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DEBORAH DA SILVA VACARI

RADIOJORNALISMO EM LONDRINA:
UM PERFIL DE VITA GUIMARÃES

Londrina
2013
DEBORAH DA SILVA VACARI

RADIOJORNALISMO EM LONDRINA:
UM PERFIL DE VITA GUIMARÃES

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
ao Departamento de Comunicação da
Universidade Estadual de Londrina.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Cecília Guirado
de Carvalho

Londrina
2013
DEBORAH DA SILVA VACARI

RADIOJORNALISMO EM LONDRINA:
UM PERFIL DE VITA GUIMARÃES

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
ao Departamento de Comunicação da
Universidade Estadual de Londrina.
BANCA EXAMINADORA

______________________________________
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Cecília Guirado
de Carvalho
Universidade Estadual de Londrina

______________________________________
Prof.ª Dr.ª Marcia Neme Buzalaf
Universidade Estadual de Londrina

______________________________________
Prof.º Dr. Osmani Ferreira da Costa
Universidade Estadual de Londrina

Londrina, 10 de novembro de 2013
Aos meus pais e irmãos que sempre me
incentivaram e me apoiaram ao longo
dessa árdua e gratificante jornada.
AGRADECIMENTOS

Foram quatro anos de aprendizado, de textos construídos, de histórias ouvidas
e descritas. Por tudo isso, são necessários inúmeros agradecimentos.
Agradeço, primeiramente, a Deus e a Doutrina Espírita por me abençoar e
conceder a serenidade necessária para a conclusão deste ciclo.
Aos meus queridos pais, Geruza e Ivo, por nunca terem medido esforços para
a realização deste sonho. Cheguei até aqui por vocês.
Aos meus amados irmãos, Eduardo e Juliana, pelo amor, carinho e parceria
compartilhados desde a infância.
Ao meu amor, Juka, pelo apoio e por sonhar junto comigo sempre. “E o mundo
é perfeito”.
À minha querida, Marielen, pelas risadas e conselhos motivadores.
À minha família que sempre acreditou em meu potencial. Obrigada avós, tias,
tios, primos e primas. Vocês são importantes. Em especial obrigada ao meu
eterno inspirador, José Pereira.
À minha segunda família do Centro Espírita Allan Kardec por me motivar a
levar a vida com alegria, fé e dignidade.
Agradeço a minha querida orientadora, Prof.ª Dr.ª Maria Cecília Guirado de
Carvalho, por ter acreditado e mergulhado neste trabalho tanto quanto eu.
À Vita Guimarães, exemplo de jornalista, pela honra de poder contar parte de
sua história no Rádio Londrinense. Muito obrigada!
Aos professores da Universidade Estadual de Londrina pelos importantes
ensinamentos ao longo destes quatro anos.
Ao Bruno Cardial, pela paciência e por aguçar a minha paixão pelo
radiojornalismo.
À Casa de Cultura da UEL, Rádio UEL e ao Projeto Música Criança por me
envolverem na apaixonante prática jornalística.
Aos professores e funcionários do Colégio Estadual Vereador José Balan, local
onde dei os primeiros passos rumo à universidade.
Ao Colégio Alfa, professores e funcionários, obrigada por tudo que fizeram por
mim. Em especial, Seu Jair, Pedro e Rodrigo.
“Quem tem um amigo tem um tesouro”. E os meus tesouros umuaramenses
são muitos e maravilhosos, o que me impede de citá-los. Muito obrigada,
sintam-se abraçados!
Não posso deixar de mencionar o grande incentivador por eu ter adentrado
uma das melhores universidades do Paraná: Vinícius Benício, muito obrigada!
Aos colegas e amigos de classe, aos veteranos e calouros que me fizeram
amar ainda mais a UEL. À Paola pela alegria de viver e por me mostrar que
existe um mundo de possibilidades para a realização dos meus sonhos. À
Giulia que por vezes abandonou suas coisas para me aconselhar e cuidar de
mim nos momentos de dificuldade. À Isabela pelos abraços carinhosos e pelas
palavras sempre bem colocadas. Ao Adam por ser a pessoa mais brilhante que
tive a oportunidade de conviver. Ao Allyson por sempre deixar os papos, as
manhãs, a minha vida mais alegre. Ao Guilherme pelas ponderações, pelos
conselhos e pelas piadas que refrescavam a tensão diária.
A todos os entrevistados que contribuíram para a minha formação, que
estimularam a minha vontade de desempenhar o ofício diário do jornalismo.
Enfim, obrigada a todos por ajudarem a realizar este sonho.
VACARI, Deborah da Silva. Radiojornalismo em Londrina: um perfil de Vita
Guimarães. 2013. 103 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em
Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo) – Universidade Estadual
de Londrina, Londrina, 2013.

RESUMO

O objetivo principal deste estudo é acrescentar às pesquisas de história da
mídia em Londrina o registro da trajetória profissional de Vita Guimarães,
jornalista, que iniciou sua carreira no rádio em 1968 e trabalhou em nove
emissoras da cidade até 2005. Nesta pesquisa são traçadas algumas
peculiaridades sobre sua vida profissional no contexto das ocorrências
históricas no radiojornalismo londrinense. Dentre estas reflexões destaca-se o
caso da cassação do prefeito Antonio Belinati, no ano 2000. Vita Guimarães
apresentou a compilação de materiais que serviram de ponto de partida para
desvendar a corrupção em órgãos da prefeitura municipal. Por meio deste
estudo pode-se constatar que o trabalho desenvolvido pela jornalista, ao longo
de 33 anos de carreira, colaborou em questões sociais, políticas e históricas.
Palavras-chave: Vita Guimarães. História da mídia. Radiojornalismo. Londrina.
VACARI, Deborah da Silva. Radio journalism in Londrina: a profile of Vita
Guimarães. 2013. 102 pages. Final Paper (Graduation in Journalism) –
Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2013.
ABSTRACT
The main objective of this study is to add to the researches of the history of the
media in Londrina, the register of the professional trajectory of Vita Guimarães,
journalist who began her career in the radio on 1968 and worked in nine radio
stations of the city until 2005. In this research are described some peculiarities
of her professional life in the context of the historical occurrences in the radio
journalism of Londrina. In those reflexions, it's highlighted the case of the
repeal of the mayor Antonio Belinati in the year of 2000. Vita Guimarães
showed the amount of materials which served as a starting point to reveal the
corruption in the agencies of the city hall. By this study it can be noted that the
work developed by the journalist, over 33 years of career, collaborated on
social, political and historical subjects.
Key words: Vita Guimaraes. Media history. Radio journalism. Londrina.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 11

2 PRIMEIROS PASSOS NA CAPITAL DO CAFÉ .............................................. 15
2.1 DE RÁDIO-ATRIZ PARA O MUNDO DAS NOTÍCIAS ................................... 16
2.2 EXPERIMENTAÇÕES DE UM PERCURSO PROFISSIONAL ...................... 23
2.3 O RÁDIO E SUAS EXTENSÕES ................................................................... 25

3 DOS ESTÚDIOS PARA A RUA ........................................................................ 31
3.1 A IMERSÃO NO OFÍCIO DIÁRIO .................................................................. 37
3.1.1 CASO ELEFANTE BRANCO ...................................................................... 38
3.2 PARTICULARIDADES DE UMA VIDA ........................................................... 39

4 ESTUDO DE CASO: A CASSAÇÃO DE ANTONIO BELINATI ....................... 44
4.1 VITA AJUDA A DESMASCARAR BELINATI .................................................. 45

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 57

REFERÊNCIAS ................................................................................................... 61
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 61
REFERÊNCIAS DIGITAIS.................................................................................... 63

ANEXOS .............................................................................................................. 65
ANEXO A – CARTEIRA DE TRABALHO ............................................................. 66
ANEXO B – PROJETO PESSOAL ....................................................................... 70
ANEXO C – JORNAL DA CASA .......................................................................... 71
ANEXO D – REQUERIMENTO ............................................................................ 73
ANEXO E - MATÉRIA RECONHECIMENTO ....................................................... 74
ANEXO F - CERIMONIAL – DIPLOMA DE RECONHECIMENTO PÚBLICO ...... 75
ANEXO G – REVISTA SELEÇÕES ..................................................................... 78
ANEXO H – TERMO DE DECLARAÇÃO ............................................................. 82
ANEXO I – TERMO DE COMPARECIMENTO .................................................... 85
ANEXO J – JORNAL DE LONDRINA .................................................................. 86
ANEXO K – JORNAL DE LONDRINA .................................................................. 89
ANEXO L – JORNAL DE LONDRINA .................................................................. 90
ANEXO M – JORNAL DE LONDRINA ................................................................. 92
ANEXO N – JORNAL DE LONDRINA .................................................................. 94
ANEXO O – JORNAL DE LONDRINA ................................................................. 96
ANEXO P – JORNAL DE LONDRINA .................................................................. 98
ANEXO Q – JORNAL DE LONDRINA ................................................................. 100
ANEXO R - ÁUDIO DAS ENTREVISTAS............................................................. 102
11
1 INTRODUÇÃO
A ideia para a realização deste trabalho surgiu após o debate
sobre a História do Rádio Londrinense, promovido pelo Centro Acadêmico de
Comunicação na Universidade Estadual de Londrina, em 31 de outubro de
2012. A discussão foi mediada pelo Professor Doutor Osmani Ferreira da Costa
e debatida pelos profissionais da área do rádio: Nicéia Lopes, Neto Almeida,
Valdir Bezerra e Vita Guimarães. Das histórias e relatos descritos pelos
componentes da mesa, a de Vita Guimarães destacou-se.
Mulher e negra, nascida em 14 de setembro de 1952, em
Santa Rita de Cássia, Minas Gerais, ela chegou a Londrina ainda bebê e, aos
16 anos de idade, aceitou aposta feita por um amigo para fazer o teste da
Rádio Atalaia. Evento divisor de águas da vida de Vita Guimarães. Passou pelo
teste e começou a trabalhar como rádio-atriz. Posteriormente, aceitou outro
desafio: trabalhar com radiojornalismo.
Obteve o primeiro registro em carteira em 1970, pela Rádio
Atalaia e o último na Rádio Paiquerê em 2003, aposentando-se em 2007.
Porém, os trabalhos difundidos pelas ondas hertzianas compreendem o
período de 1968 a 2012, ano em que trabalhou nas últimas eleições para
prefeito, na cidade de Londrina.
No decorrer da trajetória profissional de Vita Guimarães
constataram-se peculiaridades; dentre elas a regularização de seu registro
profissional em 1999, já que não havia frequentado a academia. Este fato foi,
portanto, um marco na carreira da profissional, que pôde dessa forma obter os
direitos da classe. Outro ponto importante na carreira da jornalista ocorreu no
ano de 2002, quando a Câmara Municipal de Londrina conferiu-lhe o Diploma
de Reconhecimento Público pelas atividades que desempenhara em favor do
município.
A

jornalista,

reconhecida

por

sua

voz

potente

esteve

relacionada a lutas coletivas das comunidades londrinenses. Passou por
diversas funções em nove emissoras, porém o trabalho com o qual mais se
identificou foi o de dar voz à população em programas cujo foco era atender às
reivindicações dos ouvintes.
12
A trajetória de Vita Guimarães e suas peculiaridades dão corpo
a este trabalho, a fim de demonstrar a riqueza de sua história profissional.
Dessa forma, registra-se também parte da história da mídia de Londrina.
Dentre estas peculiaridades estão os casos polêmicos nos quais a jornalista
participou ativamente na resolução, sendo, entre estes o caso-estudo deste
trabalho: a cassação do prefeito Antonio Belinati.
As próximas páginas do trabalho combinarão a história da
jornalista ao quadro teórico embasado nos conceitos dos Estudos Culturais,
pelas abordagens propostas por esta teoria que explica os processos
midiáticos e as consequências que estes causam, tanto no contexto individual,
quanto no que se refere à coletividade de determinada comunidade.
Estima-se, portanto, com o auxílio desta teoria, compreender a
relação e o reflexo que a história profissional de Vita Guimarães tem com o
processo histórico da mídia local. Ainda sobre a teoria utilizada pode-se
reafirmar a sua correlação com este caso pelos estudos propostos por Stuart
Hall, que pontua as questões da identidade e suas concepções na pósmodernidade, além de trazer um conceito amplo do que é cultura. Outro ponto
importante são os questionamentos feitos por Pierre Bordieu que discutem a
linearidade proposta na construção de histórias de vida, o autor desconstrói
essa ideia e crítica à organização cronológica dos textos biográficos.
Quanto às técnicas de trabalho de campo utilizadas nesta
pesquisa seguem os conceitos de Duarte por meio de entrevistas em
profundidade, com o objetivo de explorar ao máximo o tema em questão.
Utilizou-se,

portanto,

entrevistas:

“abertas,

semi-abertas

e

fechadas,

originárias, respectivamente, de questões não estruturadas, semi-estruturadas
e estruturadas” (DUARTE, 2006, p. 64).
Para compor este trabalho foram necessários encontros com
Vita Guimarães, que ocorreram entre os meses de abril e outubro deste ano, e
totalizaram mais de quatro horas de gravação em áudio. No primeiro encontro,
o método utilizado foi a entrevista aberta, pela sua flexibilidade e pela garantia
da fluência e naturalidade, tanto por parte da entrevistada quanto da
entrevistadora.
13
Durante o segundo e terceiro encontros, achou-se mais
apropriado o método de entrevista semiaberta, ou seja, o auxílio de um roteiro
com questões-chaves ditou a ocasião. Já no último encontro foi utilizado o
método de entrevista fechada que se justifica por “aprofundar resultados
obtidos em entrevistas em profundidade” (DUARTE, 2006, p.67).
Ainda acerca das técnicas utilizadas, é importante citar o
método biográfico que ajudou a compor este trabalho, com o propósito de
possibilitar um aprofundamento singular na história profissional de Vita
Guimarães. O método biográfico “é a dicotomia entre o real e o pessoal, a
produção e a ruptura. É na verdade, a nosso ver, a renovação do presente”
(DUARTE, 2006,p.84).
E para contextualizar os momentos vividos pela jornalista foram
necessários documentos oficiais como, o Jornal de Londrina, alguns
documentos registrados pelo Ministério Público, carteira de trabalho, dentre
outros. Foram estudados também cartas e e-mails, neste caso, enviados à Vita
Guimarães tanto pela população quanto por autoridades da cidade. Fotos e
clippings também auxiliaram na contextualização dos fatos vividos por Vita
Guimarães.
Outro método utilizado foi o estudo de caso, que possibilitou o
levantamento de informações sobre o acontecimento em questão.
Visando à descoberta, o pesquisador trabalha com o
pressuposto de que o conhecimento não é algo acabado, mas
que está sempre em construção por isso faz parte de sua
função indagar e buscar novas respostas ao longo da
investigação (DUARTE, 2006, p. 233).

Quanto à organização, este trabalho divide-se em cinco
capítulos, incluindo esta introdução. No segundo capítulo, discorre-se sobre os
primeiros trabalhos desenvolvidos pela jornalista desde quando deu início a
carreira no rádio em 1968 até 1989, demarcando, dessa forma, o que vivenciou
entre o ofício de atriz no rádio e a transição para o jornalismo voltado às
questões sociais.
14
O terceiro capítulo é composto por mais uma transição vivida
pela jornalista; em 1989 na Rádio Brasil Sul, Vita Guimarães começa a
desenvolver o radiojornalismo fora dos estúdios. Este período é demarcado
entre os anos de 1989 e 2003, ano do último registro profissional da jornalista.
Posteriormente, Vita parte para um projeto pessoal, entre 2003 e 2005, com o
programa “Bairros em Revista”. São tratados também, neste capítulo, alguns
casos polêmicos e particularidades da vida profissional da jornalista.
No quarto capítulo está compreendido o estudo de caso sobre
a cassação do então prefeito Antonio Belinati. Fato que Vita Guimarães não só
acompanhou como foi peça fundamental para a resolução. Neste capítulo, a
composição para o entendimento do fato será feito por meio dos depoimentos
da jornalista, e também por materiais veiculados no diário Jornal de Londrina.
O quinto e último capítulo contém as considerações finais, que
reafirmam a necessidade deste estudo para o registro da história profissional
de Vita Guimarães. Em seguida, estão as referências bibliográficas e digitais e
também os anexos com os materiais necessários para a compreensão deste
trabalho, dentre eles os periódicos e as gravações das entrevistas editadas.
15
2 PRIMEIROS PASSOS NA CAPITAL DO CAFÉ

Em 1968, dentre os fatos que marcavam o contexto histórico
internacional estavam a desapropriação dos últimos estabelecimentos privados
em Cuba; neste mesmo ano foi morto a tiros o ativista Martin Luther King que
recebeu o Nobel da Paz em 1964; na Tchecoslováquia começavam os rumores
da Primavera de Praga. No Brasil, foi o ano da realização da “Passeata dos
Cem mil”, da criação da lei de censura pelo então presidente Costa e Silva e
também do decreto do AI-5, ato que suprimia as liberdades democráticas no
país.
No Paraná, a lavoura de café tomava os campos do estado,
principalmente no norte, onde despontava a pequena Londrina, que teve
investida em suas terras, desde a década de 50, a referida produção. Foi neste
cenário que Vitalina da Silva Guimarães, conhecida posteriormente como Vita
Guimarães, adentrou aos 16 anos no universo do rádio.
A mineira, nascida na cidade de Santa Rita de Cássia, chegou
a Londrina de pau de arara com seus oito irmãos e mais três famílias. Ela tinha
nove meses de vida. O que trouxe a família de Dona Benedita da Silva e
Senhor Abílio Dias Guimarães, pais de Vita, foi o êxodo e a esperança de
novas oportunidades na “terra” onde tudo dava. Aos sete anos ajudava os pais
nos afazeres domésticos e, com o passar dos anos, no cuidado com a roça.
Já moça, trabalhando como empregada doméstica, Vita
Guimarães fez uma aposta com um amigo cobrador de ônibus, e esta
brincadeira mudaria o curso de sua vida. A aposta consistia em ir até a Rádio
Atalaia e participar da seleção para compor o quadro de funcionários da
emissora, especificamente, na área do rádio-teatro. Como não tinha nada a
perder e aquilo seria apenas o cumprimento de uma aposta, topou.
Para o rádio eu fui por acaso, fui por uma aposta. Eu sempre
falei muito e um dia um cobrador do ônibus que também virou
amigo, falou assim: ─Ah! Você fala muito, mas eu duvido que
você tenha coragem de fazer o teste lá na rádio Atalaia. Era um
vestibular, sabe? A rádio Atalaia ficava aqui na Avenida São
Paulo, em cima da Vantajosa. Quando surgia uma vaga para o
rádio-teatro era uma concorrência enorme, e fizeram esse
16
chamamento que precisavam de homens e mulheres, vozes
masculinas e femininas para compor o rádio-teatro.
(Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 20 de abril de 2013.)

Chegando à emissora se deparou com professoras, advogadas
e “mulheres muito bem vestidas”. O número de candidatos às vagas
disponibilizadas também era considerável, naquele dia mais de 60 pessoas
lotavam as escadas e corredores da rádio.
O teste era assim: o diretor ficava na ponta de uma mesa, a
pessoa vinha, saia do lugar da fila e sentava do lado dele. Ele
dava um texto para ler de revista científica. Vinha um daqueles
bonitões, começava a ler, ele [o diretor]: ─ Você não serve![...]
Quase no final chegou a minha vez. [...] Eu comecei a ler e ele
não mandava parar. Fui lendo, fui até o fim. Geralmente, as
pessoas [candidatos ao teste] não liam mais de duas linhas.
Ele falou: ─ É de você que eu preciso.
(Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 19 de outubro de
2013.)

Esta

chance

encaminhou

Vita

Guimarães

ao

mundo

jornalístico. Vita confessa que não sabia o que aconteceria no dia após o teste,
pois “estava somente cumprindo uma aposta”. Das pessoas que se
candidataram apenas cinco passaram; destes, somente dois permaneceram
para desempenhar a função.

2.1 DE RÁDIO-ATRIZ PARA O MUNDO DAS NOTÍCIAS

CRONOLOGIA PROFISSIONAL DE VITA GUIMARÃES
Dados carteira de trabalho (ANEXO A – Carteira de Trabalho)
ANO

EMISSORA

FUNÇÃO

1970 – 1973

Rádio Atalaia

Rádio-atriz

1974

Rádio Clube

Rádio-atriz
17

1975

Rádio Londrina

Locutora-noticiarista

1975 – 1976

Rádio Cruzeiro do Sul

Locutora-noticiarista

1977 – 1978

Rádio Clube

Datilógrafa-redatora

1979 – 1981

Rádio Clube

Locutora-noticiarista

1981 – 1982

Rádio Atalaia

Produtora executiva

1983 – 1984

Rádio Clube

Produtora executiva

1984

Rádio Norte

Chefe de escritório

1987 – 1988

Rádio Cruzeiro do Sul

Gerente comercial

1989

Rádio Atalaia

Produtora executiva

1989 – 1991

Rádio Brasil Sul

Repórter

1991 – 1992

Fundação Mater Et

Repórter

(Rádio Alvorada)
1993 – 1996

Rádio Brasil Sul

Locutora/entrevistadora

1996 – 1999

Rádio Paiquerê

Repórter entrevistadora

2000 – 2003

Rádio Paiquerê

Repórter entrevistadora

A Rádio Atalaia “foi a sexta emissora a entrar no ar em
Londrina” (COSTA, 2005, p. 93). Isto aconteceu no ano de 1962, quase 20
anos após a inauguração da primeira rádio da cidade, a Rádio Londrina. A
emissora tornou-se poucos anos mais tarde uma escola: formou locutores e
rádio-atores, dentre estes, Vita Guimarães.
[...] a Rádio Atalaia foi, em todos os sentidos, uma grande
escola de rádio de Londrina. Não apenas porque mantivesse
uma “escolinha” para a formação de locutores e radioatores,
mas porque lá se aprendia a fazer de tudo. De serviços de
mecanografia (para cópia dos scripts), à redação de textos
18
para as mini-séries e demais programas teatralizados.
(PINHEIRO, 2001, p. 84)

E foi nesta grande escola que Vita Guimarães deu os primeiros
passos. Mantinha dois empregos e também estudava; chegou a concluir o “2º
grau”, equivalente ao Ensino Médio ainda durante o início da carreira.
A futura jornalista explica que enfrentou preconceitos relativos
à época. Estava no imaginário de algumas pessoas da sociedade daquele
período, segundo Vita, que a mulher que trabalhava em rádio era tida como
desocupada e o homem como desqualificado. “Mesmo assim era um paradoxo,
porque era muito difícil chegar lá [rádio-teatro], as pessoas eram mal faladas,
mas todo mundo queria”, destaca Vita.
Em 1968, como é sabido, o país passava pelo regime militar
(1964–1985).

A

jornalista

explica

que

o

Departamento

Nacional

de

Telecomunicações (DENTEL) fiscalizava os scripts das rádios-novelas, e
determinados textos tiveram de ser reescritos, porém as mudanças muitas
vezes eram nas colocações das palavras, mudando um ou outro vocábulo.
A gente tinha que levar as rádios-novelas que a gente escrevia
para que eles vissem o que havia sido escrito. Mas era um
negócio tão bobo, ele pegava o papel, lia alguma coisa e: ─
Não, não gostei dessa palavra. ─ Não gostei dessa frase. ─ Eu
não gostei desse texto. Não havia um critério político, era um
critério que ninguém sabe como é que é. A gente voltava para
o estúdio e ia reescrever.
(Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 19 de outubro de
2013.)

