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“A máscara diz mais do que a face”.

                                                                                   Oscar Wilde

                                        Apresentação


      Às vezes é bastante curiosa a forma como nos preparamos para escrever uma história:
ela nasce do nada, outras vezes é criada a partir de enigmas, de intrigas, de um devaneio da
mente, do lado magnífico de nossa imaginação.
      Como autores, vestimos máscaras que nos permitem ser aquilo que não somos, ou que
somos, mas não mostramos a ninguém, ou ainda que não somos e não mostramos, mas lá no
ímpeto de nossas almas gostaríamos de ser ou admiramos quem se encoraja e assume um
outro lado obscuro do ser.
      Este trabalho permitiu exatamente isso: que vestíssemos máscaras para que fosse
possível criar, a partir dos vários segmentos temáticos estudados em sala de aula. Desta
forma, cada aluno assumiu uma personagem e mostrou um outro lado de si para contar as
suas versões e tentar buscar respostas para uma mesma situação. A partir de um sorteio,
tiveram que driblar as dificuldades e aguçar suas ideias para criar narrativas com segmentos
policiais, românticos, humorísticos, trágicos, sobrenaturais, polêmcos e implícitos. E o
resultado não poderia deixar de ter sido mais interessante e satisfatório!
      Basta ler e conferir as mais diversas histórias contadas a partir de uma situação fictícia
e será possível analisar o que uma mente é capaz de fazer quando assume seu lado
intelectual-ativo-criativo para a arte de redigir histórias! E você deverá, como co-autor,
relacionar as histórias ao perfil de cada personagem. Aí sim vai poder comprovar se as tais
máscaras são reais!


      No final você será convidado a vestir a sua máscara e escrever a sua versão dos fatos!




                                                                                   Boa diversão!
                                                         Professora Cristiane Papi Crespo Frufrek
PERSONAGENS DA TRAMA
       Cada aluno do grupo de Produção Textual, orientado pela professora Cristiane, deveria
criar uma descrição de um personagem que tivesse o seu próprio nome, mas que assumisse
outra personalidade, ou ainda um outro lado de sua personalidade que poucos conhecessem.
Abaixo você encontrará os nomes e as descrições criadas. A partir delas será possível
entender o caso e escolher a história mais convincente.


                  ALEXANDRE
                  Calmo e pensativo, amigo e bom, gosta muito de contar histórias e de passar o tempo
                  com os amigos.




                  ALICE
                  Uma menina meiga, inocente, ingênua e linda, que foi achada numa caixa e sapato na
                  beira da praia.




                  ANNE
                  Inconsequente. Apaixonada. Imatura. Sensível e delicada. Gosta da rotina, da paz.
                  Opta sempre pelo mais fácil e cômodo.




                  BRUNA
                  Uma menina de família rica, que age por impulsos, causando muita confusão e
                  problemas. Tem uma relação conflituosa com o pai, muito conservador, que preza pela
                  honra da família.




                  CAROLINA
                  Garota normal, quieta, tímida, e sem amigos, nerd e muito esforçada.
CAUÊ
Inteligente, tímido, feliz, faz tudo para alcançar o que quer. Legal com quem é legal.
Ou gosta ou odeia, e odeia a sala onde estuda.




GABRIEL
17 anos, corinthiano, muito louco, decidiu que não quer mais estudar; vive em festas,
apesar de ser meio briguento, é muito gente boa.




GABRIEL PAPI
Garoto apaixonado por esportes, popular, misterioso, preza muito pela amizade.




GABRIELA
Aparentemente comum, extrovertida, herdeira de uma fortuna, mas que por trás
esconde um grande segredo, é apaixonada por lutas, e com sua personalidade forte não
se sente à vontade quando o assunto é falar sobre seus sentimentos. Procura sempre
fazer justiça, seja qual o preço que tenha que pagar para que isso aconteça.


GUSTAVO
Um cara feliz, educado, mulherengo, bonitão, de fácil convivência, se dá bem com
todo mundo.




LANNA
16 anos, uma pessoa de aparência bem calma e amena, e que também aparentemente
parece ser uma pessoa sem aventuras, ou ter algo interessante para contar. O que
ninguém sabe é o que se esconde atrás daquela aparência, ambiciosa e cheia de más e
boas intenções... ninguém sabe o que esperar de uma amiga assim.
LARISSA
Estuda muito, não sai de casa só para poder estudar mais. Sua rotina é da escola para
casa, de casa para a escola. Por isso, não possui amigos. Mora com o irmão mais velho,
que é totalmente o contrário dela. Ela é uma garota muito linda, mas não possui
namorado porque não quer desperdiçar seu tempo, afinal, quer estudar muito.


LUIZ HENRIQUE
Quieto, sem amigos, misterioso, ninguém sabe de onde veio e de nada sobre sua vida.




PAULO ROBERTO
É um assíduo leitor de romances policiais, seu personagem predileto é Sherlock
Holmes, que o inspira em ações do seu cotidiano. É um garoto de grande imaginação e
faz uso desta para criar situações nas quais suas habilidades de detetive são postas em
prática.



RAFAEL
Uma pessoa muito inteligente, simpática, nunca deixa de rir para quem o cerca, trata a
todos com muito amor e respeito. Mas, no fundo, no fundo, é uma pessoa com desejo
de morte e falsidade: um camaleão com alma de serpente.
Devaneio

                                                          Por Cristiane Papi Crespo Frufrek

       15 adolescentes. Uma turma unida. Unida nas ações, nos pensamentos, nas polêmicas,
nas atitudes. Intrigas, claro, sempre existiram, como em toda boa sala. O que impressionava
era a inteligência e diplomacia na convivência. Como eles eram bons! Conseguiam quase
tudo o que queriam... Ousados, sabiam convencer e encantar. Até aquele dia 16 de maio de
2011, dia em que ficou marcado na mente dos 15 alunos que integravam a turma.
       Entrei para mais uma rotineira tarde de aula. Notei coisas que geralmente não notaria.
Alguns assustados, outros descontraídos além do habitual; não disse nada, preferi observar.
Nas escadas que dão acesso à sala, olhares atentos e desconfiados. Cumprimentei aqueles que
vi pelo caminho. Ao entrar, notei pingos, como manchas vermelhas, espalhados
minusculamente pelo chão. Sangue? Calda de sorvete? Batom? Não pude identificar o que
era; já que não queria levantar qualquer suspeita. Li isso em livros de Ágatha Christie: os
detetives considerados bons estão acima de qualquer suspeita! Professores, às vezes, também
tiram onde como detetives!
       Além do vermelho no chão, notei alguns alunos faltantes, o que não era tão comum
assim... ainda mais em dia de prova. Eram cinco os ausentes, e quando perguntei à sala o
motivo das faltas, já que eles normalmente sabem, ninguém se manifestou. Estranho...
        Percebi ainda um cheiro de perfume no ar. Notei isso porque, grávida, o olfato fica
ainda mais aguçado. Era um perfume masculino, gostoso, envolvente. Por que alguém viria
tão perfumado para uma aula vespertina de Redação? Ou era conquista, ou alguma tentativa
de disfarçar um outro cheiro...
       Na verdade, depois que, em minutos, pude constatar tudo isso, pensei que eu pudesse
estar envolvida demais com minhas leituras policias, às quais tenho me dedicado
ultimamente em razão de um trabalho de pós-graduação. Não sei, talvez tenha confundido
tudo. Talvez não fosse nada demais esses indícios, que seriam normais aos olhos de qualquer
mortal normal.
       Apliquei a prova, deixei a sala e me dirigi à sala dos professores ainda meio
desconfiada. Um recado para que eu comparecesse à orientação me intrigou. Lá, recebi a
notícia de que cinco alunos estavam desaparecidos havia algumas horas. Coincidentemente,
os mesmos que ao haviam comparecido à minha aula. O que teria acontecido?
       Com os alunos ainda no pátio da escola, como é de costume, comecei a ouvir um a um,
informalmente, claro, para tentar descobrir alguma pista ou tirar de vez a neura de minhas
ideias.
ALEXANDRE
                                                    Calmo e pensativo, amigo e bom, gosta
                                                    muito de contar histórias e de passar o
                                                           tempo com os amigos.


                                                        Segmento: Implícito (o final “fica no ar”)




                                 O mistério das alianças

       Eu estava sentado no sofá assistindo à TV, era noite do dia 15 de maio, um dia normal,
sem nada de especial ou incomum, quando de repente o telefone tocou. Tive um mau
pressentimento. Era um dos meus colegas de classe, Paulo Roberto, que disse que precisava
falar comigo urgentemente. Notei que sua voz estava trêmula, o que deixava claro que ele
estava extremamente perturbado e nervoso; tentei perguntar o motivo, ele respondeu que só
poderia me falar pessoalmente. Foi quando eu o convidei para vir até minha casa para
conversarmos, mal sabia eu que os meus problemas estavam apenas começando.
       Esperei por alguns minutos, a campainha tocou. Quando abri a porta, Paulo entrou
desesperadamente e me disse que antes eu deveria jurar que eu não ia contar a ninguém sobre
o ocorrido. Prometi manter a boca fechada. Foi quando ele, tremendo e soluçando, me disse
que tinha uma horrível notícia para me dar e que ele havia testemunhado o que seria uma
importante pista sobre um suposto assassinato. Ele contou que dois dias atrás, quando ia para
um de seus compromissos semanais, passou por um beco escuro onde vira dois vultos,
resolveu chegar mais perto por curiosidade para ver quem era, e ao se aproximar notou que
eram Anne e Gustavo, outros dois amigos que estudavam conosco. Paulo disse que havia
visto os dois tendo uma discussão que lhe pareceu muito violenta, e que Anne estava muito
nervosa, que chorava durante a conversa. Até aí nenhuma surpresa, a não ser o local onde
estavam – Anne e Gustavo costumavam discutir. Foi quando ele me pediu para sentar e me
trouxe um copo d’água, disse que eu teria que ser forte para aguentar o que ele diria.
Confidenciou-me que um corpo havia sido encontrado carbonizado enterrado nos arredores
da cidade, e que uma terrível coincidência também tinha acontecido, Anne estava
desaparecida há mais de 24 horas.
Naquela hora, mil coisas começaram a passar pela minha cabeça: seria o corpo de
Anne? Onde ela estaria? Quem teria motivos para cometer tal crime? Eu e Paulo decidimos,
então, buscar pistas para descobrir o que estaria acontecendo; peguei meu casaco
rapidamente e juntos saímos de minha casa em direção ao tal beco onde supostamente ele
teria visto Anne pela ultima vez. Logo ao sair pelas escuras ruas, tivemos a impressão de
estarmos sendo observados. Passados alguns minutos de caminhada, chegamos ao local. Era
um pequeno beco, muito escuro, sem nenhuma iluminação, sujo e fedorento, notei que o tal
beco tinha apenas uma saída, uma pequena porta aos fundos pelo canto esquerdo.
       Perguntei então em que lugar exatamente ele havia visto Anne e Gustavo; andamos
mais alguns passos, foi quando notei no chão da rua algumas manchas vermelhas, seria
sangue? Tinta? Ou tudo fruto da nossa imaginação? Notei também que havia um forte cheiro
no ar, o que me parecia ser um perfume masculino. Cansados, resolvemos voltar até a minha
casa e re-avaliar tudo o que havia acontecido até aquele momento. Chegando novamente à
minha casa, corremos para os fundos, pegamos um caderno e anotamos horários, dias, pistas,
pessoas, tudo. Foi quando meu celular tocou, era Carolina, uma grande amiga nossa e
também de Anne, ela nos contou chorando que um teste de DNA havia sido feito, e que o
corpo encontrado era mesmo o de Anne. Ela também nos contou uma coisa ainda mais triste,
nos fez jurar não contar para ninguém, nem aos nossos pais, nem às pessoas em quem mais
confiávamos, ninguém poderia saber. Anne estava grávida de quatro meses. Na mesma hora
todas as nossas suspeitas pareciam apontar para o namorado dela, afinal, uma gravidez
indesejada, um futuro em jogo, ele teria vários motivos para cometer tal crime. Ele, que
sempre pareceu tratá-la muito bem, ambos pareciam estar tão felizes...
       Paulo disse que ia para casa, descansar um pouco, tentar esfriar a cabeça e esquecer
todo aquele pesadelo. Para mim parecia que nada daquilo era verdade, e que eu estava apenas
sonhando, nada parecia ser realidade. Refleti por horas durante a madrugada a fim de tentar
encontrar a solução, em vão. O despertador tocou, outro dia amanhecia nublado, chuvoso, o
céu escuro, e eu ali refletindo a tristeza que nos cercava; tive por alguns minutos algumas
lembranças dela, estudávamos juntos desde crianças, parecia que seria só mais um dia normal
na escola onde veríamos nossos amigos novamente, eu não queria acreditar ainda, mas já
sabia que eu, gostando ou não havia perdido uma pessoa importante e que minha vida nunca
mais seria a mesma.
       Levantei, tomei banho e coloquei meu uniforme, peguei o ônibus e fui para a escola.
Chegando lá, vi uma grande faixa de luto e notei que vários alunos haviam faltado. Notei
também que Gustavo era um dos poucos que tinha ido para a aula, achei aquilo muito
estranho, afinal, ela era sua namorada há mais de dois anos. Olhamo-nos rapidamente sem
nos cumprimentar, sentei a apenas alguns metros de distância dele. Foi quando notei um forte
cheiro no ar, um perfume que surpreendentemente era muito semelhante ao que eu havia
sentido um dia atrás no tal beco misterioso. Subi à sala de aula para relembrar momentos
legais que havia passado com minha amiga. Minúsculas manchas de sangue presentes no
chão me intrigaram. A sala não fora limpa, já que Maria José, a faxineira, havia faltado
porque estava com muita gripe. A sala permanecera intacta, portanto.
       Por mais que tentasse, eu não conseguia identificar de quem era aquele perfume tão
forte, e as marcas de sangue não saiam de minha cabeça. Foi quando a coordenadora entrou
na sala e anunciou que havia outros cinco alunos desaparecidos: Bruna, Carolina, Gabriela,
Gabriel e Alice. Todos estavam desaparecidos há mais de três dias, menos Carolina que
estava há apenas um dia. Seriam todos eles testemunhas do crime? Seriam os
desaparecimentos tentativas do assassino de esconder a verdade?
       Depois da aula fui até a casa de Paulo para tentarmos achar mais pistas, foi quando ele
me mostrou a noticia do assassinato no jornal, e que uma nova pista havia sido encontrada -
um anel estaria enterrado junto com o corpo. Imaginei que poderia ser uma das alianças, dela
ou dele, já que havia um boato de que eles estariam pensando em ficar noivos em virtude da
gravidez. Provavelmente era a dela, pois estava escrito dentro do anel “Gustavo”.
       Passados alguns dias, nenhuma nova pista havia sido encontrada, portanto a polícia
não tinha nenhuma prova concreta de quem seria o assassino, então o caso foi encerrado até
que novas pistas aparecessem. Um semana se passou e nada havia sido concluído; fiquei
muito decepcionado, fui então levar flores até o túmulo de Anne, coisa que eu fazia quase
todos os dias, depois da tragédia. Logo ao chegar, notei que o cemitério estava vazio,
caminhei alguns metros e quando olhei para frente vi Luiz Henrique um garoto da sala, muito
estranho, e poucos gostavam dele, já que era muito quieto, misterioso, tinha a fama de ter um
ciúme doentio, coisa que eu desconhecia se era verdade ou não. Escondi-me atrás de uma
árvore e fiquei só observando o que ele estava fazendo. Notei que ele deixara algo em cima
do túmulo e saíra, sem notar minha presença. Esperei ele ir embora, caminhei até o túmulo
curioso para saber o que ele havia deixado, estava ventando muito, as árvores pareciam
acompanhar o ritmo do vento criando uma certa sintonia, pássaros cantavam, folhas voavam
em mais uma tarde ensolarada de domingo. Aproximei-me do túmulo, vi um certo brilho
como se uma jóia estivesse ali, notei que era um anel, um lindo anel dourado, escrito em seu
interior: Anne.
ALICE
                                                   Uma menina meiga, inocente, ingênua e
                                                 linda, que foi achada numa caixa e sapato
                                                             na beira da praia.



                                                             Segmento: Policial




                                         Um dia e tanto

       Segunda-feira. Como manda a rotina, mais um dia de aula à tarde. Estava cansada,
tivera um final de semana agitadíssimo, a vontade de ir para a aula era mínima. Infelizmente
era dia de prova, portanto, não tive outra escolha.
       Como de costume, a Bruna sempre passa em casa para subirmos juntas ao colégio e
pouco depois do almoço ela me ligou, dizendo que marcara com a Lanna de ir uma hora
antes ao colégio para dar uma revisada na matéria. Marquei de ir também, eu precisava
mesmo revisar alguns pontos que não prestei atenção.
       Chegamos à escola, cumprimentamos logo na entrada a Lucélia e atrás dela estava o
Seu Zé, novo zelador, que tinha uma aparência simples, humilde e era muito bem humorado.
Dava-se bem com todos os alunos!
       A Lanna já estava lá nos esperando, pensativa... Era uma amiga imprevisível. Mas nós
gostávamos dela. Fizemos um sinal que estávamos subindo para a sala e ela já veio logo em
seguida. A escola estava vazia, as crianças e as professoras estavam passando a tarde no
Super Festa.
       Na subida para a sala, Seu Zé, com suas mãos ocupadas por produtos de limpeza, nos
interrompeu e perguntou o motivo de tão cedo estarmos na escola. Explicamos, ele
consentiu, ficou pensativo e saiu. Continuamos a subida distraídas e logo após entramos na
sala e nos ajeitamos nas carteiras. Percebemos um cheiro forte de perfume, estranhamos, era
impossível ficar na sala. Fui abrir as janelas e deixamos a porta aberta. Ficamos sem
entender, mas nós tínhamos coisas mais importantes para fazer do que ficar perguntando
sobre o cheiro. Logo, logo, saía.
       Ao começar a ler uma das matérias, fomos interrompidas pelo celular da Bruna, que
tocava algumas vezes confidencial. Quando ela atendia, ficavam uns murmúrios e logo
desligava. Logo após, ligaram no meu celular. A mesma coisa. Havia uns barulhos distantes,
mas ninguém entendia o que era. Já imaginamos que poderia ser alguma brincadeira de mal
gosto de um de nossos colegas.
       Não deu tempo de estudar muito e os alunos já foram chegando. A Larissa foi a
primeira e logo sentiu o cheiro forte, e mais, notou pequenos pingos vermelhos no chão que
nós não tínhamos reparado. Chegamos perto, não sabíamos se era sangue, batom, calda de
morango ou algo relacionado. Deixamos quieto, depois Seu Zé vinha e limpava. Talvez ele
até já tivesse notado quando estava com os produtos de limpeza em mãos. Mas retornou à
cantina, talvez por não querer nos atrapalhar, depois ele fazia o serviço.
       A professora chegou à sala, toda sorridente, pois há poucos dias recebera a notícia de
que seria mãe novamente. A felicidade ficava estampada todos os dias em seu rosto. Mas
logo também percebeu o cheiro forte e as gotas vermelhas que sujavam o chão, porém nada
fez e começou a aula com a chamada. Faltavam cinco alunos. Estranho. Era dia de prova e
ninguém costumava faltar. Carolina disse que algumas horas antes vira o Alexandre, o
Gabriel Papi, o Gabriel, Cauê e o Luiz Henrique em um carro velho, caindo aos pedaços, que
estava em alta velocidade com um homem estranho dirigindo.
       Sinistro. Matando aula, será? Logo Cauê, tão estudioso, no meio deles? Nada feito.
Todos da sala estranharam. Enfim, fizemos a prova. Alguns alunos foram embora e outros
ficaram na cantina conversando. Percebemos a presença da mãe do Alexandre perguntando
onde ele estava para levá-lo embora. Contamos que ele não havia aparecido na escola e havia
sumido com mais quatro meninos. A mãe dele disse que era impossível, pois dera carona
para o Gabriel e deixara os dois na escola. Disse ainda que fora horas antes da aula, pois
tinha um compromisso e precisou deixá-los antes.
       Uma das ordens que a Lucélia recebe é não deixar nenhum aluno sair da escola sem
autorização. As mães dos outros meninos chegaram para buscá-los e explicamos o que havia
acontecido, e então a movimentação começou. Havia cinco alunos desaparecidos e talvez
vestígios disso estivessem lá na sala de aula. A professora foi chamada na orientação e foi
avisada do ocorrido. Ela disse que desconfiou que algo poderia não estar certo, mas preferiu
ficar quieta, pois poderia ser alguma de suas neuras.
       A diretora ligou para a polícia para investigar o caso. Contamos que a Carol vira os
garotos pouco antes da aula. Todas as mães mostravam seu nervosismo e faziam ligações
para todos os conhecidos. E nada. Ficamos todos apavorados, para piorar, nada havia sido
registrado pelas câmeras do colégio.
       Uma viatura foi mandada para a escola e pediram para a Carol comparecer à delegacia
para fazer um retrato-falado do motorista que dirigia o tal carro que levava os garotos para
algum lugar. A diretora queria acompanhar os passos da polícia e, imediatamente, foi pedir
para o Seu Zé levar Carol até a delegacia. Para complicar mais a situação, a surpresa: o
zelador havia sumido também! E só poderia ter sido pelos fundos, pois todos estavam lá na
frente e ninguém vira nada.
       Por que Seu Zé sairia pelos fundos sem avisar ninguém? Será que aquele zelador tão
simpático sabia de alguma coisa que pudesse esclarecer os fatos? Ou estaria envolvido?
Ligamos atrás dele e nada. Uma das mães levou Carol enquanto dois policiais foram atrás de
Seu Zé em sua casa.
       Outros policiais presentes no colégio confirmaram que aquelas gotas vermelhas na sala
eram sangue, realmente. Na mesma hora receberam a ligação de que a casa de Seu Zé estava
completamente bagunçada e das poucas roupas que ele tinha não havia mais nenhuma no
guarda-roupa. Os vizinhos deram a informação de que o zelador tinha acabado de sair dali,
correndo, assustado, com uma mala na mão e fora ao encontro de um carro que o esperava na
esquina. Será o mesmo carro em que os garotos estavam? Se fosse, eles poderiam estar por
perto!
       Após Carolina ter feito o retrato-falado do motorista e do carro, a polícia não perdeu
tempo e foi atrás deles. A cidade é pequena. Seis viaturas já eram suficientes e ainda com a
ajuda da Polícia Rodoviária, eles fecharam todas as saídas de Santo Antônio da Platina. Não
iam ter escapatória.
       Os celulares dos meninos estavam fora de área. Por que os celulares nunca estão
disponíveis quando precisamos deles? A agonia aumentava, os policiais não davam notícias.
Horas passavam e nenhuma notícia chegava. Os pais aguardavam ansiosos e muito
desesperados.
       Há poucos metros da escola, aproximou-se o som da sirene misturado a um tiroteio, o
que gerou gritaria de toda a vizinhança. Sim. A polícia encontrara Seu Zé e o tal motorista do
carro velho em uma casa abandonada. O momento foi bastante tenso, já que, com a correria,
não era possível saber ao certo quem era bandido, quem era curioso ou policial disfarçado.
Houve muita troca de tiros, o que apavorou toda a família e amigos dos garotos.
       Um dos policiais tentou entrar em acordo com os dois sequestradores. Seu Zé dizia que
só os devolveria se tivesse recompensa e logo após pudesse fugir. Os pais, aos escutarem
aquela negociação que aparentemente não teria fim, imploravam aos policiais para fechar o
acordo, pois eles pagariam o preço que fosse para ter os filhos de volta. O policial, mesmo
entendendo a situação daqueles pais desesperados, não poderia deixar de cumprir seu papel e
optou por tentar reverter a situação, que seria fazer os bandidos se renderem. E nisso ele
confiava, já que tinha parceiros ótimos. Tanto que na discussão para entrarem em um acordo,
um dos policiais que chegara depois sem ter chamado a atenção pulou o quintal dos fundos
junto com outros três de sua equipe e cercaram os sequestradores.
       Ao perceberem o ato, os bandidos reagiram e acabaram ferindo um policial. Mas logo
após receberam um tiro certeiro que os derrubou e perderam, assim, os movimentos. A
ambulância foi chamada com urgência.
Ao entrarem na casa, estavam os cinco garotos desmaiados e nus. Certamente teriam
sofrido agressão sexual por parte dos homens. A imagem era constrangedora. Ao lado, álcool
e um pano, que talvez fora usado para “apagá-los”.
      Os homens foram presos e os meninos recuperados. Ficaram com um grande trauma e
receberam ajuda psicológica.
      O cheiro de perfume na sala havia sido estrategicamente colocado pra disfarçar o
cheiro forte do álcool usado por Seu Zé para já tentar “apagá-los” ali mesmo, mas Cauê
reagiu e fora agredido com uma faca, que provocou um corte profundo e sangrou muito, o
que podia ser visto facilmente – os tais pingos no chão.
      O motivo para os sequestradores terem escolhido os cinco garotos? O zelador e seu
amigo estavam com uma dívida altíssima com um traficante, se eles não pagassem em menos
de 48 horas estariam mortos. Seu Zé, ao ver os garotos de boa família entrarem na escola que
estava vazia, não pensou duas vezes.
      As câmeras estavam travadas com um grampo de cabelo usado por Seu Zé – deve ter
aprendido a estratégia em mais um desses filmes de ação, e por isso nada fora registrado.
      Quem diria que aquela tarde de aula renderia uma boa história para contar?
ANNE
                                                      Inconsequente. Apaixonada. Imatura.
                                                     Sensível e delicada. Gosta da rotina, da
                                                       paz. Opta sempre pelo mais fácil e
                                                                     cômodo.



