O documento discute a epicondilite lateral, também conhecida como cotovelo do tenista. A condição é uma tendinose degenerativa que afeta os tendões extensores do cotovelo, causando dor. O tratamento inicial envolve repouso, fisioterapia, anti-inflamatórios e imobilização. A cirurgia é recomendada quando a dor e incapacidade persistem após o tratamento conservador.
1. Artigo de Atualização
1 – Médico do Centro de Cirurgia do Ombro e Cotovelo do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (INTO) – Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
2 – Diretor Geral do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (INTO) – Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Trabalho realizado Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (INTO) – Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Correspondência: Av. General San Martin, 300/702 – 22441-010 – Rio de Janeiro, RJ. E-mail: mcohen5@hotmail.com
Trabalho recebido para publicação: 05/10/2011, aceito para publicação: 01/12/2011.
EPICONDILITE LATERAL DO COTOVELO
LATERAL EPICONDYLITIS OF THE ELBOW
Marcio Cohen1
, Geraldo da Rocha Motta Filho2
Resumo
A epicondilite lateral, também conhecida como cotovelo do te-
nista, é uma condição comum que acomete de 1 a 3% da popu-
lação. O termo epicondilite sugere inflamação, embora a análise
histológica tecidual não demonstre um processo inflamatório. A
estrutura acometida com mais frequência é a origem do tendão
extensor radial curto do carpo e o mecanismo de lesão está asso-
ciado à sua sobrecarga. O tratamento incruento é o de escolha e
inclui: repouso, fisioterapia, infiltração com cortisona ou plasma
rico em plaquetas e a utilização de imobilização específica. O
tratamento cirúrgico é recomendado quando persistem impo-
tência funcional e dor. Tanto a técnica cirúrgica aberta quanto a
artroscópica com ressecção da área tendinosa degenerada apre-
senta bons resultados na literatura.
Descritores – Cotovelo de Tenista/patologia; Cotovelo de Te-
nista/terapia; Cotovelo de Tenista/cirurgia
Abstract
Lateral epicondylitis, also known as tennis elbow, is a common
condition that is estimated to affect 1% to 3% of the population.
The word epicondylitis suggests inflammation, although histo-
logical analysis on the tissue fails to show any inflammatory pro-
cess. The structure most commonly affected is the origin of the
tendon of the extensor carpi radialis brevis and the mechanism
of injury is associated with overloading. Nonsurgical treatment
is the preferred method, and this includes rest, physiotherapy,
cortisone infiltration, platelet-rich plasma injections and use
of specific immobilization. Surgical treatment is recommended
when functional disability and pain persist. Both the open and
the arthroscopic surgical technique with resection of the de-
generated tendon tissue present good results in the literature.
Keywords – Tennis Elbow/patology; Tennis Elbow/therapy;
Tennis Elbow/surgery
Os autores declaram inexistência de conflito de interesses na realização deste trabalho / The authors declare that there was no conflict of interest in conducting this work
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INTRODUÇÃO
A epicondilite lateral é uma causa frequente de dor
no cotovelo e afeta de 1 a 3% da população adulta
anualmente. Apesar de ter sido relatada em 1873 por
Runge, a associação com o termo “cotovelo do tenista”
ocorreu em 1883 com Major(1,2)
.
Atualmente, está claro que a epicondilite lateral é
uma afecção degenerativa que compromete os tendões
extensores originários do epicôndilo lateral, com exten-
são pouco frequente à articulação. Embora os termos
epicondilite e tendinite sejam utilizados para descrever
o “cotovelo do tenista”, estudos histopatológicos, como
os demonstrados por Nirschl, caracterizam essa afecção
não como uma condição inflamatória e sim como uma
tendinose, com resposta fibroblástica e vascular, deno-
minada degeneração angiofibroblástica da epicondilite(3)
.