Ainda menor de idade, em algumas circunstâncias, ela teve de
se esconder da fiscalização dentro da própria rádio e quando, por ventura, a
encontravam por lá, se questionada quanto a sua presença, negava o
envolvimento empregatício, revelava somente que estava fazendo visita.
Vita Guimarães possuía uma carteira de trabalho especial,
direcionada a jovens menores de 18 anos. Mas, em algum momento de sua
estadia na Rádio Atalaia este documento foi extraviado, ficando na carteira
19
profissional somente o registro a partir de 1970, quando já somava dois anos
de trabalho na emissora.
No dia 1º de fevereiro de 1970, curiosamente um domingo, teve
o seu primeiro registro na carteira de trabalho, constando o cargo de rádio-atriz.
Nesta primeira experiência ela permaneceu até 1973, quando foi tentar a vida
na cidade do Rio de Janeiro.
Na capital fluminense, local onde um de seus irmãos morava,
teve a chance de assessorar Antonio Luiz Vendramini, que apresentava um
programa da Rádio Tupi denominado “A turma da Maré Mansa”.
Eu fiquei lá no Rio de Janeiro oito meses, mas era muito ruim
pra mim porque eu morava muito longe. Eu morava em
Jacarepaguá. Para chegar no centro da cidade eram 3 horas,
três conduções [para ir], três pra voltar. O Antonio Luiz me
levava de volta pra casa e eu comecei pensar: ─Nossa! Estou
dando trabalho, não é legal.
(Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 20 de abril de 2013.)

Não adaptada à cidade, Vita Guimãraes retornou a Londrina e
foi para a Rádio Clube, no ano de 1974. “A sétima rádio a entrar no ar na
cidade, no ano de 1963, foi a Clube de Londrina” (COSTA, 2005, p. 93). Nesta
emissora a futura jornalista também desempenhou a função de rádio-atriz e, de
acordo com o seu registro profissional, ficou somente alguns meses. Isto se
deu pelo fato de o rádio-teatro ter entrado em declínio, e também por um
convite inusitado:
Um amigo falou para mim assim: ─Você não quer trabalhar
comigo lá na Rádio Londrina? Aí, eu falei: ─Fazer o que lá?
Ele: ─Eu estou fazendo o projeto de um jornal e eu queria que
você fosse comigo. Eu fui, acabei ficando lá um tempo.
(Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 19 de outubro de
2013)

Neste momento, é importante avaliar as mudanças, a transição
que a vida de Vita Guimarães foi exposta. Saiu, em 1974, portanto do mundo
da ficção, das histórias, da beleza das rádio novelas para trabalhar com as
notícias, sendo a primeira emissora a Rádio Londrina, em 1975. Em seu
20
registro, o nome da função que desempenhara foi o de locutora-noticiarista,
sendo a mudança evidente inclusive na carteira de trabalho.
“A modernidade de Marconi chega a Londrina”, como destaca
(COSTA, 2005, p.87) quando o município contava com apenas nove anos de
fundação e foi denominada Rádio Londrina posteriormente, esta seria a
emissora em que Vita Guimarães daria as primeiras passadas para o
radiojornalismo. Neste contexto, é importante lembrar também os estudos
feitos por Francisca Sousa Mota e Pinheiro sobre a fase inicial do rádio na
cidade.
Todavia, as promessas de crescimento eram alardeadas pela
Companhia de Terras Norte do Paraná, subsidiária da firma
inglesa Paraná Plantation, responsável pelo empreendimento
de colonização da região. As peças da campanha publicitária,
cartazes, anúncios em jornais e rádio, espalhados pelos
diferentes Estados do país pela empresa colonizadora
continham apelos estimulantes. A fertilidade do solo, a riqueza
da mata, e a oportunidade de (re)começar a vida numa terra de
muito futuro eram as principais atrações oferecidas nessa
campanha (PINHEIRO, 2001, p. 6).

Dados os primeiros passos, a jornalista destaca que não sabia
quase nada de jornalismo, utilizava o método gillette-press – prática de noticiar
a partir de textos antes publicados, sendo, geralmente, textos recortados de
jornais lidos em rádio com a ausência de créditos. A respeito desta prática,
Ortriwano (2003) destaca que eram comuns estes procedimentos pelo fato de
que as rádios eram munidas, muitas vezes, de locutores e não de repórteres.
Apesar de subverter a função do rádio, era comum nos seus
primeiros tempos e continua presente em muitas de nossas
emissoras, com roupagem nova: gillette-press virtual, resultado
do copy and paste obtidos em sites da Internet (ORTRIWANO,
2003, p.70).

Ainda neste período dos primeiros contatos com o mundo das
notícias, em 1975, Vita Guimarães soube que uma das emissoras da cidade
estava precisando de locutores, e se aventurou a perguntar ao diretor “se não
serviria uma locutora”. E foi na Rádio Cruzeiro do Sul que a jornalista diz ter
21
aprendido o que era realmente o ofício diário da profissão, que desempenharia
no decorrer dos anos.
De acordo com (COSTA, 2005, p. 92) e (PINHEIRO, 2001, p.
72), a Rádio Cruzeiro do Sul foi a quarta emissora londrinense, sendo a
primeira da década de 60, inaugurada em 1961. O diretor a quem Vita
Guimarães faz referência é Antonio Marcos Dametto, que em determinada
época foi também dono da emissora. “A minha faculdade foi aqui. Ele [Antonio
Marcos Dametto] me ensinou tudo”.
A jornalista permaneceu nesta Rádio entre os anos 1975 e
1976. No ano de 1976 nasceu Fabiane Guimarães, filha da jornalista que diz
ter somente ficado em casa durante os quatro meses de licença maternidade,
pois naquela época já assegurava à mulher a garantia do emprego (Lei nº
5.452, de 1º de maio de 1943).
Após o nascimento da filha, a jornalista voltou para a Rádio
Clube, tendo em sua carteira de trabalho dois registros profissionais seguidos:
um entre 1977 e 1978 e outro de 1979 a 1981. Em 1980, nasceu a segunda
filha: Paula Guimarães. Nesta década, de acordo com dados do censo do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a população de Londrina passava
de 300 mil sendo que 88,48% residiam em área urbana e 11,52% se
encontravam nas áreas rurais.
A explicação para este retorno à emissora, segundo a
profissional, se dá por questões salariais. “Era bem rotativo. Como não tinha
piso, onde estava melhor a gente ia. Ficava alguns meses, saía e depois
voltava ou ficava sem registro um tempão”.
Um fato intrigante, recorrente na carteira de trabalho da
jornalista, são as denominações de suas funções. Como exemplo, nesta época
em que esteve na Rádio Clube, em um de seus registros está: datilógrafaredatora e no outro locutora-noticiarista. A jornalista explica o porquê destes
artifícios:
[...] Era tudo atividade de radiojornalista, mas para burlar a lei
eles colocavam assim. Inclusive locutora-noticiarista, isso
nunca existiu. Isso tudo era para burlar a lei. [...] A questão é
22
que estavam começando as cobranças na área trabalhista, as
mudanças pós-ditadura.
(Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 19 de outubro de
2013)

Nos caminhos desta trajetória está também o retorno da
profissional à emissora que abriu as portas para que ela mostrasse o seu
talento. Entre os anos de 1981 e 1982, a jornalista retoma os trabalhos na
Rádio Atalaia, agora para desempenhar a função de radiojornalista. Deixando a
emissora em 1982, ela regressa à Rádio Clube em 1983 e fica até 1984.
A Rádio Clube “é considerada a recordista em alterações de
contrato social. Oficialmente, passou por dez alterações. Extraoficialmente,
este número vai bem além” (PINHEIRO, 2001, p.94). Conhecida por passar por
mudanças repentinas, aquela emissora mudou de nome e tornou-se Rádio
Norte, sendo a jornalista registrada como chefe de escritório.
Na verdade eu era gerente da Rádio, fazia de tudo. Da noite
para o dia ela se transformou em Rádio Norte tanto que eu sou
a primeira funcionária dessa Rádio porque eu já era
funcionária. [...] Essa Rádio foi levada lá para o lado da UEL.
Ela funcionava dentro de um ônibus. Tinha uma casinha onde
tinha escritório e tinha uma carcaça de um ônibus. Era um cara
bem visionário que nós tínhamos aqui que era o dono da
Rádio, chamava-se Celso Aarão.
(Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 19 de outubro de
2013)

A jornalista declara também que não tinha horário para ir
embora da Rádio Norte, o cargo e as demandas que chegavam até a emissora
exigiam que permanecesse lá durante o dia todo. Atualmente, os jornalistas
têm a carga horária de cinco ou sete horas diárias, de acordo com as normas
vigentes no Artigo 303, da Consolidação das Leis do Trabalho.
Em 1985, nasce André Guimarães, o terceiro filho de Vita.
Nesta época, o prefeito da cidade era Wilson Rodrigues Moreira. Mineiro como
Vita Guimarães, ficou conhecido pelas obras que deixou para a cidade, por
exemplo, o Terminal Urbano de Transporte Coletivo e o Anfiteatro do Zerão.
23
A profissional volta à Rádio Cruzeiro do Sul em 1987
permanecendo até 1988. A lacuna existente entre a saída da Rádio Norte e a
entrada na Cruzeiro é justificada pelo fato dela continuar trabalhando naquela,
mesmo sem registro. Neste retorno, à emissora Cruzeiro assumiu o cargo de
gerente comercial, fazendo como ela mesma relata, “de tudo”. Saiu do cargo e
da emissora, quando esta foi vendida. O mesmo aconteceu quando seguiu pela
terceira vez para a Rádio Atalaia, em 1989.

2.2 EXPERIMENTAÇÕES DE UM PERCURSO PROFISSIONAL

A vida profissional de Vita Guimarães, como se pode notar até
aqui, passou por várias peculiaridades e transformações:
Foi uma transformação gradual, desde o início do aprendizado.
Como você sabe, eu não tenho academia. E eu fui aprendendo
aos poucos como lidar com as pessoas que tinham maior
compreensão, assim como as que tinham menor compreensão
dos fatos. Porque, às vezes, você vê uma pessoa graduada
que não tem a menor educação. Você vai, lá na ponta da vila,
encontra uma pessoa que não sabe escrever, que não sabe
ler, que não sabe nada e que te ensina muito com a vida dela.
Te tratando com respeito, com carinho, com observação. Às
vezes, tratando com uma pessoa graduada você não encontra
isso. Eu encontrei de tudo. Isso, foi me ensinando no dia a dia
como tratar as pessoas, como encarar o ser humano.
(Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 31 de agosto de
2013)

“Um homem que tem algo a dizer e não encontra ouvintes está
em má situação. Mas, pior ainda, estão os ouvintes que não encontram quem
tenha algo a dizer-lhe”. A frase de Bertolt Brechet, que apresenta o Manual de
Radiojornalismo (BARBEIRO, 2001), causa certo estranhamento à primeira
leitura. Porém, no âmbito comunicacional as suas entrelinhas ganham força e
fazem todo o sentido. A curiosidade aguçada, a afinidade com a caneta, o
bloquinho de papel e o gravador definem minimamente estes homens que têm
o que dizer.
24
Olhar para o passado, faz-se necessário para compreender o
processo da informação da atualidade. O rádio carrega em si a efemeridade, o
agora, a simplicidade. Com o advento da televisão e da internet, muitos
acreditaram que este veículo de comunicação fosse se tornar obsoleto e que
as ondas hertzianas jamais seriam utilizadas. A afirmação leva à reflexão de
que o rádio é ainda condutor massivo da informação, seja pelas suas ondas
tradicionais ou pela publicação nas páginas da internet.
O rádio nunca vai perder essa qualidade de chegar às
pessoas. Onde você estiver tem um rádio. [...] Porque o rádio
foi a grande transformação do mundo. E hoje você chega lá
nos rincões da Amazônia tem um radinho. Agora também já
tem satélite, tanta coisa que mudou, mas o precursor de tudo
isso foi o rádio.
(Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 31 de agosto de
2013)

Adentrando o universo peculiar dos padrões organizacionais,
ou seja, a culturalidade de um povo, é possível entender as suas escolhas, os
seus ritos e, é claro, o que se noticia em qualquer tipo de mídia. Como aqui a
previsão

é

trabalhar

com

estudos

relacionados

ao

rádio

intenta-se

compreender como essa culturalidade influencia nas escolhas, principalmente
de quem noticia. Leva-se em consideração a máxima de Brechet e acrescentase que o homem “tem [sempre] algo a dizer”.
Sobre isto, é importante ressaltar os conceitos estudados por
HALL (2003) que define a cultura como “o estudo das relações entre elementos
em um modo de vida global”, fazendo cair por terra o conceito arcaico de que
cultura é apenas o que se desenvolve nas práticas e costumes de um povo.
O repórter que se apóia em seu background cultural tem uma
visão mais globalizada de seu espaço, deixando de lado, talvez, a visão
maniqueísta, mais parcial que envolve essa prática social do fazer jornalístico.
A cultura é esse padrão de organização, essas formas
características de energias humanas que podem ser
descobertas como reveladoras de si mesmas – “dentro de
identidades e correspondências inesperadas”, assim como em
“descontinuidades de tipos inesperados” – dentro da
subjacente a todas as demais práticas sociais (HALL, 2003, p.
128).
25

O pesquisador é categórico ao correlacionar a análise da
cultura, ou seja, suas particularidades existentes em um caso com as
complexas experimentações sociais da atualidade. Tal estudo possibilita a
compreensão, as respostas aos porquês e as práticas desenvolvidas pelas
interrelações humanas de um dado período.
Percebe-se, assim, que a sensibilidade para determinadas
situações é inerente a alguns desses seres que habitam a Terra. Pode-se dizer
que uma parcela dos que têm o chamado feeling para o ofício jornalístico se
incluem entre aqueles que desejam interferir nas questões sociais com o intuito
de melhorar a qualidade de vida das pessoas.

2.3 O RÁDIO E SUAS EXTENSÕES

Aspectos descritos por Ortriwano (1985) caracterizam alguns
elementos práticos relativos à atividade de propagar a informação no rádio. A
pesquisadora destaca que a linguagem oral tem “vantagens sobre os veículos
impressos”, pois quem escuta a programação não precisa necessariamente
saber ler. Outro ponto é acerca da penetração destas informações, ou seja,
chegam aos ouvintes em pontos remotos, demonstrando, dessa forma, a sua
abrangência.

Entre os meios de comunicação de massa, o rádio é, sem
dúvida, o mais popular e o de maior alcance público, não só no
Brasil como em todo o mundo, constituindo-se, muitas vezes,
no único a levar a informação para populações de vastas
regiões que não tem acesso a outros meios, seja por motivos
geográficos, econômicos ou culturais. (ORTRIWANO, 1985 p.
78)

Há que se considerar também a relação emissor/receptor. No
rádio, a emissão é menos complexa tecnicamente do que na televisão,
possibilitando menos recursos e uma transmissão mais rápida. A evolução do
26
aparelho de rádio tornou possível a mobilidade de quem o escuta, podendo as
pessoas, portanto, desempenhar várias atividades enquanto ouvem a
programação, as informações.
A pesquisadora destaca também o baixo custo, sendo o
aparelho de rádio uma aquisição ao alcance financeiro de grande parte da
população. A instantaneidade e a sensorialidade marcam a efemeridade da
emissão e da recepção da informação. Revelam também um universo
envolvente com recursos da sonoplastia despertando emoções e marcando,
dessa forma, o ouvinte em sua individualidade. A jornalista mesmo após a
aposentadoria explica a relação que ainda mantém com o rádio:
Eu ouço rádio diuturnamente. Acho que vai ser assim a vida
inteira, aprendendo [com o rádio]. Fico lá sozinha escutando
rádio e, às vezes, ouço alguma coisa e digo:─Não é isso! [...] Na
cozinha eu tenho rádio, tenho rádio no quarto. Tenho rádio em
cada canto da casa. [...] O rádio é um elemento familiar. Marconi
fez um bem muito grande para a humanidade.
(Vita Guimarães, em entrevista exclusiva, 31 de agosto de 2013)

Outro ponto a ser discutido são os signos acústicos que
juntamente com os sinais mostram vestígios, explicitam a força da voz e por
sua vez a força imaginativa. Pensar o rádio em sua magnitude envolve
complexas afirmações, dentre elas a de que “os meios de comunicações são
extensões dos seres humanos”. Essa afirmação de Marshall McLuhan (1964, p.
334) se aplica também ao rádio como meio de comunicação capaz de ser tão
progressivamente efetivo que se conecta de maneira direta com o sistema
nervoso central dos seres humanos, ou seja, o sistema da informação.
Ainda são possíveis delongas sobre o tema. O autor faz
afirmações contundentes acerca do profundo envolvimento que o material
processado pelo rádio causa em seus ouvintes, sendo ele sentimental e
emocional provocando como já descrito uma imagem auditiva. Em experiência
vivida por Vita em uma de suas visitas para venda de suas iguarias, fica
explícita a imagem que os ouvintes criam ao escutar a programação das
emissoras de rádio.
Ontem mesmo, eu estava na Rede Massa. O rádio tem essa
coisa da fantasia. Ontem, mais uma vez eu vivenciei isso.
27
Levando meus salgados para o pessoal. Tinha um moço de
uma empresa de segurança. Começou a conversar comigo,
perguntou dos salgados, passei para ele o que tinha. No final,
ele falou:─Gostei muito da senhora, não sei o porquê, mas
gostei muito da senhora. Os meninos que estavam do lado
falaram:─Você não conhece ela, não sabe quem ela é? E
ele:─Não, não sei. Eles falaram:─Ela é a Vita. O rapaz fez
assim deu um pulo: ─Eu pensava que a Vita Guimarães era
loira.
Então, muita gente faz essa fantasia de como é a pessoa que
esta do lado de lá das ondas. Eu achei tão engraçado porque
isso já há muito tempo acontece, mas eu não achava que
agora ainda fosse acontecer. E as pessoas ainda fazem uma
imagem. Foi interessante e ele é um negro. [...] Ele levantou
me deu um abraço:─Que felicidade te conhecer!
(Vita Guimarães, entrevista exclusiva, 31 de agosto de 2013)

O capítulo em que McLuhan expõe suas considerações acerca
do rádio, denominado “O tambor tribal”, possibilita entender que a atuação da
mensagem propagada pelo rádio leva ao processo de retribalização.
Analisando o comportamento da jornalista é possível notar a movimentação
que ela causava na cidade quando das suas coberturas jornalísticas como no
caso em que teve de tomar a frente para que a população de um bairro da
cidade tivesse acesso à rede de esgoto.
Eu tive um proveito muito grande fazendo jornalismo
comunitário. Eu podia levar rede de esgoto para um bairro,
através do meu trabalho. No caso do Mister Thomas, numa das
ruas, não tinha como a Sanepar fazer esgoto para aquele povo.
Fossa caindo dentro do quintal, aquela coisa toda.
Eu reuni o pessoal e falei:─Vamos fazer essa rede de esgoto
nós mesmos?─Vamos conseguir o material e fazer a rede de
esgoto.
Não era meu bairro. Fazendo aquele trabalho eu vi a tristeza
daquelas pessoas, sem rede de esgoto. Correndo perigo. [...]
Nós começamos a fazer. Por nossa conta e risco. Sem saber
nada de metragem. Aí a Sanepar encampou o trabalho e foi lá
fazer.
(Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 20 de abril de 2013)

Sendo assim, é possível afirmar que o veículo resgata e
constrói vínculos, os enaltece, engrandece suas intenções e motiva a
congruência da batida do tambor, revitalizando as trocas pessoais, as
28
interações e, certamente, suas trocas multiculturais no sentido exposto por
Stuart Hall.
Altamente capaz de provocar transformações, o rádio é, então,
protagonista

do

imediatismo

comunicacional,

portando

experiências

particulares que têm sua ressonância para além da caixa preta dos estúdios e
gravadores, ressona em um potente eco capaz de modificar condições prémoldadas, pré-estabelecidas.
O rádio possui o seu manto de invisibilidade, como qualquer
outro meio. Manifesta-se a nós ostensivamente numa
franqueza íntima e particular de pessoa a pessoa, embora seja,
real e primeiramente, uma câmara de eco subliminar cujo
poder mágico fere cordas remotas e esquecidas. Todas as
extensões tecnológicas de nós mesmos são subliminares,
entorpecem; de outra forma, não suportaríamos a ação que tal
extensão exerce sobre nós. Mais do que o telégrafo e o
telefone, o rádio é uma extensão do sistema nervoso central,
só igualada pela própria fala humana. (MCLUHAN, 1964, p.
339).

Dessa forma, apesar da retribalização que nos remete a
imaginar que o rádio é um meio de comunicação grupal, as pesquisas de
McLuhan em sua época afirmam que o aparecimento da TV centralizou as
informações, fazendo com o que o rádio se despisse da carga de fazer o
mesmo, partindo então para a diversificação e a individualidade, ou seja, o que
antes era ouvido em conjunto passou a ser uma atividade individual.
Ocorre aqui o afastamento do “grupo” para a audiência
particular. Segundo McLuhan, “com a TV, o rádio se voltou para as
necessidades individuais do povo, em diferentes horas do dia, bem em sintonia
com a multiplicidade de aparelhos receptores” (1964, p. 335).
As reflexões de McLuhan eram consideradas descabidas para
a época, porém, para a sociedade atual é completamente aceitável acreditar
que determinados aparelhos são prolongações de nós mesmos e condicionam
o nosso corpo de tal forma que não conseguimos resistir ao seu uso.
Pode-se citar a forma que condicionamos as relações
humanas, ou seja, tudo está interligado aos meios eletrônicos, o contato é feito
por meio de celulares, internet, i-pods etc. Tais explicações se fazem
29
necessárias para compreender a atual função e os mecanismos implícitos do
rádio bem como a vivência da jornalista Vita Guimarães.
Outro ponto imantado nos conceitos de radiojornalismo é o que
matérias, reportagens e locuções causam na memória de uma comunidade. Os
pedaços das histórias são alinhavados pelo que foi dito desde as histórias sem
“expressividade” até as colocações impostas pela mídia. O que torna-se
conclusivo aqui são as histórias descritas pela jornalista cujo trabalho é um
grande legado para a história do radiojornalismo da cidade de Londrina.
A descrição de Meihy faz ressalvas a histórias como a de Vita
Guimarães que por sua abrangência esclarece momentos da história individual
e também da social.
Algumas histórias ganham relevos na medida em que
expressam situações comuns aos grupos ou sugerem aspectos
importantes para o entendimento da sociedade mais ampla.
Essas histórias, contudo, não podem ser generalizadas ou
consideradas típicas. Por suas características narrativas, elas
são mais completas e abrangentes pela capacidade narrativa
ou pela coleção de fatos arrolados. (MEIHY, 2002, p.37).

Sob a ótica de estudos de Meihy é importante afirmar que a
memória individual traz consigo fragmentos culturais que, dependendo da
situação, podem projetar verdades sobre a coletividade. A história em seu
sentido estrito leva consigo lembranças carregadas de objetividade, de
oficialidade, já a história oral busca aquilo que foi encoberto pelo oficial, busca
o lado esquecido.
As questões aqui levantadas, também fazem parte do estudo
de Delgado (2003). A autora afirma ser o tempo o causador de mudanças
cotidianas, agente capaz de orientar o percurso para o futuro, a determinação
do presente e os fatos passados. A autora quer intentar a compreensão de que
é por meio do tempo que se tiram conclusões a respeito da historicidade.
Acerca da relação entre tempo, memória, espaço e história,
Delgado dirige sua interpretação ao tensionamento existente entre essas
áreas. Porém, o conceito de tempo se sobressai ao se pensar que em todas as
interpretações existe o tempo como senhor da palavra ditando o que foi vivido:
30
as representações. Tais conceitos ajudam na compreensão de que a análise
proposta deve ser reinterpretada, não modificada. A autora é também
categórica ao afirmar que:
Sem qualquer poder de alteração do que passou o tempo,
entretanto, atua modificando ou reafirmando o significado do
passado. Sem qualquer previsibilidade do que virá a ser, o
tempo, todavia, projeta utopias e desenha com as cores do
presente, tonalizadas pelas cores do passado, as
possibilidades do futuro almejado. O passado apresenta-se
como vidro estilhaçado de um vitral antes composto por
inúmeras cores e partes. Buscar recompô-lo em sua
integridade é tarefa impossível. Buscar compreendê-lo através
da análise dos fragmentos é desafio possível de ser enfrentado
(DELGADO, 2003, p. 10).

Os fragmentos da vida profissional de Vita Guimarães reunidos
neste trabalho demonstram a atualidade dos estudos de McLuhan, pois se o
rádio está intimamente ligado ao nosso sistema nervoso central, certamente o
gravador da jornalista era a extensão de seus ouvidos e o microfone a
extensão de sua fala
31
3 DOS ESTÚDIOS PARA A RUA
É muito bom ser jornalista. Eu fiquei durante todo esse tempo.
Não tenho nada para reclamar. Levantar de madrugada, não
dormir são coisas inerentes à profissão. Fique sabendo disso.
Dentro do jornalismo isso é normal, de repente você pega uma
matéria e você não consegue dar conta dela em oito horas.
Você tem que optar, você tem que saber que o tempo é da
matéria, não seu.
(Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 20 de abril de 2013.)