                                                      Segmento: Implícito (o final “fica no ar”)




                                            Cinco

       Bruna era perfeita. Pelo menos pra mim, que sempre fui vista como a menininha frágil.
Os olhares pra ela sempre eram cheios de inveja e com uma certa luxúria por parte dos
meninos. Eu queria ser como ela. Eu queria ser autêntica. Invejada, popular. Eu nunca passei
de um rastro, de uma sombra da garota mais incrível do colégio. Mas eu nunca conseguiria
ser mais do que isso, sempre que eu tentava eu me travava, já que ela sempre insistia em
fazer algo melhor, mais caloroso e cheio de vida. Típico dela.
   Era dia cinco de maio. Cinco do cinco. Minha paixão pelo número cinco existe desde que
eu existo. Minha mãe costumava dizer que o número cinco era o número da falsidade, porque
ele podia ser transformado facilmente com apenas alguns rabiscos. A estrela de cinco pontas.
O pentagrama é a figura mais freqüente nos instrumentos de magia, e é usado em amuletos e
instrumentos de exorcismo. Alguns afirmam que é o símbolo da dissimulação. Jesus Cristo
foi chagado por cinco vezes.
    O dia amanheceu quente. Incomumente quente, já que era maio. A cidade parecia
abafada, as pessoas pareciam agitadas. Passei a manhã lendo Dom Casmurro para me distrair
um pouco. Tomei um banho quente e rápido, coloquei qualquer roupa e fui para o colégio.
Subi as escadas e senti um cheiro familiar que dominava o corredor; segundos depois
Gustavo segurou com suas mãos minha cintura. Disse que eu estava linda. Eu não estava
linda. Dei um sorriso seco e me senti enjoada, pois havia saído de casa sem comer nada.
   A sala ainda estava semi vazia, aproveitei o tempo e desci rapidamente para comprar um
suco ou algo do tipo. Passei antes pelo banheiro para conferir. A porta estava trancada. Voltei
ao pátio, só tinha de goiaba. Eu nunca gostei muito de goiaba, mas não tinha outra opção e se
continuasse de estômago vazio passaria mal sem dúvida nenhuma. Subi correndo e mal vi
que a embalagem estava minusculamente rasgada, deixando assim pingos pela sala toda.
    A professora não tardou a chegar. Entrou como sempre com o suéter azul de bolinhas, se
Bruna estivesse na classe certamente faria algum comentário sobre ele não estar sendo usado
da forma correta. Me arrepiei. Eu queria lhe contar do meu final de semana, dizer o quanto
eu fui boa e corajosa no que fiz, como ela. Sem que ela me olhasse e repetisse que eu nunca
vou chegar a lugar nenhum se continuar sendo tão sonsa. “Você é simples demais, muito
sonsinha”, repetia ela, e continuava: “mulheres boas vão para o céu, mulheres más vão pra
onde quiserem”. Lanna, o seu braço direito, nada além de uma cópia menos eficaz da rainha,
desabotoava dois botões da minha camisete e ainda sorria, “que pena que você não tem
peitos suficientes ainda, garotos adoram seios”.
    A chamada começou a ser feita, cinco alunos haviam faltado. Olha só o cinco me
perseguindo outra vez. Estranhei Carol ter faltado, ela era do tipo que fazia da escola sua
primeira casa, ou melhor... a sua casa. Os outros quatro eram Alice, Bruna, Paulo e Lanna.
    A aula continuou normalmente. O sinal bateu e corri novamente ao banheiro, com a
bexiga quase estourando. A porta se mantinha trancada. Subi no vaso sanitário do outro
banheiro e fiquei na ponta dos pés arriscando tentar enxergar alguma coisa. Lá estava, um par
de pernas aparentemente imóvel, o par de tênis listrado inconfundível. Alice.
    Em passos curtos e rápidos procurei a zeladora e, afobada, expliquei a situação. Ela
pegou um molho de chaves e atravessamos o pátio. Senti um calafrio. Mas eu tinha que ser
forte, Bruna no meu lugar seria forte, eu tinha de ser forte. A zeladora destrancou a porta.
Meus membros inferiores amoleceram. Alice estava roxa e encolhida, assim como estava
quando a encontraram com apenas alguns dias de vida dentro de uma caixa de sapatos, mas
agora, sem vida.
    O suco de goiaba não fez muito efeito, pude sentir meus sentidos se esgotarem assim
como minha pressão, meu estômago embrulhou. Caí. Imagens embaralhadas. Sangue. Abri
os olhos assustada com a tentativa da zeladora de me acordar. Retomei minha postura
devagar, eu havia sido levada para a enfermaria. A diretora anunciava que daria um recado
importante. Fui andando devagar até a quadra.
    Aquela voz latejava na minha cabeça. Demorou quase vinte minutos para nos dizer que
seríamos dispensados naquela tarde. Os alunos comemoraram sem questionar, era tanta
ignorância para um lugar só... O colégio foi esvaziado aos poucos. Eu não queria voltar para
casa. Fraca, fraca, repetia a voz arrogante de Bruna na minha mente. No começo era só ela.
Mas as coisas foram complicando e complicando, e como dizia minha avó... uma mentira
leva à outra. Eu não tinha culpa. Alice só estava no lugar errado e na hora errada.
    Anoiteceu. Eu estava vagando pela cidade desde então. Costumava me sentar atrás do
grande muro do cemitério, falar com a escuridão. O grande ipê barrava um pouco o vento
forte que soprava naquela noite. O portão da casa da frente foi levemente empurrado. Carol
sempre fora estranha desde nossa infância, nunca gostou muito das pessoas, diga-se de
passagem. Silenciosa, sentou do meu lado. Pensei em lhe perguntar o motivo de ter faltado
no colégio, mas hesitei. Como se lesse meu pensamento, ela sorriu. Carol quase nunca sorria.
A não ser por Gustavo. Ela era completamente apaixonada por ele, suas expressões mudavam
incrivelmente perto dele; está aí o motivo de ela não me engolir.
    Eu realmente não sei o que ele via em mim, Bruna sempre me disse que eu era simples
demais pra um pegador de carteirinha como ele. Mas ele sempre me dava atenção mais do
que o normal e era estupidamente notável o quanto Carol se afetava com isso. Seus olhos,
escondidos atrás de uns óculos fortíssimos, se enfureciam.
   Carol respirou fundo, como se quisesse controlar algo, e me perguntou o que eu tinha de
diferente. Meu olhar fixou-se no vazio. Eu não tinha nada de diferente. Eu era comum
demais, simples demais para alguém me notar. Seca, questionei a pergunta. Carol me fitou,
segura, pela primeira vez seus olhos tinham segurança e continuou:
      - Não finja que está preocupada com Alice.
      Estremeci. Gaguejei procurando palavras; não as encontrei. Carol começou a contar
detalhadamente sobre sua noite anterior, havia se declarado para Gustavo e obviamente como
esperado sua reação fora a mais escrota possível. Rira, humilhara, disse que nunca se
envolveria com uma nerd feito ela. Carol gargalhou. Uma risada leve. Limpa e
descontrolada.
      - Sua inveja foi maior do que você. Não suportava o fato de ela ser melhor que você
em tudo que ela fazia. Alguma coisa saiu errado, não foi? Você não conseguiu ter o controle
de tudo como ela tinha. Lanna atrapalhou.
      Não pude responder. Engoli seco. Ela sabia.
      - Paulo era meu único amigo, eu confiava nele. A sua inteligência e a sua audácia a
assustou, não foi? Ele seria uma pedra no seu sapato.
      Naquela altura eu só conseguia pensar no meu diário e na minha maldita mania de ter
que contar tudo a ele já que nada e nem ninguém suportaria ouvir minhas lamúrias, nem ao
menos minhas paredes, já que estas têm dezenas de ouvidos. Carol continuou a acusação,
calma e fria.
      - Eu precisava descobrir se você o queria tanto quanto eu, e veja só o que por destino
eu acabo descobrindo: eu sempre te odiei e não só pelo Gustavo, mas porque para mim você
sempre foi uma garotinha influenciável demais, sonsa.
      Virei-lhe um tapa que fez seus grandes óculos saírem do lugar. Sonsa não. Eu nunca
mais seria chamada de sonsa. Carol me enfrentou e repetiu, como Bruna fazia quase que
diariamente. Sonsa, sonsa. Dei-lhe outro tapa mais forte. Meus dedos ficaram marcados no
seu rosto pálido. Ela re-ergueu o semblante e recomeçou.
      - Essa é a princesinha da classe? A garotinha doce? Vamos lá, continue!
   Carol sabia. Tudo ou quase tudo. Eu precisava pensar. Mantive-me calada e então ela se
cansou. Disse que aquilo não ia ficar impune. Atravessou a rua sem notar que eu ainda a
observava. Agachou, destravando algo no portão eletrônico e entrou no grande casarão em
que passava a maior parte do tempo sozinha, graças aos pais que viajavam constantemente. A
garagem estava vazia.
Voltei para casa apressada. Vasculhei meu quarto. Nem sinal do meu diário. Coloquei
algumas coisas na mochila, disse a minha mãe que iria dormir na casa de uma amiga. Não
dormi. Cheguei em casa por volta das quatro. Entrei em passos leves, fechei a porta do meu
quarto, risquei o dia cinco do calendário. Adormeci.
   A terça-feira amanheceu fria. Comumente fria, já que era maio. Os rádios, jornais,
programas anunciavam a maior tragédia da história da pequena cidade. Cinco adolescentes
encontrados mortos sem explicações aparentes. Veja só o cinco outra vez.
BRUNA
                                                Uma menina de família rica, que age por
                                                  impulsos, causando muita confusão e
                                              problemas. Tem uma relação conflituosa com
                                                o pai, muito conservador, que preza pela
                                                            honra da família.



                                                              Segmento: Romântico




                                Feitiço contra o feiticeiro

       Assim como todas as manhãs, acordei às seis horas ao som de Kesha, levantei e como
de costume fui direto para o banho. Às sete horas o despertador tocou novamente me
alertando de que já estava na hora de ir para o colégio, desci e o motorista estava a minha
espera. Já estava a caminho do carro quando meu pai me chamou, voltei achando ser algo
importante, mas era mais um de seus discursos dizendo que se minhas notas não
melhorassem ficaria de castigo por um tempo memorável, sem roupa nova, sem celular, e o
pior, sem festas. Até aí tudo bem, eu ainda estava calma, mas então ele começou a falar da
minha irmã, falar que se eu não mudasse acabaria engravidando de um drogadinho qualquer
sem futuro, assim como ela. Isso me tirou do sério, o sangue subiu à minha cabeça e quando
dei por mim já estava sendo segurada por um dos funcionários de meu pai para não atacá-lo.
Depois dessa tensão, achei melhor entrar logo no carro e ir para o colégio, não conseguiria
ficar mais nem um minuto olhando para a cara daquele homem que dizia me amar, mas só
estava preocupado com o status da nossa família.
       Cheguei ao CTAM fumegando de raiva, prestes a matar o primeiro que discordasse de
mim. Entrei na sala e deixei a bolsa na minha carteira, fixa ao lado das minhas melhores
amigas, Alice e Anne, as únicas que escutam meus problemas e aguentam meus maus-tratos
e meu mau-humor sem reclamar. Alice, um anjo de menina, sempre me apoiando e me dando
os melhores conselhos. Anne também é um doce de menina, porém mais quieta. Ficamos
conversando até que senti um cheiro forte de perfume masculino que me deu náuseas e uma
vontade de vomitar, principalmente quando percebi de quem era. Era do Gustavo, o menino
mais escroto que conheço, mulherengo, idiota, que se acha o tal, e o que mais me estressa é
que as meninas morrem por ele e os meninos o tratam como um rei. Ele já ficou com todas as
meninas da sala, exceto Carolina e Larissa, que só pensam em estudar, e eu também estava
fora da lista, é claro, já que tenho detector contra idiotas. Confesso que quando ele entrou no
colégio até me atraiu, ele parecia ser um menino meigo, fofo, bonito, é claro, e mostrava
interesse por mim. Pensei em dar uma chance a ele, mas meu pai logo tirou essa idéia da
minha cabeça me dizendo que ele era igual a seu irmão (o cafajeste que engravidou minha
irmã). Meu pai sente uma raiva imensa dessa família, o pai deles, Robson Dal Bom, havia lhe
tirado muito dinheiro e depois veio a história do Guilherme com a minha irmã. Disse que não
queria me ver de conversinha com ele, queria me ver longe do garoto.
       Foi aí que tive uma ótima idéia, acho que a melhor que já pensei em ter: “vou ficar
com o Gustavo e fazer com que ele se apaixone por mim”. Perfeito! Meu pai vai explodir de
raiva e ainda de bônus eu ganho a oportunidade de iludir o Gustavo e fazê-lo sofrer.
       A idéia já estava formada, agora só precisava de um plano. Tinha que ficar com ele na
aula da manhã, no almoço meu pai “sem querer” descobriria e à tarde eu terminaria com ele.
Tudo certo, comecei a colocar o plano em prática. Nos dois primeiros horários fiquei
conversando com ele, rindo das piadas que ele contava, jogando charme. Bateu o sinal para o
intervalo, peguei uns livros que tinha que devolver na biblioteca e esbarrei nele de propósito
fazendo-os cair no chão, ambos abaixamos para pegá-los, toquei minha mão na sua e tirei
rapidamente, assim como tinha visto em um filme. Depois de me ajudar a pegar os livros, fez
questão de me ajudar a levá-los à biblioteca.
       - Que cavalheiro, não se vê mais meninos assim. Você tem sorte em tê-lo! – disse a
bibliotecária.
       - Também acho. Tenho muita sorte! – disse olhando para ele e sorrindo.
       Saindo da biblioteca, ele me segurou pela cintura, me encostou na parede, olhou nos
meus olhos e me beijou. Fiquei um tempo presa no beijo, mas então lembrei que aquilo era
um plano e não bastava apenas ficar com ele, tinha que fazê-lo se apaixonar por mim. Então
interrompi o beijo e disse que não era como as outras, que se ele quisesse me ter em seus
braços novamente teria que ser do jeito certo, namorando. Saí sem hesitar, sem olhar para
trás. E isso funcionou, pois quando estava saindo para o segundo intervalo segurou-me pela
mão e encaixou seus dedos nos meus, com a outra mão acariciou meu rosto e olhando no
fundo dos meus olhos disse:
       - Quero estar com você, não importa como. Se você quer do jeito certo será do jeito
certo.
       Nos beijamos novamente, mas dessa vez foi um beijo mais suave, romântico,
envolvente. Olhei para ele e sorri, ele me deu um abraço apertado e ficamos o intervalo
inteiro ali, juntos.
       Passei as duas últimas aulas pensando nele, lembrando dos beijos, de quão macios são
seus lábios, daquele abraço, daqueles braços quentes e tão aconchegantes. O que está
acontecendo comigo? Eu não posso nem pensar em me apaixonar por ele. Tenho que agir
pela razão e não pelo coração. Pensei. Comecei a pensar em uma forma de o meu pai
descobrir, ele tinha que ficar sabendo por mim, mas eu não podia contar diretamente, ele ia
achar que estava fazendo isso só para irritá-lo. De fato estava, mas ele não podia saber.
       Peguei uma caneta e com letra de forma escrevi em meu pulso “TE AMO GATA!
SEU AMOR, GU” e fiz um coração. Fui para casa e na hora do almoço fiz questão de
esperar para almoçar com meu pai, sentei-me do lado dele e fiz com que notasse o rabisco no
meu pulso. Enquanto esperávamos a sobremesa, ele disse num tom bravo:
       - Deu pra fazer essas babaquices de escrever na pele agora, menina?!
       - Não fui eu que escrevi! – respondi.
       - Quem fez isso?
       - É melhor o senhor não saber – disse, escondendo a mão.
       Ele, ainda mais furioso, levantou do seu lugar, foi até onde estava, pegou meu braço e
leu o que estava escrito. Quando terminou de ler, me segurou e ordenou que tirasse aquilo do
braço e nunca mais dirigisse uma só palavra ao Gustavo ou ele teria que tomar medidas
drásticas e me tirar do CTAM. Depois saiu frio, dizendo que tinha perdido a vontade da
sobremesa.
       Sorri de felicidade, consegui cumprir meu plano, meu pai ficara realmente bravo. Mas
quando estava no ápice da minha felicidade parei para pensar e percebi que teria que terminar
com Gu e não poderia sequer olhar na sua cara. Eu não poderia fazer isso com ele. Já
ouviram o famoso ditado “e o feitiço virou contra o feiticeiro”? Pois é, eu sou a feiticeira que
acabou se enrolando com seu plano e agora estava sofrendo por ter que se afastar do menino
que antes queria ver sofrer. Menino por quem agora estou... estou... apaixonada!
       Se eu continuar com ele perderia muita coisa, sair do CTAM não significava apenas
deixar um dos melhores colégios da cidade, significava também deixar meus amigos de
infância e principalmente, eu nunca mais iria ver o Gustavo! Passei o resto do almoço
analisando os prós e contras de ficar com ele e cheguei a uma conclusão.
       Me arrumei e fui para a aula de Redação mais cedo. Chegando ao colégio, subi as
escadas e entrei na sala que estava com cheiro de perfume maravilhoso, era o perfume do
Gustavo. Vi também uma mancha vermelha no chão que parecia sangue. Será que era dele
também? Eu tinha que encontrá-lo, ver se ele estava bem; como estava cedo e ainda faltavam
três alunos, não pensei duas vezes e fui procurá-lo.
       Encontrei-o saindo do banheiro, o sangue era mesmo seu, porém nada demais, apenas
um corte na ponta do dedo indicador. Ele me cumprimentou com um beijo e um abraço tão
apertado que me fez pensar que ele já soubesse de toda a história e já soubesse também da
minha decisão.
       Puxei-o pela mão e o levei até a biblioteca, encostei-o na parede, local onde tudo
começou.
       - Quero te falar uma coisa – eu disse com um aperto no coração e os olhos cheios
d’água por saber que aquele era o fim de tudo.
       - Eu também tenho uma coisa para te falar – ele disse com um sorriso no rosto.
Então pegou minha mão, abriu-a e, tirando do bolso, colocou uma pulseira de prata
com um coração meio torto e disse:
        - Eu mesmo fiz esse coração. Ele está meio torto. Meu coração é meio torto e eu posso
ter feito muita coisa errada e nossas famílias podem ter seus desentendimentos, mas eu estou
disposto a resolver tudo isso. Eu quero estar com você, você é meiga, engraçada, linda e
conseguiu fazer o que NENHUMA menina conseguira até então... me fez virar um bobo
apaixonado que não consegue parar de pensar em você. Eu te amo!
        Fiquei pasma, não conseguia me mexer e nem dizer nada, apenas sentia as lágrimas
escorrerem pelo meu rosto. Se ele estava disposto a fazer tudo isso, resolver os problemas
entre nossos pais, por que eu não poderia jogar tudo para cima e fazer o mesmo?
        Olhei nos seus olhos cor de mel e disse:
        - Lembra o que a bibliotecária disse? Eu tenho sorte em ter você! Você não é bobo, é
perfeito para mim!
        Nos beijamos e então eu soube que tudo ficaria bem!
CAROLINA
                                                   Garota normal, quieta, tímida, e sem
                                                    amigos, nerd e muito esforçada.
                                                                   .