Apesar da descrição clássica relacionada à prática
esportiva do tênis, apenas 5 a 10% dos pacientes que
apresentam a epicondilite praticam este esporte(4)
. Sen-
do assim, a tendinose do cotovelo é mais comum em
não atletas, principalmente na quarta e quinta décadas
de vida, com acometimento semelhante em ambos os
sexos e com mais frequência no braço dominante. Além
dos tenistas, pode ocorrer em outros esportes e também
está relacionada a atividades laborativas variadas(3)
. A
epicondilite lateral ocorre inicialmente por microlesões
na origem da musculatura extensora do antebraço, sendo
mais frequente o acometimento do tendão extensor radial
curto do carpo (ERCC), que se localiza abaixo do exten-
sor radial longo do carpo (ERLC) (Figura 1). Segundo
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2. 415
atividades laborativas e da vida diária. Em geral, a dor
surge com atividades que envolvem extensão ativa ou
flexão passiva do punho com o cotovelo em extensão.
Exame físico
A palpação inicia-se pela identificação dos epicôndi-
los lateral, medial e ponta do olécrano. Na face lateral
palpa-se a origem da musculatura extensora do punho
e dedos, complexo ligamentar lateral e cabeça do rá-
dio. A dor localizada no epicôndilo lateral e na origem
da musculatura extensora do punho é sugestiva de epi-
condilite lateral ou síndrome do túnel radial. O exame
deverá continuar com a palpação da cabeça do rádio em
uma depressão logo abaixo da musculatura extensora do
punho. Esta será realizada durante a pronossupinação,
em graus variáveis de flexoextensão, avaliando-se seu
contorno e integridade. O teste clínico específico para
a epicondilite lateral tem o objetivo de reproduzir a dor
experimentada pelo paciente. O teste conhecido como
de Cozen é realizado com o cotovelo em 90º de flexão e
com o antebraço em pronação. Pede-se ao paciente que
realize a extensão ativa do punho contra a resistência
que será imposta pelo examinador. O teste será positi-
vo quando o paciente referir dor no epicôndilo lateral,
origem da musculatura extensora do punho e dedos(9)
.
O teste alternativo, conhecido como de Mill, é rea-
lizado com o paciente com a mão fechada, o punho em
dorsiflexão e o cotovelo em extensão. O examinador,
então, forçará o punho em flexão e o paciente é orienta-
do a resistir ao movimento. Em caso positivo, o paciente
sentirá dor no epicôndilo lateral(9)
.
Exames complementares
A avaliação radiográfica em anteroposterior, perfil e
oblíquas é, na maioria das vezes, normal, sendo princi-
palmente útil para a exclusão de outras anormalidades
tais como artrose, osteocondrite dissecante e corpos li-
vres intra-articulares. A presença de calcificações na
topografia do epicôndilo lateral não é frequente, ocor-
rendo em aproximadamente 22% dos casos, sugerindo,
segundo alguns autores, um processo refratário ao tra-
tamento incruento (Figura 2)(8,10)
.
Pomerance(11)
avaliou radiografias do cotovelo de
271 pacientes com epicondilite lateral. Apenas 16% dos
pacientes apresentavam algum tipo de alteração radio-
gráfica, sendo a mais comum a presença de calcificação
lateral em 7% dos casos. Só dois pacientes apresentaram
Nirschl(5)
, em sua série, além do ERCC, em 35% dos
pacientes tratados cirurgicamente existia acometimento
de 10% da face anterior da aponeurose extensora.
Figura 1 – Desenho da anatomia da face lateral do cotovelo. O ERCC localiza-se
abaixo do ECD e ERLC.
Patologia
No passado, acreditava-se que a epicondilite era um
processo inflamatório. A inspeção peroperatória revela,
na maioria dos casos, tecidos acinzentados, homogêneos
e edemaciados. Essa alteração ocorre nas tendinoses, se-
jam laterais, mediais ou posteriores. Nirschl e Pettrone(3)
,
assim como Regan et al(6)
, utilizando avaliação através de
microscopia, encontraram rupturas na arquitetura normal
das fibras colágenas com o crescimento de fibroblas-
tos e tecido de granulação. Esses autores demonstraram
que as microrrupturas são acompanhadas de cicatrização
parcial e de hiperplasia angiofibroblástica. O tecido de
granulação que se forma é acinzentado e friável. Mas
cabe ressaltar que na fase inicial a epicondilite pode apre-
sentar sinais inflamatórios(3,6,7)
. Nirschl(8)
previamente
classificou em quatro estágios as lesões secundárias ao
microtrauma tendinoso na epicondilite lateral. O primeiro
estágio é inflamatório, reversível e sem alteração pato-
lógica. O segundo estágio é caracterizado pela degene-
ração angiofibroblástica. Já o terceiro é caracterizado
pela tendinose associada à alteração estrutural (ruptura
tendinosa). No quarto estágio, além das alterações deste
último, encontra-se a presença de fibrose e calcificação.