A trajetória de Vita Guimarães, para fins didáticos, pode ser
dividida em três momentos: o primeiro, quando entrou para o mundo das ondas
médias em 1968 com o rádio-teatro; o segundo quando lhe foi proposto fazer
radiojornalismo, ainda que de uma forma precária pelas condições que as
rádios londrinenses propagavam as notícias, de 1975 a 1989; e o terceiro de
transição entre o radiojornalismo feito nos estúdios e o desenvolvido
propriamente na rua pela profissional. Esta fase compreende do ano 1989 ao
ano de 2003, sendo os anos entre 2003 e 2005 direcionados para um projeto
pessoal.
Acontece, portanto, em 1989, esta referida transição. Vita
Guimarães chega à Rádio Brasil Sul que, segundo Pinheiro (2001), tem sua
história iniciada em 1954. Entre os anos de 1989 e 1996, ela trabalhou na
referida emissora, passando apenas pelo hiato entre 1991 e 1992 na Rádio
Alvorada, também na cidade de Londrina. Esta emissora foi a “oitava a operar
em Londrina, a partir de 18 de abril de 1964 (COSTA, 2005, p. 94)”.
No momento em que se propôs a trabalhar como repórter, nas
ruas da cidade, a jornalista foi convidada a desenvolver trabalhos na área do
radiojornalismo policial, onde diz não ter tido prazer algum em trabalhar. Vita
Guimarães descreve em entrevista que a vertente policial, por vezes, a fez
sentir mal e por isso ficou nesta editoria por três anos.
Ela descreve que nunca foi alvo de ameaças e repressão.
Acreditava que estava nos locais das ocorrências para desempenhar o seu
trabalho e não para procurar desavenças com os moradores. Sobre essas
questões foram ouvidas apenas as confissões da jornalista. Os assuntos,
32
quando tratados durante as entrevistas, levavam Vita Guimarães a recorrer ao
mesmo argumento: o de que tentava trabalhar com o diferencial e sobretudo
com “dignidade”, assim como comenta.
Consegui desempenhar a minha função com dignidade e não
fiz inimigos, nunca tive esse negócio de alguém me ameaçar.
Eu tinha até ajuda de muitos chefões do crime no meu
trabalho. Eu chegava no União da Vitória, por exemplo, eu
podia deixar o carro aberto, cada vez que acontecia alguma
coisa lá, que eu tinha que ir para lá eu podia ficar sossegada.
Eu podia ir pra lá de noite, porque eu tinha essas pessoas,
alguns que eu nem conheci.
(Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 20 de abril de 2013.)

Em entrevista à Escola de Comunicação e Artes da
Universidade de São Paulo, o pesquisador José Marques de Melo explica que
o jornalismo policial é o “segmento jornalístico que focaliza o desempenho das
instituições responsáveis pela administração das infrações legais dos
cidadãos”. É, então, uma editoria ou seção de jornais, radiojornais ou
telejornais.
O pesquisador não faz referência acerca do início do jornalismo
policial, porém completa que, desde o século XIX, os crimes despertavam o
gosto dos jornais diários. Acrescenta que não existe diferença da prática
profissional o que se pode considerar é que a maneira, o agir em determinados
seguimentos pode ser diferenciado.
Outro ponto que Marques de Melo é questionado, é em relação
ao sensacionalismo, que segundo ele deve ser evitado em qualquer editoria.
Sobre a ética, acrescenta que ela tem de existir em todas as esferas do
cotidiano desde a cobertura de fatos econômicos até o acompanhamento de
ocorrências policiais.
“O jornalismo policial constitui um tópico negligenciado pelos
cursos de jornalismo”, afirma Marques de Melo comentando que ainda existem
preconceitos nas universidades quando o enfoque são dificuldades vivenciadas
pelas classes populares – estas só ganham espaço quando são responsáveis
por infrações. Ele diz que, hoje em dia, são raras as academias que
33
contemplam em sua grade o jornalismo policial, esta editoria permanece,
geralmente, no campo das pesquisas e debates.
O pesquisador coloca também que as camadas marginalizadas
são as maiores usufruidoras dos programas policiais, pois estes se tornam
espelho do cotidiano. Marques de Melo destaca que uma das falhas dos
dirigentes destes programas é a falta de preocupação com o papel educativo:
“Resvalando não raro para situações em que exacerbam os ânimos, quer dos
agentes policiais, quer das lideranças do crime organizado”.
Algumas histórias de Vita Guimarães causam inquietude,
outras causam horror e também existem aquelas que deixam a sensação de
dever cumprido. O radiojornalismo policial é um campo de batalha, literalmente,
pois nunca se sabe o que a natureza humana está por tramar. Os desafios
desse ofício estão para além de carnificinas, estão relacionados a diversas
questões sociais. Com determinados relatos, assim como já mencionado neste
trabalho, é possível construir uma identidade e, além disso, compreender o que
se passa em determinada sociedade.
“Não é brincadeira enfrentar o jornalismo, porque no jornalismo
você lida com a vida dos outros, lida com a vida de terceiros, é muito sério”.
Está frase define de maneira concisa quem é Vita Guimarães. A jornalista, que
no início da carreira interpretava personagens, trabalhou a vida toda no rádio.
No radiojornalismo policial e encarou o radiojornalismo como desafio. Vita
afirma com segurança que nunca sentiu medo de desempenhar a sua função e
que as denúncias feitas nunca foram usadas contra ela no sentido de ser
rendida, maltratada.
Nunca sofri nenhum tipo de problema, risco à minha vida. Eu vi
a pessoa chegar e falar: “Esse carro aqui ninguém mexe hein,
quem mexer nesse carro aqui tá... (falou um palavrão) Quem
mexer vai se ver comigo, não mexa. A Vita é nossa amiga”. E
eu nem sei quem é essa pessoa, eu vi essa pessoa, mas eu
não sei quem é.
(Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 20 de abril de 2013.)
34
A boa convivência com policiais rendia bons materiais, noite ou
dia, não existia horário; tanto que a jornalista afirma não ter visto seus filhos
crescerem:
[...] era amiga de muitos policiais. Quando tava acontecendo
alguma coisa eles ligavam: “Olha, está acontecendo tal coisa,
você não quer ir lá?”. Eu saia de madrugada, não importava a
hora e cumpria a minha missão. Mas, depois a minha alma
começou a ficar pesada por não poder fazer nada, por não
poder ajudar. O que você faz por uma pessoa que cometeu um
crime? Você só aumenta a dor dela. Hoje, como se mostra na
televisão, aquele tempo era bem menos, eram poucos os
programas policiais na TV. O Luiz Carlos Alborghetti: nunca
compactuei com ele dizendo “bandido bom é bandido morto”,
aquela coisa se ele fala o problema é dele, eu não vou falar
isso.
(Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 20 de abril de 2013.)

Para construir suas matérias, a jornalista ouvia primeiro o que o
delegado tinha para falar sobre o caso. Ressalta que sem exceções os
delegados de seu antigo convívio sempre foram solícitos e prestativos, sendo o
seu acesso “muito bom, desde o delegado chefe até a faxineira que até hoje eu
tenho como amiga”, conta.
Vita Guimarães explica que os casos vistos e narrados no
radiojornalismo policial tiveram a função de divisor de águas. A proximidade
com as mazelas humanas serviram para analisar do que o homem era capaz,
apesar de que nem sempre conseguia compreender tais situações.
Você consolida isso. Você aprende que só pelo trabalho
honesto e digno você vence. Que não há crime perfeito, a
ganância não te leva a lugar nenhum, ela é efêmera. Isso tudo
você pode ver na porta de uma delegacia, onde você vê chegar
pessoas ditas de bem, os pés eram de barro. Aí você vê o
ladrão de galinha que embora seja uma galinha ele não pode
roubar, embora seja uma agulha ele não pode roubar. O ser
humano não pode fazer isso. Então, você consolida os seus
princípios. Aquilo que você aprendeu com o seu pai, a sua
mãe, com as pessoas da sua convivência na infância: „isso não
pode‟, isso é errado. Eu pude consolidar ali, “N” coisas, sabe?
De repente você esta vendo uma pessoa pela cidade com um
bom nome, de repente é um estelionatário, uma pessoa que
está passando a outra pra trás, está enganando alguém.
(Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 20 de abril de 2013.)
35
O seguinte relato explicita muito bem o sentimento descrito por
Vita Guimarães. O caso ocorreu em Bela Vista do Paraíso e estava relacionado
ao estupro de uma garotinha de sete anos.
E nós tivemos por lá, ouvindo as pessoas, tentando encontrar
essa criança. E o danado do cara que estuprou a menina,
ajudou a procurar a menina. Isso, depois ao longo do tempo a
gente vê que acontece muito.
Ouvindo essas histórias de crianças desaparecidas, depois
você vê que aquela pessoa estava ali também ajudando entre
aspas ajudando e esse cidadão, é um cidadão. Fazer o que
né? Ele usou.
Quando o delegado trouxe ele, já era muito tarde da noite e eu
estava lá na delegacia. Aí o doutor Sebastião Petrucci falou
assim:
─Vita, conseguimos pegar o cara e ele está lá na minha sala,
você quer entrevistar ele?
Eu falei: ─Petrucci, será que eu vou? Será que eu vou
entrevistar esse cara? Bom, depois eu falei: „é minha missão,
vou lá entrevistar o cara‟.
E eu tinha as minhas filhas pequenas, eu tenho duas filhas, e
elas eram pequenas ainda, meninas. Quando ele começou a
falar eu perguntei: ─Mas por que o senhor fez isso?
Ele falou assim: ─Ela me pediu.
A gente usava um gravador enorme, era o que nós tínhamos
na época, até hoje eu me emociono com a história dessa
criança.
Quando ele falou „ela que pediu‟ eu ia bater na cabeça dele
com o gravador, o delegado segurou a minha mão.
Senti assim muita raiva, e raiva é um sentimento que eu não
gosto de ter, mas naquele momento a minha vontade era fazer
alguma coisa para vingar aquela criança.
A criança pediu? Como? E você atendeu e por isso você
matou? Por que ela te conhecia, era vizinha?
Ele tava lá junto. Andava por tudo, matreiro. E a menina
escondida, deixada debaixo de um pé de café. E quando ela foi
encontrada, numa posição terrível.
Do jeito que ele estuprou ela, ela morreu, sabe. E trouxeram
ela do jeito que estava, na posição de sexo. Uma coisinha
magrinha.
Eu vi a menina no necrotério, então aquilo me doeu muito. E o
Petrucci até hoje está por aí e sempre lembra disso. Então,
quer dizer eu ia acabar cometendo um crime também por
indignação. Eu pensei nas minhas filhas.
36
Se uma pessoa dessa fizesse uma coisa dessa com a minha
filha! Aquela criança ali poderia ser a minha filha! Isso doeu
muito.
(Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 20 de abril de 2013)

Depois disso, a jornalista perdera o gosto por desempenhar o
seu trabalho na editoria policial, quis, portanto, iniciar em outra área. Neste
momento surgiu a oportunidade de mudar de editoria na própria emissora,
Rádio Brasil Sul; começou ali o seu trabalho jornalístico com as comunidades.
Melhores propostas a encaminharam à Rádio Paiquerê. Esta emissora deu
início a sua história em 9 de fevereiro de 1957, sendo a terceira emissora a
operar em Londrina (COSTA, 2005, p. 92).
Vita Guimarães permaneceu na emissora de 1996 a 2003,
sendo este o último trabalho registrado em sua carteira de trabalho. Neste
período estão alguns dos casos mais polêmicos vividos pela jornalista, dentre
eles a caso da cassação do prefeito Antonio Belinati.
Após esta longa trajetória nas emissoras de rádio de Londrina,
Vita Guimarães criou um projeto abrindo uma empresa de publicidade e para
concretizar uma vontade antiga e retornou à Rádio Brasil Sul com programa
próprio: “Bairros em Revista”.
Nesta ocasião, a jornalista produzia as matérias e também
apresentava o programa, contando com auxílio de “três bons patrocinadores”,
destaca. O programa esteve no ar durante dois anos e quem sintonizasse na
Rádio Brasil Sul, das 13h às 14h, poderia saber o que estava acontecendo nas
comunidades, nos bairros de Londrina.
A Folha Norte (ANEXO B) da semana de 22 a 28 de março de
2003 noticia a nova fase da jornalista, dando destaque ao fato de ela ser
moradora de um dos bairros da Zona Norte. Na página nove, o trecho que se
destaca é uma das características de Vita Guimarães: “Porta-voz da população
e de seus problemas, ela sempre leva informações úteis para moradores de
bairros mais afastados”.
De uma forma geral, a jornalista participava dos radiojornais
das emissoras nas quais trabalhava inclusive em sua produção independente,
37
como já citado. Geralmente, as questões a serem trabalhadas eram decididas
em reuniões de pauta, com a intenção de mostrar as necessidades dos bairros;
as próprias comunidades sugeriam as pautas, ajudando a compor o jornal.
Questionada quanto à mudança nos aparatos tecnológicos, e
também quanto à maneira que decidia escolher as matérias para produzir, a
jornalista destaca que não se lembra precisamente de datas em que houve
mudanças nos aparelhos eletrônicos; sabe é claro que no começo de seus
trabalhos tinham de cuidar para não errar nas gravações.
Gravar demandava um trabalho imenso por parte dos próprios
jornalistas e também da equipe técnica. Os aparelhos não tinham o mesmo
tamanho que os de hoje em dia, portanto, tinham de ser, de acordo com a
jornalista, grandes. Do aparato enorme que dava trabalho para ser carregado,
surgiram os de fita cassete e recentemente os digitais.

3.1 A IMERSÃO NO OFÍCIO DIÁRIO

As proporções que o trabalho da jornalista ganhou não
passaram despercebidas. Assim, é possível compreender tanto a intenção de
suas reportagens, como também entender o papel que a jornalista
desempenhava naquele contexto.
O jornalismo de serviço é conceituado por Maria Pilar
Diezhandino como a informação que dá ao receptor a
possibilidade de efetiva ação e/ou reação: aquela informação,
oferecida oportunamente, que pretende ser de interesse
pessoal do leitor – ouvinte – espectador; que não se limita a
informar sobre senão para; que se impõe a exigência de ser útil
na vida pessoal do receptor, psicológica ou materialmente,
mediata ou mediatamente, qualquer que seja o grau de alcance
dessa utilidade. A informação cuja meta deixa de ser oferecer
dados circunscritos ao acontecimento, para oferecer respostas
e orientação (DIEZHANDINO apud MOREIRA, 1991 p. 152).

A citação reforça as intenções deste trabalho de compreender
o tipo de jornalismo desenvolvido por Vita Guimarães bem como a sua
importância para as comunidades locais.
38
Por vezes, quando o poder público não tinha atitudes com
relação a melhorias de infraestrutura básica para a população, Vita Guimarães
chamou atenção para o que deveria ser feito, não propriamente pelas mãos
dela, mas pelo compromisso do dever público com a população.

3.1.1 CASO “ELEFANTE BRANCO”

“A gravação ou a transmissão ao vivo é mais que uma
ilustração sonora, é a própria materialidade da informação em um meio que se
faz por uma oralidade aparente”. A afirmação de Moreira (1991, p.111) é
importante para esta análise pelo fato de colocar as fontes como ponto
primordial da veiculação de uma notícia.
Ao escutar as comunidades, Vita Guimarães criava uma
imagem descritiva daquilo que estavam passando, mencionava o contexto para
que a população entendesse o que ocorria, e pelo seu poder de persuasão e
denúncia, fazia com que aquelas necessidades falassem aos ouvidos dos
responsáveis.
Um exemplo, um viaduto que seria construído em local
impróprio na Zona Sul da cidade, que não auxiliaria a população em suas
necessidades. Vita Guimarães ficou novamente à frente desta briga
reivindicando o real desejo da população.
Nós ficamos do lado da população reivindicando um viaduto.
Mas a sociedade ali acabou sendo corruptada pelo Belinati, e
fez o viaduto no local errado. Que hoje ta lá é um elefante
branco, só serviu para uma moça pular de lá e se suicidar. E os
menininhos que ficam fumando o que não deve.
Ninguém passa por ali porque foi feito no lugar errado. Era pra
ser feito lá na ponta do bairro onde ia servir pra comunidade e
foi feito do outro lado.
(Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 20 de abril de 2013)

Nem todas as ocorrências em que a jornalista se enveredava
tinham o resultado esperado por ela e pela população. Isto demonstra que a
junção da figura Vita Guimarães com as necessidades reais do povo
39
dependiam, quase que em todas às vezes, de atitudes positivas por parte do
meio político.
Nesse período, quem estava comigo nessa luta era o José
Granado, que era do JL, nem sei se ele permanece lá. E nós
enfrentamos o pessoal do DER querendo passar por cima da
população. Um engenheiro do DER mandando o caminhão
seguir.
Eu segurei o cara com o meu gravador, gravador não, celular.
Eu comecei a gritar. Era o Fiori [Fiori Luiz, locutor] que tava na
rádio─Fiori, o engenheiro do DER está mandando o caminhão
passar por cima da população. E o cara mandando.
(Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 20 de abril de 2013)

O caso prossegue, e o que se pode notar no episódio a seguir
é que a participação da jornalista era por vezes confundida com atitude de
quem fazia parte daquela comunidade. Acredita-se acontecer isto, pelo
tamanho do envolvimento dela nas causas pela qualidade de vida da
população.
Cheguei e perguntei:─Qual o seu nome? Ele empurrou a minha
mão. Eu voltei e insisti. Aí que ele percebeu... Eu era muito
confundida com a própria população nessas histórias de
comunidade.
Então, muitos não me viam como da imprensa, mas me viam
como agitadora, participante. Então, aconteceu esse caso. Aí
quando ele percebeu que eu era da rádio, que eu tava falando
pra rádio.
E o Fiori pedindo reforço policial, pedindo pra que a polícia
fosse pra lá, porque ia acontecer morte e ia mesmo. Porque o
cara na maior suntuosidade mandando o caminhão seguir e o
povo fazendo barreira na rua.
Por isso que depois eu fiquei muito desgostosa também com
aqueles líderes comunitários que foram na conversa do “Seu
Antonio” [Antonio Belinati] e fizeram o viaduto no local
inadequado que não serve pra nada. E o povo continua
morrendo lá na travessia, lá embaixo.
(Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 20 de abril de 2013)

3.2 PARTICULARIDADES DE UMA VIDA
40
Sobre as particularidades de sua trajetória profissional cabe
citar o ano de 1999, no qual a jornalista teve sua carteira profissional
regularizada, pois sua “academia” foram os adventos práticos trazidos desde o
rádio-teatro até a atividade jornalística nas emissoras londrinenses.
O Jornal da Casa - periódico do Sindicato dos Jornalistas de
Londrina – veiculado em março de 1999 (ANEXO C) – descreveu que um
acordo, entre o Sindicato dos Jornalistas e a Delegacia Regional de Trabalho
possibilitou a regularização de 72 profissionais que trabalhavam na área
jornalística há mais de 15 anos, dentre eles Vita Guimarães.
Há pelo menos cinco anos o sindicato tentava resolver o
problema do exercício profissional. Havia dois caminhos: ou
tentava a regularização de quem exercia as atividades
privativas sem o devido registro ou simplesmente pedia o
expurgo dos não habilitados. Para decidir qual o caminho, os
sindicatos discutiram o assunto em assembleias nas redações
de Londrina e Curitiba. A categoria entendeu que os sindicatos
deveriam tentar a regularização desses profissionais (JORNAL
DA CASA, 1999, p. 3).

O advento desta regularização proporcionou aos profissionais
da área os direitos da classe, ou seja, a integração na categoria. A jornalista,
após este momento, passa a ter seus vencimentos de acordo com o piso
salarial assegurado por lei.
Outro fato importante para a carreira de Vita Guimarães foi o
recebimento do Diploma de Reconhecimento Público (ANEXO D) proposto pela
vereadora Elza Correa – a quem a jornalista entregou documentos que
serviram para a cassação de Antonio Belinati.
A homenagem foi realizada na Câmara Municipal de Londrina
no dia 16 de abril de 2002, época em que a jornalista trabalhava na Rádio
Paiquerê AM, nos programas Fala Povo e Rádio Comunidade.
O Jornal de Londrina (ANEXO E) publicou matéria sobre este
acontecimento e nela foi descrita um pouco da trajetória da jornalista. A mesa
de honra que compunha a cerimônia contava com nomes importantes da
cidade, como: Bernardo Pelegrini, Secretário Municipal de Cultura que naquela
ocasião representava o então prefeito Nedson Micheleti; J.B. Faria, diretor-
41
presidente da Rádio Paiquerê; João Milanez, presidente da Folha de Londrina;
e o tenente-coronel Rubens Guimarães. Estavam presentes também
vereadores, familiares e amigos da jornalista, além da imprensa local.
Durante a cerimônia, J.B. Faria homenageia a jornalista e
menciona suas qualidades e seu interesse por prestar serviços à comunidade.
E uma das pessoas que hoje faz muito bem este lado do rádio
é a Vita Guimarães, que é o seguimento da utilidade pública,
principalmente da prestação de serviço para aquelas pessoas
que têm dificuldades. [...] O rádio continua sendo aquele
caminho para tentar resolver, minimizar o sofrimento ou chegar
à conclusão de algo ou objetivo que se pretenda. E realmente
nós temos esta linha na Rádio Paiquerê. E a Vita Guimarães é
a grande responsável por este serviço, o chamado Fala Povo.
(ANEXO F)

A vereadora Elza Correa também fez seus cumprimentos a Vita
Guimarães com palavras fortes, contando parte da história da jornalista e
dentre estas palavras deve-se destacar o que vem sendo mencionado ao longo
deste trabalho:
Há 35 anos, Vita, armada de seu microfone, informa e defende
a população que bem conhece. Vita conhece a vida dos que
defende. A história da população mais pobre, da periferia da
cidade, não é mistério para Vita. Ela transmite na sua locução a
veracidade dos que sabem o que é sentir dificuldade, em sua
defesa e cobrança; e expressa a força daqueles que conhecem
bem o que é ter direitos aviltados. Por isso, Vita é respeitada
por todos e amada pelos ouvintes (ANEXO F).

Após estas menções e a entrega do Diploma, a palavra foi
passada para a jornalista que agradeceu a todos os presentes e a homenagem
que lhe foi concedida.
O carisma e o trabalho voltados às necessidades da cidade, do
povo, são evidentes tanto nas descrições do companheiro de trabalho, quanto
no da vereadora; e tal circunstância causou rumores na população e em órgãos
da cidade. Para exemplificar, serão mostrados trechos de e-mails e cartas
sobre aquele momento:
“Veja nessa homenagem o reconhecimento de todos aqueles
que, nestes anos todos, acompanham o seu trabalho em prol
42
da comunidade, intermediando os problemas da cidade e
buscando solução para eles, sem demagogia e com muito
carinho pelos cidadãos londrinenses. Gildalmo de Mendonça e
funcionários da Transportes Coletivos Grande Londrina”
“Impossibilitada de comparecer à sessão solene de entrega do
diploma de Reconhecimento Público, por compromissos
anteriormente
homenagem

assumidos,
recebida.

parabenizamos

Prof.ª

Magda

pela

merecida

Madalena

Tuma,

Secretária de Educação”
“Receba meus cumprimentos pela sua brilhante carreira
profissional, com sinceros votos de pleno êxito e sucesso
crescente em suas realizações. Octávio Cesário Pereira Neto,
presidente da Companhia de Desenvolvimento de Londrina –
Codel.”
“Nós ficamos muito felizes e concordamos plenamente com a
homenagem feita a você ontem pela Câmara dos Vereadores.
Excelente

profissional

você

merece

como

ninguém

o

reconhecimento de todos os londrinenses. Márcia Moreno e
Eloiza Pinheiro, assessoria de imprensa – SERCOMTEL.”

