Este documento resume uma avaliação financeira de oito iniciativas de manejo florestal comunitário na Amazônia brasileira. As iniciativas variam em escala, desde produção artesanal até produção em grande escala, e abrangem diferentes modelos técnicos e sistemas de organização. O estudo analisou os modelos adotados, investimentos necessários, produtividades alcançadas e rentabilidades obtidas para avaliar a viabilidade financeira destas experiências e subsidiar o desenvolvimento de políticas para o manejo florestal comunitário.
4. GABRIEL MEDINA
BENNO POKORNY
Avaliação Financeira do Manejo
Florestal Comunitário
Belém
2008
5.
6. Índice
Apresentação ....................................................................................... 9
1 Introdução ...................................................................................... 11
2 Mamirauá, Amazonas .................................................................... 17
3 Pedro Peixoto, Acre ........................................................................ 43
4 Projeto Ambé, Flona Tapajós, Pará ................................................ 67
5 Boa Vista dos Ramos (BVR), Amazonas ......................................... 99
6 Reserva Extrativista Estadual do Rio Cautário, Rondônia ........... 119
7 Oficinas Caboclas, Pará .................................................................. 139
8 Projetos de Assentamento Agroextrativista (PAE) Cachoeira e 163
Equador, Acre .................................................................................
9 Projeto de Assentamento Agroextrativista (PAE) Porto Dias, Acre 179
10 Conclusão ....................................................................................... 201
11 Caminhos a seguir ......................................................................... 215
7.
8. Glossário
ACAF – Associação Comunitária Agrícola e de Extração de Produtos da Floresta
ACOMTEP – Associação Comunitária de Pini
AGUAPÉ – Associação dos Seringueiros do Vale do Guaporé
AITA – Associação Intercomunicaria Tapajós
AMPPAE-CM – Associação dos Moradores e produtores do Projeto Agroextrativista
Chico Mendes
APRUMA – Associação dos Produtores Rurais no Manejo Florestal e Agricultura
APRUSANTA – Associação de Pequenos Produtores Rurais de São Jorge, Santa Clara e
Nossa Senhora de Nazaré
ASCOPRATA – Associação Comunitária de Prainha
ASCOPRI – Associação Comunitária de Itapaiúna
ASMIPRUT – Associação Intercomunitária de Mini e Pequenos Produtores Rurais e
Extratitivistas da Margem Direita do Rio Tapajós de Piquiatuba a Revolta.
ASPD – Associação de Seringueiros de Porto Dias
ASSPAAE-SE – Associação dos Produtores do Projeto de Assentamento Agroextrativista
do Seringal Equador
AUTEX – Autorização para Exploração
BIRD – Banco Internacional para a Reconstrução do Desenvolvimento
CAP – Circunferência à Altura do Peito
COOMFLONA – Cooperativa Flona Tapajós Verde
COOPERFLORESTA – Cooperativa dos Produtores Florestais Comunitários
COTAF – Cooperativa de Agentes Florestais
CTA – Centro dos Trabalhadores da Amazônia
DAP – Diâmetro à Altura do Peito
EAFM – Escola Agrotécnica Federal de Manaus
ECOPORÉ – Ação Ecológica Guaporé
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
EPI – Equipamentos de Proteção Individual
FFT – Fundação Floresta Tropical
FLONA – Floresta Nacional
FNMA – Fundo Nacional do Meio Ambiente
FUCAPI – Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica
FUNBIO – Fundo Brasileiro para a Biodiversidade
GPFC – Grupo de Produtores Florestais Comunitários do Acre
GPS – Sistema de Posicionamento Global
9. IBAMA – Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
IBDF – Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal
ICMS Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços
ICRAF – Centro Internacional para a Pesquisa Agroflorestal
IDSM – Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá
IMAC – Instituto de Meio Ambiente do Estado do Acre
INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
IPAM – Instituto de Pesquisa da Amazônia
IPAAM – Agência Ambiental do Amazonas
ITTO – Sigla em Inglês para Organização Internacional da Madeira Tropical (Oimt)
KFW – Banco Alemão para o Desenvolvimento
MEB’S – Movimentos Eclesiais de Base
MFC – Manejo Florestal Comunitário
OCT – Cooperativa Oficinas Caboclas Tapajós
OELA – Oficina Escola de Lutheria da Amazônia
OIMT – Organização Internacional de Madeira Tropical
OSR – Organização dos Seringueiros de Rondônia
PAE – Projeto de Assentamento Agroextrativista
PC – Projeto de Colonização
PDA – Projeto Demonstrativo do Tipo A
PROMANEJO – Projeto de Apoio ao Manejo Florestal Comunitário na Amazônia
RDS – Reserva de Desenvolvimento Sustentável
RESEX – Reserva Extrativista
SEATER – Secretaria Estadual de Assistência Técnica do Acre
SEDAM – Secretaria de Estado de Desenvolvimento Ambiental de Rondônia
SEF – Secretaria de Floresta do Estado do Acre
SEFA – Secretaria Estadual da Fazenda do Acre
SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação
STR – Sindicato dos Trabalhadores Rurais
STRB – Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Belterra
WWF – Fundo Mundial para a Conservação da Vida Selvagem
10. Apresentação
Atuar e trabalhar com o manejo florestal comunitário, nas ações do
ProManejo e no IBAMA, me possibilitou auxiliar no processo de construção
de um caminho adequado para a proteção e conservação da floresta
amazônica, em especial no que diz respeito a adoção de práticas
sustentáveis de uso dos seus recursos.
No desenvolvimento do ProManejo, um amplo leque de atividades
foi realizado. No entanto, desde as primeiras reuniões de construção da
proposta do projeto sempre surgiu uma constante e fundamental
indagação: como demonstrar a viabilidade financeira do manejo florestal
comunitário? Tem viabilidade?
Não faltaram discussões e consultas a especialista sobre o tema.
Cobranças dos financiadores pelo atraso no cumprimento do acordado em
missões de supervisão do projeto. Também não faltaram “aves” agourentas
com críticas destrutivas acerca do apoio e das possibilidades do manejo
florestal comunitário. Ouvimos com paciência (as vezes).
Nossos movimentos, após uma década de apoio a um amplo leque
de experiências, em busca das lições aprendidas para subsidiar a construção
de políticas de promoção de manejo comunitário em maior escala, tinham
que necessariamente ter o apoio de pesquisadores dedicados a gerar e
avaliar esses conhecimentos. A busca a essas pessoas não foi fácil.
Encontramos uma boa parceria e uma equipe técnica do ProManejo
totalmente envolvida para disponibilizar as informações já geradas,
discutir e apoiar a execução dos trabalhos.
Finalmente, nesta obra, você encontrará uma avaliação financeira
inédita de iniciativas de manejo comunitário existentes na Amazônia
brasileira. O estudo avaliou os modelos técnicos adotados, os investimentos
necessários para estabelecer estes modelos, as produtividades alcançadas
e, finalmente, as rentabilidades obtidas. A avaliação demonstrou algumas
possibilidades e limitações nos modelos propostos. Indica também a
necessidade de uma revisão profunda dos modelos de forma a oferecer
11. vantagens comparativas para os produtores investirem no manejo de suas
florestas.
Certamente, esse material não é suficiente para dar todas as
respostas, mas é de grande utilidade para as pessoas interessadas e
motivadas a impedir o desmatamento da região e de construir modelos
que mantenham a floresta em pé e tragam melhorias na qualidade de vida
para as populações locais.
Antônio Carlos Hummel
Diretor de Uso Sustentável da Biodiversidade e Florestas do IBAMA
10
12. 1
Introdução
O Projeto de Apoio ao Manejo Florestal Sustentável na Amazônia
(ProManejo) iniciou em 1996 a apoiar o desenvolvimento e a adoção de
sistemas de manejo florestal por produtores familiares na Amazônia
brasileira, com ênfase na exploração de madeira. Por meio de projetos
demonstrativos, o componente de apoio às iniciativas promissoras
financiou 24 iniciativas incluindo diferentes modelos de manejo florestal,
em diferentes arranjos produtivos, com diferentes sistemas fundiários, e
abrangendo grande diversidade sociocultural, desde populações
tradicionais até imigrantes em projetos de colonização.
Nestas iniciativas, o ProManejo ofereceu apoio financeiro para
diferentes organizações de desenvolvimento (Organizações Não
Governamentais - NGOs e agências governamentais) apoiarem produtores
familiares em comunidades ou áreas individuais a adotarem as práticas de
manejo florestal sustentável. Na maior parte das iniciativas foi oferecida
assistência técnica (por engenheiros e técnicos florestais) para capacitar as
comunidades a manejar suas florestas de acordo com o marco legal e os
modelos técnicos propostos pelas organizações de desenvolvimento. Em
muitas iniciativas foram adquiridos máquinas e equipamentos para o
manejo, transporte e beneficiamento da produção. A maior parte das
iniciativas também contou com apoio para o estabelecimento de um sistema
de comercialização a partir da criação de associações ou cooperativas.
Após uma década de experiências com o manejo florestal
comunitário, a equipe do ProManejo, comunidades, doadores e políticos
estão em busca das lições aprendidas nas iniciativas piloto como base
para a construção de políticas com maior abrangência. Para analisar
criticamente os avanços e as dificuldades encontrados pelos produtores
apoiados é fundamental compreender o desempenho destas iniciativas
11
13. apoiadas. No entanto, ainda não existe uma avaliação sobre a viabilidade
financeira dos diferentes modelos experimentados na região para avaliar
seu real potencial de replicação.
Este trabalho busca contribuir com este objetivo a partir de uma
avaliação financeira de oito iniciativas representativas de manejo florestal
por produtores familiares. O estudo abordou a avaliação do modelo técnico
adotado, dos investimentos necessários para sua implementação, as
produtividades alcançadas e, as rentabilidades obtidas.
Metodologia
As iniciativas avaliadas
As oito iniciativas estudadas foram identificadas pelo ProManejo
como aquelas que apresentavam melhor base de dados para a avaliação.
Elas abrangem uma grande diversidade de realidades na Amazônia
Brasileira como também das possíveis opções de manejo florestal por
comunidades.
