Este documento discute a importância da preservação da fauna do Paraná e os desafios atuais. A biodiversidade do estado é rica, mas está ameaçada pelo desmatamento, introdução de espécies exóticas e fragmentação dos habitats. A publicação visa ensinar os estudantes paranaenses sobre as espécies locais e incentivar a conservação da natureza, essencial para o equilíbrio dos ecossistemas e qualidade de vida humana.
2. Roberto Requião de Mello e Silva
Governador do Estado
Lindsley da Silva Rasca Rodrigues
Secretário
Vitor Hugo Ribeiro Burko - Diretor-Presidente
João Batista Campos - Diretoria de Biodiversidade e Áreas Protegidas - DIBAP
Márcia de Guadalupe Pires Tossulino - Departamento de Biodiversidade - DBIO
Marcos Antonio Pinto - Departamento de Unidades de Conservação - DUC
Margit Hauer - Departamento Sócio-Ambiental-DSA
Erich Schaitza - Gerente Geral
Gracie Abad Maximiano - Gerente Técnica
Márcia de Guadalupe Pires Tossulino - Implementadora - IAP
Instituto Ambiental do Paraná
Rua Engenheiros Rebouças 1206 • CEP 80215-100 • Curitiba- Paraná - Brasil
Fone (41) 3123-3700 • Fax (41) 3333-6161
Força Verde 0800-6430304
website:www.pr.gov.br/iap
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3. Esta publicação visa mostrar à sociedade paranaense, em particular aos nossos estudantes, em linguagem
simples e fartas ilustrações, as principais espécies da rica fauna paranaense, suas características e sua
importância na natureza.
Uma rica fauna, é verdade. Das mais belas do Brasil. Mas constantemente ameaçada pela degradação
ambiental, pelo fogo, a caça, o tráfico e os atropelamentos de animais silvestres.
Não nos esqueçamos que cada uma das espécies da natureza desempenha função vital para o equilíbrio
do meio-ambiente. Os animais, por exemplo, espalham sementes, ajudando a plantar árvores; controlam
a população das espécies das quais se alimentam, evitando que sua proliferação comprometa o equilíbrio
dos ecossistemas.
A proteção da fauna é um dos objetivos centrais da ação vigorosa do Governo do Paraná no campo ambiental.
Para citar apenas um exemplo, nosso Estado foi o primeiro no Brasil a criar e implantar uma política pública
neste sentido, com o Sistema Estadual de Proteção à Fauna Silvestre (SISFAUNA). Trata-se de uma rede
da qual participam instituições públicas, universidades, centros de pesquisa, ONGs, entidades privadas e
proprietários de criadouros de fauna autorizados pelo Ibama. As ações integradas dessa rede buscam a
conservação da fauna através da educação ambiental, fiscalização e pesquisas, entre outras iniciativas.
Mas a proteção da fauna, assim como o conjunto da biodiversidade paranaense, não pode ser garantida
apenas pela ação governamental. Toda a sociedade, com apoio do Governo do Estado deve estar empenhada
nessa luta. Esta publicação pretende ajudar nossos conterrâneos a melhor conhecer os animais que todos
devemos defender. Porque só se protege aquilo que se conhece e respeita.
É assim que, aos poucos – mas com a solidez necessária – a consciência social paranaense vai assimilando
o imperativo da conservação ambiental, gerando as atitudes necessárias para a construção de um mundo
mais justo e saudável para todos.
Lindsley da Silva RASCA RODRIGUES Vitor Hugo Ribeiro Burko
Secretário de Estado do Meio-Ambiente e Recursos Hídricos Diretor Presidente do IAP
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5. Ao tratarmos da importância da fauna na natureza e da necessidade de
protegê-la, devemos partir da seguinte indagação: como preservar o que não
conhecemos? Aquilo quê não sabemos o valor? E mais: quais são os ecossistemas
que habitamos ou que alteramos para habitar? Quais os animais que habitam
esses ecossistemas? Como era originalmente a natureza do Paraná?
Nem todas essas perguntas possuem respostas completas. Mas, ao mesmo
tempo, dispomos de muitas informações que nos levam a concluir que são
necessários grandes esforços para conservar a natureza na forma como se
encontra hoje.
“Em muitas ocasiões na História a decadência das
civilizações foi acontecendo à medida que cada uma
destruiu seu ambiente e esgotou a base de recursos
das quais dependia. A ecologia, longe de ser uma
preocupação secundária, tem sido um dos grandes
determinantes do sucesso ou do fracasso das
sociedades humanas” (Fernandez , 2004).