Estes depoimentos demonstram, portanto, a relação que a
jornalista tinha com alguns dos diversos órgãos do município, e é claro com a
comunidade. Dessa forma, é possível analisar esta relação no que tange os
conceitos utilizados pelos estudos culturais, ou seja, estes explicitam a
influência que os meios de comunicação têm no contexto social em seu
aspecto cultural.
Outra particularidade é sobre a candidatura de Vita Guimarães
a uma vaga na Câmara de Vereadores. De acordo com os estudos de
(COSTA, 2005, p. 220), a jornalista foi a única mulher radialista, no período
entre 1968 a 2000, a tentar investir no cargo. A empreitada foi no ano de 1992
e o partido escolhido por Vita Guimarães foi o PSDB, pelo qual chegou a 81
43
votos. Hoje, a jornalista não tem um parecer concreto a respeito de novas
candidaturas.
Aposentada desde 2007, dedica-se à panificação. Saiu das
rádios para investir neste projeto. “A minha vida não tem muito: este é o meu
norte! Não é assim. Estou nas mãos de Deus”, reflete.
A jornalista também assessorou campanhas políticas. De
acordo com ela desde 1976, exceto em 1996, sendo a última que trabalhou no
ano de 2012, quando fez todo o programa de rádio da candidata Márcia Lopes
e também do atual prefeito Alexandre Kireff, fazendo reportagens nos últimos
20 dias da campanha.
44
4 ESTUDO DE CASO: A CASSAÇÃO DE ANTONIO BELINATI

Do glamour do rádio teatro às ruas durante 33 anos de
atividade profissional – registrados em carteira – Vita Guimarães percorreu
nove rádios de Londrina, contribuindo para mudanças em comunidades que
ficavam à margem das vontades e intenções políticas. A jornalista, além de
exercer as funções obrigatórias da profissão, intermediava os problemas pelos
quais a cidade passava e, desta forma, buscava soluções junto às autoridades.
Vita Guimarães identificava-se com o seu público num
processo identitário, conforme abordado por Stuart Hall. Para o autor, a
identidade relacionada ao contexto sociológico dá-se pelo preenchimento
“entre o mundo pessoal e o mundo público” (2006, p. 12).
Você não consegue ver isso [falhas na administração] e ficar
quieta. Em qualquer situação, hoje mesmo fora da mídia, eu
não gosto de ver coisa errada. E dou a cara a tapa, vou atrás.
(Vita Guimarães, entrevista exclusiva, 20 de abril de 2013)

Outro ponto a ser considerado sobre a construção da reflexão
desta trajetória é atentar-se a crítica “A ilusão biográfica” de Pierre Bourdieu
(1996). O autor reitera a necessidade da reconstituição de determinados
contextos para valorar e compreender o conjunto de fatos que ajudam a
construir uma história de vida, neste caso um perfil.
Para tanto, considera-se que os trabalhos feitos pela jornalista
completavam os seus intentos como repórter e, definia o futuro de algumas
comunidades.
Se sentimos que temos uma identidade unificada desde o
nascimento até a morte é apenas porque construímos uma
cômoda estória sobre nós mesmos ou uma confortadora
“narrativa do eu”. A identidade plenamente unificada, completa,
segura e coerente é uma fantasia. Ao invés disso, à medida
que os sistemas de significação e representação cultura se
multiplicam, somos confrontados por uma multiplicidade
desconcertante e cambiante de identidades possíveis, com
cada uma das quais poderíamos nos identificar – ao menos
temporariamente (HALL, 2006 p. 13).
45

Sabe-se

que

estas definições de

identidade

não

são

estanques, ou seja, o ser humano moderno não é limitado, não possui uma
identidade plenamente unificada. No contexto profissional da jornalista, essa
versatilidade está exacerbada, descrita nas diversas áreas que trabalhou nas
emissoras de rádio; isto demonstra, portanto, a complexidade de compreender
a representação desta mulher para a cidade de Londrina.
Bordieu constata também que das diversas instituições sociais
o nome próprio é o que possui a singularidade necessária para a durabilidade
de uma identidade social.
O nome próprio é atestado visível da identidade do seu
portador através dos tempos e dos espaços sociais, o
fundamento da unidade de suas sucessivas manifestações em
registros oficiais. [...] Em outras palavras, eles só pode atestar
a identidade da personalidade, como individualidade
socialmente constituída, à custa de uma formidável abstração
(BOURDIEU, 1996, p. 187)

Os

estudos

de

Bordieu

contribuem,

portanto,

para

o

entendimento do contexto o qual o objeto de estudo está inserido e, a forma
como atua nos meios sociais os quais está inserido. O autor prioriza, dessa
forma, a singularidade para a construção de uma trajetória calcada na
constância e na durabilidade da identidade.

4.1 VITA AJUDA A DESMASCARAR BELINATI

Uma história mal contada, um funcionário pressionado e uma
jornalista engajada. O caso, que tem início um tanto turbulento, possivelmente
poderia ter o final no mesmo rumo. Porém, a curiosidade e acima disso as
cobranças de Vita Guimarães, acerca de serviços fornecidos pela Prefeitura
Municipal de Londrina, especificamente, pela Autarquia do Meio Ambiente
(AMA) e pela Companhia Municipal de Urbanização (COMURB) foram adiante,
desvendando, assim, um enorme esquema de corrupção que acometia estes
órgãos no mandato do então prefeito Antonio Belinati.
46
O chamado esquema Ama/Comurb funcionou nas duas
autarquias entre o segundo semestre de 1998 e o
primeiro semestre de 1999. O Ministério Público investiga
até hoje cerca de 200 licitações feitas nesse período,
algumas sob suspeita de superfaturamento dos valores –
como no caso da licitação para a roçagem do mato,
através da qual as investigações tiveram início
(SILVEIRA, 2004, p. 36).

Belinati naquele momento, em 1999, quando o caso começou a
ser desvendado, já estava em seu terceiro mandato como prefeito de Londrina;
sendo o único que conseguiu essa empreitada. Antonio Casemiro Belinati é
natural de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, e antes de enveredar para o
mundo da política era radialista.
O primeiro mandato foi entre os anos de 1977 e 1982. O
radialista Antonio Belinati foi eleito prefeito pelo MDB com
36.198 votos, vencendo outros três concorrentes. Ele fora
o vereador mais votado em 1968, e candidato a prefeito
derrotado em 1972 (COSTA, 2005, p.120).

O próximo mandato de Belinati foi de 1989 a 1992 e “entre um
mandato e outro, o radialista-político foi deputado estadual” (COSTA, 2005, p.
121). E foi no terceiro mandato – 1997 a 2000 – que o então prefeito não
concluiu o ciclo, sendo afastado antes do final do ano.
Em 15 de maio de 2000, Belinati foi afastado do cargo
pela Justiça sob acusação de improbidade administrativa.
Em 22 de junho daquele ano, teve o mandato cassado
pela Câmara dos Vereadores pelo mesmo motivo. Os
últimos seis meses de gestão foram completados pelo
então presidente da Câmara, Jorge Scaff, do Partido
Socialista Brasileiro (PSB). O vice-prefeito de Belinati,
Alex Canziani, renunciou para assumir o mandato de
deputado federal pelo Partido da Frente Liberal (PFL)
(COSTA, 2005 p.121).

Neste período, Vita Guimarães trabalhava na Rádio Paiquerê
AM como repórter já na editoria voltada às necessidades das comunidades –
47
dividia este ofício com o repórter Manoel Osvaldo sendo sua permanecia na
redação, enquanto Osvaldo trabalhava na rua.
Sobre essa forma de fazer jornalismo Marcelo Parada a
descreve como campanhas:
Uma das finalidades mais importantes do rádio é mobilizar
a comunidade em torno de temas de interesse comum.
São as chamadas “campanhas”. Os alvos são os mais
variados possíveis, mas o resultado é sempre um
sucesso. [...] Além disso, os temas abordados podem
colaborar para a discussão de soluções de certos
problemas, propondo alternativas e oferecendo ao poder
público algo mais do que uma simples crítica (2000, p.
119).

E foi com essa campanha de denúncias sobre as necessidades
da cidade de Londrina que Vita Guimarães tornou-se ainda mais conhecida: a
mulher que ajudou na cassação do ex-prefeito Antonio Belinati. A jornalista
conta que “a cidade estava um caos, estava de pernas pro ar. Era o terceiro
mandato de Belinati. Já tinha tido um desastroso, conseguiu mais um
desastroso e conseguiu o terceiro também desastroso”.
Com a intenção de minimizar os problemas de estrutura pelos
quais a cidade passava a Rádio tornou-se “fiscal”. “A rádio Paiquerê AM vai ser
a caixa de ressonância da população e cada um no seu bairro liga pra cá, pra
dizer o que está acontecendo. Aí, a gente mobilizou a cidade inteira”, relembra
Vita Guimarães.
No começo, os pedidos foram atendidos, mas com o passar
dos dias e semanas, as necessidades da população foram deixadas de lado. A
jornalista, intrigada com toda aquela situação, revolta-se pelo não atendimento
à população e vai sondar o que poderia estar acontecendo.
Passado para ela o quadro de funcionários e as estruturas que
a cidade possuía chegou à conclusão de que com aquele pessoal “não se
cuidava de Lerroville [distrito de Londrina atualmente com 4.700 habitantes]”,
assegura Vita. As reclamações e informações passadas pela jornalista
começaram a incomodar.
48
E foi aí que um funcionário da COMURB, Délcio Garcia Martin,
de acordo com a Revista Seleções (ANEXO G) veiculada em junho de 2003,
procurou a jornalista para mostrar números que demonstravam que algo estava
errado, ou seja, era provável que verbas estavam sendo desviadas. Dessa
forma, colocou provas e a decisão do que fazer com aquele material nas mãos
da jornalista (ANEXOS H e I).
O funcionário levou para Vita Guimarães cópias do contrato de
capina e roçagem da cidade, e também três notas fiscais que já haviam sido
pagas. A soma destes pagamentos chegava à R$400 mil, “era um absurdo”,
ressalta a jornalista. Martin, cansado das ameaças, explicou minuciosamente o
que estava acontecendo na AMA/COMURB.
Ele [funcionário da Comurb] falou: „─É muita coisa, muita
coisa. E eles estão me pressionando depois dessa tua
reportagem, eles começaram a me pressionar para que
eu mude as planilhas, que coloque uma metragem
diferente nas planilhas‟. Porque era isso que tava sendo
feito, para ser pago. Foi onde começou a história da
corrupção.
(Vita Guimarães, entrevista exclusiva, 20 de abril de 2013)

Délcio

Garcia

Martin

continuava

procurando

Vita

para

conversar e repassar como eram feitos os esquemas. “Ele gravava numa fita
pequenininha e eu ia para a rádio à noite e passava para a cassete normal”,
conta a jornalista. O funcionário, como descreve Vita, foi se sentindo acuado,
porém com o apoio dela se sentiu forte para ir atrás de desvendar as
falcatruas:
‘─Eu tenho coragem de passar o que eu tenho aqui pra
você. Eu não passo para mais ninguém. Eu só vou passar
pra você‟. E me entregou os documentos, tudo direitinho.
As cópias das notas que foram pagas. Eu fui procurar
alguém pra fazer a denúncia.
(Vita Guimarães, entrevista exclusiva, 20 de abril de 2013)

A jornalista a princípio não sabia muito bem para quem poderia
entregar todo esse material. Foi quando resolveu repassar para a vereadora
49
Elza Correia todas as provas que denunciavam, de maneira clara, o esquema
de corrupção. Sobre esse momento Silveira descreve que “as investigações [...]
começaram na segunda quinzena de fevereiro de 1999, graças à denúncia feita
pela então vereadora Elza Correia (PMDB)” (2004, p. 20)
Antes de adentrar especificamente neste caso é necessário
citar o porquê dessa sede por justiça tão aflorada durante a execução do ofício
diário de Vita Guimarães. Para tanto, chega-se a considerar que a jornalista
assume a “romântica” postura fiscalizadora do poder, especialmente no que diz
respeito às decisões públicas dos governantes, que a partir de sua candidatura
assumem o compromisso de exercer o poder e também de manter uma
imagem impecável diante de seus eleitores.
O papel da mídia é formar opiniões, levar ao público-eleitor as
verdades sobre os seus candidatos, e, posteriormente, sobre as benfeitorias
que estes fazem para a comunidade como um todo.
A postura fiscalizadora da imprensa em relação aos
governos aconteceu em praticamente todo o mundo, com
exceção dos momentos em que imperava o totalitarismo
de um ou outro governo. Com um papel fiscalizador cada
vez mais acentuado, também aumentou a valorização do
espaço que se ocupa nos meios de comunicação. No
momento em que a mídia assume esse espaço público,
necessário para a prática da democracia, há um
esvaziamento dos debates públicos e da participação dos
indivíduos na política. O voto torna-se a principal instância
de participação da sociedade na vida política (PACCOLA,
2004, p. 5).

A citação demonstra os dois lados dessa postura fiscalizadora:
um que valoriza o trabalho do jornalista como formador de opinião e o lado
negativo que faz com que o público, a população em si, renegue o seu papel
na participação da política, resumindo a sua participação unicamente por meio
do voto.
Nesta instância, é importante ressaltar que Vita Guimarães
exercia o papel de jornalista dentro dos conceitos descritos e dava
oportunidade, por meio de seu programa, para a população “participar” forma
50
da vida política da cidade, cobrando infraestrutura daqueles que estavam no
poder.
Após mostrar a compilação das provas para Elza Correia,
vereadora oposicionista que estava em seu primeiro mandato na cidade, a
jornalista acompanhada pela vereadora procurou o advogado Carlos
Scalassara,

que,

após

analisar

o

material,

concluiu

sua

gravidade,

encaminhando-o ao Ministério Público aos cuidados do promotor Bruno Galatti.
Aquele dia nós ficamos a tarde inteira dentro do fórum.
Levei os dois rapazes, o que tinha denunciado e o
companheiro dele que também tava sendo pressionado,
levamos para o promotor ouvir. Ele explicou a situação.
(Vita Guimarães, entrevista exclusiva, 20 de abril de 2013)

Entretanto, nesse espaço de tempo, de acordo com a
jornalista, o dono da Rádio Paiquerê, João Batista Faria – mais conhecido
como JB Faria – pediu ao engenheiro Edgar Marin para que fizesse o cálculo, a
projeção do que poderia ter sido feito com aquela quantia de dinheiro paga à
empresa licitada pela AMA. E a conclusão foi ainda mais rumorosa: a cidade
poderia ter sido limpa três vezes.
Galatti, por sua vez, pediu a Vita Guimarães que se mantivesse
em silêncio, “estamos com a ratoeira aberta, mas eu preciso da sua ajuda”. O
pedido foi atendido e o desenrolar da história foi decisivo para a efetivação da
cassação de Belinati.
Após esse momento de silêncio foi dada a permissão para que
a Rádio Paiquerê AM divulgasse as gravações.
As desconfianças de que acontecia algo de errado na
administração pública aumentaram quando uma emissora
de rádio, a Paiquerê AM divulgou fitas com gravações de
conversas telefônicas feitas por um funcionário da AMA
que ocupava cargo de chefia na Autarquia. As conversas
giravam em torno das planilhas de roçagem, que foram
fraudadas. A empresa contratada estava recebendo um
valor desproporcional aos serviços prestados até então e
havia dúvidas quanto à execução do serviço. (SILVEIRA,
2004 p. 20)
51
Dessa forma, para compreender um pouco mais sobre o caso
AMA/COMURB é necessário resgatar algumas matérias veiculadas no Jornal
de Londrina, fundado em julho de 1989 na cidade. As matérias veiculadas em 4
e 5 de abril de 2000 tomam a página inteira, e discorrem sobre a investigação
feita pelo Ministério Público a respeito da compra de imóveis feita pelo ainda
prefeito (ANEXOS J e K).
Curiosamente, entre os anos 1998 e 1999 a família de Belinati
adquiriu imóveis que somavam mais de R$ 1 milhão. Neste espaço é discutido
também o posicionamento de alguns vereadores a respeito do caso. Estes se
dividem em acreditar na omissão do prefeito quanto ao caso e outros defendem
Belinati.
Entre as considerações feitas pelo MP [Ministério Público]
é citado o fato de que a compra desses imóveis coincidiu
com os anos em que ocorreram irregularidades na
Autarquia Municipal do Ambiente (AMA) e na Companhia
Municipal de Urbanização (COMURB). Os promotores
também citam declarações como as do ex-diretor
financeiro da Comurb, Eduardo Alonso, de que o dinheiro
supostamente desviado teria ido para campanha eleitoral
do deputado Antonio Carlos Belinati (PSB) – filho do
prefeito – e para o patrimônio da família.
(Jornal de Londrina, 4 de abril de 2000, p. 3A)

A linha cronológica sobre o caso foi publicada no jornal
veiculado em 4 de abril de 2000, e divide didaticamente, o que vinha
acontecendo nas investigações sobre os esquemas de corrupção. De acordo
com esta publicação, em 25 de fevereiro de 1999, o Ministério Público começa
a fazer as investigações sobre denúncias de superfaturamento. No esquema,
está esclarecido o passo a passo das investigações, o último ponto retratado é
o do dia 23 de março de 2000, quando a Câmara aprova a abertura da
Comissão Processante.
No jornal de 16 de maio de 2000 (ANEXO L), a notícia que
estampa a capa é sobre o afastamento de Belinati, por um período de 120 dias,
determinado pelo juiz da 6ª Vara Cível, Celso Saito. A matéria foi publicada
também na página 3A (ANEXO M) e ressalta que é a “primeira vez na história
52
de Londrina que um prefeito é afastado do cargo sob a suspeita de
envolvimento em corrupção”.
Com esta decisão o prefeito tinha dez dias para recorrer ao
Tribunal de Justiça do Paraná. Neste momento, outro problema foi que não se
sabia quem iria assumir a Prefeitura do município. Ainda sobre o afastamento
do ex-prefeito, publicado em 20 de maio de 2000, no jornal há uma matéria
sobre uma nova determinação: justiça afasta o ex-prefeito pela segunda vez,
agora por 90 dias (ANEXO N).
A ação que resultou no novo afastamento de Belinati trata
de três licitações supostamente irregulares que teriam
causado um prejuízo de R$ 212 mil à Autarquia Municipal
do Meio Ambiente. Conforme o MP, parte do dinheiro teria
sido usado para financiar a campanha eleitoral de 98, dos
deputados: estadual Antonio Carlos Belinati (PSB) – filho
do prefeito – e federal José Janene (PPB), em Ibiporã.
(Jornal de Londrina, 20 de maio de 2000, p. 3A)

É importante mencionar, novamente, a matéria de Daniel Rome
Levine, veiculada na Revista Seleções em junho de 2003; na qual o repórter
descreve alguns dos impasses e falcatruas feitas no governo Belinatti.
Exemplifica com o caso Vêneto, empresa-fantasma de Curitiba, cujo “diretorpresidente” era um jardineiro. Porém, os trâmites para provar este esquema
foram demorados, pois os diretores da AMA se recusaram, por um tempo, até
confessarem o esquema de desvio de verbas.
O dinheiro fora empregado na campanha de Antonio
Carlos Belinati, eleito deputado estadual no ano anterior.
Antonio Carlos era filho de Antonio Belinati, prefeito de
Londrina. (Revista Seleções, junho de 2003, p. 85)

O promotor Galatti investigou a Companhia Municipal de
Urbanização de Londrina, que igualmente mantinha esquemas de desvio de
verbas. As fraudes não foram feitas somente para o investimento na campanha
eleitoral do filho de Belinati, estavam além disso, e “Belinati não só sabia de
tudo, como os esquemas fraudulentos eram todos armados por ele”, (Revista
Seleções, junho de 2003, p 86).
53
As investigações do promotor não amedrontaram o até então
prefeito de Londrina e mesmo com os esquemas sendo desvendados, Belinati
continuou com os contratos fraudulentos.
Além disso, a família de Belinati era uma formidável
máquina política: não só o filho era deputado estadual,
como a mulher era a vice-governadora e o irmão, diretor
da companhia telefônica. (Revista Seleções, junho de
2003, p. 87)

Outro ponto que contribuiu para a cassação do então prefeito
foram as mobilizações populares, ainda de acordo com a Revista. Cidadãos
londrinenses marcharam no centro da cidade todos os sábados por quase um
ano, fazendo pressão contra o prefeito e ficou conhecido pelo slogan “Pé
vermelho! Mãos limpas!”. Sendo assim, esta mobilização popular protocolou
um requerimento para que o esquema de corrupção fosse investigado.
A partir da primeira denúncia de Délcio Garcia Martin, os
promotores acumularam uma montanha de provas,
incluindo extratos de mais de 400 contas bancárias e
gravações de escuta telefônica. Em maio de 2000, a
equipe apresentou 22 denúncias, referentes a vários
crimes.
As evidências indicavam uma pilhagem dos cofres
públicos. Entre os furtos, segundo a acusação, R$1,7
milhão beneficiou diretamente a mulher e o filho do
prefeito. „Os eleitores e a sociedade não merecem isso‟,
disse o juiz Celso Seikiti Saito em 15 de maio de 2000, ao
suspender o prefeito do cargo por 120 dias. (REVISTA
SELEÇÕES, junho de 2003, p. 88)

A jornalista, além de contribuir para as investigações
mobilizava a população contra os atos imorais do ex-prefeito. Vita Guimarães,
em seu ofício diário, recebeu um release da Assessoria de Comunicação da
Prefeitura sobre a inauguração do Pronto Atendimento Infantil, o PAI, onde
haveria um show com a presença da artista Xuxa, que custaria aos cofres
municipais cerca de R$250 mil reais. Tal ação levou Vita à indignação. Ela
contatou lideranças da cidade, para que não compactuassem com mais este
gasto indevido.
54
A cidade em pandarecos e vão gastar isso? Para
inaugurar um hospital que é obrigação a cidade ter?
Liguei para as minhas amigas que eram lideranças nos
bairros. Tinha uma que era Iracema das Ardósias. Ela
brigou muito pelo conjunto onde eles foram morar. O
conjunto não valia nada e custava um absurdo e era feito
de pedras de ardósia. Aquilo era um gelo quando esfriava
e um calor enorme quando esquentava. [...] Eu liguei para
ela: ─Iracema, vão fazer um show de inauguração do PAI.
Você sabe quanto vai custar?
Ela falou:─Vita, não me venha com nenhuma bomba.
─Pois é R$250 mil. Sabe quem vem? A Xuxa.
Ela ficou tão indignada. E falou:─O que a gente pode
fazer?
Eu falei:─Me dá uma entrevista dizendo que a
comunidade não aceita isso. [...] Botamos no ar e
cancelaram o show, mas o Ministério Público foi para
cima. Ele foi cassado por esse detalhe mais um dos
ingredientes da pizza.
(Vita Guimarães, entrevista exclusiva, 20 de abril de 2013)

