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O SEGREDO DOS GIRASSÓIS 
O diário de Anna Goldin 
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O SEGREDO DOS GIRASSÓIS 
O Diário de Anna Goldin
Adriana Matheus 
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Adriana Matheus 
São Paulo 2014 
O SEGREDO DOS GIRASSÓIS 
O Diário de Anna Goldin
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O diário de Anna Goldin 
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A Editora 
Ixtlan 
Apresenta... 
Adriana Matheus 
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O diário de Anna Goldin
Adriana Matheus 
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O Segredo dos Girassóis 
O diário de Anna Goldin 
Adriana Matheus 
“O amor é infinito e solene e quando é verdadeiro atravessa as barreiras do impossível, para que sempre possamos estar juntos.”
O SEGREDO DOS GIRASSÓIS 
O diário de Anna Goldin 
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Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, de qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico, mecânico, inclusive através de processos xerográficos, sem permissão expressa da autora. (Lei nº 5.988 14/12/73). 
Adriana Matheus 
amatheus07@hotmail.com 
2ª Edição 
2014 
CIP. Brasil. Catalogação na Publicação. 
M427s - Matheus, Adriana, 1970. 
O Segredo dos Girassóis/Adriana Matheus - Juiz de Fora - MG. 410 p. : il. 
ISBN: 978-85-78-78-028-9 
Ficção brasileira. 2. Romance espírita I.Título. 
Copyright © Adriana Matheus 
Projeto gráfico: 
Editora Ixtlan 
Diagramação: 
Márcia Todeschini 
Edição de Capa: 
Adriana Matheus 
Revisão ortográfica: 
Texto Legal - http://textolegal.weebly.com
Adriana Matheus 
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Agradecimentos Especiais 
Ao senhor Wanderley Luiz de Oliveira, presidente da Associação de Cultura Luso-Brasileira/ JF - MG, por todo o incentivo dado a esta obra. 
Ao Senhor Roberto Dilly, diretor do Museu do Crédito Real/JF - MG, que tão generosamente cedeu o salão para o lançamento desta obra. 
À Drª. Maria Auxiliadora Assis, que é uma das maiores colaboradoras desta obra e, também, patrocinadora. 
Às amigas Átria Maria Alves e Dulcinéia de Assis Teixeira, cujo apoio e participação foram indispensáveis para que esta obra fosse publicada. 
A Stéphanie Lyanie e à equipe da Texto Legal. Sem essa equipe fantástica e incrível, esta obra não estaria tão lindamente corrigida. 
Ofereço esta obra à Academia de Letras da Manchester Mineira/Juiz de Fora - MG, por tanto homenagear os pequenos e grandes autores de nossa cidade – valorizando, assim, a nossa cultura literária. 
Adriana Matheus 
À autora
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O diário de Anna Goldin 
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NOTA DA AUTORA 
Nesta incrível história de ficção, a autora convida o leitor a viajar através do tempo astral em uma fantástica aventura, cheia de suspense, bom humor e sedução. Sua principal personagem, Anna Goldin, vai mostrar ao leitor que, mesmo no meio dos horrores da Inquisição, ela ainda conseguiu sonhar e ser determinada em seus ideais de liberdade e igualdade, conseguindo manter, também, a dignidade, e honrando o valor de uma verdadeira amizade. 
Mas o que poderiam ter em comum três pessoas tão diferentes? 
Uma bruxa, um monge e um jovem conde, unidos pelo destino nessa fantástica trama de ódio, amor e intrigas. É isso que o leitor terá que desvendar. E, por isso, Anna Goldin está convidando-os a participar desta incrível história! Sejam bem- vindos! 
Como percebi que teria que escrever esta obra? 
Na verdade, depois de um acidente, sonhei com toda essa incrível história durante uma semana, consecutivamente. Cheguei a comentar com algumas pessoas, que me disseram não passar de meros sonhos. Confesso que procurei respostas em muitos lugares. Mas esqueci de um lugar muito simples e particular: dentro de mim. Pois é lá que está a resposta para todas as perguntas frequentes em nossas vidas. Muitas vezes, somos teimosos e medrosos demais para ouvir aquela voz que está sempre nos mostrando o caminho. Temos medo do que parece ser imaginário ou sobrenatural, mas não temos medo de correr o risco de conhecer um desconhecido real da internet. Os espíritos não podem nos fazer mal algum. Influenciam-nos somente se abrirmos caminho para isso. O poder está todo em
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nossa mente, na nossa caixinha de segredos, no nosso computador portátil e inigualável - o cérebro. 
Como descobri que era médium? 
Na verdade, como todas as pessoas, sempre fui. Só não aceitava aquela voz dentro de mim. 
Como tomei conhecimento da existência do Padre Ângelo Wallejo Moralles? 
Oito meses depois do acidente e já bem melhor, um belo dia eu estava sentada na frente da creche onde costumava deixar meus filhos. O mais novo deles estava em adaptação. Por esse motivo, tinha que ficar até mais tarde presente neste local. Sentei-me em um banquinho, do lado de fora. Como não havia nada para fazer, peguei um bloco de notas e um lápis que sempre trazia comigo. Comecei a rabiscar para ver se conseguia desenhar o rosto que frequentemente aparecia-me em sonhos. Mas, para minha surpresa, comecei a perder os sentidos, como uma tonteira irregular. De repente, minha mão começou a escrever sozinha. A princípio, tremi - confesso. Mas, depois, fui dando asas àquele fenômeno. Quando parei para ler, eram quase duas páginas de mensagens. Detalhe importante: aquela letra não era minha. Fiquei tão fascinada com aquilo que comentei erroneamente com várias pessoas, que saíram achando-me uma doidivanas. Hoje, muitas destas pessoas já receberam mensagens de seus entes falecidos, psicografadas por mim. Graças a Deus, aprendi a lidar com meu dom com a sabedoria do silêncio. Ganhei credibilidade e respeito. Descobri minha missão. Sempre que tenho tempo, dedico à caridade espiritual. Mas ainda sou aprendiz. 
Quem foi e quem é Anna Shaara para mim? 
Anna foi uma grande mulher que não se rendeu às normas e às vontades dos homens. Na verdade, Anna Shaara sou eu, é você que está lendo esta obra por mera curiosidade. A
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O diário de Anna Goldin 
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Anna são todas as mulheres que lutaram, que lutam e sempre lutarão por um sonho de igualdade; mas - acima de tudo - que têm um dom e o usam para o bem. Ela é aquela mulher que faz de tudo para ver seu homem, seu amor feliz. É a mulher sábia que, ao invés de brigar, cala-se e espera o momento certo de falar e agir. 
A Anna é a voz dentro de cada uma de nós. Ela é o momento, a oportunidade que temos de nos redimir dos erros e das falhas do passado. 
Quando Anna Shaara voltou em minha vida? 
Foi através de uma viagem astral (também chamada de auto-hipnose), onde mostrou toda a sua sabedoria. Tive certeza de que estava na hora de contar ao mundo minhas experiências com os espíritos. Espero que esta obra seja de grande valia para todos vocês que, mesmo por curiosidade, começaram a lê- la. Mais uma vez, deixo minha eterna gratidão. 
“Se o homem trabalha em prol da caridade, ele deve tentar entender a verdade, mesmo que a mesma não seja mostrada pelos olhos do aparelho. Se ele trabalha em prol de si mesmo, continuará confuso e no escuro constante de seus pensamentos atordoados. Felizes aqueles cuja compreensão de reconhecer os seus próprios erros torna-os sábios. E essa virtude faz com que eles ajudem o seu próximo em caridade e abstinência, sem interrogações ou especulações. Pois o maior dom divino está em ouvir e servir com humildade e perseverança”.
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SUMÁRIO 
Capitulo I - O diário de Anna.....................................16 
Capitulo II - A iniciação..............................................77 
Capitulo III - O Livro das sombras...........................166 
Capitulo IV - O Segredo de Elizabeth.......................219 
Capitulo V - A Despedida..........................................334 
CapituloVI - O Mosteiro............................................454 
Capitulo VII - O Segredo dos Girassóis.....................519
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O diário de Anna Goldin 
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Prólogo 
Estou com vinte e seis anos e vejo que minha vida acabou-se. Vivi nesta curta jornada terrena tudo o que uma pessoa com seus sessenta anos viveria ao longo de sua existência. Mas é claro que, em questão de sofrimentos, fui uma expert. Envelheci muito em três anos aqui, enclausurada neste calabouço frio e escuro, onde fico relembrando os fatos e as situações vividas desde a minha mais tenra infância. Outro dia, pude ver meu reflexo em uma poça d’água que se acumulou no chão, causada pelas diversas goteiras que caem do teto. Quase não me reconheci. A maioria dos meus dentes caiu. Estou tão maltrapilha e suja! Eles quase conseguiram sujar, também, minha alma. Mas consegui separá-la do meu corpo, para que não fosse maculada pela perversidade humana. 
Sinto tanto frio; estou tão cansada e enfraquecida! As dores, antes insuportáveis, agora já parecem mais brandas. Já quase não sinto mais a minha perna. A corrente presa à minha coxa esquerda já tinha parado a circulação, e a sensibilidade já não era mais a mesma. Estou presa a este objeto há um ano ou mais. Não me lembro exatamente de quanto tempo estou aqui. A princípio, para evitar a loucura e a perda de memória, fiz tracinhos nas paredes. Mas, com o tempo, fui me esquecendo até de me levantar para comer o pão e a água que me trazem. 
Temo não conseguir colocar neste diário tudo o que me ocorreu durante toda a minha existência. Tenho a esperança de um dia alguém me achar ou se lembrar de mim. Caso isso não venha a ocorrer, sei que minha amiga Juanita encontrará um meio deste diário chegar até às mãos de Maria. Quero que meus irmãos de alma saibam o que passei por amar e por não negar minhas origens. Os horrores e as injustiças que aconteceram em minha vida, envolvendo seres considerados acima do bem e do
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mal, deixo aqui registrados. Não aumentei e nem inventei absolutamente nada. 
Algumas pessoas que se diziam com o poder de direcionar o destino de outras, só pelo simples fato de terem nas mãos um documento chamado Bula Papal, tornaram a minha vida e a de outras mulheres a mais miserável possível. Pessoas que se julgavam Deus ou mensageiros Dele. Seres humanos como eu, mas que pareciam viver em um mundo mental paralelo ao nosso. Parecia que, ao olharem uma mulher, viam nela outra forma de vida aparente. Suas formas de manipular a população eram tão convictas que causavam cegueira e histeria em massa – e, logo, uma espécie de aliança cega entre a população e os inquisidores. Na verdade, a voz do povo não era a voz de Deus, mas sim a voz do inquisidor. 
Minha história é muito complexa. Se algum dia esse diário for encontrado e lido por outras pessoas, elas poderão ficar atordoadas e confusas com os relatos registrados aqui. Mas que fique bem claro que este é o meu diário. O diário da minha vida terrena, onde conto a minha trajetória como mortal, mulher, bruxa e como um ser humano esquecido pelo mundo contraditório. Nesta história de vida passada, faço aqui duas regressões e mostro o lado obscuro real da Inquisição. Conto como o preconceito contra as mulheres era superior ao sentimento maior: o amor verdadeiro. A religiosidade era usada para encobrir o lado negro dos sacerdotes. O dinheiro comprava e vendia tudo, até a alma humana. Os sacerdotes e seus monarcas seguidores fanáticos tinham uma única vontade: manter as mulheres submissas e a população humilde e sem cultura sob os seus pés. Mas, na verdade, os monarcas também eram marionetes destes discípulos do diabo. Pessoas que se
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mascaravam com uma bondade hipócrita, para não mostrarem a verdadeira face escondida debaixo de peles de cordeiros. 
Espero, em nome de Deus, que a humanidade um dia possa evoluir para o seu próprio bem. E que estas almas, ao encarnarem, também possam redimir-se destes pecados que cometeram contra a humanidade. Vivi em um tempo muito desequilibrado e hostil, em que mesmo os que tinham certo estudo viviam na ignorância e no flagelo espiritual. As pessoas não tinham o direito de ir e vir. As palavras, nem em pensamentos poderiam permanecer. Se eu pudesse, aconselharia todos a refletirem sobre seus atos e as consequências que podem advir deles. Amem como se hoje fosse a primeira vez. Esqueçam o passado, deixem as mágoas e quem os magoou para trás. Porque a única coisa que realmente importa é o amor e o perdão. 
Espero, minha querida Maria, que encontre este diário e que esta história da qual fez parte seja contada para todos os nossos irmãos e irmãs, de geração em geração. Tenho certeza de que não passei por todas estas coisas em vão. Aprendi muito com a senhora. Sua sabedoria, bondade e benevolência foram minha fonte de inspiração para eu estar aqui, hoje, lutando em registrar estas palavras. 
Lembra-se, Maria, de quando mais atrás me ensinou a agradecer a Deus por todos os segundos de nossas vidas, mesmo que eles fossem os últimos? Agradeço, sim, a Ele, mas nunca me esqueço da senhora. Minhas orações são para você, bem como meu amor e gratidão, minha amiga, minha mãe. Sim, pois a senhora foi a única mãe que conheci. 
Embora minha vida tenha sido tão curta, pude refletir e compreender que nunca devemos parar de lutar pelo que sonhamos e acreditamos. Sempre lutei e nunca temi ou me
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arrependo de ter chegado às últimas consequências. Nunca desisti do meu único e verdadeiro amor, embora ele tenha me traído e me abandonado. Nunca desejei mal a ele, mesmo sabendo que pode estar nos braços de outra mulher. Não odeio nem mesmo meus algozes, pois fazem parte da construção da minha história. Aceitei o dom da mediunidade graças à senhora, Maria, pois aprendi a ser responsável e mais humana. Sei que são curtos os meus dias aqui, minha cara amiga. Mas morro com dignidade e orgulho em saber que me assumo como sou: uma bruxa. 
A senhora ensinou-me que a responsabilidade de um médium dobra quando ele ensina alguma coisa a outra pessoa. Espero estar sendo coerente com as palavras aqui. Pois, assim como fui sua discípula, terei discípulos que ouvirão minha história e far-me-ão de exemplo. Sei desta responsabilidade e não quero ser uma lenda e nem um exemplo, pois também falhei. Apenas quero contar como tudo aconteceu comigo. Achei que, por amor, poderia superar os sofrimentos que me seriam impostos. Mas, agora, tenho certeza de que não sabia o quanto o ser humano pode ser cruel em arquitetar uma forma de torturar o outro. A maldade do ser humano é infinita e sem igual. 
Seguindo com a minha história...
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I – O DIÁRIO DE ANNA madrugada estava cinza, como o meu coração... 
Senti o vento frio entrar pela janela, beijando 
meu rosto suavemente, como se fosse um 
cumprimento casual e afetuoso. Estávamos perto do término do 
outono. As folhas das árvores caíam como plumas ao chão! E 
meus sonhos também. 
Sentia-me muito só. Algo em meu coração estava 
tentando falar, num silêncio descompassado. Naquela época, eu 
via beleza em tudo ao meu redor. Mesmo nas horas de tristeza, 
conseguia ver coisas boas. Mas alguma coisa parecia estar 
errada. 
Minhas noites sem dormir eram agonizantes. Eu tinha 
um choro preso na garganta e, às vezes, sentia raiva de nada 
aparente. Não sabia explicar o que era e, depois de andar quase a 
noite toda pelo quarto, fui à janela observar a rua e senti o vento 
úmido, que bateu em meu rosto, ainda molhado pelas lágrimas. 
Os poucos transeuntes que se atreviam a andar pelas ruas 
pareciam estar congelados e enroscavam-se em seus casacos de 
lã, como caracóis em uma conchinha. Um redemoinho juntava 
as folhas caídas ao chão, fazendo-as bailar sobre a calçada, 
como em uma brincadeira de ciranda. 
À medida que a neblina subia, mostrava ao longe o 
espetáculo e a beleza escondida por trás daquela cortina 
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acinzentada, criada pelo crepúsculo misterioso da floresta negra. Sentia-me uma privilegiada por morar no fim daquela ruazinha de pedras calcárias, muito polida pelo tempo. Eu tinha não só a magia das montanhas ao longe, mas o cenário mais perfeito de todo o mundo! 
O lugar onde morávamos, para mim, não tinha preço. Podia ser o mais simples e o mais isolado, mas, com certeza, era o melhor lugar deste mundo, simplesmente por ser o nosso habitat. 
O cenário era mesmo incrível! Eu jamais me cansaria de admirá-lo. Da janela do meu quarto, podia ver, desde a esquina, a outra extremidade da rua sem saída. Havia uma pequena trilha de terra, que dava para um misterioso bosque Mal Assombrado, como diziam os viajantes que por ali passavam - também citado nas cantigas das escravas como Floresta negra, ou ainda chamado de Bosque dos Mortos pelos supersticiosos do vilarejo. 
Muitas lendas foram criadas em torno desse bosque. Na verdade, não sei se poderiam chamar essas histórias de lendas, pois em certo ponto do bosque não havia nenhum tipo de vegetação ou vida aparente. Sua terra era seca, e isso se ocasionou depois que os moradores mais antigos queimaram uma jovem amarrada a uma árvore, petrificada, acusando-a de bruxaria. Eu nunca havia tido a coragem de ir até lá por medo do que ouvia, mas ficava observando seu estranho silêncio da minha janela nas noites de solidão. Nunca vi ou ouvi uma ave gorjear por lá. 
Ouvira dizer que nenhum ser vivente ou em seu juízo perfeito atrever-se-ia a colocar seus pés naquele local obscuro e sinistro. Eu, nas muitas vezes em que perdia o sono durante a noite, jurava ter ouvido gemidos e clamores vindos daquele bosque. Sombras pareciam sair do bosque, ou era apenas a minha mente que as imaginava? Sempre preferi acreditar que
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fosse a minha imaginação, e nunca mencionei isso nem mesmo para minha amada Maria. 
À frente de minha casa, logo na esquina, antes de subir a pequena trilha, ficava a mansão dos Sorancos Del Castilho, gente sisuda, aparentemente orgulhosa e pouco amistosa. Eles eram judeus convertidos ao cristianismo. Só os víamos nas missas aos domingos e, mesmo assim, sentavam-se longe de todos. Eram pessoas que pouco se viam transitar pelas ruas. A senhora Del Castilho e suas filhas vestiam-se mais discretas do que o normal, sempre com roupas austeras e escuras. 
Não eram nada sociáveis. Não iam a festas, não convidavam e sempre era possível vê-los observando as pessoas de soslaio. Eram reservados e isolados. Eu mesma tive a impressão de ter visto um ou outro me observando pelas costas. Mas, quando me virava, tentando achar o que estava me incomodando, não via nada. Eles pareciam fantasmas: apareciam onde menos esperávamos, e sumiam da mesma forma. Gentinha realmente estranha... 
Diziam que eles eram muito ricos, e que seus dízimos superavam as expectativas paroquiais. O Senhor Del Castilho parecia um Lorde, com suas botinas e suas abotoaduras de brilhante. Em questão de status, essa família, por certo, era a mais rica do condado. O restante da vizinhança morava a muitos metros à frente. Por isso, sentia-me muito tranquila em relação à paz e ao sossego. 
Por parte de meus pais, meus avós foram os pioneiros daquele vilarejo. Eles fizeram muitas benfeitorias, como o belo caminho feito de cerejeiras, que foram exclusivamente trazidas da Inglaterra para enfeitar as laterais daquela larga ruazinha - o que dava, além de graça e beleza, certo mistério ao trajeto. Era incrível o enorme tapete de flores que se estendia para passarmos no outono. O vilarejo ainda era pequeno e mais
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parecia um labirinto, porque todas as ruas se cruzavam. Todos se conheciam, mas poucos eram amigos, e os mais jovens de certos recursos financeiros eram enviados à Europa para estudarem e, na maioria das vezes, não retornavam à casa paterna. A vida no campo não lhes convinha mais. Mas, por certo, Salamanca cresceria muito com os tempos que viriam. 
Se chegasse qualquer estranho ao vilarejo, em questão de pouco tempo todos os moradores ficavam sabendo da novidade. Era engraçada a maneira como os habitantes daquele pequeno vilarejo comportavam-se. Tão primitivos! 
Naquele tempo, eu já não era vista com muito bons olhos. Mas era por motivos corriqueiros e questionáveis, pois as pessoas achavam-me esnobe. Mas eu não o era. Pelo contrário, era uma jovem medrosa e muito tímida, esquivava-me das pessoas por não saber como me comportar no meio delas. E também tinha o fato de que a minha madrasta nunca me deixara participar das reuniões do nosso conselho. Muitas das jovens de minha idade não podiam opinar, mas sempre estavam presentes a tal evento, pois era uma maneira de se socializar e, claro, de arrumar um pretendente. Quando raramente eu podia sair, era sempre na companhia da minha ama Alicia ou de minha amada Maria, governanta da casa. Assim seguiram-se meus dias, sem nenhuma emoção ou aventura - o que era um tédio, pois meu espírito gritava por aventuras e coisas diversas, que nunca pude realizar na minha curta existência. 
Lembro-me, ainda, de minha casa: era bem grande. Mas não era uma casa acolhedora, porque faltava paz e harmonia. Fiz uma rápida e breve descrição dos detalhes. Na verdade, o que eu mais gostava não estava lá dentro. Nunca fui muito detalhista. Algumas coisas deixei passar em vão, não por falta de percepção, mas porque esta realmente não era a casa dos meus sonhos. Quando somos crianças, tudo é bom, tudo são
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flores. Encontramos divertimento até no meio das lágrimas, e luz no meio das trevas. Fazemos refúgio no silêncio, e nossos corações não guardam rancor. 
Vivi até metade de meus dezenove anos a triste e turbulenta história que me trouxe a este terrível lugar. E no meio do ódio, da inveja e da ambição, consegui criar para mim um mundo imaginário. No meio de coisas velhas e usadas, vivia minha vida de fantasias. 
Cresci amargurada, medrosa, tímida e isolada do mundo. Sem dúvida, minhas roupas eram caras. Não porque zelavam por mim, mas porque eu não podia aparecer maltrapilha perante as pessoas da sociedade. E também isso mostraria a real situação financeira da minha família: apesar da ostentação, a falta de recursos financeiros era escondida a todo custo. 
A maioria dos vestidos nunca usei, mas minha madrasta fazia questão de gastar mesmo assim. Por não ter nenhum amigo com quem pudesse falar, eu ficava a maior parte do tempo no sótão, na cozinha ou com os criados. Aprendi a fazer muitas coisas domésticas apenas observando, pois os escravos e criados não me deixavam tocar em nada: tinham medo de uma represália. Eu era a sinhazinha, um enfeite de porcelana e sem nenhuma utilidade. Eu não gostaria que tivesse sido assim, mas as circunstâncias e a própria época em que vivi ajudaram muito para isso. 
Enfrentei o mundo por amor. Enfrentei os homens e a Igreja para mostrar que também nós, mulheres, temos o direito à igualdade, a ir e vir. E que somos livres em expressão de religião, vontade e igualdade. Enfrentei o ódio nos olhos, no coração e nas atitudes de muitas mulheres por quem lutei. Mas eu as entendia. Na verdade, bem no íntimo, todas aquelas mulheres gostariam de estar no meu lugar - não na dor, é claro, mas em coragem e determinação! Coragem de nunca se negar e
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de falar o que pensava. E determinação de lutar pelos ideais e também por um lugar ao sol, entre homens preconceituosos e ditadores. 
Não me arrependo do que fiz, mas do que nunca pude fazer. Minhas irmãs de almas sofreram muito mais do que eu, no cativeiro de uma masmorra fria e sombria. Pois viveram a vida toda sob o jugo dos homens, que muitas vezes eram seus amados. Embora a maioria delas tivesse escravos, elas eram escravas do silêncio e da submissão. Ser uma bruxa não foi e jamais será fácil. Eu vivia em um mundo de falsidades, onde o luxo e o dinheiro encobriam qualquer falha humana. 
Minha casa era muito grande, com muitas passagens secretas. Algumas descobri a duras penas, para me esconder de minha madrasta. Os corredores eram enormes e, ao sairmos do meu quarto, passávamos pelos aposentos do casal e por mais oito outros, ainda vazios, que às vezes eram usados pelos hóspedes. Seguindo pelo corredor largo, com uma passadeira cor de carne e desenhos geométricos, chegávamos ao antigo quarto de minha mãe, cuja porta nunca era aberta. Os motivos eram desconhecidos e alheios para mim, até então. 
Eu sempre sentia certo arrepio naquele corredor, pois era de pouca iluminação e dava-me a impressão de ter uma pessoa atrás de mim. Aliás, toda a casa me dava certo arrepio. Por fim, chegava a uma escadaria, que era meio em caracol, toda de mármore branco, com corrimão de madeira muito encerada. Eu adorava escorregar no corrimão quando não tinha ninguém por perto. À direita, ao final do corredor, era o sótão onde guardavam quinquilharias - meus tesouros. Na verdade, toda a memória da minha família estava lá em cima. 
As escadinhas eram estreitas e de madeira; o sótão mais parecia uma velha torre onde me refugiava da bruxa má. Meu esconderijo antissurras, pois, quando minha madrasta se
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desentendia com meu pai, era em mim que descontava seu ódio. Como se eu tivesse alguma coisa a ver com desentendimentos entre eles... Os dois pareciam cão e gato, não conseguiam ficar perto um do outro por meros segundos sem se engalfinhar. Minha madrasta era muito exigente e só queria saber de gastar. 