Devemos conservar a natureza não só pensando na
sobrevivência da humanidade, mas também no valor
da natureza em si mesma. Muitas espécies ainda não
foram identificadas, mesmo assim devemos pensar em
sua proteção, pois possuem importância fundamental para o equilíbrio dinâmico
do ambiente.
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6. O equilíbrio dinâmico dos ecossistemas resulta da harmonia entre a produção
e o consumo em determinados habitats. Em outras palavras: da relação entre
o que é produzido em uma floresta e o que é consumido pela alimentação das
populações. Este equilíbrio garante as condições de vida para todos os seres que
dependem deste habitat. Mas não é assim tão simples. Conhecer as interações
entre todos os organismos e as funções que cada um exerce na natureza, é algo
complexo. Assim, pequenas mudanças, sejam climáticas, de fornecimento de
energia, mortalidade ou extinção de algumas espécies, provocam alterações
que dificilmente podem ser previstas.
A inexistência de animais ou vegetais em determinados locais pode indicar
que ali o ambiente está prejudicado, pois cada um exerce papel único para a
estabilidade e harmonia do meio.
“Não devemos deixar uma floresta cheia de árvores nos enganar que tudo
esteja bem. Muitas dessas florestas são ‘mortos-vivos’ e, embora satélites que
passam sobre nós possam reconfortantemente registrá-las como florestas, elas
estão vazias de muito da riqueza faunística valorizada por humanos” (Redford,
1992).
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7. Os animais exercem funções vitais para o equilíbrio dos ecossistemas. Além
de regularem a cadeia alimentar, colaboram para a dispersão de sementes e a
polinização de flores, contribuindo para a manutenção das florestas e outros
ecossistemas, como campos, várzeas e mangues. Desta interação entre fauna
e flora resultam as condições de equilíbrio e de vida para muitos outros seres,
inclusive o ser humano.
Muitas espécies já foram extintas pela ação do homem. Mas, ao contrário do
que muitos imaginam, não foi somente
a partir da era moderna que isto
ocorreu. Povos primitivos, conhecidos
por suas práticas predatórias,
extinguiram muitas espécies. Teorias
demonstram a relação entre as
extinções e a distribuição do homem
primitivo pela Terra. A pressão
exercida sobre determinadas espécies
e o uso de ferramentas e armadilhas,
provavelmente levaram à extinção de
parte da fauna que existia.
“Os povos que hoje dizemos que
coexistem em harmonia com a
natureza, coexistem apenas com as espécies difíceis de extinguir, porque as
fáceis já foram exterminadas há muito tempo. Não estamos começando a
perder a natureza; já perdemos a grande parte” (Fernandez, 2004).
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8. Mas a fauna e a flora dos dias de hoje ainda apresenta
grande diversidade, que deve ser preservada para
garantir o equilíbrio do planeta. Nas regiões tropicais
estão as áreas com maior diversidade biológica. O
avanço das fronteiras agrícolas sobre as florestas, para
a produção de alimentos para uma população que cresce desordenadamente, é
a maior de todas as pressões sobre a fauna e a flora da Terra.
O desmatamento, além de ocasionar diretamente a perda das espécies vegetais,
implica na alteração da dinâmica das florestas remanescentes e na dinâmica
de muitas populações de animais, que tem estas áreas como habitat ou como
caminhos que levam à outros locais. O desmatamento já está afetando o clima,
que por sua vez vem ocasionando catástrofes cada
vez mais freqüentes. Isto tem causado perda de vidas
humanas, prejuízos econômicos e graves impactos
sobre a natureza.
Os animais estão distribuídos pelo planeta de
acordo com suas características de adaptação a
vários fatores como clima, altitude, latitude, relevo,
florestas, campos, áreas úmidas, etc. Enfim, todos
fatores do meio - biótico e abiótico- interferem
na distribuição dos animais. Algumas espécies que
só ocorrem em determinados locais (endêmicas)
podem ser extintas apenas com alterações feitas em
sua área de ocorrência.
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9. Além disso, a globalização tem aumentado os impactos causados pela introdução
de espécies de plantas e animais exóticos em ambientes nativos. Após a perda
de habitat acarretada pelos desmatamentos, a introdução de espécies exóticas
é a segunda causa de perda de biodiversidade no mundo. Os animais exóticos
provocam o aumento de competição com animais nativos, afetando toda a
dinâmica de um ecossistema.
No Brasil, há experiências que trouxeram sérios impactos negativos à fauna
nativa: o caramujo africano, transmissor de várias doenças, o javali, que se
dispersou por várias regiões do Paraná e muitas outras espécies que têm sido
introduzidas sem critérios. De maneira geral, a introdução de espécies exóticas
resulta sempre em perda para a biodiversidade. Ao longo do tempo, vários
exemplos de extinções em todo planeta foram resultantes da introdução de
espécies exóticas.
