O documento descreve a arte oriental na China e no Japão. A arte dos dois países foi fortemente influenciada pela religião budista e pela cultura chinesa, com o Japão absorvendo estilos e técnicas da China ao longo dos séculos. Arquitetura, escultura e pintura desenvolveram características próprias nos dois países, mas sempre com base nos modelos chineses originais.
3. Arte Oriental
A arte do Extremo Oriente, rica e variada em suas
manifestações, revela, na China e no Japão, estreito
relacionamento com a religião, sendo ao mesmo tempo eco
das numerosas dinastias chinesas e dos guardiães da
cultura (bonzos) japoneses. O vínculo permanente entre
ambos os países determinou a influência do primeiro sobre
o segundo, desde os séculos V e VI até o XIX, em todas as
disciplinas artísticas, embora com o tempo os artistas
japoneses tenham forjado sua imagem própria, naturalista
e distanciada do simbolismo chinês.
Um dos fatores que determinaram essa estreita relação
cultural foi a religião, mais precisamente o budismo. Os
chineses, a princípio taoístas e confucionistas, começaram
a absorver as crenças budistas, depois da expansão do
império gupta (indiano) no século IV, sendo definitiva a
instauração dessa religião durante a dinastia T'ang (século
VI). O Japão recebeu o budismo das mãos dos chineses
durante o período Nara (645-784). Difundiram-se assim
os primeiros templos chineses, os pagodes, inspirados nos
stupas hindus.
4. A escultura chinesa também adotou as ousadas e elegantes
formas da Índia, que transpôs para o Japão nas estátuas
colossais de Buda. A cerâmica e a porcelana ocorreram com
igual profusão em ambas as culturas, embora os motivos
tenham nascido da iconografia chinesa. Os melhores
expoentes pertencem às dinastias Ming e Ts'ing. A pintura
de paisagens atingiu o auge na China a partir do século XII,
mas então o Japão desenvolveu um estilo próprio, de
costumes e narrativo, carente do lirismo e da
intelectualidade dos chineses.
ARQUITETURA NA ARTE CHINESA E
JAPONESA
Tanto a arquitetura chinesa quanto a japonesa tiveram e
continuam tendo um caráter eminentemente funcional, não
apenas no que se refere à habitabilidade, mas também ao
conceito de integração ao cosmo ou harmonização com a
natureza. Para os chineses, a arquitetura deveria ser uma
réplica do universo. As formas quadradas, que representam a
terra, e as arredondadas, que simbolizam o céu, combinam-se
de tal maneira que tanto templos quanto pagodes exibem
aparência semelhante em atenção a essas normas.
5. No geral, as construções chinesas que mais
receberam atenção foram os templos, localizados
sobre um terraço com orientação específica, tendo
em vista as estações do ano. O exemplo mais
interessante é o da Cidade Proibida, construída para
o imperador no início do século XV. Ali se pode
observar a disposição do templo e dos diferentes
palácios, com um imenso jardim central, que se
estende por pequenos pátios internos em cada um
dos diferentes edifícios.
Os telhados típicos de terracota, com suas pontas
para cima, além de serem uma realização complexa,
simbolizam na China a união entre o celestial e o
terrestre. No Japão, persistiu-se na tradição
arquitetônica chinesa para os templos budistas, o que
não ocorreu com a arquitetura profana. Uma das
construções mais típicas é o rikyu, criado por Kobori
Ensnu, para a realização da cerimônia do chá. Trata-
se de uma vivenda onde o volume e a simplicidade de
formas são os personagens principais.
6. Os materiais utilizados são os que o entorno natural oferece,
no geral madeira e argila, e em algum casos também cobre e
junco, principalmente nos telhados. Com o tempo, os rikyu
passaram a servir de modelopara habitações particulares
pela capacidade de transformação do espaço que suas leves
divisórias corrediças ofereciam. Construído em meio a um
jardim de plantas perenes, pedras e água, que convidam à
meditação, o rikyu continua sendo hoje em dia uma das
construções de maior influência na arquitetura
contemporânea ocidental.