Na iniciativa das Oficinas Caboclas (em Santarém, Pará) são
produzidos móveis artesanais tanto com madeira manejada como com
madeira caída. Na iniciativa de Boa Vista dos Ramos (BVR) no Amazonas é
produzida madeira serrada em uma serraria portátil. Na iniciativa Mamirauá
(em Tefé, Amazonas) como também na iniciativa Pedro Peixoto (em
Acrelândia, Acre) é produzida tanto madeira em tora, como madeira serrada
com serraria portátil e com motoserra. As iniciativas Ambé (em Santarém,
Pará) e Costa Marques (em Costa Marques, Rondônia) produzem madeira
em tora para serrarias locais. Finalmente, as iniciativas Alto Acre incluindo
os Projetos de Assentamento Agroextrativistas (PAE) Equador e Cachoeira
(em Xapuri, Acre) e Porto Dias (em Acrelândia, Acre) vendem madeira serrada
em serraria industrial terceirizada (Tabela 1.1). Conforme estas
características foi desenvolvida uma tipologia das iniciativas distribuídas
em um gradiente por tamanho e grau de mecanização.
12
14. Tabela 1.1 – As iniciativas estudadas
Oficinas Boa Vista Mamirauá Pedro Peixoto
Caboclas dos Ramos Serraria Serraria Ambé Costa Alto Porto
Com Madeira (BVR) Em tora portátil Motoserra portátil Motoserra Marques Acre Dias
manejo caída
Município Santarém, BVR, Santarém, Costa Xapuri, Acrelândia,
e Estado Pará Amazonas Tefé, Amazonas Acrelândia, Acre Pará Marques, Acre Acre
Rondônia
Produto Peças Madeira Madeira Madeira Madeira Madeira Madeira Madeira Madeira Madeira Produto
artesanais serrada em tora serrada serrada serrada em tora em tora serrada serrada Porto
Comunidade Pini Menino de Nova Juruamã N. Sra. de Pedro Pedro Várias Canindé Equador e Dias
estudada Deus Betânia Fátima Peixoto Peixoto Cachoeira
Tabela 1.2 – Tipologia das iniciativas estudadas
Menor escala Maior escala
Mini Pequeno Grande Empresarial*
Oficinas caboclas BVR, Mamirauá, Ambé, Costa Marques, Cikel, Juruá, IBL
Pedro Peixoto Alto Acre, Porto Dias
UPAs (ha) 40 10 a 44 100 a 1000 > 600 ha
Volume em tora por UPA (m3) 5 11 a 250 650 a 9100 > 9.000
Volume em tora (m³ por ha) 0,13 0,2 a 11 6a9 > 10
Arraste Tração animal Manual, tração animal Skidder Skidder
ou trator
Organização Associação Associação Cooperativa Empresa Ltda. e SA
Forma de trabalho Conjunto Equipes semi- Equipes especializadas Mão-de-Obra
especializadas / Mão-de-Obra terceirizada contratada
* Dados do projeto Bom Manejo (Embrapa Amazônia Oriental)
13
15. As iniciativas em menor escala envolvem as Oficinas Caboclas por
explorarem sem mecanização um volume de somente 5m3 por ano e as
iniciativas BVR, Mamirauá, e Pedro Peixoto por explorarem de 11 a 250m3
por ano. Iniciativas em menor escala estiveram organizadas em associações
comunitárias e os associados trabalharam em todas as atividades de forma
não especializada ou semi-especializada. As iniciativas Ambé, Costa
Marques, Alto Acre e Porto Dias foram classificadas como de maior escala
por explorarem de 650 a 9100 m3 por ano usando arraste mecanizado.
Iniciativas em maior escala estiveram organizadas em cooperativas para a
comercialização da produção e dispuseram de equipes especializadas em
atividades específicas e mão-de-obra contratada (Tabela 1.2).
O levantamento de campo
Em todas as iniciativas, uma comunidade representativa foi estudada
para caracterizar o sistema de manejo. Este relatório está baseado em
informações coletadas em pesquisa de campo nestas comunidades. O
levantamento de informações tomou três a quatro dias de trabalho de
campo por iniciativa e envolveu entrevistas com os técnicos acompanhando
as iniciativas, com três a quatro manejadores que tinham maior
conhecimento sobre custos de produção, e visita às áreas de exploração e
processamento de madeira. Adicionalmente foi feita a revisão dos
documentos das associações e cooperativas das comunidades e das
organizações de apoio.
Em campo, cada atividade produtiva de cada caso foi caracterizada.
Foram levantadas informações sobre a produtividade de trabalho das
equipes e máquinas para cada atividade. Os custos foram levantados
divididos em custos diretos (relacionados a atividades específicas) e
indiretos (relacionados à iniciativa como um todo). No cálculo dos custos
diretos foram considerados os custos com pessoal e máquinas. Os custos
com pessoal foram baseados no valor da diária paga pela iniciativa para
seus associados ou no valor da diária local nas iniciativas que não pagam
diárias. Os custos com máquinas consideraram os custos fixos e semi-fixos
com capital, depreciação e manutenção. Os custos de capital foram
estimados com um juro de 5%, valor cobrado pelo Banco da Amazônia no
14
16. Fundo Constitucional do Norte em créditos para pequenos
empreendimentos. A depreciação foi calculada em 10 anos para as máquinas
de forma geral. Optou-se por não utilizar o cálculo por hora-máquina a
partir das observações de campo de que ao final de 10 anos as máquinas
já estavam defasadas e abandonadas, mesmo aquelas com pouco tempo
de uso. Nas iniciativas em que a máquina era também utilizada para outras
atividades, os custos com depreciação foram proporcionalmente
distribuídos entre as atividades. Os custos com manutenção foram
calculados a partir de 60% do valor da depreciação, com base em uma
estimativa proposta pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura
e Alimentação (FAO).
A partir das especificidades observadas em cada iniciativa definiu-se
um modelo de manejo florestal a ser avaliado. Os modelos consideraram
aspectos como as tecnologias e máquinas usadas, o tamanho da unidade
de produção anual e o volume anualmente explorado e beneficiado. Nas
iniciativas Oficinas Caboclas, Mamirauá, e Pedro Peixoto foram encontrados
mais de um modelo de manejo que foram avaliados neste trabalho
(Tabela 1.3).
Conteúdo
Este trabalho apresenta os resultados da avaliação financeira de cada
caso em detalhe. Cada capítulo traz um caso com seus antecedentes,
descrição técnica do sistema de manejo adotado, custos de produção,
valores de venda, análise de viabilidade financeira, e histórico de apoio
externo. Para cada atividade foram calculadas as produtividades e custos
de um dia de trabalho das equipes e máquinas. Com base nos modelos
estabelecidos, foi identificadas a quantidade de dias necessários para o
desempenho de cada atividade. Finalmente, foram calculados os custos
para a exploração de cada área e do metro cúbico de madeira produzido.
O capítulo final traz as conclusões da avaliação comparativa das diferentes
iniciativas. Nas conclusões são discutidas as limitações e potenciais para a
promoção do manejo florestal por produtores familiares na Amazônia.
15
17. Tabela 1.3 – Características dos diferentes modelos de manejo estudados
16
Oficinas Caboclas Boa Mamirauá Pedro Peixoto
Com Madeira Vista Em tora Serraria Motoserra Serraria Motoserra Ambé Costa Alto Porto
manejo caída dos Ramos portátil portátil Marques Acre Dias
UPA 40 1 40 22 10 10 4 4 1000 500 450 100
Volume em
tora (m 3) 5,52 5,52 83,4 250 67,34 24,13 11,68 11,68 9.109 4.380 2.700 650
Volume 3,6 (240 3,6 (240
beneficiado peças) peças) 40 – 30,25 10,84 5,84 4,91 – – 1116,62 268,82
(m 3)
18. 2
Mamirauá, Amazonas
2.1 Antecedentes
A Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá está localizada
no estado do Amazonas na confluência dos rios Japurá, Solimões e
Auatiparaná, compreendendo uma área de 1.124.000 hectares, de um
ecossistema de várzea. A reserva é habitada por aproximadamente 5.300
pessoas, distribuídas em 63 comunidades ribeirinhas. Os moradores são
pescadores, agricultores, extratores de madeira, artesãos e criadores de
pequenos animais. Em 1999, foram iniciadas as primeiras etapas para
implantação de um modelo de manejo florestal para exploração de madeira
pelo Instituto Mamirauá. A iniciativa foi estabelecida primeiramente em
um setor piloto e posteriormente estendida aos outros nove setores
existentes na área focal de atuação do Instituto Mamirauá. A iniciativa
começou com cinco comunidades produzindo madeira em tora e hoje
engloba 25 comunidades: 16 que comercializam madeira em tora, cinco
que comercializam madeira serrada com motoserra e quatro que produzem
madeira serrada com serraria portátil.
O manejo é feito em áreas de várzea, principalmente nas áreas de
restinga que são inundadas quatro meses por ano. Os planos de manejo
florestal comunitário englobam, em média, 40% da área total da
comunidade. A área de manejo é dividida em 25 unidades de produção
anual (UPAs) para o ciclo de manejo, prevendo que no 26º ano a
comunidade possa voltar para a primeira UPA explorada. A cada ano as
comunidades selecionam a área que será manejada (quando a restinga é
pequena, mais de uma área é selecionada). Normalmente a madeira é
derrubada quando o rio começa a encher, em fevereiro.
Quando a madeira é comercializada em tora, ela é transportada boiando
até o lago ou cano mais próximo onde são preparadas as jangadas que
serão rebocadas pelo comprador da madeira. Quando a madeira é serrada
17
19. com a motoserra ou com a serraria portátil, as árvores são exploradas e
beneficiadas dentro das áreas de manejo. Na área de manejo a madeira é
serrada com várias finalidades como: pranchas, vigas, sobre-vigas, esteios,
pernamancas e tábuas. As pernamancas, sobre-vigas, esteios e tábuas são
transportadas manualmente pelos próprios manejadores até a margem do
rio, onde são recebidas pelo comprador. As pranchas são carregadas até
uma canoa, onde são transportadas até a balsa do comprador. Já as vigas
são transportadas quando o rio está cheio emboiadas (apoiadas) em uma
canoa da área de manejo até as margens dos canos e rios da região.
