamente que existem muitos paradoxos e mistérios na própria Bíblia. 
Existem linhas que separam o paradoxo, o mistério e a contradição; embora sejam tênues, essas 
linhas divisórias são cruciais e é importante que aprendamos a distingui-las. 
Quando tentamos perscrutar as profundezas de Deus, somos facilmente confundidos. 
Nenhum mortal pode compreender a Deus exaustivamente. A Bíblia revela coisas sobre Deus que 
sabemos serem verdadeiras, a despeito da nossa incapacidade de entendê-las totalmente. Não 
temos um ponto de referência humano para entender, por exemplo, um ser que é três em termos de 
pessoa, mas um só em essência (a Trindade), ou um ser que é uma pessoa com duas naturezas 
distintas, humana e divina (a pessoa de Cristo). Essas verdades, tão certas, como são, são 
“elevadas” demais para podermos compreendê-las. 
Encontramos problemas similares no mundo natural. Sabemos que a força da gravidade 
existe, mas não a entendemos e nem tentamos defini-la como irracional ou contraditória. Amaioria 
das pessoas concorda que o movimento é uma parte integrante da realidade, embora a essência do 
movimento em si tenha deixado filósofos e cientistas perplexos por milênios. Há muito mistério 
sobre a realidade e muitas coisas que não entendemos. Isso, porém, não justifica um salto no 
absurdo. A irracionalidade é fatal tanto para a religião como para a ciência. De fato, ela é mortal 
para qualquer verdade. 
O filósofo cristão Gordon H. Clark certa vez definiu um paradoxo como “uma cãibra entre as 
orelhas”. Seu comentário espirituoso destina-se a destacar que aquilo que às vezes é chamado de 
paradoxofreqüentemente nada mais é do que preguiça mental. Clark, entretanto, reconhecia 
claramente o papel legítimo e a função do paradoxo. A palavraparadoxo vem de uma raiz grega que 
significa “parecer ou aparentar”. Paradoxos são difíceis de entender porque à primeira vista 
“parecem” contradições, mas quando são sujeitos a um exame minucioso, freqüentemente pode-se 
encontrar as soluções. Por exemplo, Jesus disse: Quem perde a vida por minha causa achá-la-á 
(Mt.10:39). Aparentemente, isso soa semelhante à declaração de que “Deus é uma mão batendo 
palmas”. Soa como uma contradição. O que Jesus queria dizer, contudo, é que se alguém perde sua 
vida em um sentido, irá encontrá-la em outro sentido. Já que a perda e a salvação têm sentidos 
diferentes, não há contradição. Eu sou pai e filho ao mesmo tempo, mas obviamente não no mesmo 
relacionamento com a mesma pessoa. 
O termo paradoxo é freqüentemente mal-interpretado como sendo sinônimo de contradição, 
agora, inclusive, aparece em alguns dicionários como um significado secundário desse termo. Uma 
contradição é uma afirmação que viola a lei clássica da não-contradição. A Lei da não-contradição 
declara que A não pode ser A e não-A ao mesmo tempo e no mesmo contexto. Quer dizer, algo não 
pode ser o que é e não ser o que é ao mesmo tempo e no mesmo contexto. Essa é a mais 
fundamental de todas as leis da lógica. 
Ninguém pode entender uma contradição, porque uma contradição é inerentemente 
incompreensível. Nem mesmo Deus pode entender contradições; entretanto, certamente ele pode 
reconhecê-las pelo que são—falsidades. A palavra contradiçãovem do latim “falar contra”. Às vezes 
1
é chamada uma antinomia, que significa “contra a lei”. Para Deus, falar em contradições seria ser 
intelectualmente anormal, falar com uma língua bipartida. Até mesmo insinuar que o Autor da 
verdade poderia cair em contradição seria um grande insulto e uma blasfêmia irresponsável. A 
contradição é a arma do mentiroso — o pai da mentira, que despreza a verdade. 
Existe uma relação entre mistério e contradição, que facilmente nos leva a confundir ambos. 
Não entendemos mistérios. Não podemos entender contradições. O ponto de contato entre ambos os 
conceitos é seu caráter ininteligível. Os mistérios podem não ser claros para nós agora 
simplesmente porque nos falta a informação ou a perspectiva para entendê-los. A Bíblia promete 
que no céu teremos mais luz sobre os mistérios que agora não podemos entender. Mais luz pode 
resolver os atuais mistérios. Não existe, entretanto, luz suficiente nem no céu nem na Terra para 
resolver uma óbvia contradição 
Sumário 
1.Paradoxoé uma contradição aparenteque, quando examinada com mais cuidado, pode 
apresentar uma solução. 
2.Mistério é algo desconhecido para nós no presente, mas que pode ser solucionado. 
3.Contradição é uma violação da Lei da não-contradição. E impossível ser resolvida, tanto 
pelos mortais como pelo próprio Deus, tanto neste mundo como no mundo vindouro. 
Para discussão e avaliação 
1. Quais são alguns dos mistérios da fé e da natureza que o autor cita neste capítulo? 
2. Qual é o ponto em comum entre mistério e contradição? E em que aspecto eles são 
1 
diferentes? 
3. Por causa dos seus paradoxos, a Bíblia tem sido considerada a “mãe de todas as heresias”. 
Com que auxílio contamos, a partir de textos bíblicos como 2 Coríntios 4.3-6 e João 
14.16,17 e 26 para não cairmos no erro de ensinar falsas idéias a partir de textos 
extraídos da própria Bíblia? 
4. A Bíblia fala de um mistério que esteve oculto desde os tempos eternos, mas que foi 
revelado à humanidade através da vida e obra de Jesus Cristo (Rm.16.25-27). Você crê 
que outros mistérios só serão revelados na eternidade, quando estivermos junto ao Pai? 
Quais seriam alguns destes mistérios para você? 
5. Qual é a sua atitude diante da Bíblia quando você se depara comtextos que apresentam 
aparentes contradições?
REVELAÇÃO GERAL IMEDIATA E MEDIADA 3 
Salmos 19.1-4; Atos 14.8-18; Atos 17.16-34; Romanos 1.18-23; Romanos 2.14-15 
Quando eu era menino e minha mãe queria que fizesse algo para ela sem demora, acentuava a 
ordem usando o advérbio imediatamente. Ela dizia: “Filho, vá para o seu quartoimediatamente”. 
Minha mãe usava a palavra imediatamente para referir-se a um evento no tempo que devia 
ocorrer sem qualquer bloco de tempo intermediário. Na teologia, o termo imediato significa algo 
mais. Significa que algo acontece sepassar por nenhum agente, objeto ou meio intermediários. E 
uma ação que ocorre sem a participação de intermediários. 
Na teologia bíblica podemos distinguir dois tipos de revelação geral— aquela que é 
comunicada por meio de um agente intermediário e aquela que é comunicada diretamente. Quando 
falamos de revelação geral mediada, nos referimos à revelação transmitida por meio de alguma 
coisa. Quando os céus revelam a Deus, tornam-se os mediadores, ou o meio pelo qual Deus 
manifesta sua glória. Neste sentido, todo o universo é um meio de revelação divina. A criação dá 
testemunho do seu Criador. 
A Bíblia diz que a toda a Terra está repleta da glória de Deus. Lamentavelmente, com 
freqüência nós ignoramos essa glória que nos cerca. Temos a tendência de viver de maneira 
superficial. Estamos desatentos diante da maravilha que Deus nos proporciona em sua gloriosa 
criação. Estamos desligados e fora de contato. As idéias religiosas são inúteis se não expressam 
algo real. 
A presença sublime de Deus está em toda a nossa volta. Ainda assim, muitas vezes estamos 
cegos e surdos para ela. Não compreendemos sua linguagem. Exige mais do que simplesmente 
parar para cheirar as flores. A flor contém mais do que um aroma suave ou um perfume agradável. 
Ela transpira a glória do seu Criador. Todos nós estamos em contato com a revelação divina, 
quando reconhecemos a glória de Deus na natureza. A natureza não é divina. A glória de Deus, 
entretanto, enche a natureza e é revelada nela e por meio dela. 
Além de revelar sua glória indiretamente por meio da criação, Deus também se revela 
diretamente à mente humana. Essa é chamada revelação geral imediata. 
O apóstolo Paulo fala da Lei de Deus escrita em nosso coração (Rm.2.12-16). João Calvino 
falou sobre um senso do divino, o qual Deus implanta na mente de cada pessoa. Ele disse: 
Nós, inquestionavelmente, afirmamos que os homens têm em si mesmos certo senso da 
divindade; e isto, por um instinto natural. ...Deus mesmo dotou todos os homens com certo 
conhecimento de sua divindade, cuja memória ele constantemente renova e ocasionalmente 
amplia. (Institutas, II,I,43). 
Todas as culturas atestam a presença de alguma atividade religiosa, confirmando a incurável 
natureza religiosa da humanidade. Os seres humanos são religiosos no seu âmago. O caráter de tal 
religiosidade pode ser grosseiramente idolatra, mas até mesmo a idolatria, ou melhor, 
principalmente a idolatria, dá uma evidência desse conhecimento inato que pode ser distorcido, mas 
jamais destruído. Lá bem no fundo da nossa alma nós sabemos que Deus existe e que nos deu suas 
Leis. Procuramos sufocar esse conhecimento a fim de escapar dos seus mandamentos. Por mais 
que nos esforcemos, porém, não podemos calar essa voz interior. Ela pode ser abafada, mas jamais 
ser destruída. 
1
Sumário 
1. A glória de Deus é evidente em toda a nossa volta. Ela é mediada pela criação de Deus. 
2. Os seres humanos são religiosos por natureza. 
3. Deus implanta em todos os seres humanos um conhecimento inato de si mesmo. Isso se 
1 
chama revelação geral imediata. 
Para discussão e avaliação 
1. Como a natureza é instrumento para a revelação geral mediada de Deus? 
2. Onde é que Deus implantou o senso inato de si mesmo nos seres humanos? 
3. Que fato confirma a natureza religiosa da humanidade? 
4. Se toda a humanidade tem a lei de Deus gravada em seus corações, porque nem 
todos obedecem a esta lei? 
5. É possível pessoas não terem o conhecimento da Palavra de Deus e mesmo assim 
levarem vidas honestas e íntegras, em relação aos padrões dos homens? 
6. A revelação de Deus através da natureza é suficiente para a salvação de alguém? (Rm 
1.18-23) 
7. A consciência humana funciona como um indicador da existência de Deus? Porquê?
REVELAÇÃO ESPECIAL E A BÍBLIA 4 
Salmos 119; João 17.17; 1 Tessalonicenses 2.13; 2 Timóteo 3.15-17; 2 Pedro 1.20-21 
Quando foi tentado por Satanás no deserto, Jesus o repreendeu com as palavras: “Está 
escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus” (Mt 
4.4). Historicamente, a igreja tem efeito ecoar o ensino de Jesus, afirmando que a Bíblia é a 
vox Dei, a “voz de Deus” ou o verbum Dei, a “Palavra de Deus”. Chamar a Bíblia de “a Palavra 
de Deus” não significa sugerir que ela foi escrita pela própria mão de Deus, ou que caiu do céu 
num pára-quedas. A própria Bíblia claramente chama a atenção para seus muitos autores 
humanos. Se a estudarmos cuidadosamente, percebemos que cada autor humano tem seu 
próprio estilo literário peculiar, seu próprio vocabulário, ênfase especial, perspectiva e outros 
aspectos. Já que a produção da Bíblia envolveu esforço humano, como pode ser ela 
considerada Palavra de Deus? 
Bíblia é chamada de Palavra de Deus por causa da sua reivindicação, acreditada pela 
igreja, de que os escritores humanos não escreveram simplesmente suas próprias opiniões, 
mas que suas palavras foram inspiradas por Deus. O apóstolo Paulo escreve: “Toda Escritura 
é inspirada por Deus” (2 Tm 3.16). A palavra inspiração é uma tradução da palavra grega que 
significa “sopro de Deus”. Quer dizer, Deus soprou a Bíblia. Assim como temos de expelir ar 
de nossa boca quando falamos, assim, em última análise, a Bíblia é Deus falando. 
Embora a Bíblia tenha chegado a nós por intermédio das mãos de autores humanos, a 
fonte suprema das Escrituras é Deus. Por isso os profetas podiam prefaciar suas palavras, 
dizendo: “Assim diz o Senhor”. Por isso Jesus também podia dizer: “A tua palavra é a verdade” 
(Jo 17.17) e “a Escritura não pode falhar” (Jo 10.35). 
A palavra inspiração também chama a atenção para o processo pelo qual o Espírito Santo 
superintendeu a produção da Bíblia. O Espírito guiou os autores humanos para que as 
palavras deles não fossem nada menos que a Palavra de Deus. Não sabemos como Deus 
superintendeu a redação original da Bíblia. Inspiração, entretanto, não significa que Deus 
ditou sua mensagem para aqueles que redigiram a Bíblia. Ao invés disso, o Espírito Santo 
comunicou as exatas palavras de Deus por intermédio dos escritores humanos. 
Os cristãos afirmam a infalibilidade e a inerrância da Bíblia porque, em última análise, 
Deus é seu autor. E porque Deus é incapaz de inspirar algo falso, sua palavra é totalmente 
verdadeira e digna de toda confiança. Qualquer literatura humana, elaborada pelos meios 
normais, está sujeita a erros. A Bíblia, porém, não é um projeto humano normal. Se a Bíblia 
foi inspirada por Deus e a sua redação foi supervisionada por ele, então não pode ter erros. 
Isso não significa que as traduções da Bíblia que temos hoje não estejam isentas de erro, 
mas que os manuscritos originais eram absolutamente corretos. Isso também não significa 
que cada declaração da Bíblia seja a expressão da verdade. O escritor do livro de Eclesiastes, 
por exemplo, declara que “no além para onde tu vais, não há obra, nem projetos, nem 
conhecimento, nem sabedoria alguma” (Ec 9.10). O escritor estava falando do ponto de vista 
do desespero humano e sabemos que esta declaração não expressa a verdade, de acordo com 
outros textos bíblicos. A Bíblia expressa a verdade até mesmo ao revelar a falsa argumentação 
de um homem desesperado. 
Sumário 
1. A inspiração é o processo por meio do qual Deus soprou sua palavra. 
2. Deus é a fonte suprema da Bíblia. 
3. Deus é o superintendente supremo da Bíblia. 
4. Somente os manuscritos originais da Bíblia eram isentos de erros. 
Para discussão e avaliação 
1. O que significa a expressão “A Bíblia é um livro divino-humano”? 
2. O que é inspiração? 
3. Por que o autor afirma que Deus é a fonte suprema da Bíblia? 
4. O que o autor quis dizer ao afirmar que Deus é o superintendente da Bíblia? 
5. Sua fé nas Escrituras seria abalada caso alguma escavação arqueológica descobrisse hoje uma 
terceira carta que Paulo escreveu aos coríntios e que não foi incluída na Bíblia? 
1
6. Como é que podemos saber de fato que o que lemos na Bíblia vem de Deus? 
7. Há alguma coisa, hoje, além da Bíblia, que dita regras e normas de condutas para a vida dos 
crentes? Se sim, a sua autoridade é inferior, superior ou está em pé de igualdade com as 
Escrituras Sagradas? 
8. “O sopro inspirativo” de Deus ainda sopra por outros meios hoje? Quais seriam alguns deles? 
1 
A LEI DE DEUS 5 
Êxodo20:1-17; Salmos 115:3; Mateus 5:17-20; Romanos 7:7-25; Gálatas3:23-29 
Deus governa seu universo por meio de leis. A própria natureza opera sob seu governo 
providencial. As assim chamadas leis da natureza descrevem meramente a maneira normal de 
Deus estabelecer a ordem em seu universo. Essas "leis" são expressões da sua vontade 
soberana. 
Deus não está sujeito a nenhuma lei fora de si mesmo. Não existe nenhuma regra 
cósmica independente a qual Deus seja obrigado a obedecer. Ao contrário, Deus é a sua 
própria lei. Isso significa simplesmente que ele age de acordo com seu próprio caráter moral, o 
qual não só é moralmente perfeito, mas também é o padrão supremo da perfeição. Suas ações 
são perfeitas porque sua natureza é perfeita e ele sempre age de acordo com sua natureza. 
Portanto, Deus nunca é arbitrário, extravagante ou caprichoso. Ele sempre faz o que é certo. 
Como criaturas de Deus, também se requer de nós que façamos o que é certo. Deus exige 
que vivamos segundo sua lei moral, a qual ele nos revelou na Bíblia. Alei de Deus é o padrão 
supremo de justiça e a norma suprema para se julgar o certo e o errado. Como nosso criador 
soberano, Deus tem autoridade para impor obrigações sobre nós, exigir nossa obediência e 
obrigar nossa consciência. Deus também tem o poder e o direito de punir a desobediência 
quando violamos sua lei. (Pecado pode ser definido como desobediência à lei de Deus.) 
Algumas leis na Bíblia são baseadas diretamente no caráter de Deus. Tais leis refletem 
os elementos transculturais e permanentes das relações divinas e humanas. Outras leis foram 
planejadas de acordo com condições temporárias da sociedade. Isso significa que algumas leis 
são absolutas e eternas, enquanto que outras podem ser anuladas por Deus por razões 
históricas, tais como as leis alimentares e cerimoniais de Israel. Somente o próprio Deus pode 
revogar tais leis Os seres humanos em hipótese alguma têm a autoridade para anular as leis 
de Deus 
Não somos autônomos. Ou seja, não podemos viver de acordo com nossas próprias leis. 
A condição moral da humanidade é de heteronomia: vivemos sujeitos à lei de outrem. A forma 
específica da heteronomia sob a qual vivemos é a teonomia, ou seja, a lei de Deus. 
Autonomia = auto nomos = lei própria 
Heteronomia = hetero nomos = lei de outrem 
Teonomia = Theos nomos = lei de Deus 
Sumário 
1. Deus governa o universo por meio de leis. A lei da gravidade é um exemplo de uma das 
leis de Deus para a natureza. As leis morais de Deus são exibidas nos Dez Mandamentos 
2. Deus tem a autoridade para impor obrigações sobre suas criaturas. 
3. Deus age de acordo com a lei do seu próprio caráter. 
4. Deus revela sua lei moral à nossa consciência e nas Escrituras. 
5. Somente Deus tem a autoridade para revogar suas leis. 
Para discussão e avaliação 
1.Por que as leis cerimoniais e dietéticas de Israel foram anuladas por Deus? 
2. Como soberano, que autoridade tem Deus sobre nós, em relação à lei? 
3.Por que a lei de Deus é perfeita? 
4.Que conseqüências podemos sofrer por desobedecer a lei de Deus? Cite alguns 
exemplos. 
5. Que privilégios obtemos em obedecer à lei de Deus?
6. As leis de Deus privam o homem de privilégios que ele poderia desfrutar caso elas não 
1 
existissem? 
OS PROFETAS DE DEUS 6 
Deuteronômio 18.15-22; Isaías 6; Joel2.28-32; Mateus 7.15-20; Efésios 4.11-16 
Os profetas do Antigo Testamento foram pessoas que receberam um chamado único de Deus e 
que receberam suas mensagens de maneira sobrenatural, as quais deveriam transmitir a nós. Deus 
transmitiu sua palavra através dos lábios e dos escritos dos profetas. 
A profecia envolvia predição do futuro (preanunciar) e proclamação e exortação atuais da palavra 
de Deus (anunciar em seguida). Os profetas eram revestidos de tal maneira pelo Espírito Santo que 
suas palavras eram palavras de Deus. Por isso as mensagens proféticas geralmente eram prefaciadas 
com a frase: "Assim diz o Senhor". 
Os profetas foram os reformadores da religião de Israel. Chamavam o povo de volta à adoração 
pura e à obediência a Deus. Embora os profetas fossem críticos quanto à maneira como a adoração dos 
israelitas freqüentemente se degenerava num mero ritual, eles não condenavam nem atacavamas 
formas originais de adoração que Deushaviadado a seu povo. Os profetas não eram revolucionários nem 
anarquistas religiosos Sua tarefa era purificar, não destruir, reformar, não substituir o culto de Israel. 
Os profetas também se preocupavam profundamente com a justiça social e a integridade. Eram a 
consciência de Israel, chamando o povo ao arrependimento. Também funcionavam como promotores 
legais da aliança de Deus. Eles “intimavam” a nação por ter violado os termos da aliança com Deus. 
Os profetas falavam com autoridade divina porque Deus os chamava especificamente para serem 
Seu porta-vozes. Não herdavam sua função, nem eram eleitos para exercê-la. O chamado imediato de 
Deus, juntamente com o poder do Espírito Santo, constituíam as credenciais dos profetas. 
Os falsos profetas foram um problema constante em Israel. Ao invés de proferir os oráculos de 
Deus, transmitiam seus próprios sonhos e opiniões — dizendo ao povo somente o que este queria ouvir. 
Os verdadeiros profetas freqüentemente eram severamente perseguidos e rejeitados por seus 
contemporâneos por se recusarem a comprometer a proclamação de todo o conselho de Deus. 
Geralmente, os livros dos profetas são divididos em "profetas maiores" e "profetas menores". Essa 
distinção não se refere à maior ou menor importância dos profetas, mas ao volume dos seus escritos 
canônicos. Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel são chamados de profetas maiores, porque escreveram 
mais, enquanto que Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, 
Zacarias, Malaquias são referidos como os profetas menores, porque seus livros são bem menores. 
Os apóstolos do Novo Testamento possuíam muitas das características dos profetas do Antigo 
Testamento. Os apóstolos e os profetas juntos são considerados como o fundamento da igreja. 
Sumário 
DEUS = Autor Supremo 
INSPIRAÇÃO 
Autores Humanos 
BÍBLIA 
1. Os profetas do Antigo Testamento foram agentes da revelação divina. 
2. A profecia envolvia pré-anúncio e anúncio. 
3. Os profetas foram os reformadores do culto e da vida dos israelitas. 
4. Somente aqueles chamados diretamente por Deus tinham autoridade para 
serem seus profetas. 
5. Os falsos profetas expressavam suas próprias opiniões e falavam o que o povo queria ouvir. 
6. Profetas maiores e menores são designados assim de acordo com o volume enão pela 
importância dos seus escritos. 