Diagnóstico
O diagnóstico é feito, basicamente, observando-se a
história do paciente e o exame clínico. A queixa principal é
a dor na região do epicôndilo lateral estendendo-se ao dor-
so do antebraço e a incapacidade para a prática esportiva,
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alterações que justificaram mudança do tratamento devi-
do ao diagnóstico de osteocondrite dissecante do capítulo.
A conclusão do autor após essa revisão é que a radiogra-
fia é um exame dispensável na apresentação inicial de
paciente com diagnóstico clínico de epicondilite lateral. A
ultrassonografia do cotovelo é um exame auxiliar simples
para avaliação das partes moles, que podem apresentar
alterações no caso da epicondilite. Entretanto, seu valor é
discutível por ser examinador-dependente. A ressonância
magnética é um exame cada vez mais utilizado nos casos
refratários ao tratamento incruento da epicondilite, pois
auxilia na exclusão de outras patologias e também pode
influenciar na técnica cirúrgica a ser empregada para o
tratamento dessa tendinose.
Potter et al(12)
avaliaram casos de epicondilite lateral
crônica com ressonância magnética e observaram au-
mento de sinal em T2 na origem do tendão ERCC em
50% dos pacientes. Aoki et al(13)
encontraram aumento
de sinal em T2 na origem do ERCC junto ao epicôndilo
lateral em seis de 11 pacientes com epicondilite lateral
crônica. Outras alterações foram: aumento de sinal di-
fuso na origem dos extensores, fratura osteocondral do
capítulo e presença de um gânglio junto ao nervo radial.
Esses seis pacientes foram tratados cirurgicamente com
a técnica de enucleação apenas no local correspondente
à alteração caracterizada na RM, isto é, na origem do
ERCC junto à cortical lateral do epicôndilo lateral. Todos
os seis pacientes obtiveram melhora clínica. A conclusão
dos autores é que a RM auxilia na escolha do tipo de
tratamento cirúrgico a ser empregado.
Diagnóstico diferencial
Existem afecções que podem ocorrer independente-
mente ou associadas à tendinose do cotovelo. Entre os
diagnósticos diferenciais, podemos destacar a síndrome
do túnel radial caracterizada pela compressão do nervo
interósseo posterior, sendo o diagnóstico essencialmente
clínico, visto que a eletroneuromiografia é frequente-
mente normal, ou, ainda, cervicobraquialgia, lesão do
manguito rotador e anormalidades articulares tais como
sinovite, corpos livres intra-articulares, osteoartrose pós-
-traumática e lesão ligamentar.
Tratamento incruento
O paciente apresentando “cotovelo do tenista” quei-
xa-se basicamente de dor. Portanto, o controle da dor
será o objetivo principal do tratamento inicial através
do repouso relativo, que pode ser definido não como
a abstenção da atividade, mas sim como controle do
excesso. A utilização de imobilização gessada não é efe-
tiva, uma vez que normalmente a dor reaparece quando
as atividades são retomadas. A imobilização do punho
tem também pouco valor, a não ser na fase inicial, in-
flamatória e reversível.
Em relação à prática esportiva, a técnica correta irá
permitir um melhor desempenho e a prevenção de lesões.
Os esportes relacionados à epicondilite lateral ou medial
incluem, entre outros, tênis, golfe, esportes que utilizam
raquetes em geral, natação e levantamento de peso.
As atividades laborativas, tais como carpintaria e ou-
tras atividades que utilizam a mão com frequência, como
digitadores, também estão relacionadas à epicondilite.