2.2 Levantamento das informações
2.2.1 Viagem de campo e entrevistas
O levantamento de campo foi feito entre 16 e 18 de junho
principalmente em três comunidades produzindo madeira: uma em tora,
outra serrada com serraria portátil e outra serrada com motoserra. Nestas
comunidades, um grupo de dois manejadores foi entrevistado sobre as
etapas produtivas do sistema adotado no último ano de exploração, os
custos dessas etapas, a mão de obra destinada e a remuneração obtida
com a venda da madeira (cada comunidade foi visitada em um dia)
(Tabela 2.1). Adicionalmente, outras comunidades foram visitadas para
contrastar e validar os índices técnicos inicialmente identificados
(Comunidades Canariá e Assunção).
Também foi feito um levantamento junto à equipe técnica do Instituto
Mamirauá sobre o sistema de acompanhamento desenvolvido e os
investimentos iniciais necessários (Tabela 2.2). Algumas informações do
banco de dados do Instituto foram disponibilizadas para complementar
as informações de campo sobre os volumes produzidos e a produtividade
da serraria portátil. Adicionalmente foi entrevistado o madeireiro que é o
principal comprador da madeira das comunidades estudadas e dois
marceneiros da cidade de Tefé.
18
20. Tabela 2.1 – Comunidades que serviram de base para a avaliação
Sistema Comunidade Pessoas Área total Área sob Área das Número de Número de
estudada entrevistadas (ha) manejo (ha) UPAs (ha) famílias manejadores
Em tora Nova Betânia Donato Barroso e 14
Eney Barroso de Castro 2870 1291 51 16 (2 equipe de 7)
Serrada de Juruamã Ailton Goves Gama e 625 250 10 25 5
serrara portátil Raimundo Balbino Amazonas
Serrada de Nossa Senhora Donival Pontes da Silva e 665 259 10 4 4
motoserra de Fátima Aluizio Alves Costa
Tabela 2.2 – Equipe técnica do Instituto Mamirauá entrevistada
Nome Função
Marlon Menezes Engenheiro florestal responsável pelos planos de manejo no período estudado
Hudson Fonseca dos Santos Técnico florestal responsável pelo acompanhamento das comunidades nas diferentes etapas do manejo
Marilso Rodrigo da Silva Técnico florestal responsável pelo acompanhamento da produtividade da serraria portátil
Sebastião Oliveira Dias Responsável pelas obrigações tributárias das associações comunitárias
19
21. 2.2.2 A base de dados
A maior parte dos cálculos de índices técnicos foi feita com base em
entrevistas com os manejadores. Nenhuma das comunidades pesquisadas
havia computado informações técnicas sobre os sistemas de manejo
adotados. Por isto, as entrevistas enfocaram nos rendimentos da última
safra de cada caso, que estavam mais claro na memória dos entrevistados.
Para o cálculo de aproveitamento do uso da serraria portátil, foram
utilizados como base os resultados de um estudo encomendado pelo
Instituto Mamirauá (Almeida, 2006).
2.3 Descrição técnica do manejo
Entre as comunidades apoiadas pelo Instituto Mamirauá são
utilizados três sistemas diferentes: no primeiro, a madeira é explorada em
tora; no segundo a madeira é serrada com uma serraria portátil e, no
terceiro, a madeira é serrada com motoserra.
Sistema tora
Na experiência desenvolvida pela comunidade Nova Betânia um
grupo de sete pessoas explora uma área de cerca de 22 ha a cada ano para
a produção de 250 m 3 de madeira em tora. 1 O sistema consiste nas
comunidades fazerem a seleção e o inventário de suas áreas e o inventário
antes do final de cada ano, normalmente em novembro. No final de
dezembro o POA é protocolado junto à agência ambiental e a exploração
das árvores é feita quando as águas começam a encher, em fevereiro. Com
a água cheia (em junho), as famílias voltam para a área de manejo para
rebocar (transportar) as toras até os lagos ou canos mais próximos das
áreas de manejo. Nestes lagos são feitas as jangadas das toras (normalmente
duas árvores que bóiam são atadas a uma árvore que não bóia, em uma
1
Na prática, a comunidade estabelece UPAs de cerca de 50 ha que são exploradas por duas
equipes de trabalho (neste trabalho, são apresentados os dados de uma equipe de trabalho em
22 ha por ano).
20
22. técnica conhecida como gangorra). A partir daí o comprador assume a
responsabilidade pelo transporte da madeira em toras.
Sistema serraria portátil
Na experiência desenvolvida pela comunidade Juruamã um grupo
de sete pessoas produz 30,25 m3 de madeira serrada a partir de 67,34 m3
de madeira em tora de uma área de 10 ha a cada ano. Ao contrário dos
sistemas de venda em tora que são estabelecidos em áreas de restinga
(com inundação de quatro meses por ano), a exploração da madeira para
serragem com serraria portátil é feita preferencialmente em áreas que
permaneçam secas na maior parte do ano. O sistema de manejo repete os
passos dos sistemas anteriores até a etapa da exploração e serragem. As
árvores são derrubadas por uma equipe e traçadas em toras de tamanho
que atenda aos pedidos dos clientes. A serraria portátil é instalada no
local de derruba das árvores. A equipe responsável pela serraria serra a
madeira em pranchas, tábuas, vigas, de acordo com o pedido feito pelo
comprador. A madeira serrada é transportada para a margem do rio mais
próximo para ser levada pelo comprador, normalmente em balsas.
Sistema motoserra
Na experiência desenvolvida pela comunidade Nossa Senhora de
Fátima um grupo de quatro pessoas produz 10,84 m3 de madeira serrada
a partir de 24,10 m3 de madeira em tora (15 árvores) de uma UPA de 10 ha
ao ano.2 O sistema consiste na seleção, inventário, exploração e serragem
de árvores de alto valor comercial na época seca. As árvores são exploradas
e serradas com a motoserra no lugar da queda. As comunidades que adotam
este sistema normalmente o fazem porque têm pouca madeira que bóia
em suas áreas e, portanto, não podem fazer o transporte em toras.
Os índices de produtividade das diferentes atividades dos três
sistemas são resumidos na Tabela 2.3 e explicados no texto em seguida.
2
A comunidade teve uma UPA licenciada de 10,79 ha com 51 árvores para a extração mas, na
prática, acabou explorando apenas 15 árvores no ano estudado.
21
23. Tabela 2.3 – Índices técnicos dos três diferentes sistemas de exploração madeireira usadas em Mamirauá
22
Produção de toras Uso de serraria portátil Serragem com motoserra
Atividade N Produção Unid. total Dias de N Produção Unid. Total Dias de N Produção Unid. Total Dias de
por dia trabalho por dia trabalho por dia trabalho
Seleção da UPA 7 22,00 ha 22,00 1,00 7 10,00 ha 10,00 1,00 2 10,00 ha 10 1,00
Inventário 7 3,67 ha 22,00 6,00 6 2,50 ha 10,00 4,00 4 2,50 ha 10 4,00
Rodada de 1 7,33 ha 22,00 3,00 1 3,33 ha 10,00 3,00 1 3,33 ha 10 3,00
negócios
Derruba 2 27,77 m³ 250,00 9,00 3 9,62 m3 67,34 7,00 3 8,04 m3 24,13 3,00
Preparação da 5 50,00 m³ 250,00 5,00 – – – – – – – – – –
arraste
Reboque 7 50,00 m³ 250,00 5,00 – – – – – – – – – –
Fazer jangada 7 83,33 m³ 250,00 3,00 – – – – – – – – – –
Acompanhar 7 250,00 m³ 250,00 1,00 – – – – – – – – – –
transporte
Serragem – – – – – 3 1,52 m³ 30,00 19,74 3 0,66 m³ 10,84 16,42
serrado serrado
Transporte – – – – – 3 2,00 m³ 30,25 15,13 5 2,71 m³ 10,84 4,00
serrado serrado
24. 2.3.1 Seleção da área (UPA)
O grupo de manejadores seleciona um dia para visitar diferentes
áreas e selecionar aquela que vai ser explorada naquele ano. O único gasto
é com de gasolina para abastecer o motor rabeta da comunidade para ir
até a área. A alimentação é levada pelas pessoas e complementada com
peixe pescado na hora.
2.3.2 Delimitação e Inventário
Escolhida a área, os manejadores iniciam as atividades de
levantamento de estoques, conhecido como inventário, normalmente em
novembro. A equipe constrói uma linha base na floresta e abre as trilhas
de orientação a cada 50 metros. A mesma equipe faz o inventário da área
delimitada e o plaqueamento das árvores inventariadas. No sistema em
toras estas atividades feitas em 22 ha tomam três dias de trabalho de sete
pessoas com uma produtividade média de 3,67 ha por dia. Nos sistemas
de madeira serrada as atividades em 10 ha são feitas em quatro dias de
trabalho com produtividades médias de 2,5 ha por dia. A partir dos dados
de inventário, o POA é elaborado pela equipe técnica e o engenheiro
florestal viaja para Manaus para protocolar na agência ambiental do
Amazonas – o IPAAM, no final de dezembro.
2.3.3 Rodada de negócios
Uma vez que a licença para explorar a madeira é emitida pelo IPAAM,
é feita uma rodada de negócios para sua venda. A rodada é feita anualmente
entre os dias 10, 11 e 12 de fevereiro entre compradores e representantes
das diferentes comunidades envolvidas. No dia, 10 membros das
comunidades se reúnem para discutir os valores praticados no mercado e
definir propostas de venda. Nos dois dias seguintes, as negociações são
feitas.
2.3.4 Derruba
Em relação à derruba se pode distinguir a aplicação de três diferentes
sistemas: o sistema tora, o sistema serraria portátil e o sistema motoserra.
23
25. Sistema tora
Negociada a madeira, a comunidade inicia sua derruba quando as
famílias percebem que o rio vai encher o suficiente para permitir o
transporte da madeira boiando. Caso a comunidade perceba que o rio não
vai encher o suficiente, a madeira não é derrubada naquele ano. A equipe
de 7 pessoas trabalha em conjunto. Um grupo de cinco pessoas limpa a
área onde a árvore deve cair e já prepara o ramal para seu reboque (arraste)
enquanto outro grupo de duas pessoas trabalha na derruba com motoserra.
Os manejadores estimam que derrubem 9 árvores por dia, gastando 9
dias para explorar os 250 m 3 dos 22 hectares. Isto resulta em uma
produtividade média de 27,77 m3 por dia.