Eu tinha mania de ficar no topo da escadaria, encostada no beiral, olhando o andar de baixo e escutando as conversas e discussões de meu pai. Chegava a ficar tonta, pois os ladrilhos do hall de entrada davam a impressão de vermos um enorme tabuleiro de xadrez, já que o piso era quadrangular em tons de preto e branco. À esquerda, seguia-se para o escritório de meu pai, que era quase como uma passagem secreta, por ficar embaixo da escada. No fim da escada, à direita, existia um grande salão de bailes, onde tínhamos a mais bela varanda, toda em mármore branco. 
No salão, existiam enormes pilares, dando certo ar de templo romano. Por ser tudo muito branco, quando criança eu pensava ser o céu. Sentia-me uma fada e rodopiava, abrindo os braços. À esquerda, ainda no final da escadaria, seguia-se para a cozinha, por um enorme corredor de tábua corrida. Minúsculos quadros familiares foram pendurados em suas laterais. Eu o chamava de corredor dos espíritos. 
Ao chegarmos à enorme cozinha, tínhamos um gigantesco fogão de lenha, onde Tereza criava as mais deliciosas receitas junto à escrava Joana, sua auxiliar. Havia uma grande e pesada mesa de carvalho, no centro. Panelas de bronze, muito areadas, foram penduradas por toda parte. Eu ficava ali, em pé, ao lado das cozinheiras, observando aquela fantástica e misteriosa forma de alquimia. Era o meu segundo local preferido. 
O simples mexer de Joana com a colher de pau nos grandes caldeirões fascinava-me. A magia simples da mistura
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dos temperos me fascinava! Nascia em mim o desejo de ter o meu próprio caldeirão. Por várias vezes, brincando de cozinhar, juntei algumas ervas e coloquei-as dentro de uma caneca de água quente, dando à pequena escrava Inaynmin, filha de Joana, aquele chá com a minha mistura de ervas. Dizia a ela que os anjos lhe dariam bons sonhos. O estranho é que a menina dizia dormir muito bem toda vez que tomava meus chás. 
A cozinha também era, para mim, um refúgio onde me escondia da minha madrasta. Pois ela me perseguia por toda a casa, não importando onde eu estivesse. Mas na cozinha ela não entrava, porque achava indigno do seu status de senhora. 
O sótão já estava ficando vulnerável, e a história que Maria contava sobre lá ser mal assombrado já não estava surtindo muito efeito - o que passou as ser perigoso para mim, pois minha madrasta já não cria mais nos tais fantasmas. Então, tive de me refugiar nos corredores, dentro das paredes entre um quadro e outro, como um animalzinho assustado. Algumas dessas passagens davam nos fundos da cozinha, onde eu aparecia inesperadamente no meio das cozinheiras que, na maioria das vezes, levavam um grande susto. Tereza colocou- me a alcunha de pequena sombra, pois às vezes, quando ela olhava para trás, lá estava eu como num passe de mágica. 
Tínhamos, ao lado de fora, um enorme pátio com uma fonte d’água e um poço. Da escada dos fundos da cozinha, que dava para esse pátio, podíamos ver várias montanhas ao fundo. Sem sombras de dúvida, não existia nada mais lindo do que a visão daquelas montanhas! O cenário era tão incrível e mágico! 
A impressão que eu tinha, ao ver o sol despontando no horizonte, era que ele as fazia mudar de cor, para um verde quase azulado. Sentia-me especial por estar fazendo parte da obra de um Grande Mestre. Nenhum pincel pintaria nada tão
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perfeito! Eu não gostava da minha casa, mas amava o lugar onde vivia. 
Essas lembranças de infância vieram à tona saudosamente. E especialmente naquele dia - vinte e um de julho de 1819 - acordei muito cedo: exatamente às duas da madrugada. O galo mal tinha cantado e lá estava eu de pé. Tudo o que eu tinha aprendido até aquele momento foi com os livros. Em minha solidão, eu lia muito - o que me foi de grande valia em meu aprendizado. Muitos desses livros foram encontrados no sótão, junto aos pertences de minha falecida mãe. Andei de um lado para o outro do quarto, como uma galinha que havia perdido seus pintinhos. Algo me estava incomodando em demasia. Minhas mãos suavam e meus sentidos estavam aguçados. Por causa dos sonhos confusos e pesadelos - que eram constantes - eu via sombras nas paredes e vultos ao meu lado, constantemente. Parecia haver pessoas perto de mim, vozes falavam ao meu ouvido diariamente. Por não ter nenhum conhecimento, sentia medo. Não sabia o que eram e o que queriam comigo. Eu tampava os ouvidos com as mãos, na tentativa de não as escutar. Outras vezes, eu respondia e conversava com elas. Às vezes eu as remedava, e tais gestos faziam minha madrasta pensar que eu era insubordinada. 
Apanhei muito por causa das vozes. E elas pareciam ficar cada vez mais irritadas com a proximidade da minha madrasta. Erroneamente, eu achava que eram fantasmas. Mas o pior de tudo isso é que eu não podia contar a ninguém, porque as pessoas considerar-me-iam insana. Ou me entregariam nas mãos de um exorcista - o que anteciparia o meu destino. 
Especialmente naquela madrugada, elas estavam muito mais agitadas do que de costume. Antes, elas eram assustadoras e davam a impressão de estarem muito aflitas. Ora cantavam em línguas estranhas, ora falavam todas juntas. Isso me confundia.
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Deixei aquelas aflitas lembranças para trás um pouco e voltei à janela. Fiquei horas observando a montanha e sua neblina misteriosa Queria esquecer aquelas almas que desesperadamente me chamavam. Senti-me um pouco egoísta, mas precisava me distanciar antes que elas voltassem a querer falar comigo. Pois cada vez que eu pensava nelas, parecia estar atraindo-as para junto de mim. Além de toda aquela confusão com as vozes, havia também os maus presságios, que estavam acarretando o meu espírito e, como nuvens, confundiam também os meus sentidos. Eu achava que era devido à ausência de meu pai, e também pela falta de noticias dele. Mas era uma mistura de saudade, solidão e devaneios, em uma mente jovem e atordoada por uma mediunidade ainda não trabalhada. 
Algo estava para acontecer. Algo que mudaria a minha vida para sempre. Lembrei-me de Maria, que dizia que eu havia nascido com dons especiais. E que, ao completar meus vinte e um anos, as coisas ficariam melhores. Bom, eu faria vinte no ano seguinte e tinha a esperança de que as coisas pudessem melhorar a partir dali. E que meus dons, ao aflorarem, trouxessem-me um pouco mais de paz. Na verdade, não sabia se eu poderia chamar aquelas tormentas de dons. Só sabia que elas eram espirituais. O meu medo de vê-los era tão grande que, de alguma forma, trazia-os para bem perto de mim. Às vezes pensava serem coisas da minha mente. Mas, com o decorrer do tempo, meus sentidos foram aguçando ainda mais; passei a ter estranhas visões de fatos que ainda não tinham acontecido. Na maioria, eram sonhos que mais pareciam pesadelos. Tudo era uma incógnita para mim. Maria chamava essas coisas de premonições. Eu via a vida das pessoas e, se alguém mentisse, sabia que estava mentindo. Não sabia o porquê de estar acontecendo comigo. Eu era totalmente leiga nos assuntos da magia. E isso era algo agonizante, pois me deixava irrequieta e
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depressiva. Mas o certo é que minha vidinha monótona, sem graça e atordoada estava para mudar da água para o vinho. E isso aconteceu muito rápido. 
Quando meu corpo se arrepiava e me dava calafrios, era a forma de os meus sentidos de bruxa me avisarem que algo ruim estava para acontecer. Mas, por não ter noção, a depressão passou a tomar conta de mim. Chorava por qualquer coisa e sem motivos aparentes. Algo estava errado comigo. E ninguém sabia como agir: eu precisava de ajuda, mas o socorro não vinha! Muitas vezes ansiava por ver o mensageiro, que nunca chegava dando notícias de meu pai. Era mais uma fuga para escapar da depressão. Estava ficando louca. Meus pensamentos mudavam de direção, como o vento de lugar. 
Onde estaria o mensageiro? Precisava vê-lo. Na verdade, ele só passaria às sete e trinta, seu horário normal. De quinze em quinze dias, sempre nos trazia uma carta de meu pai, mas eu já não estava aguentando de tanta ansiedade. Fazia um mês sem notícias; meu coração estava apertado. 
Não havia conhecido minha mãe. Meu pai, no entanto, era tudo o que eu tinha naquele momento. Minha madrasta era perversa e fingia ter um falso afeto por mim. Nunca me pegara ao colo ou fizera um afago em meus cabelos quando eu ainda era criança. Pelo contrário, humilhava-me com palavras hostis e sempre me batia por qualquer motivo. Suas ameaças de me colocar em um convento eram constantes. Era impressionante a falsidade e o fingimento daquela mulher. Na frente de meu pai, sempre me tratava com sorrisinhos forçados e uma delicadeza inexistente. Aliás, tudo nela era demasiadamente falso. 
Lembro-me de certa vez, depois de ter apanhado muito e ter ficado com o corpo coberto por hematomas, ter sido trancada dentro do guardarroupa um dia inteiro. Gritei, quase desfaleci, mas ela não deixou ninguém me tirar de lá. Fiquei em estado
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catatônico. Maria, naquele dia, ficou do lado de fora da porta, cantando para mim, tentando mostrar que eu não estava sozinha. Jamais me atrevi a contar para meu pai, pois Maria dizia que ele não podia ter aborrecimentos, devido à saúde instável. Ele estava com sérios problemas de coração e bebia muito. 
A crueldade de minha madrasta não estava só na forma como ela me tratava. Também era cruel com os criados e escravos. Ela deixou um escravo, de nome Sandoval, sem comer por dias. E o mesmo já havia feito comigo. Só que, por ser criança, adoeci e fiquei de cama. Maria convenceu meu pai a chamar o doutor, e ambos quiseram saber por que eu estava tão debilitada. Minha madrasta entrou no meio da conversa, dizendo-lhes que eu estava muito angustiada devido às constantes ausências de meu pai, e que eu havia perdido o apetite de tanta tristeza. Ela sempre encontrava um meio de se livrar de sua culpa. Ela tinha certo requinte de crueldade e fazia meu pai sentir-se péssimo. Ele, naquele dia, bebeu até cair em um canto da casa. Eu e Maria o achamos e o colocamos para dormir em um sofá. Maria não tinha medo dela, mas sabia que, se contasse, ela se vingaria em mim. 
Eu estava completamente indefesa e nas mãos daquela famigerada. Sua beleza e falsidade seduziram meu pobre pai, que estava carente e solitário, com uma pequena menina recém- nascida nos braços. Não que Maria não estivesse dando conta do recado. Mas as cobranças entre os amigos e o preconceito da sociedade, por ele ser um viúvo ainda jovem, pesaram-lhe muito. É claro que sua posição socioeconômica e o título de nobreza dela também colaboraram para aquela união de conveniências. 
Não sei o que fizeram de errado, mas ele se viu obrigado a se casar às pressas com a jovem condessa Marli Del Prat, filha do duque e também viúvo George Von Del Prat. Meu pai foi um
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rico comerciante, mas estava passando por muitas dificuldades financeiras, causadas pelos gastos de sua jovem esposa. Isso tudo pesava em seu bolso e em seu coração. Ele era uma pessoa de pouco se abrir, o que poderia estar causando os seus supostos problemas de saúde. Alguns de nossos criados estavam conosco há anos - como Maria, que havia sido praticamente criada em nossa residência. Seria muito injusto colocá-la na rua de uma hora para outra. Maria, que abdicou de toda a sua vida para cuidar de mim, por amor e fidelidade a uma promessa feita à minha mãe em seu leito de morte... Passávamos por uma enorme crise financeira, enquanto a condessa gastava horrores em bailes, roupas e joias, desperdiçando o pouco que ainda tínhamos. 
Por ser muito jovem quando se casou com meu pai, passou a disputar comigo sua atenção. Era de uma beleza muito rara em meu país. Era filha de alemães e holandeses. E sua união com meu pai, que também era um fidalgo, embora falido, fora de grande valia política. Com essa união, seus parentes teriam livre acesso de trânsito dentro da Espanha, entre outros benefícios políticos. 
Minha madrasta era uma mulher esbelta, com formas muito bem definidas e fartas. Cabelos muito negros e olhos azuis; sua voz tinha um tom suave e aveludado. Deixava os fidalgos, por assim dizer, abobalhados. Sua pele era rosada como o pêssego, seus lábios eram finos e havia uma pequena pinta sobre eles. Vestia-se sempre com as melhores roupas, embora exagerasse no brilho. 
E as joias, então? Eram sempre as mais caras! Não poupara o seu dote, esbanjando até as economias que meu pai fez no decorrer dos anos. Por isso, chegamos quase à beira da miséria.
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Com os gastos irregulares da condessa, meu pai passou, então, a fazer longas viagens, na tentativa de fazer novos investimentos para salvar as finanças. A Europa era promissora e, por isso, ele ficava por meses fora de casa. 
Porém, minha madrasta não dava trégua com os gastos e continuava a esbanjar as poucas economias que nos restavam. Às vezes, ela parecia fazer aquelas coisas na tentativa desesperada de obter a atenção do meu pai – pois, devido à sua rara permanência em casa, estava deixando de lado as obrigações como esposo. 
Mas, na minha cabeça, era por maldade mesmo que a senhora esposa de meu pai fazia todas aquelas coisas terríveis! Cheguei a flagrar meu pai soluçando pelos cantos da casa. Mas, a qualquer proximidade e tentativa de ajudá-lo, ele se esquivava e saía à francesa. 
Por dias trancava-se em seu escritório. Ele aparentemente não tinha muita alternativa, pois, se colocasse os pés para fora de seu refúgio, sua esposa o seguia tagarelando, exigindo e reclamando coisas corriqueiras e sem muita importância. Eram visíveis, vergonhosas e humilhantes as discussões dos dois perante a criadagem, que ficava debochando às escondidas. E quando ele não aguentava mais, a agressão passava da verbal para a física. Minha madrasta tinha seus defeitos, por certo, mas eu não suportava ver meu pai espancando-a. Vi aquela mulher muitas vezes ter que ficar sem poder colocar o rosto para fora de seus aposentos por causa dos visíveis hematomas. A desculpa usada era que ela estava indisposta ou com uma constipação muito forte. 
Os amigos de meu pai, por assim dizer, só o procuravam para farras e bebedeiras. Ele era um fraco e não sabia dar um rumo à sua vida. Estávamos vivendo em uma guerra fria e silenciosa. Um jogo de interesses e mágoas, em que a mais
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prejudicada era eu. Com tanta repressão, também aprendi a abaixar a cabeça para tudo o que eles dissessem. Cheguei a pensar em suicídio, mas era covarde demais para isso. E por não conseguir me imaginar longe de meu pai e de Maria, sempre me calei, escondendo comigo suas tramoias. Os anos foram passando e a condessa não tomava jeito mesmo; passou a viver de armações para arrancar dinheiro de meu pai e outros fidalgos, que frequentavam minha casa na ausência de meu pai. Nunca tive voz ativa, meu pai só fazia presença e a pobre Maria não passava de um capacho, como o resto da criadagem. A autoridade-mor da casa era mesmo de sua majestade Marli Del Prat. Entre outras coisas, ela queria tudo só para si. Inclusive, o meu lugar como herdeira única. 
Seu comportamento era detestável e nauseante, pois às vezes, para chamar atenção, ela se comportava como uma menininha, fazendo trejeitos e mesuras irritantes. Mas era só meu pai virar as costas que sua personalidade aflorava, dando lugar à verdadeira pessoa escondida atrás daquela aparência frágil e ingênua que a condessa criara como personagem, para engambelar a todos do sexo masculino. 
Mediante tudo isso, eu sabia que era improvável meu pai acreditar em mim. Eles não se suportavam, mas tinham que manter as aparências e cumprir seus deveres perante a sociedade. Se eu não morasse naquela casa e se todos os dias não estivesse presenciando tanta falsidade e falta de caráter, certamente também não acreditaria! Pois aquela doce e jovem senhora e aquele tão elegante cavalheiro eram, na verdade, duas pessoas repletas de artimanhas. 
Quando meu pai viajava - além das festas constantes, que iam até altas horas -, a condessa também se embriagava pelos cantos, enquanto eu era obrigada a ficar trancada em meu quarto, para não ver o que realmente acontecia. Suas risadas
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altas e histéricas no corredor incomodavam-me e, por várias vezes, tive que tampar meus ouvidos, colocando chumaços de algodão para não ouvir as atrocidades que saíam ecoando pelo corredor. Como desejava ter tido outra vida...! Não podia ver, mas sabia que ela estava com outros homens. Não seria difícil flagrá-la nas proximidades do nosso jardim com os Lorde e os fidalgos, frequentadores de suas constantes festas noturnas. E se alguém a visse, ela se justificava, dizendo que fazia aquilo para o bem de todos e das finanças. 
Se não tivesse vindo de uma família de nobres, eu a consideraria uma cortesã, devido à sua conduta leviana e vulgar. Minha vida naquela casa foi triste, sem sentido. Estava a me transformar em uma pessoa revoltada. Minha luta era comigo mesma, eu não poderia me transformar naquela pessoa vazia e sem vida que eles queriam que eu fosse. Maria ensinou-me que, quando alguém deixa morrer os sonhos, a vida acaba. Ela dizia que só não sonhava quem não tinha a capacidade para realizar. Eu tinha sonhos... e eram muitos. Só não sabia onde eles estavam naquele momento. 
Nunca frequentei escola, mas estudei em casa. Tive aulas de língua estrangeira, piano e literatura. Minha professora, a Senhorita Ludmila Lavenier, era minha única companhia, depois de Maria. Tinha mais ou menos trinta anos, embora aparentasse ser mais jovem. Era de origem holandesa e herdou o sobrenome de seu avô paterno, que era francês. E por ter sido criada e educada na França, seu sotaque era encantador. Por muitas vezes desejei que ela tivesse conhecido meu pai antes de minha madrasta. Ela era culta, simpática e divertida. Sua cultura era consequência de suas muitas viagens pela Europa. Sempre muito elegante, discreta e muito ponderada ao se dirigir às pessoas. Tinha um tom de voz paciente e educado.
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Era admirável ver uma mulher muito além do século XVIII, conhecedora de várias culturas e mestre em disciplina familiar. 
Comentavam as más línguas que ela tinha vários amantes, e que era uma mulher com ideias muito opostas. Alguns chegavam a dizer que ela não era nada feminina em seu jeito de pensar. Mas eram apenas boatos maliciosos. Ela mesma me contou que amou apenas uma pessoa em toda a sua vida e que, por proibição dos pais dele, não puderam se casar, por causa de sua inferioridade financeira. Por isso, ela resolveu seguir em frente como educadora particular de finas senhoritas. 
Suas histórias eram incríveis! Contou-me que certa vez almoçou com o próprio rei, sentou-se à mesa real como sua convidada de honra. Não era o tipo de pessoa que desse ouvido a comentários e mexericos dos outros. Era livre e independente, como eu gostaria de ter sido. Também me cotou sobre as damas da corte para quem já tinha ensinado suas aulas de piano, e sobre os romances secretos no palácio real. Ríamos muito. Senhorita D`Lú - era como gostava de ser chamada - foi altamente recomendada pela Senhora Carllota Gonzalez, uma governanta amiga de Maria, que trabalhava na mansão do Marquez de Miqueias. Foi uma pena quando meu pai teve de dispensar seus serviços por causa dos ciúmes da condessa e, é claro, por causa da nossa situação financeira, que não ia nada bem. O resto, aprendi por conta própria. 
Assustei-me quando Maria entrou em meu quarto sem bater, com a bandeja de café. Maria era uma mulher gentil, educadíssima e extremamente respeitável. Podia-se dizer qualquer coisa sobre Maria, menos duvidar de sua conduta, inabalável. Era uma mulher de estatura baixa, rechonchuda como um empanado de frango. Fazia questão de manter seus cabelos negros presos em um coque perfeito. Tinha os olhos grandes e negros, lábios largos e era muito severa com os seus
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subalternos. Usava luto constantemente em sinal de respeito à memória de minha mãe. E ficou muito aborrecida quando papai casou-se novamente, embora nunca se atrevesse a dizer. 
Nunca se exaltava e constantemente usava de ironia em suas conversas. Acho que herdei sua maneira de ser. Ela nunca conseguiu dizer-me não. Mas, às vezes, colocava-me de castigo, o que era pior do que levar chineladas. E ali, naquele momento, observando-a de costas, percebi que seu peso, embora não condizente com sua estatura, dava-lhe certo charme, porque mantinha uma postura elegante e ereta. Deveria ter sido muito bela quando ainda jovem. Por certo, foi desejada entre os homens. A pobre mulher não se casou, não tinha filhos, passou a vida toda se dedicando a mim e a meu pai. 
Era filha de espanhóis ciganos. Tinha o estranho costume de prever o futuro através das cartas do tarô. Por várias vezes, às escondidas, abriu o baralho para mim, sempre usando um ritual. Certa vez, quando abriu o tarô para mim, depois de muito fitá- lo, começou a chorar. Fiquei sem saber o porquê daquele pranto incessante. Minhas tentativas de interrogação foram em vão, e de nada adiantava tentar consolá-la, pois seu pranto era incessante. Maria abraçou-me e disse: 
– Tem um triste futuro, minha filha! Precisa comer alguma coisa. 
Abriu as janelas e afastou as cortinas de organza e seda cor-de-rosa. Ajeitou a bandeja com o desjejum na mesinha de lanches, que era de cristal e cobre decorado, trazida da Inglaterra por minha mãe. Em seguida, saiu enxugando as lágrimas e dizendo, entre dentes, que os afazeres a esperavam, deixando- me com as respostas ao vento mais uma vez. Sempre tão atenciosa e dedicada, mas muito meticulosa e misteriosa quando se tratava das cartas. Detalhei a mesinha novamente naquele momento nostálgico de minha vida e lembrei-me de meu pai,
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que certa vez contou-me que minha mãe ficava horas escrevendo suas receitas e seus poemas ali. Ele dizia que ela era cheia de mistérios. Interrompi novamente meus pensamentos, pois a copeira entrou, trazendo uma ânfora com água morna e colocando-a na bacia de porcelana chinesa. 
– Não vai comer menina? - perguntou a copeira. 
– Daqui a pouco, estou meio sem fome agora. 
Ela saiu, fazendo-me ameaças de que, se eu não comesse tudo, chamaria o doutor. Só de pensar, senti arrepios! Ele era um velhote horrível, com cara de louco. Fumava um charuto fedorento, o seu cheiro pessoal dava-me náuseas. Sua barriga salientava-se por cima daquela roupa encardida, que já não via água há séculos. Sem contar que metade de seu rosto ocultava- se em algum lugar entre a barba e o tenebroso bigode. Se olhássemos muito, víamos uma saliva escorrendo no canto externo dos lábios. Eu ficava doente só em pensar que o teria perto de mim, colocando-me aquelas mãos amareladas pelo tabaco. Nunca o vi lavar as mãos para me examinar. Toda vez que ele ia me visitar quando criança - para exames rotineiros ou qualquer outra coisa -, se eu estivesse doente, ficava pior. E se eu não estivesse, aí ficava mesmo. Arregalei os olhos de pavor! Sentei-me na cama, coloquei a bandeja no colo e comi tudo o que havia no desjejum, pois, com certeza, ela cumpriria sua promessa. Ela, sorrindo, parecia ter lido meus pensamentos. Aliás, sempre fazia isso. Dei uma espreguiçadela gostosa no ar e empurrei a bandeja vazia. Voltei para a janela, fiquei por horas observando o jardineiro Joseph, enquanto ele cuidava das rosas com dedicação e minúcia. Vi Maria levando para ele café e sequilhos. Ele sempre estava próximo dela e pareciam tão felizes! Maria sorriu e saiu em seguida, toda faceira.
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Não demorou muito e logo estava de volta para buscar a bandeja. Tinha nos lábios um sorriso que não era habitual. Definitivamente, Joseph a fazia muito bem. Deu um suspiro profundo antes de me fazer um convite para passar sua folga com ela: 
– Senhorita Anna, gostaria de passar o fim de semana comigo na casa da minha irmã que mora no interior? 
Perguntei se tinha avisado à senhora minha madrasta, o que confirmou entusiasmadíssima com a cabeça. Pediu que me apresasse e saiu toda satisfeita porta afora. 
Fazia muito tempo que eu não a via daquele jeito. Maria sempre tivera permissão para ir visitar seus parentes no interior e, por certo, não era essa a causa de sua súbita alegria. Daria tudo para saber o que Joseph tinha-lhe falado. Tomei um banho caprichado, com os sais que ela fizera para mim. Escolhi um dos meus mais lindos vestidos. Mas este era adorável, em tom areia, todo rendado e com muitos babados. Seu decote deixava meus ombros à mostra. Olhei-me no espelho e senti-me bem ousada, mas mantive a discrição quanto aos exageros. Gostava de ficar admirando-me ao espelho e ali, olhando o retrato de minha mãe, comecei a fazer comparações entre nós duas. Naquele momento, percebi o quanto me parecia com ela. 
