Este documento resume as principais contribuições teóricas de Lev Vygotsky sobre o desenvolvimento intelectual, incluindo: 1) A mente se desenvolve através da interação social e cultural; 2) A linguagem desempenha um papel fundamental na mediação do conhecimento; 3) O desenvolvimento ocorre na "zona proximal de desenvolvimento" através da aprendizagem com a ajuda de outros.
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PREFEITURA MUNICIPAL DO SALVADOR
Secretaria Municipal de Educação e Cultura – SMEC
Coordenadoria de Ensino e Apoio Pedagógico – CENAP
CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS DE LEV VYGOTSKY (1896-1934)1
Angela Freire2
O enfoque sócio-histórico da psicologia à teoria desenvolvida por Vygotsky tem como base a
construção sócio-histórica ou histórica-cultural da mente. A sua preocupação centrava-se na questão
de como os fatores sociais e culturais influenciavam o desenvolvimento intelectual, ou seja, a
aquisição de conhecimentos pela interação do sujeito como o meio. O núcleo central de sua teoria
trata de como os indivíduos, interagindo com agentes sociais mais instruídos (professores/as,
colegas), constroem e internalizam o conhecimento.
Enfatizou o papel da linguagem e da aprendizagem nesse desenvolvimento. A linguagem, sistema
simbólico dos grupos humanos, representa um salto qualitativo na evolução da espécie. É ela que
fornece os conceitos, as formas de organização do real e a mediação entre o sujeito e o objeto do
conhecimento. É por meio dela que as funções mentais superiores são socialmente formadas e
culturalmente transmitidas, portanto, sociedades e culturas diferentes produzem estruturas
diferenciadas.
Os fatores sociais, de acordo com esse psicólogo, desempenham um papel fundamental no
desenvolvimento intelectual. Quando o conhecimento existente na cultura é internalizado
(construído) pelas crianças, as funções e as habilidades intelectuais são provocadas a desenvolver.
Desse modo, a aprendizagem conduz ao desenvolvimento.
HOMEM
SER BIOLÓGICO
Nasce com as funções elemen-
tares: reflexo, atenção invo-
luntária...
HOMEM
SER HUMANO
Adquire funções psicológicas
superiores: consciência, planeja-
mento, armazenamento, capaci-
dade de resolver problemas e a
formação de conceitos. Desen-
volve-se mentalmente
CULTURA
INTERAÇÃO SOCIAL
(SIGNO /
LINGUAGEM)
APRENDIZAGEM DESENVOLVIMENTO
A APRENDIZAGEM RESULTA EM DESENVOLVIMENTO
O ser humano constitui-se enquanto tal na sua relação com o outro; estas relações são
mediadas por sistemas simbólicos. O/a homem/mulher transforma-se de biológico em sócio-
histórico, num processo em que a cultura é parte essencial da natureza humana.
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Na concepção vygotskyana, todo homem se constitui ser humano pelas relações que estabelece com
os outros sujeitos. O sujeito não é apenas ativo, mas interativo, porque forma conhecimentos e se
constitui a partir de relações intra e interpessoais. Trata-se de um processo que caminha do plano
social (relações interpessoais) para o plano individual (relações intrapessoais). Em outras palavras, é
na troca com outros sujeitos e consigo próprio que se vão internalizando conhecimentos, papéis e
funções sociais, o que permite a formação de conhecimentos e da própria consciência.
A cultura fornece ao indivíduo os sistemas simbólicos de representação da realidade, ou seja, o
universo de significações que permite construir a interpretação do mundo real. Ela dá o local de
negociações no qual seus membros estão em constante processo de recriação e reinterpretação de
informações, conceitos e significações.
O funcionamento psicológico fundamenta-se nas relações sociais entre indivíduos e o mundo
exterior. Nesta perspectiva, as funções psicológicas (por ex. linguagem, memória) são construídas
ao longo da história social do homem, em sua relação com o mundo. Destacam-se aqui os conceitos
de internalização e mediação.
A aprendizagem é o processo pelo qual o indivíduo adquire informações, habilidades, atitudes e
valores a partir de seu contato com a realidade, com o meio ambiente e com pessoas. O aprendizado
ocorre na interação social, no âmbito da zona proximal.
Segundo Vygotsky, para compreender adequadamente o desenvolvimento de um indivíduo, deve-se
considerar também os níveis de desenvolvimento real e potencial.
A ZONA DE DESENVOLVIMENTO REAL é a capacidade que o indivíduo já adquiriu de
realizar tarefas sozinho. Aqui, as funções psicológicas já estão consolidadas.