A junção destas ações que indignaram a jornalista, o promotor
e a população resultaram na cassação de Antonio Belinati, que durante a
seção na Câmara Municipal de Londrina teve dentre o total de 20 votos, 14 em
favor da cassação.
O caso segue e no Jornal de Londrina dos dias 5 e 6 de maio e
27 de julho de 2001 retratam a prisão do ex-prefeito (ANEXOS O, P e Q). Na
primeira e na segunda data, as matérias descrevem como foi à primeira noite
que o político passou na prisão.
No dia 5 de maio, são descritas as ações propostas pelo
Ministério Público, dentre elas uma medida cautelar que tem como objeto 30
licitações fraudulentas da Comurb, totalizando R$ 3.393.296,50 milhões.
Na última publicação, fala-se sobre a segunda prisão do exprefeito ainda pelo mesmo motivo. “O ex-prefeito é acusado de ser um dos
principais mandantes e beneficiários do esquema” (Jornal de Londrina, 27 de
julho de 2001). Todas essas matérias são publicadas na página 3A do
periódico.
55
Durante a entrevista sobre o caso, fica evidente a importância
da participação de Vita Guimarães na resolução de todo este imbróglio. A
jornalista que acredita ter sido essa a sua missão, certamente, fez além do seu
papel, do seu ofício diário.
Os códigos utilizados por Vita Guimarães continham o
chamado “discurso significativo”, ou seja, a concretude, segundo Hall (2003).
No caso estudado as provas que intimaram diversos setores da comunidade
desde a população aos órgãos competentes a julgar os trâmites defendidos
pelo ex-prefeito.
Conforme Hall, esse é o efeito daquilo que se quer propagar,
ou seja, além de sua concretude devem-se levar em conta os aspectos sociais
que se quer atingir (2003, p. 368).
No caso, a linguagem da rádio AM já é mais próxima da
população pelo fato de seus códigos serem mais simples. Não se está
querendo dizer aqui que há linguagem piegas, pelo contrário, quer-se dizer que
muitas vezes esta aproximação tem efeitos mais positivos do que linguagens
um tanto mais elaboradas, é o que se vê nas reportagens impressas do caso
em debate.
De acordo com Fábio Alves Silveira, o comportamento da
imprensa a respeito do caso AMA/COMURB envolvendo o ex-prefeito Antonio
Belinati, pode ser divido em três fases. Sendo que estes três momentos não
afetaram somente as publicações dos jornais, refletiram “a reação da
sociedade ao teor das informações investigadas pelo Ministério Público”. (2006,
p. 10)
Silveira descreve o primeiro momento como “cautela e
„silenciamento‟” e destaca que as informações das investigações eram
camufladas e amenizavam a situação do prefeito.
Já no segundo momento há resistência “tanto no interior das
redações, quanto na sociedade” é neste momento que surgem o Movimento da
Moralidade e a Comissão Especial de Inquérito, já mencionados, segundo o
autor é esta pressão popular que “leva o Caso AMA/COMURB às páginas dos
jornais londrinenses.
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Radio Jornalismo em Londrina: Um Perfil de Vita Guimarães