Meus olhos eram cor de mel, puxando para verde. Meus cabelos tinham cachos largos e eram de um tom castanho quase dourado. Minha pele, morena clara, era perfeita e sem nenhuma mácula. Meus lábios eram grossos. Definitivamente, eu a mistura perfeita das raças. Minha mãe era inglesa, de pele muito clara e olhos muito azuis. Seus cabelos eram de um tom castanho-claro, quase louro. Fitando-a naquela fotografia, achei- a parecida com um anjo. Eu havia herdado dela não só a beleza, mas também a elegância e o tom polido na fala. Minha cintura era extremamente fina e eu só usava o espartilho por mero
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capricho. Esse tipo de arrogância e vaidade foi uma coisa das quais me arrependi de ter tido. 
Embora ela tivesse morrido quando nasci, esses eram os comentários a seu respeito. Na aparência, achava-me igual à minha mãe, e sentia muito orgulho disso! Meu pai não ficou atrás. Ele era um espanhol muito alto, olhos cor de mel, pele bronzeada e cabelos claros e lisos, ombros largos e fortes. Lembro-me de vê-lo, quando eu era criança, depois de chegar de suas caçadas, montado em seu cavalo baio. Ele se parecia com um personagem de contos de fadas. Ficava louca, esperando que ele me colocasse em sua garupa e me levasse para cavalgar em seu colo. A sensação de proteção e liberdade era um misto formidável. Que pena não podermos voltar atrás no passado, no exato momento em que fomos mais felizes... Neste momento, mediante tanto sofrimento, é que percebo como eu tinha uma vida fútil e, por certo, poderia ter feito mais pelo meu semelhante. 
Às vezes ele tentava ser durão com os empregados, mas seu coração era bom e acabava voltando atrás. E quando sorria... era perfeito! Seu olhar era penetrante e sedutor. Aposto que mamãe, ao vê-lo, apaixonou-se imediatamente. Esse era o tipo de amor que eu queria para mim: eterno e verdadeiro. Eu tinha certeza de que ele ainda a amava, pois sempre trazia consigo, dentro do relógio de bolso, um retrato dela. Mesmo casado com minha madrasta, ele ainda, às escondidas, ficava fitando com ternura aquele retrato. 
Ao se casar com a condessa, meu pai tornou-se carrancudo e grosseiro, afastando-se de mim dia após dia. Passei a me sentir culpada por minha mãe ter falecido durante o parto. E minha madrasta, ao perceber meus temores infundáveis, passou a agredir-me, chamando-me de pequena maldição. Dizia ser eu a culpada pela morte da minha mãe e pelo fato de ela
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nunca ter engravidado. Mas, um dia, meu pai a ouviu e interveio por mim. Disse-lhe que nunca mais queria vê-la fazer-me tais acusações levianas. A condessa engoliu seu ódio por mim naquele dia, e subiu para seus aposentos, fingindo estar se sentindo mal. Não me lembro de ter visto meu pai procurar por ela e pedir-lhe desculpas, como sempre estava acostumado a fazer. Essa foi a única vez, desde que me entendia por gente, que vi meu pai manifestar-se a meu favor. 
Usei uma fita negra de veludo ao redor do meu pescoço, com um camafeu de marfim de minha mãe. Agora só faltava a sombrinha cor de palha, com delicadas rosinhas azuis e outras com cor de damasco. Seu cabo era todo talhado à mão, e havia sido meu avô quem o fizera para mim. Agora sim estava pronta para meu passeio naquele final de semana, que seria praticamente um dos últimos com Maria. 
Havia meses que eu não saía de casa. Por isso, não poupei esforços e caprichei naquela manhã. Levei uma maleta com tudo que julguei ser necessário. Não me esqueci de colocar alguns mimos para presentear os donos da casa onde passaríamos o final de semana. Levei comigo minhas economias. Achei que seria o momento exato de gastá-las. 
Maria entrou no quarto, de repente, e fitou-me de cima abaixo. Ironizou, ao perguntar onde seria o baile. Senti-me encabulada e corei de imediato. Ela ainda continuou a brincar, dizendo que, daquela forma, eu iria arrumar pretendentes com muita facilidade. Sorri meio sem graça e falei que, se fosse somente para desfilar ao lado de um homem triste e carrancudo como meu pai, só para mostrar à sociedade que eu era capaz de arrumar marido, preferiria acabar solteirona e comendo bolachas com chá.
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– Minha nossa! Pensei que eu iria poder descansar um dia! Mas, pelo que vejo, vou ter que cuidar de uma solteirona carrancuda - disse Maria, dando uma sonora gargalhada. 
– Ah, Maria! Jamais me apaixonarei! Somente se o amor for verdadeiro e duradouro. Mas sei que isso será impossível de acontecer, pois a nossa sociedade só visa o materialismo. E, levando em conta a situação financeira atual de minha família, isso será praticamente impossível, pois meu dote não é considerado tão valioso como o de algumas jovens do condado! Também temos que levar em conta outro fato não menos importante. 
– E qual seria? - perguntou Maria, curiosíssima. 
– O fato de que a senhora minha madrasta pode ter furtado meu mísero dote antes mesmo de eu ter tido a chance de usá-lo. 
Dessa vez, nos duas caímos em risos. Mas ela ainda prosseguiu, tentando corrigir o meu pensamento de depreciação para comigo mesma: 
– Não quero que diga sandices, criança tola. Por certo, um jovem mancebo irá se apaixonar por ti do jeito que é. Não podemos julgar todas as pessoas somente por conhecermos uma. Afinal, os dedos das mãos não têm o mesmo tamanho. 
– Hummm... E quem seria essa pessoa tão escrupulosa e tão pouco materialista, que vê uma moça pelo que ela é, e não pelo dote que ela possui? E quanto aos dedos das mãos, Maria, eu já os observei. Não são iguais, por certo, mas têm o mesmo tamanho, só estão posicionados de forma diferente. Basta observá-los e verá que estou correta. Ah, Maria, nós fazemos parte de uma grande peça teatral, na qual só mudam os personagens! E o cenário? Às vezes! Mas a história é sempre a mesma. Principalmente para nós, mulheres, que somos nada mais nada menos do que meras marionetes nas mãos dos nossos
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senhores. Não existe casamento sem conveniência, Maria. Valemos o dote que possuímos, ou seja, o dote que levamos como bagagem. Ouso dizer que a própria condessa foi uma dessas vítimas. 
– Agora sei que a senhorita já não está mais em seu juízo perfeito! A senhora Del Prat? Uma vítima? Nunca! 
– Maria, acha que ela também não foi obrigada por seu pai a casar com um homem viúvo, que ainda trazia de bagagem uma filha nos braços? Pense bem, não deve ter sido fácil para ela, ter que se casar só porque já estava com vinte e oito anos. Temos nossas diferenças, isso é certo. Mas não posso culpá-la por ser como é. Ela é mais uma vítima de nossa sociedade. Já pensou o que é ter que ver seus sonhos sufocados? E se ver aprisionada a uma vida infrutífera e sem volta? Não é a senhora mesma quem disse que, quando os sonhos morrem, morremos com eles? Por isso ela desconta toda a sua ira em mim. E ainda deve, por certo, sentir-se completamente frustrada por não poder ter tido filhos. Até agora, com quarenta e oito anos, isso deve ser horrível! Imagine só como a sociedade em que ela vive cobra dela o tempo inteiro. Todos nós temos problemas. Os delas são ainda piores que os meus. Acredite! 
– A senhorita está completamente certa. Mas isso não quer dizer que ela deva sair por aí, pisando nas pessoas menos favorecidas. 
– Concordo com a senhora! Mas não somos ninguém para julgá-la. Ela foi criada com tudo do bom e do melhor, nunca soube o que é sequer trocar a própria roupa. Ela foi mimada em demasia. Tornou-se prepotente, ou quer que a vejamos assim. Já a flagrei muitas vezes, depois de suas festas, fitando o horizonte, visando sabe-se lá Deus o quê! Ela, de fato, não ama meu pai, mas ainda prefere ficar com ele a voltar para sua casa na Alemanha. Imagine o que diriam de uma mulher,
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com o título de nobreza que ela possui, se alguém soubesse que ela saiu da casa de seu marido? Não a veriam com respeito. E o que ainda é pior, não se casaria novamente, principalmente por não poder dar futuros herdeiros. Tenho certeza de que a severidade do conde, seu pai, e ainda as cobranças da sociedade repressora são piores do que os apertos e a solidão que tem passado aqui. Ou a senhora acha que uma pessoa como ela não é solitária? 
– Por certo tem razão, minha querida e doce Anna, mas não consigo entender como consegue achar qualidades em pessoas como essa senhora. 
– Não é questão apenas de ver qualidades nela; é questão de entendê-la, como mulher e como ser humano. E ela só é maldosa porque é revoltada. Prefiro ver as pessoas por outro ângulo. Caso assim não fizesse, odiaria mais gente do que a quantidade de cabelos que tenho em minha cabeça. Não me importo com o que ela faz comigo. Vai ver ela está certa, nunca encontrarei um bom homem para mim. 
– Pois lhe digo que isso acontecerá em breve, e rezo para que Deus lhe perdoe pelo passo que terá que dar. Sinto não poder interferir em seu destino, minha filha. Pois, caso pudesse, garanto-lhe que ele seria muito mais ameno do que o previsto. E agora pare com suas ideias mirabolantes e inocentes a respeito do ser humano. Para mim, pessoas más escolhem ser como são. 
E saiu, olhando os dedos das mãos. 
– Por que, Maria? - gritei. Viu isso em suas cartas de tarô? 
Estiquei meu pescoço, tentando achar sua face. Quando ela se virou abruptamente para mim, notei profunda tristeza em seu olhar. 
– Por que nunca me responde a essa pergunta tão simples? - indaguei insistente.
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– Talvez porque esta resposta seja simples demais, e só possa ser respondida pela senhorita! Lembre-se: todas as respostas estão dentro da gente. Agora chega de conversa e siga- me, pois vamos acabar nos atrasando. 
Segui-a, em silêncio e cheia de controvérsias mentais. Se todas as respostas estavam dentro de nós, por que sempre errávamos em nossos julgamentos? 
Ao descermos a escadaria, Maria foi até a cozinha para dar as ordenanças finais à criadagem. Fiquei entre os dois últimos degraus, observando tudo à minha volta. A mobília, embora fosse muito cara e exuberante, era de extremo exagero e de um mau gosto imperdoável. Observei tudo a meu redor e fechei os olhos para me lembrar até dos mínimos detalhes. Estranhas a sensação de perda e a saudade antecipada que tomaram conta de mim naquele momento. Era como se eu não fosse mais ver aquilo tudo de novo. Senti medo e tristeza. 
Minha madrasta observava-me do alto da escada. Ela era como uma sombra constante em minha vida. Às vezes, tinha a impressão de tê-la em frente a mim enquanto dormia. Não resistindo, ela disse algo para me ofender. 
– Desse jeito voltará casada, com um plebeu. Aliás, é bem o seu tipo. Nunca se parecerá comigo, não conseguirá um bom partido e jamais terá um homem a seus pés. Acha mesmo que pode copiar-me? Criança tola! Não tente, não sou sua mãe, nunca quis ser. Não vê que sou a mulher do seu pai, e que ele já a esqueceu há muito tempo? O seu reinado acabou, minha querida - se é que um dia existiu! 
A condessa disse essas coisas enquanto descia a escada, cambaleando. Dessa vez, excedeu-se em sua soberba, arrogância e presunção. E a maneira com a qual falava a respeito de meu pai ferveu meu sangue. Mas Deus me deu forças para não perder a paciência. Levei em consideração que ela não estava sóbria
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naquele momento. Na verdade, senti pena dela. O cheiro da bebida era tão forte que me tonteou, devido à pouca distância que ela fez questão de manter para me assustar - o que conseguiu. Em seus olhos, percebi um ódio aterrorizante. 
Fiquei tão nervosa e indignada – e, ao mesmo tempo, assustada -, pois não sabia o porquê de ela realmente me odiar tanto. Eu sabia que eu poderia ter respondido à altura. Mas não o fiz. Desvencilhei-me dela o mais rápido possível, e saí porta afora, às pressas. Pude, ainda, ouvir seus gritos histéricos e rompantes pelo lado de fora. 
– Vê se arruma um plebeu, velho, gordo e fedido por lá e suma com ele para bem longe das minhas vistas. Assim, vai poupar-me o trabalho de ter que eu mesma despachá-la para o inferno! 
Ergui minha a cabeça e fui até o jardim, onde estava nosso jardineiro Joseph. Aproximei-me dele e abaixei-me para cumprimentá-lo melhor. Eu estava tremendo tanto que ele, parecendo ter percebido, mas também não querendo deixar transparecer para que eu não ficasse ainda mais constrangida, cortou um botão de rosas com um gesto de delicadeza, dando- me em seguida. Por fim, disse, ainda de cabeça baixa: 
– Uma rosa para uma linda flor! Sabe, senhorita, a patroa ladra mas não morde. No fundo, ela sente tanto medo da senhorita quanto a senhorita dela. 
Sorri em agradecimento e aproximei-me, inclinando-me e segurando sua cabeça com as mãos para lhe dar um beijo na testa. Na verdade, eu compreendia o que ele estava tentando me dizer. Imagine só: minha madrasta com medo de mim! Embora parecesse hilário, era a mais pura verdade. Só que, naquele momento, eu só conseguia ver o medo que eu sentia dela. 
Joseph era um velhinho simpático e muito agradável. Quando eu era criança, sempre me contava histórias e contos
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folclóricos sobre o povo cigano, e era fantástico ouvi-lo. Levantei-me para olhar ao redor e admirar o esplendor do magnífico jardim. Eram tantas flores! Rosas de todas as cores e tamanhos, margaridas, gerânios, florzinhas do campo, violetas, dálias, cravos, jasmins, orquídeas, papoulas, plantas ornamentais... Tudo aquilo tinha cheiro de amor e fazia-me muito bem. Toda aquela beleza misturava-se ao perfume da hortelã, da alfazema e do alecrim. 
A condessa tentou fazer com que meu pai acabasse com o jardim por várias vezes. Mas ele sempre ficou em cima do muro e nunca deu uma resposta positiva a ela. Aliás, seria novidade se ele fosse negativo a alguma coisa relacionada a ela. Para essa questão, ele apenas disse que iria pensar. Minha madrasta continuou insistindo com esse assunto por muito tempo. Mas, depois de nunca ouvir um sim conclusivo, acabou desistindo por certo tempo. 
Quando se casou, trouxe consigo toda uma decoração pavorosa, inclusive as estatuetas monstruosas e sem nexo que passaram a decorar o belo jardim da minha família. O pior é que ela as fixou no centro, próximo à janela do meu quarto. Lembro- me de quando eu era pequena: ao escurecer, sempre que olhava pela janela, tapava os olhos com as mãozinhas, pois me davam muito medo. Elas eram como pessoas decepadas e, na minha mente frutífera e infantil, mexiam-se e pareciam estar caminhado em minha direção. Eu corria para debaixo das cobertas, deixando de fora somente o pequenino nariz para respirar. Eu suava e tremia tanto que, quando Maria vinha dar- me boa noite, tinha que trocar minhas roupinhas molhadas. Ela sempre me acalentava com suas cantigas de ninar, na tentativa de me acalentar até que eu dormisse. 
O cavalariço Sr. Lorenzo aproximou-se de mim por trás, assustando-me.
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– Calma, senhorita Anna! Só vim saber se está tudo bem, pois ouvi quando a Senhora Del Prat estava a gritar com a senhorita exasperadamente. Ela fez algum mal à senhorita? 
– Não, Sr. Lorenzo, ela apenas ladrou um pouco além da conta. Foi só, juro! 
Ele pareceu não crer; então reforcei, olhando em seus olhos. 
– Sim. Está tudo bem. Deve ser a astenia causada pela ausência de meu pai, ou o excesso de licor de jenipapo. 
– Ah, por certo a Senhora deve estar precisando de uns calmantes em dosagem maior. 
– Oh, não diga isso! Não se pode misturar calmantes a licores. 
Começamos a dar gargalhadas. Lorenzo conseguiu descontrair-me, afinal. Maria veio em seguida e disse: 
– Imagine só, esses criados jovens não fazem nada direito! 
– Maria, Maria! Não estaria sendo a senhora exigente demais com os pobres coitados? Não está tentando tirar o lugar da senhora Del Prat, está? 
Maria fez-me um ar de desaprovação pelo meu comentário esdrúxulo. Lorenzo já havia colocado nossas bagagens na carruagem. Abriu-nos a porta para entrarmos. Seguimos, então, nosso caminho em direção ao enorme portão verde musgo, com pontas em formato de lança e pintadas em dourado. O enorme brasão da família Del Prat estava logo à frente. A passarela toda, de pedras grandes e polidas pelo passar dos anos, dava à entrada um ar de realeza. Pude ver a estufa onde Joseph cultivava as mudas; era logo na lateral do jardim. Quatro bancos foram colocados no decorrer do caminho, dois de cada lado.
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Um escravo veio abrir o portão. E, pela primeira vez, senti-me em liberdade, longe daqueles muros de medo e tristeza. Suspirei aliviada. Mas era estranho, pois a sensação de que nunca mais veria tudo aquilo novamente não me largava. 
Minha sombra olhava-nos às escondidas, por trás das cortinas da grande janela de vidro da sala de estar. Parecia uma ave de rapina. O que será que se passava naquela cabeça louca e cheia de luxúria? Sacudi minha cabeça, rindo comigo mesma. Maria pareceu ler os meus pensamentos - aliás, ela era a minha sombra mental e era constrangedor, às vezes, ter os pensamentos invadidos. Como que em um impulso, Maria disse: 
– Pare de criar caraminholas nessa cabecinha, menina! 
Dei de ombros, virando o rosto para o outro lado, mas percebi que ela também sorria. Maria era uma mulher muito perspicaz e, por isso, achei melhor centralizar meus pensamentos na paisagem ao meu redor. 
As ruazinhas eram estreitas e encantadoras, com suas belas e elegantes casas, todas decoradas com jardins repletos de flores, pois era a moda trazida da Europa. As árvores frondosas, que cercavam de um lado a outro as calçadas, pareciam ter sido colocadas ali naquele momento, só para passarmos numa passarela harmoniosa. 
Muitas pessoas afoitas já transitavam para lá e para cá. Senhoritas pareciam ocupadíssimas em desfilar seus modelitos muito comportados e elegantes, num flerte compulsivo para atrair a atenção dos cavaleiros, que desfilavam na outra calçada. Afinal, ficar solteira poderia se tornar uma coisa escandalosa e dispendiosa para os pais. Estes juntavam dinheiro durante toda a vida para que suas filhas não se casassem sem um dote adequado. 
Moçoilas em época de se casar só frequentam bailes em companhia de suas aias ou de seus pais. Jamais sozinhas, por
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medo dos mexericos. Sendo que a irmã mais velha é quem deveria se casar primeiro, e a irmã mais nova, caso houvesse uma, tinha que ficar cuidando da mãe. Se o namoro firmasse, deveria durar um ano na sala da moça, que tinha que estar acompanhada de seus pais e outras pessoas. Então, o próximo passo seria o noivado, que deveria durar apenas o tempo de o enxoval ficar pronto - isso queria dizer na semana seguinte, pois a maioria das mães fazia o enxoval das filhas assim que as meninas nasciam. Claro que as jovens enamoradas também tinham que bordar grande parte do enxoval, logo que estivessem em fase casadoura. As meninas já estavam prontas para o casamento a partir dos doze anos, caso fossem nobres, e a partir dos quatorze a dezoito anos, caso não tivessem título de nobreza. Isso significava que eu estava passando do tempo de arrumar um marido. 
Todos procuravam um bom partido para suas filhas. Não se importavam com os sentimentos delas. Na esperança de um futuro seguro, o amor era o de menor valor. Isso não era o que eu queria para mim. Sempre me esquivei de senhores mais velhos. 
Certa vez, em um jantar de que fui obrigada a participar em minha casa, meu pai apresentou-me a um fidalgo com o triplo de minha idade, sendo que eu tinha dezesseis anos nessa época. O velhote rodeou-me a noite toda e não consegui desvencilhar-me dele. O cheiro da bebida misturou-se ao cheiro da roupa velha, que devia ter estado guardada desde o século XV. Isso era nauseante! Suas mãos eram oferecidas demais. O único jeito foi dizer que estava me sentindo muito mal. Com certeza, era mais uma que a condessa havia aprontado para se livrar de mim, pois pude vê-la com seu olhar de deboche às escondidas. Mas, graças a Deus, a falsa dor de cabeça que forjei salvou-me mais uma vez. E, nesse dia, apertei os olhos ao passar
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na direção da condessa, constatando a minha vitória - o que causou uma torcida em seu leque de estimação. 
Voltei a observar a paisagem de Salamanca, enquanto Lorenzo contornava a praça central. Então, pude ver a linda fonte de águas no meio da praça. Depois de algumas horas, chegamos ao nosso primeiro destino. Paramos à frente de uma enorme mansão cor-de-rosa. Era a mansão e o ateliê de madame Hortência Vigald. 
Ela era uma senhora rechonchuda, de olhos grandes e amendoados. Seus seios eram fartos e salientavam-se por cima de suas vestes, repletas de rendas e outras mesuras. Para completar o visual exótico, ela ainda usava uma peruca loura cheia de cachinhos. Isso a fazia parecer uma boneca de trapo mal feita e assustadora de se ver à noite, sentada em uma cadeira no escuro. 
Ao ver-me, sempre me abraçava fortemente e melava-me com seus beijos babentos. Como era difícil ser uma jovem educada e de boa índole, meu Deus! Tinha vontade de sair correndo. Às vezes, tinha a impressão de que ela poderia me morder com aqueles dentes enormes e escurecidos pelo tempo. Mas também poderia correr o risco de ser engolida por aqueles lábios extremamente grandes e lambuzados de açúcar, pela quantidade diária de doces degustados. Ao chegarmos, ela estava de pé à soleira da porta, comendo uma brevidade. Ao ver- nos, correu em nossa direção, dizendo: 
– Oh, querida, como está linda! E cada vez mais parecida com Elizabeth! Veio ver alguns modelitos para si, meu bem? 
– Não - salvou-me Maria. Viemos buscar a encomenda da Senhora Del Prat. Estávamos partindo de viagem e, como não teremos tempo de buscá-la na volta, levaremos desde já a encomenda conosco.
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– Oh, entrem! Pedirei a Gülia que lhes busque a encomenda. Sentemos, por favor! Aceitam uma xícara de chá com biscoitos? Façam-me companhia, queridas, nunca recebo visitas para o chá! 
Até parece, pensei comigo. Todas as clientes que por ali aparecessem por certo seriam motivo para madame Hortência tomar chá com biscoito - o que explicava sua forma rechonchuda. 
– Não, senhora! Estamos com muita pressa e, além do mais, já fizemos nosso desjejum matinal. 
– Oh, ficarei um tanto ofendida! Sabe como gosto da menina, embora quase não a tenha visto ultimamente. 
Por fim, aceitamos uma xícara chá para que ela não tivesse uma síncope. 
– Então, querida, como está seu pai? Já retornou de viagem? 
– Não, ainda não. E já fez um mês hoje. Confesso que estou bastante preocupada com a ausência de notícias por parte dele. Isso anda me tirando o sono. 
– Não diga! Mas com certeza não aconteceu nada de grave com Sir Juan. Nisso eu aposto! Sabes como são os homens... Fique despreocupada, querida! Noticia ruim corre rápido. Ele é mesmo um homem lindo! - suspirou ela. Um verdadeiro colírio para os meus olhinhos cansados! Se não fosse casado... e se eu tivesse um pouquinho menos de idade, candidatar-me-ia como sua madrasta! Uma madrasta boazinha, é claro! - fez esse comentário sorvendo, em seguida, um gole de chá. 
Por certo, ela teria que ter muito menos idade mesmo. Ela usava termos antigos, como se ainda estivesse no século XV, e forçava um falso francês. Na verdade, seus vestidos eram cópias exatas de luxo da moda francesa. Suas costureiras, sim,
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eram as verdadeiras artistas, pois madame Hortência nunca sequer colocou suas mãos em uma agulha para coser. 
Eu e Maria nos entreolhamos, contendo uma sonora gargalhada. 
– Ah, mas aposto que existe algum jovem mancebo para consolar essa ausência! 
Olhei novamente para Maria, em busca de socorro. E suspirei quando pude ver que Gülia entrava, trazendo um enorme pacote nas mãos, que foi direto para as mãos do lacaio. Este o entregou para Lorenzo, que nos aguardava pacientemente do lado de fora. Todo aquele movimento foi um alívio, pois me salvou de ter que responder às tolas interrogações de madame Hortência. Embora eu não tivesse uma vida social ativa, Madame Hortência fazia-me parecer que eu levava uma vida agitada e pública, pois eu sempre tinha a obrigação de ter algo para contar a ela. 
Maria, percebendo meu constrangimento, apressou-a, dizendo que realmente precisávamos ir. Ufa, graças a Deus!, pensei comigo. 
– Porque não escolhe um dos modelitos? – insistiu, ainda, na saída. 
– Tenho tantos que acabaria tendo que dividir meu pouco espaço com eles! 