                                                            Segmento: Trágico




                             Personagens de um mesmo eu

           “Nos desonestos pode-se sempre confiar em suas desonestidades. Honestamente, os
honestos é que deviam ser vigiados, pois nunca se sabe quando farão alguma coisa realmente
estúpida”. Tenho mania de sempre me inspirar em personagens para fazer coisas grandes em
minha vida, e agora penso que talvez se uma, apenas uma pessoa tivesse o mesmo hábito que
eu e se inspirasse no Capitão Jack Sparrow e nessa sua frase de efeito, quem sabe tinha me
mandado prender antes mesmo de ter consumado meu ato, meu horrível ato... Mas tenha
calma meu querido leitor, já contarei meu efeito e, como dizia meu caro Jack Estripador,
vamos por partes.
           Desde que mudei para essa escola, na 8° série, certos alunos têm como hobbie me
chamar por certos nomes amáveis como “fundo de garrafa”, “nerd”, e outros, porém se você
pensa que eles limitam suas mediocridades apenas a apelidos, você está redondamente
enganado, há também atos como enfiar minha cabeça na privada e dar descarga ou passar o
pé para eu cair na escada.
           Eu aguentava. Na verdade nem ligava, afinal sou uma pessoa de nervos de aço e
aprendi a não ligar para esses idiotas. Só peço que não pergunte às minha paredes, elas
costumam inventar histórias, de que choro muito, e tenho ataques frequentemente, mas é
mentira! Afirmo, mentira! Não dê NUNCA ouvidos a elas.
           Voltemos ao ato. Primeiro, quero deixar bem claro que não estou culpando meus
amáveis amigos, aqueles dos apelidos, assumo inteiramente a culpa pelo que fiz, pela minha
frieza, pelo meu calculismo e pela minha futura... bem, voltemos logo ao ato.
Tudo aconteceu na tarde do dia 15 de maio, eu tinha Educação Física às cinco,
cheguei pontualmente e fui lá em cima para trocar de roupa. Quando subi as escadas, percebi
as vozes dos meus amáveis amigos; hesitei, mas decidi enfrentá-los. Então continuei a subir
enquanto eles desciam. Senti um empurrão, e como estava com minha bolsa nas mãos caí e
acabei batendo meu nariz no chão. Veio uma dor seca e contínua e logo depois veio o
sangue, lavando e respingando o mármore frio da escada. Com as mãos na escada, apoiei-me
para levantar. Percebi que estava no topo dela, então me lembrei da câmera no corredor e tive
uma ideia.
           Consegui levantar e subi mais um degrau, chegando assim ao término dela.
Alexandre então me empurrou novamente dizendo para ficar no chão, onde era o meu lugar,
de acordo com ele. Gabriel riu uma risada solta e pesada, que me cortava por dentro, olhei
para ele dizendo “é exatamente assim, ri de suas notas, é bom não é?! Rir dos outros, se
sentir melhor, não te culpo, porque é exatamente assim que me senti quando você tirou
aquele zero em Gramática, ou foi em Física, são tantos que nem que queira consigo me
lembrar mais...”. Senti então um chute na barriga que levou meu ar com ele.
           Risos e mais risos, era tudo o que eu ouvia ao sentir o sangue do meu nariz
escorrendo pelo meu rosto. Mas eu ri também, em pensamento, é claro, ao olhar a câmera
nos filmando discretamente. Devia ter me calado guardando a vitória só para mim, mas não!
Afinal, de que serviria um narcisista sem um espelho para contemplar e então se gabar de sua
beleza?
           Olhei para eles e disse “Sorriam, vocês estão sendo filmados”. Sorri então imitando
a cara do smile que vem naquelas placas de lojas com câmera, mas só senti o gosto do sangue
em meus dentes que vieram parar ali devido ao nariz. Gabriel foi tentar me chutar de novo,
mas foi interrompido por Alexandre, que fez sinal para ficar quieto.
           Ele entrou na sala do terceiro ano e só pude ouvir alguns barulhos. Ele devia estar
desligando a câmera, mas não faria mal, pois o que interessava já estava gravado, não tinha
nada que eles podiam fazer. Certo? Errado!!
           Fui arrastada até o banheiro masculino e lá eles me chutaram e claro que
protegeram meu rosto, pois os hematomas não poderiam ficar expostos, depois me pegaram
pelo cabelo e mergulharam minha cabeça na privada, deram descarga. E pude sentir o gosto
do meu sangue misturado com água sanitária, e outra coisa que prefiro nem pensar no que
era. Soltaram-me, e eu, afogada, não conseguia respirar, apenas tossia loucamente num canto
do banheiro. Eles trancaram a porta e aos chutes quebraram o trinco, pularam a parede que
dividia um sanitário do outro.
           O que não consigo entender é como pensaram em tudo em tão pouco tempo. É
claro que tudo vinha do Alexandre, pois Gabriel só o observava e repetia, como sempre fez a
vida toda. Deve ter planejado tudo antes, com certeza, só que para uma outra ocasião, pois
não contava com o fato de eu usar a câmera contra eles. Mas a ideia de desligá-la e saber
onde desligava, e ainda usar o banheiro dos deficientes para ter mais espaço para quebrar o
trinco, foi tudo tão genial.
Eu ainda tossia muito e acabei perdendo a consciência. Acordei um tempo depois.
Estava tudo quieto e não tinha nem noção das horas, meu celular ficou na minha bolsa, na
escada. Decidi gritar por socorro, mas foi em vão. Tudo doía, minha cabeça, meu nariz e todo
meu corpo, que fora espancado por eles. Gritei de novo e pude ouvir barulho nas escadas,
pensei que eram eles. Mas logo reconheci a voz que gritou de volta “quem tá aí?”. Era uma
voz feminina e familiar, lembrei da tia Mari, que ficava na escola até mais tarde. Eu disse
chorando “sou eu tia, a Carol do segundo”. Ela abriu a porta do banheiro. “Me ajude, me tire
daqui”, e ela “Se acalme, minha flor”. Tentou em vão abrir a porta “Não consigo abrir, Ah!
Tive uma ideia, vou pegar alguma faca para descochar os parafusos, já volto”. Ela voltou
logo. “Voltei! Flor, eu acho que os parafusos estão do lado de dentro, e não tem como eu
passar a faca por debaixo da porta, porque o cabo da faca é muito grosso e o espaço entre a
porta e o chão é muito pequeno, vou te passar por cima, sobe no vaso que eu te dou, mas
cuidado, porque ela tá muito afiada”.
           Subi então como ela havia me pedido, peguei a faca e na hora de descer sem querer
meu pé escorregou e caiu na patente, para melhorar meu estado. Enquanto descochava os
parafusos a tia falava sem parar.
           - Ai, menina, como você foi parar aí? Vai ter que contar essa história direito, em?!
Eu estava indo embora, estou louca pra ir embora, porque não sei se você sabe mas hoje é
meu último dia aqui, graças a Deus eu pedi demissão desse lugar.
           E continuava sem respirar, um blábláblá irritante, aquilo latejava minha cabeça que
parecia estourar de tanta dor. Começou a me dar raiva!
           Mas enfim, terminei de descochar, e ela: “agora me passa a faca que depois é só dar
um empurrãozinho e a porta cai”. Subi no vaso com a faca na mão, mas na hora em que fui
chamar a tia para pegar a faca, escorreguei na água que espirrou no momento em que meu pé
caiu e acabei indo pra frente e esbarrando na porta, que foi caindo e acabei sem querer, ao
tentar segurar, fincando a faca no outro lado dela. Retomei meu equilíbrio, vendo a porta
cair, e permaneci em cima do vaso quando vi um líquido vermelho escorrendo no chão, olhei
para os lados e não via a tia. Desci do vaso, levantei a porta e desvirei seu corpo que estava
fincado com a faca no peito. Seu olhar era frio e refletia um certo horror, talvez o meu
próprio horror ao olhar a cena.
           Não consegui fazer nada além de olhar para seu rosto, que me acusava, mesmo eu
dizendo não com a cabeça.
           Sentei-me e encolhida pensava a todo momento eu a matei! Eu sou uma assassina!
Foi então que me veio o pensamento que ninguém podia ficar sabendo, eu tinha que escondê-
la!
           Mas eu não conseguiria fazer aquilo sozinha, aí minha tal “mania de personagens”
resolveu dar o ar graça. Lembrei de C.S.I. Los Angeles, mais especificamente do senhor
legista. Sempre o admirei, sua frieza para lidar com corpos, era tão simples para ele. Estava
decidido! Era ele quem eu seria naquele momento.
Peguei a faca e comecei pelas mãos, depois pelos ombros, a cabeça me deu até um
certo trabalho, não conseguia achar o lugar certo para cortar, saía muito sangue no começo,
mas quando comecei a cortar os membros inferiores eles já estavam coagulados e não faziam
muita bagunça. Até assobiei, como o senhor legista costuma fazer, às vezes me assusto com
essa minha mania, mas no fundo eu acho engraçado, confesso!
          Terminei. Peguei o molho de chaves e depois de tentar três delas consegui abrir a
porta para o futuro elevador. Voltei ao banheiro, peguei os pedaços e joguei no buraco
destinado ao elevador, tranquei e joguei a chave pela descarga. Desci e entrei na cantina,
peguei um balde, um pano e produtos de limpeza. Lavei tudo, ficou branquinho, coloquei os
panos na bolsa e devolvi o balde e os produtos. Sei que existe o tal luminol para detectar o
sangue que alguém limpa depois de um crime, mas isso não seria problema: o meu nariz,
estava tudo registrado.
          Voltei para a casa e no outro dia fui normalmente à escola. Os covardes haviam
faltado, é claro. Ninguém notou meu nariz inchado, ninguém me notou, mas notaram um
cheiro estranho no corredor. Era o corpo, e isso me deixou nervosa. Acabou a aula, fui para
casa, estava muito nervosa. “Eles descobririam, estava tudo acabado.” Já estava decidido: me
mataria. Não passaria pela vergonha de ser acusada de assassinato. Não eu! Então minha
mania voltou a aparecer, lembrei do “e não sobrou nenhum” de Agatha Christie, do juiz que
mata todos e se mata, e deixa uma carta explicando os crimes. Faria isso, e escreveria a carta.
Esta carta! Sobre como será minha morte ainda não tenho certeza, mas acho que vou tomar
comprimidos de minha mãe.
          Espero que você leitor de meus últimos minutos de vida, procure entender meus
motivos. Dignidade. Morri com dignidade, sem dúvida.
          Assinado: eu.
CAUÊ
                                          Inteligente, tímido, feliz, faz tudo para alcançar o
                                           que quer. Legal com quem é legal. Ou gosta ou
                                                  odeia, e odeia a sala onde estuda.



                                                     Segmento: Polêmico




                                    Alucinada paixão

      Pensei em como tudo aquilo pode ter acontecido, o sangue, os alunos ausentes, o
cheiro de perfume no ar. Aquele cheiro não me era estranho, tinha a sensação de já tê-lo
sentido. Fui atrás de alguns alunos para tentar descobrir algo e tirar a paranóia da minha
cabeça.
      Comecei pelo Paulo, foi o primeiro que vi. Aquele garoto que conheço desde pequeno
adora Sherlock Holmes e suas investigações. Aquilo poderia me ajudar a descobrir algo,
então perguntei:
      - Paulo, você sabe o que aconteceu com os alunos ausentes?
      - Não sei, a única coisa de que me lembro é que os vi ontem com a Carolina. Estavam
chamando-a de nerd, essas coisas, sabe?!
      - Obrigado Paulo. - respondi.
      Bem, já sei com quem conversar.
      Carolina estava em um canto, sozinha e estudando para a prova de Redação que
aconteceria logo após o intervalo.
      - Oi, Carolina!
      - Oi, Cauê. Tudo bem com você?
      - Bem, como todos nós. Mas estou preocupada com a Alice, o Alexandre, o Gabriel, a
Gabriela e o Gustavo.
      - Mas o que aconteceu com eles?
      - Ainda não vieram à aula.
      - Você não esteve com eles?
      - Não. Quem deve saber de algo é a Anne, que não desgruda deles.
Carolina estava aflita, um pouco nervosa. Para não acabar constrangida agradeci e fui
embora à procura de Anne.
       Procurei muito, até que a vi com o Rafael. Os dois estavam tristes, deprimidos, pois
Gabriel, um dos ausentes, era irmão de Rafael e namorado de Anne. Fui ver o que estava
acontecendo.
       - O que foi que aconteceu, gente?
       - Oi, Cauê, meu irmão, na verdade, não faltou à aula, mas sim sumiu.
       - Como assim?
       - Ele e os outros quatro ausentes - Anne respondeu.
       - Meu Deus! E qual foi a última vez que vocês os viram?
       - Eu o vi ontem conversando com alguém no telefone à noite antes de dormir -
respondeu Rafael.
       - E eu o vi ontem à tarde quando estávamos com os outros.
       - Muito obrigado pela informação.
       Realmente tinha um mistério nas mãos. Paulo disse que Carolina estava com eles, mas
ela negou, e Anne disse que os viu apenas à tarde.
       Novamente senti aquele perfume forte e masculino. Senti um arrepio, uma sensação
estranha, tinha certeza de que era o perfume. Bateu o sinal, Anne passou ao meu lado e eu
senti o mesmo aroma mais uma vez. Era Anne que estava usando, então após a aula decidi
segui-la para ver o que estava acontecendo.
       Quando tocou o sinal e todos entregaram as provas, resolvi ir atrás e investigar melhor.
Comecei a seguir Anne, pois sabia onde morava, por fim e menos esperado ela foi para a
casa. Isso não me tranquilizou, pois sabia que algo ruim estava acontecendo. Resolvi esperar,
quem sabe os alunos desaparecidos não iriam à aula no dia seguinte?
       No dia seguinte, estava louco para voltar à escola e ver se realmente não era nada e
torcendo para que os alunos desaparecidos estivessem lá. Não foi isso o que aconteceu. Os
mesmos alunos estavam ausentes. Não poderia ser coincidência, algo de muito ruim estava
acontecendo, pois os alunos não poderiam faltar mais uma vez em um dia de aula cheio de
provas.
       Anne estava muito aflita e diferente, e ainda usava o mesmo perfume. Decidi segui-la
novamente após as aulas acabarem. Então veio a surpresa...
       Logo que as aulas acabaram, segui Anne até um barracão onde a escutei conversando
com um homem estranho, alto, careca e bem forte. Anne disse:
       - Onde estão?
       - Eu os coloquei em um lugar mais discreto e seguro para que ninguém os veja.
       - Ok. Mas cuidado com eles. Eles são muito importantes para mim.
       Quando escutei essa conversa levei um choque, pois a Anne, uma garota tão boa e
educada, estava envolvida no sumiço dos garotos e um deles era seu próprio namorado.
Resolvi seguir o homem e tentar descobrir esse local tão discreto mencionado na conversa
para poder ajudar os garotos e ter certeza de que Anne estava envolvida com isso.
Segui o tal homem durante duas horas e cheguei a uma casa pequena, feita de madeira
e bem antiga. Ele entrou, e eu fiquei esperando fora da casa até que ele saiu. Foi a minha
chance de entrar e descobrir o que estava acontecendo.
       Tentei entrar pela porta, mas estava trancada. Resolvi dar a volta na casa até que
encontrei uma janela de madeira bem antiga e fácil de ser aberta. Não precisei fazer tanta
força. Entrei. Por dentro, a casa era bonita, cheia de quadros, livros e espelhos. Um banheiro,
um quarto, uma cozinha e uma porta, que quando aberta dava acesso ao porão, local de onde
escutei um barulho, como um cochicho. Parecia ser a voz do Gabriel, por isso não pensei
duas vezes e decidi entrar. Para minha surpresa, dei de cara com os garotos, que estavam lá,
amarrados por uma corda bem grossa e tinham uma fita que prendia a boca. A primeira coisa
que fiz foi desamarrá-los para poder ajudá-los.
       - Quem os trouxe aqui? - perguntei.
       - Foi Anne e seu capanga - respondeu Gabriel.
       - Meu Deus! Mas por que isso?
       - Não sei, cara - disse Alice.
       - Anne fez tudo isso, pois não estava segura com o nosso namoro e achou que eu a
estava traindo com Alice. Ela trouxe o Gustavo e a Gabriela, pois Gustavo namora a Alice, e
Gabriela é sua irmã e Alexandre estava no momento do sequestro.
       - Nossa, estou sentido aquele perfume forte de novo.
       - Deve ser o meu, Cauê.
       - Mas eu senti a Anne com ele.
       - Ela estava tão obcecada por mim que começou a usar as minhas coisas.
       - Mas e aquele sangue?
       - Não era sangue, Cauê. Ouvi Anne reclamando que sujou sua roupa na escola, pois
recebeu uma ligação do seu capanga e saiu correndo e acabou derrubando o vidro de esmalte.
       - Mas não tinha cheiro de esmalte!
       - Eu sei, aquele esmalte fui eu que dei, ele não possui cheiro, pois Anne é alérgica a
cheiro de esmaltes, exclusivamente. Componentes químicos, você sabe... coisa de mulher...
       - Estou abismada com tudo isso. Nunca imaginei que Anne fosse capaz de fazer isso
com as pessoas que ela mais gostava.
       - Nem nós - disse Gustavo.
       - Temos que fazer algo contra o homem e contra a...
       O homem chegou por trás, me agarrou, e até hoje ninguém sabe realmente onde
estamos e o que aconteceu.
GABRIEL

                                                  17 anos, corinthiano, muito louco, decidiu
                                                  que não quer mais estudar; vive em festas,
                                                    apesar de ser meio briguento, é muito
                                                                  gente boa.



                                                              Segmento: Humorístico




                                           Frustração

       Em um longo dia de aula, estava meio “desligado”, não conseguia prestar atenção nas
aulas, foi aí que comecei a reparar em meus colegas de classe. Nossa sala era unida, mas às
vezes havia algumas intrigas aqui e outras ali, mesmo assim sempre tivera um ótimo
desempenho, a turma toda. O professor falava e eu não conseguia entender, então comecei a
prestar atenção em qualquer movimento que algum colega fazia, assim, percebi que Paulo
Roberto observava a todos, e anotava em um bloquinho de papel.
       Tinha conversado com Paulo uns dias atrás e lembrei que ele era um grande apreciador
de romances policias, e que levava sua vida como se fosse um detetive. Foi então que resolvi
falar com Paulo na hora do intervalo, perguntei o que ele tanto anotava naqueles papéis. Ele
respondeu que era sobre alguns alunos que andavam meio estranhos ultimamente, e disse
também uma coisa que eu não havia percebido, talvez por ser meio desligado: que cinco
alunos tinham faltado naquele dia, e ninguém sabia o motivo.
       Os professores estavam ficando preocupados, toda vez que algum aluno faltava tinha
que justificar sua falta ou seus pais avisavam, mas nesse dia ninguém deu nenhuma
explicação para faltar, e a direção da escola já tinha ligado para os pais dos alunos e eles
haviam dito que seus filhos não estavam em casa e que haviam ido para a aula mais cedo que
o normal. Além do mais, os alunos que sumiram não eram de perder aula, sempre foram os
mais exemplares.
       Bruna era uma garota de família rica, já teve algumas brigas dentro de sala, mas nada
fora do normal. Carolina era muito quieta, não tinha muitos amigos, estudava muito, era
considera a nerd da sala. Gustavo era um cara feliz com a vida, educado, porém dava em
cima de todas as garotas do colégio, só que na maioria das vezes não dava certo. Gabriela
parecia ser uma garota comum, igual a todas, mas era herdeira de uma grande fortuna e
procurava sempre fazer justiça, independente do que acontecesse. Alexandre era um garoto
calmo, pensativo, amigo de todos, vivia contando suas histórias para a turma, e passava a
maioria do tempo com seus amigos. Quem iria dar fim a esses adolescentes? Por que isso?
       Paulo Roberto foi o primeiro a começar a investigar toda a história, observava quem
não conversava e quem discutia mais. Tudo que pudesse levar a alguma pista de onde
estavam seus amigos. Ele tinha descoberto que Cauê detestava a sala onde estudava, então
provavelmente não tinha muitos amigos, dar fim em cinco pessoas que ele não gostava e que
podiam atrapalhá-lo em algo não seria nada difícil.
       Luiz Henrique era outro grande suspeito, era quieto, sem amigos, ninguém sabia nada
sobre ele nem sobre sua vida, era tudo um grande mistério. Rafael também era um suspeito
forte, apesar de ser uma pessoa inteligente e amorosa, dava para perceber no seu olhar
algumas falsidades, um desejo de vingança talvez.
       Paulo investigava desde às 7 horas da manhã o desaparecimento de seus colegas.
Queria saber o que eram as manchas vermelhas encontradas no chão da sala, que ninguém
havia colocado a mão, pois achavam que era sangue. Duas horas depois do início da
investigação, nada tinha sido descoberto ainda.
       Quase no final da aula, quando todos os professores e pais já estavam apavorados e
querendo ligar para a polícia, chegaram ao colégio os alunos até então desaparecidos. Riam
alto e despreocupados, só houve silêncio quando de longe viram uma confusão de adultos
histéricos que, quando os viram, saíram correndo para o abraço e com as palavras
atrapalhadas pediam explicações imediatas.
       Gustavo foi quem começou a contar a história, disse que Carolina e Gabriela
combinaram com ele, com Alexandre e Bruna de chegar mais cedo para explicar a matéria
que cairia na prova. Carolina trouxe com ela dezenas de salgadinhos, Alexandre fez questão
de correr em sua casa e buscar maionese e catchup, e e um saquinho estourou e espirrou
manchinhas vermelhas para todos os lados. Bruna continuou contando que como todos
estavam sujos correram para a lavanderia antes de a diretora vê-los, e como não estava aberta
ainda, demoraram a lavar o uniforme, fazendo-os perder o horário da prova.
       Todos os pais e a direção do colégio ficaram aliviados por ter sido apenas uma
confusão e logo se acalmaram, porém Paulo Roberto ficou desolado por não conseguir
desvendar esse mistério antes de os alunos aparecerem. Frustrado, nunca mais leu nenhum
livro de romance policial e também nunca mais assistiu às cenas de Sherlock Holmes.
GABRIEL PAPI
                                                   Garoto apaixonado por esportes, popular,
                                                    misterioso, preza muito pela amizade




                                                               Segmento: Dramático




                                   Então tudo mudou...