A INTERNALIZAÇÃO é um processo de reconstrução interna, intrassubjetiva. É fundamental
para o desenvolvimento do funcionamento psicológico humano. Envolve uma atividade externa
que deve ser modificada para tornar-se uma atividade interna. O desenvolvimento cognitivo é
produzido pelo processo de internalização da interação social com materiais fornecidos pela
cultura, sendo que o processo se constrói de fora para dentro.
A MEDIAÇÃO é o processo de intervenção de um elemento numa relação. A relação do homem
com o mundo não é uma relação direta, mas, fundamentalmente, mediada. Existem dois tipos de
elementos mediadores:
- Instrumentos (ferramentas): toda a atividade social é condicionada pelos aspectos materiais.
- Signos: são meios auxiliares para solucionar um dado problema psicológico. Agem como um
instrumento da ação psicológica, cujo objetivo é provocar mudanças e transformações nos
objetos e na natureza, sendo orientados para o próprio sujeito, para dentro dele.
PLANO SOCIAL
RELAÇÕES INTERPESSOAIS
PLANO INDIVIDUAL
RELAÇÕES INTRAPESSOAIS
HOMEM X HOMEM
NA CULTURA
CONHECIMENTOS, PAPÉIS E
FUNCÕES SOCIAIS...
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Implicações da teoria vygotskyana para a educação:
O SOCIOINTERACIONISMO é a corrente teórica postulada por Vygotsky e o
SOCIOCONSTRUTIVISMO é a corrente teórica postulada por Jean Piaget. Ambos são
construtivistas em suas concepções do desenvolvimento intelectual. Ou seja, sustentam que a
inteligência é construída a partir das relações recíprocas do homem com o meio.
A EDUCAÇÃO: não fica à espera do desenvolvimento intelectual da criança. Diferentemente, sua
leva o/a aluno/a adiante, pois quanto mais ele/a aprende, mais se desenvolve mentalmente.
A ESCOLA: é o lugar onde a intervenção pedagógica intencional desencadeia o processo ensino
aprendizagem. A escola organiza, planeja de maneira formal, científica, relacional os
conhecimentos acumulados histórico-culturalmente pela humanidade. Sua função é fazer com que
os conceitos espontâneos ou cotidianos (assistemáticos, informais), que as crianças desenvolvem
na convivência social, evoluam para o nível dos conceitos científicos (sistemáticos, formais),
adquiridos pelo ensino. Neste sentido, o/a professor/a assumirá o papel de mediador/a na formação
do conhecimento.
A ZONA DE DESENVOLVIMENTO POTENCIAL é a capacidade que o indivíduo tem para
desempenhar tarefas e atividades com ajuda de adultos ou colegas mais experientes. Constitui-se
por aspectos do desenvolvimento que, num determinado momento, estão em processo de
realização. É manifestado, na escola, quando o/a aluno/a não consegue fazer a atividade
sozinho/a, podendo resolvê-las com a intervenção do/a professor/a ou de um/a colega.
A partir das Zonas de Desenvolvimento Real e Potencial, Vygotsky define a ZONA DE
DESENVOLVIMENTO PROXIMAL como a distância ou o caminho que o indivíduo vai
percorrer para desenvolver funções que estão em processo de amadurecimento e que, com a ajuda
do outro, tornar-se-ão funções consolidadas e estabelecidas no nível de desenvolvimento real.
ZONA DE DESENVOLVIMENTO
REAL
É determinado por aquilo que a criança é capaz
de fazer sozinha, porque ela já tem um conheci-
mento consolidado. Solução independente do
problema.
ZONA DE DESENVOLVIMENTO
POTENCIAL
É determinado por aquilo que a criança ainda não
domina, mas é capaz de realizar com auxílio de
alguém mais experiente. Solução de problema sob
orientação de alguém mais experiente.
ZONA DE DESENVOLVIMENTO
PROXIMAL
É a distância entre a Zona de Desenvolvimento
Real e a Zona de Desenvolvimento Potencial.
É determinado por aquilo que está próximo mais
ainda não foi atingido.
A aprendizagem interage com o desenvol-
vimento, produzindo abertura nas zonas de
desenvolvimento proximal, potencialidades para
aprender.
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A INTELIGÊNCIA: é habilidade para aprender. Vygotsky despreza as teorias que concebem a
inteligência como resultante de aprendizagens prévias, já realizadas.
O CONHECIMENTO: dá-se por meio da interação mediada por várias relações, ou seja, o
conhecimento não está sendo visto como uma ação do sujeito sobre a realidade, assim como no
construtivismo e sim, pela mediação feita por outros sujeitos. O outro social pode apresentar-se por
meio de objetos, da organização do ambiente, do mundo cultural que rodeia o indivíduo.
A APRENDIZAGEM: é a força propulsora do desenvolvimento intelectual. O desenvolvimento
mental só pode realizar-se por intermédio do aprendizado. O aprendizado adequadamente
organizado resulta em desenvolvimento mental.