Para discussão e avaliação 
1. Quais eram as credenciais de um profeta no Antigo Testamento? 
2. Qual era o ministério dos profetas no Antigo Testamento? 
3. Hoje em dia, o dom de profeta tem sido muitas vezes entendido pelas igrejas evangélicas como 
aquela pessoa que prevê o futuro, revelando coisas tais como o que vai acontecer com a vida dapessoa, 
com quem ela vai se casar, qual emprego vai arrumar etc. Este tipo de profeta segue o modelo mostrado 
no A. Testamento?
4. Há falta de profetas na igreja de hoje, que mostrem os seus desvios e a chamem de volta ao 
1 
arrependimento e à prática da justiça? Por quê? 
5. Seriam esses profetas hoje tão necessários para a igreja como foram os da época do Antigo 
Testamento para o povo de Israel? Por quê? 
6. Os seus ditos e/ou escritos teriam o mesmo peso de autoridade que os que estão registrados 
na Bíblia? 
7. Quais aspectos da vida e do culto da igreja evangélica seriam repreendidos caso os profetas do 
Antigo Testamento realizassem seus ministérios hoje? 
O CÂNON DAS ESCRITURAS 7 
Lucas 24.44-45; 1 Coríntios 15.3-8; 2 Timóteo 3.16-17; 2 Pedro 1.19-21; 2 Pedro 3.14-16 
Geralmente pensamos na Bíblia como um livro grande. Na verdade, trata-se de uma 
pequena biblioteca composta de 66 livros individuais. Juntos, tais livros compõem o que 
chamamos cânon da Escritura Sagrada. O termo cânon deriva-se de uma palavra grega que 
significa "vara de medir", "padrão", ou "norma". Historicamente, a Bíblia tem sido a regra 
autoritativa de fé e prática na Igreja. 
Com referência aos livros que compõem o Novo Testamento, existe completo acordo entre 
católicos romanos e protestantes. Existe, entretanto, forte divergência entre os dois grupos 
sobre o que deveria ser incluído no Antigo Testamento. Os católicos romanos consideram os 
livros chamados apócrifos como sendo canônicos, enquanto o protestantismo histórico não os 
considera. (Os livros apócrifos foram escritos depois que o Antigo Testamento já estava com-pleto 
e antes que começasse o Novo Testamento.) O debate concernente aos apócrifos 
concentra-se na questão mais ampla do que era considerado canônico pela comunidade 
judaica. Existem fortes evidências de que os apócrifos não eram incluídos no cânon palestino 
dos judeus. Por outro lado, tudo indica que os judeus que viviam no Egito teriam incluído tais 
livros (traduzidos para o grego) no cânon alexandrino. Evidências recentes, entretanto, lançam 
dúvidas sobre isso. 
Alguns críticos da Bíblia argumentam que a Igreja não tinha a Bíblia como tal até quase 
o início do quinto século. Isso, porém, é uma distorção de todo o processo do desenvolvimento 
canônico. A Igreja reuniu-se em concilio em várias ocasiões nos primeiros séculos para decidir 
as disputas sobre quais livros pertenciam propriamente ao cânon. O primeiro cânon formal do 
Novo Testamento foi criado pelo herege Marcião, o qual produziu sua própria versão 
expurgada da Bíblia. Para combatê-lo, a Igreja descobriu que era preciso declarar qual o 
conteúdo exato do Novo Testamento. 
Embora a grande maioria dos livros que atualmente se acham incluídos no Novo 
Testamento claramente funcionava com autoridade canônica desde que foram escritos, houve 
alguns poucos livros cuja inclusão no cânon do Novo Testamento foi muito debatida. Esses 
livros incluíam Hebreus, Tiago, 2 Pedro, 2 e 3 João, Judas e Apocalipse. 
Houve também vários livros que disputavam a condição de canônicos, mas que não 
foram incluídos. A maioria esmagadora desses livros compunha-se de obras espúrias escritas 
por hereges gnósticos do século II. Tais livros nunca receberam uma consideração séria. (Esse 
ponto é menosprezado pelos críticos que alegam que mais de dois mil volumes resultaram 
numa lista de 27. Daí eles perguntam: "Quais são as probabilidades de que os 27 selecionados 
sejam os corretos?") De fato, apenas dois ou três livros que não foram incluídos no cânon 
foram realmente levados em consideração. Foram estes: 1 Clemente, O Pastor de Hermas e O 
Didaquê. Estes livros não foram incluídos no cânon das Escrituras porque não foram escritos 
por apóstolos e os próprios autores reconheceram que a autoridade deles estava subordinada 
aos apóstolos 
Alguns cristãos ficam preocupados com o fato de que houve um processo de seleção 
histórica. Ficam perturbados com a dúvida: "Como podemos saber que o cânon do Novo 
Testamento inclui os livros certos?" A teologia tradicional católica romana responde a essa 
pergunta apelando para a infalibilidade da igreja. A igreja então é vista como "criadora" do 
cânon, tendo, portanto, a mesma autoridade que a própria Bíblia. O protestantismo clássico 
nega que a igreja seja infalível e também que ela "tenha criado" o cânon. A diferença entre o 
catolicismo romano e o protestantismo pode ser resumida da seguinte maneira: 
Visão do Catolicismo Romano.
O Cânon é uma coleção infalível de livros infalíveis. 
Visão do Protestantismo Clássico. 
O Cânon é uma coleção falível de livros infalíveis. 
Visão dos Críticos Liberais. 
O Cânon é uma coleção falível de livros falíveis. 
Embora os protestantes creiam que Deus teve um cuidado especial e providencial para 
assegurar que os livros certos fossem incluídos, nem por isso consideram que ele tenha 
tornado a igreja infalível. Os protestantes também lembram aos católicos romanos que a igreja 
não "criou" o cânon A igreja identificou, reconheceu, recebeu e se submeteu ao cânon das 
Escrituras. O termo usado pela igreja em Concilio foi "recipimus", que significa "nós 
recebemos". 
Qual foi o critério de avaliação dos livros? As assim chamadas marcas de canonicidade 
incluíam o seguinte: 1. Tinham de ter autoria ou endosso apostólico; 2 Tinham de ser 
recebidos como autoritativos pela igreja primitiva; 3. Tinham de estar em harmonia com os 
livros a respeito dos quais não havia dúvidas. 
Embora numa época de sua vida Martinho Lutero tenha questionado a canonicidade de 
Tiago, posteriormente mudou de opinião. Não existe nenhuma razão séria para se ter um 
mínimo de dúvida de que os livros atualmente incluídos no cânon do Novo Testamento não 
sejam os verdadeiros. 
Sumário 
1. O termo cânon deriva-se do grego e significa "norma" ou "padrão". O cânon é usado 
para descrever a lista autoritativa de livros que a igreja reconheceu como Escrituras Sagradas, 
e portanto sua "regra" de fé e prática. 
2. Além dos 66 livros da Bíblia aceitos pelos protestantes, os católicos romanos também 
aceitam os Livros Apócrifos como Escritura autoritativa. 
3. Para combater as heresias, a Igreja descobriu que era preciso declarar quais livros 
tinham sido reconhecidos como sendo autoritativos. 
4. Existem alguns livros no cânon que foram assuntos de debate (Hebreus, Tiago, 2 
Pedro, 2 e 3 João, Judas e Apocalipse) e alguns livros cuja inclusão foi considerada, mas que 
não foram admitidos no cânon, incluindo 1 Clemente, O Pastor de Hermas e O Didaquê. 
5. A Igreja não criou o Cânon, mas apenas reconheceu os livros que tinham as marcas de 
canonicidade e que portanto tinham autoridade na Igreja. 
6. As marcas de canonicidade incluíam: (1) autoria ou endosso apostólico; (2) autoridade 
reconhecida na Igreja primitiva e (3) estar em harmonia com os livros que já faziam parte 
inquestionável do cânon. 
Para discussão e avaliação 
1. Por que os livros apócrifos não foram aceitos pelos protestantes como sendo 
1 
canônicos? 
2. Por que os livros de 1 Clemente, O Pastor de Hermas e O Didaquê não foram incluídos 
no cânon do Novo Testamento? 
3. Como podemos saber que o cânon do Novo Testamento incluiu os livros certos? 
4. Qual a diferença entre a visão dos católicos romanos, dos protestantes e da crítica 
liberal quanto ao cânon? 
5. Que perigo está por trás do fato de aceitarmos a doutrina de que a Igreja criou o 
cânon e não apenas o reconheceu? 
6. Podem homens falhos decidir qual livro é e qual não é inspirado por Deus? Que 
instrumentos utilizaram para isso? 
7. Em que podemos identificar a soberania do Espírito Santo na formação do cânon?
A INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA 8 
Atos 15.15-16; Efésios 4.11-16; 2 Pedro 1.16-21; 2 Pedro 3.14-18 
Qualquer documento escrito, para poder ser compreendido, precisa ser interpretado. 
Nosso país possui indivíduos altamente capacitados, cuja tarefa diária é interpretar a 
Constituição. Eles formam o Supremo Tribunal Federal. Interpretar a Bíblia é uma tarefa 
muito mais solene do que interpretar a Constituição de um país. Requer grande cuidado e 
diligência. 
A Bíblia é o seu próprio Supremo Tribunal. A regra principal de interpretação bíblica é: 
"A Bíblia é sua própria intérprete". Esse princípio significa que a Bíblia deve ser interpretada 
pela própria Bíblia. O que é obscuro em uma parte da Bíblia pode ser esclarecido em outra 
parte. Interpretar a Bíblia pela Bíblia significa que não devemos colocar uma passagem contra 
outra. Cada texto deve ser entendido não somente à luz do seu contexto imediato, mas 
também à luz do contexto da Bíblia como um todo. 
Além disso, entendido adequadamente, o único método legítimo e válido de interpretação 
da Bíblia é o da interpretação literal. Existe, contudo, muita confusão a respeito dessa idéia de 
interpretação. Interpretação literal, estritamente falando, significa que devemos interpretar a 
Bíblia assim como está escrito. Um substantivo é interpretado como substantivo e um verbo, 
como um verbo. Quer dizer que todas as formas usadas na redação da Bíblia devem ser 
interpretadas de acordo com as regras normais que regem tais formas. Poesia deve ser tratada 
como poesia. Relatos históricos devem ser tratados como História. Parábolas como parábolas, 
hipérboles como hipérboles, e assim por diante. 
Nesse aspecto, a Bíblia deve ser interpretada de acordo com as regras que governam a 
interpretação de qualquer outro livro. Em algumas de suas características, a Bíblia é diferente 
de qualquer outro livro que já foi escrito. Em termos de interpretação, entretanto, deve ser 
tratada como qualquer outro livro. 
A Bíblia não deve ser interpretada de acordo com nossos próprios desejos e preconceitos. 
Devemos buscar entender o que ela de fato diz e nos guardarmos de forçar nossos próprios 
pontos de vista sobre ela. Este é o passatempo dos hereges: buscar base bíblica para 
doutrinas falsas que não têm base no texto. O próprio Satanás citou as Escrituras de maneira 
ilegítima, num esforço para seduzir Jesus Cristo a pecar (Mt 4.1-11). 
A mensagem básica da Bíblia é simples e clara o suficiente para que até uma criança 
possa entender. Mesmo assim, o "alimento sólido" da Bíblia requer estudo e atenção 
cuidadosos para ser entendido adequadamente. Algumas questões tratadas na Bíblia são tão 
complexas e profundas que mantêm os maiores eruditos constantemente envolvidos no 
esforço de resolvê-las. 
Existem alguns princípios de interpretação que são básicos para todo estudo saudável da 
Bíblia. Incluem o seguinte: (1) As narrativas devem ser interpretadas à luz das passagens de 
"ensino". Por exemplo, a história de Abraão oferecendo Isaque no Monte Moriá pode sugerir 
que Deus não sabia que Abraão tinha uma fé genuína. As passagens didáticas da Bíblia, 
porém, deixam claro que Deus é onisciente; (2) aquilo que é implícito sempre deve ser 
interpretado à luz do que é explícito; nunca deve ser o contrário. Isto é, se um texto específico 
parece ter uma idéia ou lição implícita, não devemos aceitar a implicação como correta se for 
contrária a algo que é declarado explicitamente em outro lugar da Bíblia; (3) as leis da lógica 
governam a interpretação da Bíblia. Por exemplo, se sabemos que todos os gatos têm cauda, 
não podemos deduzir que alguns gatos não têm. Se é verdade que alguns gatos não têm 
1
cauda, então não pode ser verdade também que todos os gatos têm. Isso não é apenas uma 
questão de leis técnicas de inferência; é uma questão de senso comum. Mesmo assim, a 
grande maioria das interpretações equivocadas da Bíblia é causada por deduções ilegítimas 
extraídas da Bíblia. 
Sumário 
1. A Bíblia é sua própria intérprete. 
2. Devemos interpretar a Bíblia literalmente — assim como está escrito. 
3. A Bíblia deve ser interpretada como qualquer outro livro. 
4. Partes obscuras da Bíblia devem ser interpretadas pelas partes mais claras. 
5. O implícito deve ser interpretado à luz do explícito. 
6. As leis da lógica governam aquilo que pode ser racionalmente deduzido da Bíblia. 
Para discussão e avaliação 
1. O que significa a regra principal da interpretação bíblica "A Escritura sagrada é sua 
1 
própria intérprete"? 
2. O que o autor quer dizer quando afirma que a Bíblia deve ser interpretada como 
qualquer outro livro? 
3. O que significa para você o fato de que a Bíblia tanto pode ser entendida por uma 
criança, quanto há passagens que envolvem um esforço intenso e prolongado por parte dos 
estudiosos para esclarecê-la? 
4. Qual é o principal motivo pelo aparecimento da maioria das interpretações errôneas 
de passagens bíblicas? 
5. De que maneira uma correta interpretação da Bíblia pode afetar a vida de alguém? 
6. Se todos podem ler e entender a Bíblia, não corremos o risco de haver diferentes 
interpretações para a mesma passagem? Como fazemos num caso destes? 
7. Como o sentido de um texto obscuro pode ser esclarecido?
A INTERPRETAÇÃO PESSOAL 9 
Neemias 8.8; 2 Timóteo 2.15; 2 Timóteo 3.14-17; Hebreus 1.1-4; 2 Pedro 1.20,21 
Dois dos grandes legados que recebemos da Reforma foram o princípio da interpretação 
pessoal da Bíblia e a sua tradução para a língua do povo. O próprio Lutero colocou em foco 
essas questões. Quando se apresentou diante da Dieta de Worms (um concilio no qual foi 
acusado de heresia por causa de seus ensinamentos), ele declarou: 
"A menos que eu seja convencido pela Escritura, minha consciência continuará cativa da 
Palavra de Deus — não aceito a autoridade de papas e concílios, porque se têm contraditado. 
Não posso nem quero retratar-me, porque ir contra a consciência não é certo nem seguro. Que 
Deus me ajude. Amém." 
A declaração de Lutero, e sua subseqüente tradução da Bíblia para sua língua vernácula, 
tiveram dois efeitos. Primeiro, tirou da Igreja Católica Romana o direito exclusivo de 
interpretação. O povo não mais ficaria à mercê das doutrinas da igreja, tendo de aceitar as 
tradições ou ensino eclesiástico como tendo autoridade igual à da Palavra de Deus. Segundo, 
colocou a interpretação nas mãos do povo. Essa mudança foi mais problemática. Levou aos 
mesmos excessos sobre os quais a Igreja Romana estava envolvida — interpretações subjeti-vas 
do texto que levam ao afastamento da fé cristã histórica. 
O subjetivismo tem sido o grande perigo da interpretação pessoal. O princípio da 
interpretação pessoal não significa que o povo de Deus tenha o direito de interpretar a Bíblia 
da maneira que bem entende. Juntamente com o "direito" de interpretar as Escrituras vem 
também a responsabilidade de interpretá-las corretamente. Os crentes têm liberdade de 
descobrir as verdades das Escrituras, mas não são livres para fabricar suas próprias 
verdades. São chamados para entender os sólidos princípios de interpretação e evitar os 
perigos do subjetivismo. 
Portanto, buscar um entendimento objetivo das Escrituras de maneira nenhuma reduz a 
Bíblia a algo frio, abstrato e sem vida. O que estamos fazendo é buscar entender o que a 
Palavra diz em seu contexto antes de prosseguirmos para a tarefa igualmente necessária de 
aplicá-la à nossa vida. Uma declaração em particular pode ter numerosas aplicações pessoais 
possíveis, mas só pode ter um único significado correto. O direito de interpretar a Bíblia leva 
junto consigo a obrigação de interpretá-la com exatidão. A Bíblia não é um "nariz de cera" que 
pode ser moldado e assumir a forma desejada pelo intérprete. 
Sumário 
1. A Reforma deu à Igreja uma tradução da Bíblia na língua comum e a cada crente o 
direito e a responsabilidade de interpretar a Bíblia pessoalmente. 
2. A tradição da igreja, embora seja instrutiva como um guia, não tem autoridade igual à 
1 
da Bíblia. 
3. A interpretação pessoal não equivale a uma licença para o subjetivismo. 
4. O princípio da interpretação pessoal leva consigo a obrigação de buscar a 
interpretação correta da Bíblia. 
5. Embora cada texto bíblico tenha múltiplas aplicações, ele tem um único significado
1 
correto. 
Para discussão e avaliação 
1. Antes do movimento da Reforma Protestante, como era feita a interpretação bíblica? 
2. Por que a interpretação bíblica, colocada na mão do povo, demonstrou ter sido um 
problema surgido com o movimento da Reforma Protestante? 
3. Qual a diferença entre interpretar e aplicar o texto bíblico? 
4. Por que o subjetivismo apresenta tanto risco para a correta interpretação bíblica? 
5. Livre exame da Bíblia tem levado crentes a praticarem a "livre interpretação" da Bíblia 
em benefício próprio? Como? 
6. Livre exame da Bíblia contribui para o crescimento espiritual do cristão? Por quê? 
7. Por que os cristãos não fazem uma única interpretação da Bíblia, aceita por todos, 
que evitaria divergências e o surgimento de tantas denominações diferentes? 
8. Um mesmo texto da Bíblia pode falar de diferentes maneiras com alguém? Como isso 
é possível? 
PARTE 
II
A INCOMPREENSIBILIDADE DE DEUS 10 
Jó 38.1-41.34; Salmos 139. 1-18; Isaías 55.8-9; Romanos 11.33-36; 1Coríntios2.6-16 
Durante uma palestra nos Estados Unidos, um estudante perguntou ao teólogo suíço 
Karl Barth: "Dr. Barth, qual foi a coisa mais profunda que o Senhor já aprendeu em seu 
estudo da teologia?" Barth pensou por um momento e depois respondeu: "Jesus me ama, isto 
eu sei, pois a Bíblia assim o diz" (trecho de corinho para crianças). Os estudantes sorriram 
diante da resposta tão simplista, mas a risada deles tornou-se um sorriso tímido quando 
lentamente perceberam que Barth estava falando sério. 
Karl Barth deu uma resposta simples para uma pergunta profunda. Ao fazer isso, estava 
chamando a atenção pelo menos para duas noções de vital importância. (1) Na verdade cristã 
mais simples reside uma profundidade que pode ocupar a mente das pessoas mais brilhantes 
por toda uma vida. (2) Mesmo no aprendizado da teologia mais sofisticada, realmente nunca 
ultrapassamos o nível de uma criança no entendimento das misteriosas profundidades e 
riquezas do caráter de Deus. 
João Calvino usava outra analogia. Ele dizia que Deus fala conosco numa espécie de 
balbucio. Como os pais se empenham em falar numa "linguagem de bebê", quando se dirigem 
a seus filhos pequenos, assim também Deus, para se comunicar conosco, míseros mortais, 
precisa condescender a falar de maneira que possamos compreender. 
Nenhum ser humano tem a habilidade de compreender a Deus exaustivamente. Existe 
uma barreira que impede a compreensão total e abrangente de Deus. Somos criaturas finitas; 
Deus é um ser infinito. Nisso reside o nosso problema. Como o finito pode compreender o 
infinito? Os teólogos medievais tinham uma frase que se tornou um axioma dominante em 
todo estudo posterior de teologia: "O finito não pode apreender (ou conter) o infinito". Nada é 
mais óbvio do que isso: um objeto infinito não pode ser comprimido dentro de um espaço 
finito. 
Esse axioma comunica uma das doutrinas mais importantes do Cristianismo ortodoxo. E 
a doutrina da incompreensibilidade de Deus. O termo pode ser mal-interpretado. Pode nos 
sugerir que, já que o finito não pode "apreender" o infinito, então não podemos saber nada 
sobre Deus. Se Deus está além da compreensão humana, isso não insinua que toda a nossa 
discussão religiosa não passa de tagarelice teológica e que, quando muito, somos deixados 
com um altar destinado a um Deus desconhecido? 
Essa de maneira alguma é a intenção. A incompreensibilidade de Deus não significa que 
não sabemos nada sobre ele. Antes significa que nosso conhecimento é parcial e limitado, 
muito além de um conhecimento ou de uma compreensão plena. O conhecimento que Deus 
nos dá por meio da revelação é real e útil. Podemos conhecer a Deus na mesma medida em 
que ele escolhe se revelar a nós. O finito pode "apreender" o infinito, mas o finito jamais 
poderá abarcar completamente o infinito. Sempre haverá mais sobre Deus do que podemos 
1
1 
apreender 
A Bíblia se refere a isso da seguinte maneira: "As coisas encobertas pertencem ao Senhor, 
nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem, a nós e a nossos filhos para sempre " (Dt 
29.29). Martinho Lutero referia-se a dois aspectos de Deus — o oculto e o revelado. Uma 
porção do conhecimento divino permanece oculta de nossa vista. Trabalhamos à luz do que 
Deus nos revelou. 
Sumário 
1. Existe um profundo significado mesmo na verdade cristã mais simples. 
2. Não importa quão profundo seja o nosso conhecimento teológico, sempre haverá 
muitos aspectos da natureza e caráter de Deus que permanecerão um mistério para nós. 
3. Nenhum ser humano pode ter um conhecimento pleno de Deus. 
4. A doutrina da incompreensibilidade de Deus não significa que não podemos conhecer 
nada sobre ele. Significa que nosso conhecimento é limitado, restringido por nossa 
humanidade. 