– Entendo... Mas realmente sei que não precisa do brilho das lantejoulas e paetês para ser feliz. Tem o seu próprio brilho, e isso é nato. 
Disse isso num tom engraçado e baixo. Rimos todas ao mesmo tempo, pois nos lembramos de que, certa vez, a senhora Del Prat encomendou um vestido tão espalhafatoso e reluzente que mal dava para ver suas caríssimas joias penduradas ao pescoço. Foi uma noite difícil aquela, pois minha madrasta chamou mais atenção do que a noiva ou a própria rainha.
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A noiva era uma pupila de muita estima de Sua Majestade. Por isso, esta fez questão de estar presente entre os convivas. A condessa só foi convidada por causa de seu titulo de nobreza, mas tinha que aparecer a todo custo. A rainha, ao vê-la, disfarçava e educadamente esquivava-se a cada proximidade da Deusa do sol. Naquele dia, minha madrasta superou-se em seus exageros. Doía a vista de todos ao olhar para aquela figura brilhante. Meu pai e eu ficamos em um canto distante dela, é claro. Percebi seu constrangimento mediante tantos sussurros zombeteiros. 
Já dentro da carruagem, não sabíamos se ríamos das lembranças reluzentes da condessa ou se nos deliciávamos dos fuxicos de Madame Hortência. 
O dia estava lindo e o sol resolveu dar o ar de sua graça naquela fria manhã de outono. Ao pegarmos a estrada, contemplávamos a paisagem magnífica. Eu estava encantada com tantas novidades que vinham surgindo à beira do caminho. Conversamos muito sobre coisas banais do dia-a-dia. Não tocamos em assuntos que não nos eram convenientes ao espírito. 
Durante todo o trajeto, cantarolamos canções ciganas e ríamos por qualquer coisa. Maria fez de tudo para que eu me desligasse dos problemas corriqueiros e domésticos. Depois de uma rápida parada para nos refrescar à beira de uma velha mina d’água, comemos o delicioso lanche que Maria havia trazido em uma cesta. E seguimos a nossa longa jornada pela empoeirada estrada do norte da Espanha. Afinal, pela altura do sol, já devia ser meio dia. Dentro da carruagem, adormeci profundamente, encostada aos ombros de Maria. Só despertei quando a carruagem passou por uma pedra saliente. Maria bateu no teto e gritou para que o cocheiro tomasse mais cuidado. Depois daquele susto, perguntei se já havíamos chegado.
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– Quase! - respondeu-me Maria - Continue a dormir! – prosseguiu, com um tom na voz que mais parecia um bocejo. 
Não conseguia dormir mais e comecei a olhar as folhas das árvores caídas ao chão, formando uma espécie de tapete celestial. Casinhas de colonos ao longe, muitos gados a pastar. O cheiro do mato e o silêncio ensurdecedor fizeram-me adormecer novamente. Uma voz ao longe parecia chamar-me Anna, Anna! Sinto sua falta... Encontre-me, por favor! 
Meus olhos foram ficando cada vez mais pesados e, por fim, caí no abismo dos sonhos. Sonhei que estava em um mosteiro, todo feito em pedras calcárias de cor escura. O lugar mais parecia uma ruína. Havia um enorme jardim, totalmente abandonado, onde só os girassóis sobreviviam. Muitos monges trabalhavam nas plantações, tentando salvar o pouco que lhes restava da seca, que era eminente. Outros cuidavam dos animais magros e doentes. Alguns, ainda, varriam incessantemente o patíbulo, cuja terra havia invadido todo o mosteiro. Aquilo me pareceu mais um ato de loucura coletiva. Ao longe, ouvi um coro com música gregoriana - misturada às orações, pareciam lamentos e suplícios. 
No patíbulo do mosteiro, logo na entrada, havia um monge, que me olhava de um jeito hostil, quase humilhante. Parecia ser uma espécie de abade. Ele era sério, atarracado, baixo e corcunda. Sua pele era avermelhada, manchada e descamada por causa do mau tempo. O que o diferenciava dos demais monges era apenas uma enorme cruz na frente de suas vestes, encardidas e rasgadas. Algumas freiras circulavam de um lado para o outro, como que hipnotizadas. Vi-me descer de uma carruagem, e seguraram meus finos braços, empurrando-me aos safanões para dentro do mosteiro. Tentei fugir, mas as mãos que me seguravam eram fortes e severas. Eu olhava para trás, tentando pedir socorro à Maria. Ela nada parecia poder fazer. As
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lágrimas desciam incessantes dos olhos de minha amada amiga, que ficava cada vez mais para trás. 
Tentei fugir inutilmente. Gritei por socorro e deixei o pranto rolar. Chamei por Maria, até que a vi cair por terra, como que sem forças. Meu corpo tremia. O desespero tomou conta de mim, por saber que estava ficando longe de meus familiares. Tentei agarrar-me onde dava. Todos ao redor olhavam-me e viravam seus rostos, numa repulsa sem explicação. 
Uma jovem freira ainda tentou desgrudar-me daqueles braços e mãos, mas outras a puxaram e só ouvi dizerem-me para ter fé. Outra freira, bem mais velha, veio receber-nos à porta do convento. Era uma senhora carrancuda e com ares de perversidade. Provavelmente, a madre superiora. 
Sua expressão de algoz conseguiu gelar minha alma. Mandou-me calar a boca aos berros, advertindo-me que ali não era lugar para toda aquela histeria. Por fim, levaram-me para dentro, forçosamente. Virei para trás, dando uma última olhada para meu pai, que ficou na entrada, conversando com a suposta madre. 
Deixaram-me só, em um corredor onde havia um enorme banco, uma mesa, uma cadeira e um armário antigo, onde pareciam guardar arquivos e documentos. A sala era escura e não tinha sequer um vaso de plantas. 
De repente, ouvi um barulho e a porta se abriu. Estremeci como vara de bambu ao vento. Mas, ao contrário de quem pensei que fosse, entrou um monge de hábito marrom e cabeça baixa e encapuzada. Aproximou-se de mim lentamente, ajoelhou-se e fitou-me os olhos. Seus olhos eram cor de mel, sua pele, muito branca, e seu rosto angelical escondia-se por trás de uma fina e rala barba ruiva. 
Aqueles olhos meigos passaram-me segurança e calor. Abaixou o capuz, esticando para mim suas brancas mãos. Seus
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dedos eram logos e finos; sua pele tinha uma maciez que arrepiou todo o meu corpo. Sua proximidade era tamanha que pude ver as pequenas sardas por baixo dos pelos ruivos de seus braços. Embora a barba estivesse por fazer, ela lhe dava um ar de intelecto. Seus traços eram finos e ele mais parecia um Lorde. 
E, por certo, era de origem inglesa ou holandesa. Fiquei gelada e catatônica, e cheguei a pensar ser um dos loucos que havia visto ao chegar. Mas ele me passou tanta paz e tranquilidade ao pegar novamente em minhas mãos, trêmulas e geladas, que novamente acalmei. Então, disse simplesmente: 
– Estou à sua espera há tanto tempo, Anna. Perdoe-me por tê-la deixado! Nunca mais nos separaremos, prometo! 
De repente, num piscar de olhos, estávamos sem mais nem menos em um despenhadeiro, onde se via todo o mar da Espanha, lindo e de um azul inigualável! A areia, muito branca, completava aquela paisagem. O vento soprava forte, como se estivesse me dizendo algo que eu não consegui decifrar naquele momento. Podia sentir o cheiro da maresia nas minhas narinas. Fiquei muito agoniada com aquela sensação. Meus cabelos estavam soltos e voavam com as minhas vestes, toda em algodão fino e transparente. Ele segurou minhas mãos, e comecei a me sentir segura e feliz novamente, como nunca havia sentido antes em toda a minha vida. 
O vento era forte demais e frio. A estranha sensação voltou. Comecei a tentar desesperadamente soltar minhas mãos das dele. O cheiro da maresia foi se transformando em cheiro de medo. Por fim, o monge soltou minhas mãos e senti seus dedos desprendendo-se dos meus. Caminhou em direção ao despenhadeiro. 
Meu coração disparava ao ver a agonia em seus olhos. O brilho daquele olhar feliz transformou-se em súplicas. O musgo
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viçoso daquele olhar agora era nada mais do que escuridão. De repente, a escuridão tomou conta de tudo ao meu redor e vozes tenebrosas cercaram-me. Ele me deu um sorriso triste, com os lábios fechados. Virou-se de costas, caindo no despenhadeiro, gritando o meu nome num apelo desesperado. 
Seu corpo caiu nos rochedos e o mar revolto ficou batendo nele, já sem vida. Gritei como louca e percebi que eu não estava mais ali, que era só mais um sonho. 
Vozes chamavam-me, misturando-se ao barulho das ondas. Tudo começou a virar fumaça e acordei suada e chorando muito, com Maria ao meu lado, chamando-me: 
– O que houve, filha? - perguntou Maria, passando as mãos no meu rosto, tentando enxugar as lágrimas que ainda desciam como fonte de tristeza. Entre soluços, disse-lhe: 
– Sonhei com o monge novamente, Maria, aquele dos meus sonhos de criança! Já fazia tanto tempo que não sonhava mais com ele! O engraçado é que sempre sei que estou sonhando, sei que a qualquer momento irei acordar. Às vezes chego a ouvir meus suspiros dormindo, e até vejo meu corpo em seu estado de repouso. Por que isso está acontecendo comigo de novo, Maria? Ele se matou? Pois o vi caindo no mar! Não consigo entender o que realmente houve com ele. Tentei salvá- lo, mas já era tarde demais, juro! Ele se foi muito rápido. Quem é ele, Maria? Por que esses sonhos incessantes? 
Maria aproximou minha cabeça do peito, na tentativa de me acalentar, pois eu já não conseguia falar. Apenas soluçava. 
– Calma, querida, vamos resolver tudo isso hoje. Minha irmã Helena saberá ajudá-la. Não existe pessoa melhor neste mundo que entenda mais sobre este assunto do que ela. 
Olhei-a, espantada. 
– Pensei que fosse a senhora a entender desses assuntos?
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– Não. Abandonei o meu povo e agora não faço nada mais além de por cartas e fazer meus chás. Agora enxugue essas lágrimas. Chegamos ao nosso destino. Devemos nos preparar para descer com discrição. Afinal, não queremos que ninguém veja seus olhos inchados. Ou vai querer que pensem coisas de uma mocinha tão fina? 
Embora soubesse que Maria só estava ironizando, não me incomodava nem um pouco com o que os outros pensariam de mim. Só queria uma explicação plausível para tudo o que estava acontecendo comigo. Queria que aqueles sonhos parassem logo e que eu pudesse dormir tranquilamente alguma vez na vida. 
Eram seis horas da tarde quando paramos em frente a uma casa grande, toda feita de pedras escuras, com portinholas duplas e largas de madeira, pintadas com tinta azul envelhecida e desgastadas pelo tempo. Abriam-se de cima para baixo. Suas janelas eram estreitas e muito altas, dando a impressão de ser uma igreja. Alguns cipós teimavam em subir por toda a parede do lado de fora, dando a ela um ar de casa medieval. Observei várias mulheres colocando suas roupas - muito alvas - nos grandes varais que estavam na lateral. Outras trabalhavam em fiares e, ainda, teciam tapeçarias. Crianças corriam e gritavam como loucas, brincando umas com as outras, sujando-se de terra e de barro, sem ninguém para lhes privar a liberdade. 
Todos estavam tão ocupados em seus afazeres que não deram a menor importância para a nossa chegada. Avistei um celeiro a uns cem metros, onde deveriam guardar seus cavalos e outros animais de grande porte. 
Um pouco mais ao longe, via-se um moinho d’água - com sua enorme pá girando sem parar – e, do outro lado, havia uma mata fechada, que parecia guardar todos os segredos daquele povo misterioso.
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Animais domésticos circulavam por toda parte. Árvores frondosas e gigantescas cercavam toda a casa. A mata, constituída por cedros, pinheiros, oliveiras e árvores frutíferas, formava uma cerca viva. Por isso, não dava para vê-la ao longe ou mesmo da parte mais próxima da estrada. A própria floresta era o muro que guardava toda aquela beleza e simplicidade. 
Senti no ar uma grande manifestação de bondade e respeito em todos à minha volta, embora não tivessem manifestado seu interesse por nós. A energia era tão viva que quase podíamos tocá-la. 
As flores do campo cercavam toda a casa. Um beiral de pedras, feito pelos moradores da floresta, cercava um canteiro com ervas para chá, muito bem cuidado. O lugar era mesmo mágico, pois uma enorme paz tomou conta de mim assim que pisei lá. A terra era fértil e viam-se seus frutos. E muitos gatos circulavam por todo o lugar. Fomos recebidas por uma senhora grisalha e uma jovem muito bonita, aparentando ter a mesma idade que eu. A senhora era a irmã de Maria, e a moçoila era sua sobrinha. Vieram correndo, pois fazia muito tempo que não se viam. Abraçaram-se com um calor fraternal. 
– Seja muito bem vinda à nossa humilde floresta!- disse Dona Helena, olhando em minha direção. 
A mocinha apresentou-se, esticando a mão e dizendo: 
– Meu nome é Bernadete e aquela, como já sabe, é Helena, minha tia. Sou filha de Dolores e Guiñllo, mas tia Helena me criou, pois ambos faleceram em um trágico acidente. Não falemos sobre coisas ruins! Venha, entre! Não fique aí em pé, parada. Entre, conheça a casa e minhas outras irmãs. - disse Bernadete, percebendo que eu havia ficado para trás. 
Ao entrar, apresentou-me à outra senhora com olhar gentil, que estava sovando a massa para os pães na cozinha. Em
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seguida, apresentou-me às suas outras duas irmãs: Loylla, a mais jovem, e Emanuelle, a mais velha. 
– Fique calma! Estou achando-a um tanto tensa. Deixe que meu noivo Magald cuide de suas malas. Aqui ninguém mexe em nada. 
– Imagine, não pensei nisso! É que estou tendo problemas para dormir. E estou com um pouco de dor de cabeça. 
– Então venha se refrescar e tomar um chá de camomila com hortelã. 
Bernadete levou-me para seu quarto, onde me refresquei e também troquei de roupas. Coloquei um vestido simples, de algodão azul, que ela me emprestou, pois meus vestidos não eram adequados para o campo. Trocamos presentes. Dei-lhe uma caixinha de música de cristal e bronze, onde um casal de bailarinos dançava ao som de uma valsa vienense. 
– Era de minha mãe - disse a ela, estendendo as mãos. 
– É lindíssima! Mas não sei se posso aceitá-la. 
– Ficarei muito ofendida se não aceitar. Tenho certeza de que ficará perfeita na mesinha de cabeceira do seu novo quarto! E ela tem um segredo, veja. - mostrei-lhe uma abertura falsa no fundo. Poderá guardar suas economias aqui dentro sem que seu marido perceba. 
Ela corou e disse: 
– Se é assim... Abraçou-me e depois seguiu em direção ao criado mudo, de onde tirou um livro, cujas páginas eram de papiro e a capa era de couro, todo trabalhado à mão, com desenhos em relevo. Disse que tinha sido seu avô que lhe havia dado. Foi uma troca que ele fizera com um cigano amigo dele. Ela ainda disse que suas páginas eram mágicas, e como não levava o menor jeito para escrever, gostaria que eu ficasse com ele.
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– Na verdade, meu avô contava essas histórias para eu adormecer. O que eu quero é me casar com Magald o quanto antes, ter muitos filhos, e ser feliz enquanto vivermos. 
Sabia que Bernadete e seu noivo estavam passando por muitas dificuldades, pois Maria comentou comigo enquanto vínhamos pela estrada. Então, tentei ajudá-los, dando- lhes minhas economias. O obséquio não era muito, mas sei que daria para ajudar na festa de casamento. Bernadete agradeceu- me tanto que me deixou encabulada. Sua vida não era nada fácil, mas, mesmo assim, não poupara esforços para me agradar. Emanuelle, a irmã mais velha de Bernadete, veio nos chamar para o jantar. Apressamo-nos em ir ao encontro de Maria e Helena. A mesa era toda de madeira bruta, e dois enormes bancos a cercavam. Muitas guloseimas nos esperavam. Durante o jantar, Dona Helena olhava demais para mim. Por fim, falou: 
– Fiquei sabendo do problema que a senhorita tem passado. 
Olhei para Maria com desaprovação, mas ela continuou. 
– Não culpe Maria, ela fez o que era certo. Tem um dom lindo, menina! 
– Tenho o quê? - olhei para Maria, tentando receber uma resposta plausível. 
– Maria me contou de seus sonhos sequenciais e sobre tudo o que tem passado com sua madrasta. Mas também me falou de sua benevolência e humanidade para com seu próximo. Iremos ajudá-la, sei bem o que deve estar passando. 
Bernadete deu-me um cutucão com o pé por debaixo da mesa e sorriu, abaixando a cabeça em sinal à nossa cumplicidade no seu quarto. 
– E o que devo fazer? Quem é esse homem com quem tenho sonhado tão frequentemente?
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– Calma, menina! Uma pergunta por vez. Primeiro, tem que aflorar e doutrinar seu dom, Depois, precisa fazer a viagem. 
– Fazer o quê? Teremos que viajar novamente, Maria? 
As duas entreolharam-se e riram de mim. Senti-me uma tola e resolvi apenas esperar os resultados e as respostas. Por fim, Helena falou: 
– Não, criança. A viagem não é como pensa! Nem mesmo sabemos se irá conseguir. Primeiro, farei uma pergunta muito simples. Tem certeza de que quer conhecer esse homem? É isso o que realmente quer? Pois não terá volta. E pode não voltar bem da viagem... O que é ainda pior: pode não querer retornar ao seu corpo físico; ficará desacordada e correrá risco de vida. 
– Sim. É o que mais quero na vida. Não tenho dúvida se isso for me dar as respostas de que preciso. 
As duas entreolharam-se por instantes, concordando entre si. 
– Ótimo, então não temos muito tempo a perder, por causa da curta estadia da senhorita aqui. Amanhã bem cedo começaremos com os preparativos - disse Dona Helena. 
– Como assim? A senhora o conhece? Ele mora por aqui? Quem é ele? Por favor, eu suplico, digam-me quem ele é! - foi inevitável, embora eu tivesse prometido a mim mesma calar a boca! 
– Acalme-se, senhorita Anna! Uma pergunta por vez. Precisa saber que, embora não tenha a mínima ideia do que está acontecendo, essas repostas só poderão ser dadas pelo seu coração. Com certeza estão todas aí dentro. Todas as dúvidas, todas as ansiedades, só a senhorita tem a resposta. E, com paciência, na hora certa saberá responder, podendo até nos esclarecer também. Por certo, ele deve ter sido alguém muito importante para a senhorita. Tem alguma coisa que ainda está
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pendente; esse espírito ainda continua interligado à senhorita. Pode ser que ele esteja encarnado ou não. 
– Então isso significa que ele está morto? 
– Não, de forma alguma. Estou tentando lhe dizer que essa pessoa fez parte do seu passado, de outra vida. Mas também pode estar encarnado nesta vida. Resta saber se a senhorita terá estrutura para encontrá-lo. Ele pode ter vindo de diversas formas, pode muito bem ser um parente muito próximo. Quando falamos em espíritos, necessariamente ele não precisa estar desencarnado. A senhorita também é um espírito. Porém, está encarnada. Sei que é muito difícil, no início, tentar aprender sobre as coisas que lhe foram ocultadas a vida toda. Principalmente tendo a senhorita vindo de uma família tão tradicional e rígida quanto a esses assuntos. Mas acredite: mesmo para nós, que nascemos e seguimos a tradição a fio, ficamos confusas no início. É muita informação e, no seu caso, muito pouco tempo também. Tenha calma, é só o que pediremos. Confie em nós e nas forças da natureza. Tentaremos fazer o que for melhor para ajudá-la. Largue a ansiedade de lado, pois ela é sua inimiga. Apague essas interrogações da sua cabeça. Aprenda a rezar - não as rezas tradicionais, mas as que o seu coração lhe ensina. Confie em si e em Deus que tudo lhe será respondido ao seu devido tempo. 
Fiquei calada o restante do jantar, observando-as conversar por entre lábios. Não estava com medo, mas muito curiosa. 
Eu e Bernadete sentamos perto da lareira, na sala, pois a noite estava fria. Maria e Helena passaram o resto da noite cochichando. Não consegui ouvir uma só palavra do que Bernadete estava me falando, pois fiquei o tempo todo de orelhas em pé, tentando ouvir o que as duas irmãs estavam falando, e se era sobre mim.
Adriana Matheus 
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Às oito e meia, eu e Bernadete fomos nos deitar, pois, por algum motivo, tínhamos que acordar cedo. No quarto, conversamos muito. Contou-me como conheceu Magald. Era adorável ouvi-la, pois fazia o amor parecer uma coisa muito simples. 
– Quando eu encontrar alguém, desejo que esse amor seja para sempre, por toda a eternidade. 
Ela disse, exasperada: 
– Não diga isso nunca! - foi como se eu tivesse dito algo muito abominável. 
– Por quê? – perguntei, curiosa. 
– Porque o amor é livre. Não podemos prender um espírito encarnado ou desencarnado. Esse tipo de jura ou atitude inconsequente e egoísta pode perseguir o espírito por toda a sua vida, e até por várias outras encarnações. Anna, o espírito jurado pode passar a vida procurando um amor e nunca encontrá-lo. E o que fez a jura pode nunca mais conseguir ter sossego. Até que, por si, comece a aceitar a ajuda dos irmãos desencarnados espíritos de luz. Mas isso pode levar muito tempo, Anna, até séculos! Quando meu espírito desencarnar, quero que Magald seja muito feliz, que encontre uma boa mulher que o ajude em sua jornada terrena. O amor é liberdade, Anna... o amor é liberdade! Se conseguir fazer a viagem, voltará com novos pensamentos. Agora durma, pois teremos um dia bem agitado amanhã. 
– Então, pretende esquecer Magald? 
Virou-se brava para mim. 
– Nunca nos esqueceremos, pois nos encontraremos em outras encarnações, e nossas lembranças sempre nos acompanharão, pois temos a obrigação de nos lembrar de nosso passado. Só que, na maioria das vezes, somos tão egoístas e estamos tão preocupados com nossas vidas terrenas
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que não ouvimos os irmãos desencarnados nos falarem e nos darem bons conselhos. Caímos, então, nas garras dos afins e, antes que me pergunte quem são os afins, eles são espíritos sem luz. Podemos ser orientados por espírito bons ou maus - depende muito da nossa sintonia espiritual. É a lei do universo. Viemos a esta vida para aprender e praticar o bem comum. Não é fácil, mas cada um deve aprender ou, pelo menos, tentar fazê- lo. 
– Como podemos ajudar? 
– Dando bons conselhos, livrando uma pessoa de se prejudicar. Não é importante a quantidade de vezes que praticamos o bem, mas a qualidade com que praticamos. Ou seja, devemos sempre saber a forma como nos dirigir à pessoa em questão, para não ofendermos ou invadirmos o espaço físico e mental dessa pessoa. É muito importante deixar as pessoas à vontade e, principalmente, não devemos convencê-las de tomar o caminho que muitas vezes só é melhor para nós – mas, sim, elas devem seguir o caminho que lhes for indicado por Deus. Essa é a diferença entra uma bruxa e uma feiticeira. Nós estudamos o universo e aprendemos a usar sua força em prol da humanidade, enquanto as feiticeiras usam essas mesmas forças de maneira mercenária e leviana para prejudicar inocentes. Vivemos em um mundo muito atrasado e cruel, mas estamos aqui como aprendizes temporários. Devemos aproveitar nossa estadia para crescermos espiritualmente. Lógico que tudo isso deve ser feito com ponderação e muito cuidado para não interferir no destino de outra pessoa. Pois, caso contrário, podemos virar de cabeça para baixo a vida de um consulente inocente. Tudo isso é muito bonito, mas muito perigoso. Pense nisso! O poder está em nossas mãos, e cabe a nós sabermos como usá-lo. E existe outra coisa muito importante que a senhorita precisa saber antes de fazer a viagem.
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O SEGREDO DOS GIRASSÓIS - O DIÁRIO DE ANNA GOLDIN

  • 1.
  • 2. O SEGREDO DOS GIRASSÓIS O diário de Anna Goldin - 2 - O SEGREDO DOS GIRASSÓIS O Diário de Anna Goldin
  • 3. Adriana Matheus - 3 - Adriana Matheus São Paulo 2014 O SEGREDO DOS GIRASSÓIS O Diário de Anna Goldin
  • 4. O SEGREDO DOS GIRASSÓIS O diário de Anna Goldin - 4 - A Editora Ixtlan Apresenta... Adriana Matheus O SEGREDO DOS GIRASSÓIS O diário de Anna Goldin
  • 5. Adriana Matheus - 5 - O Segredo dos Girassóis O diário de Anna Goldin Adriana Matheus “O amor é infinito e solene e quando é verdadeiro atravessa as barreiras do impossível, para que sempre possamos estar juntos.”