       Minha vida andava tão boa, tão tranqüila, mas mudou repentinamente, na manhã do
dia 16 de maio de 2011, dia que ficou marcado na minha vida.
       Estudo no Colégio Tia Ana Maria faz um ano, sou bolsista, estudo lá porque sou do
time de basquete. Adoro esporte, pratico desde quando era criança, nada me fascina mais do
que o esporte.
       Durante a semana meu organismo parecia estranho, e no dia 16 algo mais estranho
ainda aconteceu, senti uma sonolência que não me deixava levantar da cama, uma sensação
de cansaço, de fraqueza, algo que nunca tinha acontecido comigo, não daquela forma.
       Pela manhã, chamei minha mãe no quarto e contei a ela o que estava acontecendo e
para que ela me deixasse faltar na escola, ela, desesperada, ligou rapidamente para o doutor
para que ele me consultasse e dissesse o que estava acontecendo comigo. Chegando ao
médico, o doutor me pediu para que fizesse alguns exames, que ficaria pronto na parte da
tarde.
       Cheguei em casa, estava sem fome, outro fato estranho, já que sempre fui cheio de
apetite.
       No período da tarde, tive que ir à escola, pois haveria prova e eu não poderia faltar.
Chegando lá, notei a ausência de cinco alunos: Alexandre, Carolina, Alice, Cauê e Bruna. Já
que ainda estavam faltando alguns alunos chegarem, eu fui rapidamente ao consultório
médico para pegar o resultado do meu exame; lá, o doutor me disse que aquele exame era de
grande importância, mudaria minha vida, me pediu para que ficasse em casa em repouso,
abrisse o envelope com o resultado com calma e voltasse no dia seguinte com a minha mãe
para que eles pudessem conversar a respeito. Não fui para casa, fui correndo para a escola,
pois não poderia faltar em dia de prova. Não abri o envelope, deixei para mais tarde.
Começou a prova e eu não conseguia me concentrar, um cheiro forte de perfume
estava me deixando com dor de cabeça, abaixei a cabeça, olhei para o chão e vi uma pequena
poça de sangue, olhei desesperado para aquilo e senti um gosto estranho de sangue na minha
boca, pedi para a professora que me deixasse ir ao banheiro. Olhei-me no espelho e vi que
estava saindo sangue da minha gengiva, fiquei apavorado, limpei aquilo e voltei para a sala.
Tentei continuar a prova, mas não consegui novamente, aquele cheiro insuportável de
perfume não passava, pedi que me mudassem de lugar, mas de nada adiantava, o cheiro
estava encalacrado na sala; começou a me dar tontura, minha vista foi embaçando, não
enxergava mais nada, desmaiei.
       Acordei no hospital, com algumas enfermeiras me olhando, perguntei o que havia
acontecido e me disseram que eu havia apenas desmaiado, mas que já estava tudo bem. Elas
não sabiam o que havia acontecido comigo durante a tarde, me mandaram para a casa
descansar.
       Cheguei a casa novamente, minha mãe me perguntou por que eu havia demorado
tanto, menti para ela dizendo que fui para casa de um amigo logo após a prova, pois não
queria preocupá-la, pois estava cheia de problemas com o meu avô; meu problema não
parecia ser tão grave. Ela me perguntou também se eu estava bem, se o mal-estar que eu
sentira pela manhã havia passado, eu disse que sim, que estava tudo bem agora.
       Entrei no meu quarto, deitei na minha cama, peguei o envelope, olhei fixamente para
ele, mas não tive coragem de abri-lo, estava muito nervoso. Fui tomar um banho quente para
relaxar; quando saí do banho, reparei que minha gengiva estava sangrando novamente e eu
estava pálido, muito pálido, a dor de cabeça voltou. Comecei a chorar desesperadamente, não
sabia o que fazer, comecei a pensar que aquilo que parecia não ser nada grave parecia estar
ficando cada vez mais grave, mas não contei para minha mãe, novamente não queria
preocupá-la. Lembrei-me das palavras ditas pelo doutor quando fui buscar meu exame,
desabei a chorar novamente, estava muito nervoso com a situação pela qual eu estava
passando. Lavei meu rosto, a gengiva havia parado de sangrar. Acalmei-me, minha mãe me
chamou para jantar, e eu, mais uma vez, estava sem fome, disse a ela que comeria depois, ia
estudar um pouco. Voltei ao meu quarto, peguei o envelope, coloquei-o sobre a minha
escrivaninha, sentei-me, acalmei-me e abri cuidadosamente o envelope. Tenso, no exato
momento em que terminara de abrir, percebi uma gota de sangue caindo sobre ele. Corri pro
banheiro, lavei o rosto mais uma vez, peguei um papel para limpar o envelope, voltei ao
quarto, limpei o envelope, respirei fundo e vi o resultado.
       Parei por um segundo, meus olhos encheram de lágrimas, meu coração sentiu um
aperto, aquilo que vi me deixou baqueado, o pouco de esperança que eu tinha de que aquilo
não seria grave naquele instante foi por água abaixo. Fiquei pálido novamente, chorei, chorei
muito, como nunca havia chorado em toda a minha vida, e como o doutor havia dito, o
resultado realmente mudaria toda a minha vida, teria grande importância sobre o meu futuro.
       Corri para os braços da minha mãe, com os olhos cheios de lágrimas, abracei-a bem
forte e mostrei para ela o tão esperado resultado, vi os olhos dela se encherem de lágrimas
também, ela me abraçou mais forte ainda e com toda esperança do mundo disse que tudo ia
ficar bem, que ela iria me ajudar e me apoiar em todos os momentos, o tratamento me faria
ficar bem novamente.
       As palavras da minha mãe me deixaram um pouco mais tranqüilo, mas eu sabia que ia
ser completamente difícil para mim passar por tudo, era difícil aceitar que aquilo estava
acontecendo comigo, justo comigo. Não questionei e nem julguei Deus por isso, apenas jurei
para mim mesmo que eu iria ser forte e que tudo ficaria bem.
       O resultado denunciava leucemia.
       Olhei-me no espelho, respirei fundo e disse a mim mesmo: o jogo está apenas no
início. Eu vou me curar!
GABRIELA
                                                     Aparentemente comum, extrovertida,
                                                   herdeira de uma fortuna, mas que por trás
                                                         esconde um grande segredo, é
                                                        apaixonada por lutas, e com sua
                                                       personalidade forte não se sente à
                                                    vontade quando o assunto é falar sobre
                                                    seus sentimentos. Procura sempre fazer
                                                    justiça, seja qual o preço que tenha que
                                                          pagar para que isso aconteça.



                                                        Segmento: Humorístico (humor ácido)



                                   Um dia nada normal

       O dia começou com meu humor excelente. Acordei com meus avós chegando de
viagem, e quase tendo um infarto por me encontrar dormindo. Tanto escândalo por nada,
afinal, não eram nem duas da tarde! Uma e cinqüenta e nove para ser mais explícita, e outra,
não tenho culpa se esqueceram de tomar seus remedinhos diários...
       Abriram tão violentamente as cortinas, que cheguei a me sentir cega. Sem contar na
falação, acho que pensavam que meus ouvidos eram penicos ou apenas queriam me
ensurdecer, devia ser castigo. Pelo menos não viram o ferimento em minha perna, caso
contrário, haveria mais uma pessoa aleijada no mundo.
        Tudo bem, tudo bem! Como um flash, pulei da cama e me arrumei rapidamente para
minhas aulas à tarde. Poderia dizer que toda essa energia surgiu porque sou uma neta muito
obediente, educada e amo meus avós, mas, como sou uma pessoa do bem, não vou mentir.
Minha motivação surgiu após meus avós ameaçarem contratar uma “babá” para me vigiar
durante as férias, caso não levantasse imediatamente. Pronto, confessei.
        Após treinar minhas caras de tenha medo de mim em meu espelho imundo, saí do
quarto com a cara mais medonha que consegui fazer e fui direto para o carro, que já estava à
minha espera. Não quis nem comentar o fato de que se fosse para me levar a algum lugar de
meu interesse, ele chegaria ao mínimo algumas horas atrasado.
        Fui o caminho inteiro rezando para que uma bomba nuclear tivesse caído bem em
cima da escola, mas como de costume, o Senhor não me ouviu. Tudo bem, eu supero. Entrei
na escola planejando ir direto para a sala e continuar meu sono diário, mas uma voz me
impedia de realizar o ato. Sim, era a voz da minha “querida” professora me chamando para
que fosse até ela. Ficha já cedo? Pensei comigo. Mas até que o assunto era interessante. Ela
me informou que haviam desaparecido cinco alunos de minha classe. Logo abri um sorriso,
imaginando que finalmente minhas habilidades de detetive sairiam dos video-games
diretamente para o mundo real. Estava prestes a perguntar quem eram os desaparecidos,
quando fui interrompida por uma voz: “Nossa! Olha a perna dela.” Foi então que notei. Saí
tão apressada de casa que acabei me esquecendo de fazer um curativo para meu ferimento.
       Reconheci de quem era a voz, afinal, até surda reconheceria. Era de uma criatura que
se achava o centro do universo, mas que na verdade não passa de um animal inútil, também
chamado de Gustavo. Pensei em apenas dizer a ele que havia apenas passado catchup no
local, mas aí me lembrei de que ele acreditaria e então aquilo não acabaria muito bem...
Também pensei em mandá-lo se olhar em seu espelhinho e me lembrei que havia quebrado o
tal objeto na semana passada. Então apenas ameacei de arrancar-lhe os dentes, caso não
saísse da minha vista imediatamente. O abusado me chamou de animal e saiu, decidi deixar
para dar um jeito nele mais tarde, já que agora tinha outros interesses.
       Estava pronta para voltar ao meu assunto, quando fui interrompida por uma mão em
meu ombro. O ato veio acompanhado de uma voz aguada, que exclamava: “Credo, que
horror está essa sua perna, baby!” Logo reconheci a tal voz. Era da Barbie falsificada de
minha classe, também identificada por versão feminina de Gustavo, só que incrivelmente
mais fútil chamada Bruna. Minha reação inicialmente seria quebrar o braço da tal, utilizando
um golpe que aprendi em uma de minhas aulas de Muay Thay, mas percebi que havia muitas
testemunhas no local, então decidi apenas dizer que era uma tatuagem 3D. Ela, que não perde
uma, me disse que aquilo não era nada fashion. Disse a ela, então, que estava enganada, pois
era a última moda em Paris. A menina saiu correndo como um flash para fazer uma igual. Ia
me oferecer para fazer a tal “tatuagem” eu mesma, mas fui interrompida pela professora me
perguntando se eu havia passado pela sala. Respondi que não, já que mal havia chegado e ela
já me chamara. Indaguei o porquê da pergunta, e ela me informou que havia encontrado
gotas vermelhas, que acreditava ser sangue, pelo chão e que ao ver meu ferimento, imaginou
que fosse meu. Estranho. Como qualquer boa detetive, decidi investigar o local.
       Cheguei à porta da sala, e logo encontrei as tais gotas. Aproximei-me. Cheguei bem
perto do local, e o observei. Depois de cinco minutos, que para mim parecia que tinham se
passado horas, cheguei a uma conclusão. Aquilo não era sangue, era claro demais! Pensei em
pegar meu quite de espionagem para identificar a substância, mas me lembrei de que não
tinha um. Trágico! Então decidi utilizar do método indicado para um espião desprevenido, no
caso eu, que vi em um episódio do desenho Três Espiãs Demais, meu desenho animado
preferido na infância. Estiquei o dedo indicador, passei sobre uma das gostas e levei à boca
(um pouco nojento eu sei, mas era preciso). Hum... Catchup! Decepcionei-me ao perceber
que meu caso de um possível assassinato, se tornou no máximo o caso de um aluno
desastrado que come sanduíches pela sala. E que ainda derrama pelo chão!
       Desiludida, fui para uma carteira na última fileira. Sentei. Coloquei meus fones e me
debrucei sobre a carteira. Estava prestes a pegar no sono, quando comecei a sentir um cheiro
diferente. Forte, porém agradável. Perfume masculino! Só me restava identificar qual. Estava
prestes a identificá-lo, quando uma funcionária entrou na sala e comentou: “Alguém
exagerou no Egeo hoje!” Egeo! Sabia que conhecia aquele cheiro. Era o perfume que
comprava para meu pai todo ano. Um belo presente de dia dos pais, em minha opinião.
Comecei a me perguntar quem usaria aquele perfume. Notei que havia uma mochila na
carteira ao meu lado. De repente, o perfume começou a ficar mais forte. Um aluno entrou
rapidamente pela sala e sentou-se na carteira onde estava a mochila. Com certeza esse era o
dono do perfume. Era um menino estranho de minha classe, que eu acreditava ser mudo.
Poderia até dizer que era apenas mais um nerd, mas suas notas baixas não permitiam tal
afirmação. Não sabia muito sobre ele, apenas que se chamava Luiz Henrique e, agora, que
tinha um bom gosto para perfumes. Nunca me interessei em conversar com o indivíduo, já
que o tal sempre pareceu inútil aos meus olhos. Isso até agora. Por que um aluno que sempre
quer passar despercebido viria tão perfumado para uma aula vespertina? Chamar a atenção,
talvez? Bom se esse fosse o objetivo, conseguiu. Tentei puxar algum assunto, perguntei se
tinha alguma tarefa para entregar. Sem tirar os olhos de seu Gibi, disse: “Olha a minha cara
de quem faz tarefa!” Custava apenas dizer que não sabia? Era por isso que não tinha amigo
nenhum! Voltei a fingir que ele não existia.
       Estava quase na hora da aula começar, quando a professora entrou e olhou a sala como
se procurasse alguém, no caso, eu. Sentou-se na carteira ao meu lado e voltou a me contar
dos cinco alunos. Informou-me quem eram os desconhecidos: Carolina (uma nerdinha,
quieta demais, na minha opinião, mas útil em trabalhos em grupo); Alice (um pouco sem sal
eu sei, mas, tirando a criancice e ingenuidade, é uma boa colega de sala); Rafael (ah, esse
merece mesmo sumir, sempre se faz de bom moço e amigo, mas não me engana. Sei que ele
esconde um lado maligno o qual, ainda vou descobrir); Anne (o quê? Como assim a Anne
sumiu? Tá, eu sei que é um pouco imatura e cabeça oca, mas é uma boa amiga) e Gabriel (ah,
esse não é novidade estar envolvido em confusão, tenta sempre parecer marrento, mas para
mim não passa de um adolescente rebelde e até que é gente boa).
       Engraçado, pensei comigo, estava com todos estes no dia anterior. Tinham ido à minha
casa na tarde anterior para que fizéssemos um trabalho em grupo, que para falar a verdade
nem conseguimos começar, já que meus cachorros haviam escapado do canil e começaram a
correr pela casa, deixando todos em pânico. Esta minha linha de pensamentos foi
interrompida por uma ligação de minha avó me perguntando o que cinco adolescentes faziam
trancados no porão de casa. Ah... sabia que havia esquecido algo!
GUSTAVO
                                                      Um cara feliz, educado, mulherengo,
                                                     bonitão, de fácil convivência, se dá bem
                                                                com todo mundo.



                                                                 Segmento: Romântico




                                         Romance escolar

       Era mais um dia de aula normal pra mim, eu tomava meu lanche quando a minha
professora de Redação veio me perguntar se eu sabia o que tinha acontecido, que cinco dos
alunos da sala tinham faltado à aula. Eu tinha notado algo estranho na sala, realmente, mas
era normal da turma, só não tão normal em dias de prova. Outro fato que não julguei ser tão
normal assim foram algumas manchas vermelhas no chão da sala, não sabia o que era, mas
poderia ter algo a ver com os alunos que faltaram. Lembrei então que os alunos brincavam na
sala de jogar bolinhas de papel um no outro, e como era de costume alguém se irritava e
jogava outros objetos para machucar de verdade. Um colega, Luiz Henrique, então, não
aguentou a brincadeira e arremessou um compasso que acertou a mão de Paulo, que sangrou.
Ele correu à coordenação, que o socorreu. Ao retornar para a sala, Paulo já estava com sua
mão enfaixada e com um forte cheiro de remédio que alguém tinha passado nele.
       Mas o que teria acontecido com Alice, Alexandre, Bruna, Gabriel e Gabriela, os
faltantes? Agora aquilo me intrigava realmente. Onde estariam os cinco alunos? Todos
estavam preocupados com o sumiço deles. Lembrei-me de que no dia anterior os mesmo
tinham me convidado para ir a uma festa estilo rave, então contei à professora sobre isso, já
que poderia ser uma pista. A professora, como tinha conhecimento sobre essas festas
“malucas”, já sabia que elas envolvem drogas e duram muitas horas e até mesmo dias.
Sabendo disso, ela resolveu esperar até no dia seguinte para ver se tinha notícias deles. Eu fui
atrás deles na tal festa, chegando lá encontrei Gabriel desmaiado, caído no chão, parecia
alcoolizado, drogado, tentei achar os outros, mas parece que eles já tinham ido embora. Sem
saber o que fazer, liguei para a minha professora para me ajudar a socorrer o menino. Com
medo de tomar atitudes que prejudicassem o menino, a professora resolveu levar Gabriel até
sua casa.
Ao chegar lá, ela ficou espantada com a vida que ele levava, um descaso total, seus
pais não lhe davam bola, nem ligavam para ele. Na manhã seguinte ao entrar na sala,
percebeu que Gabriel estava cabisbaixo, triste, parecia revoltado com tudo aquilo que ele
vinha passando em sua vida. A professora então pediu para que os dois tivessem uma
conversa, e tinha a intenção de ajudá-lo. Ao ouvir a história do garoto, a professora se
emocionou. Gabriel percebeu que, mesmo não tendo apoio familiar, ainda havia pessoas que
se preocupavam com ele, e na escola poderia encontrar todo o apoio que necessitava. Com
medo de poder dar a impressão de um interesse maior no que realmente ela estava
intencionada a fazer, a professora então despediu-se. Disse apenas que alguém o procuraria.
Esta pessoa foi Alice, afinal, uma menina que havia sido encontrada em uma caixa de sapato
tivera uma vida ao muito diferente da de Gabriel, de sofrimento e de ingratidão.
       Achei muito bonita a atitude da professora. Ela fez a diferença na vida daquele casal!
Sim! Casal! Eles se envolveram de tal forma que namoraram por um longo tempo e pelo que
fiquei sabendo até construíram uma bela família.
       O que acontecera com os sumidos da aula de Redação? Ah! E o que isso importa, se
tivemos um final romântico e feliz?!
LANNA
                                            16 anos, uma pessoa de aparência bem calma e
                                            amena, e que também aparentemente parece ser
                                                 uma pessoa sem aventuras, ou ter algo
                                            interessante para contar. O que ninguém sabe é
                                               o que se esconde atrás daquela aparência,
                                              ambiciosa e cheia de más e boas intenções...
                                               ninguém sabe o que esperar de uma amiga
                                                                 assim.