A alteração da atividade esportiva ou laborativa é
efetiva no controle da dor. O uso de anti-inflamatórios
não hormonais, crioterapia, ultrassom e laser são adju-
vantes para obtermos analgesia. Sendo a epicondilite um
processo degenerativo, os benefícios do uso dos AINH
ocorreriam por seu efeito analgésico e pela sinovite que
pode existir numa fase inicial. A eficiência do ultrassom
foi avaliada de forma sistemática, comparando-o ao uso
de placebo, não havendo diferença estatística nos resulta-
dos(14)
. Existe certa popularidade acerca da utilização de
Figura 2 – Radiografia do cotovelo com calcificação junto ao epicôndilo lateral.
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um imobilizador funcional (brace) no cotovelo. Teorica-
mente, por limitar a expansão da musculatura extensora
no terço proximal do antebraço, isto poderia diminuir a
força sobre as áreas vulneráveis ou sensíveis. Geralmen-
te, o brace apresenta cinco centímetros (cm) de largura,
e é colocado entre 4 e 5cm distal ao epicôndilo. Apesar
de existir evidência de sua eficácia do ponto de vista
biomecânico, ela inexiste do ponto de vista clínico, como
demonstrado por Kroslak e Murrell(15)
.
A infiltração com corticosteroide pode ser indicada
nos casos em que, apesar do tratamento fisioterápico
instituído, não há melhora da dor, impossibilitando, des-
ta forma, que o paciente inicie os exercícios de reabili-
tação. A infiltração deve ser realizada no ERCC, em um
ponto logo anterior e discretamente distal ao epicôndilo
lateral. A realização de mais de duas infiltrações pode
ser danosa devido aos efeitos adversos relacionados às
infiltrações peritendíneas com corticosteroide como ne-
crose, atrofia tecidual e consequente ruptura tendínea.
Para evitar essas complicações, a infiltração não deve
ser intratendinosa nem muito superficial (Figura 3)(16)
.
Existem poucos trabalhos randomizados que possam
ser utilizados como parâmetro para a decisão quanto à
utilização de corticosteroide no tratamento da epicondili-
te lateral do cotovelo. No entanto, os dados existentes su-
gerem que as infiltrações são superiores às outras formas
de tratamento nas avaliações em curto prazo de até seis
semanas(17)
. Na avaliação sistemática realizada por Smidt
et al(17)
não houve evidência de diferença significativa a
médio e longo prazo quanto à superioridade das injeções
locais com corticosteroide. Da mesma forma, a literatura
não nos permite concluir qual seria o tipo e a dosagem
ideal do corticosteroide a ser utilizado nas infiltrações.
Há pouco tempo, a infiltração com toxina botulínica
foi proposta como uma nova modalidade de tratamento.
Seu princípio consiste em permitir a cicatrização tecidual
em um ambiente de menos tensão causada pela parali-
sia parcial dos extensores, devido à ação anticolinérgica
dessa medicação. Dois trabalhos recentemente publi-
cados compararam a injeção de toxina botulínica com
placebo. Wong et al(18)
relataram melhores resultados em
relação à dor em 12 semanas com o grupo submetido à
medicação comparado ao placebo. Hayton et al(19)
, em
outra publicação, não observaram diferenças após três
meses. Em ambos os trabalhos, a fraqueza de extensão
dos dedos e do punho causada pela toxina botulínica
afetou de alguma forma os trabalhadores manuais.
Independentemente do tratamento instituído, uma vez
que se tenha conseguido o controle da dor, o paciente
iniciará o alongamento e o ganho da amplitude articular
do punho e cotovelo, seguido de exercícios isométricos
e isocinéticos. Não existindo dor, inicia-se o processo de
reforço muscular, recomendando-se a utilização de um
brace para controle da expansão muscular. O paciente
realizará exercícios e estará autorizado a retornar à prá-
tica esportiva ou atividade laborativa quando for capaz
de realizar exercícios de repetição até o cansaço, sem
que ocorra dor e exista força muscular comparável aos
níveis que precederam a epicondilite.