Sistema serraria portátil
No sistema serrado, a exploração e a serragem são feitas de forma
seqüencial. Isso faz com que a produtividade das equipes de derruba seja
menor no sistema serrado. A árvore é explorada e já é traçada em toras de
acordo com o pedido (normalmente 2,3 m ou 3 m de comprimento). A
equipe é composta por três pessoas, si não são abertos ramais para reboque.
No sistema com serraria portátil são estimados que na derruba de 67,34
m3 de madeira serrada a equipe de três pessoas leve 7 dias de trabalho.
Isto resulta em uma produtividade média de 9,62 m3 por dia.
Sistema motoserra
No sistema com motoserra são estimados que na produção de 24,13
m a equipe de três pessoas leve três dias de trabalho. Isto resulta em uma
3
produtividade média de 8,04 m3 por dia.
2.3.5 Serragem
Sistema serraria portátil
A serragem é feita com uma serraria portátil fabricada pela empresa
australiana Lucas Mill de modelo 827 com corte de 215 mm, motor a
gasolina, e possibilidade de serrar peças de até 21,5 cm x 21,5 cm. Em um
estudo desenvolvido pelo Instituto Mamirauá, a taxa média de
aproveitamento foi de 2,226 m3 de madeira em tora para a produção de
24
26. um metro cúbico de madeira serrada (Almeida, 2006). O mesmo estudo
apontou uma produtividade média de 1,52 m3 de madeira serrada por dia
de trabalho de uma equipe composta por três pessoas. No sistema
implementado, a serraria é compartilhada por quatro comunidades que
precisam ter um kit individual das peças que têm desgaste rápido e
compartilhar a troca das peças com desgaste mais lento. Estima-se que a
serraria trabalhe até 200 horas por ano em cada comunidade. Em alguns
casos a comunidade também usa uma matraca conhecida como tifor, que
tem custo de R$ 1000,00 mas normalmente é cedida pelo comprador,
para mover as toras da árvore derrubada e facilitar a instalação da serraria.
Quando esse trabalho é feito manualmente, como na comunidade estudada,
ele normalmente consome bastante tempo e exige bastante esforço físico
dos manejadores.
Sistema motoserra
Para o sistema de serragem das toras com motoserra, trabalha uma
equipe de três pessoas. Em uma produção acompanhada pelo Instituto
Mamirauá, a equipe produziu 8,652 m3 em 13 dias (Tabela 2.4). Isto dá
uma produtividade de 0,66 m 3 por dia. Para a produção de 10,84 m3
serrados, estima-se que a equipe use 16,42 dias.
Tabela 2.4 – Produção de madeira serrada com motoserra na comunidade N. S. de Fátima
Etapa Número Produção Volume Produção Volume Volume total
de dias (m³)
1 5 100 tábuas 3,048 50 pernamancas 0,127 3,175
2 5 100 tábuas 3,048 20 esteios 1,200 4,248
3 3 30 sobrevigas 1,190 11 vigas 0,039 1,229
TOTAL 13 8,652
Fonte: Instituto Mamirauá
1.3.6 Transporte
Sistema tora
Já durante a derruba, cinco pessoas trabalharam limpando a área
onde a árvore deve cair e preparam o ramal para seu reboque (arraste).
Com a subida do rio (em julho), os manejadores voltam à área de manejo
25
27. e iniciam o trabalho de rebocar (transportar) os troncos das árvores para o
lago mais próximo. O grupo de 7 pessoas costuma fazer este trabalho
com uma produtividade de 14 árvores por dia, igual a 50 m3, resultando
em um gasto de cinco dias de trabalho para rebocar as 70 árvores (250
m3) exploradas em um talhão de 22 ha. Uma vez no lago, a madeira é
organizada em forma de jangadas, com as toras organizadas em paralelo
e atadas por cabos de aço para serem rebocadas por barco a motor. Com a
jangada feita, a madeira é medida pelos manejadores com o apoio de um
técnico florestal. Neste serviço são gastos três dias de trabalho do grupo
de 7 manejadores. Quando a jangada está preparada o comprador assume
a responsabilidade pelo transporte. Não obstante, é comum que os
comunitários ainda precisem dedicar um dia de trabalho para ajudar a
organizar as jangadas no barco que vai fazer o transporte.
Sistema serraria portátil
Normalmente a equipe da motoserra termina seu trabalho antes da
equipe da serraria e passa a fazer o transporte da madeira serrada para a
margem do rio de forma manual. Aqui se estima 15 dias de trabalho de
três pessoas, com uma produtividade média de 2 m³ por dia de trabalho.
Sistema motoserra
Uma vez serrada, a madeira é transportada até a margem do rio
para ser embarcada. O transporte de 10,84 m3 de madeira serrada inclui
mão-de-obra do grupo de manejadores (4 dias de trabalho de 4 pessoas)
mais a contratação de mão-de-obra da comunidade como ajudante, que
equivale ao trabalho de mais uma pessoa por quatro dias.
2.4 Custos
Os custos foram divididos entre custos diretos e indiretos. Os custos
diretos são computados como custos com equipe e custos com os
maquinários em atividades específicas. O cálculo de custos com as máquinas
levou em conta os custos fixos e semi-fixos (de custos de capital calculados
em 5%, taxa de depreciação em 10 anos e manutenção) e o consumo de
combustível das máquinas usadas em cada atividade. Estes custos são
resumidos na Tabela 2.5 e apresentados em detalhe no texto em seguida.
26
28. Tabela 2.5 – Custos diretos por dia de trabalho para os três sistemas de produção (em R$)
Sistema Tora Sistema Serraria Portátil Sistema Motoserra
Operações Pessoas Custo Custo com Custo Pessoas Custo Custo com Custo Pessoas Custo Custo com Custo
locais na com máquinas total locais na com máquinas total locais na com máquinas total
equipe equipe Fixo Consumo equipe equipe Fixo Consumo equipe equipe Fixo Consumo
Seleção da UPA 7 105,00 _ _ 105,00 7 105,00 _ _ 105,00 2 30,00 _ _ 30,00
Inventário 7 105,00 _ 105,00 6 90,00 – _ 90,00 4 60,00 _ _ 60,00
Rodada de 1 15,00 – 81,00 96,00 1 15,00 _ _ 15,00 1 15,00 _ _ 15,00
negócios
Derruba 2 30,00 25,17 21,33 76,50 3 45,00 16,19 27,43 88,62 3 45,00 21,32 66,32
Serragem 3 45,00 116,51 47,88 209,39 3 45,00 27,60 60,35 132,95
Preparação do 5 75,00 _ _ 75,00 – – – – – – – – – –
ramal de
reboque
Transporte 7 105,00 – – 105,00 3 45,00 _ _ 45,00 5 75,00 _ _ 75,00
Fazer jangada 7 105,00 – – 105,00 _ _ _ _ _ _ _ _ _ –
Acompanhar 7 105,00 – – 105,00 _ _ _ _ _ _ _ _ _ –
transporte
27
29. Os custos indiretos se referem ao acompanhamento técnico,
administração, licença de operação, impostos, uso do barco a motor rabeta,
e outros custos. Estes custos são resumidos na tabela abaixo (Tabela 2.6)
e apresentados em detalhe no texto em seguida.
Tabela 2.6 – Custos indiretos para os três sistemas de produção (em R$)
Item Sistema Tora Sistema Serraria Portátil Sistema Motoserra
Acompanhamento técnico 2.798,00 2.798,00 2.798,00
Administração 536,20 536,20 536,20
Licença 283,00 265,54 265,00
Impostos 0,00 1.053,00 387,00
Rabeta 561,37 609,37 369,37
Outros custos 200,60 163,10 163,10
2.4.1 Salários e encargos sociais
Nos sistemas de Mamirauá não são pagas diárias para os membros
da associação trabalhando no manejo. O sistema prevê que os rendimentos
alcançados com a venda da madeira sejam divididos ao final entre os
participantes. Para este trabalho, no entanto, foi estimado, com base nas
diárias pagas localmente, um valor de R$ 15,00 por dia de trabalho de
cada pessoa.
2.4.2 Custo das máquinas
Serraria portátil
Os custos anuais fixos e semi-fixos com o uso da serraria portátil
foram estimados em R$ 9.198,20 (Tabela 2.7). Em Mamirauá quatro
comunidades compartem o uso da serraria portátil, cada uma usando um
kit próprio de peças de reposição. O custo anual com a serraria dividido
entre quatro comunidades resulta em R$ 2.299,55 por comunidade por
ano. Como são usados cerca de 19,74 dias para serrar a madeira de uma
UPA, estima-se o custo diário da serraria portátil em R$ 116,51.
28
30. Tabela 2.7 – Custos anuais fixos e semi-fixos da serraria portátil (em R$)
N Máquina Valor Vida útil Custo Depreciação Manutenção Total por Total por
(anos) capital máquina comunidade (4)
1 Lucas Mill 49.720 10 1.243,00 4.972,00 2.983,20 9.198,20 2.299,55
Para a produção de 30 m3 de madeira serrada a comunidade usou
350 litros de gasolina (Tabela 2.8). Isto gerou um custo de R$ 945 que,
dividido em 19,74 dias, resulta em um custo diário de R$ 47,88.
Tabela 2.8 – Custo do consumo da serraria Lucas Mill para a produção de 30m3 (em R$)
Custos Quantidade Valor Total por ano
Gasolina (l) 350 2,70 945,00
Custo da motoserra para derruba
Os custos fixos e semi-fixos do uso da motoserra para a derruba
resultam em um valor de R$ 453,25 por ano (Tabela 1.9). No sistema em
tora, assumindo que a motoserra é utilizada para outras atividades,
considerou-se a metade do custo, no valor de R$ 226,62 por ano. Como
são usados cerca de nove dias para derrubar 250 m3 de madeira de uma
UPA, estima-se o custo diário da motoserra em R$ 25,17.
Tabela 2.9 – Custos anuais fixos e semi-fixos da motoserra para a derruba de 250 m3 (em R$)
N Máquina Valor Vida útil Custo Depreciação Manutenção Total por
(anos) capital máquina
1 Motoserra 2.450,00 10,00 61,25 245,00 147,00 453,25
O consumo com a motoserra para derrubar e traçar 250 m3 de madeira
no sistema em tora foi estimado em R$ 192,00 (Tabela 2.10). Como são
usados nove dias para a derruba, estima-se um custo diário de R$ 21,33.