A biodiversidade brasileira é reconhecidamente uma das mais ricas do planeta.
Sua importância foi claramente demonstrada por Mittermeier, em sua
obra Megadiversity (1998), quando aponta o Brasil em primeiro lugar na
diversidade de espécies de mamíferos e peixes de água doce, segundo em
espécies de anfíbios e borboletas e terceiro em espécies de aves.
Quanto à diversidade vegetal, o Brasil é um dos países mais ricos do
mundo, com mais de 50.000 espécies de plantas, ou seja, um quinto
do total mundial. A Floresta Atlântica é considerada estratégica pela sua
significativa diversidade florística. Com relação ao endemismo, está em segundo
lugar em número de mamíferos e anfíbios, e segundo em número de aves.
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10. Paraná: símbolo de conservação
O Paraná é heterogêneo e bastante diversificado quanto a sua composição. Está
subdividido, territorialmente, em várias unidades naturais de paisagem: Floresta
Ombrófila Densa (Floresta Atlântica), Estepe Gramíneo-Lenhosa (Campos),
Savana (Cerrado), Floresta Ombrófila Mista (Floresta com Araucária), Floresta
Estacional Semidecidual e Formações Pioneiras (mangues, várzeas, restingas).
Originalmente, o Paraná possuía 83% de cobertura florestal, sendo os 17%
restantes formações não florestais (campos
e cerrados) e vegetação pioneira. Com a
expansão das fronteiras agrícolas, a exploração
madeireira e a intensa urbanização, dos 83%
de cobertura florestal que existiam, restaram
cerca de 11%. Como uma colcha de retalhos,
as áreas de floresta que sobraram foram
isoladas, formando ilhas de florestas em
meio a extensas áreas de uso agropecuário
(fragmentação de habitats). O trânsito de animais e a dispersão de plantas foram
afetados. Com o passar do tempo, as conseqüências vão ficando evidentes:
alterações climáticas, extinção de espécies e a perda da diversidade biológica.
Estima-se que, de um número aproximado de 7.000 espécies vegetais
existentes no Estado, cerca de 5.000 (70%) têm hoje seus ambientes alterados
a ponto de colocar em risco os processos de interação e interdependência dos
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11. ecossistemas. A Lista Vermelha de Plantas Ameaçadas de Extinção no Estado do
Paraná relaciona 593 espécies consideradas em situação crítica (Paraná, 1995).
No estudo que resultou no Livro Vermelho da Fauna Ameaçada no Estado do
Paraná (Mikich, S.B & R.S.Bérnils. 2004), as espécies da fauna foram classificadas
em seis níveis de ameaça, segundo metodologia vigente, desenvolvida pela
União Mundial para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês).
Este estudo contém um diagnóstico de 344 espécies da fauna paranaense. Deste
total, 163 espécies foram consideradas ameaçadas
de extinção, em categorias distintas (regionalmente
extinta, criticamente em perigo, em perigo e
vulnerável). Estas espécies têm proteção específica
da legislação estadual. Outras 43 espécies foram
classificadas como NT (quase ameaçadas) e 138
como DD (dados insuficientes).
Apesar das dificuldades, esforços têm sido
feitos para que as metas de conservação sejam
alcançadas. Com isso, espera-se não apenas a
redução dos impactos causados à biodiversidade
paranaense, mas também um incremento que
melhore as condições ambientais, essenciais à vida
no planeta.
Mariese Cargnin Muchailh
Engenheira Florestal, M.Sc.
Diretoria de Biodiversidade e Áreas Protegidas/IAP
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12. O que pretendemos?
O objetivo deste livro é informar à sociedade sobre as espécies que mais
ocorrem no rico e heterogêneo território paranaense.
A distribuição das espécies está de
acordo com a classificação taxonômica
dos animais.
O sistema de classificação é o
mesmo utilizado pelos cientistas
para enquadrar os grupos baseado
na evolução das espécies, grau de
parentesco, semelhanças fisiológicas e
morfológicas dos indivíduos adultos.
Para isso devemos compreender
alguns conceitos:
Espécie é a unidade básica
de classificação dos seres
vivos, formada por grupos de
indivíduos muito semelhantes e
que podem cruzar-se entre si,
dando origem a descendentes
férteis.
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13. • Quando eles são muito parecidos, mas a semelhança é menor que na
espécie, são reunidos em um grupo chamado gênero.
• Os gêneros próximos formam as famílias; da reunião das famílias
formam-se as classes.
• As classes semelhantes vão constituir os filos, os quais formarão os
reinos.