ESCULTURA NA ARTE CHINESA E
JAPONESA
As primeiras esculturas chinesas eram figuras zoomórficas
monumentais da época da dinastia Han, tanto em pedra como
em bronze. Sob o governo da dinastia T'ang proliferaram as
figuras em madeira pintada e folheadas a ouro, típicas da
plástica indiana. Pode-se dizer que esses modelos se
conservaram ao longo de toda a história da arte chinesa
quase sem variações estilísticas, com exceção das famosas
estátuas monumentais do príncipe Buda, pertencentes à
dinastia Ming (século XIV).
7. Os escultores japoneses adotaram os modelos búdicos
austeros da dinastia chinesa T'ang, combinando-os com os
preceitos históricos do xintoísmo. Não satisfeitos com a
idealização chinesa, tentaram dotar sua estatuária de
grande expressividade, o que os levou a colorir rostos e
intensificar as feições. Esse expressionismo foi
transferido depois para as máscaras de teatro do século
XV. Ousados e inconformados, os artistas japoneses não
temeram cair num certo maneirismo próximo do grotesco.
Os trabalhos em jade, bronze, cerâmica e porcelana de
caráter suntuoso, nos quais tanto os chineses quanto os
japoneses demonstraram um refinamento singular e uma
grande exigência de qualidade, obscureceram a escultura.
As jóias e os objetos decorativos em jade, pedra
extremamente difícil de se esculpir, e os espelhos
decorados eram muito cobiçados pelos aristocráticos
mecenas japoneses. A porcelana faz parte da tradição: a
mais representativa continua sendo a azul cobalto e
branca (Arte Ming).
8. Pintura na Arte chinesa e japonesa
A extensa história da pintura chinesa começou com um
quadro sobre seda encontrado recentemente e que
pertenceu à dinastia Shou (206 a.C.). A ele seguem-se os
afrescos dos tempos da dinastia Han e mais tarde os da
T'ang, muito bem-conservados e de uma elegância e
refinamento característicos das cortes imperiais. Os
motivos eram tanto religiosos quanto profanos. Existia o
pequeno formato de álbuns, combinando as ilustrações com
letras desenhadas. No século XI aparecem os primeiros
quadros de paisagem.
O paisagismo foi considerado na China o gênero pictórico
mais relevante e atingiu o apogeu durante a dinastia Song
(IX-XIII). As paisagens ostentavam formas puras e
simbólicas, as composições eram em geral assimétricas e
obtinha-se uma ilusão de perspectiva sem paralelo na pintura
universal. A partir de então, a pintura chinesa se limitou à
imitação dos modelos antigos, e surgiram a pintura sobre
seda e as gravuras, que tão imitadas seriam na Europa
rococó (Chinoiserie).
9. A pintura japonesa, no essencial, não se afastou do
modelo chinês. A princípio também se produziu grande
quantidade de afrescos, que decoravam as paredes dos
templos. De caráter naturalista, eram semelhantes às
primeiras pinturas budistas dos pagodes chineses. Já em
plena Idade Média, os pintores japoneses abandonaram
definitivamente os temas religiosos e optaram por
ilustrar o refinamento e os luxos da corte. Adquiriu
então importância a técnica da aquarela sobre papel ou
seda, sempre segundo cânones estéticos chineses.
A partir do século XIV, a pintura sobre seda se
transformou no gênero mais valorizado, e manifestou-se
uma renovada religiosidade nos temas. Também foi o
apogeu dos gêneros paisagista e de costumes, com os
conhecidos quadros da cerimônia do chá. O grande
ressurgimento da pintura não chegou senão no século
XVIII, com os quadros de costumes conhecidos como
ukiyo e obras de Utamaro e Hokusai, que tanta influência
exerceram sobre a pintura dos séculos XIX e XX,
principalmente a dos impressionistas e modernistas.