O ERRO: faz parte do processo de aprendizado, mas o/a professor/a deve apontá-lo sempre para
que a criança o corrija. Não se pode esperar que o/a aluno/a descubra sozinho/a que errou.
O ENSINO: é uma intervenção intencional nos processos intelectuais, sociais e afetivos do/a
aluno/a, buscando sua relação consciente e ativa com os objetos de conhecimento. O objetivo maior
do ensino é a construção do conhecimento por eles/as, de modo que todas as ações devem estar
voltadas para sua eficácia do ponto de vista dos resultados no conhecimento e desenvolvimento do
mesmo.
O PAPEL DO/A PROFESSOR/A é provocar avanços nos/as alunos/as e isso se torna possível com
sua interferência na zona proximal. Ao observá-la, ele/a deve orientar o aprendizado no sentido de
adiantar o desenvolvimento potencial de uma criança, tornando-o real. Ele será um/a interventor/a,
mediador/a e provocador/a de situações que levem as crianças a aprenderem a aprender. O/a
professor/a mediador/a é quem ajuda a criança concretizar um desenvolvimento que ela ainda não
atinge sozinha.
MEDIADOR/A: é quem ajuda a criança concretizar um desenvolvimento que ela ainda não atinge
sozinha. Na escola, o/a professor/a e os/as colegas mais experientes são os principais mediadores/as.
O/A ALUNO/A: não é tão somente o sujeito da aprendizagem, mas, aquele que aprende junto ao
outro o que o seu grupo social produz, tal como: valores, linguagem e o próprio conhecimento.
No TRABALHO EM DUPLAS: o/a professor/a explica um assunto e os/as alunos/as fazem
discussões ou trabalhos em pequenos grupos, principalmente em duplas. O tamanho reduzido das
equipes amplia as interações, facilitando o processo de aprendizado. Essas equipes podem ser
formadas espontaneamente, mas podem também ser determinada pelo/a professor/a. O que se busca
é exatamente o confronto de diferenças que levem a novas descobertas. Não se trata de fazer
trabalho em grupo para que todo mundo pense igual e produza a mesma coisa. Outro aspecto
positivo do estudo em parcerias é o estímulo à autonomia. Em cada trabalho com seus/suas colegas,
os/as alunos/as caminham claramente de um nível de alta dependência do/a professor/a para a
completa independência na formulação de hipóteses.
Na ASSISTÊNCIA INDIVIDUAL: o/a professor/a acompanha cada aluno/a para auxiliá-lo/a na
superação das dificuldades. É quando se trabalha diretamente com o conceito de desenvolvimento
proximal. O/a professor/a precisa conhecer o desenvolvimento real da criança, mas não pode parar
aí. É pelo auxílio direto, com explicações, pistas e sugestões, que o/a aluno/a avança, consolidando
o desenvolvimento que era apenas potencial. No trabalho individual respeita-se a zona proximal de
cada um, pois ela não é homogênea para todo o grupo.
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Na ATIVIDADE DE LINGUAGEM: se a linguagem é o principal instrumento de intermediação do
conhecimento e corresponde ao desenvolvimento de uma linguagem interna, as atividades de fala,
escrita e leitura ganham a maior importância. Os/as professores/as buscam então diversificar
técnicas que enfatizem essas ações. Uma delas são os textos sugeridos, em que eles/as desafiam o/a
aluno/a a escrever a partir de diferentes modelos. Pela análise das características estruturais um
texto, as crianças devem criar suas histórias seguindo aquele padrão. Mas os textos livres também
são estimulados. Outra atividade é a roda da leitura, em que as crianças debatem suas
interpretações. Uma das estratégias é o conto e reconto, em que elas ouvem uma história e devem
recontá-la do seu ponto de vista.
REFERENCIAS
REGO, Teresa Cristina. Vygotsky: uma Perspectiva Histórico-cultural da Educação. Petrópolis,
Rio de Janeiro: Vozes, 1995.
VIGOTSKY, L. S. A formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984.
NOTAS
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O texto aborda alguns conceitos da Teoria Sociointeracionista de Lev Vygotsky, que é um dos referencias que dão
sustentação teórica ao CEB. Tem a finalidade de subsidiar o saber-fazer pedagógico do/a professor/a para que ele/a
possa promover ações educativas reais e significativas, à luz dos constructos teóricos.
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Texto elaborado e sistematizado por Angela Freire, Pedagoga graduada pela UCSAL, Psicopedagoga (UFBA) e
Coordenadora Pedagógica lotada na Coordenação de Ensino e Apoio Pedagógico (CENAP) / Núcleo de Tecnologia
Educacional (NET-17), na Fábrica do Saber.