                                                              Segmento: Dramático




                                      Desaparecidos

        Mais uma segunda-feira, mais uma comum aula de Redação. Era assim que eu
pensava antes do dia 16 de maio, antes de eu ver acontecerem coisas que nem a minha mente
tão perversa e ambiciosa imaginaria.
        Como a aula de Redação é uma segunda-feira e antes vem o final de semana,
resolvemos sair eu, Gabriel, Rafael, Bruna e Gustavo, já que éramos os únicos da sala que se
davam aparentemente bem.
        Bruna tinha combinado de dar carona para todo mundo, já que ela tinha carro e
também não era incômodo. O mais difícil para mim é que, apesar de sermos aparentemente
amigos, alguns escondiam uma personalidade ruim e que não dava para confiar. Quando já
estávamos todos no carro prontos para seguir para o barzinho aonde íamos, Rafael começou a
se exaltar e obrigou Bruna a mudar a rota em direção a um lugar abandonado. Bruna parecia
bem assustada, mas fez o que Rafael pediu, o nervosismo de todos que estavam no banco de
trás, inclusive o meu, era enorme.
        Chegando ao tal local abandonado, Rafael, que já tinha deixado sua feição de uma
pessoa boa e normal de lado, começou a se mostrar mais agressivo ainda, e nesse momento
Bruna, para nossa surpresa, revelou-se parceira dele, não por ela ser má, e sim por ser
inconsequente e gostar de arranjar confusões. Eles amarraram nossas mãos e pés e vendaram
nossos olhos. Rafael espancou Gustavo até a morte, a situação era de medo e horror, não
tinha saída e nem como fugir. Rafael e Bruna foram embora e me deixaram junto com
Gabriel amarrados e vendados, e Gustavo morto ao nosso lado.
Chegou segunda-feira, e nossos familiares ainda sem notícias nossas; a polícia já à
procura, mas na escola ninguém quis comentar. À tarde teve aula de Redação, nossa
professora Cristiane tinha notado tudo, mas achou que era coisa de sua cabeça, pois não
conseguia desconfiar de alunos aparentemente normais. A única coisa que não saía da cabeça
da professora era aquele cheiro forte de perfume que enjoava a sala, como quando alguém
quer esconder um outro cheiro.
       No final da semana, todo o caso foi desvendado pela polícia, que já investigava esses
jovens há meses, já que haviam se metido em confusão antes: a família de Gustavo
reconheceu o corpo e nós fomos resgatados, tivemos que dar depoimentos para esclarecer
tudo no inquérito policial.
       Bruna, por ser muito rica e da alta sociedade, conseguiu enganar a mídia e se livrar de
qualquer punição; já Rafael foi para uma prisão para menores, além de outras coisas que teve
que acertar com a justiça, afinal ele matou o próprio colega de classe.
       Eu e Gabriel nos recuperamos do trauma e não mudamos de escola, pois quem
apresentava perigo já estava no seu devido lugar. Bom, pelo menos eu acho, né? Vai saber o
que esconde em cada uma daquelas pessoas com quem temos que conviver todos os dias,
talvez coisas boas ou ruins, mas é bom sempre estar atento, pois ali o inimigo mora ao lado...
e as pessoas usam máscaras.
LARISSA
                                                Estuda muito, não sai de casa só para poder
                                                  estudar mais. Sua rotina é da escola para
                                                  casa, de casa para a escola. Por isso, não
                                                  possui amigos. Mora com o irmão mais
                                                velho, que é totalmente o contrário dela. Ela
                                                 é uma garota muito linda, mas não possui
                                                namorado porque não quer desperdiçar seu
                                                     tempo, afinal, quer estudar muito.



                                                               Segmento: Sobrenatural




                                         Psicopata

       Eu não havia dormido bem na noite passada. Os sonhos e os arrepios roubaram meu
sono. Não sei o que pode ter causado tamanho desespero, mas naquela noite eu me senti fora
do próprio corpo. Bom, meus estudos vão indo bem. Tive sorte em gostar de ler. A leitura
abre a mente para novas sensações.
       Semana passada, a professora de Biologia solicitou ao líder da sala para que nos
enviasse por email o que seria o novo trabalho. Nós teríamos que estudar sobre alguns
animais e escrever a respeito de sua reprodução. O trabalho seria dividido em partes e duplas.
Meu par seria o Rafael, e falaríamos sobre os coelhos. Combinamos então de ir até a casa da
minha madrinha na próxima tarde. Lá era lotado de coelhos brancos e pêlos no carpete. Um
cheiro esquisito de urina seca tomava conta da sala. Eu e Rafael ficaríamos lá até às dez da
noite. Confesso, não foi fácil engolir o jantar, o odor se tornara insuportável.
       Dei um beijo na tia Nice e agradeci a boa vontade. Eu e Rafael nos despedimos na
esquina.
       _ Até amanhã! Fique tranqüilo. Chegando em casa, eu mandarei o email para o
Gustavo com o trabalho _ disse a ele.
       Não saiu comentário algum de sua boca e
       eu permaneci ali, esperando que ele falasse algo. Notei que ele me olhava
estranhamente. Olhos grandes, iluminados pela lua e possuídos pelo ódio. Quando eu virei
outra vez ele me olhou e saiu correndo como um animal. Pela calçada suja e escura, uma
penumbra tomava conta do rastro da sombra que restara. O vento emitia um ruído forte. O
frio era insuportável. Fiquei sem reação. Fui andando rapidamente até a próxima esquina que
era iluminada. Meu corpo tremia de frio, meus olhos chacoalhavam e minha boca estava
seca.
       Chegando em casa, eu avistei meu cachorro latindo desesperadamente olhando para
cima onde havia uma árvore velha e seca. Eu gritei, mas ele não olhava para trás. Então,
entrei em casa e fui até o meu quarto descansar. Meu irmão estava deitado no sofá da sala,
dormindo. Meu quarto estava iluminado com fortes lâmpadas brancas. Despertei daquele
medo e fui estudar mais um pouco. Abri o livro e as letras se embaralhavam nos meus olhos,
minha vista estava cansada e minha mente ainda assustada. Fui dormir.
       Deitada na cama, coberta por grossos cobertores, eu ainda tremia de frio. Quando
adormeci tive sonhos fora do normal. O céu era vermelho e chovia sangue. Havia animais
mortos sobre a terra molhada. Ouviam-se gritos de seres estranhos e estouros de coisas
queimando. A terra se cansara e se transformara num inferno. Acho que esse pesadelo foi
conseqüência do que havia acontecido no dia anterior, afinal, dormi assustada.
       De manhã o sol nasceu fraco, mas o despertador me acordou no pulo. Chegando à
escola, entrei na sala de aula e sentei na mesma carteira como o habitual. Esfreguei os olhos e
olhei para o chão. O ventilador fez com que pelos voassem do chão. Senti um forte e
agradável cheiro de perfume de homem no ar. Levantei e fui até o lixo jogar alguns papéis
que estavam guardados na bolsa. Quando olhei pra dentro do lixo, avistei gotas vermelhas de
sangue jogadas em torno dele, e pedaços de carne disfarçados em meio a folhas brancas. Fui
andando e vi que ali havia um rastro das gotas de sangue pelo chão. Fui ligando um fato a
outro, mas não acreditava no que havia visto. Será que aquilo era mesmo um animal recém
morto? Nesse instante, me lembrei de Rafael. Ele havia se comportado estranhamente no dia
anterior diante dos coelhos. Como ele poderia ter feito uma coisa daquelas, além disso,
dentro da sala de aula?
       Ninguém sabia responder, estávamos todos assustados, e Rafael havia acabado de sair
da escola. Alguns alunos também tinham ido embora devido ao mal-estar que aquilo causara.
O sinal tocou e a professora entrou na sala. Ela observou e perguntou o motivo de haver tão
poucos alunos. Ninguém se manifestou. Ela saiu da sala rapidamente e todos permaneceram
quietos, sentados. A camareira entrou para limpar toda aquela sujeira e todos nós fomos
chamados no pátio da escola para esclarecer o fato. Eu chamei a professora, expliquei o que
havia acontecido com Rafael na noite passada. Ela estranhou e ligou imediatamente aos pais
dele. Os pais responderam que Rafael não havia dormido em casa e que ele estava se
comportando estranhamente nos últimos dias. Eles disseram também que na família havia
avós com casos de psicopatia.
       A psicopatia é um distúrbio mental grave, caracterizado por um desvio de caráter,
ausência de culpa para os atos cruéis, frieza, insensibilidade aos sentimentos alheios. A
escola constatou então que, talvez, Rafael era um garoto doente que precisava de fortes
tratamentos psicológicos. Nós, da sala de aula, éramos muito unidos, e Rafael nunca havia
feito nada que levantasse qualquer suspeita. Mas descobrimos que, talvez, isso seria normal,
pois portadores de psicopatia agem normalmente.
Bom, ficamos muito travados e assustados naquela semana, afinal, tudo era estranho.
Ele precisava de um bom tratamento psicológico e acompanhamento familiar, pois o
comportamento de um psicopata pode ser perigoso e nunca se sabe o que esperar dele.
LUIZ HENRIQUE
                                                    Quieto, sem amigos, misterioso, ninguém
                                                     sabe de onde veio e de nada sobre sua
                                                                      vida.


                                                               Segmento: Sobrenatural




                                     Forças Malignas?!

       Já fazia algum tempo que a sala não estava normal, um clima estranho pairava no ar,
mas todos continuavam agindo come se nada tivesse acontecendo, tanto que nenhum
professor tinha desconfiado. Eu era vizinho de Rafael, Cauê, Gabriela, Bruna e Paulo.
       Na noite do dia 15 de maio, eu estava deitado em minha cama, escutando música,
quando observei um clarão; corri o olhar, o clarão estava vindo do quintal da casa de Rafael.
Na verdade não era um clarão, e sim um fogo vermelho, que fazia formatos estranhos, e que
sumiu do nada. Voltei para minha cama assustado, deitei e dormi.
       Já era de manhã, eu estava saindo para ir para a escola, mas notei algo diferente do que
o de costume: nenhum dos meus vizinhos estava saindo de casa para tomar a van junto
comigo, apenas Paulo, que estava muito diferente, com um ar sombrio, mas ele não entrou na
condução, ele seguiu adiante, mais estranho do que de costume.
       Quando cheguei à escola, Paulo já estava lá, notei uns pingos que pareciam de sangue,
e um perfume estranho no ar, quando voltei a olhar para Paulo novamente, ele já não estava
mais lá.
       O dia não estava normal, algo estava muito estranho desde o acontecido, e eu não
consegui segurar minha curiosidade e resolvi tentar descobrir o que estava acontecendo.
Segui o carro policial que estava saindo da casa de Rafael. Nada adiantou, eles pararam na
frente da delegacia, mas como um flash, tive a impressão de ter visto Paulo na direção do
bosque que ficava ali perto, corri naquela direção, tomando todo cuidado para que ninguém
me visse. Paulo mais uma vez havia sumido, mas eu encontrei algo que chegou a me
assustar, corri o máximo que pude de volta para a delegacia. Chegando lá, contei sobre o
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O mistério das alianças

