O documento discute como a juventude é frequentemente vista como problema e não como sujeito protagonista. Muitos programas direcionados aos jovens tem o objetivo de "castrar" suas ideias e cultura em vez de permitir que eles sejam co-construtores. É necessário entender os fatores que levam os jovens a cometer atos problemáticos em vez de simplesmente culpá-los. A sociedade deve aceitar as diferenças culturais dos jovens em vez de forçá-los a negar sua identidade.
1. O JOVEM E A SOCIEDADE
José Aniervson Souza dos Santos1
Durante muito tempo a juventude foi vista como o problema da política, da igreja,
da escola, da polícia, da família, enfim das instituições. Hoje ela precisa ser
encarada como sujeito, como protagonista. Muitas das ações desenvolvidas hoje
restringem o jovem a uma única ação, um local, um pensamento e impede que os
mesmos possam desenvolver suas potencialidades e capacidades inerentes a sua
ideologia e cultura própria da época.
É comum, infelizmente, serem criados diversos projetos e/ou programas
direcionados ao público juvenil não como forma de protagonizá-los, mas como
meio de “castrar” seus impulsos, desejos, personalidade, pensamentos e suas
ideologias. Do contrário eles próprios seriam os co-construtores desses
programas. O tempo todo assistimos cenas de criminalização com adolescentes e
jovens. Será uma forma de dizer que os mesmos são culpados pela violência?
Perguntamos quem é o responsável pela segurança? O porquê será que os
adolescentes e jovens são os que mais morrem nas mãos dos policiais e dos
bandidos ? Por que tantos jovens se envolvem com drogas, com o narcotráfico?
Por que será que existe tanto caso de abuso sexual na adolescência? Porque a
metade dos desempregados no País é Jovem ? Por que existem tantas
adolescentes grávidas ou pais de famílias jovens ? Essas e outras perguntas já
passaram por nossas cabeças com respostas prontas. Minha intenção aqui não é
inocentar o jovem pelos seus atos, do contrário, desejo entender o que levam os
mesmos a cometê-los.
Porque então os jovens devem negar sua própria cultura, seus costumes, sua
regionalidade, sua personalidade para poderem ser aceitos em espaços públicos?
Porque será que volta e meia a sociedade quer fazer o jovem negar sua tradição,
sua identidade para permitir que os mesmos assumam alguns cargos? Será que
1
Possui Graduação em Ciências Biológicas pela Universidade de Pernambuco – UPE e Pós-graduação em
Juventude no Mundo Contemporâneo pela FAJE. Atua na área de juventude há mais de 10 anos
acompanhando e assessorando grupos juvenis e instituições que trabalham com jovens. Desenvolve
acompanhamento a projetos governamentais que lidam com o público jovem. Já atuou na área social
em projetos do governo federal, lindando com famílias vulneráveis e em situação de risco, coordenando
atividades de aumento da autoestima, valorização pessoal, qualificação profissional e educacional,
reaproveitamento e tecnologia. Coordenou durante muitos anos a Pastoral da Juventude na Diocese de
Nazaré/PE,. Participou da comissão nacional de coordenação do Projeto da Pastoral da Juventude
intitulado “A Juventude quer Viver”, representando o Regional Nordeste 2 (CNBB). Foi Diretor
Presidente do Instituto de Protagonismo Juvenil – IPJ. Publicou 3 materiais de pesquisas desenvolvidos
pelo IPJ. Atuou na Fundação de Atendimento Socioeducativo (FUNASE) e no Programa ATITUDE do
Estado de Pernambuco. Foi Assessor Técnico do CMDCA e membro da Comissão Municipal Pró-Selo
Unicef em Surubim/PE. Atualmente é Development Instructor no Institute for Internacional Cooperation
and Development – IICD/Michigan/USA.