  • 6. O SEGREDO DOS GIRASSÓIS O diário de Anna Goldin - 6 - Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, de qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico, mecânico, inclusive através de processos xerográficos, sem permissão expressa da autora. (Lei nº 5.988 14/12/73). Adriana Matheus amatheus07@hotmail.com 2ª Edição 2014 CIP. Brasil. Catalogação na Publicação. M427s - Matheus, Adriana, 1970. O Segredo dos Girassóis/Adriana Matheus - Juiz de Fora - MG. 410 p. : il. ISBN: 978-85-78-78-028-9 Ficção brasileira. 2. Romance espírita I.Título. Copyright © Adriana Matheus Projeto gráfico: Editora Ixtlan Diagramação: Márcia Todeschini Edição de Capa: Adriana Matheus Revisão ortográfica: Texto Legal - http://textolegal.weebly.com
  • 7. Adriana Matheus - 7 - Agradecimentos Especiais Ao senhor Wanderley Luiz de Oliveira, presidente da Associação de Cultura Luso-Brasileira/ JF - MG, por todo o incentivo dado a esta obra. Ao Senhor Roberto Dilly, diretor do Museu do Crédito Real/JF - MG, que tão generosamente cedeu o salão para o lançamento desta obra. À Drª. Maria Auxiliadora Assis, que é uma das maiores colaboradoras desta obra e, também, patrocinadora. Às amigas Átria Maria Alves e Dulcinéia de Assis Teixeira, cujo apoio e participação foram indispensáveis para que esta obra fosse publicada. A Stéphanie Lyanie e à equipe da Texto Legal. Sem essa equipe fantástica e incrível, esta obra não estaria tão lindamente corrigida. Ofereço esta obra à Academia de Letras da Manchester Mineira/Juiz de Fora - MG, por tanto homenagear os pequenos e grandes autores de nossa cidade – valorizando, assim, a nossa cultura literária. Adriana Matheus À autora
  • 8. O SEGREDO DOS GIRASSÓIS O diário de Anna Goldin - 8 - NOTA DA AUTORA Nesta incrível história de ficção, a autora convida o leitor a viajar através do tempo astral em uma fantástica aventura, cheia de suspense, bom humor e sedução. Sua principal personagem, Anna Goldin, vai mostrar ao leitor que, mesmo no meio dos horrores da Inquisição, ela ainda conseguiu sonhar e ser determinada em seus ideais de liberdade e igualdade, conseguindo manter, também, a dignidade, e honrando o valor de uma verdadeira amizade. Mas o que poderiam ter em comum três pessoas tão diferentes? Uma bruxa, um monge e um jovem conde, unidos pelo destino nessa fantástica trama de ódio, amor e intrigas. É isso que o leitor terá que desvendar. E, por isso, Anna Goldin está convidando-os a participar desta incrível história! Sejam bem- vindos! Como percebi que teria que escrever esta obra? Na verdade, depois de um acidente, sonhei com toda essa incrível história durante uma semana, consecutivamente. Cheguei a comentar com algumas pessoas, que me disseram não passar de meros sonhos. Confesso que procurei respostas em muitos lugares. Mas esqueci de um lugar muito simples e particular: dentro de mim. Pois é lá que está a resposta para todas as perguntas frequentes em nossas vidas. Muitas vezes, somos teimosos e medrosos demais para ouvir aquela voz que está sempre nos mostrando o caminho. Temos medo do que parece ser imaginário ou sobrenatural, mas não temos medo de correr o risco de conhecer um desconhecido real da internet. Os espíritos não podem nos fazer mal algum. Influenciam-nos somente se abrirmos caminho para isso. O poder está todo em
  • 9. Adriana Matheus - 9 - nossa mente, na nossa caixinha de segredos, no nosso computador portátil e inigualável - o cérebro. Como descobri que era médium? Na verdade, como todas as pessoas, sempre fui. Só não aceitava aquela voz dentro de mim. Como tomei conhecimento da existência do Padre Ângelo Wallejo Moralles? Oito meses depois do acidente e já bem melhor, um belo dia eu estava sentada na frente da creche onde costumava deixar meus filhos. O mais novo deles estava em adaptação. Por esse motivo, tinha que ficar até mais tarde presente neste local. Sentei-me em um banquinho, do lado de fora. Como não havia nada para fazer, peguei um bloco de notas e um lápis que sempre trazia comigo. Comecei a rabiscar para ver se conseguia desenhar o rosto que frequentemente aparecia-me em sonhos. Mas, para minha surpresa, comecei a perder os sentidos, como uma tonteira irregular. De repente, minha mão começou a escrever sozinha. A princípio, tremi - confesso. Mas, depois, fui dando asas àquele fenômeno. Quando parei para ler, eram quase duas páginas de mensagens. Detalhe importante: aquela letra não era minha. Fiquei tão fascinada com aquilo que comentei erroneamente com várias pessoas, que saíram achando-me uma doidivanas. Hoje, muitas destas pessoas já receberam mensagens de seus entes falecidos, psicografadas por mim. Graças a Deus, aprendi a lidar com meu dom com a sabedoria do silêncio. Ganhei credibilidade e respeito. Descobri minha missão. Sempre que tenho tempo, dedico à caridade espiritual. Mas ainda sou aprendiz. Quem foi e quem é Anna Shaara para mim? Anna foi uma grande mulher que não se rendeu às normas e às vontades dos homens. Na verdade, Anna Shaara sou eu, é você que está lendo esta obra por mera curiosidade. A
  • 10. O SEGREDO DOS GIRASSÓIS O diário de Anna Goldin - 10 - Anna são todas as mulheres que lutaram, que lutam e sempre lutarão por um sonho de igualdade; mas - acima de tudo - que têm um dom e o usam para o bem. Ela é aquela mulher que faz de tudo para ver seu homem, seu amor feliz. É a mulher sábia que, ao invés de brigar, cala-se e espera o momento certo de falar e agir. A Anna é a voz dentro de cada uma de nós. Ela é o momento, a oportunidade que temos de nos redimir dos erros e das falhas do passado. Quando Anna Shaara voltou em minha vida? Foi através de uma viagem astral (também chamada de auto-hipnose), onde mostrou toda a sua sabedoria. Tive certeza de que estava na hora de contar ao mundo minhas experiências com os espíritos. Espero que esta obra seja de grande valia para todos vocês que, mesmo por curiosidade, começaram a lê- la. Mais uma vez, deixo minha eterna gratidão. “Se o homem trabalha em prol da caridade, ele deve tentar entender a verdade, mesmo que a mesma não seja mostrada pelos olhos do aparelho. Se ele trabalha em prol de si mesmo, continuará confuso e no escuro constante de seus pensamentos atordoados. Felizes aqueles cuja compreensão de reconhecer os seus próprios erros torna-os sábios. E essa virtude faz com que eles ajudem o seu próximo em caridade e abstinência, sem interrogações ou especulações. Pois o maior dom divino está em ouvir e servir com humildade e perseverança”.
  • 11. Adriana Matheus - 11 - SUMÁRIO Capitulo I - O diário de Anna.....................................16 Capitulo II - A iniciação..............................................77 Capitulo III - O Livro das sombras...........................166 Capitulo IV - O Segredo de Elizabeth.......................219 Capitulo V - A Despedida..........................................334 CapituloVI - O Mosteiro............................................454 Capitulo VII - O Segredo dos Girassóis.....................519
  • 12. O SEGREDO DOS GIRASSÓIS O diário de Anna Goldin - 12 - Prólogo Estou com vinte e seis anos e vejo que minha vida acabou-se. Vivi nesta curta jornada terrena tudo o que uma pessoa com seus sessenta anos viveria ao longo de sua existência. Mas é claro que, em questão de sofrimentos, fui uma expert. Envelheci muito em três anos aqui, enclausurada neste calabouço frio e escuro, onde fico relembrando os fatos e as situações vividas desde a minha mais tenra infância. Outro dia, pude ver meu reflexo em uma poça d’água que se acumulou no chão, causada pelas diversas goteiras que caem do teto. Quase não me reconheci. A maioria dos meus dentes caiu. Estou tão maltrapilha e suja! Eles quase conseguiram sujar, também, minha alma. Mas consegui separá-la do meu corpo, para que não fosse maculada pela perversidade humana. Sinto tanto frio; estou tão cansada e enfraquecida! As dores, antes insuportáveis, agora já parecem mais brandas. Já quase não sinto mais a minha perna. A corrente presa à minha coxa esquerda já tinha parado a circulação, e a sensibilidade já não era mais a mesma. Estou presa a este objeto há um ano ou mais. Não me lembro exatamente de quanto tempo estou aqui. A princípio, para evitar a loucura e a perda de memória, fiz tracinhos nas paredes. Mas, com o tempo, fui me esquecendo até de me levantar para comer o pão e a água que me trazem. Temo não conseguir colocar neste diário tudo o que me ocorreu durante toda a minha existência. Tenho a esperança de um dia alguém me achar ou se lembrar de mim. Caso isso não venha a ocorrer, sei que minha amiga Juanita encontrará um meio deste diário chegar até às mãos de Maria. Quero que meus irmãos de alma saibam o que passei por amar e por não negar minhas origens. Os horrores e as injustiças que aconteceram em minha vida, envolvendo seres considerados acima do bem e do
  • 13. Adriana Matheus - 13 - mal, deixo aqui registrados. Não aumentei e nem inventei absolutamente nada. Algumas pessoas que se diziam com o poder de direcionar o destino de outras, só pelo simples fato de terem nas mãos um documento chamado Bula Papal, tornaram a minha vida e a de outras mulheres a mais miserável possível. Pessoas que se julgavam Deus ou mensageiros Dele. Seres humanos como eu, mas que pareciam viver em um mundo mental paralelo ao nosso. Parecia que, ao olharem uma mulher, viam nela outra forma de vida aparente. Suas formas de manipular a população eram tão convictas que causavam cegueira e histeria em massa – e, logo, uma espécie de aliança cega entre a população e os inquisidores. Na verdade, a voz do povo não era a voz de Deus, mas sim a voz do inquisidor. Minha história é muito complexa. Se algum dia esse diário for encontrado e lido por outras pessoas, elas poderão ficar atordoadas e confusas com os relatos registrados aqui. Mas que fique bem claro que este é o meu diário. O diário da minha vida terrena, onde conto a minha trajetória como mortal, mulher, bruxa e como um ser humano esquecido pelo mundo contraditório. Nesta história de vida passada, faço aqui duas regressões e mostro o lado obscuro real da Inquisição. Conto como o preconceito contra as mulheres era superior ao sentimento maior: o amor verdadeiro. A religiosidade era usada para encobrir o lado negro dos sacerdotes. O dinheiro comprava e vendia tudo, até a alma humana. Os sacerdotes e seus monarcas seguidores fanáticos tinham uma única vontade: manter as mulheres submissas e a população humilde e sem cultura sob os seus pés. Mas, na verdade, os monarcas também eram marionetes destes discípulos do diabo. Pessoas que se
  • 14. O SEGREDO DOS GIRASSÓIS O diário de Anna Goldin - 14 - mascaravam com uma bondade hipócrita, para não mostrarem a verdadeira face escondida debaixo de peles de cordeiros. Espero, em nome de Deus, que a humanidade um dia possa evoluir para o seu próprio bem. E que estas almas, ao encarnarem, também possam redimir-se destes pecados que cometeram contra a humanidade. Vivi em um tempo muito desequilibrado e hostil, em que mesmo os que tinham certo estudo viviam na ignorância e no flagelo espiritual. As pessoas não tinham o direito de ir e vir. As palavras, nem em pensamentos poderiam permanecer. Se eu pudesse, aconselharia todos a refletirem sobre seus atos e as consequências que podem advir deles. Amem como se hoje fosse a primeira vez. Esqueçam o passado, deixem as mágoas e quem os magoou para trás. Porque a única coisa que realmente importa é o amor e o perdão. Espero, minha querida Maria, que encontre este diário e que esta história da qual fez parte seja contada para todos os nossos irmãos e irmãs, de geração em geração. Tenho certeza de que não passei por todas estas coisas em vão. Aprendi muito com a senhora. Sua sabedoria, bondade e benevolência foram minha fonte de inspiração para eu estar aqui, hoje, lutando em registrar estas palavras. Lembra-se, Maria, de quando mais atrás me ensinou a agradecer a Deus por todos os segundos de nossas vidas, mesmo que eles fossem os últimos? Agradeço, sim, a Ele, mas nunca me esqueço da senhora. Minhas orações são para você, bem como meu amor e gratidão, minha amiga, minha mãe. Sim, pois a senhora foi a única mãe que conheci. Embora minha vida tenha sido tão curta, pude refletir e compreender que nunca devemos parar de lutar pelo que sonhamos e acreditamos. Sempre lutei e nunca temi ou me
  • 15. Adriana Matheus - 15 - arrependo de ter chegado às últimas consequências. Nunca desisti do meu único e verdadeiro amor, embora ele tenha me traído e me abandonado. Nunca desejei mal a ele, mesmo sabendo que pode estar nos braços de outra mulher. Não odeio nem mesmo meus algozes, pois fazem parte da construção da minha história. Aceitei o dom da mediunidade graças à senhora, Maria, pois aprendi a ser responsável e mais humana. Sei que são curtos os meus dias aqui, minha cara amiga. Mas morro com dignidade e orgulho em saber que me assumo como sou: uma bruxa. A senhora ensinou-me que a responsabilidade de um médium dobra quando ele ensina alguma coisa a outra pessoa. Espero estar sendo coerente com as palavras aqui. Pois, assim como fui sua discípula, terei discípulos que ouvirão minha história e far-me-ão de exemplo. Sei desta responsabilidade e não quero ser uma lenda e nem um exemplo, pois também falhei. Apenas quero contar como tudo aconteceu comigo. Achei que, por amor, poderia superar os sofrimentos que me seriam impostos. Mas, agora, tenho certeza de que não sabia o quanto o ser humano pode ser cruel em arquitetar uma forma de torturar o outro. A maldade do ser humano é infinita e sem igual. Seguindo com a minha história...
  • 16. O SEGREDO DOS GIRASSÓIS O diário de Anna Goldin - 16 - I – O DIÁRIO DE ANNA madrugada estava cinza, como o meu coração... Senti o vento frio entrar pela janela, beijando meu rosto suavemente, como se fosse um cumprimento casual e afetuoso. Estávamos perto do término do outono. As folhas das árvores caíam como plumas ao chão! E meus sonhos também. Sentia-me muito só. Algo em meu coração estava tentando falar, num silêncio descompassado. Naquela época, eu via beleza em tudo ao meu redor. Mesmo nas horas de tristeza, conseguia ver coisas boas. Mas alguma coisa parecia estar errada. Minhas noites sem dormir eram agonizantes. Eu tinha um choro preso na garganta e, às vezes, sentia raiva de nada aparente. Não sabia explicar o que era e, depois de andar quase a noite toda pelo quarto, fui à janela observar a rua e senti o vento úmido, que bateu em meu rosto, ainda molhado pelas lágrimas. Os poucos transeuntes que se atreviam a andar pelas ruas pareciam estar congelados e enroscavam-se em seus casacos de lã, como caracóis em uma conchinha. Um redemoinho juntava as folhas caídas ao chão, fazendo-as bailar sobre a calçada, como em uma brincadeira de ciranda. À medida que a neblina subia, mostrava ao longe o espetáculo e a beleza escondida por trás daquela cortina A
  • 17. Adriana Matheus - 17 - acinzentada, criada pelo crepúsculo misterioso da floresta negra. Sentia-me uma privilegiada por morar no fim daquela ruazinha de pedras calcárias, muito polida pelo tempo. Eu tinha não só a magia das montanhas ao longe, mas o cenário mais perfeito de todo o mundo! O lugar onde morávamos, para mim, não tinha preço. Podia ser o mais simples e o mais isolado, mas, com certeza, era o melhor lugar deste mundo, simplesmente por ser o nosso habitat. O cenário era mesmo incrível! Eu jamais me cansaria de admirá-lo. Da janela do meu quarto, podia ver, desde a esquina, a outra extremidade da rua sem saída. Havia uma pequena trilha de terra, que dava para um misterioso bosque Mal Assombrado, como diziam os viajantes que por ali passavam - também citado nas cantigas das escravas como Floresta negra, ou ainda chamado de Bosque dos Mortos pelos supersticiosos do vilarejo. Muitas lendas foram criadas em torno desse bosque. Na verdade, não sei se poderiam chamar essas histórias de lendas, pois em certo ponto do bosque não havia nenhum tipo de vegetação ou vida aparente. Sua terra era seca, e isso se ocasionou depois que os moradores mais antigos queimaram uma jovem amarrada a uma árvore, petrificada, acusando-a de bruxaria. Eu nunca havia tido a coragem de ir até lá por medo do que ouvia, mas ficava observando seu estranho silêncio da minha janela nas noites de solidão. Nunca vi ou ouvi uma ave gorjear por lá. Ouvira dizer que nenhum ser vivente ou em seu juízo perfeito atrever-se-ia a colocar seus pés naquele local obscuro e sinistro. Eu, nas muitas vezes em que perdia o sono durante a noite, jurava ter ouvido gemidos e clamores vindos daquele bosque. Sombras pareciam sair do bosque, ou era apenas a minha mente que as imaginava? Sempre preferi acreditar que
  • 18. O SEGREDO DOS GIRASSÓIS O diário de Anna Goldin - 18 - fosse a minha imaginação, e nunca mencionei isso nem mesmo para minha amada Maria. À frente de minha casa, logo na esquina, antes de subir a pequena trilha, ficava a mansão dos Sorancos Del Castilho, gente sisuda, aparentemente orgulhosa e pouco amistosa. Eles eram judeus convertidos ao cristianismo. Só os víamos nas missas aos domingos e, mesmo assim, sentavam-se longe de todos. Eram pessoas que pouco se viam transitar pelas ruas. A senhora Del Castilho e suas filhas vestiam-se mais discretas do que o normal, sempre com roupas austeras e escuras. Não eram nada sociáveis. Não iam a festas, não convidavam e sempre era possível vê-los observando as pessoas de soslaio. Eram reservados e isolados. Eu mesma tive a impressão de ter visto um ou outro me observando pelas costas. Mas, quando me virava, tentando achar o que estava me incomodando, não via nada. Eles pareciam fantasmas: apareciam onde menos esperávamos, e sumiam da mesma forma. Gentinha realmente estranha... Diziam que eles eram muito ricos, e que seus dízimos superavam as expectativas paroquiais. O Senhor Del Castilho parecia um Lorde, com suas botinas e suas abotoaduras de brilhante. Em questão de status, essa família, por certo, era a mais rica do condado. O restante da vizinhança morava a muitos metros à frente. Por isso, sentia-me muito tranquila em relação à paz e ao sossego. Por parte de meus pais, meus avós foram os pioneiros daquele vilarejo. Eles fizeram muitas benfeitorias, como o belo caminho feito de cerejeiras, que foram exclusivamente trazidas da Inglaterra para enfeitar as laterais daquela larga ruazinha - o que dava, além de graça e beleza, certo mistério ao trajeto. Era incrível o enorme tapete de flores que se estendia para passarmos no outono. O vilarejo ainda era pequeno e mais
  • 19. Adriana Matheus - 19 - parecia um labirinto, porque todas as ruas se cruzavam. Todos se conheciam, mas poucos eram amigos, e os mais jovens de certos recursos financeiros eram enviados à Europa para estudarem e, na maioria das vezes, não retornavam à casa paterna. A vida no campo não lhes convinha mais. Mas, por certo, Salamanca cresceria muito com os tempos que viriam. Se chegasse qualquer estranho ao vilarejo, em questão de pouco tempo todos os moradores ficavam sabendo da novidade. Era engraçada a maneira como os habitantes daquele pequeno vilarejo comportavam-se. Tão primitivos! Naquele tempo, eu já não era vista com muito bons olhos. Mas era por motivos corriqueiros e questionáveis, pois as pessoas achavam-me esnobe. Mas eu não o era. Pelo contrário, era uma jovem medrosa e muito tímida, esquivava-me das pessoas por não saber como me comportar no meio delas. E também tinha o fato de que a minha madrasta nunca me deixara participar das reuniões do nosso conselho. Muitas das jovens de minha idade não podiam opinar, mas sempre estavam presentes a tal evento, pois era uma maneira de se socializar e, claro, de arrumar um pretendente. Quando raramente eu podia sair, era sempre na companhia da minha ama Alicia ou de minha amada Maria, governanta da casa. Assim seguiram-se meus dias, sem nenhuma emoção ou aventura - o que era um tédio, pois meu espírito gritava por aventuras e coisas diversas, que nunca pude realizar na minha curta existência. Lembro-me, ainda, de minha casa: era bem grande. Mas não era uma casa acolhedora, porque faltava paz e harmonia. Fiz uma rápida e breve descrição dos detalhes. Na verdade, o que eu mais gostava não estava lá dentro. Nunca fui muito detalhista. Algumas coisas deixei passar em vão, não por falta de percepção, mas porque esta realmente não era a casa dos meus sonhos. Quando somos crianças, tudo é bom, tudo são
  • 20. O SEGREDO DOS GIRASSÓIS O diário de Anna Goldin - 20 - flores. Encontramos divertimento até no meio das lágrimas, e luz no meio das trevas. Fazemos refúgio no silêncio, e nossos corações não guardam rancor. Vivi até metade de meus dezenove anos a triste e turbulenta história que me trouxe a este terrível lugar. E no meio do ódio, da inveja e da ambição, consegui criar para mim um mundo imaginário. No meio de coisas velhas e usadas, vivia minha vida de fantasias. Cresci amargurada, medrosa, tímida e isolada do mundo. Sem dúvida, minhas roupas eram caras. Não porque zelavam por mim, mas porque eu não podia aparecer maltrapilha perante as pessoas da sociedade. E também isso mostraria a real situação financeira da minha família: apesar da ostentação, a falta de recursos financeiros era escondida a todo custo. A maioria dos vestidos nunca usei, mas minha madrasta fazia questão de gastar mesmo assim. Por não ter nenhum amigo com quem pudesse falar, eu ficava a maior parte do tempo no sótão, na cozinha ou com os criados. Aprendi a fazer muitas coisas domésticas apenas observando, pois os escravos e criados não me deixavam tocar em nada: tinham medo de uma represália. Eu era a sinhazinha, um enfeite de porcelana e sem nenhuma utilidade. Eu não gostaria que tivesse sido assim, mas as circunstâncias e a própria época em que vivi ajudaram muito para isso. Enfrentei o mundo por amor. Enfrentei os homens e a Igreja para mostrar que também nós, mulheres, temos o direito à igualdade, a ir e vir. E que somos livres em expressão de religião, vontade e igualdade. Enfrentei o ódio nos olhos, no coração e nas atitudes de muitas mulheres por quem lutei. Mas eu as entendia. Na verdade, bem no íntimo, todas aquelas mulheres gostariam de estar no meu lugar - não na dor, é claro, mas em coragem e determinação! Coragem de nunca se negar e
  • 21. Adriana Matheus - 21 - de falar o que pensava. E determinação de lutar pelos ideais e também por um lugar ao sol, entre homens preconceituosos e ditadores. Não me arrependo do que fiz, mas do que nunca pude fazer. Minhas irmãs de almas sofreram muito mais do que eu, no cativeiro de uma masmorra fria e sombria. Pois viveram a vida toda sob o jugo dos homens, que muitas vezes eram seus amados. Embora a maioria delas tivesse escravos, elas eram escravas do silêncio e da submissão. Ser uma bruxa não foi e jamais será fácil. Eu vivia em um mundo de falsidades, onde o luxo e o dinheiro encobriam qualquer falha humana. Minha casa era muito grande, com muitas passagens secretas. Algumas descobri a duras penas, para me esconder de minha madrasta. Os corredores eram enormes e, ao sairmos do meu quarto, passávamos pelos aposentos do casal e por mais oito outros, ainda vazios, que às vezes eram usados pelos hóspedes. Seguindo pelo corredor largo, com uma passadeira cor de carne e desenhos geométricos, chegávamos ao antigo quarto de minha mãe, cuja porta nunca era aberta. Os motivos eram desconhecidos e alheios para mim, até então. Eu sempre sentia certo arrepio naquele corredor, pois era de pouca iluminação e dava-me a impressão de ter uma pessoa atrás de mim. Aliás, toda a casa me dava certo arrepio. Por fim, chegava a uma escadaria, que era meio em caracol, toda de mármore branco, com corrimão de madeira muito encerada. Eu adorava escorregar no corrimão quando não tinha ninguém por perto. À direita, ao final do corredor, era o sótão onde guardavam quinquilharias - meus tesouros. Na verdade, toda a memória da minha família estava lá em cima. As escadinhas eram estreitas e de madeira; o sótão mais parecia uma velha torre onde me refugiava da bruxa má. Meu esconderijo antissurras, pois, quando minha madrasta se
  • 22. O SEGREDO DOS GIRASSÓIS O diário de Anna Goldin - 22 - desentendia com meu pai, era em mim que descontava seu ódio. Como se eu tivesse alguma coisa a ver com desentendimentos entre eles... Os dois pareciam cão e gato, não conseguiam ficar perto um do outro por meros segundos sem se engalfinhar. Minha madrasta era muito exigente e só queria saber de gastar. Eu tinha mania de ficar no topo da escadaria, encostada no beiral, olhando o andar de baixo e escutando as conversas e discussões de meu pai. Chegava a ficar tonta, pois os ladrilhos do hall de entrada davam a impressão de vermos um enorme tabuleiro de xadrez, já que o piso era quadrangular em tons de preto e branco. À esquerda, seguia-se para o escritório de meu pai, que era quase como uma passagem secreta, por ficar embaixo da escada. No fim da escada, à direita, existia um grande salão de bailes, onde tínhamos a mais bela varanda, toda em mármore branco. No salão, existiam enormes pilares, dando certo ar de templo romano. Por ser tudo muito branco, quando criança eu pensava ser o céu. Sentia-me uma fada e rodopiava, abrindo os braços. À esquerda, ainda no final da escadaria, seguia-se para a cozinha, por um enorme corredor de tábua corrida. Minúsculos quadros familiares foram pendurados em suas laterais. Eu o chamava de corredor dos espíritos. Ao chegarmos à enorme cozinha, tínhamos um gigantesco fogão de lenha, onde Tereza criava as mais deliciosas receitas junto à escrava Joana, sua auxiliar. Havia uma grande e pesada mesa de carvalho, no centro. Panelas de bronze, muito areadas, foram penduradas por toda parte. Eu ficava ali, em pé, ao lado das cozinheiras, observando aquela fantástica e misteriosa forma de alquimia. Era o meu segundo local preferido. O simples mexer de Joana com a colher de pau nos grandes caldeirões fascinava-me. A magia simples da mistura
  • 23. Adriana Matheus - 23 - dos temperos me fascinava! Nascia em mim o desejo de ter o meu próprio caldeirão. Por várias vezes, brincando de cozinhar, juntei algumas ervas e coloquei-as dentro de uma caneca de água quente, dando à pequena escrava Inaynmin, filha de Joana, aquele chá com a minha mistura de ervas. Dizia a ela que os anjos lhe dariam bons sonhos. O estranho é que a menina dizia dormir muito bem toda vez que tomava meus chás. A cozinha também era, para mim, um refúgio onde me escondia da minha madrasta. Pois ela me perseguia por toda a casa, não importando onde eu estivesse. Mas na cozinha ela não entrava, porque achava indigno do seu status de senhora. O sótão já estava ficando vulnerável, e a história que Maria contava sobre lá ser mal assombrado já não estava surtindo muito efeito - o que passou as ser perigoso para mim, pois minha madrasta já não cria mais nos tais fantasmas. Então, tive de me refugiar nos corredores, dentro das paredes entre um quadro e outro, como um animalzinho assustado. Algumas dessas passagens davam nos fundos da cozinha, onde eu aparecia inesperadamente no meio das cozinheiras que, na maioria das vezes, levavam um grande susto. Tereza colocou- me a alcunha de pequena sombra, pois às vezes, quando ela olhava para trás, lá estava eu como num passe de mágica. Tínhamos, ao lado de fora, um enorme pátio com uma fonte d’água e um poço. Da escada dos fundos da cozinha, que dava para esse pátio, podíamos ver várias montanhas ao fundo. Sem sombras de dúvida, não existia nada mais lindo do que a visão daquelas montanhas! O cenário era tão incrível e mágico! A impressão que eu tinha, ao ver o sol despontando no horizonte, era que ele as fazia mudar de cor, para um verde quase azulado. Sentia-me especial por estar fazendo parte da obra de um Grande Mestre. Nenhum pincel pintaria nada tão
  • 24. O SEGREDO DOS GIRASSÓIS O diário de Anna Goldin - 24 - perfeito! Eu não gostava da minha casa, mas amava o lugar onde vivia. Essas lembranças de infância vieram à tona saudosamente. E especialmente naquele dia - vinte e um de julho de 1819 - acordei muito cedo: exatamente às duas da madrugada. O galo mal tinha cantado e lá estava eu de pé. Tudo o que eu tinha aprendido até aquele momento foi com os livros. Em minha solidão, eu lia muito - o que me foi de grande valia em meu aprendizado. Muitos desses livros foram encontrados no sótão, junto aos pertences de minha falecida mãe. Andei de um lado para o outro do quarto, como uma galinha que havia perdido seus pintinhos. Algo me estava incomodando em demasia. Minhas mãos suavam e meus sentidos estavam aguçados. Por causa dos sonhos confusos e pesadelos - que eram constantes - eu via sombras nas paredes e vultos ao meu lado, constantemente. Parecia haver pessoas perto de mim, vozes falavam ao meu ouvido diariamente. Por não ter nenhum conhecimento, sentia medo. Não sabia o que eram e o que queriam comigo. Eu tampava os ouvidos com as mãos, na tentativa de não as escutar. Outras vezes, eu respondia e conversava com elas. Às vezes eu as remedava, e tais gestos faziam minha madrasta pensar que eu era insubordinada. Apanhei muito por causa das vozes. E elas pareciam ficar cada vez mais irritadas com a proximidade da minha madrasta. Erroneamente, eu achava que eram fantasmas. Mas o pior de tudo isso é que eu não podia contar a ninguém, porque as pessoas considerar-me-iam insana. Ou me entregariam nas mãos de um exorcista - o que anteciparia o meu destino. Especialmente naquela madrugada, elas estavam muito mais agitadas do que de costume. Antes, elas eram assustadoras e davam a impressão de estarem muito aflitas. Ora cantavam em línguas estranhas, ora falavam todas juntas. Isso me confundia.