  • 1.
  • 2. “A máscara diz mais do que a face”. Oscar Wilde Apresentação Às vezes é bastante curiosa a forma como nos preparamos para escrever uma história: ela nasce do nada, outras vezes é criada a partir de enigmas, de intrigas, de um devaneio da mente, do lado magnífico de nossa imaginação. Como autores, vestimos máscaras que nos permitem ser aquilo que não somos, ou que somos, mas não mostramos a ninguém, ou ainda que não somos e não mostramos, mas lá no ímpeto de nossas almas gostaríamos de ser ou admiramos quem se encoraja e assume um outro lado obscuro do ser. Este trabalho permitiu exatamente isso: que vestíssemos máscaras para que fosse possível criar, a partir dos vários segmentos temáticos estudados em sala de aula. Desta forma, cada aluno assumiu uma personagem e mostrou um outro lado de si para contar as suas versões e tentar buscar respostas para uma mesma situação. A partir de um sorteio, tiveram que driblar as dificuldades e aguçar suas ideias para criar narrativas com segmentos policiais, românticos, humorísticos, trágicos, sobrenaturais, polêmcos e implícitos. E o resultado não poderia deixar de ter sido mais interessante e satisfatório! Basta ler e conferir as mais diversas histórias contadas a partir de uma situação fictícia e será possível analisar o que uma mente é capaz de fazer quando assume seu lado intelectual-ativo-criativo para a arte de redigir histórias! E você deverá, como co-autor, relacionar as histórias ao perfil de cada personagem. Aí sim vai poder comprovar se as tais máscaras são reais! No final você será convidado a vestir a sua máscara e escrever a sua versão dos fatos! Boa diversão! Professora Cristiane Papi Crespo Frufrek
  • 3. PERSONAGENS DA TRAMA Cada aluno do grupo de Produção Textual, orientado pela professora Cristiane, deveria criar uma descrição de um personagem que tivesse o seu próprio nome, mas que assumisse outra personalidade, ou ainda um outro lado de sua personalidade que poucos conhecessem. Abaixo você encontrará os nomes e as descrições criadas. A partir delas será possível entender o caso e escolher a história mais convincente. ALEXANDRE Calmo e pensativo, amigo e bom, gosta muito de contar histórias e de passar o tempo com os amigos. ALICE Uma menina meiga, inocente, ingênua e linda, que foi achada numa caixa e sapato na beira da praia. ANNE Inconsequente. Apaixonada. Imatura. Sensível e delicada. Gosta da rotina, da paz. Opta sempre pelo mais fácil e cômodo. BRUNA Uma menina de família rica, que age por impulsos, causando muita confusão e problemas. Tem uma relação conflituosa com o pai, muito conservador, que preza pela honra da família. CAROLINA Garota normal, quieta, tímida, e sem amigos, nerd e muito esforçada.
  • 4. CAUÊ Inteligente, tímido, feliz, faz tudo para alcançar o que quer. Legal com quem é legal. Ou gosta ou odeia, e odeia a sala onde estuda. GABRIEL 17 anos, corinthiano, muito louco, decidiu que não quer mais estudar; vive em festas, apesar de ser meio briguento, é muito gente boa. GABRIEL PAPI Garoto apaixonado por esportes, popular, misterioso, preza muito pela amizade. GABRIELA Aparentemente comum, extrovertida, herdeira de uma fortuna, mas que por trás esconde um grande segredo, é apaixonada por lutas, e com sua personalidade forte não se sente à vontade quando o assunto é falar sobre seus sentimentos. Procura sempre fazer justiça, seja qual o preço que tenha que pagar para que isso aconteça. GUSTAVO Um cara feliz, educado, mulherengo, bonitão, de fácil convivência, se dá bem com todo mundo. LANNA 16 anos, uma pessoa de aparência bem calma e amena, e que também aparentemente parece ser uma pessoa sem aventuras, ou ter algo interessante para contar. O que ninguém sabe é o que se esconde atrás daquela aparência, ambiciosa e cheia de más e boas intenções... ninguém sabe o que esperar de uma amiga assim.
  • 5. LARISSA Estuda muito, não sai de casa só para poder estudar mais. Sua rotina é da escola para casa, de casa para a escola. Por isso, não possui amigos. Mora com o irmão mais velho, que é totalmente o contrário dela. Ela é uma garota muito linda, mas não possui namorado porque não quer desperdiçar seu tempo, afinal, quer estudar muito. LUIZ HENRIQUE Quieto, sem amigos, misterioso, ninguém sabe de onde veio e de nada sobre sua vida. PAULO ROBERTO É um assíduo leitor de romances policiais, seu personagem predileto é Sherlock Holmes, que o inspira em ações do seu cotidiano. É um garoto de grande imaginação e faz uso desta para criar situações nas quais suas habilidades de detetive são postas em prática. RAFAEL Uma pessoa muito inteligente, simpática, nunca deixa de rir para quem o cerca, trata a todos com muito amor e respeito. Mas, no fundo, no fundo, é uma pessoa com desejo de morte e falsidade: um camaleão com alma de serpente.
  • 6. Devaneio Por Cristiane Papi Crespo Frufrek 15 adolescentes. Uma turma unida. Unida nas ações, nos pensamentos, nas polêmicas, nas atitudes. Intrigas, claro, sempre existiram, como em toda boa sala. O que impressionava era a inteligência e diplomacia na convivência. Como eles eram bons! Conseguiam quase tudo o que queriam... Ousados, sabiam convencer e encantar. Até aquele dia 16 de maio de 2011, dia em que ficou marcado na mente dos 15 alunos que integravam a turma. Entrei para mais uma rotineira tarde de aula. Notei coisas que geralmente não notaria. Alguns assustados, outros descontraídos além do habitual; não disse nada, preferi observar. Nas escadas que dão acesso à sala, olhares atentos e desconfiados. Cumprimentei aqueles que vi pelo caminho. Ao entrar, notei pingos, como manchas vermelhas, espalhados minusculamente pelo chão. Sangue? Calda de sorvete? Batom? Não pude identificar o que era; já que não queria levantar qualquer suspeita. Li isso em livros de Ágatha Christie: os detetives considerados bons estão acima de qualquer suspeita! Professores, às vezes, também tiram onde como detetives! Além do vermelho no chão, notei alguns alunos faltantes, o que não era tão comum assim... ainda mais em dia de prova. Eram cinco os ausentes, e quando perguntei à sala o motivo das faltas, já que eles normalmente sabem, ninguém se manifestou. Estranho... Percebi ainda um cheiro de perfume no ar. Notei isso porque, grávida, o olfato fica ainda mais aguçado. Era um perfume masculino, gostoso, envolvente. Por que alguém viria tão perfumado para uma aula vespertina de Redação? Ou era conquista, ou alguma tentativa de disfarçar um outro cheiro... Na verdade, depois que, em minutos, pude constatar tudo isso, pensei que eu pudesse estar envolvida demais com minhas leituras policias, às quais tenho me dedicado ultimamente em razão de um trabalho de pós-graduação. Não sei, talvez tenha confundido tudo. Talvez não fosse nada demais esses indícios, que seriam normais aos olhos de qualquer mortal normal. Apliquei a prova, deixei a sala e me dirigi à sala dos professores ainda meio desconfiada. Um recado para que eu comparecesse à orientação me intrigou. Lá, recebi a notícia de que cinco alunos estavam desaparecidos havia algumas horas. Coincidentemente, os mesmos que ao haviam comparecido à minha aula. O que teria acontecido? Com os alunos ainda no pátio da escola, como é de costume, comecei a ouvir um a um, informalmente, claro, para tentar descobrir alguma pista ou tirar de vez a neura de minhas ideias.
  • 7. ALEXANDRE Calmo e pensativo, amigo e bom, gosta muito de contar histórias e de passar o tempo com os amigos. Segmento: Implícito (o final “fica no ar”) O mistério das alianças Eu estava sentado no sofá assistindo à TV, era noite do dia 15 de maio, um dia normal, sem nada de especial ou incomum, quando de repente o telefone tocou. Tive um mau pressentimento. Era um dos meus colegas de classe, Paulo Roberto, que disse que precisava falar comigo urgentemente. Notei que sua voz estava trêmula, o que deixava claro que ele estava extremamente perturbado e nervoso; tentei perguntar o motivo, ele respondeu que só poderia me falar pessoalmente. Foi quando eu o convidei para vir até minha casa para conversarmos, mal sabia eu que os meus problemas estavam apenas começando. Esperei por alguns minutos, a campainha tocou. Quando abri a porta, Paulo entrou desesperadamente e me disse que antes eu deveria jurar que eu não ia contar a ninguém sobre o ocorrido. Prometi manter a boca fechada. Foi quando ele, tremendo e soluçando, me disse que tinha uma horrível notícia para me dar e que ele havia testemunhado o que seria uma importante pista sobre um suposto assassinato. Ele contou que dois dias atrás, quando ia para um de seus compromissos semanais, passou por um beco escuro onde vira dois vultos, resolveu chegar mais perto por curiosidade para ver quem era, e ao se aproximar notou que eram Anne e Gustavo, outros dois amigos que estudavam conosco. Paulo disse que havia visto os dois tendo uma discussão que lhe pareceu muito violenta, e que Anne estava muito nervosa, que chorava durante a conversa. Até aí nenhuma surpresa, a não ser o local onde estavam – Anne e Gustavo costumavam discutir. Foi quando ele me pediu para sentar e me trouxe um copo d’água, disse que eu teria que ser forte para aguentar o que ele diria. Confidenciou-me que um corpo havia sido encontrado carbonizado enterrado nos arredores da cidade, e que uma terrível coincidência também tinha acontecido, Anne estava desaparecida há mais de 24 horas.
  • 8. Naquela hora, mil coisas começaram a passar pela minha cabeça: seria o corpo de Anne? Onde ela estaria? Quem teria motivos para cometer tal crime? Eu e Paulo decidimos, então, buscar pistas para descobrir o que estaria acontecendo; peguei meu casaco rapidamente e juntos saímos de minha casa em direção ao tal beco onde supostamente ele teria visto Anne pela ultima vez. Logo ao sair pelas escuras ruas, tivemos a impressão de estarmos sendo observados. Passados alguns minutos de caminhada, chegamos ao local. Era um pequeno beco, muito escuro, sem nenhuma iluminação, sujo e fedorento, notei que o tal beco tinha apenas uma saída, uma pequena porta aos fundos pelo canto esquerdo. Perguntei então em que lugar exatamente ele havia visto Anne e Gustavo; andamos mais alguns passos, foi quando notei no chão da rua algumas manchas vermelhas, seria sangue? Tinta? Ou tudo fruto da nossa imaginação? Notei também que havia um forte cheiro no ar, o que me parecia ser um perfume masculino. Cansados, resolvemos voltar até a minha casa e re-avaliar tudo o que havia acontecido até aquele momento. Chegando novamente à minha casa, corremos para os fundos, pegamos um caderno e anotamos horários, dias, pistas, pessoas, tudo. Foi quando meu celular tocou, era Carolina, uma grande amiga nossa e também de Anne, ela nos contou chorando que um teste de DNA havia sido feito, e que o corpo encontrado era mesmo o de Anne. Ela também nos contou uma coisa ainda mais triste, nos fez jurar não contar para ninguém, nem aos nossos pais, nem às pessoas em quem mais confiávamos, ninguém poderia saber. Anne estava grávida de quatro meses. Na mesma hora todas as nossas suspeitas pareciam apontar para o namorado dela, afinal, uma gravidez indesejada, um futuro em jogo, ele teria vários motivos para cometer tal crime. Ele, que sempre pareceu tratá-la muito bem, ambos pareciam estar tão felizes... Paulo disse que ia para casa, descansar um pouco, tentar esfriar a cabeça e esquecer todo aquele pesadelo. Para mim parecia que nada daquilo era verdade, e que eu estava apenas sonhando, nada parecia ser realidade. Refleti por horas durante a madrugada a fim de tentar encontrar a solução, em vão. O despertador tocou, outro dia amanhecia nublado, chuvoso, o céu escuro, e eu ali refletindo a tristeza que nos cercava; tive por alguns minutos algumas lembranças dela, estudávamos juntos desde crianças, parecia que seria só mais um dia normal na escola onde veríamos nossos amigos novamente, eu não queria acreditar ainda, mas já sabia que eu, gostando ou não havia perdido uma pessoa importante e que minha vida nunca mais seria a mesma. Levantei, tomei banho e coloquei meu uniforme, peguei o ônibus e fui para a escola. Chegando lá, vi uma grande faixa de luto e notei que vários alunos haviam faltado. Notei também que Gustavo era um dos poucos que tinha ido para a aula, achei aquilo muito estranho, afinal, ela era sua namorada há mais de dois anos. Olhamo-nos rapidamente sem nos cumprimentar, sentei a apenas alguns metros de distância dele. Foi quando notei um forte cheiro no ar, um perfume que surpreendentemente era muito semelhante ao que eu havia sentido um dia atrás no tal beco misterioso. Subi à sala de aula para relembrar momentos legais que havia passado com minha amiga. Minúsculas manchas de sangue presentes no
  • 9. chão me intrigaram. A sala não fora limpa, já que Maria José, a faxineira, havia faltado porque estava com muita gripe. A sala permanecera intacta, portanto. Por mais que tentasse, eu não conseguia identificar de quem era aquele perfume tão forte, e as marcas de sangue não saiam de minha cabeça. Foi quando a coordenadora entrou na sala e anunciou que havia outros cinco alunos desaparecidos: Bruna, Carolina, Gabriela, Gabriel e Alice. Todos estavam desaparecidos há mais de três dias, menos Carolina que estava há apenas um dia. Seriam todos eles testemunhas do crime? Seriam os desaparecimentos tentativas do assassino de esconder a verdade? Depois da aula fui até a casa de Paulo para tentarmos achar mais pistas, foi quando ele me mostrou a noticia do assassinato no jornal, e que uma nova pista havia sido encontrada - um anel estaria enterrado junto com o corpo. Imaginei que poderia ser uma das alianças, dela ou dele, já que havia um boato de que eles estariam pensando em ficar noivos em virtude da gravidez. Provavelmente era a dela, pois estava escrito dentro do anel “Gustavo”. Passados alguns dias, nenhuma nova pista havia sido encontrada, portanto a polícia não tinha nenhuma prova concreta de quem seria o assassino, então o caso foi encerrado até que novas pistas aparecessem. Um semana se passou e nada havia sido concluído; fiquei muito decepcionado, fui então levar flores até o túmulo de Anne, coisa que eu fazia quase todos os dias, depois da tragédia. Logo ao chegar, notei que o cemitério estava vazio, caminhei alguns metros e quando olhei para frente vi Luiz Henrique um garoto da sala, muito estranho, e poucos gostavam dele, já que era muito quieto, misterioso, tinha a fama de ter um ciúme doentio, coisa que eu desconhecia se era verdade ou não. Escondi-me atrás de uma árvore e fiquei só observando o que ele estava fazendo. Notei que ele deixara algo em cima do túmulo e saíra, sem notar minha presença. Esperei ele ir embora, caminhei até o túmulo curioso para saber o que ele havia deixado, estava ventando muito, as árvores pareciam acompanhar o ritmo do vento criando uma certa sintonia, pássaros cantavam, folhas voavam em mais uma tarde ensolarada de domingo. Aproximei-me do túmulo, vi um certo brilho como se uma jóia estivesse ali, notei que era um anel, um lindo anel dourado, escrito em seu interior: Anne.
  • 10. ALICE Uma menina meiga, inocente, ingênua e linda, que foi achada numa caixa e sapato na beira da praia. Segmento: Policial Um dia e tanto Segunda-feira. Como manda a rotina, mais um dia de aula à tarde. Estava cansada, tivera um final de semana agitadíssimo, a vontade de ir para a aula era mínima. Infelizmente era dia de prova, portanto, não tive outra escolha. Como de costume, a Bruna sempre passa em casa para subirmos juntas ao colégio e pouco depois do almoço ela me ligou, dizendo que marcara com a Lanna de ir uma hora antes ao colégio para dar uma revisada na matéria. Marquei de ir também, eu precisava mesmo revisar alguns pontos que não prestei atenção. Chegamos à escola, cumprimentamos logo na entrada a Lucélia e atrás dela estava o Seu Zé, novo zelador, que tinha uma aparência simples, humilde e era muito bem humorado. Dava-se bem com todos os alunos! A Lanna já estava lá nos esperando, pensativa... Era uma amiga imprevisível. Mas nós gostávamos dela. Fizemos um sinal que estávamos subindo para a sala e ela já veio logo em seguida. A escola estava vazia, as crianças e as professoras estavam passando a tarde no Super Festa. Na subida para a sala, Seu Zé, com suas mãos ocupadas por produtos de limpeza, nos interrompeu e perguntou o motivo de tão cedo estarmos na escola. Explicamos, ele consentiu, ficou pensativo e saiu. Continuamos a subida distraídas e logo após entramos na sala e nos ajeitamos nas carteiras. Percebemos um cheiro forte de perfume, estranhamos, era impossível ficar na sala. Fui abrir as janelas e deixamos a porta aberta. Ficamos sem
  • 11. entender, mas nós tínhamos coisas mais importantes para fazer do que ficar perguntando sobre o cheiro. Logo, logo, saía. Ao começar a ler uma das matérias, fomos interrompidas pelo celular da Bruna, que tocava algumas vezes confidencial. Quando ela atendia, ficavam uns murmúrios e logo desligava. Logo após, ligaram no meu celular. A mesma coisa. Havia uns barulhos distantes, mas ninguém entendia o que era. Já imaginamos que poderia ser alguma brincadeira de mal gosto de um de nossos colegas. Não deu tempo de estudar muito e os alunos já foram chegando. A Larissa foi a primeira e logo sentiu o cheiro forte, e mais, notou pequenos pingos vermelhos no chão que nós não tínhamos reparado. Chegamos perto, não sabíamos se era sangue, batom, calda de morango ou algo relacionado. Deixamos quieto, depois Seu Zé vinha e limpava. Talvez ele até já tivesse notado quando estava com os produtos de limpeza em mãos. Mas retornou à cantina, talvez por não querer nos atrapalhar, depois ele fazia o serviço. A professora chegou à sala, toda sorridente, pois há poucos dias recebera a notícia de que seria mãe novamente. A felicidade ficava estampada todos os dias em seu rosto. Mas logo também percebeu o cheiro forte e as gotas vermelhas que sujavam o chão, porém nada fez e começou a aula com a chamada. Faltavam cinco alunos. Estranho. Era dia de prova e ninguém costumava faltar. Carolina disse que algumas horas antes vira o Alexandre, o Gabriel Papi, o Gabriel, Cauê e o Luiz Henrique em um carro velho, caindo aos pedaços, que estava em alta velocidade com um homem estranho dirigindo. Sinistro. Matando aula, será? Logo Cauê, tão estudioso, no meio deles? Nada feito. Todos da sala estranharam. Enfim, fizemos a prova. Alguns alunos foram embora e outros ficaram na cantina conversando. Percebemos a presença da mãe do Alexandre perguntando onde ele estava para levá-lo embora. Contamos que ele não havia aparecido na escola e havia sumido com mais quatro meninos. A mãe dele disse que era impossível, pois dera carona para o Gabriel e deixara os dois na escola. Disse ainda que fora horas antes da aula, pois tinha um compromisso e precisou deixá-los antes. Uma das ordens que a Lucélia recebe é não deixar nenhum aluno sair da escola sem autorização. As mães dos outros meninos chegaram para buscá-los e explicamos o que havia acontecido, e então a movimentação começou. Havia cinco alunos desaparecidos e talvez vestígios disso estivessem lá na sala de aula. A professora foi chamada na orientação e foi avisada do ocorrido. Ela disse que desconfiou que algo poderia não estar certo, mas preferiu ficar quieta, pois poderia ser alguma de suas neuras. A diretora ligou para a polícia para investigar o caso. Contamos que a Carol vira os garotos pouco antes da aula. Todas as mães mostravam seu nervosismo e faziam ligações para todos os conhecidos. E nada. Ficamos todos apavorados, para piorar, nada havia sido registrado pelas câmeras do colégio. Uma viatura foi mandada para a escola e pediram para a Carol comparecer à delegacia para fazer um retrato-falado do motorista que dirigia o tal carro que levava os garotos para algum lugar. A diretora queria acompanhar os passos da polícia e, imediatamente, foi pedir
  • 12. para o Seu Zé levar Carol até a delegacia. Para complicar mais a situação, a surpresa: o zelador havia sumido também! E só poderia ter sido pelos fundos, pois todos estavam lá na frente e ninguém vira nada. Por que Seu Zé sairia pelos fundos sem avisar ninguém? Será que aquele zelador tão simpático sabia de alguma coisa que pudesse esclarecer os fatos? Ou estaria envolvido? Ligamos atrás dele e nada. Uma das mães levou Carol enquanto dois policiais foram atrás de Seu Zé em sua casa. Outros policiais presentes no colégio confirmaram que aquelas gotas vermelhas na sala eram sangue, realmente. Na mesma hora receberam a ligação de que a casa de Seu Zé estava completamente bagunçada e das poucas roupas que ele tinha não havia mais nenhuma no guarda-roupa. Os vizinhos deram a informação de que o zelador tinha acabado de sair dali, correndo, assustado, com uma mala na mão e fora ao encontro de um carro que o esperava na esquina. Será o mesmo carro em que os garotos estavam? Se fosse, eles poderiam estar por perto! Após Carolina ter feito o retrato-falado do motorista e do carro, a polícia não perdeu tempo e foi atrás deles. A cidade é pequena. Seis viaturas já eram suficientes e ainda com a ajuda da Polícia Rodoviária, eles fecharam todas as saídas de Santo Antônio da Platina. Não iam ter escapatória. Os celulares dos meninos estavam fora de área. Por que os celulares nunca estão disponíveis quando precisamos deles? A agonia aumentava, os policiais não davam notícias. Horas passavam e nenhuma notícia chegava. Os pais aguardavam ansiosos e muito desesperados. Há poucos metros da escola, aproximou-se o som da sirene misturado a um tiroteio, o que gerou gritaria de toda a vizinhança. Sim. A polícia encontrara Seu Zé e o tal motorista do carro velho em uma casa abandonada. O momento foi bastante tenso, já que, com a correria, não era possível saber ao certo quem era bandido, quem era curioso ou policial disfarçado. Houve muita troca de tiros, o que apavorou toda a família e amigos dos garotos. Um dos policiais tentou entrar em acordo com os dois sequestradores. Seu Zé dizia que só os devolveria se tivesse recompensa e logo após pudesse fugir. Os pais, aos escutarem aquela negociação que aparentemente não teria fim, imploravam aos policiais para fechar o acordo, pois eles pagariam o preço que fosse para ter os filhos de volta. O policial, mesmo entendendo a situação daqueles pais desesperados, não poderia deixar de cumprir seu papel e optou por tentar reverter a situação, que seria fazer os bandidos se renderem. E nisso ele confiava, já que tinha parceiros ótimos. Tanto que na discussão para entrarem em um acordo, um dos policiais que chegara depois sem ter chamado a atenção pulou o quintal dos fundos junto com outros três de sua equipe e cercaram os sequestradores. Ao perceberem o ato, os bandidos reagiram e acabaram ferindo um policial. Mas logo após receberam um tiro certeiro que os derrubou e perderam, assim, os movimentos. A ambulância foi chamada com urgência.
  • 13. Ao entrarem na casa, estavam os cinco garotos desmaiados e nus. Certamente teriam sofrido agressão sexual por parte dos homens. A imagem era constrangedora. Ao lado, álcool e um pano, que talvez fora usado para “apagá-los”. Os homens foram presos e os meninos recuperados. Ficaram com um grande trauma e receberam ajuda psicológica. O cheiro de perfume na sala havia sido estrategicamente colocado pra disfarçar o cheiro forte do álcool usado por Seu Zé para já tentar “apagá-los” ali mesmo, mas Cauê reagiu e fora agredido com uma faca, que provocou um corte profundo e sangrou muito, o que podia ser visto facilmente – os tais pingos no chão. O motivo para os sequestradores terem escolhido os cinco garotos? O zelador e seu amigo estavam com uma dívida altíssima com um traficante, se eles não pagassem em menos de 48 horas estariam mortos. Seu Zé, ao ver os garotos de boa família entrarem na escola que estava vazia, não pensou duas vezes. As câmeras estavam travadas com um grampo de cabelo usado por Seu Zé – deve ter aprendido a estratégia em mais um desses filmes de ação, e por isso nada fora registrado. Quem diria que aquela tarde de aula renderia uma boa história para contar?
  • 14. ANNE Inconsequente. Apaixonada. Imatura. Sensível e delicada. Gosta da rotina, da paz. Opta sempre pelo mais fácil e cômodo. Segmento: Implícito (o final “fica no ar”) Cinco Bruna era perfeita. Pelo menos pra mim, que sempre fui vista como a menininha frágil. Os olhares pra ela sempre eram cheios de inveja e com uma certa luxúria por parte dos meninos. Eu queria ser como ela. Eu queria ser autêntica. Invejada, popular. Eu nunca passei de um rastro, de uma sombra da garota mais incrível do colégio. Mas eu nunca conseguiria ser mais do que isso, sempre que eu tentava eu me travava, já que ela sempre insistia em fazer algo melhor, mais caloroso e cheio de vida. Típico dela. Era dia cinco de maio. Cinco do cinco. Minha paixão pelo número cinco existe desde que eu existo. Minha mãe costumava dizer que o número cinco era o número da falsidade, porque ele podia ser transformado facilmente com apenas alguns rabiscos. A estrela de cinco pontas. O pentagrama é a figura mais freqüente nos instrumentos de magia, e é usado em amuletos e instrumentos de exorcismo. Alguns afirmam que é o símbolo da dissimulação. Jesus Cristo foi chagado por cinco vezes. O dia amanheceu quente. Incomumente quente, já que era maio. A cidade parecia abafada, as pessoas pareciam agitadas. Passei a manhã lendo Dom Casmurro para me distrair um pouco. Tomei um banho quente e rápido, coloquei qualquer roupa e fui para o colégio. Subi as escadas e senti um cheiro familiar que dominava o corredor; segundos depois Gustavo segurou com suas mãos minha cintura. Disse que eu estava linda. Eu não estava linda. Dei um sorriso seco e me senti enjoada, pois havia saído de casa sem comer nada. A sala ainda estava semi vazia, aproveitei o tempo e desci rapidamente para comprar um suco ou algo do tipo. Passei antes pelo banheiro para conferir. A porta estava trancada. Voltei ao pátio, só tinha de goiaba. Eu nunca gostei muito de goiaba, mas não tinha outra opção e se