  • 1. DEBORAH DA SILVA VACARI RADIOJORNALISMO EM LONDRINA: UM PERFIL DE VITA GUIMARÃES Londrina 2013
  • 2. DEBORAH DA SILVA VACARI RADIOJORNALISMO EM LONDRINA: UM PERFIL DE VITA GUIMARÃES Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Comunicação da Universidade Estadual de Londrina. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Cecília Guirado de Carvalho Londrina 2013
  • 3. DEBORAH DA SILVA VACARI RADIOJORNALISMO EM LONDRINA: UM PERFIL DE VITA GUIMARÃES Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Comunicação da Universidade Estadual de Londrina. BANCA EXAMINADORA ______________________________________ Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Cecília Guirado de Carvalho Universidade Estadual de Londrina ______________________________________ Prof.ª Dr.ª Marcia Neme Buzalaf Universidade Estadual de Londrina ______________________________________ Prof.º Dr. Osmani Ferreira da Costa Universidade Estadual de Londrina Londrina, 10 de novembro de 2013
  • 4. Aos meus pais e irmãos que sempre me incentivaram e me apoiaram ao longo dessa árdua e gratificante jornada.
  • 5. AGRADECIMENTOS Foram quatro anos de aprendizado, de textos construídos, de histórias ouvidas e descritas. Por tudo isso, são necessários inúmeros agradecimentos. Agradeço, primeiramente, a Deus e a Doutrina Espírita por me abençoar e conceder a serenidade necessária para a conclusão deste ciclo. Aos meus queridos pais, Geruza e Ivo, por nunca terem medido esforços para a realização deste sonho. Cheguei até aqui por vocês. Aos meus amados irmãos, Eduardo e Juliana, pelo amor, carinho e parceria compartilhados desde a infância. Ao meu amor, Juka, pelo apoio e por sonhar junto comigo sempre. “E o mundo é perfeito”. À minha querida, Marielen, pelas risadas e conselhos motivadores. À minha família que sempre acreditou em meu potencial. Obrigada avós, tias, tios, primos e primas. Vocês são importantes. Em especial obrigada ao meu eterno inspirador, José Pereira. À minha segunda família do Centro Espírita Allan Kardec por me motivar a levar a vida com alegria, fé e dignidade. Agradeço a minha querida orientadora, Prof.ª Dr.ª Maria Cecília Guirado de Carvalho, por ter acreditado e mergulhado neste trabalho tanto quanto eu. À Vita Guimarães, exemplo de jornalista, pela honra de poder contar parte de sua história no Rádio Londrinense. Muito obrigada! Aos professores da Universidade Estadual de Londrina pelos importantes ensinamentos ao longo destes quatro anos. Ao Bruno Cardial, pela paciência e por aguçar a minha paixão pelo radiojornalismo. À Casa de Cultura da UEL, Rádio UEL e ao Projeto Música Criança por me envolverem na apaixonante prática jornalística.
  • 6. Aos professores e funcionários do Colégio Estadual Vereador José Balan, local onde dei os primeiros passos rumo à universidade. Ao Colégio Alfa, professores e funcionários, obrigada por tudo que fizeram por mim. Em especial, Seu Jair, Pedro e Rodrigo. “Quem tem um amigo tem um tesouro”. E os meus tesouros umuaramenses são muitos e maravilhosos, o que me impede de citá-los. Muito obrigada, sintam-se abraçados! Não posso deixar de mencionar o grande incentivador por eu ter adentrado uma das melhores universidades do Paraná: Vinícius Benício, muito obrigada! Aos colegas e amigos de classe, aos veteranos e calouros que me fizeram amar ainda mais a UEL. À Paola pela alegria de viver e por me mostrar que existe um mundo de possibilidades para a realização dos meus sonhos. À Giulia que por vezes abandonou suas coisas para me aconselhar e cuidar de mim nos momentos de dificuldade. À Isabela pelos abraços carinhosos e pelas palavras sempre bem colocadas. Ao Adam por ser a pessoa mais brilhante que tive a oportunidade de conviver. Ao Allyson por sempre deixar os papos, as manhãs, a minha vida mais alegre. Ao Guilherme pelas ponderações, pelos conselhos e pelas piadas que refrescavam a tensão diária. A todos os entrevistados que contribuíram para a minha formação, que estimularam a minha vontade de desempenhar o ofício diário do jornalismo. Enfim, obrigada a todos por ajudarem a realizar este sonho.
  • 7. VACARI, Deborah da Silva. Radiojornalismo em Londrina: um perfil de Vita Guimarães. 2013. 103 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2013. RESUMO O objetivo principal deste estudo é acrescentar às pesquisas de história da mídia em Londrina o registro da trajetória profissional de Vita Guimarães, jornalista, que iniciou sua carreira no rádio em 1968 e trabalhou em nove emissoras da cidade até 2005. Nesta pesquisa são traçadas algumas peculiaridades sobre sua vida profissional no contexto das ocorrências históricas no radiojornalismo londrinense. Dentre estas reflexões destaca-se o caso da cassação do prefeito Antonio Belinati, no ano 2000. Vita Guimarães apresentou a compilação de materiais que serviram de ponto de partida para desvendar a corrupção em órgãos da prefeitura municipal. Por meio deste estudo pode-se constatar que o trabalho desenvolvido pela jornalista, ao longo de 33 anos de carreira, colaborou em questões sociais, políticas e históricas. Palavras-chave: Vita Guimarães. História da mídia. Radiojornalismo. Londrina.
  • 8. VACARI, Deborah da Silva. Radio journalism in Londrina: a profile of Vita Guimarães. 2013. 102 pages. Final Paper (Graduation in Journalism) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2013. ABSTRACT The main objective of this study is to add to the researches of the history of the media in Londrina, the register of the professional trajectory of Vita Guimarães, journalist who began her career in the radio on 1968 and worked in nine radio stations of the city until 2005. In this research are described some peculiarities of her professional life in the context of the historical occurrences in the radio journalism of Londrina. In those reflexions, it's highlighted the case of the repeal of the mayor Antonio Belinati in the year of 2000. Vita Guimarães showed the amount of materials which served as a starting point to reveal the corruption in the agencies of the city hall. By this study it can be noted that the work developed by the journalist, over 33 years of career, collaborated on social, political and historical subjects. Key words: Vita Guimaraes. Media history. Radio journalism. Londrina.
  • 9. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 11 2 PRIMEIROS PASSOS NA CAPITAL DO CAFÉ .............................................. 15 2.1 DE RÁDIO-ATRIZ PARA O MUNDO DAS NOTÍCIAS ................................... 16 2.2 EXPERIMENTAÇÕES DE UM PERCURSO PROFISSIONAL ...................... 23 2.3 O RÁDIO E SUAS EXTENSÕES ................................................................... 25 3 DOS ESTÚDIOS PARA A RUA ........................................................................ 31 3.1 A IMERSÃO NO OFÍCIO DIÁRIO .................................................................. 37 3.1.1 CASO ELEFANTE BRANCO ...................................................................... 38 3.2 PARTICULARIDADES DE UMA VIDA ........................................................... 39 4 ESTUDO DE CASO: A CASSAÇÃO DE ANTONIO BELINATI ....................... 44 4.1 VITA AJUDA A DESMASCARAR BELINATI .................................................. 45 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 57 REFERÊNCIAS ................................................................................................... 61 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 61 REFERÊNCIAS DIGITAIS.................................................................................... 63 ANEXOS .............................................................................................................. 65 ANEXO A – CARTEIRA DE TRABALHO ............................................................. 66 ANEXO B – PROJETO PESSOAL ....................................................................... 70 ANEXO C – JORNAL DA CASA .......................................................................... 71
  • 10. ANEXO D – REQUERIMENTO ............................................................................ 73 ANEXO E - MATÉRIA RECONHECIMENTO ....................................................... 74 ANEXO F - CERIMONIAL – DIPLOMA DE RECONHECIMENTO PÚBLICO ...... 75 ANEXO G – REVISTA SELEÇÕES ..................................................................... 78 ANEXO H – TERMO DE DECLARAÇÃO ............................................................. 82 ANEXO I – TERMO DE COMPARECIMENTO .................................................... 85 ANEXO J – JORNAL DE LONDRINA .................................................................. 86 ANEXO K – JORNAL DE LONDRINA .................................................................. 89 ANEXO L – JORNAL DE LONDRINA .................................................................. 90 ANEXO M – JORNAL DE LONDRINA ................................................................. 92 ANEXO N – JORNAL DE LONDRINA .................................................................. 94 ANEXO O – JORNAL DE LONDRINA ................................................................. 96 ANEXO P – JORNAL DE LONDRINA .................................................................. 98 ANEXO Q – JORNAL DE LONDRINA ................................................................. 100 ANEXO R - ÁUDIO DAS ENTREVISTAS............................................................. 102
  • 11. 11 1 INTRODUÇÃO A ideia para a realização deste trabalho surgiu após o debate sobre a História do Rádio Londrinense, promovido pelo Centro Acadêmico de Comunicação na Universidade Estadual de Londrina, em 31 de outubro de 2012. A discussão foi mediada pelo Professor Doutor Osmani Ferreira da Costa e debatida pelos profissionais da área do rádio: Nicéia Lopes, Neto Almeida, Valdir Bezerra e Vita Guimarães. Das histórias e relatos descritos pelos componentes da mesa, a de Vita Guimarães destacou-se. Mulher e negra, nascida em 14 de setembro de 1952, em Santa Rita de Cássia, Minas Gerais, ela chegou a Londrina ainda bebê e, aos 16 anos de idade, aceitou aposta feita por um amigo para fazer o teste da Rádio Atalaia. Evento divisor de águas da vida de Vita Guimarães. Passou pelo teste e começou a trabalhar como rádio-atriz. Posteriormente, aceitou outro desafio: trabalhar com radiojornalismo. Obteve o primeiro registro em carteira em 1970, pela Rádio Atalaia e o último na Rádio Paiquerê em 2003, aposentando-se em 2007. Porém, os trabalhos difundidos pelas ondas hertzianas compreendem o período de 1968 a 2012, ano em que trabalhou nas últimas eleições para prefeito, na cidade de Londrina. No decorrer da trajetória profissional de Vita Guimarães constataram-se peculiaridades; dentre elas a regularização de seu registro profissional em 1999, já que não havia frequentado a academia. Este fato foi, portanto, um marco na carreira da profissional, que pôde dessa forma obter os direitos da classe. Outro ponto importante na carreira da jornalista ocorreu no ano de 2002, quando a Câmara Municipal de Londrina conferiu-lhe o Diploma de Reconhecimento Público pelas atividades que desempenhara em favor do município. A jornalista, reconhecida por sua voz potente esteve relacionada a lutas coletivas das comunidades londrinenses. Passou por diversas funções em nove emissoras, porém o trabalho com o qual mais se identificou foi o de dar voz à população em programas cujo foco era atender às reivindicações dos ouvintes.
  • 12. 12 A trajetória de Vita Guimarães e suas peculiaridades dão corpo a este trabalho, a fim de demonstrar a riqueza de sua história profissional. Dessa forma, registra-se também parte da história da mídia de Londrina. Dentre estas peculiaridades estão os casos polêmicos nos quais a jornalista participou ativamente na resolução, sendo, entre estes o caso-estudo deste trabalho: a cassação do prefeito Antonio Belinati. As próximas páginas do trabalho combinarão a história da jornalista ao quadro teórico embasado nos conceitos dos Estudos Culturais, pelas abordagens propostas por esta teoria que explica os processos midiáticos e as consequências que estes causam, tanto no contexto individual, quanto no que se refere à coletividade de determinada comunidade. Estima-se, portanto, com o auxílio desta teoria, compreender a relação e o reflexo que a história profissional de Vita Guimarães tem com o processo histórico da mídia local. Ainda sobre a teoria utilizada pode-se reafirmar a sua correlação com este caso pelos estudos propostos por Stuart Hall, que pontua as questões da identidade e suas concepções na pósmodernidade, além de trazer um conceito amplo do que é cultura. Outro ponto importante são os questionamentos feitos por Pierre Bordieu que discutem a linearidade proposta na construção de histórias de vida, o autor desconstrói essa ideia e crítica à organização cronológica dos textos biográficos. Quanto às técnicas de trabalho de campo utilizadas nesta pesquisa seguem os conceitos de Duarte por meio de entrevistas em profundidade, com o objetivo de explorar ao máximo o tema em questão. Utilizou-se, portanto, entrevistas: “abertas, semi-abertas e fechadas, originárias, respectivamente, de questões não estruturadas, semi-estruturadas e estruturadas” (DUARTE, 2006, p. 64). Para compor este trabalho foram necessários encontros com Vita Guimarães, que ocorreram entre os meses de abril e outubro deste ano, e totalizaram mais de quatro horas de gravação em áudio. No primeiro encontro, o método utilizado foi a entrevista aberta, pela sua flexibilidade e pela garantia da fluência e naturalidade, tanto por parte da entrevistada quanto da entrevistadora.
  • 13. 13 Durante o segundo e terceiro encontros, achou-se mais apropriado o método de entrevista semiaberta, ou seja, o auxílio de um roteiro com questões-chaves ditou a ocasião. Já no último encontro foi utilizado o método de entrevista fechada que se justifica por “aprofundar resultados obtidos em entrevistas em profundidade” (DUARTE, 2006, p.67). Ainda acerca das técnicas utilizadas, é importante citar o método biográfico que ajudou a compor este trabalho, com o propósito de possibilitar um aprofundamento singular na história profissional de Vita Guimarães. O método biográfico “é a dicotomia entre o real e o pessoal, a produção e a ruptura. É na verdade, a nosso ver, a renovação do presente” (DUARTE, 2006,p.84). E para contextualizar os momentos vividos pela jornalista foram necessários documentos oficiais como, o Jornal de Londrina, alguns documentos registrados pelo Ministério Público, carteira de trabalho, dentre outros. Foram estudados também cartas e e-mails, neste caso, enviados à Vita Guimarães tanto pela população quanto por autoridades da cidade. Fotos e clippings também auxiliaram na contextualização dos fatos vividos por Vita Guimarães. Outro método utilizado foi o estudo de caso, que possibilitou o levantamento de informações sobre o acontecimento em questão. Visando à descoberta, o pesquisador trabalha com o pressuposto de que o conhecimento não é algo acabado, mas que está sempre em construção por isso faz parte de sua função indagar e buscar novas respostas ao longo da investigação (DUARTE, 2006, p. 233). Quanto à organização, este trabalho divide-se em cinco capítulos, incluindo esta introdução. No segundo capítulo, discorre-se sobre os primeiros trabalhos desenvolvidos pela jornalista desde quando deu início a carreira no rádio em 1968 até 1989, demarcando, dessa forma, o que vivenciou entre o ofício de atriz no rádio e a transição para o jornalismo voltado às questões sociais.
  • 14. 14 O terceiro capítulo é composto por mais uma transição vivida pela jornalista; em 1989 na Rádio Brasil Sul, Vita Guimarães começa a desenvolver o radiojornalismo fora dos estúdios. Este período é demarcado entre os anos de 1989 e 2003, ano do último registro profissional da jornalista. Posteriormente, Vita parte para um projeto pessoal, entre 2003 e 2005, com o programa “Bairros em Revista”. São tratados também, neste capítulo, alguns casos polêmicos e particularidades da vida profissional da jornalista. No quarto capítulo está compreendido o estudo de caso sobre a cassação do então prefeito Antonio Belinati. Fato que Vita Guimarães não só acompanhou como foi peça fundamental para a resolução. Neste capítulo, a composição para o entendimento do fato será feito por meio dos depoimentos da jornalista, e também por materiais veiculados no diário Jornal de Londrina. O quinto e último capítulo contém as considerações finais, que reafirmam a necessidade deste estudo para o registro da história profissional de Vita Guimarães. Em seguida, estão as referências bibliográficas e digitais e também os anexos com os materiais necessários para a compreensão deste trabalho, dentre eles os periódicos e as gravações das entrevistas editadas.
  • 15. 15 2 PRIMEIROS PASSOS NA CAPITAL DO CAFÉ Em 1968, dentre os fatos que marcavam o contexto histórico internacional estavam a desapropriação dos últimos estabelecimentos privados em Cuba; neste mesmo ano foi morto a tiros o ativista Martin Luther King que recebeu o Nobel da Paz em 1964; na Tchecoslováquia começavam os rumores da Primavera de Praga. No Brasil, foi o ano da realização da “Passeata dos Cem mil”, da criação da lei de censura pelo então presidente Costa e Silva e também do decreto do AI-5, ato que suprimia as liberdades democráticas no país. No Paraná, a lavoura de café tomava os campos do estado, principalmente no norte, onde despontava a pequena Londrina, que teve investida em suas terras, desde a década de 50, a referida produção. Foi neste cenário que Vitalina da Silva Guimarães, conhecida posteriormente como Vita Guimarães, adentrou aos 16 anos no universo do rádio. A mineira, nascida na cidade de Santa Rita de Cássia, chegou a Londrina de pau de arara com seus oito irmãos e mais três famílias. Ela tinha nove meses de vida. O que trouxe a família de Dona Benedita da Silva e Senhor Abílio Dias Guimarães, pais de Vita, foi o êxodo e a esperança de novas oportunidades na “terra” onde tudo dava. Aos sete anos ajudava os pais nos afazeres domésticos e, com o passar dos anos, no cuidado com a roça. Já moça, trabalhando como empregada doméstica, Vita Guimarães fez uma aposta com um amigo cobrador de ônibus, e esta brincadeira mudaria o curso de sua vida. A aposta consistia em ir até a Rádio Atalaia e participar da seleção para compor o quadro de funcionários da emissora, especificamente, na área do rádio-teatro. Como não tinha nada a perder e aquilo seria apenas o cumprimento de uma aposta, topou. Para o rádio eu fui por acaso, fui por uma aposta. Eu sempre falei muito e um dia um cobrador do ônibus que também virou amigo, falou assim: ─Ah! Você fala muito, mas eu duvido que você tenha coragem de fazer o teste lá na rádio Atalaia. Era um vestibular, sabe? A rádio Atalaia ficava aqui na Avenida São Paulo, em cima da Vantajosa. Quando surgia uma vaga para o rádio-teatro era uma concorrência enorme, e fizeram esse
  • 16. 16 chamamento que precisavam de homens e mulheres, vozes masculinas e femininas para compor o rádio-teatro. (Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 20 de abril de 2013.) Chegando à emissora se deparou com professoras, advogadas e “mulheres muito bem vestidas”. O número de candidatos às vagas disponibilizadas também era considerável, naquele dia mais de 60 pessoas lotavam as escadas e corredores da rádio. O teste era assim: o diretor ficava na ponta de uma mesa, a pessoa vinha, saia do lugar da fila e sentava do lado dele. Ele dava um texto para ler de revista científica. Vinha um daqueles bonitões, começava a ler, ele [o diretor]: ─ Você não serve![...] Quase no final chegou a minha vez. [...] Eu comecei a ler e ele não mandava parar. Fui lendo, fui até o fim. Geralmente, as pessoas [candidatos ao teste] não liam mais de duas linhas. Ele falou: ─ É de você que eu preciso. (Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 19 de outubro de 2013.) Esta chance encaminhou Vita Guimarães ao mundo jornalístico. Vita confessa que não sabia o que aconteceria no dia após o teste, pois “estava somente cumprindo uma aposta”. Das pessoas que se candidataram apenas cinco passaram; destes, somente dois permaneceram para desempenhar a função. 2.1 DE RÁDIO-ATRIZ PARA O MUNDO DAS NOTÍCIAS CRONOLOGIA PROFISSIONAL DE VITA GUIMARÃES Dados carteira de trabalho (ANEXO A – Carteira de Trabalho) ANO EMISSORA FUNÇÃO 1970 – 1973 Rádio Atalaia Rádio-atriz 1974 Rádio Clube Rádio-atriz
  • 17. 17 1975 Rádio Londrina Locutora-noticiarista 1975 – 1976 Rádio Cruzeiro do Sul Locutora-noticiarista 1977 – 1978 Rádio Clube Datilógrafa-redatora 1979 – 1981 Rádio Clube Locutora-noticiarista 1981 – 1982 Rádio Atalaia Produtora executiva 1983 – 1984 Rádio Clube Produtora executiva 1984 Rádio Norte Chefe de escritório 1987 – 1988 Rádio Cruzeiro do Sul Gerente comercial 1989 Rádio Atalaia Produtora executiva 1989 – 1991 Rádio Brasil Sul Repórter 1991 – 1992 Fundação Mater Et Repórter (Rádio Alvorada) 1993 – 1996 Rádio Brasil Sul Locutora/entrevistadora 1996 – 1999 Rádio Paiquerê Repórter entrevistadora 2000 – 2003 Rádio Paiquerê Repórter entrevistadora A Rádio Atalaia “foi a sexta emissora a entrar no ar em Londrina” (COSTA, 2005, p. 93). Isto aconteceu no ano de 1962, quase 20 anos após a inauguração da primeira rádio da cidade, a Rádio Londrina. A emissora tornou-se poucos anos mais tarde uma escola: formou locutores e rádio-atores, dentre estes, Vita Guimarães. [...] a Rádio Atalaia foi, em todos os sentidos, uma grande escola de rádio de Londrina. Não apenas porque mantivesse uma “escolinha” para a formação de locutores e radioatores, mas porque lá se aprendia a fazer de tudo. De serviços de mecanografia (para cópia dos scripts), à redação de textos
  • 18. 18 para as mini-séries e demais programas teatralizados. (PINHEIRO, 2001, p. 84) E foi nesta grande escola que Vita Guimarães deu os primeiros passos. Mantinha dois empregos e também estudava; chegou a concluir o “2º grau”, equivalente ao Ensino Médio ainda durante o início da carreira. A futura jornalista explica que enfrentou preconceitos relativos à época. Estava no imaginário de algumas pessoas da sociedade daquele período, segundo Vita, que a mulher que trabalhava em rádio era tida como desocupada e o homem como desqualificado. “Mesmo assim era um paradoxo, porque era muito difícil chegar lá [rádio-teatro], as pessoas eram mal faladas, mas todo mundo queria”, destaca Vita. Em 1968, como é sabido, o país passava pelo regime militar (1964–1985). A jornalista explica que o Departamento Nacional de Telecomunicações (DENTEL) fiscalizava os scripts das rádios-novelas, e determinados textos tiveram de ser reescritos, porém as mudanças muitas vezes eram nas colocações das palavras, mudando um ou outro vocábulo. A gente tinha que levar as rádios-novelas que a gente escrevia para que eles vissem o que havia sido escrito. Mas era um negócio tão bobo, ele pegava o papel, lia alguma coisa e: ─ Não, não gostei dessa palavra. ─ Não gostei dessa frase. ─ Eu não gostei desse texto. Não havia um critério político, era um critério que ninguém sabe como é que é. A gente voltava para o estúdio e ia reescrever. (Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 19 de outubro de 2013.) Ainda menor de idade, em algumas circunstâncias, ela teve de se esconder da fiscalização dentro da própria rádio e quando, por ventura, a encontravam por lá, se questionada quanto a sua presença, negava o envolvimento empregatício, revelava somente que estava fazendo visita. Vita Guimarães possuía uma carteira de trabalho especial, direcionada a jovens menores de 18 anos. Mas, em algum momento de sua estadia na Rádio Atalaia este documento foi extraviado, ficando na carteira
  • 19. 19 profissional somente o registro a partir de 1970, quando já somava dois anos de trabalho na emissora. No dia 1º de fevereiro de 1970, curiosamente um domingo, teve o seu primeiro registro na carteira de trabalho, constando o cargo de rádio-atriz. Nesta primeira experiência ela permaneceu até 1973, quando foi tentar a vida na cidade do Rio de Janeiro. Na capital fluminense, local onde um de seus irmãos morava, teve a chance de assessorar Antonio Luiz Vendramini, que apresentava um programa da Rádio Tupi denominado “A turma da Maré Mansa”. Eu fiquei lá no Rio de Janeiro oito meses, mas era muito ruim pra mim porque eu morava muito longe. Eu morava em Jacarepaguá. Para chegar no centro da cidade eram 3 horas, três conduções [para ir], três pra voltar. O Antonio Luiz me levava de volta pra casa e eu comecei pensar: ─Nossa! Estou dando trabalho, não é legal. (Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 20 de abril de 2013.) Não adaptada à cidade, Vita Guimãraes retornou a Londrina e foi para a Rádio Clube, no ano de 1974. “A sétima rádio a entrar no ar na cidade, no ano de 1963, foi a Clube de Londrina” (COSTA, 2005, p. 93). Nesta emissora a futura jornalista também desempenhou a função de rádio-atriz e, de acordo com o seu registro profissional, ficou somente alguns meses. Isto se deu pelo fato de o rádio-teatro ter entrado em declínio, e também por um convite inusitado: Um amigo falou para mim assim: ─Você não quer trabalhar comigo lá na Rádio Londrina? Aí, eu falei: ─Fazer o que lá? Ele: ─Eu estou fazendo o projeto de um jornal e eu queria que você fosse comigo. Eu fui, acabei ficando lá um tempo. (Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 19 de outubro de 2013) Neste momento, é importante avaliar as mudanças, a transição que a vida de Vita Guimarães foi exposta. Saiu, em 1974, portanto do mundo da ficção, das histórias, da beleza das rádio novelas para trabalhar com as notícias, sendo a primeira emissora a Rádio Londrina, em 1975. Em seu
  • 20. 20 registro, o nome da função que desempenhara foi o de locutora-noticiarista, sendo a mudança evidente inclusive na carteira de trabalho. “A modernidade de Marconi chega a Londrina”, como destaca (COSTA, 2005, p.87) quando o município contava com apenas nove anos de fundação e foi denominada Rádio Londrina posteriormente, esta seria a emissora em que Vita Guimarães daria as primeiras passadas para o radiojornalismo. Neste contexto, é importante lembrar também os estudos feitos por Francisca Sousa Mota e Pinheiro sobre a fase inicial do rádio na cidade. Todavia, as promessas de crescimento eram alardeadas pela Companhia de Terras Norte do Paraná, subsidiária da firma inglesa Paraná Plantation, responsável pelo empreendimento de colonização da região. As peças da campanha publicitária, cartazes, anúncios em jornais e rádio, espalhados pelos diferentes Estados do país pela empresa colonizadora continham apelos estimulantes. A fertilidade do solo, a riqueza da mata, e a oportunidade de (re)começar a vida numa terra de muito futuro eram as principais atrações oferecidas nessa campanha (PINHEIRO, 2001, p. 6). Dados os primeiros passos, a jornalista destaca que não sabia quase nada de jornalismo, utilizava o método gillette-press – prática de noticiar a partir de textos antes publicados, sendo, geralmente, textos recortados de jornais lidos em rádio com a ausência de créditos. A respeito desta prática, Ortriwano (2003) destaca que eram comuns estes procedimentos pelo fato de que as rádios eram munidas, muitas vezes, de locutores e não de repórteres. Apesar de subverter a função do rádio, era comum nos seus primeiros tempos e continua presente em muitas de nossas emissoras, com roupagem nova: gillette-press virtual, resultado do copy and paste obtidos em sites da Internet (ORTRIWANO, 2003, p.70). Ainda neste período dos primeiros contatos com o mundo das notícias, em 1975, Vita Guimarães soube que uma das emissoras da cidade estava precisando de locutores, e se aventurou a perguntar ao diretor “se não serviria uma locutora”. E foi na Rádio Cruzeiro do Sul que a jornalista diz ter
  • 21. 21 aprendido o que era realmente o ofício diário da profissão, que desempenharia no decorrer dos anos. De acordo com (COSTA, 2005, p. 92) e (PINHEIRO, 2001, p. 72), a Rádio Cruzeiro do Sul foi a quarta emissora londrinense, sendo a primeira da década de 60, inaugurada em 1961. O diretor a quem Vita Guimarães faz referência é Antonio Marcos Dametto, que em determinada época foi também dono da emissora. “A minha faculdade foi aqui. Ele [Antonio Marcos Dametto] me ensinou tudo”. A jornalista permaneceu nesta Rádio entre os anos 1975 e 1976. No ano de 1976 nasceu Fabiane Guimarães, filha da jornalista que diz ter somente ficado em casa durante os quatro meses de licença maternidade, pois naquela época já assegurava à mulher a garantia do emprego (Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943). Após o nascimento da filha, a jornalista voltou para a Rádio Clube, tendo em sua carteira de trabalho dois registros profissionais seguidos: um entre 1977 e 1978 e outro de 1979 a 1981. Em 1980, nasceu a segunda filha: Paula Guimarães. Nesta década, de acordo com dados do censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a população de Londrina passava de 300 mil sendo que 88,48% residiam em área urbana e 11,52% se encontravam nas áreas rurais. A explicação para este retorno à emissora, segundo a profissional, se dá por questões salariais. “Era bem rotativo. Como não tinha piso, onde estava melhor a gente ia. Ficava alguns meses, saía e depois voltava ou ficava sem registro um tempão”. Um fato intrigante, recorrente na carteira de trabalho da jornalista, são as denominações de suas funções. Como exemplo, nesta época em que esteve na Rádio Clube, em um de seus registros está: datilógrafaredatora e no outro locutora-noticiarista. A jornalista explica o porquê destes artifícios: [...] Era tudo atividade de radiojornalista, mas para burlar a lei eles colocavam assim. Inclusive locutora-noticiarista, isso nunca existiu. Isso tudo era para burlar a lei. [...] A questão é
  • 22. 22 que estavam começando as cobranças na área trabalhista, as mudanças pós-ditadura. (Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 19 de outubro de 2013) Nos caminhos desta trajetória está também o retorno da profissional à emissora que abriu as portas para que ela mostrasse o seu talento. Entre os anos de 1981 e 1982, a jornalista retoma os trabalhos na Rádio Atalaia, agora para desempenhar a função de radiojornalista. Deixando a emissora em 1982, ela regressa à Rádio Clube em 1983 e fica até 1984. A Rádio Clube “é considerada a recordista em alterações de contrato social. Oficialmente, passou por dez alterações. Extraoficialmente, este número vai bem além” (PINHEIRO, 2001, p.94). Conhecida por passar por mudanças repentinas, aquela emissora mudou de nome e tornou-se Rádio Norte, sendo a jornalista registrada como chefe de escritório. Na verdade eu era gerente da Rádio, fazia de tudo. Da noite para o dia ela se transformou em Rádio Norte tanto que eu sou a primeira funcionária dessa Rádio porque eu já era funcionária. [...] Essa Rádio foi levada lá para o lado da UEL. Ela funcionava dentro de um ônibus. Tinha uma casinha onde tinha escritório e tinha uma carcaça de um ônibus. Era um cara bem visionário que nós tínhamos aqui que era o dono da Rádio, chamava-se Celso Aarão. (Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 19 de outubro de 2013) A jornalista declara também que não tinha horário para ir embora da Rádio Norte, o cargo e as demandas que chegavam até a emissora exigiam que permanecesse lá durante o dia todo. Atualmente, os jornalistas têm a carga horária de cinco ou sete horas diárias, de acordo com as normas vigentes no Artigo 303, da Consolidação das Leis do Trabalho. Em 1985, nasce André Guimarães, o terceiro filho de Vita. Nesta época, o prefeito da cidade era Wilson Rodrigues Moreira. Mineiro como Vita Guimarães, ficou conhecido pelas obras que deixou para a cidade, por exemplo, o Terminal Urbano de Transporte Coletivo e o Anfiteatro do Zerão.