Tabela 2.10 – Custos do consumo da motoserra para derruba de 250 m3 (em R$)
Itens Quantidade Valor Custo total por ano
Gasolina para motoserra 20 3 60,00
Óleo 2T 1 8 8,00
Óleo queimado 15 1,5 22,50
Corrente 1 80 80,00
Limatão 1 3 2,00
Licenciamento da motoserra 1 15 7,50
TOTAL 192,00
29
31. Nos sistema serrado com serraria portátil 67,34 m3 de tora são
derrubados e traçados. Para este sistema, estimou-se os custos fixos como
50% menores (R$ 113,31) e o consumo foi mantido o mesmo uma vez que
a madeira é traçada. Para o sistema serrado com motoserra são derrubados
e traçados 24,13 m3 de tora com um custo de consumo estimado em R$
64,00 (como este sistema utiliza a mesma motoserra para a serragem, os
custos fixos são apresentados abaixo).
Custo da motoserra para serragem
Os custos fixos e semi-fixos do uso da motoserra foram estimados
em um valor de R$ 453,25 por ano (Tabela 2.9). Considerando que, para a
serragem, são usados 16,42 dias, estima-se um custo diário de R$ 27,60.
O custo de consumo com a motoserra para produzir 10 m3 de madeira
serrada foi estimado em R$ 991,25 (Tabela 2.12). Considerando os 16,42
dias usados para a serragem, estima-se um custo diária de consumo de R$
60,35.
Tabela 2.11 – Custos de consumo para a motoserra de serragem para produzir 10 m3 de madeira
serrada (em R$)
Quantidade Valor unitário Valor total
Gasolina (l) 179 2,75 492,25
Óleo 2T 9 8 72
Óleo queimado 100 1,5 150
Correntes 3 80 240
Limatão 5 3 15
Lima chata 1 7 7
Licenciamento 1 15 15
TOTAL 991,25
Custo para a rabeta
O barco a motor rabeta é utilizado para o transporte do pessoal em
todas as atividades de campo. Para facilitar os cálculos, consideramos o
número de dias de campo feitos em cada caso e o consumo médio de
combustível (Tabela 2.12 e Tabela 2.13). Os custos com o motor rabeta
foram considerados custos indiretos.
30
32. Tabela 2.12 – Custos anuais fixos e semi-fixos da rabeta (em R$)
N Máquina Valor Vida útil Custo Depreciação Manutenção Total por Total
(anos) capital máquina anual
1 Rabeta 750 10 18,75 75,00 45,00 138,75 69,37
Tabela 2.13 – Consumo de gasolina do motor rabeta nos diferentes sistemas
Sistema Dias Consumo do Custo Total Custo total (R$)
rabeta por dia (l) (R$) (R$) (incluindo custos fixos)
Tora 41 4 3,00 492,00 561,37
Serraria portátil 36 5 3,00 540,00 609,37
Motoserra 25 4 3,00 300,00 369,37
2.4.3 Acompanhamento técnico
Para o acompanhamento técnico, um engenheiro florestal custa ao
Instituto Mamirauá R$ 2.600,00 por mês e é capaz de atender a 25
comunidades. Um técnico florestal custa R$ 1.500,00 e é capaz de atender
a 10 comunidades (Tabela 2.14).
Tabela 2.14 – Custos da equipe para acompanhamento técnico (em R$)
Equipe técnica Salário Número de Custo anual Número de comunidades Custo por
meses atendidas comunidade
1 engenheiro 2600,00 6 15600,00 25 624,00
1 técnico 1500,00 6 9000,00 10 900,00
TOTAL 1524,00
Para este cálculo, foram considerados apenas seis meses de trabalho
da equipe técnica. Como base de cálculo foram adicionados os custos da
voadeira utilizada pelos técnicos do Instituto Mamirauá no apoio às
comunidades (Tabela 2.15 e Tabela 2.16), elevando os custos de
acompanhamento técnico para R$ 2.798,00 por ano por comunidade.
Tabela 2.15 – Custos anuais fixos e semi-fixos da voadeira para acompanhamento técnico (em R$)
N Máquina Valor Vida útil Custo Depreciação Manutenção Total por Total por
(anos) capital máquina comunidade (25)
1 Voadeira 10000 10 250,00 1.000,00 600,00 1.850,00 74
Tabela 2.16 – Consumo da voadeira
Equipamento Quantidade Valor Tempo de Usuários Custo por comunidade
(l) (R$) uso por ano (R$)
Combustível 1000 30.000 1 25 1.200
31
33. 2.4.4 Administração
As diferentes comunidades estão operando com base em associações
constituídas com fins de atender as demandas formais do manejo. Essas
associações têm custos relativos à sua criação (que são feitos uma única
vez e foram divididos para o ciclo de 25 anos); custos relativos à troca de
diretoria (normalmente feita a cada dois anos) e custos que são anuais ou
mesmo semestrais (Tabela 2.17).
Tabela 2.17 – Custos com criação e manutenção da associação (em R$)
Tributo Valor Valor Freqüência Custo anual por
corrente negociado comunidade
Registro no cartório do estat Um salário 160,00 Somente na 160,00
estatuto social e ata de fundação mínimo criação
Inscrição no cadastro nacional de 100,00 30,00 Somente na 1,20
pessoa jurídica (CNPJ) na receita criação
federal (honorário do contador)
Inscrição no Instituto Nacional de 100,00 30,00 Somente na 30,00
Seguridade Social INSS criação
Cartão do CNPJ 15,00 15,00 Somente na 15,00
criação
Alvará de licença da prefeitura local 80,00 80,00 Somente na 80,00
(em média) (em média) criação
Registro da ata de troca de diretoria 50,00 20,00 A cada dois 10,00
anos (média)
Autenticação e reconhecimento de 4,00 4,00 A cada dois 50,00
firmas da diretoria por cada por cada anos
firma firma (média)
Relação anual de informações sociais 50,00 20,00 Anual 20,00
– RAIS
Guia do fundo de garantia e 40,00 20,00 Duas vezes 40,00
informações à previdência social – GFIP ao ano
Declaração de imposto de renda de 50,00 20,00 Anual 20,00
pessoa física - DIRPF
Declaração de imposto de renda de 100,00 25,00 Anual 25,00
pessoa jurídica - DIRP
Declaração de débitos e créditos 80,00 20,00 Duas vezes 40,00
tributários federais - DCTF ao ano
Certidão negativa de débito da Receita, 15,00 15,00 Anual (toda 45,00
Fazenda e Previdência cada cada vez que vende)
TOTAL 536,20
Fonte: Instituto Mamirauá (cálculos dos autores)
32
34. Como são muitas associações, foi possível para o Instituto Mamirauá
conseguir uma redução significativa nas taxas de alguns serviços. O cálculo
desses diferentes custos indica que as comunidades teriam um custo anual
de R$ 536,20 relativo ao estabelecimento e manutenção de sua associação
(R$ 286,20 apenas para a criação). Não obstante, nas comunidades
estudadas, os custos de criação da associação e alguns relativos à sua
manutenção são pagos pelo Instituto Mamirauá e as comunidades têm,
na prática, um gasto anual de R$ 110,00 com a manutenção de sua
associação.
2.4.5 Licença
As novas regras de manejo florestal vigentes no Estado do Amazonas
indicam que as comunidades devem pagar uma taxa anual de R$ 250,00
mais R$ 1,50 por cada hectare manejado (Tabela 2.18). A partir do
pagamento dessa taxa é feita a liberação do plano de operação anual.
Tabela 2.18 – Custos com a emissão da licença de operação da UPA
Tora Serraria Motoserra
Área 22 10,36 10
Valor da licença 250 250 250
Valor pelo tamanho da UPA 33 15,54 15
Valor total 283 265,54 265
2.4.6 Impostos
Foram considerados os seguintes tipos de impostos:
• Sistema “madeira em tora”: No sistema de exploração de madeira
em tora, os impostos são pagos pelo comprador da madeira.
• Sistema “serraria portátil”: A associação da comunidade paga ICMS
(17%), Cofins (3%) e PIS (0,65%) sobre o valor de venda da madeira. O valor
de venda de 30 m3 chega a R$ 5.017,00, gerando um custo com impostos
de R$ 1.053,00.
• Sistema “motoserra”: Considerando que a madeira seja vendida
no mercado local, estima-se que 10,84 m3 de madeira serrada sejam
vendidos a R$ 1.843,00 (na venda estudada a madeira foi comprada pelo
Instituto Mamirauá que pagou um valor R$ 1.076,00 por m3). O valor de
R$ 1.843,00 gera um custo de R$ 387,00 com impostos.
33
35. 2.4.7 Outros custos
Conforme Tabela 2.19 foram considerados também custos de outras
categorias para as diferentes sistemas de exploração.
Tabela 2.19 – Outros custos
Custos Tora Serraria portátil Motoserra
Equipamento e material 75,00 37,50 37,50
Material de escritório 65,60 65,60 65,60
Vistoria 60,00 60,00 60,00
TOTAL 200,60 163,10 163,10
2.5 Venda
O mercado de Tefé produz anualmente cerca de 4.500 m3 de madeira
em tora, beneficiados na única serraria da cidade, em sua maior parte para
a construção civil. Depois, as pequenas movelarias da cidade consomem
cerca de 800 m3 de madeira serrada em pranchas por ano. Adicionalmente,
o principal comprador da madeira manejada pelas comunidades exporta
cerca de 4.500 m3 de madeira em tora (volume francon) e 300 m3 de madeira
serrada em pranchas principalmente para a cidade de Manaus (transportados
por um rebocador baixando o rio).
Este comprador pagou em 2006 para madeira em tora um valor de
R$ 37,00 por m3 para madeira branca e R$ 60,00 por m3 para madeira
pesada (as duas em volume francon). Para madeira serrada, o preço pago
pela madeira pesada de primeira foi de R$ 170,00 e de segunda R$ 119,00
por m3. Para este mercado, não faz diferença entre madeira serrada de
motoserra ou serraria portátil, pois o volume da madeira de motoserra é
calculado considerando as menores medidas das extremidades das
pranchas. A este valor, o frete da madeira da comunidade para o mercado
está sendo pago pelo comprador.