  • 15. continuasse de estômago vazio passaria mal sem dúvida nenhuma. Subi correndo e mal vi que a embalagem estava minusculamente rasgada, deixando assim pingos pela sala toda. A professora não tardou a chegar. Entrou como sempre com o suéter azul de bolinhas, se Bruna estivesse na classe certamente faria algum comentário sobre ele não estar sendo usado da forma correta. Me arrepiei. Eu queria lhe contar do meu final de semana, dizer o quanto eu fui boa e corajosa no que fiz, como ela. Sem que ela me olhasse e repetisse que eu nunca vou chegar a lugar nenhum se continuar sendo tão sonsa. “Você é simples demais, muito sonsinha”, repetia ela, e continuava: “mulheres boas vão para o céu, mulheres más vão pra onde quiserem”. Lanna, o seu braço direito, nada além de uma cópia menos eficaz da rainha, desabotoava dois botões da minha camisete e ainda sorria, “que pena que você não tem peitos suficientes ainda, garotos adoram seios”. A chamada começou a ser feita, cinco alunos haviam faltado. Olha só o cinco me perseguindo outra vez. Estranhei Carol ter faltado, ela era do tipo que fazia da escola sua primeira casa, ou melhor... a sua casa. Os outros quatro eram Alice, Bruna, Paulo e Lanna. A aula continuou normalmente. O sinal bateu e corri novamente ao banheiro, com a bexiga quase estourando. A porta se mantinha trancada. Subi no vaso sanitário do outro banheiro e fiquei na ponta dos pés arriscando tentar enxergar alguma coisa. Lá estava, um par de pernas aparentemente imóvel, o par de tênis listrado inconfundível. Alice. Em passos curtos e rápidos procurei a zeladora e, afobada, expliquei a situação. Ela pegou um molho de chaves e atravessamos o pátio. Senti um calafrio. Mas eu tinha que ser forte, Bruna no meu lugar seria forte, eu tinha de ser forte. A zeladora destrancou a porta. Meus membros inferiores amoleceram. Alice estava roxa e encolhida, assim como estava quando a encontraram com apenas alguns dias de vida dentro de uma caixa de sapatos, mas agora, sem vida. O suco de goiaba não fez muito efeito, pude sentir meus sentidos se esgotarem assim como minha pressão, meu estômago embrulhou. Caí. Imagens embaralhadas. Sangue. Abri os olhos assustada com a tentativa da zeladora de me acordar. Retomei minha postura devagar, eu havia sido levada para a enfermaria. A diretora anunciava que daria um recado importante. Fui andando devagar até a quadra. Aquela voz latejava na minha cabeça. Demorou quase vinte minutos para nos dizer que seríamos dispensados naquela tarde. Os alunos comemoraram sem questionar, era tanta ignorância para um lugar só... O colégio foi esvaziado aos poucos. Eu não queria voltar para casa. Fraca, fraca, repetia a voz arrogante de Bruna na minha mente. No começo era só ela. Mas as coisas foram complicando e complicando, e como dizia minha avó... uma mentira leva à outra. Eu não tinha culpa. Alice só estava no lugar errado e na hora errada. Anoiteceu. Eu estava vagando pela cidade desde então. Costumava me sentar atrás do grande muro do cemitério, falar com a escuridão. O grande ipê barrava um pouco o vento forte que soprava naquela noite. O portão da casa da frente foi levemente empurrado. Carol sempre fora estranha desde nossa infância, nunca gostou muito das pessoas, diga-se de passagem. Silenciosa, sentou do meu lado. Pensei em lhe perguntar o motivo de ter faltado
  • 16. no colégio, mas hesitei. Como se lesse meu pensamento, ela sorriu. Carol quase nunca sorria. A não ser por Gustavo. Ela era completamente apaixonada por ele, suas expressões mudavam incrivelmente perto dele; está aí o motivo de ela não me engolir. Eu realmente não sei o que ele via em mim, Bruna sempre me disse que eu era simples demais pra um pegador de carteirinha como ele. Mas ele sempre me dava atenção mais do que o normal e era estupidamente notável o quanto Carol se afetava com isso. Seus olhos, escondidos atrás de uns óculos fortíssimos, se enfureciam. Carol respirou fundo, como se quisesse controlar algo, e me perguntou o que eu tinha de diferente. Meu olhar fixou-se no vazio. Eu não tinha nada de diferente. Eu era comum demais, simples demais para alguém me notar. Seca, questionei a pergunta. Carol me fitou, segura, pela primeira vez seus olhos tinham segurança e continuou: - Não finja que está preocupada com Alice. Estremeci. Gaguejei procurando palavras; não as encontrei. Carol começou a contar detalhadamente sobre sua noite anterior, havia se declarado para Gustavo e obviamente como esperado sua reação fora a mais escrota possível. Rira, humilhara, disse que nunca se envolveria com uma nerd feito ela. Carol gargalhou. Uma risada leve. Limpa e descontrolada. - Sua inveja foi maior do que você. Não suportava o fato de ela ser melhor que você em tudo que ela fazia. Alguma coisa saiu errado, não foi? Você não conseguiu ter o controle de tudo como ela tinha. Lanna atrapalhou. Não pude responder. Engoli seco. Ela sabia. - Paulo era meu único amigo, eu confiava nele. A sua inteligência e a sua audácia a assustou, não foi? Ele seria uma pedra no seu sapato. Naquela altura eu só conseguia pensar no meu diário e na minha maldita mania de ter que contar tudo a ele já que nada e nem ninguém suportaria ouvir minhas lamúrias, nem ao menos minhas paredes, já que estas têm dezenas de ouvidos. Carol continuou a acusação, calma e fria. - Eu precisava descobrir se você o queria tanto quanto eu, e veja só o que por destino eu acabo descobrindo: eu sempre te odiei e não só pelo Gustavo, mas porque para mim você sempre foi uma garotinha influenciável demais, sonsa. Virei-lhe um tapa que fez seus grandes óculos saírem do lugar. Sonsa não. Eu nunca mais seria chamada de sonsa. Carol me enfrentou e repetiu, como Bruna fazia quase que diariamente. Sonsa, sonsa. Dei-lhe outro tapa mais forte. Meus dedos ficaram marcados no seu rosto pálido. Ela re-ergueu o semblante e recomeçou. - Essa é a princesinha da classe? A garotinha doce? Vamos lá, continue! Carol sabia. Tudo ou quase tudo. Eu precisava pensar. Mantive-me calada e então ela se cansou. Disse que aquilo não ia ficar impune. Atravessou a rua sem notar que eu ainda a observava. Agachou, destravando algo no portão eletrônico e entrou no grande casarão em que passava a maior parte do tempo sozinha, graças aos pais que viajavam constantemente. A garagem estava vazia.
  • 17. Voltei para casa apressada. Vasculhei meu quarto. Nem sinal do meu diário. Coloquei algumas coisas na mochila, disse a minha mãe que iria dormir na casa de uma amiga. Não dormi. Cheguei em casa por volta das quatro. Entrei em passos leves, fechei a porta do meu quarto, risquei o dia cinco do calendário. Adormeci. A terça-feira amanheceu fria. Comumente fria, já que era maio. Os rádios, jornais, programas anunciavam a maior tragédia da história da pequena cidade. Cinco adolescentes encontrados mortos sem explicações aparentes. Veja só o cinco outra vez.
  • 18. BRUNA Uma menina de família rica, que age por impulsos, causando muita confusão e problemas. Tem uma relação conflituosa com o pai, muito conservador, que preza pela honra da família. Segmento: Romântico Feitiço contra o feiticeiro Assim como todas as manhãs, acordei às seis horas ao som de Kesha, levantei e como de costume fui direto para o banho. Às sete horas o despertador tocou novamente me alertando de que já estava na hora de ir para o colégio, desci e o motorista estava a minha espera. Já estava a caminho do carro quando meu pai me chamou, voltei achando ser algo importante, mas era mais um de seus discursos dizendo que se minhas notas não melhorassem ficaria de castigo por um tempo memorável, sem roupa nova, sem celular, e o pior, sem festas. Até aí tudo bem, eu ainda estava calma, mas então ele começou a falar da minha irmã, falar que se eu não mudasse acabaria engravidando de um drogadinho qualquer sem futuro, assim como ela. Isso me tirou do sério, o sangue subiu à minha cabeça e quando dei por mim já estava sendo segurada por um dos funcionários de meu pai para não atacá-lo. Depois dessa tensão, achei melhor entrar logo no carro e ir para o colégio, não conseguiria ficar mais nem um minuto olhando para a cara daquele homem que dizia me amar, mas só estava preocupado com o status da nossa família. Cheguei ao CTAM fumegando de raiva, prestes a matar o primeiro que discordasse de mim. Entrei na sala e deixei a bolsa na minha carteira, fixa ao lado das minhas melhores amigas, Alice e Anne, as únicas que escutam meus problemas e aguentam meus maus-tratos e meu mau-humor sem reclamar. Alice, um anjo de menina, sempre me apoiando e me dando os melhores conselhos. Anne também é um doce de menina, porém mais quieta. Ficamos conversando até que senti um cheiro forte de perfume masculino que me deu náuseas e uma vontade de vomitar, principalmente quando percebi de quem era. Era do Gustavo, o menino mais escroto que conheço, mulherengo, idiota, que se acha o tal, e o que mais me estressa é que as meninas morrem por ele e os meninos o tratam como um rei. Ele já ficou com todas as
  • 19. meninas da sala, exceto Carolina e Larissa, que só pensam em estudar, e eu também estava fora da lista, é claro, já que tenho detector contra idiotas. Confesso que quando ele entrou no colégio até me atraiu, ele parecia ser um menino meigo, fofo, bonito, é claro, e mostrava interesse por mim. Pensei em dar uma chance a ele, mas meu pai logo tirou essa idéia da minha cabeça me dizendo que ele era igual a seu irmão (o cafajeste que engravidou minha irmã). Meu pai sente uma raiva imensa dessa família, o pai deles, Robson Dal Bom, havia lhe tirado muito dinheiro e depois veio a história do Guilherme com a minha irmã. Disse que não queria me ver de conversinha com ele, queria me ver longe do garoto. Foi aí que tive uma ótima idéia, acho que a melhor que já pensei em ter: “vou ficar com o Gustavo e fazer com que ele se apaixone por mim”. Perfeito! Meu pai vai explodir de raiva e ainda de bônus eu ganho a oportunidade de iludir o Gustavo e fazê-lo sofrer. A idéia já estava formada, agora só precisava de um plano. Tinha que ficar com ele na aula da manhã, no almoço meu pai “sem querer” descobriria e à tarde eu terminaria com ele. Tudo certo, comecei a colocar o plano em prática. Nos dois primeiros horários fiquei conversando com ele, rindo das piadas que ele contava, jogando charme. Bateu o sinal para o intervalo, peguei uns livros que tinha que devolver na biblioteca e esbarrei nele de propósito fazendo-os cair no chão, ambos abaixamos para pegá-los, toquei minha mão na sua e tirei rapidamente, assim como tinha visto em um filme. Depois de me ajudar a pegar os livros, fez questão de me ajudar a levá-los à biblioteca. - Que cavalheiro, não se vê mais meninos assim. Você tem sorte em tê-lo! – disse a bibliotecária. - Também acho. Tenho muita sorte! – disse olhando para ele e sorrindo. Saindo da biblioteca, ele me segurou pela cintura, me encostou na parede, olhou nos meus olhos e me beijou. Fiquei um tempo presa no beijo, mas então lembrei que aquilo era um plano e não bastava apenas ficar com ele, tinha que fazê-lo se apaixonar por mim. Então interrompi o beijo e disse que não era como as outras, que se ele quisesse me ter em seus braços novamente teria que ser do jeito certo, namorando. Saí sem hesitar, sem olhar para trás. E isso funcionou, pois quando estava saindo para o segundo intervalo segurou-me pela mão e encaixou seus dedos nos meus, com a outra mão acariciou meu rosto e olhando no fundo dos meus olhos disse: - Quero estar com você, não importa como. Se você quer do jeito certo será do jeito certo. Nos beijamos novamente, mas dessa vez foi um beijo mais suave, romântico, envolvente. Olhei para ele e sorri, ele me deu um abraço apertado e ficamos o intervalo inteiro ali, juntos. Passei as duas últimas aulas pensando nele, lembrando dos beijos, de quão macios são seus lábios, daquele abraço, daqueles braços quentes e tão aconchegantes. O que está acontecendo comigo? Eu não posso nem pensar em me apaixonar por ele. Tenho que agir pela razão e não pelo coração. Pensei. Comecei a pensar em uma forma de o meu pai
  • 20. descobrir, ele tinha que ficar sabendo por mim, mas eu não podia contar diretamente, ele ia achar que estava fazendo isso só para irritá-lo. De fato estava, mas ele não podia saber. Peguei uma caneta e com letra de forma escrevi em meu pulso “TE AMO GATA! SEU AMOR, GU” e fiz um coração. Fui para casa e na hora do almoço fiz questão de esperar para almoçar com meu pai, sentei-me do lado dele e fiz com que notasse o rabisco no meu pulso. Enquanto esperávamos a sobremesa, ele disse num tom bravo: - Deu pra fazer essas babaquices de escrever na pele agora, menina?! - Não fui eu que escrevi! – respondi. - Quem fez isso? - É melhor o senhor não saber – disse, escondendo a mão. Ele, ainda mais furioso, levantou do seu lugar, foi até onde estava, pegou meu braço e leu o que estava escrito. Quando terminou de ler, me segurou e ordenou que tirasse aquilo do braço e nunca mais dirigisse uma só palavra ao Gustavo ou ele teria que tomar medidas drásticas e me tirar do CTAM. Depois saiu frio, dizendo que tinha perdido a vontade da sobremesa. Sorri de felicidade, consegui cumprir meu plano, meu pai ficara realmente bravo. Mas quando estava no ápice da minha felicidade parei para pensar e percebi que teria que terminar com Gu e não poderia sequer olhar na sua cara. Eu não poderia fazer isso com ele. Já ouviram o famoso ditado “e o feitiço virou contra o feiticeiro”? Pois é, eu sou a feiticeira que acabou se enrolando com seu plano e agora estava sofrendo por ter que se afastar do menino que antes queria ver sofrer. Menino por quem agora estou... estou... apaixonada! Se eu continuar com ele perderia muita coisa, sair do CTAM não significava apenas deixar um dos melhores colégios da cidade, significava também deixar meus amigos de infância e principalmente, eu nunca mais iria ver o Gustavo! Passei o resto do almoço analisando os prós e contras de ficar com ele e cheguei a uma conclusão. Me arrumei e fui para a aula de Redação mais cedo. Chegando ao colégio, subi as escadas e entrei na sala que estava com cheiro de perfume maravilhoso, era o perfume do Gustavo. Vi também uma mancha vermelha no chão que parecia sangue. Será que era dele também? Eu tinha que encontrá-lo, ver se ele estava bem; como estava cedo e ainda faltavam três alunos, não pensei duas vezes e fui procurá-lo. Encontrei-o saindo do banheiro, o sangue era mesmo seu, porém nada demais, apenas um corte na ponta do dedo indicador. Ele me cumprimentou com um beijo e um abraço tão apertado que me fez pensar que ele já soubesse de toda a história e já soubesse também da minha decisão. Puxei-o pela mão e o levei até a biblioteca, encostei-o na parede, local onde tudo começou. - Quero te falar uma coisa – eu disse com um aperto no coração e os olhos cheios d’água por saber que aquele era o fim de tudo. - Eu também tenho uma coisa para te falar – ele disse com um sorriso no rosto.
  • 21. Então pegou minha mão, abriu-a e, tirando do bolso, colocou uma pulseira de prata com um coração meio torto e disse: - Eu mesmo fiz esse coração. Ele está meio torto. Meu coração é meio torto e eu posso ter feito muita coisa errada e nossas famílias podem ter seus desentendimentos, mas eu estou disposto a resolver tudo isso. Eu quero estar com você, você é meiga, engraçada, linda e conseguiu fazer o que NENHUMA menina conseguira até então... me fez virar um bobo apaixonado que não consegue parar de pensar em você. Eu te amo! Fiquei pasma, não conseguia me mexer e nem dizer nada, apenas sentia as lágrimas escorrerem pelo meu rosto. Se ele estava disposto a fazer tudo isso, resolver os problemas entre nossos pais, por que eu não poderia jogar tudo para cima e fazer o mesmo? Olhei nos seus olhos cor de mel e disse: - Lembra o que a bibliotecária disse? Eu tenho sorte em ter você! Você não é bobo, é perfeito para mim! Nos beijamos e então eu soube que tudo ficaria bem!
  • 22. CAROLINA Garota normal, quieta, tímida, e sem amigos, nerd e muito esforçada. . Segmento: Trágico Personagens de um mesmo eu “Nos desonestos pode-se sempre confiar em suas desonestidades. Honestamente, os honestos é que deviam ser vigiados, pois nunca se sabe quando farão alguma coisa realmente estúpida”. Tenho mania de sempre me inspirar em personagens para fazer coisas grandes em minha vida, e agora penso que talvez se uma, apenas uma pessoa tivesse o mesmo hábito que eu e se inspirasse no Capitão Jack Sparrow e nessa sua frase de efeito, quem sabe tinha me mandado prender antes mesmo de ter consumado meu ato, meu horrível ato... Mas tenha calma meu querido leitor, já contarei meu efeito e, como dizia meu caro Jack Estripador, vamos por partes. Desde que mudei para essa escola, na 8° série, certos alunos têm como hobbie me chamar por certos nomes amáveis como “fundo de garrafa”, “nerd”, e outros, porém se você pensa que eles limitam suas mediocridades apenas a apelidos, você está redondamente enganado, há também atos como enfiar minha cabeça na privada e dar descarga ou passar o pé para eu cair na escada. Eu aguentava. Na verdade nem ligava, afinal sou uma pessoa de nervos de aço e aprendi a não ligar para esses idiotas. Só peço que não pergunte às minha paredes, elas costumam inventar histórias, de que choro muito, e tenho ataques frequentemente, mas é mentira! Afirmo, mentira! Não dê NUNCA ouvidos a elas. Voltemos ao ato. Primeiro, quero deixar bem claro que não estou culpando meus amáveis amigos, aqueles dos apelidos, assumo inteiramente a culpa pelo que fiz, pela minha frieza, pelo meu calculismo e pela minha futura... bem, voltemos logo ao ato.
  • 23. Tudo aconteceu na tarde do dia 15 de maio, eu tinha Educação Física às cinco, cheguei pontualmente e fui lá em cima para trocar de roupa. Quando subi as escadas, percebi as vozes dos meus amáveis amigos; hesitei, mas decidi enfrentá-los. Então continuei a subir enquanto eles desciam. Senti um empurrão, e como estava com minha bolsa nas mãos caí e acabei batendo meu nariz no chão. Veio uma dor seca e contínua e logo depois veio o sangue, lavando e respingando o mármore frio da escada. Com as mãos na escada, apoiei-me para levantar. Percebi que estava no topo dela, então me lembrei da câmera no corredor e tive uma ideia. Consegui levantar e subi mais um degrau, chegando assim ao término dela. Alexandre então me empurrou novamente dizendo para ficar no chão, onde era o meu lugar, de acordo com ele. Gabriel riu uma risada solta e pesada, que me cortava por dentro, olhei para ele dizendo “é exatamente assim, ri de suas notas, é bom não é?! Rir dos outros, se sentir melhor, não te culpo, porque é exatamente assim que me senti quando você tirou aquele zero em Gramática, ou foi em Física, são tantos que nem que queira consigo me lembrar mais...”. Senti então um chute na barriga que levou meu ar com ele. Risos e mais risos, era tudo o que eu ouvia ao sentir o sangue do meu nariz escorrendo pelo meu rosto. Mas eu ri também, em pensamento, é claro, ao olhar a câmera nos filmando discretamente. Devia ter me calado guardando a vitória só para mim, mas não! Afinal, de que serviria um narcisista sem um espelho para contemplar e então se gabar de sua beleza? Olhei para eles e disse “Sorriam, vocês estão sendo filmados”. Sorri então imitando a cara do smile que vem naquelas placas de lojas com câmera, mas só senti o gosto do sangue em meus dentes que vieram parar ali devido ao nariz. Gabriel foi tentar me chutar de novo, mas foi interrompido por Alexandre, que fez sinal para ficar quieto. Ele entrou na sala do terceiro ano e só pude ouvir alguns barulhos. Ele devia estar desligando a câmera, mas não faria mal, pois o que interessava já estava gravado, não tinha nada que eles podiam fazer. Certo? Errado!! Fui arrastada até o banheiro masculino e lá eles me chutaram e claro que protegeram meu rosto, pois os hematomas não poderiam ficar expostos, depois me pegaram pelo cabelo e mergulharam minha cabeça na privada, deram descarga. E pude sentir o gosto do meu sangue misturado com água sanitária, e outra coisa que prefiro nem pensar no que era. Soltaram-me, e eu, afogada, não conseguia respirar, apenas tossia loucamente num canto do banheiro. Eles trancaram a porta e aos chutes quebraram o trinco, pularam a parede que dividia um sanitário do outro. O que não consigo entender é como pensaram em tudo em tão pouco tempo. É claro que tudo vinha do Alexandre, pois Gabriel só o observava e repetia, como sempre fez a vida toda. Deve ter planejado tudo antes, com certeza, só que para uma outra ocasião, pois não contava com o fato de eu usar a câmera contra eles. Mas a ideia de desligá-la e saber onde desligava, e ainda usar o banheiro dos deficientes para ter mais espaço para quebrar o trinco, foi tudo tão genial.
  • 24. Eu ainda tossia muito e acabei perdendo a consciência. Acordei um tempo depois. Estava tudo quieto e não tinha nem noção das horas, meu celular ficou na minha bolsa, na escada. Decidi gritar por socorro, mas foi em vão. Tudo doía, minha cabeça, meu nariz e todo meu corpo, que fora espancado por eles. Gritei de novo e pude ouvir barulho nas escadas, pensei que eram eles. Mas logo reconheci a voz que gritou de volta “quem tá aí?”. Era uma voz feminina e familiar, lembrei da tia Mari, que ficava na escola até mais tarde. Eu disse chorando “sou eu tia, a Carol do segundo”. Ela abriu a porta do banheiro. “Me ajude, me tire daqui”, e ela “Se acalme, minha flor”. Tentou em vão abrir a porta “Não consigo abrir, Ah! Tive uma ideia, vou pegar alguma faca para descochar os parafusos, já volto”. Ela voltou logo. “Voltei! Flor, eu acho que os parafusos estão do lado de dentro, e não tem como eu passar a faca por debaixo da porta, porque o cabo da faca é muito grosso e o espaço entre a porta e o chão é muito pequeno, vou te passar por cima, sobe no vaso que eu te dou, mas cuidado, porque ela tá muito afiada”. Subi então como ela havia me pedido, peguei a faca e na hora de descer sem querer meu pé escorregou e caiu na patente, para melhorar meu estado. Enquanto descochava os parafusos a tia falava sem parar. - Ai, menina, como você foi parar aí? Vai ter que contar essa história direito, em?! Eu estava indo embora, estou louca pra ir embora, porque não sei se você sabe mas hoje é meu último dia aqui, graças a Deus eu pedi demissão desse lugar. E continuava sem respirar, um blábláblá irritante, aquilo latejava minha cabeça que parecia estourar de tanta dor. Começou a me dar raiva! Mas enfim, terminei de descochar, e ela: “agora me passa a faca que depois é só dar um empurrãozinho e a porta cai”. Subi no vaso com a faca na mão, mas na hora em que fui chamar a tia para pegar a faca, escorreguei na água que espirrou no momento em que meu pé caiu e acabei indo pra frente e esbarrando na porta, que foi caindo e acabei sem querer, ao tentar segurar, fincando a faca no outro lado dela. Retomei meu equilíbrio, vendo a porta cair, e permaneci em cima do vaso quando vi um líquido vermelho escorrendo no chão, olhei para os lados e não via a tia. Desci do vaso, levantei a porta e desvirei seu corpo que estava fincado com a faca no peito. Seu olhar era frio e refletia um certo horror, talvez o meu próprio horror ao olhar a cena. Não consegui fazer nada além de olhar para seu rosto, que me acusava, mesmo eu dizendo não com a cabeça. Sentei-me e encolhida pensava a todo momento eu a matei! Eu sou uma assassina! Foi então que me veio o pensamento que ninguém podia ficar sabendo, eu tinha que escondê- la! Mas eu não conseguiria fazer aquilo sozinha, aí minha tal “mania de personagens” resolveu dar o ar graça. Lembrei de C.S.I. Los Angeles, mais especificamente do senhor legista. Sempre o admirei, sua frieza para lidar com corpos, era tão simples para ele. Estava decidido! Era ele quem eu seria naquele momento.
  • 25. Peguei a faca e comecei pelas mãos, depois pelos ombros, a cabeça me deu até um certo trabalho, não conseguia achar o lugar certo para cortar, saía muito sangue no começo, mas quando comecei a cortar os membros inferiores eles já estavam coagulados e não faziam muita bagunça. Até assobiei, como o senhor legista costuma fazer, às vezes me assusto com essa minha mania, mas no fundo eu acho engraçado, confesso! Terminei. Peguei o molho de chaves e depois de tentar três delas consegui abrir a porta para o futuro elevador. Voltei ao banheiro, peguei os pedaços e joguei no buraco destinado ao elevador, tranquei e joguei a chave pela descarga. Desci e entrei na cantina, peguei um balde, um pano e produtos de limpeza. Lavei tudo, ficou branquinho, coloquei os panos na bolsa e devolvi o balde e os produtos. Sei que existe o tal luminol para detectar o sangue que alguém limpa depois de um crime, mas isso não seria problema: o meu nariz, estava tudo registrado. Voltei para a casa e no outro dia fui normalmente à escola. Os covardes haviam faltado, é claro. Ninguém notou meu nariz inchado, ninguém me notou, mas notaram um cheiro estranho no corredor. Era o corpo, e isso me deixou nervosa. Acabou a aula, fui para casa, estava muito nervosa. “Eles descobririam, estava tudo acabado.” Já estava decidido: me mataria. Não passaria pela vergonha de ser acusada de assassinato. Não eu! Então minha mania voltou a aparecer, lembrei do “e não sobrou nenhum” de Agatha Christie, do juiz que mata todos e se mata, e deixa uma carta explicando os crimes. Faria isso, e escreveria a carta. Esta carta! Sobre como será minha morte ainda não tenho certeza, mas acho que vou tomar comprimidos de minha mãe. Espero que você leitor de meus últimos minutos de vida, procure entender meus motivos. Dignidade. Morri com dignidade, sem dúvida. Assinado: eu.