  • 23. 23 A profissional volta à Rádio Cruzeiro do Sul em 1987 permanecendo até 1988. A lacuna existente entre a saída da Rádio Norte e a entrada na Cruzeiro é justificada pelo fato dela continuar trabalhando naquela, mesmo sem registro. Neste retorno, à emissora Cruzeiro assumiu o cargo de gerente comercial, fazendo como ela mesma relata, “de tudo”. Saiu do cargo e da emissora, quando esta foi vendida. O mesmo aconteceu quando seguiu pela terceira vez para a Rádio Atalaia, em 1989. 2.2 EXPERIMENTAÇÕES DE UM PERCURSO PROFISSIONAL A vida profissional de Vita Guimarães, como se pode notar até aqui, passou por várias peculiaridades e transformações: Foi uma transformação gradual, desde o início do aprendizado. Como você sabe, eu não tenho academia. E eu fui aprendendo aos poucos como lidar com as pessoas que tinham maior compreensão, assim como as que tinham menor compreensão dos fatos. Porque, às vezes, você vê uma pessoa graduada que não tem a menor educação. Você vai, lá na ponta da vila, encontra uma pessoa que não sabe escrever, que não sabe ler, que não sabe nada e que te ensina muito com a vida dela. Te tratando com respeito, com carinho, com observação. Às vezes, tratando com uma pessoa graduada você não encontra isso. Eu encontrei de tudo. Isso, foi me ensinando no dia a dia como tratar as pessoas, como encarar o ser humano. (Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 31 de agosto de 2013) “Um homem que tem algo a dizer e não encontra ouvintes está em má situação. Mas, pior ainda, estão os ouvintes que não encontram quem tenha algo a dizer-lhe”. A frase de Bertolt Brechet, que apresenta o Manual de Radiojornalismo (BARBEIRO, 2001), causa certo estranhamento à primeira leitura. Porém, no âmbito comunicacional as suas entrelinhas ganham força e fazem todo o sentido. A curiosidade aguçada, a afinidade com a caneta, o bloquinho de papel e o gravador definem minimamente estes homens que têm o que dizer.
  • 24. 24 Olhar para o passado, faz-se necessário para compreender o processo da informação da atualidade. O rádio carrega em si a efemeridade, o agora, a simplicidade. Com o advento da televisão e da internet, muitos acreditaram que este veículo de comunicação fosse se tornar obsoleto e que as ondas hertzianas jamais seriam utilizadas. A afirmação leva à reflexão de que o rádio é ainda condutor massivo da informação, seja pelas suas ondas tradicionais ou pela publicação nas páginas da internet. O rádio nunca vai perder essa qualidade de chegar às pessoas. Onde você estiver tem um rádio. [...] Porque o rádio foi a grande transformação do mundo. E hoje você chega lá nos rincões da Amazônia tem um radinho. Agora também já tem satélite, tanta coisa que mudou, mas o precursor de tudo isso foi o rádio. (Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 31 de agosto de 2013) Adentrando o universo peculiar dos padrões organizacionais, ou seja, a culturalidade de um povo, é possível entender as suas escolhas, os seus ritos e, é claro, o que se noticia em qualquer tipo de mídia. Como aqui a previsão é trabalhar com estudos relacionados ao rádio intenta-se compreender como essa culturalidade influencia nas escolhas, principalmente de quem noticia. Leva-se em consideração a máxima de Brechet e acrescentase que o homem “tem [sempre] algo a dizer”. Sobre isto, é importante ressaltar os conceitos estudados por HALL (2003) que define a cultura como “o estudo das relações entre elementos em um modo de vida global”, fazendo cair por terra o conceito arcaico de que cultura é apenas o que se desenvolve nas práticas e costumes de um povo. O repórter que se apóia em seu background cultural tem uma visão mais globalizada de seu espaço, deixando de lado, talvez, a visão maniqueísta, mais parcial que envolve essa prática social do fazer jornalístico. A cultura é esse padrão de organização, essas formas características de energias humanas que podem ser descobertas como reveladoras de si mesmas – “dentro de identidades e correspondências inesperadas”, assim como em “descontinuidades de tipos inesperados” – dentro da subjacente a todas as demais práticas sociais (HALL, 2003, p. 128).
  • 25. 25 O pesquisador é categórico ao correlacionar a análise da cultura, ou seja, suas particularidades existentes em um caso com as complexas experimentações sociais da atualidade. Tal estudo possibilita a compreensão, as respostas aos porquês e as práticas desenvolvidas pelas interrelações humanas de um dado período. Percebe-se, assim, que a sensibilidade para determinadas situações é inerente a alguns desses seres que habitam a Terra. Pode-se dizer que uma parcela dos que têm o chamado feeling para o ofício jornalístico se incluem entre aqueles que desejam interferir nas questões sociais com o intuito de melhorar a qualidade de vida das pessoas. 2.3 O RÁDIO E SUAS EXTENSÕES Aspectos descritos por Ortriwano (1985) caracterizam alguns elementos práticos relativos à atividade de propagar a informação no rádio. A pesquisadora destaca que a linguagem oral tem “vantagens sobre os veículos impressos”, pois quem escuta a programação não precisa necessariamente saber ler. Outro ponto é acerca da penetração destas informações, ou seja, chegam aos ouvintes em pontos remotos, demonstrando, dessa forma, a sua abrangência. Entre os meios de comunicação de massa, o rádio é, sem dúvida, o mais popular e o de maior alcance público, não só no Brasil como em todo o mundo, constituindo-se, muitas vezes, no único a levar a informação para populações de vastas regiões que não tem acesso a outros meios, seja por motivos geográficos, econômicos ou culturais. (ORTRIWANO, 1985 p. 78) Há que se considerar também a relação emissor/receptor. No rádio, a emissão é menos complexa tecnicamente do que na televisão, possibilitando menos recursos e uma transmissão mais rápida. A evolução do
  • 26. 26 aparelho de rádio tornou possível a mobilidade de quem o escuta, podendo as pessoas, portanto, desempenhar várias atividades enquanto ouvem a programação, as informações. A pesquisadora destaca também o baixo custo, sendo o aparelho de rádio uma aquisição ao alcance financeiro de grande parte da população. A instantaneidade e a sensorialidade marcam a efemeridade da emissão e da recepção da informação. Revelam também um universo envolvente com recursos da sonoplastia despertando emoções e marcando, dessa forma, o ouvinte em sua individualidade. A jornalista mesmo após a aposentadoria explica a relação que ainda mantém com o rádio: Eu ouço rádio diuturnamente. Acho que vai ser assim a vida inteira, aprendendo [com o rádio]. Fico lá sozinha escutando rádio e, às vezes, ouço alguma coisa e digo:─Não é isso! [...] Na cozinha eu tenho rádio, tenho rádio no quarto. Tenho rádio em cada canto da casa. [...] O rádio é um elemento familiar. Marconi fez um bem muito grande para a humanidade. (Vita Guimarães, em entrevista exclusiva, 31 de agosto de 2013) Outro ponto a ser discutido são os signos acústicos que juntamente com os sinais mostram vestígios, explicitam a força da voz e por sua vez a força imaginativa. Pensar o rádio em sua magnitude envolve complexas afirmações, dentre elas a de que “os meios de comunicações são extensões dos seres humanos”. Essa afirmação de Marshall McLuhan (1964, p. 334) se aplica também ao rádio como meio de comunicação capaz de ser tão progressivamente efetivo que se conecta de maneira direta com o sistema nervoso central dos seres humanos, ou seja, o sistema da informação. Ainda são possíveis delongas sobre o tema. O autor faz afirmações contundentes acerca do profundo envolvimento que o material processado pelo rádio causa em seus ouvintes, sendo ele sentimental e emocional provocando como já descrito uma imagem auditiva. Em experiência vivida por Vita em uma de suas visitas para venda de suas iguarias, fica explícita a imagem que os ouvintes criam ao escutar a programação das emissoras de rádio. Ontem mesmo, eu estava na Rede Massa. O rádio tem essa coisa da fantasia. Ontem, mais uma vez eu vivenciei isso.
  • 27. 27 Levando meus salgados para o pessoal. Tinha um moço de uma empresa de segurança. Começou a conversar comigo, perguntou dos salgados, passei para ele o que tinha. No final, ele falou:─Gostei muito da senhora, não sei o porquê, mas gostei muito da senhora. Os meninos que estavam do lado falaram:─Você não conhece ela, não sabe quem ela é? E ele:─Não, não sei. Eles falaram:─Ela é a Vita. O rapaz fez assim deu um pulo: ─Eu pensava que a Vita Guimarães era loira. Então, muita gente faz essa fantasia de como é a pessoa que esta do lado de lá das ondas. Eu achei tão engraçado porque isso já há muito tempo acontece, mas eu não achava que agora ainda fosse acontecer. E as pessoas ainda fazem uma imagem. Foi interessante e ele é um negro. [...] Ele levantou me deu um abraço:─Que felicidade te conhecer! (Vita Guimarães, entrevista exclusiva, 31 de agosto de 2013) O capítulo em que McLuhan expõe suas considerações acerca do rádio, denominado “O tambor tribal”, possibilita entender que a atuação da mensagem propagada pelo rádio leva ao processo de retribalização. Analisando o comportamento da jornalista é possível notar a movimentação que ela causava na cidade quando das suas coberturas jornalísticas como no caso em que teve de tomar a frente para que a população de um bairro da cidade tivesse acesso à rede de esgoto. Eu tive um proveito muito grande fazendo jornalismo comunitário. Eu podia levar rede de esgoto para um bairro, através do meu trabalho. No caso do Mister Thomas, numa das ruas, não tinha como a Sanepar fazer esgoto para aquele povo. Fossa caindo dentro do quintal, aquela coisa toda. Eu reuni o pessoal e falei:─Vamos fazer essa rede de esgoto nós mesmos?─Vamos conseguir o material e fazer a rede de esgoto. Não era meu bairro. Fazendo aquele trabalho eu vi a tristeza daquelas pessoas, sem rede de esgoto. Correndo perigo. [...] Nós começamos a fazer. Por nossa conta e risco. Sem saber nada de metragem. Aí a Sanepar encampou o trabalho e foi lá fazer. (Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 20 de abril de 2013) Sendo assim, é possível afirmar que o veículo resgata e constrói vínculos, os enaltece, engrandece suas intenções e motiva a congruência da batida do tambor, revitalizando as trocas pessoais, as
  • 28. 28 interações e, certamente, suas trocas multiculturais no sentido exposto por Stuart Hall. Altamente capaz de provocar transformações, o rádio é, então, protagonista do imediatismo comunicacional, portando experiências particulares que têm sua ressonância para além da caixa preta dos estúdios e gravadores, ressona em um potente eco capaz de modificar condições prémoldadas, pré-estabelecidas. O rádio possui o seu manto de invisibilidade, como qualquer outro meio. Manifesta-se a nós ostensivamente numa franqueza íntima e particular de pessoa a pessoa, embora seja, real e primeiramente, uma câmara de eco subliminar cujo poder mágico fere cordas remotas e esquecidas. Todas as extensões tecnológicas de nós mesmos são subliminares, entorpecem; de outra forma, não suportaríamos a ação que tal extensão exerce sobre nós. Mais do que o telégrafo e o telefone, o rádio é uma extensão do sistema nervoso central, só igualada pela própria fala humana. (MCLUHAN, 1964, p. 339). Dessa forma, apesar da retribalização que nos remete a imaginar que o rádio é um meio de comunicação grupal, as pesquisas de McLuhan em sua época afirmam que o aparecimento da TV centralizou as informações, fazendo com o que o rádio se despisse da carga de fazer o mesmo, partindo então para a diversificação e a individualidade, ou seja, o que antes era ouvido em conjunto passou a ser uma atividade individual. Ocorre aqui o afastamento do “grupo” para a audiência particular. Segundo McLuhan, “com a TV, o rádio se voltou para as necessidades individuais do povo, em diferentes horas do dia, bem em sintonia com a multiplicidade de aparelhos receptores” (1964, p. 335). As reflexões de McLuhan eram consideradas descabidas para a época, porém, para a sociedade atual é completamente aceitável acreditar que determinados aparelhos são prolongações de nós mesmos e condicionam o nosso corpo de tal forma que não conseguimos resistir ao seu uso. Pode-se citar a forma que condicionamos as relações humanas, ou seja, tudo está interligado aos meios eletrônicos, o contato é feito por meio de celulares, internet, i-pods etc. Tais explicações se fazem
  • 29. 29 necessárias para compreender a atual função e os mecanismos implícitos do rádio bem como a vivência da jornalista Vita Guimarães. Outro ponto imantado nos conceitos de radiojornalismo é o que matérias, reportagens e locuções causam na memória de uma comunidade. Os pedaços das histórias são alinhavados pelo que foi dito desde as histórias sem “expressividade” até as colocações impostas pela mídia. O que torna-se conclusivo aqui são as histórias descritas pela jornalista cujo trabalho é um grande legado para a história do radiojornalismo da cidade de Londrina. A descrição de Meihy faz ressalvas a histórias como a de Vita Guimarães que por sua abrangência esclarece momentos da história individual e também da social. Algumas histórias ganham relevos na medida em que expressam situações comuns aos grupos ou sugerem aspectos importantes para o entendimento da sociedade mais ampla. Essas histórias, contudo, não podem ser generalizadas ou consideradas típicas. Por suas características narrativas, elas são mais completas e abrangentes pela capacidade narrativa ou pela coleção de fatos arrolados. (MEIHY, 2002, p.37). Sob a ótica de estudos de Meihy é importante afirmar que a memória individual traz consigo fragmentos culturais que, dependendo da situação, podem projetar verdades sobre a coletividade. A história em seu sentido estrito leva consigo lembranças carregadas de objetividade, de oficialidade, já a história oral busca aquilo que foi encoberto pelo oficial, busca o lado esquecido. As questões aqui levantadas, também fazem parte do estudo de Delgado (2003). A autora afirma ser o tempo o causador de mudanças cotidianas, agente capaz de orientar o percurso para o futuro, a determinação do presente e os fatos passados. A autora quer intentar a compreensão de que é por meio do tempo que se tiram conclusões a respeito da historicidade. Acerca da relação entre tempo, memória, espaço e história, Delgado dirige sua interpretação ao tensionamento existente entre essas áreas. Porém, o conceito de tempo se sobressai ao se pensar que em todas as interpretações existe o tempo como senhor da palavra ditando o que foi vivido:
  • 30. 30 as representações. Tais conceitos ajudam na compreensão de que a análise proposta deve ser reinterpretada, não modificada. A autora é também categórica ao afirmar que: Sem qualquer poder de alteração do que passou o tempo, entretanto, atua modificando ou reafirmando o significado do passado. Sem qualquer previsibilidade do que virá a ser, o tempo, todavia, projeta utopias e desenha com as cores do presente, tonalizadas pelas cores do passado, as possibilidades do futuro almejado. O passado apresenta-se como vidro estilhaçado de um vitral antes composto por inúmeras cores e partes. Buscar recompô-lo em sua integridade é tarefa impossível. Buscar compreendê-lo através da análise dos fragmentos é desafio possível de ser enfrentado (DELGADO, 2003, p. 10). Os fragmentos da vida profissional de Vita Guimarães reunidos neste trabalho demonstram a atualidade dos estudos de McLuhan, pois se o rádio está intimamente ligado ao nosso sistema nervoso central, certamente o gravador da jornalista era a extensão de seus ouvidos e o microfone a extensão de sua fala
  • 31. 31 3 DOS ESTÚDIOS PARA A RUA É muito bom ser jornalista. Eu fiquei durante todo esse tempo. Não tenho nada para reclamar. Levantar de madrugada, não dormir são coisas inerentes à profissão. Fique sabendo disso. Dentro do jornalismo isso é normal, de repente você pega uma matéria e você não consegue dar conta dela em oito horas. Você tem que optar, você tem que saber que o tempo é da matéria, não seu. (Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 20 de abril de 2013.) A trajetória de Vita Guimarães, para fins didáticos, pode ser dividida em três momentos: o primeiro, quando entrou para o mundo das ondas médias em 1968 com o rádio-teatro; o segundo quando lhe foi proposto fazer radiojornalismo, ainda que de uma forma precária pelas condições que as rádios londrinenses propagavam as notícias, de 1975 a 1989; e o terceiro de transição entre o radiojornalismo feito nos estúdios e o desenvolvido propriamente na rua pela profissional. Esta fase compreende do ano 1989 ao ano de 2003, sendo os anos entre 2003 e 2005 direcionados para um projeto pessoal. Acontece, portanto, em 1989, esta referida transição. Vita Guimarães chega à Rádio Brasil Sul que, segundo Pinheiro (2001), tem sua história iniciada em 1954. Entre os anos de 1989 e 1996, ela trabalhou na referida emissora, passando apenas pelo hiato entre 1991 e 1992 na Rádio Alvorada, também na cidade de Londrina. Esta emissora foi a “oitava a operar em Londrina, a partir de 18 de abril de 1964 (COSTA, 2005, p. 94)”. No momento em que se propôs a trabalhar como repórter, nas ruas da cidade, a jornalista foi convidada a desenvolver trabalhos na área do radiojornalismo policial, onde diz não ter tido prazer algum em trabalhar. Vita Guimarães descreve em entrevista que a vertente policial, por vezes, a fez sentir mal e por isso ficou nesta editoria por três anos. Ela descreve que nunca foi alvo de ameaças e repressão. Acreditava que estava nos locais das ocorrências para desempenhar o seu trabalho e não para procurar desavenças com os moradores. Sobre essas questões foram ouvidas apenas as confissões da jornalista. Os assuntos,
  • 32. 32 quando tratados durante as entrevistas, levavam Vita Guimarães a recorrer ao mesmo argumento: o de que tentava trabalhar com o diferencial e sobretudo com “dignidade”, assim como comenta. Consegui desempenhar a minha função com dignidade e não fiz inimigos, nunca tive esse negócio de alguém me ameaçar. Eu tinha até ajuda de muitos chefões do crime no meu trabalho. Eu chegava no União da Vitória, por exemplo, eu podia deixar o carro aberto, cada vez que acontecia alguma coisa lá, que eu tinha que ir para lá eu podia ficar sossegada. Eu podia ir pra lá de noite, porque eu tinha essas pessoas, alguns que eu nem conheci. (Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 20 de abril de 2013.) Em entrevista à Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, o pesquisador José Marques de Melo explica que o jornalismo policial é o “segmento jornalístico que focaliza o desempenho das instituições responsáveis pela administração das infrações legais dos cidadãos”. É, então, uma editoria ou seção de jornais, radiojornais ou telejornais. O pesquisador não faz referência acerca do início do jornalismo policial, porém completa que, desde o século XIX, os crimes despertavam o gosto dos jornais diários. Acrescenta que não existe diferença da prática profissional o que se pode considerar é que a maneira, o agir em determinados seguimentos pode ser diferenciado. Outro ponto que Marques de Melo é questionado, é em relação ao sensacionalismo, que segundo ele deve ser evitado em qualquer editoria. Sobre a ética, acrescenta que ela tem de existir em todas as esferas do cotidiano desde a cobertura de fatos econômicos até o acompanhamento de ocorrências policiais. “O jornalismo policial constitui um tópico negligenciado pelos cursos de jornalismo”, afirma Marques de Melo comentando que ainda existem preconceitos nas universidades quando o enfoque são dificuldades vivenciadas pelas classes populares – estas só ganham espaço quando são responsáveis por infrações. Ele diz que, hoje em dia, são raras as academias que
  • 33. 33 contemplam em sua grade o jornalismo policial, esta editoria permanece, geralmente, no campo das pesquisas e debates. O pesquisador coloca também que as camadas marginalizadas são as maiores usufruidoras dos programas policiais, pois estes se tornam espelho do cotidiano. Marques de Melo destaca que uma das falhas dos dirigentes destes programas é a falta de preocupação com o papel educativo: “Resvalando não raro para situações em que exacerbam os ânimos, quer dos agentes policiais, quer das lideranças do crime organizado”. Algumas histórias de Vita Guimarães causam inquietude, outras causam horror e também existem aquelas que deixam a sensação de dever cumprido. O radiojornalismo policial é um campo de batalha, literalmente, pois nunca se sabe o que a natureza humana está por tramar. Os desafios desse ofício estão para além de carnificinas, estão relacionados a diversas questões sociais. Com determinados relatos, assim como já mencionado neste trabalho, é possível construir uma identidade e, além disso, compreender o que se passa em determinada sociedade. “Não é brincadeira enfrentar o jornalismo, porque no jornalismo você lida com a vida dos outros, lida com a vida de terceiros, é muito sério”. Está frase define de maneira concisa quem é Vita Guimarães. A jornalista, que no início da carreira interpretava personagens, trabalhou a vida toda no rádio. No radiojornalismo policial e encarou o radiojornalismo como desafio. Vita afirma com segurança que nunca sentiu medo de desempenhar a sua função e que as denúncias feitas nunca foram usadas contra ela no sentido de ser rendida, maltratada. Nunca sofri nenhum tipo de problema, risco à minha vida. Eu vi a pessoa chegar e falar: “Esse carro aqui ninguém mexe hein, quem mexer nesse carro aqui tá... (falou um palavrão) Quem mexer vai se ver comigo, não mexa. A Vita é nossa amiga”. E eu nem sei quem é essa pessoa, eu vi essa pessoa, mas eu não sei quem é. (Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 20 de abril de 2013.)
  • 34. 34 A boa convivência com policiais rendia bons materiais, noite ou dia, não existia horário; tanto que a jornalista afirma não ter visto seus filhos crescerem: [...] era amiga de muitos policiais. Quando tava acontecendo alguma coisa eles ligavam: “Olha, está acontecendo tal coisa, você não quer ir lá?”. Eu saia de madrugada, não importava a hora e cumpria a minha missão. Mas, depois a minha alma começou a ficar pesada por não poder fazer nada, por não poder ajudar. O que você faz por uma pessoa que cometeu um crime? Você só aumenta a dor dela. Hoje, como se mostra na televisão, aquele tempo era bem menos, eram poucos os programas policiais na TV. O Luiz Carlos Alborghetti: nunca compactuei com ele dizendo “bandido bom é bandido morto”, aquela coisa se ele fala o problema é dele, eu não vou falar isso. (Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 20 de abril de 2013.) Para construir suas matérias, a jornalista ouvia primeiro o que o delegado tinha para falar sobre o caso. Ressalta que sem exceções os delegados de seu antigo convívio sempre foram solícitos e prestativos, sendo o seu acesso “muito bom, desde o delegado chefe até a faxineira que até hoje eu tenho como amiga”, conta. Vita Guimarães explica que os casos vistos e narrados no radiojornalismo policial tiveram a função de divisor de águas. A proximidade com as mazelas humanas serviram para analisar do que o homem era capaz, apesar de que nem sempre conseguia compreender tais situações. Você consolida isso. Você aprende que só pelo trabalho honesto e digno você vence. Que não há crime perfeito, a ganância não te leva a lugar nenhum, ela é efêmera. Isso tudo você pode ver na porta de uma delegacia, onde você vê chegar pessoas ditas de bem, os pés eram de barro. Aí você vê o ladrão de galinha que embora seja uma galinha ele não pode roubar, embora seja uma agulha ele não pode roubar. O ser humano não pode fazer isso. Então, você consolida os seus princípios. Aquilo que você aprendeu com o seu pai, a sua mãe, com as pessoas da sua convivência na infância: „isso não pode‟, isso é errado. Eu pude consolidar ali, “N” coisas, sabe? De repente você esta vendo uma pessoa pela cidade com um bom nome, de repente é um estelionatário, uma pessoa que está passando a outra pra trás, está enganando alguém. (Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 20 de abril de 2013.)
  • 35. 35 O seguinte relato explicita muito bem o sentimento descrito por Vita Guimarães. O caso ocorreu em Bela Vista do Paraíso e estava relacionado ao estupro de uma garotinha de sete anos. E nós tivemos por lá, ouvindo as pessoas, tentando encontrar essa criança. E o danado do cara que estuprou a menina, ajudou a procurar a menina. Isso, depois ao longo do tempo a gente vê que acontece muito. Ouvindo essas histórias de crianças desaparecidas, depois você vê que aquela pessoa estava ali também ajudando entre aspas ajudando e esse cidadão, é um cidadão. Fazer o que né? Ele usou. Quando o delegado trouxe ele, já era muito tarde da noite e eu estava lá na delegacia. Aí o doutor Sebastião Petrucci falou assim: ─Vita, conseguimos pegar o cara e ele está lá na minha sala, você quer entrevistar ele? Eu falei: ─Petrucci, será que eu vou? Será que eu vou entrevistar esse cara? Bom, depois eu falei: „é minha missão, vou lá entrevistar o cara‟. E eu tinha as minhas filhas pequenas, eu tenho duas filhas, e elas eram pequenas ainda, meninas. Quando ele começou a falar eu perguntei: ─Mas por que o senhor fez isso? Ele falou assim: ─Ela me pediu. A gente usava um gravador enorme, era o que nós tínhamos na época, até hoje eu me emociono com a história dessa criança. Quando ele falou „ela que pediu‟ eu ia bater na cabeça dele com o gravador, o delegado segurou a minha mão. Senti assim muita raiva, e raiva é um sentimento que eu não gosto de ter, mas naquele momento a minha vontade era fazer alguma coisa para vingar aquela criança. A criança pediu? Como? E você atendeu e por isso você matou? Por que ela te conhecia, era vizinha? Ele tava lá junto. Andava por tudo, matreiro. E a menina escondida, deixada debaixo de um pé de café. E quando ela foi encontrada, numa posição terrível. Do jeito que ele estuprou ela, ela morreu, sabe. E trouxeram ela do jeito que estava, na posição de sexo. Uma coisinha magrinha. Eu vi a menina no necrotério, então aquilo me doeu muito. E o Petrucci até hoje está por aí e sempre lembra disso. Então, quer dizer eu ia acabar cometendo um crime também por indignação. Eu pensei nas minhas filhas.
  • 36. 36 Se uma pessoa dessa fizesse uma coisa dessa com a minha filha! Aquela criança ali poderia ser a minha filha! Isso doeu muito. (Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 20 de abril de 2013) Depois disso, a jornalista perdera o gosto por desempenhar o seu trabalho na editoria policial, quis, portanto, iniciar em outra área. Neste momento surgiu a oportunidade de mudar de editoria na própria emissora, Rádio Brasil Sul; começou ali o seu trabalho jornalístico com as comunidades. Melhores propostas a encaminharam à Rádio Paiquerê. Esta emissora deu início a sua história em 9 de fevereiro de 1957, sendo a terceira emissora a operar em Londrina (COSTA, 2005, p. 92). Vita Guimarães permaneceu na emissora de 1996 a 2003, sendo este o último trabalho registrado em sua carteira de trabalho. Neste período estão alguns dos casos mais polêmicos vividos pela jornalista, dentre eles a caso da cassação do prefeito Antonio Belinati. Após esta longa trajetória nas emissoras de rádio de Londrina, Vita Guimarães criou um projeto abrindo uma empresa de publicidade e para concretizar uma vontade antiga e retornou à Rádio Brasil Sul com programa próprio: “Bairros em Revista”. Nesta ocasião, a jornalista produzia as matérias e também apresentava o programa, contando com auxílio de “três bons patrocinadores”, destaca. O programa esteve no ar durante dois anos e quem sintonizasse na Rádio Brasil Sul, das 13h às 14h, poderia saber o que estava acontecendo nas comunidades, nos bairros de Londrina. A Folha Norte (ANEXO B) da semana de 22 a 28 de março de 2003 noticia a nova fase da jornalista, dando destaque ao fato de ela ser moradora de um dos bairros da Zona Norte. Na página nove, o trecho que se destaca é uma das características de Vita Guimarães: “Porta-voz da população e de seus problemas, ela sempre leva informações úteis para moradores de bairros mais afastados”. De uma forma geral, a jornalista participava dos radiojornais das emissoras nas quais trabalhava inclusive em sua produção independente,
  • 37. 37 como já citado. Geralmente, as questões a serem trabalhadas eram decididas em reuniões de pauta, com a intenção de mostrar as necessidades dos bairros; as próprias comunidades sugeriam as pautas, ajudando a compor o jornal. Questionada quanto à mudança nos aparatos tecnológicos, e também quanto à maneira que decidia escolher as matérias para produzir, a jornalista destaca que não se lembra precisamente de datas em que houve mudanças nos aparelhos eletrônicos; sabe é claro que no começo de seus trabalhos tinham de cuidar para não errar nas gravações. Gravar demandava um trabalho imenso por parte dos próprios jornalistas e também da equipe técnica. Os aparelhos não tinham o mesmo tamanho que os de hoje em dia, portanto, tinham de ser, de acordo com a jornalista, grandes. Do aparato enorme que dava trabalho para ser carregado, surgiram os de fita cassete e recentemente os digitais. 3.1 A IMERSÃO NO OFÍCIO DIÁRIO As proporções que o trabalho da jornalista ganhou não passaram despercebidas. Assim, é possível compreender tanto a intenção de suas reportagens, como também entender o papel que a jornalista desempenhava naquele contexto. O jornalismo de serviço é conceituado por Maria Pilar Diezhandino como a informação que dá ao receptor a possibilidade de efetiva ação e/ou reação: aquela informação, oferecida oportunamente, que pretende ser de interesse pessoal do leitor – ouvinte – espectador; que não se limita a informar sobre senão para; que se impõe a exigência de ser útil na vida pessoal do receptor, psicológica ou materialmente, mediata ou mediatamente, qualquer que seja o grau de alcance dessa utilidade. A informação cuja meta deixa de ser oferecer dados circunscritos ao acontecimento, para oferecer respostas e orientação (DIEZHANDINO apud MOREIRA, 1991 p. 152). A citação reforça as intenções deste trabalho de compreender o tipo de jornalismo desenvolvido por Vita Guimarães bem como a sua importância para as comunidades locais.
  • 38. 38 Por vezes, quando o poder público não tinha atitudes com relação a melhorias de infraestrutura básica para a população, Vita Guimarães chamou atenção para o que deveria ser feito, não propriamente pelas mãos dela, mas pelo compromisso do dever público com a população. 3.1.1 CASO “ELEFANTE BRANCO” “A gravação ou a transmissão ao vivo é mais que uma ilustração sonora, é a própria materialidade da informação em um meio que se faz por uma oralidade aparente”. A afirmação de Moreira (1991, p.111) é importante para esta análise pelo fato de colocar as fontes como ponto primordial da veiculação de uma notícia. Ao escutar as comunidades, Vita Guimarães criava uma imagem descritiva daquilo que estavam passando, mencionava o contexto para que a população entendesse o que ocorria, e pelo seu poder de persuasão e denúncia, fazia com que aquelas necessidades falassem aos ouvidos dos responsáveis. Um exemplo, um viaduto que seria construído em local impróprio na Zona Sul da cidade, que não auxiliaria a população em suas necessidades. Vita Guimarães ficou novamente à frente desta briga reivindicando o real desejo da população. Nós ficamos do lado da população reivindicando um viaduto. Mas a sociedade ali acabou sendo corruptada pelo Belinati, e fez o viaduto no local errado. Que hoje ta lá é um elefante branco, só serviu para uma moça pular de lá e se suicidar. E os menininhos que ficam fumando o que não deve. Ninguém passa por ali porque foi feito no lugar errado. Era pra ser feito lá na ponta do bairro onde ia servir pra comunidade e foi feito do outro lado. (Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 20 de abril de 2013) Nem todas as ocorrências em que a jornalista se enveredava tinham o resultado esperado por ela e pela população. Isto demonstra que a junção da figura Vita Guimarães com as necessidades reais do povo