  • 25. Adriana Matheus - 25 - Deixei aquelas aflitas lembranças para trás um pouco e voltei à janela. Fiquei horas observando a montanha e sua neblina misteriosa Queria esquecer aquelas almas que desesperadamente me chamavam. Senti-me um pouco egoísta, mas precisava me distanciar antes que elas voltassem a querer falar comigo. Pois cada vez que eu pensava nelas, parecia estar atraindo-as para junto de mim. Além de toda aquela confusão com as vozes, havia também os maus presságios, que estavam acarretando o meu espírito e, como nuvens, confundiam também os meus sentidos. Eu achava que era devido à ausência de meu pai, e também pela falta de noticias dele. Mas era uma mistura de saudade, solidão e devaneios, em uma mente jovem e atordoada por uma mediunidade ainda não trabalhada. Algo estava para acontecer. Algo que mudaria a minha vida para sempre. Lembrei-me de Maria, que dizia que eu havia nascido com dons especiais. E que, ao completar meus vinte e um anos, as coisas ficariam melhores. Bom, eu faria vinte no ano seguinte e tinha a esperança de que as coisas pudessem melhorar a partir dali. E que meus dons, ao aflorarem, trouxessem-me um pouco mais de paz. Na verdade, não sabia se eu poderia chamar aquelas tormentas de dons. Só sabia que elas eram espirituais. O meu medo de vê-los era tão grande que, de alguma forma, trazia-os para bem perto de mim. Às vezes pensava serem coisas da minha mente. Mas, com o decorrer do tempo, meus sentidos foram aguçando ainda mais; passei a ter estranhas visões de fatos que ainda não tinham acontecido. Na maioria, eram sonhos que mais pareciam pesadelos. Tudo era uma incógnita para mim. Maria chamava essas coisas de premonições. Eu via a vida das pessoas e, se alguém mentisse, sabia que estava mentindo. Não sabia o porquê de estar acontecendo comigo. Eu era totalmente leiga nos assuntos da magia. E isso era algo agonizante, pois me deixava irrequieta e
  • 26. O SEGREDO DOS GIRASSÓIS O diário de Anna Goldin - 26 - depressiva. Mas o certo é que minha vidinha monótona, sem graça e atordoada estava para mudar da água para o vinho. E isso aconteceu muito rápido. Quando meu corpo se arrepiava e me dava calafrios, era a forma de os meus sentidos de bruxa me avisarem que algo ruim estava para acontecer. Mas, por não ter noção, a depressão passou a tomar conta de mim. Chorava por qualquer coisa e sem motivos aparentes. Algo estava errado comigo. E ninguém sabia como agir: eu precisava de ajuda, mas o socorro não vinha! Muitas vezes ansiava por ver o mensageiro, que nunca chegava dando notícias de meu pai. Era mais uma fuga para escapar da depressão. Estava ficando louca. Meus pensamentos mudavam de direção, como o vento de lugar. Onde estaria o mensageiro? Precisava vê-lo. Na verdade, ele só passaria às sete e trinta, seu horário normal. De quinze em quinze dias, sempre nos trazia uma carta de meu pai, mas eu já não estava aguentando de tanta ansiedade. Fazia um mês sem notícias; meu coração estava apertado. Não havia conhecido minha mãe. Meu pai, no entanto, era tudo o que eu tinha naquele momento. Minha madrasta era perversa e fingia ter um falso afeto por mim. Nunca me pegara ao colo ou fizera um afago em meus cabelos quando eu ainda era criança. Pelo contrário, humilhava-me com palavras hostis e sempre me batia por qualquer motivo. Suas ameaças de me colocar em um convento eram constantes. Era impressionante a falsidade e o fingimento daquela mulher. Na frente de meu pai, sempre me tratava com sorrisinhos forçados e uma delicadeza inexistente. Aliás, tudo nela era demasiadamente falso. Lembro-me de certa vez, depois de ter apanhado muito e ter ficado com o corpo coberto por hematomas, ter sido trancada dentro do guardarroupa um dia inteiro. Gritei, quase desfaleci, mas ela não deixou ninguém me tirar de lá. Fiquei em estado
  • 27. Adriana Matheus - 27 - catatônico. Maria, naquele dia, ficou do lado de fora da porta, cantando para mim, tentando mostrar que eu não estava sozinha. Jamais me atrevi a contar para meu pai, pois Maria dizia que ele não podia ter aborrecimentos, devido à saúde instável. Ele estava com sérios problemas de coração e bebia muito. A crueldade de minha madrasta não estava só na forma como ela me tratava. Também era cruel com os criados e escravos. Ela deixou um escravo, de nome Sandoval, sem comer por dias. E o mesmo já havia feito comigo. Só que, por ser criança, adoeci e fiquei de cama. Maria convenceu meu pai a chamar o doutor, e ambos quiseram saber por que eu estava tão debilitada. Minha madrasta entrou no meio da conversa, dizendo-lhes que eu estava muito angustiada devido às constantes ausências de meu pai, e que eu havia perdido o apetite de tanta tristeza. Ela sempre encontrava um meio de se livrar de sua culpa. Ela tinha certo requinte de crueldade e fazia meu pai sentir-se péssimo. Ele, naquele dia, bebeu até cair em um canto da casa. Eu e Maria o achamos e o colocamos para dormir em um sofá. Maria não tinha medo dela, mas sabia que, se contasse, ela se vingaria em mim. Eu estava completamente indefesa e nas mãos daquela famigerada. Sua beleza e falsidade seduziram meu pobre pai, que estava carente e solitário, com uma pequena menina recém- nascida nos braços. Não que Maria não estivesse dando conta do recado. Mas as cobranças entre os amigos e o preconceito da sociedade, por ele ser um viúvo ainda jovem, pesaram-lhe muito. É claro que sua posição socioeconômica e o título de nobreza dela também colaboraram para aquela união de conveniências. Não sei o que fizeram de errado, mas ele se viu obrigado a se casar às pressas com a jovem condessa Marli Del Prat, filha do duque e também viúvo George Von Del Prat. Meu pai foi um
  • 28. O SEGREDO DOS GIRASSÓIS O diário de Anna Goldin - 28 - rico comerciante, mas estava passando por muitas dificuldades financeiras, causadas pelos gastos de sua jovem esposa. Isso tudo pesava em seu bolso e em seu coração. Ele era uma pessoa de pouco se abrir, o que poderia estar causando os seus supostos problemas de saúde. Alguns de nossos criados estavam conosco há anos - como Maria, que havia sido praticamente criada em nossa residência. Seria muito injusto colocá-la na rua de uma hora para outra. Maria, que abdicou de toda a sua vida para cuidar de mim, por amor e fidelidade a uma promessa feita à minha mãe em seu leito de morte... Passávamos por uma enorme crise financeira, enquanto a condessa gastava horrores em bailes, roupas e joias, desperdiçando o pouco que ainda tínhamos. Por ser muito jovem quando se casou com meu pai, passou a disputar comigo sua atenção. Era de uma beleza muito rara em meu país. Era filha de alemães e holandeses. E sua união com meu pai, que também era um fidalgo, embora falido, fora de grande valia política. Com essa união, seus parentes teriam livre acesso de trânsito dentro da Espanha, entre outros benefícios políticos. Minha madrasta era uma mulher esbelta, com formas muito bem definidas e fartas. Cabelos muito negros e olhos azuis; sua voz tinha um tom suave e aveludado. Deixava os fidalgos, por assim dizer, abobalhados. Sua pele era rosada como o pêssego, seus lábios eram finos e havia uma pequena pinta sobre eles. Vestia-se sempre com as melhores roupas, embora exagerasse no brilho. E as joias, então? Eram sempre as mais caras! Não poupara o seu dote, esbanjando até as economias que meu pai fez no decorrer dos anos. Por isso, chegamos quase à beira da miséria.
  • 29. Adriana Matheus - 29 - Com os gastos irregulares da condessa, meu pai passou, então, a fazer longas viagens, na tentativa de fazer novos investimentos para salvar as finanças. A Europa era promissora e, por isso, ele ficava por meses fora de casa. Porém, minha madrasta não dava trégua com os gastos e continuava a esbanjar as poucas economias que nos restavam. Às vezes, ela parecia fazer aquelas coisas na tentativa desesperada de obter a atenção do meu pai – pois, devido à sua rara permanência em casa, estava deixando de lado as obrigações como esposo. Mas, na minha cabeça, era por maldade mesmo que a senhora esposa de meu pai fazia todas aquelas coisas terríveis! Cheguei a flagrar meu pai soluçando pelos cantos da casa. Mas, a qualquer proximidade e tentativa de ajudá-lo, ele se esquivava e saía à francesa. Por dias trancava-se em seu escritório. Ele aparentemente não tinha muita alternativa, pois, se colocasse os pés para fora de seu refúgio, sua esposa o seguia tagarelando, exigindo e reclamando coisas corriqueiras e sem muita importância. Eram visíveis, vergonhosas e humilhantes as discussões dos dois perante a criadagem, que ficava debochando às escondidas. E quando ele não aguentava mais, a agressão passava da verbal para a física. Minha madrasta tinha seus defeitos, por certo, mas eu não suportava ver meu pai espancando-a. Vi aquela mulher muitas vezes ter que ficar sem poder colocar o rosto para fora de seus aposentos por causa dos visíveis hematomas. A desculpa usada era que ela estava indisposta ou com uma constipação muito forte. Os amigos de meu pai, por assim dizer, só o procuravam para farras e bebedeiras. Ele era um fraco e não sabia dar um rumo à sua vida. Estávamos vivendo em uma guerra fria e silenciosa. Um jogo de interesses e mágoas, em que a mais
  • 30. O SEGREDO DOS GIRASSÓIS O diário de Anna Goldin - 30 - prejudicada era eu. Com tanta repressão, também aprendi a abaixar a cabeça para tudo o que eles dissessem. Cheguei a pensar em suicídio, mas era covarde demais para isso. E por não conseguir me imaginar longe de meu pai e de Maria, sempre me calei, escondendo comigo suas tramoias. Os anos foram passando e a condessa não tomava jeito mesmo; passou a viver de armações para arrancar dinheiro de meu pai e outros fidalgos, que frequentavam minha casa na ausência de meu pai. Nunca tive voz ativa, meu pai só fazia presença e a pobre Maria não passava de um capacho, como o resto da criadagem. A autoridade-mor da casa era mesmo de sua majestade Marli Del Prat. Entre outras coisas, ela queria tudo só para si. Inclusive, o meu lugar como herdeira única. Seu comportamento era detestável e nauseante, pois às vezes, para chamar atenção, ela se comportava como uma menininha, fazendo trejeitos e mesuras irritantes. Mas era só meu pai virar as costas que sua personalidade aflorava, dando lugar à verdadeira pessoa escondida atrás daquela aparência frágil e ingênua que a condessa criara como personagem, para engambelar a todos do sexo masculino. Mediante tudo isso, eu sabia que era improvável meu pai acreditar em mim. Eles não se suportavam, mas tinham que manter as aparências e cumprir seus deveres perante a sociedade. Se eu não morasse naquela casa e se todos os dias não estivesse presenciando tanta falsidade e falta de caráter, certamente também não acreditaria! Pois aquela doce e jovem senhora e aquele tão elegante cavalheiro eram, na verdade, duas pessoas repletas de artimanhas. Quando meu pai viajava - além das festas constantes, que iam até altas horas -, a condessa também se embriagava pelos cantos, enquanto eu era obrigada a ficar trancada em meu quarto, para não ver o que realmente acontecia. Suas risadas
  • 31. Adriana Matheus - 31 - altas e histéricas no corredor incomodavam-me e, por várias vezes, tive que tampar meus ouvidos, colocando chumaços de algodão para não ouvir as atrocidades que saíam ecoando pelo corredor. Como desejava ter tido outra vida...! Não podia ver, mas sabia que ela estava com outros homens. Não seria difícil flagrá-la nas proximidades do nosso jardim com os Lorde e os fidalgos, frequentadores de suas constantes festas noturnas. E se alguém a visse, ela se justificava, dizendo que fazia aquilo para o bem de todos e das finanças. Se não tivesse vindo de uma família de nobres, eu a consideraria uma cortesã, devido à sua conduta leviana e vulgar. Minha vida naquela casa foi triste, sem sentido. Estava a me transformar em uma pessoa revoltada. Minha luta era comigo mesma, eu não poderia me transformar naquela pessoa vazia e sem vida que eles queriam que eu fosse. Maria ensinou-me que, quando alguém deixa morrer os sonhos, a vida acaba. Ela dizia que só não sonhava quem não tinha a capacidade para realizar. Eu tinha sonhos... e eram muitos. Só não sabia onde eles estavam naquele momento. Nunca frequentei escola, mas estudei em casa. Tive aulas de língua estrangeira, piano e literatura. Minha professora, a Senhorita Ludmila Lavenier, era minha única companhia, depois de Maria. Tinha mais ou menos trinta anos, embora aparentasse ser mais jovem. Era de origem holandesa e herdou o sobrenome de seu avô paterno, que era francês. E por ter sido criada e educada na França, seu sotaque era encantador. Por muitas vezes desejei que ela tivesse conhecido meu pai antes de minha madrasta. Ela era culta, simpática e divertida. Sua cultura era consequência de suas muitas viagens pela Europa. Sempre muito elegante, discreta e muito ponderada ao se dirigir às pessoas. Tinha um tom de voz paciente e educado.
  • 32. O SEGREDO DOS GIRASSÓIS O diário de Anna Goldin - 32 - Era admirável ver uma mulher muito além do século XVIII, conhecedora de várias culturas e mestre em disciplina familiar. Comentavam as más línguas que ela tinha vários amantes, e que era uma mulher com ideias muito opostas. Alguns chegavam a dizer que ela não era nada feminina em seu jeito de pensar. Mas eram apenas boatos maliciosos. Ela mesma me contou que amou apenas uma pessoa em toda a sua vida e que, por proibição dos pais dele, não puderam se casar, por causa de sua inferioridade financeira. Por isso, ela resolveu seguir em frente como educadora particular de finas senhoritas. Suas histórias eram incríveis! Contou-me que certa vez almoçou com o próprio rei, sentou-se à mesa real como sua convidada de honra. Não era o tipo de pessoa que desse ouvido a comentários e mexericos dos outros. Era livre e independente, como eu gostaria de ter sido. Também me cotou sobre as damas da corte para quem já tinha ensinado suas aulas de piano, e sobre os romances secretos no palácio real. Ríamos muito. Senhorita D`Lú - era como gostava de ser chamada - foi altamente recomendada pela Senhora Carllota Gonzalez, uma governanta amiga de Maria, que trabalhava na mansão do Marquez de Miqueias. Foi uma pena quando meu pai teve de dispensar seus serviços por causa dos ciúmes da condessa e, é claro, por causa da nossa situação financeira, que não ia nada bem. O resto, aprendi por conta própria. Assustei-me quando Maria entrou em meu quarto sem bater, com a bandeja de café. Maria era uma mulher gentil, educadíssima e extremamente respeitável. Podia-se dizer qualquer coisa sobre Maria, menos duvidar de sua conduta, inabalável. Era uma mulher de estatura baixa, rechonchuda como um empanado de frango. Fazia questão de manter seus cabelos negros presos em um coque perfeito. Tinha os olhos grandes e negros, lábios largos e era muito severa com os seus
  • 33. Adriana Matheus - 33 - subalternos. Usava luto constantemente em sinal de respeito à memória de minha mãe. E ficou muito aborrecida quando papai casou-se novamente, embora nunca se atrevesse a dizer. Nunca se exaltava e constantemente usava de ironia em suas conversas. Acho que herdei sua maneira de ser. Ela nunca conseguiu dizer-me não. Mas, às vezes, colocava-me de castigo, o que era pior do que levar chineladas. E ali, naquele momento, observando-a de costas, percebi que seu peso, embora não condizente com sua estatura, dava-lhe certo charme, porque mantinha uma postura elegante e ereta. Deveria ter sido muito bela quando ainda jovem. Por certo, foi desejada entre os homens. A pobre mulher não se casou, não tinha filhos, passou a vida toda se dedicando a mim e a meu pai. Era filha de espanhóis ciganos. Tinha o estranho costume de prever o futuro através das cartas do tarô. Por várias vezes, às escondidas, abriu o baralho para mim, sempre usando um ritual. Certa vez, quando abriu o tarô para mim, depois de muito fitá- lo, começou a chorar. Fiquei sem saber o porquê daquele pranto incessante. Minhas tentativas de interrogação foram em vão, e de nada adiantava tentar consolá-la, pois seu pranto era incessante. Maria abraçou-me e disse: – Tem um triste futuro, minha filha! Precisa comer alguma coisa. Abriu as janelas e afastou as cortinas de organza e seda cor-de-rosa. Ajeitou a bandeja com o desjejum na mesinha de lanches, que era de cristal e cobre decorado, trazida da Inglaterra por minha mãe. Em seguida, saiu enxugando as lágrimas e dizendo, entre dentes, que os afazeres a esperavam, deixando- me com as respostas ao vento mais uma vez. Sempre tão atenciosa e dedicada, mas muito meticulosa e misteriosa quando se tratava das cartas. Detalhei a mesinha novamente naquele momento nostálgico de minha vida e lembrei-me de meu pai,
  • 34. O SEGREDO DOS GIRASSÓIS O diário de Anna Goldin - 34 - que certa vez contou-me que minha mãe ficava horas escrevendo suas receitas e seus poemas ali. Ele dizia que ela era cheia de mistérios. Interrompi novamente meus pensamentos, pois a copeira entrou, trazendo uma ânfora com água morna e colocando-a na bacia de porcelana chinesa. – Não vai comer menina? - perguntou a copeira. – Daqui a pouco, estou meio sem fome agora. Ela saiu, fazendo-me ameaças de que, se eu não comesse tudo, chamaria o doutor. Só de pensar, senti arrepios! Ele era um velhote horrível, com cara de louco. Fumava um charuto fedorento, o seu cheiro pessoal dava-me náuseas. Sua barriga salientava-se por cima daquela roupa encardida, que já não via água há séculos. Sem contar que metade de seu rosto ocultava- se em algum lugar entre a barba e o tenebroso bigode. Se olhássemos muito, víamos uma saliva escorrendo no canto externo dos lábios. Eu ficava doente só em pensar que o teria perto de mim, colocando-me aquelas mãos amareladas pelo tabaco. Nunca o vi lavar as mãos para me examinar. Toda vez que ele ia me visitar quando criança - para exames rotineiros ou qualquer outra coisa -, se eu estivesse doente, ficava pior. E se eu não estivesse, aí ficava mesmo. Arregalei os olhos de pavor! Sentei-me na cama, coloquei a bandeja no colo e comi tudo o que havia no desjejum, pois, com certeza, ela cumpriria sua promessa. Ela, sorrindo, parecia ter lido meus pensamentos. Aliás, sempre fazia isso. Dei uma espreguiçadela gostosa no ar e empurrei a bandeja vazia. Voltei para a janela, fiquei por horas observando o jardineiro Joseph, enquanto ele cuidava das rosas com dedicação e minúcia. Vi Maria levando para ele café e sequilhos. Ele sempre estava próximo dela e pareciam tão felizes! Maria sorriu e saiu em seguida, toda faceira.