Para discussão e avaliação 
1. O que significa o axioma teológico "O finito não pode conter o infinito"? 
2. A noção da grandeza de Deus não pode nos desanimar na busca de conhecê-lo mais? 
Não seria inútil, de nossa parte, continuar tentando compreender um Deus que é de todo 
incompreensível? 
3. Que verdade da fé cristã soa como mais profunda para você? E qual parece ser a mais 
simples?
A TRIUNIDADE DE DEUS 11 
Deuteronômio 6.4; Mateus 3.16-17; Mateus 28.19; 2 Coríntios 13.14; 1 Pedro 1.2 
A doutrina da Trindade é difícil e complexa para nós. As vezes pensamos que o 
Cristianismo ensina a noção absurda de que 1 + 1 + 1 = 1. Esta equação é claramente falsa. O 
termo Trindade não descreve a relação de três deuses, mas de um único Deus que é três 
pessoas. Trindade não significa triteismo, ou seja, que existem três seres que juntos são Deus. 
A palavra Trindade é usada num esforço para definir a plenitude da Deidade, tanto em termos 
da sua unidade como da sua diversidade. 
A formulação histórica da Trindade é que Deus é um em essência e três em pessoas. 
Embora tal fórmula seja misteriosa e mesmo paradoxal, de maneira nenhuma é contraditória. 
A unidade da Deidade é afirmada em termos de essência ou ser, enquanto que sua diversidade 
é expressa em termos de pessoas. 
Embora o termo trindade não seja encontrado na Bíblia, o conceito claramente está lá. 
Por um lado, a Bíblia afirma veementemente a unidade de Deus (Dt 6.4). Por outro lado, ela 
afirma claramente a plena divindade das três pessoas da Deidade: o Pai, o Filho e o Espírito 
Santo. A Igreja tem rejeitado as heresias do modalismo e do triteismo. O modalismo nega a 
distinção das pessoas dentro da Deidade, alegando que Pai, Filho e Espírito Santo são apenas 
modos pelos quais Deus se revela. O triteismo, por outro lado, declara falsamente que existem 
três seres que juntos formam Deus. 
O termo pessoa não significa uma distinção em essência mas uma diferente subsistência 
na Divindade. A subsistência na Deidade é uma diferença real, mas não essencial, no sentido 
de uma diferença no ser. Cada pessoa subsiste ou existe "sob" a pura essência divina. 
Subsistência é uma diferença dentro do escopo do ser, não um ser ou uma essência separada 
Todas as pessoas da Deidade possuem todos os atributos divinos. 
Existe também uma distinção na obra realizada pelas pessoas da Trindade Num sentido, 
a obra da salvação é comum a todas as três pessoas da Trindade Mesmo assim, na maneira de 
atividade existem diferentes operações assumidas pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito Santo. O 
Pai inicia a criação e a redenção; o Filho redime a criação; o Espírito Santo regenera e 
santifica, aplicando a redenção aos crentes. 
1
A Trindade não se refere a partes de Deus ou mesmo a seus papéis. As analogias 
humanas, como a do homem que é pai, filho e marido, não conseguem captar o mistério da 
natureza de Deus. 
A doutrina da Trindade não explica plenamente o mistério do caráter de Deus. Ao 
contrário, simplesmente estabelece o limite do qual não devemos passar. Define os limites da 
nossa reflexão finita. Exige que sejamos fiéis à revelação bíblica de que em um sentido Deus é 
um e em outro sentido diferente ele é três. 
Sumário 
1. A doutrina da Trindade afirma a triunidade de Deus. 
2. A doutrina da Trindade não é uma contradição: Deus é um em essência e três em pessoa. 
3. A Bíblia afirma que Deus é único e também afirma a divindade do Pai, do Filho e do Espírito 
1 
Santo. 
4. A Trindade distingue-se pelo trabalho realizado pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito Santo. 
5. A doutrina da Trindade estabelece os limites da especulação humana a respeito da natureza de 
Deus. 
Para discussão e avaliação 
1. O que são as doutrinas do "monismo" e do "triteísmo"? 
2. Quais são as diferentes operações do Pai, Filho e Espírito Santo na obra da salvação? 
3. De que modo a doutrina da Trindade pode afetar nossa vida de oração? 
4. Que diferença faz sabermos das obras que cada uma das três pessoas da Trindade realizou e 
continua realizando no plano da salvação? 
5. A doutrina da Trindade pode atrapalhar um incrédulo a aceitar o evangelho como verdadeiro? 
Ela deveria ser ensinada para alguém que está sendo evangelizado? Por quê? 
6. Quando adoramos a Deus, adoramos uma só pessoa, ou três? 
A AUTO EXISTÊNCIA DE DEUS 12 
Salmos 90.2; João 1.1-5; Atos 17.22-31; Colossenses 1.15-20; Apocalipse 1.8 
Quando a Bíblia declara que Deus é o Criador do universo, ela indica que Deus mesmo é 
incriado. Existe uma distinção crucial entre o Criador e a criação. A criação porta o selo do 
Criador e testemunha de sua glória. A criação, porém, nunca deve ser adorada. Ela não é 
suprema. 
É impossível que alguma coisa crie a si mesma. O conceito de autocriação é uma 
contradição de termos, uma afirmação sem sentido. Peço ao leitor que faça uma pausa e 
pense um pouco. Nada pode ser autocriado. Nem mesmo o próprio Deus pode criar a si 
mesmo. Para que Deus pudesse criar a si mesmo, teria de existir antes de si mesmo. Nem 
mesmo Deus pode fazer isso. 
Todo efeito deve ter uma causa. Isso é verdadeiro (por definição). Deus, porém, não é um 
efeito. Ele não tem um início e, portanto, não tem uma causa antecedente. Ele é eterno. Ele 
sempre foi ou é. Ele tem, dentro de si, o poder de ser. Ele não necessita de assistência de 
fontes externas para continuar a existir. Isso é o que se subentende pela idéia de auto-existência. 
Bem compreendido, trata-se de um conceito sublime e impressionante. Não 
conhecemos nada que se compare a ele. Tudo o que percebemos em nossa estrutura de 
referência é dependente e foi criado. Não podemos compreender plenamente algo como auto-existente. 
Entretanto, só porque é impossível (por definição) que uma criatura seja auto-existente, 
não significa que seja impossível para o Criador ser auto-existente. Deus, assim como nós, 
não pode ser autocriado. Deus, porém, diferentemente de nós, pode ser auto-existente. De 
fato, essa é a própria essência da diferença entre o Criador e a criação. E isso que faz dele o 
ser supremo e a fonte de todos os outros seres. 
O conceito de auto-existência não viola nenhuma lei da razão, da lógica ou da ciência. É
uma noção racionalmente válida. Em comparação, o conceito da autocriação viola as leis mais 
básicas da razão, da lógica e da ciência — a lei da não-contradição. A auto-existência é 
racional; a autocriação é irracional. 
A noção de alguma coisa ser auto-existente não só é racionalmente possível, como é 
racionalmente necessária. Além disso, a razão exige que se algo é, então algo deve ter, em si 
mesmo, o poder de ser. De outra maneira nada existiria. A menos que algo exista em si 
mesmo, não seria possível existir absolutamente nada. 
Talvez a questão mais antiga e mais profunda de todas seja: por que existe algo, ao invés 
de nada? Uma resposta necessária pelo menos para parte desta pergunta é por que Deus 
existe. Deus existe em si mesmo eternamente. Ele é a fonte e o manancial de toda existência. 
Só ele tem, em si mesmo, o poder de existir. O apóstolo Paulo declara nossa dependência do 
poder do ser de Deus para nossa própria existência, quando diz: "Pois nele vivemos, e nos 
movemos, e existimos (At 17.28). 
Sumário 
1 Todo efeito deve ter uma causa. 
2. Deus não é um efeito; Ele não tem uma causa. 
3. Aautocriação é um conceito irracional. 
4. A auto-existência é um conceito racional. 
5. A auto-existência não só é racionalmente possível, mas é racionalmente necessária. 
Para discussão e avaliação 
1. Deus é autocriado ou auto-existente? Por quê? 
2. Por que o autor afirma que autocriação é irracional e auto-existência é racional? 
3. Por que o autor afirma que a noção da auto-existência não só é possível, como também 
1 
necessária? 
4. Se Deus existe antes de tudo, sempre existiu e é a origem criadora de tudo, há alguma coisa 
que possa ser maior do que Deus? 
5. Por que o homem moderno continua recusando aceitar a idéia de que Deus é a causa de tudo o 
que foi criado? 
6. O que podemos fazer quando compreendemos a verdade da "auto-existência" de Deus? 
7. Como a compreensão da "auto-existência" de Deus pode afetar nossa adoração e nossos atos de 
culto? 
A ONIPOTÊNCIA DE DEUS 13 
Gênesis 17.1; Salmos 115.3; Romanos 11.36; Efésios 1.11; Hebreus 1.3 
Todo teólogo mais cedo ou mais tarde tem de responder a uma pergunta feita por um 
aluno, a qual é colocada como um "quebra-cabeça que não pode ser montado". A antiga 
pergunta é: Deus pode criar uma pedra tão grande que ele mesmo não possa movê-la? A 
primeira vista, essa pergunta parece encurralar o teólogo com um dilema insolúvel. Se 
respondermos que sim, estamos dizendo que existe algo que Deus não pode fazer: Ele não 
pode mover a pedra. Se respondermos que não, então estamos declarando que Deus não pode 
criar tal pedra. De qualquer maneira que respondermos, seremos forçados a pôr limites no 
poder de Deus. 
Esse problema nos faz lembrar de uma outra charada: O que acontece quando uma força 
irresistível se choca contra um objeto irremovível? Podemos conceber uma força irresistível. 
Podemos, igualmente, conceber um objeto irremovível. O que não podemos conceber é a 
coexistência dos dois. Se uma força irresistível encontra um objeto irremovível, e o objeto se 
move, o mesmo não poderia mais ser chamado com propriedade de irremovível. Se o objeto 
não se mover, então nossa força "irresistível" não poderia mais ser chamada, com propriedade, 
irresistível. Portanto, vemos que a realidade não pode conter ambos — uma força irresistível e 
um objeto irremovível. 
Enquanto isso, voltemos à rocha que não pode ser movida. O dilema colocado aqui (como 
no caso da força irresistível) é um falso dilema. É falso porque é construído sobre uma
premissa falsa. Supõe que "onipotência" significa que Deus pode fazer qualquer coisa. Como 
termo teológico, contudo, onipotência não significa que Deus pode fazer qualquer coisa. A 
Bíblia indica várias coisas que Deus não pode fazer: Ele não pode mentir (Hb 6.18). Não pode 
morrer. Não pode ser eterno e criado. Não pode agir contra sua própria natureza. Não pode ser 
Deus e não ser Deus ao mesmo tempo e na mesma relação. 
O que onipotência realmente significa é que Deus mantém poder absoluto sobre sua 
criação. Nenhuma parte da criação está fora do alcance e da abrangência do seu controle 
soberano. Portanto, existe uma resposta correta para o dilema da pedra. O quebra-cabeça 
pode ser montado. A resposta é não. Deus não pode criar uma pedra tão grande que não seja 
capaz de movê-la. Por quê? Se Deus criasse tal pedra, ele estaria criando algo sobre o qual não 
teria poder. Estaria assim destruindo sua própria onipotência. Deus não pode deixar de ser 
Deus; ele não pode deixar de ser onipotente. 
Quando a virgem Maria estava confusa pelo anúncio do anjo Gabriel a respeito da 
concepção de Jesus no ventre dela, o anjo lhe disse: “para Deus não haverá impossíveis em 
todas as suas promessas " (Lc 1.37). Aqui o anjo lembra Maria da onipotência de Deus. Creio 
que mesmo os anjos são capazes de usar hipérbole. Estreitamente considerado, o anjo 
expressou uma teologia equivocada. Mas a compreensão bíblica mais ampla, porém, aponta 
para o sentido de que o poder de Deus vai muitíssimo além do poder da criatura. O que pode 
ser impossível para nós é possível para Deus. Dizer que nada é impossível para Deus significa 
que ele pode fazer qualquer coisa que queira fazer. Seu poder não é limitado por limitações 
finitas. Nada ou "coisa nenhuma" pode restringir seu poder. Mesmo assim, seu poder é ainda 
restringido pelo quê e quem ele é. O pecado é impossível para ele porque ninguém pode pecar 
sem querer pecar. Deus não pode cometer pecado porque jamais desejará fazê-lo. Jó chegou 
ao âmago dessa questão quando declarou: Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos 
pode ser frustrado (Jó 42.2). 
Para o cristão, a onipotência de Deus é uma grande fonte de conforto. Sabemos que o 
mesmo poder que Deus demonstrou ao criar o universo está à disposição dele para assegurar 
nossa salvação. Ele mostrou esse poder na saída do povo de Israel do Egito. Mostrou seu 
poder sobre a morte na ressurreição de Cristo. Sabemos que nenhuma parte da criação pode 
frustrar seus planos para o futuro. Não existe nem uma molécula independente, solta no 
universo, e que seja capaz de comprometer os planos de Deus. Embora os poderes e as forças 
deste mundo ameacem fazer isso, não tememos. Podemos descansar no conhecimento de que 
nada pode resistir ao poder de Deus. Ele é o Deus Todo-Poderoso. 
Sumário 
1. Onipotência não significa que Deus pode fazer qualquer coisa. Ele não pode agir 
1 
contra sua natureza. 
2. Onipotência refere-se ao poder soberano de Deus, sua autoridade e seu controle sobre 
a ordem criada. 
3. A onipotência, embora seja uma ameaça para o ímpio, é uma fonte de conforto para o 
crente. 
4. O mesmo poder que Deus exibiu na criação é manifestado na nossa redenção. 
5. Nada no universo pode atrapalhar ou frustrar os planos de Deus. 
Para avaliação e discussão 
1. O que significa a onipotência de Deus? 
2. Por que a doutrina da onipotência divina é fonte de conforto para o homem? 
3. Medo e pavor são reações corretas diante da consciência plena do poder de Deus? 
4. Que áreas da vida são afetadas quando começamos a compreender a extensão do 
poder de Deus? 
5. Deus pode impedir que a maldade continue progredindo tão rapidamente como 
acontece nos dias de hoje? Se pode, por que ele não o faz?
A ONIPRESENÇA DE DEUS 14 
Jó 11.7-9; Jeremias 23.23. 24; Atos 17.22-31 
Projeção astral não passa de fantasia. Pessoas podem afirmar que podem deixar seus 
corpos e fazer uma viagem à Califórnia ou à índia e voltar sem precisar usar um trem, avião 
ou navio. Na verdade estão iludidas ou estão tentando enganar os outros com tais alegações. 
Mesmo que a alma ou o espírito de uma pessoa pudesse se "projetar" dessa maneira e 
"perambular" pelo planeta, tais viagens só poderiam incluir um lugar de cada vez. Nosso 
espírito humano continua sendo finito e nem agora nem nunca será capaz de estar em mais 
de um lugar ao mesmo tempo. Somente um Espírito infinito tem o poder da onipresença. 
Quando falamos da onipresença de Deus geralmente queremos dizer que sua presença 
está em todos os lugares. Não existe um lugar onde Deus não esteja. Mesmo assim, sendo 
espírito. Deus não ocupa um lugar, no sentido físico em que os objetos ocupam lugar no 
espaço. Deus não tem propriedades físicas que ocupem lugar no espaço. A chave para 
entender esse paradoxo é pensar em termos de outra dimensão. Abarreira entre Deus e nós 
não é uma barreira de tempo ou espaço. Para se encontrar com Deus, não existe um "aonde" 
ir ou um "quando" vai acontecer. Estar na presença imediata de Deus é entrar numa outra 
dimensão. 
1
Existe um segundo aspecto da onipresença de Deus que freqüentemente negligenciamos. 
A idéia de omnis relaciona-se não somente com os lugares onde Deus está, mas também a 
quanto dele está presente naquele determinado lugar. Deus não só está presente em todos os 
lugares, mas Deus está totalmente presente em cada lugar. Isso é chamado sua imensidade. 
Os crentes que moram em São Paulo experimentam a plenitude da presença de Deus, 
enquanto que os crentes que moram em Moscou experimentam a mesma presença. Sua 
imensidade, pois, não se refere ao seu tamanho, mas à sua capacidade de estar totalmente 
presente em todos os lugares. 
A doutrina da onipresença de Deus com razão nos enche de perplexidade. Além da reverência 
que ela gera, essa doutrina também se revela confortadora. Podemos sempre ter certeza da 
atenção integral de Deus. Nunca vamos ter de esperar na fila ou marcar um horário para estar 
com Deus. Quando estamos na presença de Deus, ele não está preocupado com os 
acontecimentos do outro lado do planeta. Esta doutrina evidentemente, de maneira alguma é 
confortante para o não-crente. Não existe lugar para se esconder de Deus. Não existe nenhum 
cantinho do universo onde Deus não esteja. O ímpio que está no infernonão está separado de 
Deus — está separado somente de sua benevolência. A ira de Deus está constantemente com 
ele. 
Davi, que muitas vezes exaltou a glória da onipresença de Deus nos Salmos, nós dá um 
resumo poético desta doutrina: 
Para onde me ausentarei do teu Espírito? Para onde fugirei da tua face? Se subo aos 
céus, lá estás; se faço a minha cama no mais profundo abismo, lá estás também; se 
tomo as asas da alvorada e me detenha nos confins dos mares, ainda lá me haverá 
de guiar a tua mão, e a tua destra me susterá. Salmo 139.7-10 
Sumário 
1. Somente um Espírito infinito pode ser onipresente. 
2. Deus não é limitado pelo tempo e espaço. Seu Ser transcende o tempo e o espaço. 
3. A onipresença de Deus inclui sua imensidade, pela qual ele pode estar presente em 
sua plenitude em todo tempo, em todos os lugares. 
4. A onipresença de Deus é um conforto para o crente e um terror para o não-crente. 
Para discussão e avaliação 
1.Comente esta frase: "Estar na presença de Deus é entrar em uma nova dimensão". 
2.Por que a doutrina da onipotência divina é motivo de conforto para o cristão? 
3.Por que ela é fonte de desconforto para o descrente? 
4.A comunhão pessoal com Deus pode ser afetada mediante a correta compreensão da 
1 
sua onipresença? 
5.Pode esta doutrina servir de "desculpa" para alguns cristãos freqüentarem lugares que 
não sejam convenientes a um cristão ir? Por quê? 
6.Se Deus está em todo o lugar, por que nos reunimos num templo, em um determinado 
momento, para um serviço religioso chamado "culto de adoração"? 
A ONISCIÊNCIA DE DEUS 15 
Salmos 147.5; Ezequiel 11.5; Atos 15.18; Romanos 11.33-36; Hebreus 4.13 
Minha primeira experiência com o conceito de onisciência foi com algo relacionado com 
meu entendimento infantil sobre o Papai Noel. Alguém me disse que ele "fazia uma lista e a 
conferia duas vezes". Eu também pensava que o coelho da Páscoa vivia no sótão da nossa casa 
(fora da época da Páscoa) de onde podia me vigiar sem ser visto. 
A palavra onisciência significa "ter todo (omnis) conhecimento (ciência)". É um termo que 
só pode ser aplicado apropriadamente a Deus. Somente um ser infinito e eterno é capaz de 
conhecer todas as coisas. O conhecimento de uma criatura finita é sempre limitado por um 
ser finito. 
Deus, sendo infinito, é capaz de reconhecer todas as coisas, entender todas as coisas e
assimilar tudo. Ele nunca aprende algo ou adquire um novo conhecimento. O futuro, bem 
como o passado e o presente, são totalmente conhecidos por ele. Nada pode surpreendê-lo. 
Devido ao fato de que o conhecimento de Deus excede imensamente o nosso (porque é 
muito mais elevado), alguns cristãos acreditam que o pensamento de Deus difere radicalmente 
em natureza do nosso. Por exemplo, tem-se tornado comum entre os cristãos a afirmação de 
que Deus opera numa lógica diferente da nossa. Esse conceito é conveniente quando 
tropeçamos num ponto difícil em nossa teologia. Se nos encontramos fazendo afirmações 
contraditórias, aliviamos nossa tensão apelando para a lógica diferente de Deus. Podemos 
dizer: "Isso pode ser contraditório para nós, mas não na mente de Deus". 
Tal raciocínio é fatal para o Cristianismo. Por quê? Se Deus de fato tem uma lógica 
diferente, ou seja, aquilo que é contraditório para nós é lógico para ele, então não temos razão 
para confiar numa única palavra da Bíblia. Qualquer coisa que a Bíblia nos diga então pode 
significar exatamente o oposto para Deus. Na mente de Deus, o bem e o mal podem não ser 
opostos e o Anticristo pode na verdade ser o Cristo. 
O conhecimento superior de Deus lhe permite resolver mistérios que nos deixam 
perplexos. Isso, porém, aponta para uma diferença de grau no conhecimento de Deus, não 
para uma diferença no tipo de lógica que ele usa. Visto que Deus é racional, nem ele mesmo 
pode conciliar contradições. 
A onisciência de Deus também emana da sua onipotência. Deus não é todo-ciente 
simplesmente por ele aplicar seu intelecto superior num estudo profundo do universo e todo o 
seu conteúdo. Ao contrário, Deus conhece tudo porque ele criou tudo e sua vontade prevalece 
sobre tudo. Como o governante soberano sobre o universo, Deus tem o controle do universo. 
Embora alguns teólogos tentem separar as duas coisas, é impossível para Deus conhecer 
todas as coisas sem ter o controle e é impossível para ele controlar tudo sem conhecer tudo. 
Como todos os atributos de Deus, a onisciência e a onipotência são interdependentes, duas 
partes necessárias do todo 
A onisciência de Deus, como sua onipotência e onipresença, também se relaciona ao 
tempo. O conhecimento de Deus é absoluto no sentido em que ele é eternamente consciente 
de todas as coisas. O intelecto de Deus é diferente do nosso no sentido em que ele não tem de 
"acessar" informações, como um computador tem de acessar um arquivo. Todo o 
conhecimento está sempre diretamente diante dele. 