Os preços de frete para madeira serrada pelas comunidades são de
R$ 38,00 por m3 nas comunidades mais próximas a Tefé (até 5 horas de
barco) e R$ 48,00 por m3 nas comunidades mais distantes. O frete de Tefé
para Manaus em balsas sai por R$ 35,00 por m3 de madeira serrada. Em
Tefé, o preço pago pelos marceneiros por prancha de madeira entregue no
34
36. porto é de R$ 250,00 por m3 (R$ 10,00 a prancha de 2,5 m x 0,2 m x 0,08
m com 25 pranchas para formar um metro cúbico).
O comprador normalmente financia o início das atividades
antecipando em dinheiro ou produtos como combustível um valor relativo
a 20% ate 30% do valor estimado da madeira a ser produzida. Entre 2000
a 2004 o Instituto Mamirauá criou um programa de micro-crédito para
financiar a exploração legalizada de madeira, assessorando as associações
comunitárias através da previsão orçamentária necessária para a exploração
de acordo com o Plano de Manejo Florestal Simplificado. O financiamento
previa o valor de R$ 2.500,00 adiantados anualmente para as comunidades.
O financiamento foi feito até 2004 quando um período de seca impediu
que as famílias tirassem madeira e pagassem o crédito.
Venda em tora
A madeira produzida em toras é vendida para um comprador do
município de Tefé que revende em Manaus. Este comprador paga R$ 37,00
por m3 de madeira branca e R$ 60,00 por m3 de madeira serrada. A média
de produção na comunidade estudada é de 60% de madeira tipo branca
(mais abundante em áreas de várzea e mais fácil de transportar) e 40% de
madeira pesada (Tabela 2.20). Com isto pode-se esperar uma remuneração
de R$ 12.050,00 por 250 m3 ou R$ 46,20 por m3 em média.
Tabela 2.20 – Madeira explorada no ano de 2005 e 2006 na comunidade Nova Betânia
Espécie Tipo de madeira Número de árvores
Assacu Branca 29
Macaca Branca 11
Tacaca Branca 1
Mungi Branca 2
Louro Pesada 24
Mulateiro Pesada 2
Venda serrada
A madeira serrada também é vendida no mercado local ao preço
médio de R$ 170,00 por m3 recebido na comunidade. A comunidade
trabalhando com serraria portátil vendeu 30,25 m3 de madeira serrada em
2006 por R$ 5.017,22 (Tabela 2.21), com um valor médio de R$ 166,00
por m3 na comunidade. O transporte é geralmente pago pelo comprador.
35
37. Tabela 2.21 – Madeira produzida no ano 2006 na comunidade Juruamã (em m³ serrados)
Peças Quantidade Comprimento Altura Largura Volume Preço
(m) (m) (m) (m³) (R$)
Prancha 40 2,30 0,14 0,14 1,8032 305,00
Prancha 40 3,00 0,20 0,10 2,4000 395,00
Prancha 170 2,30 0,20 0,10 7,8200 1325,00
Tábuas 18 2,30 0,20 0,02 0,1656 25,00
Prancha 238 3,00 0,20 0,10 14,2800 2427,60
Prancha segunda 44 2,30 0,20 0,10 2,0240 241,00
Pinos 40 3,00 0,10 0,10 1,2000 204,00
Pinos 20 2,30 0,10 0,10 0,4600 78,20
Ripão 70 2,30 0,02 0,03 0,0966 16,42
TOTAL 30,2500 5017,22
O metro cúbico da madeira serrada com motoserra tem o mesmo
valor no mercado local R$ 170,00. No ano estudado, a comunidade Nossa
Senhora de Fátima teve uma venda privilegiada ao negociar a maior parte
de sua madeira com o Instituto Mamirauá ao valor de R$ 1.076,00 por m3
serrado. A comunidade comercializou 10,84 m3 de madeira e obteve uma
remuneração de R$ 11.668,00 (com valor do mercado local a remuneração
seria de R$ 1485,00). (Tabela 2.22)
Tabela 2.22 – Madeira produzida em 2006 na comunidade N. S. de Fátima (em m³ serrados)
Peças Espécie Quantidade Comprimento Altura Largura Volume Preço
(m) (m) (m) (m³) (R$)
Tábuas Castanharana 100 4,00 0,0381 0,2000 3,0480 3000,00
Tábuas Piranheira 100 4,00 0,0381 0,2000 3,0480 3000,00
Esteio Tanimbuca 20 6,00 0,1000 0,1000 1,2000 1000,00
Sobre-vigas Capitari 30 6,00 0,1000 0,0663 1,1934 300,00
Pernamanca Castanharana 50 0,6 0,0500 0,7500 0,1270 1000,00
Vigas Piranheira 11 0,6 0,3000 0,2000 0,0396 768,00
Vigas Piranheira 20 0,6 0,2000 0,1500 0,0360 1200,00
Vigas Piranheira 20 0,6 0,2000 0,2000 0,0480 1400,00
Esteio Tanimbuca 18 6,00 0,1000 0,1000 1,0800 0,00
Estaca Tanimbuca 17 6,00 0,1000 0,1000 1,0200 0,00
TOTAL 10,840 11.668,00
2.6 Viabilidade financeira
A análise da viabilidade financeira foi feita com base nos três modelos
adotados para a produção de madeira em tora, serrada com serraria portátil
e serrada com motoserra. A análise está estruturada na apresentação dos
custos totais, uma avaliação da liquidez da iniciativa, uma avaliação sobre
a renda gerada e uma avaliação final.
36
38. 2.6.1 Custos de produção
Com base nos índices técnicos e custos apresentados acima, foi
calculado o custo total para os três sistemas. No sistema em tora a
comunidade produz um metro cúbico de madeira em tora com um custo
de R$ 29,64 (Tabela 2.23).
No sistema com serraria portátil, a comunidade produz um metro
cúbico serrado com um custo de R$ 372,36 (Tabela 2.24). No sistema com
motoserra, a comunidade produz um metro cúbico serrado com um custo
de R$ 693,39 (Tabela 2.25).
2.6.2 Liquidez
Para estabelecer os sistemas de manejo são necessários investimentos
iniciais significativos. Entre os investimentos mais importantes estão a criação
da associação, a elaboração do plano de manejo, a capacitação dos
manejadores e a compra de veículos de apoio e máquinas. Além disso, é
necessário um capital inicial que permita cobrir os custos da primeira safra até
a venda da madeira. Os custos de financiamento da safra foram estimados em
R$ 7.411,00 no sistema em tora, R$ 11.369,00 no sistema com serraria portátil
e R$ 7.516,00 no sistema com motoserra. Este é o capital de giro que a iniciativa
precisa manter para dar seguimento às suas atividades sem depender de
financiamento do comprador ou de empréstimos bancários.
2.6.3 Renda
O sistema em tora tem um custo de produção de R$ 29,64 por m3. O
metro cúbico produzido é vendido ao valor médio de R$ 46,20. Com estes
rendimentos, a associação consegue remunerar a mão-de-obra dos
associados e ainda ter uma receita extra de R$ 4.140,00 por ano.
Os sistemas com madeira serrada têm custos de produção de R$
372,36 por m3 no sistema com serraria portátil e R$ 693,39 por m3 no
sistema com motoserra. Com o valor pago no mercado local de R$ 170,00
por m3 nenhum dos dois sistemas consegue remunerar sua mão-de-obra.
Na prática, as iniciativas seguem operando porque têm os custos de
acompanhamento técnico (oferecido pelo Instituto Mamirauá) e os custos
fixos das máquinas pagos pelo projeto de apoio ProManejo.