  • 35. Adriana Matheus - 35 - Não demorou muito e logo estava de volta para buscar a bandeja. Tinha nos lábios um sorriso que não era habitual. Definitivamente, Joseph a fazia muito bem. Deu um suspiro profundo antes de me fazer um convite para passar sua folga com ela: – Senhorita Anna, gostaria de passar o fim de semana comigo na casa da minha irmã que mora no interior? Perguntei se tinha avisado à senhora minha madrasta, o que confirmou entusiasmadíssima com a cabeça. Pediu que me apresasse e saiu toda satisfeita porta afora. Fazia muito tempo que eu não a via daquele jeito. Maria sempre tivera permissão para ir visitar seus parentes no interior e, por certo, não era essa a causa de sua súbita alegria. Daria tudo para saber o que Joseph tinha-lhe falado. Tomei um banho caprichado, com os sais que ela fizera para mim. Escolhi um dos meus mais lindos vestidos. Mas este era adorável, em tom areia, todo rendado e com muitos babados. Seu decote deixava meus ombros à mostra. Olhei-me no espelho e senti-me bem ousada, mas mantive a discrição quanto aos exageros. Gostava de ficar admirando-me ao espelho e ali, olhando o retrato de minha mãe, comecei a fazer comparações entre nós duas. Naquele momento, percebi o quanto me parecia com ela. Meus olhos eram cor de mel, puxando para verde. Meus cabelos tinham cachos largos e eram de um tom castanho quase dourado. Minha pele, morena clara, era perfeita e sem nenhuma mácula. Meus lábios eram grossos. Definitivamente, eu a mistura perfeita das raças. Minha mãe era inglesa, de pele muito clara e olhos muito azuis. Seus cabelos eram de um tom castanho-claro, quase louro. Fitando-a naquela fotografia, achei- a parecida com um anjo. Eu havia herdado dela não só a beleza, mas também a elegância e o tom polido na fala. Minha cintura era extremamente fina e eu só usava o espartilho por mero
  • 36. O SEGREDO DOS GIRASSÓIS O diário de Anna Goldin - 36 - capricho. Esse tipo de arrogância e vaidade foi uma coisa das quais me arrependi de ter tido. Embora ela tivesse morrido quando nasci, esses eram os comentários a seu respeito. Na aparência, achava-me igual à minha mãe, e sentia muito orgulho disso! Meu pai não ficou atrás. Ele era um espanhol muito alto, olhos cor de mel, pele bronzeada e cabelos claros e lisos, ombros largos e fortes. Lembro-me de vê-lo, quando eu era criança, depois de chegar de suas caçadas, montado em seu cavalo baio. Ele se parecia com um personagem de contos de fadas. Ficava louca, esperando que ele me colocasse em sua garupa e me levasse para cavalgar em seu colo. A sensação de proteção e liberdade era um misto formidável. Que pena não podermos voltar atrás no passado, no exato momento em que fomos mais felizes... Neste momento, mediante tanto sofrimento, é que percebo como eu tinha uma vida fútil e, por certo, poderia ter feito mais pelo meu semelhante. Às vezes ele tentava ser durão com os empregados, mas seu coração era bom e acabava voltando atrás. E quando sorria... era perfeito! Seu olhar era penetrante e sedutor. Aposto que mamãe, ao vê-lo, apaixonou-se imediatamente. Esse era o tipo de amor que eu queria para mim: eterno e verdadeiro. Eu tinha certeza de que ele ainda a amava, pois sempre trazia consigo, dentro do relógio de bolso, um retrato dela. Mesmo casado com minha madrasta, ele ainda, às escondidas, ficava fitando com ternura aquele retrato. Ao se casar com a condessa, meu pai tornou-se carrancudo e grosseiro, afastando-se de mim dia após dia. Passei a me sentir culpada por minha mãe ter falecido durante o parto. E minha madrasta, ao perceber meus temores infundáveis, passou a agredir-me, chamando-me de pequena maldição. Dizia ser eu a culpada pela morte da minha mãe e pelo fato de ela
  • 37. Adriana Matheus - 37 - nunca ter engravidado. Mas, um dia, meu pai a ouviu e interveio por mim. Disse-lhe que nunca mais queria vê-la fazer-me tais acusações levianas. A condessa engoliu seu ódio por mim naquele dia, e subiu para seus aposentos, fingindo estar se sentindo mal. Não me lembro de ter visto meu pai procurar por ela e pedir-lhe desculpas, como sempre estava acostumado a fazer. Essa foi a única vez, desde que me entendia por gente, que vi meu pai manifestar-se a meu favor. Usei uma fita negra de veludo ao redor do meu pescoço, com um camafeu de marfim de minha mãe. Agora só faltava a sombrinha cor de palha, com delicadas rosinhas azuis e outras com cor de damasco. Seu cabo era todo talhado à mão, e havia sido meu avô quem o fizera para mim. Agora sim estava pronta para meu passeio naquele final de semana, que seria praticamente um dos últimos com Maria. Havia meses que eu não saía de casa. Por isso, não poupei esforços e caprichei naquela manhã. Levei uma maleta com tudo que julguei ser necessário. Não me esqueci de colocar alguns mimos para presentear os donos da casa onde passaríamos o final de semana. Levei comigo minhas economias. Achei que seria o momento exato de gastá-las. Maria entrou no quarto, de repente, e fitou-me de cima abaixo. Ironizou, ao perguntar onde seria o baile. Senti-me encabulada e corei de imediato. Ela ainda continuou a brincar, dizendo que, daquela forma, eu iria arrumar pretendentes com muita facilidade. Sorri meio sem graça e falei que, se fosse somente para desfilar ao lado de um homem triste e carrancudo como meu pai, só para mostrar à sociedade que eu era capaz de arrumar marido, preferiria acabar solteirona e comendo bolachas com chá.
  • 38. O SEGREDO DOS GIRASSÓIS O diário de Anna Goldin - 38 - – Minha nossa! Pensei que eu iria poder descansar um dia! Mas, pelo que vejo, vou ter que cuidar de uma solteirona carrancuda - disse Maria, dando uma sonora gargalhada. – Ah, Maria! Jamais me apaixonarei! Somente se o amor for verdadeiro e duradouro. Mas sei que isso será impossível de acontecer, pois a nossa sociedade só visa o materialismo. E, levando em conta a situação financeira atual de minha família, isso será praticamente impossível, pois meu dote não é considerado tão valioso como o de algumas jovens do condado! Também temos que levar em conta outro fato não menos importante. – E qual seria? - perguntou Maria, curiosíssima. – O fato de que a senhora minha madrasta pode ter furtado meu mísero dote antes mesmo de eu ter tido a chance de usá-lo. Dessa vez, nos duas caímos em risos. Mas ela ainda prosseguiu, tentando corrigir o meu pensamento de depreciação para comigo mesma: – Não quero que diga sandices, criança tola. Por certo, um jovem mancebo irá se apaixonar por ti do jeito que é. Não podemos julgar todas as pessoas somente por conhecermos uma. Afinal, os dedos das mãos não têm o mesmo tamanho. – Hummm... E quem seria essa pessoa tão escrupulosa e tão pouco materialista, que vê uma moça pelo que ela é, e não pelo dote que ela possui? E quanto aos dedos das mãos, Maria, eu já os observei. Não são iguais, por certo, mas têm o mesmo tamanho, só estão posicionados de forma diferente. Basta observá-los e verá que estou correta. Ah, Maria, nós fazemos parte de uma grande peça teatral, na qual só mudam os personagens! E o cenário? Às vezes! Mas a história é sempre a mesma. Principalmente para nós, mulheres, que somos nada mais nada menos do que meras marionetes nas mãos dos nossos
  • 39. Adriana Matheus - 39 - senhores. Não existe casamento sem conveniência, Maria. Valemos o dote que possuímos, ou seja, o dote que levamos como bagagem. Ouso dizer que a própria condessa foi uma dessas vítimas. – Agora sei que a senhorita já não está mais em seu juízo perfeito! A senhora Del Prat? Uma vítima? Nunca! – Maria, acha que ela também não foi obrigada por seu pai a casar com um homem viúvo, que ainda trazia de bagagem uma filha nos braços? Pense bem, não deve ter sido fácil para ela, ter que se casar só porque já estava com vinte e oito anos. Temos nossas diferenças, isso é certo. Mas não posso culpá-la por ser como é. Ela é mais uma vítima de nossa sociedade. Já pensou o que é ter que ver seus sonhos sufocados? E se ver aprisionada a uma vida infrutífera e sem volta? Não é a senhora mesma quem disse que, quando os sonhos morrem, morremos com eles? Por isso ela desconta toda a sua ira em mim. E ainda deve, por certo, sentir-se completamente frustrada por não poder ter tido filhos. Até agora, com quarenta e oito anos, isso deve ser horrível! Imagine só como a sociedade em que ela vive cobra dela o tempo inteiro. Todos nós temos problemas. Os delas são ainda piores que os meus. Acredite! – A senhorita está completamente certa. Mas isso não quer dizer que ela deva sair por aí, pisando nas pessoas menos favorecidas. – Concordo com a senhora! Mas não somos ninguém para julgá-la. Ela foi criada com tudo do bom e do melhor, nunca soube o que é sequer trocar a própria roupa. Ela foi mimada em demasia. Tornou-se prepotente, ou quer que a vejamos assim. Já a flagrei muitas vezes, depois de suas festas, fitando o horizonte, visando sabe-se lá Deus o quê! Ela, de fato, não ama meu pai, mas ainda prefere ficar com ele a voltar para sua casa na Alemanha. Imagine o que diriam de uma mulher,
  • 40. O SEGREDO DOS GIRASSÓIS O diário de Anna Goldin - 40 - com o título de nobreza que ela possui, se alguém soubesse que ela saiu da casa de seu marido? Não a veriam com respeito. E o que ainda é pior, não se casaria novamente, principalmente por não poder dar futuros herdeiros. Tenho certeza de que a severidade do conde, seu pai, e ainda as cobranças da sociedade repressora são piores do que os apertos e a solidão que tem passado aqui. Ou a senhora acha que uma pessoa como ela não é solitária? – Por certo tem razão, minha querida e doce Anna, mas não consigo entender como consegue achar qualidades em pessoas como essa senhora. – Não é questão apenas de ver qualidades nela; é questão de entendê-la, como mulher e como ser humano. E ela só é maldosa porque é revoltada. Prefiro ver as pessoas por outro ângulo. Caso assim não fizesse, odiaria mais gente do que a quantidade de cabelos que tenho em minha cabeça. Não me importo com o que ela faz comigo. Vai ver ela está certa, nunca encontrarei um bom homem para mim. – Pois lhe digo que isso acontecerá em breve, e rezo para que Deus lhe perdoe pelo passo que terá que dar. Sinto não poder interferir em seu destino, minha filha. Pois, caso pudesse, garanto-lhe que ele seria muito mais ameno do que o previsto. E agora pare com suas ideias mirabolantes e inocentes a respeito do ser humano. Para mim, pessoas más escolhem ser como são. E saiu, olhando os dedos das mãos. – Por que, Maria? - gritei. Viu isso em suas cartas de tarô? Estiquei meu pescoço, tentando achar sua face. Quando ela se virou abruptamente para mim, notei profunda tristeza em seu olhar. – Por que nunca me responde a essa pergunta tão simples? - indaguei insistente.
  • 41. Adriana Matheus - 41 - – Talvez porque esta resposta seja simples demais, e só possa ser respondida pela senhorita! Lembre-se: todas as respostas estão dentro da gente. Agora chega de conversa e siga- me, pois vamos acabar nos atrasando. Segui-a, em silêncio e cheia de controvérsias mentais. Se todas as respostas estavam dentro de nós, por que sempre errávamos em nossos julgamentos? Ao descermos a escadaria, Maria foi até a cozinha para dar as ordenanças finais à criadagem. Fiquei entre os dois últimos degraus, observando tudo à minha volta. A mobília, embora fosse muito cara e exuberante, era de extremo exagero e de um mau gosto imperdoável. Observei tudo a meu redor e fechei os olhos para me lembrar até dos mínimos detalhes. Estranhas a sensação de perda e a saudade antecipada que tomaram conta de mim naquele momento. Era como se eu não fosse mais ver aquilo tudo de novo. Senti medo e tristeza. Minha madrasta observava-me do alto da escada. Ela era como uma sombra constante em minha vida. Às vezes, tinha a impressão de tê-la em frente a mim enquanto dormia. Não resistindo, ela disse algo para me ofender. – Desse jeito voltará casada, com um plebeu. Aliás, é bem o seu tipo. Nunca se parecerá comigo, não conseguirá um bom partido e jamais terá um homem a seus pés. Acha mesmo que pode copiar-me? Criança tola! Não tente, não sou sua mãe, nunca quis ser. Não vê que sou a mulher do seu pai, e que ele já a esqueceu há muito tempo? O seu reinado acabou, minha querida - se é que um dia existiu! A condessa disse essas coisas enquanto descia a escada, cambaleando. Dessa vez, excedeu-se em sua soberba, arrogância e presunção. E a maneira com a qual falava a respeito de meu pai ferveu meu sangue. Mas Deus me deu forças para não perder a paciência. Levei em consideração que ela não estava sóbria
  • 42. O SEGREDO DOS GIRASSÓIS O diário de Anna Goldin - 42 - naquele momento. Na verdade, senti pena dela. O cheiro da bebida era tão forte que me tonteou, devido à pouca distância que ela fez questão de manter para me assustar - o que conseguiu. Em seus olhos, percebi um ódio aterrorizante. Fiquei tão nervosa e indignada – e, ao mesmo tempo, assustada -, pois não sabia o porquê de ela realmente me odiar tanto. Eu sabia que eu poderia ter respondido à altura. Mas não o fiz. Desvencilhei-me dela o mais rápido possível, e saí porta afora, às pressas. Pude, ainda, ouvir seus gritos histéricos e rompantes pelo lado de fora. – Vê se arruma um plebeu, velho, gordo e fedido por lá e suma com ele para bem longe das minhas vistas. Assim, vai poupar-me o trabalho de ter que eu mesma despachá-la para o inferno! Ergui minha a cabeça e fui até o jardim, onde estava nosso jardineiro Joseph. Aproximei-me dele e abaixei-me para cumprimentá-lo melhor. Eu estava tremendo tanto que ele, parecendo ter percebido, mas também não querendo deixar transparecer para que eu não ficasse ainda mais constrangida, cortou um botão de rosas com um gesto de delicadeza, dando- me em seguida. Por fim, disse, ainda de cabeça baixa: – Uma rosa para uma linda flor! Sabe, senhorita, a patroa ladra mas não morde. No fundo, ela sente tanto medo da senhorita quanto a senhorita dela. Sorri em agradecimento e aproximei-me, inclinando-me e segurando sua cabeça com as mãos para lhe dar um beijo na testa. Na verdade, eu compreendia o que ele estava tentando me dizer. Imagine só: minha madrasta com medo de mim! Embora parecesse hilário, era a mais pura verdade. Só que, naquele momento, eu só conseguia ver o medo que eu sentia dela. Joseph era um velhinho simpático e muito agradável. Quando eu era criança, sempre me contava histórias e contos
  • 43. Adriana Matheus - 43 - folclóricos sobre o povo cigano, e era fantástico ouvi-lo. Levantei-me para olhar ao redor e admirar o esplendor do magnífico jardim. Eram tantas flores! Rosas de todas as cores e tamanhos, margaridas, gerânios, florzinhas do campo, violetas, dálias, cravos, jasmins, orquídeas, papoulas, plantas ornamentais... Tudo aquilo tinha cheiro de amor e fazia-me muito bem. Toda aquela beleza misturava-se ao perfume da hortelã, da alfazema e do alecrim. A condessa tentou fazer com que meu pai acabasse com o jardim por várias vezes. Mas ele sempre ficou em cima do muro e nunca deu uma resposta positiva a ela. Aliás, seria novidade se ele fosse negativo a alguma coisa relacionada a ela. Para essa questão, ele apenas disse que iria pensar. Minha madrasta continuou insistindo com esse assunto por muito tempo. Mas, depois de nunca ouvir um sim conclusivo, acabou desistindo por certo tempo. Quando se casou, trouxe consigo toda uma decoração pavorosa, inclusive as estatuetas monstruosas e sem nexo que passaram a decorar o belo jardim da minha família. O pior é que ela as fixou no centro, próximo à janela do meu quarto. Lembro- me de quando eu era pequena: ao escurecer, sempre que olhava pela janela, tapava os olhos com as mãozinhas, pois me davam muito medo. Elas eram como pessoas decepadas e, na minha mente frutífera e infantil, mexiam-se e pareciam estar caminhado em minha direção. Eu corria para debaixo das cobertas, deixando de fora somente o pequenino nariz para respirar. Eu suava e tremia tanto que, quando Maria vinha dar- me boa noite, tinha que trocar minhas roupinhas molhadas. Ela sempre me acalentava com suas cantigas de ninar, na tentativa de me acalentar até que eu dormisse. O cavalariço Sr. Lorenzo aproximou-se de mim por trás, assustando-me.
  • 44. O SEGREDO DOS GIRASSÓIS O diário de Anna Goldin - 44 - – Calma, senhorita Anna! Só vim saber se está tudo bem, pois ouvi quando a Senhora Del Prat estava a gritar com a senhorita exasperadamente. Ela fez algum mal à senhorita? – Não, Sr. Lorenzo, ela apenas ladrou um pouco além da conta. Foi só, juro! Ele pareceu não crer; então reforcei, olhando em seus olhos. – Sim. Está tudo bem. Deve ser a astenia causada pela ausência de meu pai, ou o excesso de licor de jenipapo. – Ah, por certo a Senhora deve estar precisando de uns calmantes em dosagem maior. – Oh, não diga isso! Não se pode misturar calmantes a licores. Começamos a dar gargalhadas. Lorenzo conseguiu descontrair-me, afinal. Maria veio em seguida e disse: – Imagine só, esses criados jovens não fazem nada direito! – Maria, Maria! Não estaria sendo a senhora exigente demais com os pobres coitados? Não está tentando tirar o lugar da senhora Del Prat, está? Maria fez-me um ar de desaprovação pelo meu comentário esdrúxulo. Lorenzo já havia colocado nossas bagagens na carruagem. Abriu-nos a porta para entrarmos. Seguimos, então, nosso caminho em direção ao enorme portão verde musgo, com pontas em formato de lança e pintadas em dourado. O enorme brasão da família Del Prat estava logo à frente. A passarela toda, de pedras grandes e polidas pelo passar dos anos, dava à entrada um ar de realeza. Pude ver a estufa onde Joseph cultivava as mudas; era logo na lateral do jardim. Quatro bancos foram colocados no decorrer do caminho, dois de cada lado.
  • 45. Adriana Matheus - 45 - Um escravo veio abrir o portão. E, pela primeira vez, senti-me em liberdade, longe daqueles muros de medo e tristeza. Suspirei aliviada. Mas era estranho, pois a sensação de que nunca mais veria tudo aquilo novamente não me largava. Minha sombra olhava-nos às escondidas, por trás das cortinas da grande janela de vidro da sala de estar. Parecia uma ave de rapina. O que será que se passava naquela cabeça louca e cheia de luxúria? Sacudi minha cabeça, rindo comigo mesma. Maria pareceu ler os meus pensamentos - aliás, ela era a minha sombra mental e era constrangedor, às vezes, ter os pensamentos invadidos. Como que em um impulso, Maria disse: – Pare de criar caraminholas nessa cabecinha, menina! Dei de ombros, virando o rosto para o outro lado, mas percebi que ela também sorria. Maria era uma mulher muito perspicaz e, por isso, achei melhor centralizar meus pensamentos na paisagem ao meu redor. As ruazinhas eram estreitas e encantadoras, com suas belas e elegantes casas, todas decoradas com jardins repletos de flores, pois era a moda trazida da Europa. As árvores frondosas, que cercavam de um lado a outro as calçadas, pareciam ter sido colocadas ali naquele momento, só para passarmos numa passarela harmoniosa. Muitas pessoas afoitas já transitavam para lá e para cá. Senhoritas pareciam ocupadíssimas em desfilar seus modelitos muito comportados e elegantes, num flerte compulsivo para atrair a atenção dos cavaleiros, que desfilavam na outra calçada. Afinal, ficar solteira poderia se tornar uma coisa escandalosa e dispendiosa para os pais. Estes juntavam dinheiro durante toda a vida para que suas filhas não se casassem sem um dote adequado. Moçoilas em época de se casar só frequentam bailes em companhia de suas aias ou de seus pais. Jamais sozinhas, por
  • 46. O SEGREDO DOS GIRASSÓIS O diário de Anna Goldin - 46 - medo dos mexericos. Sendo que a irmã mais velha é quem deveria se casar primeiro, e a irmã mais nova, caso houvesse uma, tinha que ficar cuidando da mãe. Se o namoro firmasse, deveria durar um ano na sala da moça, que tinha que estar acompanhada de seus pais e outras pessoas. Então, o próximo passo seria o noivado, que deveria durar apenas o tempo de o enxoval ficar pronto - isso queria dizer na semana seguinte, pois a maioria das mães fazia o enxoval das filhas assim que as meninas nasciam. Claro que as jovens enamoradas também tinham que bordar grande parte do enxoval, logo que estivessem em fase casadoura. As meninas já estavam prontas para o casamento a partir dos doze anos, caso fossem nobres, e a partir dos quatorze a dezoito anos, caso não tivessem título de nobreza. Isso significava que eu estava passando do tempo de arrumar um marido. Todos procuravam um bom partido para suas filhas. Não se importavam com os sentimentos delas. Na esperança de um futuro seguro, o amor era o de menor valor. Isso não era o que eu queria para mim. Sempre me esquivei de senhores mais velhos. Certa vez, em um jantar de que fui obrigada a participar em minha casa, meu pai apresentou-me a um fidalgo com o triplo de minha idade, sendo que eu tinha dezesseis anos nessa época. O velhote rodeou-me a noite toda e não consegui desvencilhar-me dele. O cheiro da bebida misturou-se ao cheiro da roupa velha, que devia ter estado guardada desde o século XV. Isso era nauseante! Suas mãos eram oferecidas demais. O único jeito foi dizer que estava me sentindo muito mal. Com certeza, era mais uma que a condessa havia aprontado para se livrar de mim, pois pude vê-la com seu olhar de deboche às escondidas. Mas, graças a Deus, a falsa dor de cabeça que forjei salvou-me mais uma vez. E, nesse dia, apertei os olhos ao passar
  • 47. Adriana Matheus - 47 - na direção da condessa, constatando a minha vitória - o que causou uma torcida em seu leque de estimação. Voltei a observar a paisagem de Salamanca, enquanto Lorenzo contornava a praça central. Então, pude ver a linda fonte de águas no meio da praça. Depois de algumas horas, chegamos ao nosso primeiro destino. Paramos à frente de uma enorme mansão cor-de-rosa. Era a mansão e o ateliê de madame Hortência Vigald. Ela era uma senhora rechonchuda, de olhos grandes e amendoados. Seus seios eram fartos e salientavam-se por cima de suas vestes, repletas de rendas e outras mesuras. Para completar o visual exótico, ela ainda usava uma peruca loura cheia de cachinhos. Isso a fazia parecer uma boneca de trapo mal feita e assustadora de se ver à noite, sentada em uma cadeira no escuro. Ao ver-me, sempre me abraçava fortemente e melava-me com seus beijos babentos. Como era difícil ser uma jovem educada e de boa índole, meu Deus! Tinha vontade de sair correndo. Às vezes, tinha a impressão de que ela poderia me morder com aqueles dentes enormes e escurecidos pelo tempo. Mas também poderia correr o risco de ser engolida por aqueles lábios extremamente grandes e lambuzados de açúcar, pela quantidade diária de doces degustados. Ao chegarmos, ela estava de pé à soleira da porta, comendo uma brevidade. Ao ver- nos, correu em nossa direção, dizendo: – Oh, querida, como está linda! E cada vez mais parecida com Elizabeth! Veio ver alguns modelitos para si, meu bem? – Não - salvou-me Maria. Viemos buscar a encomenda da Senhora Del Prat. Estávamos partindo de viagem e, como não teremos tempo de buscá-la na volta, levaremos desde já a encomenda conosco.
  • 48. O SEGREDO DOS GIRASSÓIS O diário de Anna Goldin - 48 - – Oh, entrem! Pedirei a Gülia que lhes busque a encomenda. Sentemos, por favor! Aceitam uma xícara de chá com biscoitos? Façam-me companhia, queridas, nunca recebo visitas para o chá! Até parece, pensei comigo. Todas as clientes que por ali aparecessem por certo seriam motivo para madame Hortência tomar chá com biscoito - o que explicava sua forma rechonchuda. – Não, senhora! Estamos com muita pressa e, além do mais, já fizemos nosso desjejum matinal. – Oh, ficarei um tanto ofendida! Sabe como gosto da menina, embora quase não a tenha visto ultimamente. Por fim, aceitamos uma xícara chá para que ela não tivesse uma síncope. – Então, querida, como está seu pai? Já retornou de viagem? – Não, ainda não. E já fez um mês hoje. Confesso que estou bastante preocupada com a ausência de notícias por parte dele. Isso anda me tirando o sono. – Não diga! Mas com certeza não aconteceu nada de grave com Sir Juan. Nisso eu aposto! Sabes como são os homens... Fique despreocupada, querida! Noticia ruim corre rápido. Ele é mesmo um homem lindo! - suspirou ela. Um verdadeiro colírio para os meus olhinhos cansados! Se não fosse casado... e se eu tivesse um pouquinho menos de idade, candidatar-me-ia como sua madrasta! Uma madrasta boazinha, é claro! - fez esse comentário sorvendo, em seguida, um gole de chá. Por certo, ela teria que ter muito menos idade mesmo. Ela usava termos antigos, como se ainda estivesse no século XV, e forçava um falso francês. Na verdade, seus vestidos eram cópias exatas de luxo da moda francesa. Suas costureiras, sim,
  • 49. Adriana Matheus - 49 - eram as verdadeiras artistas, pois madame Hortência nunca sequer colocou suas mãos em uma agulha para coser. Eu e Maria nos entreolhamos, contendo uma sonora gargalhada. – Ah, mas aposto que existe algum jovem mancebo para consolar essa ausência! Olhei novamente para Maria, em busca de socorro. E suspirei quando pude ver que Gülia entrava, trazendo um enorme pacote nas mãos, que foi direto para as mãos do lacaio. Este o entregou para Lorenzo, que nos aguardava pacientemente do lado de fora. Todo aquele movimento foi um alívio, pois me salvou de ter que responder às tolas interrogações de madame Hortência. Embora eu não tivesse uma vida social ativa, Madame Hortência fazia-me parecer que eu levava uma vida agitada e pública, pois eu sempre tinha a obrigação de ter algo para contar a ela. Maria, percebendo meu constrangimento, apressou-a, dizendo que realmente precisávamos ir. Ufa, graças a Deus!, pensei comigo. – Porque não escolhe um dos modelitos? – insistiu, ainda, na saída. – Tenho tantos que acabaria tendo que dividir meu pouco espaço com eles! – Entendo... Mas realmente sei que não precisa do brilho das lantejoulas e paetês para ser feliz. Tem o seu próprio brilho, e isso é nato. Disse isso num tom engraçado e baixo. Rimos todas ao mesmo tempo, pois nos lembramos de que, certa vez, a senhora Del Prat encomendou um vestido tão espalhafatoso e reluzente que mal dava para ver suas caríssimas joias penduradas ao pescoço. Foi uma noite difícil aquela, pois minha madrasta chamou mais atenção do que a noiva ou a própria rainha.