O conhecimento que Deus tem de todas as coisas é uma faca de dois gumes. Para o 
crente, essa idéia oferece segurança — Deus está no controle, ele entende. Deus não fica 
confuso diante dos problemas que nos confundem. Para o não-crente, entretanto, a doutrina 
destaca o fato de que a pessoa não pode esconder-se de Deus. Seus pecados estão expostos. 
Como Adão, eles tentam ocultar-se. Não existe, porém, nenhum lugar no universo em que o 
olhar de Deus, seja em amor ou em ira, não possa perscrutar. 
A onisciência de Deus é também uma parte crucial da sua promessa de introduzir a 
justiça no mundo. Para que um juiz possa estabelecer um veredicto perfeitamente justo, 
primeiro tem de conhecer todos os fatos. Nenhuma evidência pode ser oculta do escrutínio de 
Deus. Ele conhece todas as circunstâncias atenuantes. 
Sumário 
1.Onisciência significa "todo conhecimento". 
2.Somente um ser infinito pode possuir conhecimento infinito 
3. Deus tem um grau de conhecimento muito mais elevado do que o das criaturas, mas 
1 
que é do mesmo tipo de lógica. 
4. Atribuir um tipo diferente de lógica a Deus é fatal para o Cristianismo 
5. A onisciência de Deus é baseada em seu ser infinito e em sua onipotência. 
6. A onisciência de Deus é crucial para o seu papel como Juiz do universo. 
Para discussão e avaliação 
1.Por que é perigoso pensar que os pensamentos de Deus diferem radicalmente do tipo 
do nosso? 
2.Por que a doutrina da onisciência de Deus é motivo tanto de segurança como de
1 
perturbação? 
A SANTIDADE DE DEUS 16 
Êxodo 3.1-6; 1 Samuel 2.2; Salmos 99.1-9; Isaías 6.1-13; Apocalipse 4.1-11 
A primeira oração que aprendi quando criança foi uma simples ação de graças à mesa de 
refeições: "Deus é grande; Deus é bom; e nós lhe agradecemos este alimento". 
As duas virtudes atribuídas a Deus nesta oração, grandeza e bondade, podem ser 
definidas por uma única palavra bíblica — santo. Quando falamos da santidade de Deus, 
costumamos associá-la quase que exclusivamente com sua pureza e justiça. Certamente a 
idéia de santidade contém essas virtudes, mas elas não são o significado primário de 
santidade. 
A palavra bíblica santo tem dois significados distintos. O significado primário é
"separação" ou "distinção". Quando dizemos que Deus é santo, chamamos a atenção para a 
profunda diferença que existe entre ele e todas as criaturas. Referimo-nos à majestade 
transcendente de Deus, sua augusta superioridade, em virtude do quê ele é digno de toda 
honra, reverência, adoração e louvor. Ele é "distinto" ou diferente de nós em sua glória. 
Quando a Bíblia fala de objetos santos, de pessoas santas ou de tempo santo, ela se refere a 
coisas que foram postas à parte, consagradas ou diferenciadas pelo toque de Deus sobre elas. 
O solo onde Moisés estava em pé, perto da sarça ardente, era um solo santo, porque Deus 
estava presente ali de uma maneira especial. E a proximidade do divino que torna o ordinário 
subitamente extraordinário, e torna aquilo que é comum em algo incomum. 
O significado secundário de santo se refere às ações puras e justas de Deus. Deus faz o 
que é certo. Ele nunca faz o que é errado. Deus sempre age de maneira certa porque sua 
natureza é santa. Assim, podemos distinguir entre a justiça interna de Deus (sua natureza 
santa) e a justiça externa de Deus (suas ações). 
Porque Deus é santo, ele é grandioso e bom. Não há nenhum mal misturado à sua 
bondade. Quando-somos chamados para ser santos, isso não significa que participamos da 
majestade divina de Deus, mas que devemos ser diferentes da nossa natureza pecaminosa 
normal como criaturas caídas. Somos chamados para espelhar e refletir o caráter e a atividade 
moral de Deus. Temos que imitar sua bondade. 
Sumário 
1. Santidade tem dois significados distintos: (1) "distinção" ou ser "separado" e (2) "puro e 
1. Distinção(majestade) 
1 
justo nas ações". 
= 
2. Pureza (justiça) 
2. Somos chamados para ser santos — para refletir a justiça e a pureza de Deus 
Para discussão e avaliação 
1.Quais são os dois sentidos bíblicos para a palavra “santo”? 
2.O que significa o primeiro? 
3.O que significa o segundo? 
4.Deus nos pede coisas impossíveis de se realizarem? Então qual é o verdadeiro 
significado da exortação bíblica para sermos santos? Nós podemos ser realmente santos nesta 
vida? 
5.Que conseqüências a compreensão da santidade de Deus pode trazer para a vida 
prática do cristão? 
6.A santidade de Deus está relacionada com a exclusividade que Ele exige de todos os 
seus filhos: "Não terás outros deuses diante de mim..."(Êx 20.3)? Porquê? 
7.É verdadeira a afirmação que "somente um povo santo andará com o Senhor"? Sim, 
não, por quê? 
A BONDADE DE DEUS 17 
Êxodo 34.6, 7; Salmos 25. 8-10; Salmos 100.1-5; Tiago 1.17 
SANTO
Uma das coisas mais divertidas da vida é ver um cachorrinho ou um gatinho perse-guindo 
a própria sombra. Ficam tentando inutilmente apanhá-la. Quando eles se movem, a 
sombra também se move. Isso não acontece com Deus. Tiago declara: “Toda boa dádiva e todo 
dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou 
sombra de mudança”(Tg 1.17). 
Deus nunca muda. Com ele não existe “sombra de mudança”. Isso sugere que Deus é 
imaterial e portanto não pode projetar uma sombra e também que não existe nele um "lado 
sombrio", num senso figurativo ou moral. Sombras sugerem trevas, e em termos espirituais 
trevas pressupõem o mal. Desde que não há mal em Deus, também nele não há nenhum sinal 
de trevas. Ele é o Pai das luzes. 
Quando Tiago acrescenta que não há “sombra de mudança” em Deus, não é suficiente 
entender essa afirmação meramente em termos do ser imutável de Deus. Ela refere-se 
também ao caráter de Deus. Deus não só é totalmente bom, como também é consistentemente 
bom. Deus não sabe como ser outra coisa senão ser bom. 
A bondade está tão intimamente conectada a Deus que até mesmo filósofos pagãos como 
Platão equipararam a bondade suprema, a bondade mais elevada, ao próprio Deus. A bondade 
de Deus refere-se tanto ao seu caráter quanto ao seu comportamento. Suas ações procedem e 
emanam do seu ser. Ele age de acordo com o que ele é. Assim como uma árvore corruptível 
não pode produzir frutos incorruptíveis, assim também um Deus incorruptível não pode 
produzir frutos corruptíveis. 
A Lei de Deus reflete sua bondade. Deus é bom não porque obedece alguma lei cósmica 
fora dele mesmo, que o julga, ou porque ele define o que é bom e portanto pode agir de forma 
ilegal e usar sua autoridade para declarar que sua ação foi boa. A bondade de Deus tampouco 
é arbitrária ou caprichosa. Deus obedece uma lei, mas a lei que ele obedece é a lei do seu 
próprio caráter. Deus sempre age de acordo com seu próprio caráter, o qual é eterno, imutável 
e intrinsecamente bom. Tiago ensina que todo dom perfeito e toda boa dádiva vêm de Deus. 
Ele não só é o padrão supremo da bondade — ele é a Fonte de toda bondade. 
Um dos versículos mais populares do Novo Testamento é Romanos 8.28: “Sabemos que 
todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados 
segundo o seu propósito”. Esse texto sobre a providência divina é tão difícil de compreender 
quanto é popular. Se Deusé capaz de fazer com que tudo o que nos acontece funcione para o 
nosso bem; então, em última análise tudo o que nos acontece é positivo. Temos de ser 
cuidadosos aqui e colocar a ênfase na palavra última. No plano terreno, as coisas que nos 
acontecem podem de fato ser ruins (devemos ter cuidado para não chamar o bem de mal ou o 
mal de bem). Enfrentamos aflições, miséria, injustiças e muitos outros males. Ainda assim, 
Deus em sua bondade transcende todas essas coisas e age nelas para o nosso bem. Para o 
cristão, no final, não existem tragédias. No final, a providência de Deus opera em todos esses 
males que estão próximos de nós para o nosso benefício. 
Martinho Lutero entendeu esse aspecto da boa providência de Deus quando disse: “Se 
Deus me dissesse para comer o estrume de animais que fica nas ruas, eu não só comeria, 
como iria saber que aquilo era bom para mim”. 
Sumário 
1. As criaturas têm sombras projetadas pelas trevas do pecado. 
1 
SOMBRA 
CRIATURA 
DEUS SEM SOMBRA 
2. Não existe um lado sombrio em Deus. 
3. Deus não está sujeito a nenhuma lei 
Lei 
Deus 
4. Deus não está isento de lei. 
Lei/DEUS
1 
5. Deus é lei para si mesmo. 
Para discussão e avaliação 
1. O que significa a expressão bíblica "sombra de mudança"? (Tg 1.17) 
2. Qual foi o filósofo pagão que equiparou a bondade maior com Deus? 
3.Por que a lei de Deus reflete a sua bondade? Ela não parece demonstrar mais a 
severidade de Deus? 
4. Por que é difícil aceitarmos as coisas dolorosas da vida, mesmo sabendo que elas 
operam juntamente com o propósito de Deus para nós? 
A JUSTIÇA DE DEUS 1
1 
8 
Gênesis 18.25; Êxodo 34.6, 7; Neemias 9.32, 33; Salmos 145.7; Romanos 9.14-33 
Justiça é uma palavra que ouvimos diariamente. Ela é usada nos relacionamentos pessoais, 
nas convenções sociais, com respeito à legislação e nos vereditos pronunciados nos tribunais. 
Embora seja muito comum, essa palavra tem deixado perplexos os filósofos que tentam defini-la. 
Às vezes conectamos ou equipáramos justiça com aquilo que é conquistado ou merecido. 
Falamos sobre pessoas que receberam aquilo que mereciam em termos de recompensa ou de 
punição. As recompensas, porém, nem sempre são baseadas nos méritos. Suponha que façamos 
um concurso de beleza e declaramos que um prêmio será dado à pessoa que for considerada mais 
bonita. Se a "beleza" ganha o prêmio, não é porque exista algum mérito em ser bonito. Ao 
contrário, ajustiça é feita quando o concorrente mais bonito é justamente recompensado com o 
prêmio. Se os juízes votam em alguém que não consideram o mais bonito (por razões políticas ou 
porque foram subornados), então o resultado do concurso será injusto. 
Pelas razões como as mencionadas acima, Aristóteles definiu justiça como "dar a uma pessoa 
aquilo que lhe é devido". O que é "devido" pode ser determinado por obrigações éticas ou por um 
acordo pré-estabelecido. Se uma pessoa recebe uma punição mais severa do que seu crime merece, 
tal punição é injusta. Se alguém recebe uma recompensa inferior à que mereceu, então a 
recompensa é injusta. 
Como, pois, a misericórdia se relaciona com ajustiça? Misericórdia e justiça obviamente são 
elementos diferentes, embora às vezes sejam confundidas. A misericórdia ocorre quando aquele 
que errou recebe uma punição menor do que merçcia ou uma recompensa maior do que lhe era 
devida. 
Deus tempera sua justiça com misericórdia. Sua graça é essencialmente um tipo de misericórdia. 
Deus é gracioso para conosco quando retém o castigo que merecemos e quando recompensa nossa 
obediência, a despeito do fato de que é nossa obrigação obedecê-lo, de maneira que não há mérito e não 
merecemos nenhuma recompensa. Com Deus, a misericórdia é sempre voluntária. Ele nunca tem a 
obrigação de ser misericordioso. Deus reserva a si o direito de exercer sua graça de acordo com o 
beneplácito de sua vontade. Por isso disse a Moisés: "Terei misericórdia de quem me aprouver ter 
misericórdia, e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão " (Rm 9.15). 
Muitas pessoas às vezes se queixam de Deus não distribuir sua graça ou sua misericórdia 
igualmente a todas as pessoas, que ele, portanto, não é justo. Achamos que, se Deus perdoa uma 
pessoa, então ele tem a obrigação de perdoar todas. 
Vemos, porém, claramente nas Escrituras que Deus não trata todos da mesma maneira. Ele 
se revelou a Abraão de uma maneira que não se revelou a nenhum outro pagão no mundo antigo. 
Revelou sua graça a Paulo de uma maneira que não revelou a Judas Iscariotes. 
Paulo recebeu graça de Deus, Judas Iscariotes recebeu justiça. Misericórdia e graça são formas de 
não-justiça, mas não são atos de injustiça. Se o castigo de Judas fosse mais severo do que ele merecia, 
então ele teria do que reclamar. Paulo recebeu graça, mas isso não requer que Judas também recebes-se. 
Se graça é exigida de Deus, ou seja, se Deus é obrigado a ser gracioso, então não estamos mais 
falando de graça, mas de justiça. 
Biblicamente, justiça é definida em termos de retidão. Quando Deus é justo, ele está fazendo o 
que é reto. Abraão fez a Deus uma pergunta retórica, a qual só poderia ter uma resposta óbvia: "Não 
fará justiça o Juiz de toda a terra?" {Gn 18.25). Semelhantemente, o apóstolo Paulo formulou uma 
pergunta retórica similar: "Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum " (Rm 
9.14). 
Sumário 
1. Justiça é dar o que é devido. 
2. Ajustiça bíblica está vinculada à retidão, ou seja, fazer o que é reto. 
3. A injustiça está fora da categoria da justiça e é uma violação da justiça. A misericórdia também 
está fora da categoria da justiça, mas não representa uma violação da justiça. - 
Para discussão e avaliação 
1.Qual é o exemplo que o autor cita para demonstrar que recompensa nem sempre é baseada no 
mérito? 
2.Quando somos recompensados por Deus pela nossa obediência, Ele está demonstrando graça 
ou justiça? Por quê? 
3.A justiça de Deus o obriga a punir todo pecado, conforme a lei: "A alma que pecar essa morrerá" 
- Ezequiel 18.4. Então, como conseguimos o perdão dos nossos pecados? 
4.Deus está obrigado a exercer sempre a justiça, pois ele é justo. Que conseqüência isto traz na 
vida do cristão? E na do não-cristão?
5.Pode Deus exceder na aplicação da justiça a alguém? Ou pode ele recompensar alguém menos 
1 
do que ele merece? Por quê? 
PARTE 
II 
I
1 
A CRIAÇÃO 19 
Gênesis 1; Salmos 33.19; Salmos 104.24-26; Jeremias 10.1-16; Hebreus 11.3 
Todas as coisas têm um início no tempo e no espaço. Eu tive um início; você teve um 
início. Acasa onde moramos teve um início. As roupas que vestimos tiveram um início. Houve 
um tempo em que nossas casas, nossas roupas, carros, máquinas de lavar não existiam; nem 
nós mesmos existíamos. Essas coisas não eram. Nada pode ser mais óbvio. 
Estamos cercados por coisas e pessoas que obviamente tiveram um início e por isso 
somos tentados a pular para a conclusão de que tudo teve um início. Tal conclusão, 
entretanto, seria um salto fatal no abismo do absurdo. Seria fatal para a religião. Também 
seria fatal para a ciência e para a razão. 
Por quê? Não dissemos que todas as coisas no tempo e no espaço tiveram um início? Não 
seria o mesmo dizer simplesmente que tudo teve um início? De maneira alguma. Lógica e 
cientificamente é simplesmente impossível que todas as coisas tenham tido um início. Por 
quê? Se tudo o que existe um dia teve um início, então teria havido um tempo em que nada 
existia. 
Pare por um momento e reflita. Tente imaginar a existência de nada. Absolutamente 
nada. Nem mesmo podemos conceber a existência de absolutamente nada. O próprio conceito 
é meramente a negação de alguma coisa. 
Se já houve, porém, um tempo em que absolutamente nada existia, o que haveria agora? 
Certo. Nada! Seja houve um tempo em que não havia nada, então, pela lógica irresistível essa 
situação deveria persistir e continuaria sempre a não existir nada. Não haveria nem mesmo o 
"sempre" durante o qual nada existiria. 
Por que podemos estar certos, ou melhor, absolutamente certos de que seja houve um 
tempo em que não havia nada, então hoje deveria continuar não existindo nada? A resposta é 
espantosamente simples, a despeito do fato de que pessoas extremamente inteligentes às 
vezes tropeçam no óbvio. A resposta é simples porque você não pode obter algo a partir de 
nada. Uma lei absoluta da ciência e da lógica diz que ex nihilo nihilfit, quer dizer, “a partir do 
nada, nada procede”. O nada não pode produzir coisa alguma. Nada não pode rir, cantar, 
chorar, trabalhar, dançar ou respirar. O nada certamente não pode criar. O nada não pode 
fazer nada porque ele é nada. Ele não existe. O nada não tem nenhum poder porque não tem 
existência. 
Para que alguma coisa procedesse do nada, teria de possuir o poder da autocriação. 
Teria de ser capaz de criar a si própria ou trazer a si própria à existência. Isso, porém, é um 
completo absurdo. Para que alguma coisa criasse ou produzisse a si própria teria de ser antes 
de existir. Entretanto, se algo já existe, não tem necessidade de ser criado. Para criar a si 
próprio, algo teria de ser e teria de não ser, existir e não existir ao mesmo tempo e no mesmo 
contexto. Isso é uma contradição. Essa idéia viola uma das mais fundamentais de todas as 
leis da razão e da ciência — a lei da não-contradição. 
Se sabemos alguma coisa, então sabemos que, se as coisas existem hoje, então de 
alguma maneira, em algum lugar, algo não teve início Sabemos de brilhantes pensadores, 
como Bertrand Russell, o qual em seu famoso debate com Frederick Copelston argumentou 
que o presente universo é o resultado de uma "série infinita de causas finitas". Isso coloca 
uma série sucessiva de eventos, um causando o outro, operando retrospectivamente para 
sempre na eternidade. Essa idéia simplesmente dá uma dimensão infinita ao problema da 
autocriação. É um conceito fundamentalmente absurdo. O fato de que ele tenha sido proposto 
por sábios não o torna menos absurdo. É pior do que absurdo. Absurdos podem ser reais. 
Esse conceito, porém, pela lógica, é impossível. 
Russell pode negar a lei de que nada procede do nada, mas não pode refutá-la sem 
cometer suicídio mental. Sabemos (com base na lógica) que, se as coisas existem hoje, então 
deve ter havido algo que não teve início. A pergunta então é: o quê ou quem seria? 