Cabe ressaltar, mais uma vez, que não existem tra-
balhos que comparem os exercícios de alongamento e
reforço muscular ao uso de placebo. No caso de retorno à
prática do tênis, é fundamental que o paciente seja orien-
tado. A circunferência da empunhadura deverá ser igual
à distância da prega palmar proximal à ponta do dedo
anular ao longo do seu bordo radial (Figura 4). Deve-se
recomendar medidas capazes de diminuir a trepidação
que se transmite ao cotovelo com a utilização de raquetes
leves, de grafite, preferencialmente, com menos pressão
no encordoamento ou maior número de fibras.
Outra forma de tratamento seria as ondas de choque,
cuja eficácia tem sido estudada. Pettrone e McCall(20)
observaram uma redução de pelo menos 50% da dor
em 64% dos pacientes submetidos a esse tipo de terapia.
Por outro lado, Haake et al(21)
, em estudo prospecti-
vo, demonstraram que as ondas de choque não foram
eficazes. Em uma revisão da literatura, Buchbinder et
al(22)
concluíram que o benefício da terapia com onda
Figura 3 – Ilustração da localização ideal para a realização da infiltração com corticos-
teroide para a epicondilite lateral.
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de choque para epicondilite lateral é mínimo. Recen-
temente, tem-se dado grande ênfase à infiltração de
plasma rico em plaquetas (PRP) como mais uma alter-
nativa ao tratamento incruento. Partindo do princípio
que os achados histopatológicos da epicondilite lateral
relacionam-se à degeneração tendinosa, seria ideal um
tratamento baseado no estímulo biológico para repara-
ção tendinosa. O PRP é um produto autólogo criado a
partir da centrifugação do próprio sangue do pacien-
te e que contém grandes concentrações de fatores de
crescimento derivados das plaquetas. Acredita-se que a
injeção local do PRP possa diminuir a dor relacionada
a essa patologia através de uma reação inflamatória
com consequente angiogênese, fibroplasia, síntese de
colágeno e remodelação tecidual(23)
. Apesar da grande
controvérsia em sua utilização na prática ortopédica
e além de existirem poucos estudos estatisticamente
significativos, recentemente Gosens et al(24)
publicaram
um estudo de nível de evidência comparando a infil-
tração local para epicondilite lateral com PRP e corti-
costeroide com seguimento de dois anos. Um grupo de
100 pacientes foi randomizado ora para injeção de PRP
ora de corticosteroide, e a conclusão foi que o grupo
tratado com a injeção local de PRP obteve maior alívio
da dor e melhora da função comparada ao outro grupo.
Tratamento cirúrgico
Os pacientes que se submeteram à reabilitação cor-
reta por um período não inferior a nove meses sem que
a dor fosse controlada são candidatos à cirurgia, princi-
palmente se o tratamento incruento realizado incluiu três
ou mais infiltrações sem sucesso e quando o processo
é um fator de limitação das atividades da vida diária.
Entre as técnicas cirúrgicas existentes cita-se o pro-
cedimento aberto, percutâneo e artroscópico. Apesar de
na literatura existirem vários trabalhos com resultados
dessas técnicas, existem poucos que comparam as téc-
nicas entre si.
A técnica cirúrgica aberta mais utilizada é a descrita
e popularizada por Nirschl, que consiste na identificação
e ressecção da área de tendinose, que pode incluir toda a
origem do ERCC e, em alguns casos, a aponeurose an-
teromedial do ECD (Figura 5)(25,26)
. Uma vez removido
o tecido doente, haverá um defeito de tamanho variável.
É conveniente que se promova o estímulo à circulação
sanguínea no local realizada através da feitura de dois ou
três orifícios ósseos no epicôndilo lateral, favorecendo a
formação de um hematoma no local. A sutura do restante
do ERCC com a aponeurose do extensor comum não é
necessária e, se realizada, tende a bloquear a extensão
completa do cotovelo. Por outro lado, a sutura da borda
posterolateral do extensor radial longo do carpo com a
aponeurose do extensor comum é recomendada.