37
39. Tabela 2.23 – Custos totais de produção do sistema em tora
38
Custo da equipe por dia Produção Custos (R$)
Pessoas Dias de Por m³
Atividade / Assunto locais na Custo Custo Consumo Custo Por Total Unidade trabalho Por Por tora
equipe pessoal máquina total dia por UPA dia ha (22) (250)
Custos diretos das operações
Seleção da UPA 7 105,00 105,00 22,00 22,00 ha 1,00 105,00 4,77 0,42
Inventário 7 105,00 105,00 3,67 22,00 ha 6,00 630,00 28,64 2,52
Rodada de negócios 1 15,00 81,00 96,00 7,33 22,00 ha 3,00 288,13 13,10 1,15
Derruba 2 30,00 25,17 21,33 76,50 27,77 250,00 m³ 9,00 688,70 31,30 2,75
Prep. ramal de reboque 5 75,00 75,00 50,00 250,00 m³ 5,00 375,00 17,05 1,50
Transporte 7 105,00 105,00 50,00 250,00 m³ 5,00 525,00 23,86 2,10
Fazer jangada 7 105,00 105,00 83,33 250,00 m³ 3,00 315,00 14,32 1,26
Acompanhar transporte 7 105,00 105,00 250,00 250,00 m³ 1,00 105,00 4,77 0,42
Custos indiretos
Acompanhamento técnico 2.798,00 127,18 11,19
Administração 536,20 24,37 2,14
Licença 283,00 12,86 1,13
Impostos 0,00 0,00 0,00
Rabeta 561,37 25,52 2,25
Outros custos 200,60 9,12 0,80
TOTAL ANUAL 7.411,00 336,86 29,64
Total sem diárias 5.040,90 229,13 20,16
Valor de venda (R$) 46,20
40. Tabela 2.24 – Custos totais de produção do sistema serrado com serraria portátil
Custo da equipe por dia Produção Custos (R$)
Pessoas Dias de Por m³ Por m³
Atividade / Assunto locais na Custo Custo Consumo Custo Por total Unidade trabalho Por Por tora serrado
equipe pessoal máquina total dia por UPA dia ha (10) (67,34) (30,25)
Custos direitos das operações
Seleção da área 7 105,00 105,00 10,00 10,00 ha 1,00 105,00 10,50 1,56
Inventário 6 90,00 90,00 2,50 10,00 ha 4,00 360,00 36,00 5,35
Rodada negócios 1 15,00 15,00 3,33 10,00 ha 3,00 45,05 4,50 0,67
Derruba 3 45,00 16,19 27,43 88,62 9,62 67,34 m3 7,00 620,31 62,03 9,21
Serragem 3 45,00 116,51 47,88 209,39 1,52 30,00 m³ 19,74 4.132,71 413,27 61,37 136,62
Transporte 3 45,00 45,00 2,00 30,25 m³ serrado 15,13 680,63 68,06 10,11 22,50
Custos indiretos
Acompanh. técnico 2.798,00 279,80 41,55 92,50
Administração 536,20 53,62 7,96 17,73
Licença 265,54 26,55 3,94 8,78
Impostos 1.053,00 105,30 15,64 34,81
Rabeta 609,37 60,94 9,05 20,14
Outros custos 163,10 16,31 2,42 5,39
TOTAL ANUAL 11.368,90 1.136,89 168,84 372,36
Total sem diárias 8.956,04 895,60 133,00 296,07
Valor de venda 170,00
39
41. Tabela 1.25 – Custos totais de produção do sistema serrado com motoserra
40
Custo da equipe por dia Produção Custos (R$)
Pessoas Dias de Por m³ m³
Atividade / Assunto locais na Custo Custo Consumo Custo Por Total Unidade trabalho Por Por (67,34) serrado
equipe pessoal máquina total dia por UPA dia ha (10) (30,25)
Custos diretos das operações
Seleção da área 2 30,00 30,00 10,00 10,00 ha 1,00 30,00 3,00 1,24 2,77
Inventário 4 60,00 60,00 2,50 10,00 ha 4,00 240,00 24,00 9,95 22,14
Rodada de negócios 1 15,00 15,00 3,33 10,00 ha 3,00 45,05 4,50 1,87 4,16
Derruba 3 45,00 21,32 66,32 8,04 24,13 m³ 3,00 199,06 19,91 8,25 18,36
Serragem 3 45,00 27,60 60,35 132,95 0,66 10,84 m³ serrada 16,42 2.183,59 218,36 90,49 201,44
Transporte 5 75,00 75,00 2,71 10,84 m³ serrada 4,00 300,00 30,00 12,43 27,68
Custos indiretos
Acompanhamento técnico 2.798,00 279,80 115,96 258,12
Administração 536,20 53,62 22,22 49,46
Licença 265,00 26,50 10,98 24,45
Impostos 387,00 38,70 16,04 35,70
Rabeta 369,37 36,94 15,31 34,07
Outros custos 163,10 16,31 6,76 15,05
TOTAL ANUAL 7.516,36 751,64 311,49 693,39
Total sem diárias 6.027,17 602,72 249,78 556,01
Valor de venda 170,00
42. 2.7 Apoio externo
A implantação dos sistemas atuais de manejo florestal comunitário
em Mamirauá passou por diferentes etapas de apoio externo. O primeiro
passo foi dado através de uma cooperação com o DFID que designou por
dois anos um técnico que apoiou na construção do sistema de manejo na
várzea, em grande parte inspirado em práticas já desenvolvidas
anteriormente pelas comunidades. Esse projeto também apoiou com um
recurso de US$ 30.000,00 por três anos a primeira equipe técnica do
Mamirauá, iniciando em 1999 a acompanhar as comunidades. Essa equipe
começou a promover as atividades de manejo nas cinco comunidades que
iniciaram o manejo no setor Tijuaca.
A equipe apoiada pelo DFID era composta por um consultor do DFID
por dois anos de 2000 a 2001, um engenheiro florestal para capacitação
das comunidades, dois técnicos florestais, dois promotores comunitários,
e um assistente. O DIFID também apoiou a implantação do CredMamirauá
disponibilizados para as comunidades entre 200 e 2004. Este projeto
também apoiou com equipamentos como voadeiras, computadores e GPS.
De 2001 a 2005 a iniciativa contou com o apoio de um projeto
financiado pelo ProManejo no valor de US$ 694.667,00 (R$ 496.151,00
com recursos do ProManejo e o restante de contrapartida). Os recursos do
ProManejo foram gastos principalmente com a equipe de acompanhamento
técnico (US$ 343.717,00 em salários e US$ 188.626,00 em diárias). Os
recursos financeiros e humanos do projeto foram investidos principalmente
na capacitação dos princípios de MFC nas comunidades do setor Tijuaca, o
mapeamento participativo das áreas de manejo, a criação das associações,
o levantamento de estoque das primeiras áreas de manejo, as capacitações
sobre práticas de inventário e derruba de madeira, e a aquisição de materiais
e equipamentos para o apoio ao manejo (voadeiras, GPS, etc.).
Finalmente, a iniciativa recebeu o apoio de R$ 200.000,00 de um
projeto com a Fundação Moore que permitiu a manutenção da equipe, a
expansão do acompanhamento técnico para outras comunidades e a compra
de mais equipamentos como 2 voadeiras, 3 computadores e 2 GPS. Ao
41
43. longo desse período esse projeto também recebeu e continua recebendo
apoio de um recurso destinado anualmente ao Instituto Mamirauá no valor
e R$ 36.000,00 pelo Ministério de Ciência e Tecnologia (R$ 1000,00
destinados ao manejo).
BIBLIOGRAFIA
Almeida, A. 2006. Processamento de toras com serraria portátil em áreas
de manejo florestal sustentado da RDS Mamirauá. Tefé: Instituto de
Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Universidade do Estado do
Amazonas. (mimeo)
42
44. 3
Pedro Peixoto, Acre
3.1 Antecedentes
No final de 1995, a Embrapa Acre começou a apoiar o manejo
florestal em 11 propriedades do Projeto de Colonização Pedro Peixoto,
que abriga aproximadamente 3.000 famílias em uma área de 378.395 ha
(Figura 3.1). No ano 2007 foram dois grupos de manejadores envolvidos
no Projeto de Colonização Pedro Peixoto: o primeiro com oito manejadores
no ramal Nabor Júnior e o segundo com três manejadores no ramal Granada
(distante 20 km do primeiro). Os manejadores estão associados na
Associação dos Produtores Rurais em Manejo Florestal e Agricultura
(Apruma). Através da associação, a madeira produzida é comercializada
tanto no mercado acreano como no mercado do sul do Brasil.
Em 2001, o ano de início do projeto de apoio pelo ProManejo,
chegaram a participar 23 famílias compondo uma área total de 830 ha de
floresta manejada. Em 2007, nas entrevistas com as diferentes famílias,
estimou-se que 11 famílias seguem interessadas em continuar no manejo,
embora 18 ainda façam formalmente parte da associação Apruma.
No Projeto de Colonização, cada família explora sua área.
Consequentemente existe uma grande diversidade quando ao número de
Unidades de Produção Anual (UPAs) já exploradas pelos associados. Em alguns
casos (as famílias que começaram no início do projeto) já foram exploradas
10 UPAs e, em outros (em particular no caso de famílias que começaram
depois ou tiveram muitas UPAs sem madeira comercial), foram exploradas
menos de cinco UPAs. Da Tabela 3.1, que resume informações sobre os anos
de 2000 a 2004 levantadas pela equipe de pesquisa da Embrapa-Acre, é
possível inferir que o número de propriedades exploradas a cada ano (de 7
a 12 e o volume produzido em cada propriedade (de 6 m3 a 11 m3) variaram
significativamente. O volume médio em tora explorado por propriedade foi
de 9 m³ por ano. Também, a madeira foi processada tanto de motoserra
como com a serraria portátil. A serraria portátil foi predominante no ano de
2003, pois a comunidade recebeu uma serraria nova em 2002.
43
45. 44
Figura 3.1 – Localização do Projeto de Colonização Pedro Peixoto
46. Tabela 3.1 – Quadro demonstrativo da exploração florestal e comercialização da madeira relativas ao período de 2000 a 2004
2000 2001 2003 2004
Total Média / Total Média / Total Média / Total Média /
propriedade propriedade propriedae propriedade
Propriedades exploradas 7 11 9 12
Área total (ha) 28 4 44 4 36 4 48 4,0
Árvores exploradas 15 2,1 22 2,0 18,0 2,0 20 1,7
Espécies 09 - 12 - 12 - 09 -
Estimado volume
em tora (m³) 81,23 11,60 166,98 15,18 88,65 9,85 121,32 10,11
Volume serrado (m³) 33,51 4,79 66,79 6,07 45,46 5,05 51,87 4,32
Equipamento de Motoserra (70%) e Motoserra e serraria Motoserra (45%) e Motoserra (65%) e
desdobro serraria portátil (30%) portátil serraria portátil (55%) serraria portátil (35%)
Produtos Blocos, pranchões e Blocos, estacas, tábuas e Pranchões, blocos, Pranchões, blocos e
estacas estacas. toretes e estacas estacas
Mercado atingido Local Local Local (80%) e S. Paulo Local (30%) Nacional
(20%) (70%)
Receita estimada (R$) 6700,00 957,00 16700,00 1520,00 14800,00 1645,00 25200,00 2100,00
Fonte: Embrapa-Acre: Araújo e Oliveira, no prelo. Obs. Em 2002 não houve exploração
45
47. A Tabela 3.2, com informações também levantadas pela Embrapa,
indica que a partir do ano 2005 (o apoio do ProManejo encerrou em 2004)
o número de famílias explorando suas áreas caiu de para 6. A pesquisa de
campo indicou que apenas duas famílias comercializaram em 2006. Em
2007 um número maior de famílias estava interessado em participar da
iniciativa, motivado pela possibilidade de que a Cooperfloresta (uma
cooperativa estadual para comercialização de madeira de projetos de
manejo florestal comunitário) assumisse a atividade de venda da madeira
produzida na comunidade. Em 2007, no entanto, a autorização de
exploração ainda hão havia sido liberada pelo Instituto de Meio Ambiente
do Estado do Acre (IMAC). Em 2006 esta atribuição passou do Instituto
Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA)
para o IMAC e a associação precisava reapresentar sua documentação.
Segundo os associados, mesmo na gestão do IBAMA e com o apoio da
Embrapa o processo de aprovação dos Planos de Operação Anuais (POAs)
também era lento. O levantamento de campo mostrou que as famílias
pertencentes à Apruma que venderam madeira em 2007 não fizeram
através da associação e exploraram áreas não manejadas.