Muitos estudiosos sérios acreditam que a resposta para esse o quê é encontrada dentro
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A revelação divina e a natureza da revelação geral

  • 1. 1
  • 2. Sumário IParte - A revelação 1. Revelação Divina ..............................................................................................................4 2. Paradoxo, Mistério e Contradição ........................................................................................7 3. Revelação Geral Imediata e Mediada ..................................................................................9 4. A Revelação Especial e a Bíblia ........................................................................................11 5. A Lei de Deus..................................................................................................................12 6. Os Profetas de Deus........................................................................................................13 7. O Cânon das Escrituras...................................................................................................14 8. A Interpretação da Bíblia.................................................................................................16 9. A Interpretação Pessoal ..................................................................................................18 IIParte - A Natureza e os Atributos de Deus 10. A Incompreensibilidade de Deus....................................................................................20 11. A Triunidade de Deus....................................................................................................22 12. A Auto-Existência de Deus.............................................................................................23 13. A Onipotência de Deus..................................................................................................24 14. A Onipresença de Deus..................................................................................................26 15. A Onisciência de Deus...................................................................................................27 16. A Santidade de Deus .....................................................................................................29 17. A Bondade de Deus.......................................................................................................30 18. A Justiça de Deus..........................................................................................................32 IIIParte - As Obras e os Decretos de Deus 19.A Criação......................................................................................................................34 20. A Providência ...............................................................................................................36 21. Os Milagres ..................................................................................................................38 22. A Vontade de Deus........................................................................................................39 23. A Aliança.......................................................................................................................41 24. A Aliança das Obras......................................................................................................42 IVParte - Jesus Cristo 25. A Divindade de Cristo....................................................................................................44 26. A Subordinação de Cristo..............................................................................................45 27. A Humanidade de Cristo................................................................................................46 28. A Impecabilidade de Cristo............................................................................................47 29. O Nascimento Virginal...................................................................................................48 30. Jesus Cristo como o Unigênito.......................................................................................49 31. O Batismo de Cristo.......................................................................................................51 32. A Glória de Cristo..........................................................................................................52 33. A Ascensão de Cristo.....................................................................................................53 34. Jesus Cristo como Mediador..........................................................................................55 35. Os Três Ofícios de Cristo ...............................................................................................56 36. Os Títulos de Jesus.......................................................................................................57 PARA COMPREENDER AS ESCRITURAS O preparo doutrinário dos convertidos é sempre um desafio para a igreja. Onde encontrar material? Qual será o nível adequado9 Que formatação e abordagem serão mais convenientes? É um privilégio apresentar Verdades Essenciais da Fé Cristã aos pastores e líderes. Criada por RC Sproul, mestre em Bíblia, essa obra foi originalmente publicada em um só volume, mas decidimos dividi-la em três cadernos e acrescentar as perguntas para avaliação e discussão, buscando torná-la mais útil no preparo dos crentes. A lista de assuntos dos dois outros cadernos encontra-se em cada um deles. Nossa época defende que basta crer, não importa em quê. Uma vez que a fé cristã é proposicional e a Palavra de Deus é a regra de fé e prática para o cristão, o conflito está armado e precisaremos de boa bagagem bíblica para resistir aos ataques do subjetivismo, do relativismo ou do agnosticismo dos nossos dias. Esta série certamente vai ajudar-nos a melhor compreender as Escrituras e a termos 1
  • 3. 1 mais firmeza em nossa fé. Por isso, bom estudo. Cláudio Marra–Editor PARTE I
  • 4. 1 REVELAÇÃO DIVINA 1 Salmos 19.1-14; Efésios 3.1-13; 2 Timóteo 3.14-17; Hebreus 1.1-4 Tudo o que sabemos sobre o Cristianismo nos foi revelado por Deus. Revelar significa “tirar o véu”. Tem a ver com remover a cobertura e descobrir algo que está encoberto. Quando meu filho era pequeno, nossa família desenvolveu uma tradição anual para comemorar seu aniversário. Em vez da prática geral de entregar os presentes, fazíamos isso por meio da nossa versão caseira do programa de televisão “Vamos Fazer um Trato”. Eu escondia os presentes destinados a ele, por exemplo, dentro de uma gaveta, debaixo do sofá ou atrás de uma cadeira. Então lhe dava algumas opções: “Você pode ganhar o que está na gaveta da minha escrivaninha ou o que está no meu bolso”. O ponto principal do jogo era o “grande trato do dia”. Eu colocava três cadeiras, uma ao lado da outra, cada uma delas coberta com um lençol. Cada lençol encobria um presente. Na primeira cadeira colocávamos um presente simples, na segunda o presente principal que ele iria ganhar e sobre a terceira uma muleta que ele havia usado quando quebrou a perna aos sete anos de idade. Meu filho escolheu a cadeira com a muleta por três anos consecutivos! (No final, sempre permitíamos que trocasse a muleta pelo presente.) No quarto ano, estava determinado a não escolher mais a muleta. Desta vez, eu escondi o presente principal junto com a muleta, na mesma cadeira, e deixei a ponta da muleta aparecendo por baixo do lençol. Ao ver a ponta da muleta, meu filho evitou cuidadosamente aquela cadeira. Ganhei de novo! A parte mais divertida da brincadeira era tentar adivinhar onde o presente estava escondido. Tratava-se contudo de um trabalho de mera suposição, pura especulação. A descoberta do verdadeiro tesouro só podia ser feita depois que o lençol era removido e o presente ficava exposto. O mesmo acontece com o nosso conhecimento de Deus. A especulação fútil sobre Deus é mera tolice. Se queremos conhecê-lo de verdade, temos de depender daquilo que ele revela sobre si mesmo. A Bíblia declara que Deus se revela de várias maneiras. Manifesta sua glória na natureza e por meio dela. Revelou-se nos tempos antigos por meio desonhose visões. As marcas da sua providência se manifestam nas páginas da História. Revela-se nas Escrituras inspiradas. O ponto mais alto da sua revelação é visualizado em Jesus Cristo, tornando-se ser humano — o que os teólogos chamam de “encarnação”. O autor da Carta aos Hebreus escreveu: Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo. Hebreus 1.1,2 Embora a Bíblia fale das “diversas maneiras” em que Deus se revela, distinguimos entre dois tipos principais de revelação — a geral e a especial. A revelação geral é chamada assim por duas razões: (1) ela é geral no conteúdo e (2) é revelada para uma audiência geral. Conteúdo geral A revelação geral nos proporciona o conhecimento de que Deus existe. “Os céus proclamam a glória de Deus”, diz o salmista. A glória de Deus é manifesta nas obras das suas mãos. Essa manifestação é tão clara e visível que nenhuma criatura pode
  • 5. deixar de percebê-la. Ela revela o poder eterno de Deus e sua divindade (Rm 1.18-23). A revelação na natureza, porém, não proporciona uma revelação plena de Deus. Não nos dá informações sobre o Deus Redentor que encontramos na Bíblia. O Deus que se revela na natureza, entretanto, é o mesmo Deus que se revela na Bíblia. Público geral Nem todas as pessoas no mundo já leram a Bíblia ou ouviram a proclamação do Evangelho. A luz da natureza, porém, brilha sobre todos, em todos os lugares, em todo o tempo. A revelação geral de Deus acontece diariamente. Deus nunca fica sem um testemunho de si mesmo. O mundo visível é como um espelho que reflete a glória do seu Criador. O mundo é um palco para Deus. Ele é o ator principal, que aparece em primeiro plano e no centro. Nenhuma cortina pode fechar-se para obscurecer sua presença. Basta um olhar de relance na criação para se perceber que a natureza não é sua própria mãe. Não existe a tal “Mãe Natureza”. A natureza em si mesma não tem poderes para produzir qualquer tipo de vida. A natureza, em si, é estéril. O poder de produzir vida reside no Autor da natureza—Deus. Colocar a natureza como a fonte de vida é confundir a criatura com o Criador. Todas asformas de adoração da natureza, portanto, são atos de idolatria e silo abomináveis para Deus. A luz da força da revelação geral, todo ser humano sabe que Deus existe. O ateísmo envolve a negação total de algo que é reconhecido como verdadeiro. Por isso a Bíblia diz: “Diz o insensato no seu coração: Não há Deus” (SI 14.1). Quando as Escrituras tratam tão severamente o ateu, chamando-o de “insensato”, elas estão fazendo um julgamento moral dele. Ser insensato, em termos bíblicos, não significa ter pouco entendimento ou falta de inteligência; é ser imoral. Como o temor do Senhor é o princípio da sabedoria, assim a negação de Deus é o máximo da loucura. 1 DEUS REVELAÇÃO SERES HUMANOS Semelhantemente, o agnóstico nega a validade da revelação geral. () agnóstico, porém, é menos berrante que o ateu. Ele não nega terminantemente a existência de Deus. Pelo contrário, ele declara que as evidências são insuficientes para se decidir de uma maneira ou de outra quanto à existência de Deus. Prefere suspender seu julgamento, deixando o tema da existência de Deus uma questão em aberto. A luz da clareza da revelação geral, entretanto, a posição do agnosticismo não é menos abominável para Deus do que a do ateísta militante. Para qualquer pessoa, porém, cuja mente e coração'estão abertos, a glória de Deus é maravilhosa de se ver — desde os bilhões de universos no firmamento, até as partículas subatômicas que formam a menor das moléculas. Que Deus incrível nós servimos! Sumário 1.O cristianismo é uma religião revelada. 2.A revelação de Deus é uma automanifestação. Ele remove o véu que nos impede de conhecê-lo. 3.Não podemos conhecer a Deus por meio de especulação. 4.Deus se revelou de várias maneiras ao longo da História. 5.A revelação geral é comunicada a todos os seres humanos. 6.O ateísmo e o agnosticismo são baseados na negação daquilo que as pessoas sabem
  • 6. ser a verdade. 7.A insensatez tem por fundamento a negação de Deus. 8.A sabedoria tem por fundamento o temor de Deus. Para discussão e avaliação 1.Qual a diferença entre “Conteúdo geral” e “público geral”? 2.Que argumentos o autor usa para combater a ideia da natureza como “mãe”? 3.Qual a diferença entre ateísmo e agnosticismo? 4.Que revelações sobre o caráter e a natureza de Deus podem ser observadas na natureza? 5.Há alguma forma convincente de tentarmos explicar a origem da vida e de todas as coisas criadas excluindo completamente a existência de Deus? Porquê? 6.Certas pessoas ouvem a pregação da Palavra de Deus por muitos anos sem nenhuma reação diante de suas verdades. Permanecem indiferentes a tudo o que diz respeito a Deus e às coisas santas. Mas, no momento em que se convertem, tudo aquilo que sempre ouviram com indiferença passa a fazer sentido para eles e de repente sua atenção é despertada. O que aconteceu com essas pessoas que chegam até mesmo a dizer: “Como é que eu não compreendi isso antes?” 1 Revelação geral: Deus, o Criador. Revelação Especial: Deus o Redentor, é revelado aos que ouvem. Revelação comunicada a todos os humanos
  • 7. PARADOXO, MISTÉRIO E CONTRADIÇÃO 2 Mateus 13.11; Mateus 16.25; Romanos 16.25-27; 1 Coríntios2.7; 1Coríntios 14.33 Ainfluência de vários movimentos em nossa cultura, tais como a Nova Era, as religiões orientais e a filosofia irracional tem provocado uma crise no entendimento. Uma nova forma de misticismo tem surgido, a qual exalta o absurdo como a marca registrada da verdade religiosa. Lembremo-nos da máxima do Zen Budismo, de que “Deus é uma mão batendo palmas” como uma ilustração desse padrão. Dizer que Deus é uma mão batendo palmas tem uma ressonância profunda. Tal afirmação confunde a mente consciente, pois é um golpe nos padrões normais de pensamento. Soa “profundo” e intrigante, até analisarmos cuidadosamente e descobrirmos que na raiz é simplesmente destituída de sentido. A irracionalidade é um tipo de caos mental. Fundamenta-se na confusão que se opõe ao Autor de toda a verdade, o qual não é de forma alguma autor de confusão. O Cristianismo bíblico é vulnerável a tais correntes de irracionalidade exaltada, porque irracionalidade admite candidamente que existem muitos paradoxos e mistérios na própria Bíblia. Existem linhas que separam o paradoxo, o mistério e a contradição; embora sejam tênues, essas linhas divisórias são cruciais e é importante que aprendamos a distingui-las. Quando tentamos perscrutar as profundezas de Deus, somos facilmente confundidos. Nenhum mortal pode compreender a Deus exaustivamente. A Bíblia revela coisas sobre Deus que sabemos serem verdadeiras, a despeito da nossa incapacidade de entendê-las totalmente. Não temos um ponto de referência humano para entender, por exemplo, um ser que é três em termos de pessoa, mas um só em essência (a Trindade), ou um ser que é uma pessoa com duas naturezas distintas, humana e divina (a pessoa de Cristo). Essas verdades, tão certas, como são, são “elevadas” demais para podermos compreendê-las. Encontramos problemas similares no mundo natural. Sabemos que a força da gravidade existe, mas não a entendemos e nem tentamos defini-la como irracional ou contraditória. Amaioria das pessoas concorda que o movimento é uma parte integrante da realidade, embora a essência do movimento em si tenha deixado filósofos e cientistas perplexos por milênios. Há muito mistério sobre a realidade e muitas coisas que não entendemos. Isso, porém, não justifica um salto no absurdo. A irracionalidade é fatal tanto para a religião como para a ciência. De fato, ela é mortal para qualquer verdade. O filósofo cristão Gordon H. Clark certa vez definiu um paradoxo como “uma cãibra entre as orelhas”. Seu comentário espirituoso destina-se a destacar que aquilo que às vezes é chamado de paradoxofreqüentemente nada mais é do que preguiça mental. Clark, entretanto, reconhecia claramente o papel legítimo e a função do paradoxo. A palavraparadoxo vem de uma raiz grega que significa “parecer ou aparentar”. Paradoxos são difíceis de entender porque à primeira vista “parecem” contradições, mas quando são sujeitos a um exame minucioso, freqüentemente pode-se encontrar as soluções. Por exemplo, Jesus disse: Quem perde a vida por minha causa achá-la-á (Mt.10:39). Aparentemente, isso soa semelhante à declaração de que “Deus é uma mão batendo palmas”. Soa como uma contradição. O que Jesus queria dizer, contudo, é que se alguém perde sua vida em um sentido, irá encontrá-la em outro sentido. Já que a perda e a salvação têm sentidos diferentes, não há contradição. Eu sou pai e filho ao mesmo tempo, mas obviamente não no mesmo relacionamento com a mesma pessoa. O termo paradoxo é freqüentemente mal-interpretado como sendo sinônimo de contradição, agora, inclusive, aparece em alguns dicionários como um significado secundário desse termo. Uma contradição é uma afirmação que viola a lei clássica da não-contradição. A Lei da não-contradição declara que A não pode ser A e não-A ao mesmo tempo e no mesmo contexto. Quer dizer, algo não pode ser o que é e não ser o que é ao mesmo tempo e no mesmo contexto. Essa é a mais fundamental de todas as leis da lógica. Ninguém pode entender uma contradição, porque uma contradição é inerentemente incompreensível. Nem mesmo Deus pode entender contradições; entretanto, certamente ele pode reconhecê-las pelo que são—falsidades. A palavra contradiçãovem do latim “falar contra”. Às vezes 1
  • 8. é chamada uma antinomia, que significa “contra a lei”. Para Deus, falar em contradições seria ser intelectualmente anormal, falar com uma língua bipartida. Até mesmo insinuar que o Autor da verdade poderia cair em contradição seria um grande insulto e uma blasfêmia irresponsável. A contradição é a arma do mentiroso — o pai da mentira, que despreza a verdade. Existe uma relação entre mistério e contradição, que facilmente nos leva a confundir ambos. Não entendemos mistérios. Não podemos entender contradições. O ponto de contato entre ambos os conceitos é seu caráter ininteligível. Os mistérios podem não ser claros para nós agora simplesmente porque nos falta a informação ou a perspectiva para entendê-los. A Bíblia promete que no céu teremos mais luz sobre os mistérios que agora não podemos entender. Mais luz pode resolver os atuais mistérios. Não existe, entretanto, luz suficiente nem no céu nem na Terra para resolver uma óbvia contradição Sumário 1.Paradoxoé uma contradição aparenteque, quando examinada com mais cuidado, pode apresentar uma solução. 2.Mistério é algo desconhecido para nós no presente, mas que pode ser solucionado. 3.Contradição é uma violação da Lei da não-contradição. E impossível ser resolvida, tanto pelos mortais como pelo próprio Deus, tanto neste mundo como no mundo vindouro. Para discussão e avaliação 1. Quais são alguns dos mistérios da fé e da natureza que o autor cita neste capítulo? 2. Qual é o ponto em comum entre mistério e contradição? E em que aspecto eles são 1 diferentes? 3. Por causa dos seus paradoxos, a Bíblia tem sido considerada a “mãe de todas as heresias”. Com que auxílio contamos, a partir de textos bíblicos como 2 Coríntios 4.3-6 e João 14.16,17 e 26 para não cairmos no erro de ensinar falsas idéias a partir de textos extraídos da própria Bíblia? 4. A Bíblia fala de um mistério que esteve oculto desde os tempos eternos, mas que foi revelado à humanidade através da vida e obra de Jesus Cristo (Rm.16.25-27). Você crê que outros mistérios só serão revelados na eternidade, quando estivermos junto ao Pai? Quais seriam alguns destes mistérios para você? 5. Qual é a sua atitude diante da Bíblia quando você se depara comtextos que apresentam aparentes contradições?
  • 9. REVELAÇÃO GERAL IMEDIATA E MEDIADA 3 Salmos 19.1-4; Atos 14.8-18; Atos 17.16-34; Romanos 1.18-23; Romanos 2.14-15 Quando eu era menino e minha mãe queria que fizesse algo para ela sem demora, acentuava a ordem usando o advérbio imediatamente. Ela dizia: “Filho, vá para o seu quartoimediatamente”. Minha mãe usava a palavra imediatamente para referir-se a um evento no tempo que devia ocorrer sem qualquer bloco de tempo intermediário. Na teologia, o termo imediato significa algo mais. Significa que algo acontece sepassar por nenhum agente, objeto ou meio intermediários. E uma ação que ocorre sem a participação de intermediários. Na teologia bíblica podemos distinguir dois tipos de revelação geral— aquela que é comunicada por meio de um agente intermediário e aquela que é comunicada diretamente. Quando falamos de revelação geral mediada, nos referimos à revelação transmitida por meio de alguma coisa. Quando os céus revelam a Deus, tornam-se os mediadores, ou o meio pelo qual Deus manifesta sua glória. Neste sentido, todo o universo é um meio de revelação divina. A criação dá testemunho do seu Criador. A Bíblia diz que a toda a Terra está repleta da glória de Deus. Lamentavelmente, com freqüência nós ignoramos essa glória que nos cerca. Temos a tendência de viver de maneira superficial. Estamos desatentos diante da maravilha que Deus nos proporciona em sua gloriosa criação. Estamos desligados e fora de contato. As idéias religiosas são inúteis se não expressam algo real. A presença sublime de Deus está em toda a nossa volta. Ainda assim, muitas vezes estamos cegos e surdos para ela. Não compreendemos sua linguagem. Exige mais do que simplesmente parar para cheirar as flores. A flor contém mais do que um aroma suave ou um perfume agradável. Ela transpira a glória do seu Criador. Todos nós estamos em contato com a revelação divina, quando reconhecemos a glória de Deus na natureza. A natureza não é divina. A glória de Deus, entretanto, enche a natureza e é revelada nela e por meio dela. Além de revelar sua glória indiretamente por meio da criação, Deus também se revela diretamente à mente humana. Essa é chamada revelação geral imediata. O apóstolo Paulo fala da Lei de Deus escrita em nosso coração (Rm.2.12-16). João Calvino falou sobre um senso do divino, o qual Deus implanta na mente de cada pessoa. Ele disse: Nós, inquestionavelmente, afirmamos que os homens têm em si mesmos certo senso da divindade; e isto, por um instinto natural. ...Deus mesmo dotou todos os homens com certo conhecimento de sua divindade, cuja memória ele constantemente renova e ocasionalmente amplia. (Institutas, II,I,43). Todas as culturas atestam a presença de alguma atividade religiosa, confirmando a incurável natureza religiosa da humanidade. Os seres humanos são religiosos no seu âmago. O caráter de tal religiosidade pode ser grosseiramente idolatra, mas até mesmo a idolatria, ou melhor, principalmente a idolatria, dá uma evidência desse conhecimento inato que pode ser distorcido, mas jamais destruído. Lá bem no fundo da nossa alma nós sabemos que Deus existe e que nos deu suas Leis. Procuramos sufocar esse conhecimento a fim de escapar dos seus mandamentos. Por mais que nos esforcemos, porém, não podemos calar essa voz interior. Ela pode ser abafada, mas jamais ser destruída. 1
  • 10. Sumário 1. A glória de Deus é evidente em toda a nossa volta. Ela é mediada pela criação de Deus. 2. Os seres humanos são religiosos por natureza. 3. Deus implanta em todos os seres humanos um conhecimento inato de si mesmo. Isso se 1 chama revelação geral imediata. Para discussão e avaliação 1. Como a natureza é instrumento para a revelação geral mediada de Deus? 2. Onde é que Deus implantou o senso inato de si mesmo nos seres humanos? 3. Que fato confirma a natureza religiosa da humanidade? 4. Se toda a humanidade tem a lei de Deus gravada em seus corações, porque nem todos obedecem a esta lei? 5. É possível pessoas não terem o conhecimento da Palavra de Deus e mesmo assim levarem vidas honestas e íntegras, em relação aos padrões dos homens? 6. A revelação de Deus através da natureza é suficiente para a salvação de alguém? (Rm 1.18-23) 7. A consciência humana funciona como um indicador da existência de Deus? Porquê?
  • 11. REVELAÇÃO ESPECIAL E A BÍBLIA 4 Salmos 119; João 17.17; 1 Tessalonicenses 2.13; 2 Timóteo 3.15-17; 2 Pedro 1.20-21 Quando foi tentado por Satanás no deserto, Jesus o repreendeu com as palavras: “Está escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus” (Mt 4.4). Historicamente, a igreja tem efeito ecoar o ensino de Jesus, afirmando que a Bíblia é a vox Dei, a “voz de Deus” ou o verbum Dei, a “Palavra de Deus”. Chamar a Bíblia de “a Palavra de Deus” não significa sugerir que ela foi escrita pela própria mão de Deus, ou que caiu do céu num pára-quedas. A própria Bíblia claramente chama a atenção para seus muitos autores humanos. Se a estudarmos cuidadosamente, percebemos que cada autor humano tem seu próprio estilo literário peculiar, seu próprio vocabulário, ênfase especial, perspectiva e outros aspectos. Já que a produção da Bíblia envolveu esforço humano, como pode ser ela considerada Palavra de Deus? Bíblia é chamada de Palavra de Deus por causa da sua reivindicação, acreditada pela igreja, de que os escritores humanos não escreveram simplesmente suas próprias opiniões, mas que suas palavras foram inspiradas por Deus. O apóstolo Paulo escreve: “Toda Escritura é inspirada por Deus” (2 Tm 3.16). A palavra inspiração é uma tradução da palavra grega que significa “sopro de Deus”. Quer dizer, Deus soprou a Bíblia. Assim como temos de expelir ar de nossa boca quando falamos, assim, em última análise, a Bíblia é Deus falando. Embora a Bíblia tenha chegado a nós por intermédio das mãos de autores humanos, a fonte suprema das Escrituras é Deus. Por isso os profetas podiam prefaciar suas palavras, dizendo: “Assim diz o Senhor”. Por isso Jesus também podia dizer: “A tua palavra é a verdade” (Jo 17.17) e “a Escritura não pode falhar” (Jo 10.35). A palavra inspiração também chama a atenção para o processo pelo qual o Espírito Santo superintendeu a produção da Bíblia. O Espírito guiou os autores humanos para que as palavras deles não fossem nada menos que a Palavra de Deus. Não sabemos como Deus superintendeu a redação original da Bíblia. Inspiração, entretanto, não significa que Deus ditou sua mensagem para aqueles que redigiram a Bíblia. Ao invés disso, o Espírito Santo comunicou as exatas palavras de Deus por intermédio dos escritores humanos. Os cristãos afirmam a infalibilidade e a inerrância da Bíblia porque, em última análise, Deus é seu autor. E porque Deus é incapaz de inspirar algo falso, sua palavra é totalmente verdadeira e digna de toda confiança. Qualquer literatura humana, elaborada pelos meios normais, está sujeita a erros. A Bíblia, porém, não é um projeto humano normal. Se a Bíblia foi inspirada por Deus e a sua redação foi supervisionada por ele, então não pode ter erros. Isso não significa que as traduções da Bíblia que temos hoje não estejam isentas de erro, mas que os manuscritos originais eram absolutamente corretos. Isso também não significa que cada declaração da Bíblia seja a expressão da verdade. O escritor do livro de Eclesiastes, por exemplo, declara que “no além para onde tu vais, não há obra, nem projetos, nem conhecimento, nem sabedoria alguma” (Ec 9.10). O escritor estava falando do ponto de vista do desespero humano e sabemos que esta declaração não expressa a verdade, de acordo com outros textos bíblicos. A Bíblia expressa a verdade até mesmo ao revelar a falsa argumentação de um homem desesperado. Sumário 1. A inspiração é o processo por meio do qual Deus soprou sua palavra. 2. Deus é a fonte suprema da Bíblia. 3. Deus é o superintendente supremo da Bíblia. 4. Somente os manuscritos originais da Bíblia eram isentos de erros. Para discussão e avaliação 1. O que significa a expressão “A Bíblia é um livro divino-humano”? 2. O que é inspiração? 3. Por que o autor afirma que Deus é a fonte suprema da Bíblia? 4. O que o autor quis dizer ao afirmar que Deus é o superintendente da Bíblia? 5. Sua fé nas Escrituras seria abalada caso alguma escavação arqueológica descobrisse hoje uma terceira carta que Paulo escreveu aos coríntios e que não foi incluída na Bíblia? 1
  • 12. 6. Como é que podemos saber de fato que o que lemos na Bíblia vem de Deus? 7. Há alguma coisa, hoje, além da Bíblia, que dita regras e normas de condutas para a vida dos crentes? Se sim, a sua autoridade é inferior, superior ou está em pé de igualdade com as Escrituras Sagradas? 8. “O sopro inspirativo” de Deus ainda sopra por outros meios hoje? Quais seriam alguns deles? 1 A LEI DE DEUS 5 Êxodo20:1-17; Salmos 115:3; Mateus 5:17-20; Romanos 7:7-25; Gálatas3:23-29 Deus governa seu universo por meio de leis. A própria natureza opera sob seu governo providencial. As assim chamadas leis da natureza descrevem meramente a maneira normal de Deus estabelecer a ordem em seu universo. Essas "leis" são expressões da sua vontade soberana. Deus não está sujeito a nenhuma lei fora de si mesmo. Não existe nenhuma regra cósmica independente a qual Deus seja obrigado a obedecer. Ao contrário, Deus é a sua própria lei. Isso significa simplesmente que ele age de acordo com seu próprio caráter moral, o qual não só é moralmente perfeito, mas também é o padrão supremo da perfeição. Suas ações são perfeitas porque sua natureza é perfeita e ele sempre age de acordo com sua natureza. Portanto, Deus nunca é arbitrário, extravagante ou caprichoso. Ele sempre faz o que é certo. Como criaturas de Deus, também se requer de nós que façamos o que é certo. Deus exige que vivamos segundo sua lei moral, a qual ele nos revelou na Bíblia. Alei de Deus é o padrão supremo de justiça e a norma suprema para se julgar o certo e o errado. Como nosso criador soberano, Deus tem autoridade para impor obrigações sobre nós, exigir nossa obediência e obrigar nossa consciência. Deus também tem o poder e o direito de punir a desobediência quando violamos sua lei. (Pecado pode ser definido como desobediência à lei de Deus.) Algumas leis na Bíblia são baseadas diretamente no caráter de Deus. Tais leis refletem os elementos transculturais e permanentes das relações divinas e humanas. Outras leis foram planejadas de acordo com condições temporárias da sociedade. Isso significa que algumas leis são absolutas e eternas, enquanto que outras podem ser anuladas por Deus por razões históricas, tais como as leis alimentares e cerimoniais de Israel. Somente o próprio Deus pode revogar tais leis Os seres humanos em hipótese alguma têm a autoridade para anular as leis de Deus Não somos autônomos. Ou seja, não podemos viver de acordo com nossas próprias leis. A condição moral da humanidade é de heteronomia: vivemos sujeitos à lei de outrem. A forma específica da heteronomia sob a qual vivemos é a teonomia, ou seja, a lei de Deus. Autonomia = auto nomos = lei própria Heteronomia = hetero nomos = lei de outrem Teonomia = Theos nomos = lei de Deus Sumário 1. Deus governa o universo por meio de leis. A lei da gravidade é um exemplo de uma das leis de Deus para a natureza. As leis morais de Deus são exibidas nos Dez Mandamentos 2. Deus tem a autoridade para impor obrigações sobre suas criaturas. 3. Deus age de acordo com a lei do seu próprio caráter. 4. Deus revela sua lei moral à nossa consciência e nas Escrituras. 5. Somente Deus tem a autoridade para revogar suas leis. Para discussão e avaliação 1.Por que as leis cerimoniais e dietéticas de Israel foram anuladas por Deus? 2. Como soberano, que autoridade tem Deus sobre nós, em relação à lei? 3.Por que a lei de Deus é perfeita? 4.Que conseqüências podemos sofrer por desobedecer a lei de Deus? Cite alguns exemplos. 5. Que privilégios obtemos em obedecer à lei de Deus?