2. um jovem que usa seu cabelo “rastafari” não tem os mesmos direitos que um
jovem que tem seu cabelo liso? É culpa dele ter nascido negro e querer assumir
sua cultura, seu estilo? Será que uma jovem negra pra ser aceita num emprego e
não ser vista como delinqüente deve mesmo alisar seu cabelo e esquecer sua
cultura, como se fosse envergonhante ser negra? Porque então não entender as
suas tatuagens como resiginificação do corpo, dar um novo sentido talvez a alguns
traumas, esquecer acidentes, esconder marcas que a própria sociedade não
aceitaria? Porque então os jovens precisam se articular em “grupo”, “galera” para
serem ouvidos, aceitos, respeitados? Não será uma maneira de chamar a atenção
da sociedade para gestos e atitudes de exclusão e reclusão? Não seria então a
pichação uma maneira de dizer que existem e precisam ser ouvidos, levados em
conta, precisam ser respeitado? E porque então discriminar os Jovens pela sua
Orientação Sexual? Será que somos donos da verdade que não podemos aceitar
as diferenças dos outros? Que explicação se dá para uma sociedade que
criminaliza, penaliza e até extermina jovens pela sua vivência da sexualidade de
maneira diferente daquilo que foi imposto pela sociedade, onde a mesma sem
perceber e muitas vezes até consciente rotula esses jovens e os condenam.
Realmente tudo isso é necessário? Costumamos rotular a atitude dos jovens pelo
que vemos e não pelo que é verdadeiramente, afinal, nem ao menos procuramos
entende-los.
Sonhamos com um mundo de justiça e paz, onde todos possam se amar e
respeitar um ao outro. Sonhamos em um dia todos poderem andar na rua sem
medo de assaltos, deixar tranquilamente seus filhos com o vizinho. Sair a noite
sem medo do escuro. Mas afinal, o que estamos fazendo para que isso aconteça?
Será que comprando armas e colocando em nossas casas, estamos seguro do
assalto? Ou exterminaremos o primeiro que nos tentar assaltar? Desviar o
caminho ou trocar de calçada quando se avista um jovem de calças largas,
tatuagens, cabelos longos ou “black power” não é uma forma de extermínio,
exclusão, pré-conceitos, ao invés de segurança e precaução?
Existem algumas manifestações juvenis, como os punks, darks, carecas do
subúrbio, emos, roqueiros, sertanejos, skatistas, afros, campesinos, indígenas,
hippies, entre tantos outros, mas todos eles manifestam sua cultura e um gosto
específico, algo em comum entre os adeptos ao seguimento. É necessário olhar
pra esses jovens com perspectivas e não como desordeiros, pois eles são fieis ao
que acreditam, vemos isso claramente em suas atitudes, músicas, símbolos, etc. é
seu período de descobertas, crises, conquistas. “O Jovem é alguém que vive a
descoberta alucinadamente” (DICK, 2004, p. 65)
Podemos perceber que nos últimos anos o debate sobre juventude e sobre as
políticas públicas destinadas a esse seguimento tem crescido bastante. O
fenômeno juvenil tem sido alvo de diversas pesquisas, tanto dos governos públicos
como de ONGs, movimentos sociais e religiosos, estudiosos, acadêmicos, entre
outros, tendo visivelmente a crescente “onda” de projetos e entidades ligadas ao
assunto.
3. É necessário iniciar um debate sério sobre as políticas que estão sendo destinadas
a Juventude. Não é necessário apenas cria-las, mas permitir que elas atinjam de
verdade os jovens. Foucault explica que “haveria, assim, que abandonar a idéia de
centro pela idéia de rede do poder, que acentua a tensão estratégia do relacional
em vez do teleológico” (FOUCAULT, 1969) . É permitir então que seja criada uma
espécie de “rede”, onde todos possam participar de sua elaboração, nesse caso
específico, o Jovem.
Falar da Juventude na sociedade é falar na construção de um outro mundo
possível, na utopia do amor. Civilização do Amor!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FOUCAULT, Michel. A Escola de Ciência Política. Postado por Mestre Zé Rodrigo
em 5 de julho de 2007. Disponível em
http://farolpolitico.blogspot.com/2007/07/foucault-michel-1926-1984.html.. Acesso
em 24 jan. 2010.
DICK, Hilário. O divino no jovem: elementos teologais para a evangelização da
cultura juvenil. Porto Alegre: Instituto de Pastoral da Juventude: Rede Brasileira de
Centros e Institutos de Juventude, 2004.