  • 50. O SEGREDO DOS GIRASSÓIS O diário de Anna Goldin - 50 - A noiva era uma pupila de muita estima de Sua Majestade. Por isso, esta fez questão de estar presente entre os convivas. A condessa só foi convidada por causa de seu titulo de nobreza, mas tinha que aparecer a todo custo. A rainha, ao vê-la, disfarçava e educadamente esquivava-se a cada proximidade da Deusa do sol. Naquele dia, minha madrasta superou-se em seus exageros. Doía a vista de todos ao olhar para aquela figura brilhante. Meu pai e eu ficamos em um canto distante dela, é claro. Percebi seu constrangimento mediante tantos sussurros zombeteiros. Já dentro da carruagem, não sabíamos se ríamos das lembranças reluzentes da condessa ou se nos deliciávamos dos fuxicos de Madame Hortência. O dia estava lindo e o sol resolveu dar o ar de sua graça naquela fria manhã de outono. Ao pegarmos a estrada, contemplávamos a paisagem magnífica. Eu estava encantada com tantas novidades que vinham surgindo à beira do caminho. Conversamos muito sobre coisas banais do dia-a-dia. Não tocamos em assuntos que não nos eram convenientes ao espírito. Durante todo o trajeto, cantarolamos canções ciganas e ríamos por qualquer coisa. Maria fez de tudo para que eu me desligasse dos problemas corriqueiros e domésticos. Depois de uma rápida parada para nos refrescar à beira de uma velha mina d’água, comemos o delicioso lanche que Maria havia trazido em uma cesta. E seguimos a nossa longa jornada pela empoeirada estrada do norte da Espanha. Afinal, pela altura do sol, já devia ser meio dia. Dentro da carruagem, adormeci profundamente, encostada aos ombros de Maria. Só despertei quando a carruagem passou por uma pedra saliente. Maria bateu no teto e gritou para que o cocheiro tomasse mais cuidado. Depois daquele susto, perguntei se já havíamos chegado.
  • 51. Adriana Matheus - 51 - – Quase! - respondeu-me Maria - Continue a dormir! – prosseguiu, com um tom na voz que mais parecia um bocejo. Não conseguia dormir mais e comecei a olhar as folhas das árvores caídas ao chão, formando uma espécie de tapete celestial. Casinhas de colonos ao longe, muitos gados a pastar. O cheiro do mato e o silêncio ensurdecedor fizeram-me adormecer novamente. Uma voz ao longe parecia chamar-me Anna, Anna! Sinto sua falta... Encontre-me, por favor! Meus olhos foram ficando cada vez mais pesados e, por fim, caí no abismo dos sonhos. Sonhei que estava em um mosteiro, todo feito em pedras calcárias de cor escura. O lugar mais parecia uma ruína. Havia um enorme jardim, totalmente abandonado, onde só os girassóis sobreviviam. Muitos monges trabalhavam nas plantações, tentando salvar o pouco que lhes restava da seca, que era eminente. Outros cuidavam dos animais magros e doentes. Alguns, ainda, varriam incessantemente o patíbulo, cuja terra havia invadido todo o mosteiro. Aquilo me pareceu mais um ato de loucura coletiva. Ao longe, ouvi um coro com música gregoriana - misturada às orações, pareciam lamentos e suplícios. No patíbulo do mosteiro, logo na entrada, havia um monge, que me olhava de um jeito hostil, quase humilhante. Parecia ser uma espécie de abade. Ele era sério, atarracado, baixo e corcunda. Sua pele era avermelhada, manchada e descamada por causa do mau tempo. O que o diferenciava dos demais monges era apenas uma enorme cruz na frente de suas vestes, encardidas e rasgadas. Algumas freiras circulavam de um lado para o outro, como que hipnotizadas. Vi-me descer de uma carruagem, e seguraram meus finos braços, empurrando-me aos safanões para dentro do mosteiro. Tentei fugir, mas as mãos que me seguravam eram fortes e severas. Eu olhava para trás, tentando pedir socorro à Maria. Ela nada parecia poder fazer. As
  • 52. O SEGREDO DOS GIRASSÓIS O diário de Anna Goldin - 52 - lágrimas desciam incessantes dos olhos de minha amada amiga, que ficava cada vez mais para trás. Tentei fugir inutilmente. Gritei por socorro e deixei o pranto rolar. Chamei por Maria, até que a vi cair por terra, como que sem forças. Meu corpo tremia. O desespero tomou conta de mim, por saber que estava ficando longe de meus familiares. Tentei agarrar-me onde dava. Todos ao redor olhavam-me e viravam seus rostos, numa repulsa sem explicação. Uma jovem freira ainda tentou desgrudar-me daqueles braços e mãos, mas outras a puxaram e só ouvi dizerem-me para ter fé. Outra freira, bem mais velha, veio receber-nos à porta do convento. Era uma senhora carrancuda e com ares de perversidade. Provavelmente, a madre superiora. Sua expressão de algoz conseguiu gelar minha alma. Mandou-me calar a boca aos berros, advertindo-me que ali não era lugar para toda aquela histeria. Por fim, levaram-me para dentro, forçosamente. Virei para trás, dando uma última olhada para meu pai, que ficou na entrada, conversando com a suposta madre. Deixaram-me só, em um corredor onde havia um enorme banco, uma mesa, uma cadeira e um armário antigo, onde pareciam guardar arquivos e documentos. A sala era escura e não tinha sequer um vaso de plantas. De repente, ouvi um barulho e a porta se abriu. Estremeci como vara de bambu ao vento. Mas, ao contrário de quem pensei que fosse, entrou um monge de hábito marrom e cabeça baixa e encapuzada. Aproximou-se de mim lentamente, ajoelhou-se e fitou-me os olhos. Seus olhos eram cor de mel, sua pele, muito branca, e seu rosto angelical escondia-se por trás de uma fina e rala barba ruiva. Aqueles olhos meigos passaram-me segurança e calor. Abaixou o capuz, esticando para mim suas brancas mãos. Seus
  • 53. Adriana Matheus - 53 - dedos eram logos e finos; sua pele tinha uma maciez que arrepiou todo o meu corpo. Sua proximidade era tamanha que pude ver as pequenas sardas por baixo dos pelos ruivos de seus braços. Embora a barba estivesse por fazer, ela lhe dava um ar de intelecto. Seus traços eram finos e ele mais parecia um Lorde. E, por certo, era de origem inglesa ou holandesa. Fiquei gelada e catatônica, e cheguei a pensar ser um dos loucos que havia visto ao chegar. Mas ele me passou tanta paz e tranquilidade ao pegar novamente em minhas mãos, trêmulas e geladas, que novamente acalmei. Então, disse simplesmente: – Estou à sua espera há tanto tempo, Anna. Perdoe-me por tê-la deixado! Nunca mais nos separaremos, prometo! De repente, num piscar de olhos, estávamos sem mais nem menos em um despenhadeiro, onde se via todo o mar da Espanha, lindo e de um azul inigualável! A areia, muito branca, completava aquela paisagem. O vento soprava forte, como se estivesse me dizendo algo que eu não consegui decifrar naquele momento. Podia sentir o cheiro da maresia nas minhas narinas. Fiquei muito agoniada com aquela sensação. Meus cabelos estavam soltos e voavam com as minhas vestes, toda em algodão fino e transparente. Ele segurou minhas mãos, e comecei a me sentir segura e feliz novamente, como nunca havia sentido antes em toda a minha vida. O vento era forte demais e frio. A estranha sensação voltou. Comecei a tentar desesperadamente soltar minhas mãos das dele. O cheiro da maresia foi se transformando em cheiro de medo. Por fim, o monge soltou minhas mãos e senti seus dedos desprendendo-se dos meus. Caminhou em direção ao despenhadeiro. Meu coração disparava ao ver a agonia em seus olhos. O brilho daquele olhar feliz transformou-se em súplicas. O musgo
  • 54. O SEGREDO DOS GIRASSÓIS O diário de Anna Goldin - 54 - viçoso daquele olhar agora era nada mais do que escuridão. De repente, a escuridão tomou conta de tudo ao meu redor e vozes tenebrosas cercaram-me. Ele me deu um sorriso triste, com os lábios fechados. Virou-se de costas, caindo no despenhadeiro, gritando o meu nome num apelo desesperado. Seu corpo caiu nos rochedos e o mar revolto ficou batendo nele, já sem vida. Gritei como louca e percebi que eu não estava mais ali, que era só mais um sonho. Vozes chamavam-me, misturando-se ao barulho das ondas. Tudo começou a virar fumaça e acordei suada e chorando muito, com Maria ao meu lado, chamando-me: – O que houve, filha? - perguntou Maria, passando as mãos no meu rosto, tentando enxugar as lágrimas que ainda desciam como fonte de tristeza. Entre soluços, disse-lhe: – Sonhei com o monge novamente, Maria, aquele dos meus sonhos de criança! Já fazia tanto tempo que não sonhava mais com ele! O engraçado é que sempre sei que estou sonhando, sei que a qualquer momento irei acordar. Às vezes chego a ouvir meus suspiros dormindo, e até vejo meu corpo em seu estado de repouso. Por que isso está acontecendo comigo de novo, Maria? Ele se matou? Pois o vi caindo no mar! Não consigo entender o que realmente houve com ele. Tentei salvá- lo, mas já era tarde demais, juro! Ele se foi muito rápido. Quem é ele, Maria? Por que esses sonhos incessantes? Maria aproximou minha cabeça do peito, na tentativa de me acalentar, pois eu já não conseguia falar. Apenas soluçava. – Calma, querida, vamos resolver tudo isso hoje. Minha irmã Helena saberá ajudá-la. Não existe pessoa melhor neste mundo que entenda mais sobre este assunto do que ela. Olhei-a, espantada. – Pensei que fosse a senhora a entender desses assuntos?
  • 55. Adriana Matheus - 55 - – Não. Abandonei o meu povo e agora não faço nada mais além de por cartas e fazer meus chás. Agora enxugue essas lágrimas. Chegamos ao nosso destino. Devemos nos preparar para descer com discrição. Afinal, não queremos que ninguém veja seus olhos inchados. Ou vai querer que pensem coisas de uma mocinha tão fina? Embora soubesse que Maria só estava ironizando, não me incomodava nem um pouco com o que os outros pensariam de mim. Só queria uma explicação plausível para tudo o que estava acontecendo comigo. Queria que aqueles sonhos parassem logo e que eu pudesse dormir tranquilamente alguma vez na vida. Eram seis horas da tarde quando paramos em frente a uma casa grande, toda feita de pedras escuras, com portinholas duplas e largas de madeira, pintadas com tinta azul envelhecida e desgastadas pelo tempo. Abriam-se de cima para baixo. Suas janelas eram estreitas e muito altas, dando a impressão de ser uma igreja. Alguns cipós teimavam em subir por toda a parede do lado de fora, dando a ela um ar de casa medieval. Observei várias mulheres colocando suas roupas - muito alvas - nos grandes varais que estavam na lateral. Outras trabalhavam em fiares e, ainda, teciam tapeçarias. Crianças corriam e gritavam como loucas, brincando umas com as outras, sujando-se de terra e de barro, sem ninguém para lhes privar a liberdade. Todos estavam tão ocupados em seus afazeres que não deram a menor importância para a nossa chegada. Avistei um celeiro a uns cem metros, onde deveriam guardar seus cavalos e outros animais de grande porte. Um pouco mais ao longe, via-se um moinho d’água - com sua enorme pá girando sem parar – e, do outro lado, havia uma mata fechada, que parecia guardar todos os segredos daquele povo misterioso.
  • 56. O SEGREDO DOS GIRASSÓIS O diário de Anna Goldin - 56 - Animais domésticos circulavam por toda parte. Árvores frondosas e gigantescas cercavam toda a casa. A mata, constituída por cedros, pinheiros, oliveiras e árvores frutíferas, formava uma cerca viva. Por isso, não dava para vê-la ao longe ou mesmo da parte mais próxima da estrada. A própria floresta era o muro que guardava toda aquela beleza e simplicidade. Senti no ar uma grande manifestação de bondade e respeito em todos à minha volta, embora não tivessem manifestado seu interesse por nós. A energia era tão viva que quase podíamos tocá-la. As flores do campo cercavam toda a casa. Um beiral de pedras, feito pelos moradores da floresta, cercava um canteiro com ervas para chá, muito bem cuidado. O lugar era mesmo mágico, pois uma enorme paz tomou conta de mim assim que pisei lá. A terra era fértil e viam-se seus frutos. E muitos gatos circulavam por todo o lugar. Fomos recebidas por uma senhora grisalha e uma jovem muito bonita, aparentando ter a mesma idade que eu. A senhora era a irmã de Maria, e a moçoila era sua sobrinha. Vieram correndo, pois fazia muito tempo que não se viam. Abraçaram-se com um calor fraternal. – Seja muito bem vinda à nossa humilde floresta!- disse Dona Helena, olhando em minha direção. A mocinha apresentou-se, esticando a mão e dizendo: – Meu nome é Bernadete e aquela, como já sabe, é Helena, minha tia. Sou filha de Dolores e Guiñllo, mas tia Helena me criou, pois ambos faleceram em um trágico acidente. Não falemos sobre coisas ruins! Venha, entre! Não fique aí em pé, parada. Entre, conheça a casa e minhas outras irmãs. - disse Bernadete, percebendo que eu havia ficado para trás. Ao entrar, apresentou-me à outra senhora com olhar gentil, que estava sovando a massa para os pães na cozinha. Em
  • 57. Adriana Matheus - 57 - seguida, apresentou-me às suas outras duas irmãs: Loylla, a mais jovem, e Emanuelle, a mais velha. – Fique calma! Estou achando-a um tanto tensa. Deixe que meu noivo Magald cuide de suas malas. Aqui ninguém mexe em nada. – Imagine, não pensei nisso! É que estou tendo problemas para dormir. E estou com um pouco de dor de cabeça. – Então venha se refrescar e tomar um chá de camomila com hortelã. Bernadete levou-me para seu quarto, onde me refresquei e também troquei de roupas. Coloquei um vestido simples, de algodão azul, que ela me emprestou, pois meus vestidos não eram adequados para o campo. Trocamos presentes. Dei-lhe uma caixinha de música de cristal e bronze, onde um casal de bailarinos dançava ao som de uma valsa vienense. – Era de minha mãe - disse a ela, estendendo as mãos. – É lindíssima! Mas não sei se posso aceitá-la. – Ficarei muito ofendida se não aceitar. Tenho certeza de que ficará perfeita na mesinha de cabeceira do seu novo quarto! E ela tem um segredo, veja. - mostrei-lhe uma abertura falsa no fundo. Poderá guardar suas economias aqui dentro sem que seu marido perceba. Ela corou e disse: – Se é assim... Abraçou-me e depois seguiu em direção ao criado mudo, de onde tirou um livro, cujas páginas eram de papiro e a capa era de couro, todo trabalhado à mão, com desenhos em relevo. Disse que tinha sido seu avô que lhe havia dado. Foi uma troca que ele fizera com um cigano amigo dele. Ela ainda disse que suas páginas eram mágicas, e como não levava o menor jeito para escrever, gostaria que eu ficasse com ele.
  • 58. O SEGREDO DOS GIRASSÓIS O diário de Anna Goldin - 58 - – Na verdade, meu avô contava essas histórias para eu adormecer. O que eu quero é me casar com Magald o quanto antes, ter muitos filhos, e ser feliz enquanto vivermos. Sabia que Bernadete e seu noivo estavam passando por muitas dificuldades, pois Maria comentou comigo enquanto vínhamos pela estrada. Então, tentei ajudá-los, dando- lhes minhas economias. O obséquio não era muito, mas sei que daria para ajudar na festa de casamento. Bernadete agradeceu- me tanto que me deixou encabulada. Sua vida não era nada fácil, mas, mesmo assim, não poupara esforços para me agradar. Emanuelle, a irmã mais velha de Bernadete, veio nos chamar para o jantar. Apressamo-nos em ir ao encontro de Maria e Helena. A mesa era toda de madeira bruta, e dois enormes bancos a cercavam. Muitas guloseimas nos esperavam. Durante o jantar, Dona Helena olhava demais para mim. Por fim, falou: – Fiquei sabendo do problema que a senhorita tem passado. Olhei para Maria com desaprovação, mas ela continuou. – Não culpe Maria, ela fez o que era certo. Tem um dom lindo, menina! – Tenho o quê? - olhei para Maria, tentando receber uma resposta plausível. – Maria me contou de seus sonhos sequenciais e sobre tudo o que tem passado com sua madrasta. Mas também me falou de sua benevolência e humanidade para com seu próximo. Iremos ajudá-la, sei bem o que deve estar passando. Bernadete deu-me um cutucão com o pé por debaixo da mesa e sorriu, abaixando a cabeça em sinal à nossa cumplicidade no seu quarto. – E o que devo fazer? Quem é esse homem com quem tenho sonhado tão frequentemente?
  • 59. Adriana Matheus - 59 - – Calma, menina! Uma pergunta por vez. Primeiro, tem que aflorar e doutrinar seu dom, Depois, precisa fazer a viagem. – Fazer o quê? Teremos que viajar novamente, Maria? As duas entreolharam-se e riram de mim. Senti-me uma tola e resolvi apenas esperar os resultados e as respostas. Por fim, Helena falou: – Não, criança. A viagem não é como pensa! Nem mesmo sabemos se irá conseguir. Primeiro, farei uma pergunta muito simples. Tem certeza de que quer conhecer esse homem? É isso o que realmente quer? Pois não terá volta. E pode não voltar bem da viagem... O que é ainda pior: pode não querer retornar ao seu corpo físico; ficará desacordada e correrá risco de vida. – Sim. É o que mais quero na vida. Não tenho dúvida se isso for me dar as respostas de que preciso. As duas entreolharam-se por instantes, concordando entre si. – Ótimo, então não temos muito tempo a perder, por causa da curta estadia da senhorita aqui. Amanhã bem cedo começaremos com os preparativos - disse Dona Helena. – Como assim? A senhora o conhece? Ele mora por aqui? Quem é ele? Por favor, eu suplico, digam-me quem ele é! - foi inevitável, embora eu tivesse prometido a mim mesma calar a boca! – Acalme-se, senhorita Anna! Uma pergunta por vez. Precisa saber que, embora não tenha a mínima ideia do que está acontecendo, essas repostas só poderão ser dadas pelo seu coração. Com certeza estão todas aí dentro. Todas as dúvidas, todas as ansiedades, só a senhorita tem a resposta. E, com paciência, na hora certa saberá responder, podendo até nos esclarecer também. Por certo, ele deve ter sido alguém muito importante para a senhorita. Tem alguma coisa que ainda está
  • 60. O SEGREDO DOS GIRASSÓIS O diário de Anna Goldin - 60 - pendente; esse espírito ainda continua interligado à senhorita. Pode ser que ele esteja encarnado ou não. – Então isso significa que ele está morto? – Não, de forma alguma. Estou tentando lhe dizer que essa pessoa fez parte do seu passado, de outra vida. Mas também pode estar encarnado nesta vida. Resta saber se a senhorita terá estrutura para encontrá-lo. Ele pode ter vindo de diversas formas, pode muito bem ser um parente muito próximo. Quando falamos em espíritos, necessariamente ele não precisa estar desencarnado. A senhorita também é um espírito. Porém, está encarnada. Sei que é muito difícil, no início, tentar aprender sobre as coisas que lhe foram ocultadas a vida toda. Principalmente tendo a senhorita vindo de uma família tão tradicional e rígida quanto a esses assuntos. Mas acredite: mesmo para nós, que nascemos e seguimos a tradição a fio, ficamos confusas no início. É muita informação e, no seu caso, muito pouco tempo também. Tenha calma, é só o que pediremos. Confie em nós e nas forças da natureza. Tentaremos fazer o que for melhor para ajudá-la. Largue a ansiedade de lado, pois ela é sua inimiga. Apague essas interrogações da sua cabeça. Aprenda a rezar - não as rezas tradicionais, mas as que o seu coração lhe ensina. Confie em si e em Deus que tudo lhe será respondido ao seu devido tempo. Fiquei calada o restante do jantar, observando-as conversar por entre lábios. Não estava com medo, mas muito curiosa. Eu e Bernadete sentamos perto da lareira, na sala, pois a noite estava fria. Maria e Helena passaram o resto da noite cochichando. Não consegui ouvir uma só palavra do que Bernadete estava me falando, pois fiquei o tempo todo de orelhas em pé, tentando ouvir o que as duas irmãs estavam falando, e se era sobre mim.
  • 61. Adriana Matheus - 61 - Às oito e meia, eu e Bernadete fomos nos deitar, pois, por algum motivo, tínhamos que acordar cedo. No quarto, conversamos muito. Contou-me como conheceu Magald. Era adorável ouvi-la, pois fazia o amor parecer uma coisa muito simples. – Quando eu encontrar alguém, desejo que esse amor seja para sempre, por toda a eternidade. Ela disse, exasperada: – Não diga isso nunca! - foi como se eu tivesse dito algo muito abominável. – Por quê? – perguntei, curiosa. – Porque o amor é livre. Não podemos prender um espírito encarnado ou desencarnado. Esse tipo de jura ou atitude inconsequente e egoísta pode perseguir o espírito por toda a sua vida, e até por várias outras encarnações. Anna, o espírito jurado pode passar a vida procurando um amor e nunca encontrá-lo. E o que fez a jura pode nunca mais conseguir ter sossego. Até que, por si, comece a aceitar a ajuda dos irmãos desencarnados espíritos de luz. Mas isso pode levar muito tempo, Anna, até séculos! Quando meu espírito desencarnar, quero que Magald seja muito feliz, que encontre uma boa mulher que o ajude em sua jornada terrena. O amor é liberdade, Anna... o amor é liberdade! Se conseguir fazer a viagem, voltará com novos pensamentos. Agora durma, pois teremos um dia bem agitado amanhã. – Então, pretende esquecer Magald? Virou-se brava para mim. – Nunca nos esqueceremos, pois nos encontraremos em outras encarnações, e nossas lembranças sempre nos acompanharão, pois temos a obrigação de nos lembrar de nosso passado. Só que, na maioria das vezes, somos tão egoístas e estamos tão preocupados com nossas vidas terrenas
  • 62. O SEGREDO DOS GIRASSÓIS O diário de Anna Goldin - 62 - que não ouvimos os irmãos desencarnados nos falarem e nos darem bons conselhos. Caímos, então, nas garras dos afins e, antes que me pergunte quem são os afins, eles são espíritos sem luz. Podemos ser orientados por espírito bons ou maus - depende muito da nossa sintonia espiritual. É a lei do universo. Viemos a esta vida para aprender e praticar o bem comum. Não é fácil, mas cada um deve aprender ou, pelo menos, tentar fazê- lo. – Como podemos ajudar? – Dando bons conselhos, livrando uma pessoa de se prejudicar. Não é importante a quantidade de vezes que praticamos o bem, mas a qualidade com que praticamos. Ou seja, devemos sempre saber a forma como nos dirigir à pessoa em questão, para não ofendermos ou invadirmos o espaço físico e mental dessa pessoa. É muito importante deixar as pessoas à vontade e, principalmente, não devemos convencê-las de tomar o caminho que muitas vezes só é melhor para nós – mas, sim, elas devem seguir o caminho que lhes for indicado por Deus. Essa é a diferença entra uma bruxa e uma feiticeira. Nós estudamos o universo e aprendemos a usar sua força em prol da humanidade, enquanto as feiticeiras usam essas mesmas forças de maneira mercenária e leviana para prejudicar inocentes. Vivemos em um mundo muito atrasado e cruel, mas estamos aqui como aprendizes temporários. Devemos aproveitar nossa estadia para crescermos espiritualmente. Lógico que tudo isso deve ser feito com ponderação e muito cuidado para não interferir no destino de outra pessoa. Pois, caso contrário, podemos virar de cabeça para baixo a vida de um consulente inocente. Tudo isso é muito bonito, mas muito perigoso. Pense nisso! O poder está em nossas mãos, e cabe a nós sabermos como usá-lo. E existe outra coisa muito importante que a senhorita precisa saber antes de fazer a viagem.