  • 13. 6. As leis de Deus privam o homem de privilégios que ele poderia desfrutar caso elas não 1 existissem? OS PROFETAS DE DEUS 6 Deuteronômio 18.15-22; Isaías 6; Joel2.28-32; Mateus 7.15-20; Efésios 4.11-16 Os profetas do Antigo Testamento foram pessoas que receberam um chamado único de Deus e que receberam suas mensagens de maneira sobrenatural, as quais deveriam transmitir a nós. Deus transmitiu sua palavra através dos lábios e dos escritos dos profetas. A profecia envolvia predição do futuro (preanunciar) e proclamação e exortação atuais da palavra de Deus (anunciar em seguida). Os profetas eram revestidos de tal maneira pelo Espírito Santo que suas palavras eram palavras de Deus. Por isso as mensagens proféticas geralmente eram prefaciadas com a frase: "Assim diz o Senhor". Os profetas foram os reformadores da religião de Israel. Chamavam o povo de volta à adoração pura e à obediência a Deus. Embora os profetas fossem críticos quanto à maneira como a adoração dos israelitas freqüentemente se degenerava num mero ritual, eles não condenavam nem atacavamas formas originais de adoração que Deushaviadado a seu povo. Os profetas não eram revolucionários nem anarquistas religiosos Sua tarefa era purificar, não destruir, reformar, não substituir o culto de Israel. Os profetas também se preocupavam profundamente com a justiça social e a integridade. Eram a consciência de Israel, chamando o povo ao arrependimento. Também funcionavam como promotores legais da aliança de Deus. Eles “intimavam” a nação por ter violado os termos da aliança com Deus. Os profetas falavam com autoridade divina porque Deus os chamava especificamente para serem Seu porta-vozes. Não herdavam sua função, nem eram eleitos para exercê-la. O chamado imediato de Deus, juntamente com o poder do Espírito Santo, constituíam as credenciais dos profetas. Os falsos profetas foram um problema constante em Israel. Ao invés de proferir os oráculos de Deus, transmitiam seus próprios sonhos e opiniões — dizendo ao povo somente o que este queria ouvir. Os verdadeiros profetas freqüentemente eram severamente perseguidos e rejeitados por seus contemporâneos por se recusarem a comprometer a proclamação de todo o conselho de Deus. Geralmente, os livros dos profetas são divididos em "profetas maiores" e "profetas menores". Essa distinção não se refere à maior ou menor importância dos profetas, mas ao volume dos seus escritos canônicos. Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel são chamados de profetas maiores, porque escreveram mais, enquanto que Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias são referidos como os profetas menores, porque seus livros são bem menores. Os apóstolos do Novo Testamento possuíam muitas das características dos profetas do Antigo Testamento. Os apóstolos e os profetas juntos são considerados como o fundamento da igreja. Sumário DEUS = Autor Supremo INSPIRAÇÃO Autores Humanos BÍBLIA 1. Os profetas do Antigo Testamento foram agentes da revelação divina. 2. A profecia envolvia pré-anúncio e anúncio. 3. Os profetas foram os reformadores do culto e da vida dos israelitas. 4. Somente aqueles chamados diretamente por Deus tinham autoridade para serem seus profetas. 5. Os falsos profetas expressavam suas próprias opiniões e falavam o que o povo queria ouvir. 6. Profetas maiores e menores são designados assim de acordo com o volume enão pela importância dos seus escritos. Para discussão e avaliação 1. Quais eram as credenciais de um profeta no Antigo Testamento? 2. Qual era o ministério dos profetas no Antigo Testamento? 3. Hoje em dia, o dom de profeta tem sido muitas vezes entendido pelas igrejas evangélicas como aquela pessoa que prevê o futuro, revelando coisas tais como o que vai acontecer com a vida dapessoa, com quem ela vai se casar, qual emprego vai arrumar etc. Este tipo de profeta segue o modelo mostrado no A. Testamento?
  • 14. 4. Há falta de profetas na igreja de hoje, que mostrem os seus desvios e a chamem de volta ao 1 arrependimento e à prática da justiça? Por quê? 5. Seriam esses profetas hoje tão necessários para a igreja como foram os da época do Antigo Testamento para o povo de Israel? Por quê? 6. Os seus ditos e/ou escritos teriam o mesmo peso de autoridade que os que estão registrados na Bíblia? 7. Quais aspectos da vida e do culto da igreja evangélica seriam repreendidos caso os profetas do Antigo Testamento realizassem seus ministérios hoje? O CÂNON DAS ESCRITURAS 7 Lucas 24.44-45; 1 Coríntios 15.3-8; 2 Timóteo 3.16-17; 2 Pedro 1.19-21; 2 Pedro 3.14-16 Geralmente pensamos na Bíblia como um livro grande. Na verdade, trata-se de uma pequena biblioteca composta de 66 livros individuais. Juntos, tais livros compõem o que chamamos cânon da Escritura Sagrada. O termo cânon deriva-se de uma palavra grega que significa "vara de medir", "padrão", ou "norma". Historicamente, a Bíblia tem sido a regra autoritativa de fé e prática na Igreja. Com referência aos livros que compõem o Novo Testamento, existe completo acordo entre católicos romanos e protestantes. Existe, entretanto, forte divergência entre os dois grupos sobre o que deveria ser incluído no Antigo Testamento. Os católicos romanos consideram os livros chamados apócrifos como sendo canônicos, enquanto o protestantismo histórico não os considera. (Os livros apócrifos foram escritos depois que o Antigo Testamento já estava com-pleto e antes que começasse o Novo Testamento.) O debate concernente aos apócrifos concentra-se na questão mais ampla do que era considerado canônico pela comunidade judaica. Existem fortes evidências de que os apócrifos não eram incluídos no cânon palestino dos judeus. Por outro lado, tudo indica que os judeus que viviam no Egito teriam incluído tais livros (traduzidos para o grego) no cânon alexandrino. Evidências recentes, entretanto, lançam dúvidas sobre isso. Alguns críticos da Bíblia argumentam que a Igreja não tinha a Bíblia como tal até quase o início do quinto século. Isso, porém, é uma distorção de todo o processo do desenvolvimento canônico. A Igreja reuniu-se em concilio em várias ocasiões nos primeiros séculos para decidir as disputas sobre quais livros pertenciam propriamente ao cânon. O primeiro cânon formal do Novo Testamento foi criado pelo herege Marcião, o qual produziu sua própria versão expurgada da Bíblia. Para combatê-lo, a Igreja descobriu que era preciso declarar qual o conteúdo exato do Novo Testamento. Embora a grande maioria dos livros que atualmente se acham incluídos no Novo Testamento claramente funcionava com autoridade canônica desde que foram escritos, houve alguns poucos livros cuja inclusão no cânon do Novo Testamento foi muito debatida. Esses livros incluíam Hebreus, Tiago, 2 Pedro, 2 e 3 João, Judas e Apocalipse. Houve também vários livros que disputavam a condição de canônicos, mas que não foram incluídos. A maioria esmagadora desses livros compunha-se de obras espúrias escritas por hereges gnósticos do século II. Tais livros nunca receberam uma consideração séria. (Esse ponto é menosprezado pelos críticos que alegam que mais de dois mil volumes resultaram numa lista de 27. Daí eles perguntam: "Quais são as probabilidades de que os 27 selecionados sejam os corretos?") De fato, apenas dois ou três livros que não foram incluídos no cânon foram realmente levados em consideração. Foram estes: 1 Clemente, O Pastor de Hermas e O Didaquê. Estes livros não foram incluídos no cânon das Escrituras porque não foram escritos por apóstolos e os próprios autores reconheceram que a autoridade deles estava subordinada aos apóstolos Alguns cristãos ficam preocupados com o fato de que houve um processo de seleção histórica. Ficam perturbados com a dúvida: "Como podemos saber que o cânon do Novo Testamento inclui os livros certos?" A teologia tradicional católica romana responde a essa pergunta apelando para a infalibilidade da igreja. A igreja então é vista como "criadora" do cânon, tendo, portanto, a mesma autoridade que a própria Bíblia. O protestantismo clássico nega que a igreja seja infalível e também que ela "tenha criado" o cânon. A diferença entre o catolicismo romano e o protestantismo pode ser resumida da seguinte maneira: Visão do Catolicismo Romano.
  • 15. O Cânon é uma coleção infalível de livros infalíveis. Visão do Protestantismo Clássico. O Cânon é uma coleção falível de livros infalíveis. Visão dos Críticos Liberais. O Cânon é uma coleção falível de livros falíveis. Embora os protestantes creiam que Deus teve um cuidado especial e providencial para assegurar que os livros certos fossem incluídos, nem por isso consideram que ele tenha tornado a igreja infalível. Os protestantes também lembram aos católicos romanos que a igreja não "criou" o cânon A igreja identificou, reconheceu, recebeu e se submeteu ao cânon das Escrituras. O termo usado pela igreja em Concilio foi "recipimus", que significa "nós recebemos". Qual foi o critério de avaliação dos livros? As assim chamadas marcas de canonicidade incluíam o seguinte: 1. Tinham de ter autoria ou endosso apostólico; 2 Tinham de ser recebidos como autoritativos pela igreja primitiva; 3. Tinham de estar em harmonia com os livros a respeito dos quais não havia dúvidas. Embora numa época de sua vida Martinho Lutero tenha questionado a canonicidade de Tiago, posteriormente mudou de opinião. Não existe nenhuma razão séria para se ter um mínimo de dúvida de que os livros atualmente incluídos no cânon do Novo Testamento não sejam os verdadeiros. Sumário 1. O termo cânon deriva-se do grego e significa "norma" ou "padrão". O cânon é usado para descrever a lista autoritativa de livros que a igreja reconheceu como Escrituras Sagradas, e portanto sua "regra" de fé e prática. 2. Além dos 66 livros da Bíblia aceitos pelos protestantes, os católicos romanos também aceitam os Livros Apócrifos como Escritura autoritativa. 3. Para combater as heresias, a Igreja descobriu que era preciso declarar quais livros tinham sido reconhecidos como sendo autoritativos. 4. Existem alguns livros no cânon que foram assuntos de debate (Hebreus, Tiago, 2 Pedro, 2 e 3 João, Judas e Apocalipse) e alguns livros cuja inclusão foi considerada, mas que não foram admitidos no cânon, incluindo 1 Clemente, O Pastor de Hermas e O Didaquê. 5. A Igreja não criou o Cânon, mas apenas reconheceu os livros que tinham as marcas de canonicidade e que portanto tinham autoridade na Igreja. 6. As marcas de canonicidade incluíam: (1) autoria ou endosso apostólico; (2) autoridade reconhecida na Igreja primitiva e (3) estar em harmonia com os livros que já faziam parte inquestionável do cânon. Para discussão e avaliação 1. Por que os livros apócrifos não foram aceitos pelos protestantes como sendo 1 canônicos? 2. Por que os livros de 1 Clemente, O Pastor de Hermas e O Didaquê não foram incluídos no cânon do Novo Testamento? 3. Como podemos saber que o cânon do Novo Testamento incluiu os livros certos? 4. Qual a diferença entre a visão dos católicos romanos, dos protestantes e da crítica liberal quanto ao cânon? 5. Que perigo está por trás do fato de aceitarmos a doutrina de que a Igreja criou o cânon e não apenas o reconheceu? 6. Podem homens falhos decidir qual livro é e qual não é inspirado por Deus? Que instrumentos utilizaram para isso? 7. Em que podemos identificar a soberania do Espírito Santo na formação do cânon?
  • 16. A INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA 8 Atos 15.15-16; Efésios 4.11-16; 2 Pedro 1.16-21; 2 Pedro 3.14-18 Qualquer documento escrito, para poder ser compreendido, precisa ser interpretado. Nosso país possui indivíduos altamente capacitados, cuja tarefa diária é interpretar a Constituição. Eles formam o Supremo Tribunal Federal. Interpretar a Bíblia é uma tarefa muito mais solene do que interpretar a Constituição de um país. Requer grande cuidado e diligência. A Bíblia é o seu próprio Supremo Tribunal. A regra principal de interpretação bíblica é: "A Bíblia é sua própria intérprete". Esse princípio significa que a Bíblia deve ser interpretada pela própria Bíblia. O que é obscuro em uma parte da Bíblia pode ser esclarecido em outra parte. Interpretar a Bíblia pela Bíblia significa que não devemos colocar uma passagem contra outra. Cada texto deve ser entendido não somente à luz do seu contexto imediato, mas também à luz do contexto da Bíblia como um todo. Além disso, entendido adequadamente, o único método legítimo e válido de interpretação da Bíblia é o da interpretação literal. Existe, contudo, muita confusão a respeito dessa idéia de interpretação. Interpretação literal, estritamente falando, significa que devemos interpretar a Bíblia assim como está escrito. Um substantivo é interpretado como substantivo e um verbo, como um verbo. Quer dizer que todas as formas usadas na redação da Bíblia devem ser interpretadas de acordo com as regras normais que regem tais formas. Poesia deve ser tratada como poesia. Relatos históricos devem ser tratados como História. Parábolas como parábolas, hipérboles como hipérboles, e assim por diante. Nesse aspecto, a Bíblia deve ser interpretada de acordo com as regras que governam a interpretação de qualquer outro livro. Em algumas de suas características, a Bíblia é diferente de qualquer outro livro que já foi escrito. Em termos de interpretação, entretanto, deve ser tratada como qualquer outro livro. A Bíblia não deve ser interpretada de acordo com nossos próprios desejos e preconceitos. Devemos buscar entender o que ela de fato diz e nos guardarmos de forçar nossos próprios pontos de vista sobre ela. Este é o passatempo dos hereges: buscar base bíblica para doutrinas falsas que não têm base no texto. O próprio Satanás citou as Escrituras de maneira ilegítima, num esforço para seduzir Jesus Cristo a pecar (Mt 4.1-11). A mensagem básica da Bíblia é simples e clara o suficiente para que até uma criança possa entender. Mesmo assim, o "alimento sólido" da Bíblia requer estudo e atenção cuidadosos para ser entendido adequadamente. Algumas questões tratadas na Bíblia são tão complexas e profundas que mantêm os maiores eruditos constantemente envolvidos no esforço de resolvê-las. Existem alguns princípios de interpretação que são básicos para todo estudo saudável da Bíblia. Incluem o seguinte: (1) As narrativas devem ser interpretadas à luz das passagens de "ensino". Por exemplo, a história de Abraão oferecendo Isaque no Monte Moriá pode sugerir que Deus não sabia que Abraão tinha uma fé genuína. As passagens didáticas da Bíblia, porém, deixam claro que Deus é onisciente; (2) aquilo que é implícito sempre deve ser interpretado à luz do que é explícito; nunca deve ser o contrário. Isto é, se um texto específico parece ter uma idéia ou lição implícita, não devemos aceitar a implicação como correta se for contrária a algo que é declarado explicitamente em outro lugar da Bíblia; (3) as leis da lógica governam a interpretação da Bíblia. Por exemplo, se sabemos que todos os gatos têm cauda, não podemos deduzir que alguns gatos não têm. Se é verdade que alguns gatos não têm 1
  • 17. cauda, então não pode ser verdade também que todos os gatos têm. Isso não é apenas uma questão de leis técnicas de inferência; é uma questão de senso comum. Mesmo assim, a grande maioria das interpretações equivocadas da Bíblia é causada por deduções ilegítimas extraídas da Bíblia. Sumário 1. A Bíblia é sua própria intérprete. 2. Devemos interpretar a Bíblia literalmente — assim como está escrito. 3. A Bíblia deve ser interpretada como qualquer outro livro. 4. Partes obscuras da Bíblia devem ser interpretadas pelas partes mais claras. 5. O implícito deve ser interpretado à luz do explícito. 6. As leis da lógica governam aquilo que pode ser racionalmente deduzido da Bíblia. Para discussão e avaliação 1. O que significa a regra principal da interpretação bíblica "A Escritura sagrada é sua 1 própria intérprete"? 2. O que o autor quer dizer quando afirma que a Bíblia deve ser interpretada como qualquer outro livro? 3. O que significa para você o fato de que a Bíblia tanto pode ser entendida por uma criança, quanto há passagens que envolvem um esforço intenso e prolongado por parte dos estudiosos para esclarecê-la? 4. Qual é o principal motivo pelo aparecimento da maioria das interpretações errôneas de passagens bíblicas? 5. De que maneira uma correta interpretação da Bíblia pode afetar a vida de alguém? 6. Se todos podem ler e entender a Bíblia, não corremos o risco de haver diferentes interpretações para a mesma passagem? Como fazemos num caso destes? 7. Como o sentido de um texto obscuro pode ser esclarecido?