A técnica descrita originalmente por Nirschl(3)
, em
1979, foi modificada ao longo do tempo e, hoje, se rea-
lizam incisões menores (entre 1,5 e 3cm) e com apenas
uma perfuração óssea na região anterolateral do côndilo
lateral e não no epicôndilo lateral propriamente dito(27)
.
O cotovelo é inicialmente imobilizado por cerca de sete
dias. Os exercícios isotônicos e isocinéticos são inicia-
dos após três semanas utilizando-se o imobilizador fun-
cional para controle da expansão muscular, que deverá
permanecer por dois a três meses e até mesmo durante
as atividades da vida diária. O retorno à prática espor-
tiva deverá ser gradual, iniciando-se após oito semanas
e atingindo níveis próximos do ideal ao redor de seis
meses. Dunn et al(27)
observaram 84% de excelentes
e bons resultados em 92 casos tratados com a técnica
original modificada descrita como mini-open. O mais
importante deste trabalho é o seguimento mínimo de
10 anos, evidenciando bons resultados em longo prazo.
Assim como a técnica aberta, a cirurgia artroscópica
também tem como objetivo a identificação e a ressecção
da tendinose (Figura 6). Alguns autores argumentam
que essa técnica é vantajosa, uma vez que permite a
visualização e o tratamento de patologias intra-articulares
associadas, apesar de aumentar o tempo cirúrgico, o custo
e o risco de lesão neurovascular. Estudos em cadáver
demonstraram a eficácia na ressecção da origem do
ERCC e ECD com a técnica artroscópica, sem a criação
de instabilidade posterolateral iatrogênica(28)
. Baker
Figura 4 – Parâmetros para a determinação do diâmetro ideal da empunhadura de
uma raquete de tênis.
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encontraram diferenças estatisticamente significativas,
apesar de que, no grupo tratado pela técnica artroscópica,
o tempo para retorno às atividades laborativas e o de
fisioterapia tenham sido menores.
COMPLICAÇÕES
As complicações relacionadas ao tratamento incruen-
to são raras. No cirúrgico, o ligamento colateral lateral
deve ser protegido tendo em vista a instabilidade iatro-
gênica posterolateral do cotovelo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar da denominação, as epicondilites umerais são
tendinopatias não inflamatórias. A epicondilite lateral
origina-se nos extensores. A etiologia é relacionada à
sobrecarga tendinosa e é tratada com destaque na litera-
tura. O diagnóstico é eminentemente clínico, e exames
complementares são necessários essencialmente para a
realização de trabalhos de pesquisa e exclusão de outros
diagnósticos. O tratamento incruento é o de escolha, vis-
to que a maioria dos pacientes melhora com o mesmo.
Figura 5 – Técnica cirúrgica utilizada para o tratamento da epicondilite lateral:(A) acesso cirúrgico; (B) visualização do intervalo entre o ERLC e a aponeurose extensora; (C)
visualização da tendinose do ERCC após abertura da aponeurose extensora; (D) realização de orifício ósseo no epicôndilo lateral para promoção de circulação sanguínea local;
(E) sutura do intervalo ERLC e aponeurose extensora.
Figura 6 – Imagem artroscópica do cotovelo mostrando desbridamento do tendão
ERCC após remoção da cápsula.
e Baker(29)
apresentaram alto índice de satisfação com
o tratamento artroscópico em 30 pacientes reavaliados
com seguimento mínimo de 106 meses. Peart et al(30)
compararam a técnica aberta com a artroscópica, mas
através de trabalho retrospectivo e não randomizado, e não
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A infiltração com PRP parece ser mais uma alternativa
para o tratamento da epicondilite lateral, embora haja
necessidade de mais estudos clínicos controlados.
Nos pacientes em que existe persistência da sintoma-
tologia, apesar do tratamento incruento por tempo pro-
longado, deve-se considerar o tratamento cirúrgico, que
apresenta alta taxa de resultados excelentes e bons. O
que nos causa estranheza é que uma afecção tão frequen-
te tenha um número tão pequeno de trabalhos científi-
cos que respeitem os critérios científicos recomendados
atualmente, não nos permitindo estabelecer protocolos
específicos para o tratamento da epicondilite lateral.
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