  • 39. 39 dependiam, quase que em todas às vezes, de atitudes positivas por parte do meio político. Nesse período, quem estava comigo nessa luta era o José Granado, que era do JL, nem sei se ele permanece lá. E nós enfrentamos o pessoal do DER querendo passar por cima da população. Um engenheiro do DER mandando o caminhão seguir. Eu segurei o cara com o meu gravador, gravador não, celular. Eu comecei a gritar. Era o Fiori [Fiori Luiz, locutor] que tava na rádio─Fiori, o engenheiro do DER está mandando o caminhão passar por cima da população. E o cara mandando. (Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 20 de abril de 2013) O caso prossegue, e o que se pode notar no episódio a seguir é que a participação da jornalista era por vezes confundida com atitude de quem fazia parte daquela comunidade. Acredita-se acontecer isto, pelo tamanho do envolvimento dela nas causas pela qualidade de vida da população. Cheguei e perguntei:─Qual o seu nome? Ele empurrou a minha mão. Eu voltei e insisti. Aí que ele percebeu... Eu era muito confundida com a própria população nessas histórias de comunidade. Então, muitos não me viam como da imprensa, mas me viam como agitadora, participante. Então, aconteceu esse caso. Aí quando ele percebeu que eu era da rádio, que eu tava falando pra rádio. E o Fiori pedindo reforço policial, pedindo pra que a polícia fosse pra lá, porque ia acontecer morte e ia mesmo. Porque o cara na maior suntuosidade mandando o caminhão seguir e o povo fazendo barreira na rua. Por isso que depois eu fiquei muito desgostosa também com aqueles líderes comunitários que foram na conversa do “Seu Antonio” [Antonio Belinati] e fizeram o viaduto no local inadequado que não serve pra nada. E o povo continua morrendo lá na travessia, lá embaixo. (Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 20 de abril de 2013) 3.2 PARTICULARIDADES DE UMA VIDA
  • 40. 40 Sobre as particularidades de sua trajetória profissional cabe citar o ano de 1999, no qual a jornalista teve sua carteira profissional regularizada, pois sua “academia” foram os adventos práticos trazidos desde o rádio-teatro até a atividade jornalística nas emissoras londrinenses. O Jornal da Casa - periódico do Sindicato dos Jornalistas de Londrina – veiculado em março de 1999 (ANEXO C) – descreveu que um acordo, entre o Sindicato dos Jornalistas e a Delegacia Regional de Trabalho possibilitou a regularização de 72 profissionais que trabalhavam na área jornalística há mais de 15 anos, dentre eles Vita Guimarães. Há pelo menos cinco anos o sindicato tentava resolver o problema do exercício profissional. Havia dois caminhos: ou tentava a regularização de quem exercia as atividades privativas sem o devido registro ou simplesmente pedia o expurgo dos não habilitados. Para decidir qual o caminho, os sindicatos discutiram o assunto em assembleias nas redações de Londrina e Curitiba. A categoria entendeu que os sindicatos deveriam tentar a regularização desses profissionais (JORNAL DA CASA, 1999, p. 3). O advento desta regularização proporcionou aos profissionais da área os direitos da classe, ou seja, a integração na categoria. A jornalista, após este momento, passa a ter seus vencimentos de acordo com o piso salarial assegurado por lei. Outro fato importante para a carreira de Vita Guimarães foi o recebimento do Diploma de Reconhecimento Público (ANEXO D) proposto pela vereadora Elza Correa – a quem a jornalista entregou documentos que serviram para a cassação de Antonio Belinati. A homenagem foi realizada na Câmara Municipal de Londrina no dia 16 de abril de 2002, época em que a jornalista trabalhava na Rádio Paiquerê AM, nos programas Fala Povo e Rádio Comunidade. O Jornal de Londrina (ANEXO E) publicou matéria sobre este acontecimento e nela foi descrita um pouco da trajetória da jornalista. A mesa de honra que compunha a cerimônia contava com nomes importantes da cidade, como: Bernardo Pelegrini, Secretário Municipal de Cultura que naquela ocasião representava o então prefeito Nedson Micheleti; J.B. Faria, diretor-
  • 41. 41 presidente da Rádio Paiquerê; João Milanez, presidente da Folha de Londrina; e o tenente-coronel Rubens Guimarães. Estavam presentes também vereadores, familiares e amigos da jornalista, além da imprensa local. Durante a cerimônia, J.B. Faria homenageia a jornalista e menciona suas qualidades e seu interesse por prestar serviços à comunidade. E uma das pessoas que hoje faz muito bem este lado do rádio é a Vita Guimarães, que é o seguimento da utilidade pública, principalmente da prestação de serviço para aquelas pessoas que têm dificuldades. [...] O rádio continua sendo aquele caminho para tentar resolver, minimizar o sofrimento ou chegar à conclusão de algo ou objetivo que se pretenda. E realmente nós temos esta linha na Rádio Paiquerê. E a Vita Guimarães é a grande responsável por este serviço, o chamado Fala Povo. (ANEXO F) A vereadora Elza Correa também fez seus cumprimentos a Vita Guimarães com palavras fortes, contando parte da história da jornalista e dentre estas palavras deve-se destacar o que vem sendo mencionado ao longo deste trabalho: Há 35 anos, Vita, armada de seu microfone, informa e defende a população que bem conhece. Vita conhece a vida dos que defende. A história da população mais pobre, da periferia da cidade, não é mistério para Vita. Ela transmite na sua locução a veracidade dos que sabem o que é sentir dificuldade, em sua defesa e cobrança; e expressa a força daqueles que conhecem bem o que é ter direitos aviltados. Por isso, Vita é respeitada por todos e amada pelos ouvintes (ANEXO F). Após estas menções e a entrega do Diploma, a palavra foi passada para a jornalista que agradeceu a todos os presentes e a homenagem que lhe foi concedida. O carisma e o trabalho voltados às necessidades da cidade, do povo, são evidentes tanto nas descrições do companheiro de trabalho, quanto no da vereadora; e tal circunstância causou rumores na população e em órgãos da cidade. Para exemplificar, serão mostrados trechos de e-mails e cartas sobre aquele momento: “Veja nessa homenagem o reconhecimento de todos aqueles que, nestes anos todos, acompanham o seu trabalho em prol
  • 42. 42 da comunidade, intermediando os problemas da cidade e buscando solução para eles, sem demagogia e com muito carinho pelos cidadãos londrinenses. Gildalmo de Mendonça e funcionários da Transportes Coletivos Grande Londrina” “Impossibilitada de comparecer à sessão solene de entrega do diploma de Reconhecimento Público, por compromissos anteriormente homenagem assumidos, recebida. parabenizamos Prof.ª Magda pela merecida Madalena Tuma, Secretária de Educação” “Receba meus cumprimentos pela sua brilhante carreira profissional, com sinceros votos de pleno êxito e sucesso crescente em suas realizações. Octávio Cesário Pereira Neto, presidente da Companhia de Desenvolvimento de Londrina – Codel.” “Nós ficamos muito felizes e concordamos plenamente com a homenagem feita a você ontem pela Câmara dos Vereadores. Excelente profissional você merece como ninguém o reconhecimento de todos os londrinenses. Márcia Moreno e Eloiza Pinheiro, assessoria de imprensa – SERCOMTEL.” Estes depoimentos demonstram, portanto, a relação que a jornalista tinha com alguns dos diversos órgãos do município, e é claro com a comunidade. Dessa forma, é possível analisar esta relação no que tange os conceitos utilizados pelos estudos culturais, ou seja, estes explicitam a influência que os meios de comunicação têm no contexto social em seu aspecto cultural. Outra particularidade é sobre a candidatura de Vita Guimarães a uma vaga na Câmara de Vereadores. De acordo com os estudos de (COSTA, 2005, p. 220), a jornalista foi a única mulher radialista, no período entre 1968 a 2000, a tentar investir no cargo. A empreitada foi no ano de 1992 e o partido escolhido por Vita Guimarães foi o PSDB, pelo qual chegou a 81
  • 43. 43 votos. Hoje, a jornalista não tem um parecer concreto a respeito de novas candidaturas. Aposentada desde 2007, dedica-se à panificação. Saiu das rádios para investir neste projeto. “A minha vida não tem muito: este é o meu norte! Não é assim. Estou nas mãos de Deus”, reflete. A jornalista também assessorou campanhas políticas. De acordo com ela desde 1976, exceto em 1996, sendo a última que trabalhou no ano de 2012, quando fez todo o programa de rádio da candidata Márcia Lopes e também do atual prefeito Alexandre Kireff, fazendo reportagens nos últimos 20 dias da campanha.
  • 44. 44 4 ESTUDO DE CASO: A CASSAÇÃO DE ANTONIO BELINATI Do glamour do rádio teatro às ruas durante 33 anos de atividade profissional – registrados em carteira – Vita Guimarães percorreu nove rádios de Londrina, contribuindo para mudanças em comunidades que ficavam à margem das vontades e intenções políticas. A jornalista, além de exercer as funções obrigatórias da profissão, intermediava os problemas pelos quais a cidade passava e, desta forma, buscava soluções junto às autoridades. Vita Guimarães identificava-se com o seu público num processo identitário, conforme abordado por Stuart Hall. Para o autor, a identidade relacionada ao contexto sociológico dá-se pelo preenchimento “entre o mundo pessoal e o mundo público” (2006, p. 12). Você não consegue ver isso [falhas na administração] e ficar quieta. Em qualquer situação, hoje mesmo fora da mídia, eu não gosto de ver coisa errada. E dou a cara a tapa, vou atrás. (Vita Guimarães, entrevista exclusiva, 20 de abril de 2013) Outro ponto a ser considerado sobre a construção da reflexão desta trajetória é atentar-se a crítica “A ilusão biográfica” de Pierre Bourdieu (1996). O autor reitera a necessidade da reconstituição de determinados contextos para valorar e compreender o conjunto de fatos que ajudam a construir uma história de vida, neste caso um perfil. Para tanto, considera-se que os trabalhos feitos pela jornalista completavam os seus intentos como repórter e, definia o futuro de algumas comunidades. Se sentimos que temos uma identidade unificada desde o nascimento até a morte é apenas porque construímos uma cômoda estória sobre nós mesmos ou uma confortadora “narrativa do eu”. A identidade plenamente unificada, completa, segura e coerente é uma fantasia. Ao invés disso, à medida que os sistemas de significação e representação cultura se multiplicam, somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possíveis, com cada uma das quais poderíamos nos identificar – ao menos temporariamente (HALL, 2006 p. 13).
  • 45. 45 Sabe-se que estas definições de identidade não são estanques, ou seja, o ser humano moderno não é limitado, não possui uma identidade plenamente unificada. No contexto profissional da jornalista, essa versatilidade está exacerbada, descrita nas diversas áreas que trabalhou nas emissoras de rádio; isto demonstra, portanto, a complexidade de compreender a representação desta mulher para a cidade de Londrina. Bordieu constata também que das diversas instituições sociais o nome próprio é o que possui a singularidade necessária para a durabilidade de uma identidade social. O nome próprio é atestado visível da identidade do seu portador através dos tempos e dos espaços sociais, o fundamento da unidade de suas sucessivas manifestações em registros oficiais. [...] Em outras palavras, eles só pode atestar a identidade da personalidade, como individualidade socialmente constituída, à custa de uma formidável abstração (BOURDIEU, 1996, p. 187) Os estudos de Bordieu contribuem, portanto, para o entendimento do contexto o qual o objeto de estudo está inserido e, a forma como atua nos meios sociais os quais está inserido. O autor prioriza, dessa forma, a singularidade para a construção de uma trajetória calcada na constância e na durabilidade da identidade. 4.1 VITA AJUDA A DESMASCARAR BELINATI Uma história mal contada, um funcionário pressionado e uma jornalista engajada. O caso, que tem início um tanto turbulento, possivelmente poderia ter o final no mesmo rumo. Porém, a curiosidade e acima disso as cobranças de Vita Guimarães, acerca de serviços fornecidos pela Prefeitura Municipal de Londrina, especificamente, pela Autarquia do Meio Ambiente (AMA) e pela Companhia Municipal de Urbanização (COMURB) foram adiante, desvendando, assim, um enorme esquema de corrupção que acometia estes órgãos no mandato do então prefeito Antonio Belinati.
  • 46. 46 O chamado esquema Ama/Comurb funcionou nas duas autarquias entre o segundo semestre de 1998 e o primeiro semestre de 1999. O Ministério Público investiga até hoje cerca de 200 licitações feitas nesse período, algumas sob suspeita de superfaturamento dos valores – como no caso da licitação para a roçagem do mato, através da qual as investigações tiveram início (SILVEIRA, 2004, p. 36). Belinati naquele momento, em 1999, quando o caso começou a ser desvendado, já estava em seu terceiro mandato como prefeito de Londrina; sendo o único que conseguiu essa empreitada. Antonio Casemiro Belinati é natural de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, e antes de enveredar para o mundo da política era radialista. O primeiro mandato foi entre os anos de 1977 e 1982. O radialista Antonio Belinati foi eleito prefeito pelo MDB com 36.198 votos, vencendo outros três concorrentes. Ele fora o vereador mais votado em 1968, e candidato a prefeito derrotado em 1972 (COSTA, 2005, p.120). O próximo mandato de Belinati foi de 1989 a 1992 e “entre um mandato e outro, o radialista-político foi deputado estadual” (COSTA, 2005, p. 121). E foi no terceiro mandato – 1997 a 2000 – que o então prefeito não concluiu o ciclo, sendo afastado antes do final do ano. Em 15 de maio de 2000, Belinati foi afastado do cargo pela Justiça sob acusação de improbidade administrativa. Em 22 de junho daquele ano, teve o mandato cassado pela Câmara dos Vereadores pelo mesmo motivo. Os últimos seis meses de gestão foram completados pelo então presidente da Câmara, Jorge Scaff, do Partido Socialista Brasileiro (PSB). O vice-prefeito de Belinati, Alex Canziani, renunciou para assumir o mandato de deputado federal pelo Partido da Frente Liberal (PFL) (COSTA, 2005 p.121). Neste período, Vita Guimarães trabalhava na Rádio Paiquerê AM como repórter já na editoria voltada às necessidades das comunidades –
  • 47. 47 dividia este ofício com o repórter Manoel Osvaldo sendo sua permanecia na redação, enquanto Osvaldo trabalhava na rua. Sobre essa forma de fazer jornalismo Marcelo Parada a descreve como campanhas: Uma das finalidades mais importantes do rádio é mobilizar a comunidade em torno de temas de interesse comum. São as chamadas “campanhas”. Os alvos são os mais variados possíveis, mas o resultado é sempre um sucesso. [...] Além disso, os temas abordados podem colaborar para a discussão de soluções de certos problemas, propondo alternativas e oferecendo ao poder público algo mais do que uma simples crítica (2000, p. 119). E foi com essa campanha de denúncias sobre as necessidades da cidade de Londrina que Vita Guimarães tornou-se ainda mais conhecida: a mulher que ajudou na cassação do ex-prefeito Antonio Belinati. A jornalista conta que “a cidade estava um caos, estava de pernas pro ar. Era o terceiro mandato de Belinati. Já tinha tido um desastroso, conseguiu mais um desastroso e conseguiu o terceiro também desastroso”. Com a intenção de minimizar os problemas de estrutura pelos quais a cidade passava a Rádio tornou-se “fiscal”. “A rádio Paiquerê AM vai ser a caixa de ressonância da população e cada um no seu bairro liga pra cá, pra dizer o que está acontecendo. Aí, a gente mobilizou a cidade inteira”, relembra Vita Guimarães. No começo, os pedidos foram atendidos, mas com o passar dos dias e semanas, as necessidades da população foram deixadas de lado. A jornalista, intrigada com toda aquela situação, revolta-se pelo não atendimento à população e vai sondar o que poderia estar acontecendo. Passado para ela o quadro de funcionários e as estruturas que a cidade possuía chegou à conclusão de que com aquele pessoal “não se cuidava de Lerroville [distrito de Londrina atualmente com 4.700 habitantes]”, assegura Vita. As reclamações e informações passadas pela jornalista começaram a incomodar.
  • 48. 48 E foi aí que um funcionário da COMURB, Délcio Garcia Martin, de acordo com a Revista Seleções (ANEXO G) veiculada em junho de 2003, procurou a jornalista para mostrar números que demonstravam que algo estava errado, ou seja, era provável que verbas estavam sendo desviadas. Dessa forma, colocou provas e a decisão do que fazer com aquele material nas mãos da jornalista (ANEXOS H e I). O funcionário levou para Vita Guimarães cópias do contrato de capina e roçagem da cidade, e também três notas fiscais que já haviam sido pagas. A soma destes pagamentos chegava à R$400 mil, “era um absurdo”, ressalta a jornalista. Martin, cansado das ameaças, explicou minuciosamente o que estava acontecendo na AMA/COMURB. Ele [funcionário da Comurb] falou: „─É muita coisa, muita coisa. E eles estão me pressionando depois dessa tua reportagem, eles começaram a me pressionar para que eu mude as planilhas, que coloque uma metragem diferente nas planilhas‟. Porque era isso que tava sendo feito, para ser pago. Foi onde começou a história da corrupção. (Vita Guimarães, entrevista exclusiva, 20 de abril de 2013) Délcio Garcia Martin continuava procurando Vita para conversar e repassar como eram feitos os esquemas. “Ele gravava numa fita pequenininha e eu ia para a rádio à noite e passava para a cassete normal”, conta a jornalista. O funcionário, como descreve Vita, foi se sentindo acuado, porém com o apoio dela se sentiu forte para ir atrás de desvendar as falcatruas: ‘─Eu tenho coragem de passar o que eu tenho aqui pra você. Eu não passo para mais ninguém. Eu só vou passar pra você‟. E me entregou os documentos, tudo direitinho. As cópias das notas que foram pagas. Eu fui procurar alguém pra fazer a denúncia. (Vita Guimarães, entrevista exclusiva, 20 de abril de 2013) A jornalista a princípio não sabia muito bem para quem poderia entregar todo esse material. Foi quando resolveu repassar para a vereadora
  • 49. 49 Elza Correia todas as provas que denunciavam, de maneira clara, o esquema de corrupção. Sobre esse momento Silveira descreve que “as investigações [...] começaram na segunda quinzena de fevereiro de 1999, graças à denúncia feita pela então vereadora Elza Correia (PMDB)” (2004, p. 20) Antes de adentrar especificamente neste caso é necessário citar o porquê dessa sede por justiça tão aflorada durante a execução do ofício diário de Vita Guimarães. Para tanto, chega-se a considerar que a jornalista assume a “romântica” postura fiscalizadora do poder, especialmente no que diz respeito às decisões públicas dos governantes, que a partir de sua candidatura assumem o compromisso de exercer o poder e também de manter uma imagem impecável diante de seus eleitores. O papel da mídia é formar opiniões, levar ao público-eleitor as verdades sobre os seus candidatos, e, posteriormente, sobre as benfeitorias que estes fazem para a comunidade como um todo. A postura fiscalizadora da imprensa em relação aos governos aconteceu em praticamente todo o mundo, com exceção dos momentos em que imperava o totalitarismo de um ou outro governo. Com um papel fiscalizador cada vez mais acentuado, também aumentou a valorização do espaço que se ocupa nos meios de comunicação. No momento em que a mídia assume esse espaço público, necessário para a prática da democracia, há um esvaziamento dos debates públicos e da participação dos indivíduos na política. O voto torna-se a principal instância de participação da sociedade na vida política (PACCOLA, 2004, p. 5). A citação demonstra os dois lados dessa postura fiscalizadora: um que valoriza o trabalho do jornalista como formador de opinião e o lado negativo que faz com que o público, a população em si, renegue o seu papel na participação da política, resumindo a sua participação unicamente por meio do voto. Nesta instância, é importante ressaltar que Vita Guimarães exercia o papel de jornalista dentro dos conceitos descritos e dava oportunidade, por meio de seu programa, para a população “participar” forma
  • 50. 50 da vida política da cidade, cobrando infraestrutura daqueles que estavam no poder. Após mostrar a compilação das provas para Elza Correia, vereadora oposicionista que estava em seu primeiro mandato na cidade, a jornalista acompanhada pela vereadora procurou o advogado Carlos Scalassara, que, após analisar o material, concluiu sua gravidade, encaminhando-o ao Ministério Público aos cuidados do promotor Bruno Galatti. Aquele dia nós ficamos a tarde inteira dentro do fórum. Levei os dois rapazes, o que tinha denunciado e o companheiro dele que também tava sendo pressionado, levamos para o promotor ouvir. Ele explicou a situação. (Vita Guimarães, entrevista exclusiva, 20 de abril de 2013) Entretanto, nesse espaço de tempo, de acordo com a jornalista, o dono da Rádio Paiquerê, João Batista Faria – mais conhecido como JB Faria – pediu ao engenheiro Edgar Marin para que fizesse o cálculo, a projeção do que poderia ter sido feito com aquela quantia de dinheiro paga à empresa licitada pela AMA. E a conclusão foi ainda mais rumorosa: a cidade poderia ter sido limpa três vezes. Galatti, por sua vez, pediu a Vita Guimarães que se mantivesse em silêncio, “estamos com a ratoeira aberta, mas eu preciso da sua ajuda”. O pedido foi atendido e o desenrolar da história foi decisivo para a efetivação da cassação de Belinati. Após esse momento de silêncio foi dada a permissão para que a Rádio Paiquerê AM divulgasse as gravações. As desconfianças de que acontecia algo de errado na administração pública aumentaram quando uma emissora de rádio, a Paiquerê AM divulgou fitas com gravações de conversas telefônicas feitas por um funcionário da AMA que ocupava cargo de chefia na Autarquia. As conversas giravam em torno das planilhas de roçagem, que foram fraudadas. A empresa contratada estava recebendo um valor desproporcional aos serviços prestados até então e havia dúvidas quanto à execução do serviço. (SILVEIRA, 2004 p. 20)
  • 51. 51 Dessa forma, para compreender um pouco mais sobre o caso AMA/COMURB é necessário resgatar algumas matérias veiculadas no Jornal de Londrina, fundado em julho de 1989 na cidade. As matérias veiculadas em 4 e 5 de abril de 2000 tomam a página inteira, e discorrem sobre a investigação feita pelo Ministério Público a respeito da compra de imóveis feita pelo ainda prefeito (ANEXOS J e K). Curiosamente, entre os anos 1998 e 1999 a família de Belinati adquiriu imóveis que somavam mais de R$ 1 milhão. Neste espaço é discutido também o posicionamento de alguns vereadores a respeito do caso. Estes se dividem em acreditar na omissão do prefeito quanto ao caso e outros defendem Belinati. Entre as considerações feitas pelo MP [Ministério Público] é citado o fato de que a compra desses imóveis coincidiu com os anos em que ocorreram irregularidades na Autarquia Municipal do Ambiente (AMA) e na Companhia Municipal de Urbanização (COMURB). Os promotores também citam declarações como as do ex-diretor financeiro da Comurb, Eduardo Alonso, de que o dinheiro supostamente desviado teria ido para campanha eleitoral do deputado Antonio Carlos Belinati (PSB) – filho do prefeito – e para o patrimônio da família. (Jornal de Londrina, 4 de abril de 2000, p. 3A) A linha cronológica sobre o caso foi publicada no jornal veiculado em 4 de abril de 2000, e divide didaticamente, o que vinha acontecendo nas investigações sobre os esquemas de corrupção. De acordo com esta publicação, em 25 de fevereiro de 1999, o Ministério Público começa a fazer as investigações sobre denúncias de superfaturamento. No esquema, está esclarecido o passo a passo das investigações, o último ponto retratado é o do dia 23 de março de 2000, quando a Câmara aprova a abertura da Comissão Processante. No jornal de 16 de maio de 2000 (ANEXO L), a notícia que estampa a capa é sobre o afastamento de Belinati, por um período de 120 dias, determinado pelo juiz da 6ª Vara Cível, Celso Saito. A matéria foi publicada também na página 3A (ANEXO M) e ressalta que é a “primeira vez na história
  • 52. 52 de Londrina que um prefeito é afastado do cargo sob a suspeita de envolvimento em corrupção”. Com esta decisão o prefeito tinha dez dias para recorrer ao Tribunal de Justiça do Paraná. Neste momento, outro problema foi que não se sabia quem iria assumir a Prefeitura do município. Ainda sobre o afastamento do ex-prefeito, publicado em 20 de maio de 2000, no jornal há uma matéria sobre uma nova determinação: justiça afasta o ex-prefeito pela segunda vez, agora por 90 dias (ANEXO N). A ação que resultou no novo afastamento de Belinati trata de três licitações supostamente irregulares que teriam causado um prejuízo de R$ 212 mil à Autarquia Municipal do Meio Ambiente. Conforme o MP, parte do dinheiro teria sido usado para financiar a campanha eleitoral de 98, dos deputados: estadual Antonio Carlos Belinati (PSB) – filho do prefeito – e federal José Janene (PPB), em Ibiporã. (Jornal de Londrina, 20 de maio de 2000, p. 3A) É importante mencionar, novamente, a matéria de Daniel Rome Levine, veiculada na Revista Seleções em junho de 2003; na qual o repórter descreve alguns dos impasses e falcatruas feitas no governo Belinatti. Exemplifica com o caso Vêneto, empresa-fantasma de Curitiba, cujo “diretorpresidente” era um jardineiro. Porém, os trâmites para provar este esquema foram demorados, pois os diretores da AMA se recusaram, por um tempo, até confessarem o esquema de desvio de verbas. O dinheiro fora empregado na campanha de Antonio Carlos Belinati, eleito deputado estadual no ano anterior. Antonio Carlos era filho de Antonio Belinati, prefeito de Londrina. (Revista Seleções, junho de 2003, p. 85) O promotor Galatti investigou a Companhia Municipal de Urbanização de Londrina, que igualmente mantinha esquemas de desvio de verbas. As fraudes não foram feitas somente para o investimento na campanha eleitoral do filho de Belinati, estavam além disso, e “Belinati não só sabia de tudo, como os esquemas fraudulentos eram todos armados por ele”, (Revista Seleções, junho de 2003, p 86).
  • 53. 53 As investigações do promotor não amedrontaram o até então prefeito de Londrina e mesmo com os esquemas sendo desvendados, Belinati continuou com os contratos fraudulentos. Além disso, a família de Belinati era uma formidável máquina política: não só o filho era deputado estadual, como a mulher era a vice-governadora e o irmão, diretor da companhia telefônica. (Revista Seleções, junho de 2003, p. 87) Outro ponto que contribuiu para a cassação do então prefeito foram as mobilizações populares, ainda de acordo com a Revista. Cidadãos londrinenses marcharam no centro da cidade todos os sábados por quase um ano, fazendo pressão contra o prefeito e ficou conhecido pelo slogan “Pé vermelho! Mãos limpas!”. Sendo assim, esta mobilização popular protocolou um requerimento para que o esquema de corrupção fosse investigado. A partir da primeira denúncia de Délcio Garcia Martin, os promotores acumularam uma montanha de provas, incluindo extratos de mais de 400 contas bancárias e gravações de escuta telefônica. Em maio de 2000, a equipe apresentou 22 denúncias, referentes a vários crimes. As evidências indicavam uma pilhagem dos cofres públicos. Entre os furtos, segundo a acusação, R$1,7 milhão beneficiou diretamente a mulher e o filho do prefeito. „Os eleitores e a sociedade não merecem isso‟, disse o juiz Celso Seikiti Saito em 15 de maio de 2000, ao suspender o prefeito do cargo por 120 dias. (REVISTA SELEÇÕES, junho de 2003, p. 88) A jornalista, além de contribuir para as investigações mobilizava a população contra os atos imorais do ex-prefeito. Vita Guimarães, em seu ofício diário, recebeu um release da Assessoria de Comunicação da Prefeitura sobre a inauguração do Pronto Atendimento Infantil, o PAI, onde haveria um show com a presença da artista Xuxa, que custaria aos cofres municipais cerca de R$250 mil reais. Tal ação levou Vita à indignação. Ela contatou lideranças da cidade, para que não compactuassem com mais este gasto indevido.
  • 54. 54 A cidade em pandarecos e vão gastar isso? Para inaugurar um hospital que é obrigação a cidade ter? Liguei para as minhas amigas que eram lideranças nos bairros. Tinha uma que era Iracema das Ardósias. Ela brigou muito pelo conjunto onde eles foram morar. O conjunto não valia nada e custava um absurdo e era feito de pedras de ardósia. Aquilo era um gelo quando esfriava e um calor enorme quando esquentava. [...] Eu liguei para ela: ─Iracema, vão fazer um show de inauguração do PAI. Você sabe quanto vai custar? Ela falou:─Vita, não me venha com nenhuma bomba. ─Pois é R$250 mil. Sabe quem vem? A Xuxa. Ela ficou tão indignada. E falou:─O que a gente pode fazer? Eu falei:─Me dá uma entrevista dizendo que a comunidade não aceita isso. [...] Botamos no ar e cancelaram o show, mas o Ministério Público foi para cima. Ele foi cassado por esse detalhe mais um dos ingredientes da pizza. (Vita Guimarães, entrevista exclusiva, 20 de abril de 2013) A junção destas ações que indignaram a jornalista, o promotor e a população resultaram na cassação de Antonio Belinati, que durante a seção na Câmara Municipal de Londrina teve dentre o total de 20 votos, 14 em favor da cassação. O caso segue e no Jornal de Londrina dos dias 5 e 6 de maio e 27 de julho de 2001 retratam a prisão do ex-prefeito (ANEXOS O, P e Q). Na primeira e na segunda data, as matérias descrevem como foi à primeira noite que o político passou na prisão. No dia 5 de maio, são descritas as ações propostas pelo Ministério Público, dentre elas uma medida cautelar que tem como objeto 30 licitações fraudulentas da Comurb, totalizando R$ 3.393.296,50 milhões. Na última publicação, fala-se sobre a segunda prisão do exprefeito ainda pelo mesmo motivo. “O ex-prefeito é acusado de ser um dos principais mandantes e beneficiários do esquema” (Jornal de Londrina, 27 de julho de 2001). Todas essas matérias são publicadas na página 3A do periódico.
  • 55. 55 Durante a entrevista sobre o caso, fica evidente a importância da participação de Vita Guimarães na resolução de todo este imbróglio. A jornalista que acredita ter sido essa a sua missão, certamente, fez além do seu papel, do seu ofício diário. Os códigos utilizados por Vita Guimarães continham o chamado “discurso significativo”, ou seja, a concretude, segundo Hall (2003). No caso estudado as provas que intimaram diversos setores da comunidade desde a população aos órgãos competentes a julgar os trâmites defendidos pelo ex-prefeito. Conforme Hall, esse é o efeito daquilo que se quer propagar, ou seja, além de sua concretude devem-se levar em conta os aspectos sociais que se quer atingir (2003, p. 368). No caso, a linguagem da rádio AM já é mais próxima da população pelo fato de seus códigos serem mais simples. Não se está querendo dizer aqui que há linguagem piegas, pelo contrário, quer-se dizer que muitas vezes esta aproximação tem efeitos mais positivos do que linguagens um tanto mais elaboradas, é o que se vê nas reportagens impressas do caso em debate. De acordo com Fábio Alves Silveira, o comportamento da imprensa a respeito do caso AMA/COMURB envolvendo o ex-prefeito Antonio Belinati, pode ser divido em três fases. Sendo que estes três momentos não afetaram somente as publicações dos jornais, refletiram “a reação da sociedade ao teor das informações investigadas pelo Ministério Público”. (2006, p. 10) Silveira descreve o primeiro momento como “cautela e „silenciamento‟” e destaca que as informações das investigações eram camufladas e amenizavam a situação do prefeito. Já no segundo momento há resistência “tanto no interior das redações, quanto na sociedade” é neste momento que surgem o Movimento da Moralidade e a Comissão Especial de Inquérito, já mencionados, segundo o autor é esta pressão popular que “leva o Caso AMA/COMURB às páginas dos jornais londrinenses.