  • 18. A INTERPRETAÇÃO PESSOAL 9 Neemias 8.8; 2 Timóteo 2.15; 2 Timóteo 3.14-17; Hebreus 1.1-4; 2 Pedro 1.20,21 Dois dos grandes legados que recebemos da Reforma foram o princípio da interpretação pessoal da Bíblia e a sua tradução para a língua do povo. O próprio Lutero colocou em foco essas questões. Quando se apresentou diante da Dieta de Worms (um concilio no qual foi acusado de heresia por causa de seus ensinamentos), ele declarou: "A menos que eu seja convencido pela Escritura, minha consciência continuará cativa da Palavra de Deus — não aceito a autoridade de papas e concílios, porque se têm contraditado. Não posso nem quero retratar-me, porque ir contra a consciência não é certo nem seguro. Que Deus me ajude. Amém." A declaração de Lutero, e sua subseqüente tradução da Bíblia para sua língua vernácula, tiveram dois efeitos. Primeiro, tirou da Igreja Católica Romana o direito exclusivo de interpretação. O povo não mais ficaria à mercê das doutrinas da igreja, tendo de aceitar as tradições ou ensino eclesiástico como tendo autoridade igual à da Palavra de Deus. Segundo, colocou a interpretação nas mãos do povo. Essa mudança foi mais problemática. Levou aos mesmos excessos sobre os quais a Igreja Romana estava envolvida — interpretações subjeti-vas do texto que levam ao afastamento da fé cristã histórica. O subjetivismo tem sido o grande perigo da interpretação pessoal. O princípio da interpretação pessoal não significa que o povo de Deus tenha o direito de interpretar a Bíblia da maneira que bem entende. Juntamente com o "direito" de interpretar as Escrituras vem também a responsabilidade de interpretá-las corretamente. Os crentes têm liberdade de descobrir as verdades das Escrituras, mas não são livres para fabricar suas próprias verdades. São chamados para entender os sólidos princípios de interpretação e evitar os perigos do subjetivismo. Portanto, buscar um entendimento objetivo das Escrituras de maneira nenhuma reduz a Bíblia a algo frio, abstrato e sem vida. O que estamos fazendo é buscar entender o que a Palavra diz em seu contexto antes de prosseguirmos para a tarefa igualmente necessária de aplicá-la à nossa vida. Uma declaração em particular pode ter numerosas aplicações pessoais possíveis, mas só pode ter um único significado correto. O direito de interpretar a Bíblia leva junto consigo a obrigação de interpretá-la com exatidão. A Bíblia não é um "nariz de cera" que pode ser moldado e assumir a forma desejada pelo intérprete. Sumário 1. A Reforma deu à Igreja uma tradução da Bíblia na língua comum e a cada crente o direito e a responsabilidade de interpretar a Bíblia pessoalmente. 2. A tradição da igreja, embora seja instrutiva como um guia, não tem autoridade igual à 1 da Bíblia. 3. A interpretação pessoal não equivale a uma licença para o subjetivismo. 4. O princípio da interpretação pessoal leva consigo a obrigação de buscar a interpretação correta da Bíblia. 5. Embora cada texto bíblico tenha múltiplas aplicações, ele tem um único significado
  • 19. 1 correto. Para discussão e avaliação 1. Antes do movimento da Reforma Protestante, como era feita a interpretação bíblica? 2. Por que a interpretação bíblica, colocada na mão do povo, demonstrou ter sido um problema surgido com o movimento da Reforma Protestante? 3. Qual a diferença entre interpretar e aplicar o texto bíblico? 4. Por que o subjetivismo apresenta tanto risco para a correta interpretação bíblica? 5. Livre exame da Bíblia tem levado crentes a praticarem a "livre interpretação" da Bíblia em benefício próprio? Como? 6. Livre exame da Bíblia contribui para o crescimento espiritual do cristão? Por quê? 7. Por que os cristãos não fazem uma única interpretação da Bíblia, aceita por todos, que evitaria divergências e o surgimento de tantas denominações diferentes? 8. Um mesmo texto da Bíblia pode falar de diferentes maneiras com alguém? Como isso é possível? PARTE II
  • 20. A INCOMPREENSIBILIDADE DE DEUS 10 Jó 38.1-41.34; Salmos 139. 1-18; Isaías 55.8-9; Romanos 11.33-36; 1Coríntios2.6-16 Durante uma palestra nos Estados Unidos, um estudante perguntou ao teólogo suíço Karl Barth: "Dr. Barth, qual foi a coisa mais profunda que o Senhor já aprendeu em seu estudo da teologia?" Barth pensou por um momento e depois respondeu: "Jesus me ama, isto eu sei, pois a Bíblia assim o diz" (trecho de corinho para crianças). Os estudantes sorriram diante da resposta tão simplista, mas a risada deles tornou-se um sorriso tímido quando lentamente perceberam que Barth estava falando sério. Karl Barth deu uma resposta simples para uma pergunta profunda. Ao fazer isso, estava chamando a atenção pelo menos para duas noções de vital importância. (1) Na verdade cristã mais simples reside uma profundidade que pode ocupar a mente das pessoas mais brilhantes por toda uma vida. (2) Mesmo no aprendizado da teologia mais sofisticada, realmente nunca ultrapassamos o nível de uma criança no entendimento das misteriosas profundidades e riquezas do caráter de Deus. João Calvino usava outra analogia. Ele dizia que Deus fala conosco numa espécie de balbucio. Como os pais se empenham em falar numa "linguagem de bebê", quando se dirigem a seus filhos pequenos, assim também Deus, para se comunicar conosco, míseros mortais, precisa condescender a falar de maneira que possamos compreender. Nenhum ser humano tem a habilidade de compreender a Deus exaustivamente. Existe uma barreira que impede a compreensão total e abrangente de Deus. Somos criaturas finitas; Deus é um ser infinito. Nisso reside o nosso problema. Como o finito pode compreender o infinito? Os teólogos medievais tinham uma frase que se tornou um axioma dominante em todo estudo posterior de teologia: "O finito não pode apreender (ou conter) o infinito". Nada é mais óbvio do que isso: um objeto infinito não pode ser comprimido dentro de um espaço finito. Esse axioma comunica uma das doutrinas mais importantes do Cristianismo ortodoxo. E a doutrina da incompreensibilidade de Deus. O termo pode ser mal-interpretado. Pode nos sugerir que, já que o finito não pode "apreender" o infinito, então não podemos saber nada sobre Deus. Se Deus está além da compreensão humana, isso não insinua que toda a nossa discussão religiosa não passa de tagarelice teológica e que, quando muito, somos deixados com um altar destinado a um Deus desconhecido? Essa de maneira alguma é a intenção. A incompreensibilidade de Deus não significa que não sabemos nada sobre ele. Antes significa que nosso conhecimento é parcial e limitado, muito além de um conhecimento ou de uma compreensão plena. O conhecimento que Deus nos dá por meio da revelação é real e útil. Podemos conhecer a Deus na mesma medida em que ele escolhe se revelar a nós. O finito pode "apreender" o infinito, mas o finito jamais poderá abarcar completamente o infinito. Sempre haverá mais sobre Deus do que podemos 1
  • 21. 1 apreender A Bíblia se refere a isso da seguinte maneira: "As coisas encobertas pertencem ao Senhor, nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem, a nós e a nossos filhos para sempre " (Dt 29.29). Martinho Lutero referia-se a dois aspectos de Deus — o oculto e o revelado. Uma porção do conhecimento divino permanece oculta de nossa vista. Trabalhamos à luz do que Deus nos revelou. Sumário 1. Existe um profundo significado mesmo na verdade cristã mais simples. 2. Não importa quão profundo seja o nosso conhecimento teológico, sempre haverá muitos aspectos da natureza e caráter de Deus que permanecerão um mistério para nós. 3. Nenhum ser humano pode ter um conhecimento pleno de Deus. 4. A doutrina da incompreensibilidade de Deus não significa que não podemos conhecer nada sobre ele. Significa que nosso conhecimento é limitado, restringido por nossa humanidade. Para discussão e avaliação 1. O que significa o axioma teológico "O finito não pode conter o infinito"? 2. A noção da grandeza de Deus não pode nos desanimar na busca de conhecê-lo mais? Não seria inútil, de nossa parte, continuar tentando compreender um Deus que é de todo incompreensível? 3. Que verdade da fé cristã soa como mais profunda para você? E qual parece ser a mais simples?
  • 22. A TRIUNIDADE DE DEUS 11 Deuteronômio 6.4; Mateus 3.16-17; Mateus 28.19; 2 Coríntios 13.14; 1 Pedro 1.2 A doutrina da Trindade é difícil e complexa para nós. As vezes pensamos que o Cristianismo ensina a noção absurda de que 1 + 1 + 1 = 1. Esta equação é claramente falsa. O termo Trindade não descreve a relação de três deuses, mas de um único Deus que é três pessoas. Trindade não significa triteismo, ou seja, que existem três seres que juntos são Deus. A palavra Trindade é usada num esforço para definir a plenitude da Deidade, tanto em termos da sua unidade como da sua diversidade. A formulação histórica da Trindade é que Deus é um em essência e três em pessoas. Embora tal fórmula seja misteriosa e mesmo paradoxal, de maneira nenhuma é contraditória. A unidade da Deidade é afirmada em termos de essência ou ser, enquanto que sua diversidade é expressa em termos de pessoas. Embora o termo trindade não seja encontrado na Bíblia, o conceito claramente está lá. Por um lado, a Bíblia afirma veementemente a unidade de Deus (Dt 6.4). Por outro lado, ela afirma claramente a plena divindade das três pessoas da Deidade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. A Igreja tem rejeitado as heresias do modalismo e do triteismo. O modalismo nega a distinção das pessoas dentro da Deidade, alegando que Pai, Filho e Espírito Santo são apenas modos pelos quais Deus se revela. O triteismo, por outro lado, declara falsamente que existem três seres que juntos formam Deus. O termo pessoa não significa uma distinção em essência mas uma diferente subsistência na Divindade. A subsistência na Deidade é uma diferença real, mas não essencial, no sentido de uma diferença no ser. Cada pessoa subsiste ou existe "sob" a pura essência divina. Subsistência é uma diferença dentro do escopo do ser, não um ser ou uma essência separada Todas as pessoas da Deidade possuem todos os atributos divinos. Existe também uma distinção na obra realizada pelas pessoas da Trindade Num sentido, a obra da salvação é comum a todas as três pessoas da Trindade Mesmo assim, na maneira de atividade existem diferentes operações assumidas pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito Santo. O Pai inicia a criação e a redenção; o Filho redime a criação; o Espírito Santo regenera e santifica, aplicando a redenção aos crentes. 1
  • 23. A Trindade não se refere a partes de Deus ou mesmo a seus papéis. As analogias humanas, como a do homem que é pai, filho e marido, não conseguem captar o mistério da natureza de Deus. A doutrina da Trindade não explica plenamente o mistério do caráter de Deus. Ao contrário, simplesmente estabelece o limite do qual não devemos passar. Define os limites da nossa reflexão finita. Exige que sejamos fiéis à revelação bíblica de que em um sentido Deus é um e em outro sentido diferente ele é três. Sumário 1. A doutrina da Trindade afirma a triunidade de Deus. 2. A doutrina da Trindade não é uma contradição: Deus é um em essência e três em pessoa. 3. A Bíblia afirma que Deus é único e também afirma a divindade do Pai, do Filho e do Espírito 1 Santo. 4. A Trindade distingue-se pelo trabalho realizado pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito Santo. 5. A doutrina da Trindade estabelece os limites da especulação humana a respeito da natureza de Deus. Para discussão e avaliação 1. O que são as doutrinas do "monismo" e do "triteísmo"? 2. Quais são as diferentes operações do Pai, Filho e Espírito Santo na obra da salvação? 3. De que modo a doutrina da Trindade pode afetar nossa vida de oração? 4. Que diferença faz sabermos das obras que cada uma das três pessoas da Trindade realizou e continua realizando no plano da salvação? 5. A doutrina da Trindade pode atrapalhar um incrédulo a aceitar o evangelho como verdadeiro? Ela deveria ser ensinada para alguém que está sendo evangelizado? Por quê? 6. Quando adoramos a Deus, adoramos uma só pessoa, ou três? A AUTO EXISTÊNCIA DE DEUS 12 Salmos 90.2; João 1.1-5; Atos 17.22-31; Colossenses 1.15-20; Apocalipse 1.8 Quando a Bíblia declara que Deus é o Criador do universo, ela indica que Deus mesmo é incriado. Existe uma distinção crucial entre o Criador e a criação. A criação porta o selo do Criador e testemunha de sua glória. A criação, porém, nunca deve ser adorada. Ela não é suprema. É impossível que alguma coisa crie a si mesma. O conceito de autocriação é uma contradição de termos, uma afirmação sem sentido. Peço ao leitor que faça uma pausa e pense um pouco. Nada pode ser autocriado. Nem mesmo o próprio Deus pode criar a si mesmo. Para que Deus pudesse criar a si mesmo, teria de existir antes de si mesmo. Nem mesmo Deus pode fazer isso. Todo efeito deve ter uma causa. Isso é verdadeiro (por definição). Deus, porém, não é um efeito. Ele não tem um início e, portanto, não tem uma causa antecedente. Ele é eterno. Ele sempre foi ou é. Ele tem, dentro de si, o poder de ser. Ele não necessita de assistência de fontes externas para continuar a existir. Isso é o que se subentende pela idéia de auto-existência. Bem compreendido, trata-se de um conceito sublime e impressionante. Não conhecemos nada que se compare a ele. Tudo o que percebemos em nossa estrutura de referência é dependente e foi criado. Não podemos compreender plenamente algo como auto-existente. Entretanto, só porque é impossível (por definição) que uma criatura seja auto-existente, não significa que seja impossível para o Criador ser auto-existente. Deus, assim como nós, não pode ser autocriado. Deus, porém, diferentemente de nós, pode ser auto-existente. De fato, essa é a própria essência da diferença entre o Criador e a criação. E isso que faz dele o ser supremo e a fonte de todos os outros seres. O conceito de auto-existência não viola nenhuma lei da razão, da lógica ou da ciência. É
  • 24. uma noção racionalmente válida. Em comparação, o conceito da autocriação viola as leis mais básicas da razão, da lógica e da ciência — a lei da não-contradição. A auto-existência é racional; a autocriação é irracional. A noção de alguma coisa ser auto-existente não só é racionalmente possível, como é racionalmente necessária. Além disso, a razão exige que se algo é, então algo deve ter, em si mesmo, o poder de ser. De outra maneira nada existiria. A menos que algo exista em si mesmo, não seria possível existir absolutamente nada. Talvez a questão mais antiga e mais profunda de todas seja: por que existe algo, ao invés de nada? Uma resposta necessária pelo menos para parte desta pergunta é por que Deus existe. Deus existe em si mesmo eternamente. Ele é a fonte e o manancial de toda existência. Só ele tem, em si mesmo, o poder de existir. O apóstolo Paulo declara nossa dependência do poder do ser de Deus para nossa própria existência, quando diz: "Pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos (At 17.28). Sumário 1 Todo efeito deve ter uma causa. 2. Deus não é um efeito; Ele não tem uma causa. 3. Aautocriação é um conceito irracional. 4. A auto-existência é um conceito racional. 5. A auto-existência não só é racionalmente possível, mas é racionalmente necessária. Para discussão e avaliação 1. Deus é autocriado ou auto-existente? Por quê? 2. Por que o autor afirma que autocriação é irracional e auto-existência é racional? 3. Por que o autor afirma que a noção da auto-existência não só é possível, como também 1 necessária? 4. Se Deus existe antes de tudo, sempre existiu e é a origem criadora de tudo, há alguma coisa que possa ser maior do que Deus? 5. Por que o homem moderno continua recusando aceitar a idéia de que Deus é a causa de tudo o que foi criado? 6. O que podemos fazer quando compreendemos a verdade da "auto-existência" de Deus? 7. Como a compreensão da "auto-existência" de Deus pode afetar nossa adoração e nossos atos de culto? A ONIPOTÊNCIA DE DEUS 13 Gênesis 17.1; Salmos 115.3; Romanos 11.36; Efésios 1.11; Hebreus 1.3 Todo teólogo mais cedo ou mais tarde tem de responder a uma pergunta feita por um aluno, a qual é colocada como um "quebra-cabeça que não pode ser montado". A antiga pergunta é: Deus pode criar uma pedra tão grande que ele mesmo não possa movê-la? A primeira vista, essa pergunta parece encurralar o teólogo com um dilema insolúvel. Se respondermos que sim, estamos dizendo que existe algo que Deus não pode fazer: Ele não pode mover a pedra. Se respondermos que não, então estamos declarando que Deus não pode criar tal pedra. De qualquer maneira que respondermos, seremos forçados a pôr limites no poder de Deus. Esse problema nos faz lembrar de uma outra charada: O que acontece quando uma força irresistível se choca contra um objeto irremovível? Podemos conceber uma força irresistível. Podemos, igualmente, conceber um objeto irremovível. O que não podemos conceber é a coexistência dos dois. Se uma força irresistível encontra um objeto irremovível, e o objeto se move, o mesmo não poderia mais ser chamado com propriedade de irremovível. Se o objeto não se mover, então nossa força "irresistível" não poderia mais ser chamada, com propriedade, irresistível. Portanto, vemos que a realidade não pode conter ambos — uma força irresistível e um objeto irremovível. Enquanto isso, voltemos à rocha que não pode ser movida. O dilema colocado aqui (como no caso da força irresistível) é um falso dilema. É falso porque é construído sobre uma
  • 25. premissa falsa. Supõe que "onipotência" significa que Deus pode fazer qualquer coisa. Como termo teológico, contudo, onipotência não significa que Deus pode fazer qualquer coisa. A Bíblia indica várias coisas que Deus não pode fazer: Ele não pode mentir (Hb 6.18). Não pode morrer. Não pode ser eterno e criado. Não pode agir contra sua própria natureza. Não pode ser Deus e não ser Deus ao mesmo tempo e na mesma relação. O que onipotência realmente significa é que Deus mantém poder absoluto sobre sua criação. Nenhuma parte da criação está fora do alcance e da abrangência do seu controle soberano. Portanto, existe uma resposta correta para o dilema da pedra. O quebra-cabeça pode ser montado. A resposta é não. Deus não pode criar uma pedra tão grande que não seja capaz de movê-la. Por quê? Se Deus criasse tal pedra, ele estaria criando algo sobre o qual não teria poder. Estaria assim destruindo sua própria onipotência. Deus não pode deixar de ser Deus; ele não pode deixar de ser onipotente. Quando a virgem Maria estava confusa pelo anúncio do anjo Gabriel a respeito da concepção de Jesus no ventre dela, o anjo lhe disse: “para Deus não haverá impossíveis em todas as suas promessas " (Lc 1.37). Aqui o anjo lembra Maria da onipotência de Deus. Creio que mesmo os anjos são capazes de usar hipérbole. Estreitamente considerado, o anjo expressou uma teologia equivocada. Mas a compreensão bíblica mais ampla, porém, aponta para o sentido de que o poder de Deus vai muitíssimo além do poder da criatura. O que pode ser impossível para nós é possível para Deus. Dizer que nada é impossível para Deus significa que ele pode fazer qualquer coisa que queira fazer. Seu poder não é limitado por limitações finitas. Nada ou "coisa nenhuma" pode restringir seu poder. Mesmo assim, seu poder é ainda restringido pelo quê e quem ele é. O pecado é impossível para ele porque ninguém pode pecar sem querer pecar. Deus não pode cometer pecado porque jamais desejará fazê-lo. Jó chegou ao âmago dessa questão quando declarou: Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado (Jó 42.2). Para o cristão, a onipotência de Deus é uma grande fonte de conforto. Sabemos que o mesmo poder que Deus demonstrou ao criar o universo está à disposição dele para assegurar nossa salvação. Ele mostrou esse poder na saída do povo de Israel do Egito. Mostrou seu poder sobre a morte na ressurreição de Cristo. Sabemos que nenhuma parte da criação pode frustrar seus planos para o futuro. Não existe nem uma molécula independente, solta no universo, e que seja capaz de comprometer os planos de Deus. Embora os poderes e as forças deste mundo ameacem fazer isso, não tememos. Podemos descansar no conhecimento de que nada pode resistir ao poder de Deus. Ele é o Deus Todo-Poderoso. Sumário 1. Onipotência não significa que Deus pode fazer qualquer coisa. Ele não pode agir 1 contra sua natureza. 2. Onipotência refere-se ao poder soberano de Deus, sua autoridade e seu controle sobre a ordem criada. 3. A onipotência, embora seja uma ameaça para o ímpio, é uma fonte de conforto para o crente. 4. O mesmo poder que Deus exibiu na criação é manifestado na nossa redenção. 5. Nada no universo pode atrapalhar ou frustrar os planos de Deus. Para avaliação e discussão 1. O que significa a onipotência de Deus? 2. Por que a doutrina da onipotência divina é fonte de conforto para o homem? 3. Medo e pavor são reações corretas diante da consciência plena do poder de Deus? 4. Que áreas da vida são afetadas quando começamos a compreender a extensão do poder de Deus? 5. Deus pode impedir que a maldade continue progredindo tão rapidamente como acontece nos dias de hoje? Se pode, por que ele não o faz?