A descrição das espécies foi baseada no Guia para apoio à identificação da fauna
paranaense (Mangini & Vidolin, 2005), com ampliação de grupos taxonômicos
e adaptação da linguagem para o
público em geral.
A nomenclatura utilizada
para as espécies de aves está
em conformidade com o
Comitê Brasileiro de Registros
Ornitológicos - CBRO e com
o livro Ornitologia brasileira
(Sick, 1997). Os demais dados
foram obtidos de fontes
diversas, conforme referências
bibliográficas mencionadas ao
final.
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14. Ordem Marsupialia
Os marsupiais surgiram no início do período Cretáceo, na América do Norte e Europa Ocidental. A partir daí, espalharam-
se para a América do Sul, África, Antártica e Austrália. A ordem marsupialia é caracterizada pela presença de um marsúpio,
ou seja, uma bolsa localizada no ventre, responsável pelo desenvolvimento dos filhotes.
Ordem Edentata
As espécies dessa ordem evoluíram a partir dos insetívoros (animais que se alimentam de insetos) primitivos no período
Cretáceo. Especializaram-se numa dieta de formigas e térmitas, abundantes nos trópicos. Disseminaram-se bastante na
América do Sul, enquanto este continente estava isolado da América do Norte. Um edentato possui grandes garras, para
penetrar em colônias de formigas. Depois de aberta a colônia, lambe os insetos com sua longa língua coberta por uma saliva
muito pegajosa. No caso dos tamanduás, as formigas são engolidas inteiras e esmagadas em uma região do estômago.
Ordem Carnivora
Alguns mamíferos são carnívoros, ou seja, se alimentam de animais ou de parte deles. Por isso seus dentes são especializados
para matar e cortar as presas. Suas pernas são adaptadas para permitir a velocidade necessária para alcançar suas presas.
Grande parte dos carnívoros é semi-arborícola (possui a capacidade de subir em árvores) ou terrestre, mas algumas espécies
desta ordem, como as focas e os leões marinhos, especializaram-se para explorar o mar.
Ordem Perissodactyla
O único representante dessa ordem no Brasil é a anta ou tapir. Os indivíduos dessa ordem apresentam dedos ímpares,
desiguais e protegidos por um casco. Possuem hábitos alimentares herbívoros.
Ordem Artiodactyla
Os membros dessa ordem possuem dedos pares, simétricos, em número de dois ou quatro. A dentição das espécies é
incompleta e os dentes se especializaram para arrancar e triturar partes de plantas. Na maioria das espécies da ordem
Artiodactyla, os machos possuem chifres, como é o caso dos veados. Habitam diversos ecossistemas, desde florestas até
campos e cerrado.
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15. Ordem Lagomorpha
O único representante brasileiro da ordem Lagomorpha é o tapiti. O tapiti difere dos demais coelhos por não escavar
buracos e pelos seus filhotes nascerem cobertos de pelos, com os olhos abertos. Apesar de ser capaz de gerar muitos
filhotes, o tapiti não é uma espécie abundante, talvez devido a forte pressão predatória exercida sobre ele, como a caça e
a destruição das florestas.
Ordem Crocodylia
Possuem o coração com quatro cavidades, o corpo é revestido e protegido por placas dérmicas ou ósseas. Os membros da
ordem Crocodylia são os maiores répteis da atualidade. Vivem em lagos, rios, riachos e pântanos.
Ordem Squamata
Nos indivíduos que compõe a ordem Squamata, pode-se observar algumas características que lhes são comuns, como
o corpo inteiramente revestido por escamas, língua bifurcada e corpo geralmente alongado, como se vê nas serpentes e
lagartos.
Ordem Ophidia
As serpentes apresentam corpo alongado, sem membros e revestido por escamas. Os dentes são afilados e curvados
para trás. Para “sentir cheiros” as serpentes expõem sua língua bifurcada e capta moléculas do ambiente. Vivem em matas,
campos, desertos e lagos.
Ordem Chelonia
A ordem dos quelônios engloba as tartarugas marinhas, cágados e jabutis, todos com o corpo protegido por uma carapaça
no dorso e por uma placa sobre o ventre, chamada plastrão. As tartarugas são animais com hábitos marinhos, enquanto os
cágados possuem hábitos tanto aquáticos quanto terrestres; os jabutis vivem em ambiente terrestre.
Ordem Amphibia
Os anfíbios são animais de temperatura variável. São chamados anfíbios por poderem viver tanto na água quanto na terra.
O ovo dos anfíbios produz um ser vivo que somente atinge a maturidade após sofrer várias transformações em seu corpo.
Essas transformações recebem o nome de metamorfoses.
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