Tabela 3.2 – Volume de madeira explorada em Pedro Peixoto por família (m³ por ano)
Família 2004 2005
Alfredo Ferreira Rodrigues/Lote 131 43,451 10,528
Daniel Granjeiro da Silva/Lote 126 38,580 –
Izaque Alves Ferreira/Lote 113 29,781 –
José Aloncio Dias/Lote 102 39,535 8,151
José dos Santos/Lote 111 55,749 –
José Maria dos Santos/Lote 123 40,604 19,515
Maria do Carmo Souza Costa/Lote 141 38,549 21,202
Maria José de Souza/Lote 133 42,996 23,647
Francisco da Silva Gomes/Lote 130 38,997 –
Luis Pereira da Silva/Lote 117 23,210 –
Maria Terezinha de Souza/Lote 446 38,845 –
Naldil de Souza/Lote 445 37,375 –
Ozias Fagundes Fortunato/Lote 437 39,342 –
Ozias Fagundes Fortunato/Lote 439 41,290 –
Valdomiro de Souza/Lote 452 39,755 19,261
Fonte: Embrapa-Acre
46
48. Nos primeiros anos a madeira foi vendida principalmente no mercado
local. A partir de 2003 a iniciativa foi certificada e a associação, apoiada
pela Embrapa, começou a buscar mercado externo. O Grupo de Produtores
Florestais Certificados do Acre (GPFC), do qual a Apruma faz parte, participou
de uma feira em São Paulo em 2005 e fez contatos de venda que resultaram
em vendas para São Paulo e Rio Grande do Sul.
Na venda para um grupo de 10 compradores de São Paulo, a
associação enfrentou algumas dificuldades pois os compradores eram muito
exigentes quanto à qualidade e parte significativa da madeira produzida
foi rejeitada. Depois foi feita uma venda para o Rio Grande do Sul
(a R$ 630 m³ de madeira de primeira qualidade e R$ 500 m³ de madeira de
segunda). A associação produziu 25 m3 e recebeu apenas o equivalente a
18 m3 que foi considerado madeira de primeira. Esta madeira foi toda
serrada na motoserra porque as duas serrarias estavam quebradas.
Além destas vendas, foram feitas outras vendas menores no mercado
local. Dentre as mais importantes está a venda para o governo do Acre de
15 kits para a construção de casas (1 kit com 5 m3 pago ao valor de R$
3.700,00). Hoje estão adiantadas as negociações para que a iniciativa do
Pedro Peixoto se una à cooperativa Cooperfloresta. Existem negociações
para que a associação receba do governo do Acre mais uma serraria portátil
e passe a vender sua produção através da Cooperfloresta.
2.2 Levantamento das informações
2.2.1 Viagem de campo e entrevistas
A pesquisa de campo foi feita entre os dias 16 e 18 de agosto de
2007. No primeiro dia foi entrevistado um pesquisador e um técnico florestal
da Embrapa Acre responsáveis por acompanhar a iniciativa. No mesmo dia
uma família do Ramal Granada foi visitada e entrevistada sobre o sistema
de manejo adotado em sua propriedade. No segundo dia foram
entrevistadas duas famílias do ramal Nabor Júnior e uma área de manejo
foi visitada. Também neste dia foi possível entrevistar um dos operadores
47
49. da serraria portátil sobre a produtividade e consumo da máquina. No
terceiro dia outro produtor do ramal Granada foi entrevistado sobre o
histórico da iniciativa (Tabela 3.3).
Tabela 3.3 – Lista das pessoas entrevistadas
Pessoas entrevistadas Função
Ozias Fagundes Fortunato Manejador do ramal Granada
Waldomiro de Souza Manejador do ramal Granada, presidente da Apruma de
204 a 2005
José Maria dos Santos Manejador do ramal Nabor Júnior
Alfredo Ferreira Rodrigues Manejador do ramal Nabor Júnior, atual presidente da
Apruma
Henrique Borges de Araújo Pesquisador da Embrapa-Acre
Manoel Freire Correia Técnico florestal da Embrapa-Acre
Nunes Técnico florestal da Embrapa-Acre
3.2.2 A base dos dados
Para esta análise foi construído um modelo a partir do sistema de
manejo proposto pela Embrapa Acre e da forma como o sistema está
funcionando nos lotes das famílias entrevistadas. O desenho do sistema
de manejo proposto e seus rendimentos foi feito a partir de entrevistas
com funcionários da Embrapa-Acre e a partir de informações coletadas e
publicadas por seus pesquisadores. As produtividades das diferentes etapas
de manejo foram levantadas a partir das entrevistas com os produtores
sobre as safras anteriores.
3.3 Descrição técnica do manejo
No Projeto de Colonização Pedro Peixoto cada família faz manejo
em seu lote de forma individual. O manejo é feito nas áreas de reserva
legal dos lotes que, segundo a legislação, só podem ser usadas para o
extrativismo ou o manejo sustentável. O modelo considera 50% da área
do lote para fins de manejo, uma vez que na época de sua concepção esta
era a área de reserva legal (hoje são 80% do lote). Como os lotes
normalmente têm 80 ha, em média 40 ha foram destinados ao manejo. Os
40 ha são divididos em 10 unidades de produção anual (UPA) de quatro
hectares cada uma (Figura 3.2). O ciclo de corte é, portanto, de dez anos.
A exploração das UPAs pode ser aleatória, mas não é permitido retornar à
48
50. UPA antes dos 10 anos. Foi identificado em campo que diferentes produtores
tiveram UPAs sem madeira de valor comercial e ficaram ou terão que ficar
um ou alguns anos (conforme a quantidade de UPAs não produtivas) sem
explorar.
Ciclo de corte: 10 anos
Compartimento de exploração anual: aprox. 4,0 ha
Intensidade exploratório: aprox. 8,0 m3/ha
Fonte: Embrapa Acre
Figura 3.2 – Desenho esquemático de uma pequena propriedade sob manejo florestal do Projeto
de Colonização Pedro Peixoto.
Inicialmente a Embrapa-Acre havia previsto que de cada UPA fossem
explorados 40 m 3 de madeira em tora (10 m 3 por ha). O padrão de
crescimento da floresta superior a 1 m³ por ano demonstrado pela Embrapa
indicou que a exploração seria compatível com a taxa de corte adotada
(Oliveira & Braz, 2006). Porém, com base em informações levantadas pela
Embrapa-Acre nos anos 2000 a 2004 estimou-se que cada família produza
em média 11,68 m3 de madeira em tora por ano, com um volume médio
de 2,92 m3 por hectare (Tabela 3.4).
Tabela 3.4 – Volume médio em tora produzido por UPA de quatro hectares de 2000 a 2004
Ano 2000 2001 2003 2004 Média
Volume em tora (m³ por ano) 11,60 15,18 9,85 10,11 11,68
Fonte: Embrapa-Acre: Araújo e Oliveira, no prelo
A madeira explorada é beneficiada em peças como tábuas,
vigamentos e blocos de madeira ainda na floresta. No ano 2007 foram
exploradas cerca de 30 espécies. O volume médio de 11,68 m3 de madeira
resulta em 5,84 m3 de madeira serrada quando beneficiado com serraria
portátil e 4,91 m3 de madeira serrada quando beneficiado com motoserra.
49
51. Depois de beneficiada, a madeira é transportada com tração animal até o
ramal de acesso aos lotes. Daí segue de caminhão para o mercado.
Os índices de produtividade das diferentes atividades de manejo e
exploração são resumidos na Tabela 3.5. Cada atividade e sua produtividade
são explicados em detalhes no texto em seguida.
3.3.1 Delimitação
Para o inventário da área de quatro hectares (400m x 100m) é aberta
uma picada de 400 metros, dividindo a área em duas: 50 m para um lado
e 50 m para o outro. O inventário é feito tomando esta picada como
orientação. Com base nos rendimentos recentes das famílias entrevistadas,
estima-se que uma equipe de três pessoas tome um dia para abrir a picada
de orientação.
3.3.2 Inventário
Como base para a elaboração do POA é feito o inventário pré-
exploratório da UPA de quatro hectares. O inventário pré-exploratório é
feito um ano antes da exploração florestal, normalmente em outubro e
novembro. São inventariadas 100% das árvores com DAP maior ou igual a
50 cm. Juntamente com o inventário é feito o corte de cipós das árvores
de interesse. Com base nos rendimentos recentes das famílias entrevistadas,
estima-se que uma equipe de três pessoas leve dois dias para fazer o
inventário de uma UPA de quatro hectares. A partir dos dados de inventário
é feita a elaboração do Plano de Operação Anual (POA) reunindo as
diferentes áreas individuais dos produtores associados à Apruma. O POA é
elaborado por engenheiros florestais da Embrapa-Acre.
Os dados dos inventários de 15 UPAs acompanhados pela Embrapa-
Acre indicam que são selecionadas para exploração 73 árvores em 15 UPAs
correspondendo a 4,8 árvores por UPA com um volume de 38 m3 por UPA
(574,28 m³ em 15 áreas) (Tabela 3.6). Porém, na prática, um volume
significativamente menor, em média de 11,68 m3 por uma UPA de 40 ha
acaba sendo explorado.
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52. Tabela 3.5 – Índices técnicos
Atividade Com serraria portátil Com motoserra
N de Produção Unidade Obra Dias de N de Produção Unidade Obra Dias de
trabalhadores por dia total trabalho p/ trabalhadores por dia total trabalho /p
na equipe 40 ha na equipe 40 ha
Delimitação 3 4,00 ha 4,00 1,00 3 4,00 ha 4,00 1,00
Inventário 3 2,00 ha 4,00 2,00 3 2,00 ha 4,00 2,00
Abertura carreador 3 200,00 m 200,00 1,00 3 200,00 m 200,00 1,00
Abertura da trilha 1 1,00 árvores 2,00 2,00 1 1,00 árvores 2,00 2,00
Derruba 2 11,68 m³ 11,68 1,00 2 11,68 m³ 11,68 1,00
Serragem 3 1,50 m³ serrado 5,84 3,89 3 1,00 m³ serrado 4,91 4,91
Arraste na trilha 2 1,50 m³ serrado 5,84 3,89 2 1,50 m³ serrado 4,91 3,27
Arraste no carreador 2 1,00 m³ serrado 5,84 5,84 2 1,00 m³ serrado 4,91 4,91
Carregamento 2 5,84 m³ serrado 5,84 1,00 2 4,91 m³ serrado 4,91 1,00
Transporte – 10,00 m³ serrado 5,84 0,58 – 10,00 m³ serrado 4,91 0,49
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