  • 26. A ONIPRESENÇA DE DEUS 14 Jó 11.7-9; Jeremias 23.23. 24; Atos 17.22-31 Projeção astral não passa de fantasia. Pessoas podem afirmar que podem deixar seus corpos e fazer uma viagem à Califórnia ou à índia e voltar sem precisar usar um trem, avião ou navio. Na verdade estão iludidas ou estão tentando enganar os outros com tais alegações. Mesmo que a alma ou o espírito de uma pessoa pudesse se "projetar" dessa maneira e "perambular" pelo planeta, tais viagens só poderiam incluir um lugar de cada vez. Nosso espírito humano continua sendo finito e nem agora nem nunca será capaz de estar em mais de um lugar ao mesmo tempo. Somente um Espírito infinito tem o poder da onipresença. Quando falamos da onipresença de Deus geralmente queremos dizer que sua presença está em todos os lugares. Não existe um lugar onde Deus não esteja. Mesmo assim, sendo espírito. Deus não ocupa um lugar, no sentido físico em que os objetos ocupam lugar no espaço. Deus não tem propriedades físicas que ocupem lugar no espaço. A chave para entender esse paradoxo é pensar em termos de outra dimensão. Abarreira entre Deus e nós não é uma barreira de tempo ou espaço. Para se encontrar com Deus, não existe um "aonde" ir ou um "quando" vai acontecer. Estar na presença imediata de Deus é entrar numa outra dimensão. 1
  • 27. Existe um segundo aspecto da onipresença de Deus que freqüentemente negligenciamos. A idéia de omnis relaciona-se não somente com os lugares onde Deus está, mas também a quanto dele está presente naquele determinado lugar. Deus não só está presente em todos os lugares, mas Deus está totalmente presente em cada lugar. Isso é chamado sua imensidade. Os crentes que moram em São Paulo experimentam a plenitude da presença de Deus, enquanto que os crentes que moram em Moscou experimentam a mesma presença. Sua imensidade, pois, não se refere ao seu tamanho, mas à sua capacidade de estar totalmente presente em todos os lugares. A doutrina da onipresença de Deus com razão nos enche de perplexidade. Além da reverência que ela gera, essa doutrina também se revela confortadora. Podemos sempre ter certeza da atenção integral de Deus. Nunca vamos ter de esperar na fila ou marcar um horário para estar com Deus. Quando estamos na presença de Deus, ele não está preocupado com os acontecimentos do outro lado do planeta. Esta doutrina evidentemente, de maneira alguma é confortante para o não-crente. Não existe lugar para se esconder de Deus. Não existe nenhum cantinho do universo onde Deus não esteja. O ímpio que está no infernonão está separado de Deus — está separado somente de sua benevolência. A ira de Deus está constantemente com ele. Davi, que muitas vezes exaltou a glória da onipresença de Deus nos Salmos, nós dá um resumo poético desta doutrina: Para onde me ausentarei do teu Espírito? Para onde fugirei da tua face? Se subo aos céus, lá estás; se faço a minha cama no mais profundo abismo, lá estás também; se tomo as asas da alvorada e me detenha nos confins dos mares, ainda lá me haverá de guiar a tua mão, e a tua destra me susterá. Salmo 139.7-10 Sumário 1. Somente um Espírito infinito pode ser onipresente. 2. Deus não é limitado pelo tempo e espaço. Seu Ser transcende o tempo e o espaço. 3. A onipresença de Deus inclui sua imensidade, pela qual ele pode estar presente em sua plenitude em todo tempo, em todos os lugares. 4. A onipresença de Deus é um conforto para o crente e um terror para o não-crente. Para discussão e avaliação 1.Comente esta frase: "Estar na presença de Deus é entrar em uma nova dimensão". 2.Por que a doutrina da onipotência divina é motivo de conforto para o cristão? 3.Por que ela é fonte de desconforto para o descrente? 4.A comunhão pessoal com Deus pode ser afetada mediante a correta compreensão da 1 sua onipresença? 5.Pode esta doutrina servir de "desculpa" para alguns cristãos freqüentarem lugares que não sejam convenientes a um cristão ir? Por quê? 6.Se Deus está em todo o lugar, por que nos reunimos num templo, em um determinado momento, para um serviço religioso chamado "culto de adoração"? A ONISCIÊNCIA DE DEUS 15 Salmos 147.5; Ezequiel 11.5; Atos 15.18; Romanos 11.33-36; Hebreus 4.13 Minha primeira experiência com o conceito de onisciência foi com algo relacionado com meu entendimento infantil sobre o Papai Noel. Alguém me disse que ele "fazia uma lista e a conferia duas vezes". Eu também pensava que o coelho da Páscoa vivia no sótão da nossa casa (fora da época da Páscoa) de onde podia me vigiar sem ser visto. A palavra onisciência significa "ter todo (omnis) conhecimento (ciência)". É um termo que só pode ser aplicado apropriadamente a Deus. Somente um ser infinito e eterno é capaz de conhecer todas as coisas. O conhecimento de uma criatura finita é sempre limitado por um ser finito. Deus, sendo infinito, é capaz de reconhecer todas as coisas, entender todas as coisas e
  • 28. assimilar tudo. Ele nunca aprende algo ou adquire um novo conhecimento. O futuro, bem como o passado e o presente, são totalmente conhecidos por ele. Nada pode surpreendê-lo. Devido ao fato de que o conhecimento de Deus excede imensamente o nosso (porque é muito mais elevado), alguns cristãos acreditam que o pensamento de Deus difere radicalmente em natureza do nosso. Por exemplo, tem-se tornado comum entre os cristãos a afirmação de que Deus opera numa lógica diferente da nossa. Esse conceito é conveniente quando tropeçamos num ponto difícil em nossa teologia. Se nos encontramos fazendo afirmações contraditórias, aliviamos nossa tensão apelando para a lógica diferente de Deus. Podemos dizer: "Isso pode ser contraditório para nós, mas não na mente de Deus". Tal raciocínio é fatal para o Cristianismo. Por quê? Se Deus de fato tem uma lógica diferente, ou seja, aquilo que é contraditório para nós é lógico para ele, então não temos razão para confiar numa única palavra da Bíblia. Qualquer coisa que a Bíblia nos diga então pode significar exatamente o oposto para Deus. Na mente de Deus, o bem e o mal podem não ser opostos e o Anticristo pode na verdade ser o Cristo. O conhecimento superior de Deus lhe permite resolver mistérios que nos deixam perplexos. Isso, porém, aponta para uma diferença de grau no conhecimento de Deus, não para uma diferença no tipo de lógica que ele usa. Visto que Deus é racional, nem ele mesmo pode conciliar contradições. A onisciência de Deus também emana da sua onipotência. Deus não é todo-ciente simplesmente por ele aplicar seu intelecto superior num estudo profundo do universo e todo o seu conteúdo. Ao contrário, Deus conhece tudo porque ele criou tudo e sua vontade prevalece sobre tudo. Como o governante soberano sobre o universo, Deus tem o controle do universo. Embora alguns teólogos tentem separar as duas coisas, é impossível para Deus conhecer todas as coisas sem ter o controle e é impossível para ele controlar tudo sem conhecer tudo. Como todos os atributos de Deus, a onisciência e a onipotência são interdependentes, duas partes necessárias do todo A onisciência de Deus, como sua onipotência e onipresença, também se relaciona ao tempo. O conhecimento de Deus é absoluto no sentido em que ele é eternamente consciente de todas as coisas. O intelecto de Deus é diferente do nosso no sentido em que ele não tem de "acessar" informações, como um computador tem de acessar um arquivo. Todo o conhecimento está sempre diretamente diante dele. O conhecimento que Deus tem de todas as coisas é uma faca de dois gumes. Para o crente, essa idéia oferece segurança — Deus está no controle, ele entende. Deus não fica confuso diante dos problemas que nos confundem. Para o não-crente, entretanto, a doutrina destaca o fato de que a pessoa não pode esconder-se de Deus. Seus pecados estão expostos. Como Adão, eles tentam ocultar-se. Não existe, porém, nenhum lugar no universo em que o olhar de Deus, seja em amor ou em ira, não possa perscrutar. A onisciência de Deus é também uma parte crucial da sua promessa de introduzir a justiça no mundo. Para que um juiz possa estabelecer um veredicto perfeitamente justo, primeiro tem de conhecer todos os fatos. Nenhuma evidência pode ser oculta do escrutínio de Deus. Ele conhece todas as circunstâncias atenuantes. Sumário 1.Onisciência significa "todo conhecimento". 2.Somente um ser infinito pode possuir conhecimento infinito 3. Deus tem um grau de conhecimento muito mais elevado do que o das criaturas, mas 1 que é do mesmo tipo de lógica. 4. Atribuir um tipo diferente de lógica a Deus é fatal para o Cristianismo 5. A onisciência de Deus é baseada em seu ser infinito e em sua onipotência. 6. A onisciência de Deus é crucial para o seu papel como Juiz do universo. Para discussão e avaliação 1.Por que é perigoso pensar que os pensamentos de Deus diferem radicalmente do tipo do nosso? 2.Por que a doutrina da onisciência de Deus é motivo tanto de segurança como de
  • 29. 1 perturbação? A SANTIDADE DE DEUS 16 Êxodo 3.1-6; 1 Samuel 2.2; Salmos 99.1-9; Isaías 6.1-13; Apocalipse 4.1-11 A primeira oração que aprendi quando criança foi uma simples ação de graças à mesa de refeições: "Deus é grande; Deus é bom; e nós lhe agradecemos este alimento". As duas virtudes atribuídas a Deus nesta oração, grandeza e bondade, podem ser definidas por uma única palavra bíblica — santo. Quando falamos da santidade de Deus, costumamos associá-la quase que exclusivamente com sua pureza e justiça. Certamente a idéia de santidade contém essas virtudes, mas elas não são o significado primário de santidade. A palavra bíblica santo tem dois significados distintos. O significado primário é
  • 30. "separação" ou "distinção". Quando dizemos que Deus é santo, chamamos a atenção para a profunda diferença que existe entre ele e todas as criaturas. Referimo-nos à majestade transcendente de Deus, sua augusta superioridade, em virtude do quê ele é digno de toda honra, reverência, adoração e louvor. Ele é "distinto" ou diferente de nós em sua glória. Quando a Bíblia fala de objetos santos, de pessoas santas ou de tempo santo, ela se refere a coisas que foram postas à parte, consagradas ou diferenciadas pelo toque de Deus sobre elas. O solo onde Moisés estava em pé, perto da sarça ardente, era um solo santo, porque Deus estava presente ali de uma maneira especial. E a proximidade do divino que torna o ordinário subitamente extraordinário, e torna aquilo que é comum em algo incomum. O significado secundário de santo se refere às ações puras e justas de Deus. Deus faz o que é certo. Ele nunca faz o que é errado. Deus sempre age de maneira certa porque sua natureza é santa. Assim, podemos distinguir entre a justiça interna de Deus (sua natureza santa) e a justiça externa de Deus (suas ações). Porque Deus é santo, ele é grandioso e bom. Não há nenhum mal misturado à sua bondade. Quando-somos chamados para ser santos, isso não significa que participamos da majestade divina de Deus, mas que devemos ser diferentes da nossa natureza pecaminosa normal como criaturas caídas. Somos chamados para espelhar e refletir o caráter e a atividade moral de Deus. Temos que imitar sua bondade. Sumário 1. Santidade tem dois significados distintos: (1) "distinção" ou ser "separado" e (2) "puro e 1. Distinção(majestade) 1 justo nas ações". = 2. Pureza (justiça) 2. Somos chamados para ser santos — para refletir a justiça e a pureza de Deus Para discussão e avaliação 1.Quais são os dois sentidos bíblicos para a palavra “santo”? 2.O que significa o primeiro? 3.O que significa o segundo? 4.Deus nos pede coisas impossíveis de se realizarem? Então qual é o verdadeiro significado da exortação bíblica para sermos santos? Nós podemos ser realmente santos nesta vida? 5.Que conseqüências a compreensão da santidade de Deus pode trazer para a vida prática do cristão? 6.A santidade de Deus está relacionada com a exclusividade que Ele exige de todos os seus filhos: "Não terás outros deuses diante de mim..."(Êx 20.3)? Porquê? 7.É verdadeira a afirmação que "somente um povo santo andará com o Senhor"? Sim, não, por quê? A BONDADE DE DEUS 17 Êxodo 34.6, 7; Salmos 25. 8-10; Salmos 100.1-5; Tiago 1.17 SANTO
  • 31. Uma das coisas mais divertidas da vida é ver um cachorrinho ou um gatinho perse-guindo a própria sombra. Ficam tentando inutilmente apanhá-la. Quando eles se movem, a sombra também se move. Isso não acontece com Deus. Tiago declara: “Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança”(Tg 1.17). Deus nunca muda. Com ele não existe “sombra de mudança”. Isso sugere que Deus é imaterial e portanto não pode projetar uma sombra e também que não existe nele um "lado sombrio", num senso figurativo ou moral. Sombras sugerem trevas, e em termos espirituais trevas pressupõem o mal. Desde que não há mal em Deus, também nele não há nenhum sinal de trevas. Ele é o Pai das luzes. Quando Tiago acrescenta que não há “sombra de mudança” em Deus, não é suficiente entender essa afirmação meramente em termos do ser imutável de Deus. Ela refere-se também ao caráter de Deus. Deus não só é totalmente bom, como também é consistentemente bom. Deus não sabe como ser outra coisa senão ser bom. A bondade está tão intimamente conectada a Deus que até mesmo filósofos pagãos como Platão equipararam a bondade suprema, a bondade mais elevada, ao próprio Deus. A bondade de Deus refere-se tanto ao seu caráter quanto ao seu comportamento. Suas ações procedem e emanam do seu ser. Ele age de acordo com o que ele é. Assim como uma árvore corruptível não pode produzir frutos incorruptíveis, assim também um Deus incorruptível não pode produzir frutos corruptíveis. A Lei de Deus reflete sua bondade. Deus é bom não porque obedece alguma lei cósmica fora dele mesmo, que o julga, ou porque ele define o que é bom e portanto pode agir de forma ilegal e usar sua autoridade para declarar que sua ação foi boa. A bondade de Deus tampouco é arbitrária ou caprichosa. Deus obedece uma lei, mas a lei que ele obedece é a lei do seu próprio caráter. Deus sempre age de acordo com seu próprio caráter, o qual é eterno, imutável e intrinsecamente bom. Tiago ensina que todo dom perfeito e toda boa dádiva vêm de Deus. Ele não só é o padrão supremo da bondade — ele é a Fonte de toda bondade. Um dos versículos mais populares do Novo Testamento é Romanos 8.28: “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito”. Esse texto sobre a providência divina é tão difícil de compreender quanto é popular. Se Deusé capaz de fazer com que tudo o que nos acontece funcione para o nosso bem; então, em última análise tudo o que nos acontece é positivo. Temos de ser cuidadosos aqui e colocar a ênfase na palavra última. No plano terreno, as coisas que nos acontecem podem de fato ser ruins (devemos ter cuidado para não chamar o bem de mal ou o mal de bem). Enfrentamos aflições, miséria, injustiças e muitos outros males. Ainda assim, Deus em sua bondade transcende todas essas coisas e age nelas para o nosso bem. Para o cristão, no final, não existem tragédias. No final, a providência de Deus opera em todos esses males que estão próximos de nós para o nosso benefício. Martinho Lutero entendeu esse aspecto da boa providência de Deus quando disse: “Se Deus me dissesse para comer o estrume de animais que fica nas ruas, eu não só comeria, como iria saber que aquilo era bom para mim”. Sumário 1. As criaturas têm sombras projetadas pelas trevas do pecado. 1 SOMBRA CRIATURA DEUS SEM SOMBRA 2. Não existe um lado sombrio em Deus. 3. Deus não está sujeito a nenhuma lei Lei Deus 4. Deus não está isento de lei. Lei/DEUS
  • 32. 1 5. Deus é lei para si mesmo. Para discussão e avaliação 1. O que significa a expressão bíblica "sombra de mudança"? (Tg 1.17) 2. Qual foi o filósofo pagão que equiparou a bondade maior com Deus? 3.Por que a lei de Deus reflete a sua bondade? Ela não parece demonstrar mais a severidade de Deus? 4. Por que é difícil aceitarmos as coisas dolorosas da vida, mesmo sabendo que elas operam juntamente com o propósito de Deus para nós? A JUSTIÇA DE DEUS 1
  • 33. 1 8 Gênesis 18.25; Êxodo 34.6, 7; Neemias 9.32, 33; Salmos 145.7; Romanos 9.14-33 Justiça é uma palavra que ouvimos diariamente. Ela é usada nos relacionamentos pessoais, nas convenções sociais, com respeito à legislação e nos vereditos pronunciados nos tribunais. Embora seja muito comum, essa palavra tem deixado perplexos os filósofos que tentam defini-la. Às vezes conectamos ou equipáramos justiça com aquilo que é conquistado ou merecido. Falamos sobre pessoas que receberam aquilo que mereciam em termos de recompensa ou de punição. As recompensas, porém, nem sempre são baseadas nos méritos. Suponha que façamos um concurso de beleza e declaramos que um prêmio será dado à pessoa que for considerada mais bonita. Se a "beleza" ganha o prêmio, não é porque exista algum mérito em ser bonito. Ao contrário, ajustiça é feita quando o concorrente mais bonito é justamente recompensado com o prêmio. Se os juízes votam em alguém que não consideram o mais bonito (por razões políticas ou porque foram subornados), então o resultado do concurso será injusto. Pelas razões como as mencionadas acima, Aristóteles definiu justiça como "dar a uma pessoa aquilo que lhe é devido". O que é "devido" pode ser determinado por obrigações éticas ou por um acordo pré-estabelecido. Se uma pessoa recebe uma punição mais severa do que seu crime merece, tal punição é injusta. Se alguém recebe uma recompensa inferior à que mereceu, então a recompensa é injusta. Como, pois, a misericórdia se relaciona com ajustiça? Misericórdia e justiça obviamente são elementos diferentes, embora às vezes sejam confundidas. A misericórdia ocorre quando aquele que errou recebe uma punição menor do que merçcia ou uma recompensa maior do que lhe era devida. Deus tempera sua justiça com misericórdia. Sua graça é essencialmente um tipo de misericórdia. Deus é gracioso para conosco quando retém o castigo que merecemos e quando recompensa nossa obediência, a despeito do fato de que é nossa obrigação obedecê-lo, de maneira que não há mérito e não merecemos nenhuma recompensa. Com Deus, a misericórdia é sempre voluntária. Ele nunca tem a obrigação de ser misericordioso. Deus reserva a si o direito de exercer sua graça de acordo com o beneplácito de sua vontade. Por isso disse a Moisés: "Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia, e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão " (Rm 9.15). Muitas pessoas às vezes se queixam de Deus não distribuir sua graça ou sua misericórdia igualmente a todas as pessoas, que ele, portanto, não é justo. Achamos que, se Deus perdoa uma pessoa, então ele tem a obrigação de perdoar todas. Vemos, porém, claramente nas Escrituras que Deus não trata todos da mesma maneira. Ele se revelou a Abraão de uma maneira que não se revelou a nenhum outro pagão no mundo antigo. Revelou sua graça a Paulo de uma maneira que não revelou a Judas Iscariotes. Paulo recebeu graça de Deus, Judas Iscariotes recebeu justiça. Misericórdia e graça são formas de não-justiça, mas não são atos de injustiça. Se o castigo de Judas fosse mais severo do que ele merecia, então ele teria do que reclamar. Paulo recebeu graça, mas isso não requer que Judas também recebes-se. Se graça é exigida de Deus, ou seja, se Deus é obrigado a ser gracioso, então não estamos mais falando de graça, mas de justiça. Biblicamente, justiça é definida em termos de retidão. Quando Deus é justo, ele está fazendo o que é reto. Abraão fez a Deus uma pergunta retórica, a qual só poderia ter uma resposta óbvia: "Não fará justiça o Juiz de toda a terra?" {Gn 18.25). Semelhantemente, o apóstolo Paulo formulou uma pergunta retórica similar: "Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum " (Rm 9.14). Sumário 1. Justiça é dar o que é devido. 2. Ajustiça bíblica está vinculada à retidão, ou seja, fazer o que é reto. 3. A injustiça está fora da categoria da justiça e é uma violação da justiça. A misericórdia também está fora da categoria da justiça, mas não representa uma violação da justiça. - Para discussão e avaliação 1.Qual é o exemplo que o autor cita para demonstrar que recompensa nem sempre é baseada no mérito? 2.Quando somos recompensados por Deus pela nossa obediência, Ele está demonstrando graça ou justiça? Por quê? 3.A justiça de Deus o obriga a punir todo pecado, conforme a lei: "A alma que pecar essa morrerá" - Ezequiel 18.4. Então, como conseguimos o perdão dos nossos pecados? 4.Deus está obrigado a exercer sempre a justiça, pois ele é justo. Que conseqüência isto traz na vida do cristão? E na do não-cristão?
  • 34. 5.Pode Deus exceder na aplicação da justiça a alguém? Ou pode ele recompensar alguém menos 1 do que ele merece? Por quê? PARTE II I
  • 35. 1 A CRIAÇÃO 19 Gênesis 1; Salmos 33.19; Salmos 104.24-26; Jeremias 10.1-16; Hebreus 11.3 Todas as coisas têm um início no tempo e no espaço. Eu tive um início; você teve um início. Acasa onde moramos teve um início. As roupas que vestimos tiveram um início. Houve um tempo em que nossas casas, nossas roupas, carros, máquinas de lavar não existiam; nem nós mesmos existíamos. Essas coisas não eram. Nada pode ser mais óbvio. Estamos cercados por coisas e pessoas que obviamente tiveram um início e por isso somos tentados a pular para a conclusão de que tudo teve um início. Tal conclusão, entretanto, seria um salto fatal no abismo do absurdo. Seria fatal para a religião. Também seria fatal para a ciência e para a razão. Por quê? Não dissemos que todas as coisas no tempo e no espaço tiveram um início? Não seria o mesmo dizer simplesmente que tudo teve um início? De maneira alguma. Lógica e cientificamente é simplesmente impossível que todas as coisas tenham tido um início. Por quê? Se tudo o que existe um dia teve um início, então teria havido um tempo em que nada existia. Pare por um momento e reflita. Tente imaginar a existência de nada. Absolutamente nada. Nem mesmo podemos conceber a existência de absolutamente nada. O próprio conceito é meramente a negação de alguma coisa. Se já houve, porém, um tempo em que absolutamente nada existia, o que haveria agora? Certo. Nada! Seja houve um tempo em que não havia nada, então, pela lógica irresistível essa situação deveria persistir e continuaria sempre a não existir nada. Não haveria nem mesmo o "sempre" durante o qual nada existiria. Por que podemos estar certos, ou melhor, absolutamente certos de que seja houve um tempo em que não havia nada, então hoje deveria continuar não existindo nada? A resposta é espantosamente simples, a despeito do fato de que pessoas extremamente inteligentes às vezes tropeçam no óbvio. A resposta é simples porque você não pode obter algo a partir de nada. Uma lei absoluta da ciência e da lógica diz que ex nihilo nihilfit, quer dizer, “a partir do nada, nada procede”. O nada não pode produzir coisa alguma. Nada não pode rir, cantar, chorar, trabalhar, dançar ou respirar. O nada certamente não pode criar. O nada não pode fazer nada porque ele é nada. Ele não existe. O nada não tem nenhum poder porque não tem existência. Para que alguma coisa procedesse do nada, teria de possuir o poder da autocriação. Teria de ser capaz de criar a si própria ou trazer a si própria à existência. Isso, porém, é um completo absurdo. Para que alguma coisa criasse ou produzisse a si própria teria de ser antes de existir. Entretanto, se algo já existe, não tem necessidade de ser criado. Para criar a si próprio, algo teria de ser e teria de não ser, existir e não existir ao mesmo tempo e no mesmo contexto. Isso é uma contradição. Essa idéia viola uma das mais fundamentais de todas as leis da razão e da ciência — a lei da não-contradição. Se sabemos alguma coisa, então sabemos que, se as coisas existem hoje, então de alguma maneira, em algum lugar, algo não teve início Sabemos de brilhantes pensadores, como Bertrand Russell, o qual em seu famoso debate com Frederick Copelston argumentou que o presente universo é o resultado de uma "série infinita de causas finitas". Isso coloca uma série sucessiva de eventos, um causando o outro, operando retrospectivamente para sempre na eternidade. Essa idéia simplesmente dá uma dimensão infinita ao problema da autocriação. É um conceito fundamentalmente absurdo. O fato de que ele tenha sido proposto por sábios não o torna menos absurdo. É pior do que absurdo. Absurdos podem ser reais. Esse conceito, porém, pela lógica, é impossível. Russell pode negar a lei de que nada procede do nada, mas não pode refutá-la sem cometer suicídio mental. Sabemos (com base na lógica) que, se as coisas existem hoje, então deve ter havido algo que não teve início. A pergunta então é: o quê ou quem seria? Muitos estudiosos sérios acreditam que a resposta para esse o quê é encontrada dentro