  • 26. CAUÊ Inteligente, tímido, feliz, faz tudo para alcançar o que quer. Legal com quem é legal. Ou gosta ou odeia, e odeia a sala onde estuda. Segmento: Polêmico Alucinada paixão Pensei em como tudo aquilo pode ter acontecido, o sangue, os alunos ausentes, o cheiro de perfume no ar. Aquele cheiro não me era estranho, tinha a sensação de já tê-lo sentido. Fui atrás de alguns alunos para tentar descobrir algo e tirar a paranóia da minha cabeça. Comecei pelo Paulo, foi o primeiro que vi. Aquele garoto que conheço desde pequeno adora Sherlock Holmes e suas investigações. Aquilo poderia me ajudar a descobrir algo, então perguntei: - Paulo, você sabe o que aconteceu com os alunos ausentes? - Não sei, a única coisa de que me lembro é que os vi ontem com a Carolina. Estavam chamando-a de nerd, essas coisas, sabe?! - Obrigado Paulo. - respondi. Bem, já sei com quem conversar. Carolina estava em um canto, sozinha e estudando para a prova de Redação que aconteceria logo após o intervalo. - Oi, Carolina! - Oi, Cauê. Tudo bem com você? - Bem, como todos nós. Mas estou preocupada com a Alice, o Alexandre, o Gabriel, a Gabriela e o Gustavo. - Mas o que aconteceu com eles? - Ainda não vieram à aula. - Você não esteve com eles? - Não. Quem deve saber de algo é a Anne, que não desgruda deles.
  • 27. Carolina estava aflita, um pouco nervosa. Para não acabar constrangida agradeci e fui embora à procura de Anne. Procurei muito, até que a vi com o Rafael. Os dois estavam tristes, deprimidos, pois Gabriel, um dos ausentes, era irmão de Rafael e namorado de Anne. Fui ver o que estava acontecendo. - O que foi que aconteceu, gente? - Oi, Cauê, meu irmão, na verdade, não faltou à aula, mas sim sumiu. - Como assim? - Ele e os outros quatro ausentes - Anne respondeu. - Meu Deus! E qual foi a última vez que vocês os viram? - Eu o vi ontem conversando com alguém no telefone à noite antes de dormir - respondeu Rafael. - E eu o vi ontem à tarde quando estávamos com os outros. - Muito obrigado pela informação. Realmente tinha um mistério nas mãos. Paulo disse que Carolina estava com eles, mas ela negou, e Anne disse que os viu apenas à tarde. Novamente senti aquele perfume forte e masculino. Senti um arrepio, uma sensação estranha, tinha certeza de que era o perfume. Bateu o sinal, Anne passou ao meu lado e eu senti o mesmo aroma mais uma vez. Era Anne que estava usando, então após a aula decidi segui-la para ver o que estava acontecendo. Quando tocou o sinal e todos entregaram as provas, resolvi ir atrás e investigar melhor. Comecei a seguir Anne, pois sabia onde morava, por fim e menos esperado ela foi para a casa. Isso não me tranquilizou, pois sabia que algo ruim estava acontecendo. Resolvi esperar, quem sabe os alunos desaparecidos não iriam à aula no dia seguinte? No dia seguinte, estava louco para voltar à escola e ver se realmente não era nada e torcendo para que os alunos desaparecidos estivessem lá. Não foi isso o que aconteceu. Os mesmos alunos estavam ausentes. Não poderia ser coincidência, algo de muito ruim estava acontecendo, pois os alunos não poderiam faltar mais uma vez em um dia de aula cheio de provas. Anne estava muito aflita e diferente, e ainda usava o mesmo perfume. Decidi segui-la novamente após as aulas acabarem. Então veio a surpresa... Logo que as aulas acabaram, segui Anne até um barracão onde a escutei conversando com um homem estranho, alto, careca e bem forte. Anne disse: - Onde estão? - Eu os coloquei em um lugar mais discreto e seguro para que ninguém os veja. - Ok. Mas cuidado com eles. Eles são muito importantes para mim. Quando escutei essa conversa levei um choque, pois a Anne, uma garota tão boa e educada, estava envolvida no sumiço dos garotos e um deles era seu próprio namorado. Resolvi seguir o homem e tentar descobrir esse local tão discreto mencionado na conversa para poder ajudar os garotos e ter certeza de que Anne estava envolvida com isso.
  • 28. Segui o tal homem durante duas horas e cheguei a uma casa pequena, feita de madeira e bem antiga. Ele entrou, e eu fiquei esperando fora da casa até que ele saiu. Foi a minha chance de entrar e descobrir o que estava acontecendo. Tentei entrar pela porta, mas estava trancada. Resolvi dar a volta na casa até que encontrei uma janela de madeira bem antiga e fácil de ser aberta. Não precisei fazer tanta força. Entrei. Por dentro, a casa era bonita, cheia de quadros, livros e espelhos. Um banheiro, um quarto, uma cozinha e uma porta, que quando aberta dava acesso ao porão, local de onde escutei um barulho, como um cochicho. Parecia ser a voz do Gabriel, por isso não pensei duas vezes e decidi entrar. Para minha surpresa, dei de cara com os garotos, que estavam lá, amarrados por uma corda bem grossa e tinham uma fita que prendia a boca. A primeira coisa que fiz foi desamarrá-los para poder ajudá-los. - Quem os trouxe aqui? - perguntei. - Foi Anne e seu capanga - respondeu Gabriel. - Meu Deus! Mas por que isso? - Não sei, cara - disse Alice. - Anne fez tudo isso, pois não estava segura com o nosso namoro e achou que eu a estava traindo com Alice. Ela trouxe o Gustavo e a Gabriela, pois Gustavo namora a Alice, e Gabriela é sua irmã e Alexandre estava no momento do sequestro. - Nossa, estou sentido aquele perfume forte de novo. - Deve ser o meu, Cauê. - Mas eu senti a Anne com ele. - Ela estava tão obcecada por mim que começou a usar as minhas coisas. - Mas e aquele sangue? - Não era sangue, Cauê. Ouvi Anne reclamando que sujou sua roupa na escola, pois recebeu uma ligação do seu capanga e saiu correndo e acabou derrubando o vidro de esmalte. - Mas não tinha cheiro de esmalte! - Eu sei, aquele esmalte fui eu que dei, ele não possui cheiro, pois Anne é alérgica a cheiro de esmaltes, exclusivamente. Componentes químicos, você sabe... coisa de mulher... - Estou abismada com tudo isso. Nunca imaginei que Anne fosse capaz de fazer isso com as pessoas que ela mais gostava. - Nem nós - disse Gustavo. - Temos que fazer algo contra o homem e contra a... O homem chegou por trás, me agarrou, e até hoje ninguém sabe realmente onde estamos e o que aconteceu.
  • 29. GABRIEL 17 anos, corinthiano, muito louco, decidiu que não quer mais estudar; vive em festas, apesar de ser meio briguento, é muito gente boa. Segmento: Humorístico Frustração Em um longo dia de aula, estava meio “desligado”, não conseguia prestar atenção nas aulas, foi aí que comecei a reparar em meus colegas de classe. Nossa sala era unida, mas às vezes havia algumas intrigas aqui e outras ali, mesmo assim sempre tivera um ótimo desempenho, a turma toda. O professor falava e eu não conseguia entender, então comecei a prestar atenção em qualquer movimento que algum colega fazia, assim, percebi que Paulo Roberto observava a todos, e anotava em um bloquinho de papel. Tinha conversado com Paulo uns dias atrás e lembrei que ele era um grande apreciador de romances policias, e que levava sua vida como se fosse um detetive. Foi então que resolvi falar com Paulo na hora do intervalo, perguntei o que ele tanto anotava naqueles papéis. Ele respondeu que era sobre alguns alunos que andavam meio estranhos ultimamente, e disse também uma coisa que eu não havia percebido, talvez por ser meio desligado: que cinco alunos tinham faltado naquele dia, e ninguém sabia o motivo. Os professores estavam ficando preocupados, toda vez que algum aluno faltava tinha que justificar sua falta ou seus pais avisavam, mas nesse dia ninguém deu nenhuma explicação para faltar, e a direção da escola já tinha ligado para os pais dos alunos e eles haviam dito que seus filhos não estavam em casa e que haviam ido para a aula mais cedo que o normal. Além do mais, os alunos que sumiram não eram de perder aula, sempre foram os mais exemplares. Bruna era uma garota de família rica, já teve algumas brigas dentro de sala, mas nada fora do normal. Carolina era muito quieta, não tinha muitos amigos, estudava muito, era considera a nerd da sala. Gustavo era um cara feliz com a vida, educado, porém dava em cima de todas as garotas do colégio, só que na maioria das vezes não dava certo. Gabriela
  • 30. parecia ser uma garota comum, igual a todas, mas era herdeira de uma grande fortuna e procurava sempre fazer justiça, independente do que acontecesse. Alexandre era um garoto calmo, pensativo, amigo de todos, vivia contando suas histórias para a turma, e passava a maioria do tempo com seus amigos. Quem iria dar fim a esses adolescentes? Por que isso? Paulo Roberto foi o primeiro a começar a investigar toda a história, observava quem não conversava e quem discutia mais. Tudo que pudesse levar a alguma pista de onde estavam seus amigos. Ele tinha descoberto que Cauê detestava a sala onde estudava, então provavelmente não tinha muitos amigos, dar fim em cinco pessoas que ele não gostava e que podiam atrapalhá-lo em algo não seria nada difícil. Luiz Henrique era outro grande suspeito, era quieto, sem amigos, ninguém sabia nada sobre ele nem sobre sua vida, era tudo um grande mistério. Rafael também era um suspeito forte, apesar de ser uma pessoa inteligente e amorosa, dava para perceber no seu olhar algumas falsidades, um desejo de vingança talvez. Paulo investigava desde às 7 horas da manhã o desaparecimento de seus colegas. Queria saber o que eram as manchas vermelhas encontradas no chão da sala, que ninguém havia colocado a mão, pois achavam que era sangue. Duas horas depois do início da investigação, nada tinha sido descoberto ainda. Quase no final da aula, quando todos os professores e pais já estavam apavorados e querendo ligar para a polícia, chegaram ao colégio os alunos até então desaparecidos. Riam alto e despreocupados, só houve silêncio quando de longe viram uma confusão de adultos histéricos que, quando os viram, saíram correndo para o abraço e com as palavras atrapalhadas pediam explicações imediatas. Gustavo foi quem começou a contar a história, disse que Carolina e Gabriela combinaram com ele, com Alexandre e Bruna de chegar mais cedo para explicar a matéria que cairia na prova. Carolina trouxe com ela dezenas de salgadinhos, Alexandre fez questão de correr em sua casa e buscar maionese e catchup, e e um saquinho estourou e espirrou manchinhas vermelhas para todos os lados. Bruna continuou contando que como todos estavam sujos correram para a lavanderia antes de a diretora vê-los, e como não estava aberta ainda, demoraram a lavar o uniforme, fazendo-os perder o horário da prova. Todos os pais e a direção do colégio ficaram aliviados por ter sido apenas uma confusão e logo se acalmaram, porém Paulo Roberto ficou desolado por não conseguir desvendar esse mistério antes de os alunos aparecerem. Frustrado, nunca mais leu nenhum livro de romance policial e também nunca mais assistiu às cenas de Sherlock Holmes.
  • 31. GABRIEL PAPI Garoto apaixonado por esportes, popular, misterioso, preza muito pela amizade Segmento: Dramático Então tudo mudou... Minha vida andava tão boa, tão tranqüila, mas mudou repentinamente, na manhã do dia 16 de maio de 2011, dia que ficou marcado na minha vida. Estudo no Colégio Tia Ana Maria faz um ano, sou bolsista, estudo lá porque sou do time de basquete. Adoro esporte, pratico desde quando era criança, nada me fascina mais do que o esporte. Durante a semana meu organismo parecia estranho, e no dia 16 algo mais estranho ainda aconteceu, senti uma sonolência que não me deixava levantar da cama, uma sensação de cansaço, de fraqueza, algo que nunca tinha acontecido comigo, não daquela forma. Pela manhã, chamei minha mãe no quarto e contei a ela o que estava acontecendo e para que ela me deixasse faltar na escola, ela, desesperada, ligou rapidamente para o doutor para que ele me consultasse e dissesse o que estava acontecendo comigo. Chegando ao médico, o doutor me pediu para que fizesse alguns exames, que ficaria pronto na parte da tarde. Cheguei em casa, estava sem fome, outro fato estranho, já que sempre fui cheio de apetite. No período da tarde, tive que ir à escola, pois haveria prova e eu não poderia faltar. Chegando lá, notei a ausência de cinco alunos: Alexandre, Carolina, Alice, Cauê e Bruna. Já que ainda estavam faltando alguns alunos chegarem, eu fui rapidamente ao consultório médico para pegar o resultado do meu exame; lá, o doutor me disse que aquele exame era de grande importância, mudaria minha vida, me pediu para que ficasse em casa em repouso, abrisse o envelope com o resultado com calma e voltasse no dia seguinte com a minha mãe para que eles pudessem conversar a respeito. Não fui para casa, fui correndo para a escola, pois não poderia faltar em dia de prova. Não abri o envelope, deixei para mais tarde.
  • 32. Começou a prova e eu não conseguia me concentrar, um cheiro forte de perfume estava me deixando com dor de cabeça, abaixei a cabeça, olhei para o chão e vi uma pequena poça de sangue, olhei desesperado para aquilo e senti um gosto estranho de sangue na minha boca, pedi para a professora que me deixasse ir ao banheiro. Olhei-me no espelho e vi que estava saindo sangue da minha gengiva, fiquei apavorado, limpei aquilo e voltei para a sala. Tentei continuar a prova, mas não consegui novamente, aquele cheiro insuportável de perfume não passava, pedi que me mudassem de lugar, mas de nada adiantava, o cheiro estava encalacrado na sala; começou a me dar tontura, minha vista foi embaçando, não enxergava mais nada, desmaiei. Acordei no hospital, com algumas enfermeiras me olhando, perguntei o que havia acontecido e me disseram que eu havia apenas desmaiado, mas que já estava tudo bem. Elas não sabiam o que havia acontecido comigo durante a tarde, me mandaram para a casa descansar. Cheguei a casa novamente, minha mãe me perguntou por que eu havia demorado tanto, menti para ela dizendo que fui para casa de um amigo logo após a prova, pois não queria preocupá-la, pois estava cheia de problemas com o meu avô; meu problema não parecia ser tão grave. Ela me perguntou também se eu estava bem, se o mal-estar que eu sentira pela manhã havia passado, eu disse que sim, que estava tudo bem agora. Entrei no meu quarto, deitei na minha cama, peguei o envelope, olhei fixamente para ele, mas não tive coragem de abri-lo, estava muito nervoso. Fui tomar um banho quente para relaxar; quando saí do banho, reparei que minha gengiva estava sangrando novamente e eu estava pálido, muito pálido, a dor de cabeça voltou. Comecei a chorar desesperadamente, não sabia o que fazer, comecei a pensar que aquilo que parecia não ser nada grave parecia estar ficando cada vez mais grave, mas não contei para minha mãe, novamente não queria preocupá-la. Lembrei-me das palavras ditas pelo doutor quando fui buscar meu exame, desabei a chorar novamente, estava muito nervoso com a situação pela qual eu estava passando. Lavei meu rosto, a gengiva havia parado de sangrar. Acalmei-me, minha mãe me chamou para jantar, e eu, mais uma vez, estava sem fome, disse a ela que comeria depois, ia estudar um pouco. Voltei ao meu quarto, peguei o envelope, coloquei-o sobre a minha escrivaninha, sentei-me, acalmei-me e abri cuidadosamente o envelope. Tenso, no exato momento em que terminara de abrir, percebi uma gota de sangue caindo sobre ele. Corri pro banheiro, lavei o rosto mais uma vez, peguei um papel para limpar o envelope, voltei ao quarto, limpei o envelope, respirei fundo e vi o resultado. Parei por um segundo, meus olhos encheram de lágrimas, meu coração sentiu um aperto, aquilo que vi me deixou baqueado, o pouco de esperança que eu tinha de que aquilo não seria grave naquele instante foi por água abaixo. Fiquei pálido novamente, chorei, chorei muito, como nunca havia chorado em toda a minha vida, e como o doutor havia dito, o resultado realmente mudaria toda a minha vida, teria grande importância sobre o meu futuro. Corri para os braços da minha mãe, com os olhos cheios de lágrimas, abracei-a bem forte e mostrei para ela o tão esperado resultado, vi os olhos dela se encherem de lágrimas
  • 33. também, ela me abraçou mais forte ainda e com toda esperança do mundo disse que tudo ia ficar bem, que ela iria me ajudar e me apoiar em todos os momentos, o tratamento me faria ficar bem novamente. As palavras da minha mãe me deixaram um pouco mais tranqüilo, mas eu sabia que ia ser completamente difícil para mim passar por tudo, era difícil aceitar que aquilo estava acontecendo comigo, justo comigo. Não questionei e nem julguei Deus por isso, apenas jurei para mim mesmo que eu iria ser forte e que tudo ficaria bem. O resultado denunciava leucemia. Olhei-me no espelho, respirei fundo e disse a mim mesmo: o jogo está apenas no início. Eu vou me curar!
  • 34. GABRIELA Aparentemente comum, extrovertida, herdeira de uma fortuna, mas que por trás esconde um grande segredo, é apaixonada por lutas, e com sua personalidade forte não se sente à vontade quando o assunto é falar sobre seus sentimentos. Procura sempre fazer justiça, seja qual o preço que tenha que pagar para que isso aconteça. Segmento: Humorístico (humor ácido) Um dia nada normal O dia começou com meu humor excelente. Acordei com meus avós chegando de viagem, e quase tendo um infarto por me encontrar dormindo. Tanto escândalo por nada, afinal, não eram nem duas da tarde! Uma e cinqüenta e nove para ser mais explícita, e outra, não tenho culpa se esqueceram de tomar seus remedinhos diários... Abriram tão violentamente as cortinas, que cheguei a me sentir cega. Sem contar na falação, acho que pensavam que meus ouvidos eram penicos ou apenas queriam me ensurdecer, devia ser castigo. Pelo menos não viram o ferimento em minha perna, caso contrário, haveria mais uma pessoa aleijada no mundo. Tudo bem, tudo bem! Como um flash, pulei da cama e me arrumei rapidamente para minhas aulas à tarde. Poderia dizer que toda essa energia surgiu porque sou uma neta muito obediente, educada e amo meus avós, mas, como sou uma pessoa do bem, não vou mentir. Minha motivação surgiu após meus avós ameaçarem contratar uma “babá” para me vigiar durante as férias, caso não levantasse imediatamente. Pronto, confessei. Após treinar minhas caras de tenha medo de mim em meu espelho imundo, saí do quarto com a cara mais medonha que consegui fazer e fui direto para o carro, que já estava à minha espera. Não quis nem comentar o fato de que se fosse para me levar a algum lugar de meu interesse, ele chegaria ao mínimo algumas horas atrasado. Fui o caminho inteiro rezando para que uma bomba nuclear tivesse caído bem em cima da escola, mas como de costume, o Senhor não me ouviu. Tudo bem, eu supero. Entrei na escola planejando ir direto para a sala e continuar meu sono diário, mas uma voz me impedia de realizar o ato. Sim, era a voz da minha “querida” professora me chamando para que fosse até ela. Ficha já cedo? Pensei comigo. Mas até que o assunto era interessante. Ela
  • 35. me informou que haviam desaparecido cinco alunos de minha classe. Logo abri um sorriso, imaginando que finalmente minhas habilidades de detetive sairiam dos video-games diretamente para o mundo real. Estava prestes a perguntar quem eram os desaparecidos, quando fui interrompida por uma voz: “Nossa! Olha a perna dela.” Foi então que notei. Saí tão apressada de casa que acabei me esquecendo de fazer um curativo para meu ferimento. Reconheci de quem era a voz, afinal, até surda reconheceria. Era de uma criatura que se achava o centro do universo, mas que na verdade não passa de um animal inútil, também chamado de Gustavo. Pensei em apenas dizer a ele que havia apenas passado catchup no local, mas aí me lembrei de que ele acreditaria e então aquilo não acabaria muito bem... Também pensei em mandá-lo se olhar em seu espelhinho e me lembrei que havia quebrado o tal objeto na semana passada. Então apenas ameacei de arrancar-lhe os dentes, caso não saísse da minha vista imediatamente. O abusado me chamou de animal e saiu, decidi deixar para dar um jeito nele mais tarde, já que agora tinha outros interesses. Estava pronta para voltar ao meu assunto, quando fui interrompida por uma mão em meu ombro. O ato veio acompanhado de uma voz aguada, que exclamava: “Credo, que horror está essa sua perna, baby!” Logo reconheci a tal voz. Era da Barbie falsificada de minha classe, também identificada por versão feminina de Gustavo, só que incrivelmente mais fútil chamada Bruna. Minha reação inicialmente seria quebrar o braço da tal, utilizando um golpe que aprendi em uma de minhas aulas de Muay Thay, mas percebi que havia muitas testemunhas no local, então decidi apenas dizer que era uma tatuagem 3D. Ela, que não perde uma, me disse que aquilo não era nada fashion. Disse a ela, então, que estava enganada, pois era a última moda em Paris. A menina saiu correndo como um flash para fazer uma igual. Ia me oferecer para fazer a tal “tatuagem” eu mesma, mas fui interrompida pela professora me perguntando se eu havia passado pela sala. Respondi que não, já que mal havia chegado e ela já me chamara. Indaguei o porquê da pergunta, e ela me informou que havia encontrado gotas vermelhas, que acreditava ser sangue, pelo chão e que ao ver meu ferimento, imaginou que fosse meu. Estranho. Como qualquer boa detetive, decidi investigar o local. Cheguei à porta da sala, e logo encontrei as tais gotas. Aproximei-me. Cheguei bem perto do local, e o observei. Depois de cinco minutos, que para mim parecia que tinham se passado horas, cheguei a uma conclusão. Aquilo não era sangue, era claro demais! Pensei em pegar meu quite de espionagem para identificar a substância, mas me lembrei de que não tinha um. Trágico! Então decidi utilizar do método indicado para um espião desprevenido, no caso eu, que vi em um episódio do desenho Três Espiãs Demais, meu desenho animado preferido na infância. Estiquei o dedo indicador, passei sobre uma das gostas e levei à boca (um pouco nojento eu sei, mas era preciso). Hum... Catchup! Decepcionei-me ao perceber que meu caso de um possível assassinato, se tornou no máximo o caso de um aluno desastrado que come sanduíches pela sala. E que ainda derrama pelo chão! Desiludida, fui para uma carteira na última fileira. Sentei. Coloquei meus fones e me debrucei sobre a carteira. Estava prestes a pegar no sono, quando comecei a sentir um cheiro diferente. Forte, porém agradável. Perfume masculino! Só me restava identificar qual. Estava
  • 36. prestes a identificá-lo, quando uma funcionária entrou na sala e comentou: “Alguém exagerou no Egeo hoje!” Egeo! Sabia que conhecia aquele cheiro. Era o perfume que comprava para meu pai todo ano. Um belo presente de dia dos pais, em minha opinião. Comecei a me perguntar quem usaria aquele perfume. Notei que havia uma mochila na carteira ao meu lado. De repente, o perfume começou a ficar mais forte. Um aluno entrou rapidamente pela sala e sentou-se na carteira onde estava a mochila. Com certeza esse era o dono do perfume. Era um menino estranho de minha classe, que eu acreditava ser mudo. Poderia até dizer que era apenas mais um nerd, mas suas notas baixas não permitiam tal afirmação. Não sabia muito sobre ele, apenas que se chamava Luiz Henrique e, agora, que tinha um bom gosto para perfumes. Nunca me interessei em conversar com o indivíduo, já que o tal sempre pareceu inútil aos meus olhos. Isso até agora. Por que um aluno que sempre quer passar despercebido viria tão perfumado para uma aula vespertina? Chamar a atenção, talvez? Bom se esse fosse o objetivo, conseguiu. Tentei puxar algum assunto, perguntei se tinha alguma tarefa para entregar. Sem tirar os olhos de seu Gibi, disse: “Olha a minha cara de quem faz tarefa!” Custava apenas dizer que não sabia? Era por isso que não tinha amigo nenhum! Voltei a fingir que ele não existia. Estava quase na hora da aula começar, quando a professora entrou e olhou a sala como se procurasse alguém, no caso, eu. Sentou-se na carteira ao meu lado e voltou a me contar dos cinco alunos. Informou-me quem eram os desconhecidos: Carolina (uma nerdinha, quieta demais, na minha opinião, mas útil em trabalhos em grupo); Alice (um pouco sem sal eu sei, mas, tirando a criancice e ingenuidade, é uma boa colega de sala); Rafael (ah, esse merece mesmo sumir, sempre se faz de bom moço e amigo, mas não me engana. Sei que ele esconde um lado maligno o qual, ainda vou descobrir); Anne (o quê? Como assim a Anne sumiu? Tá, eu sei que é um pouco imatura e cabeça oca, mas é uma boa amiga) e Gabriel (ah, esse não é novidade estar envolvido em confusão, tenta sempre parecer marrento, mas para mim não passa de um adolescente rebelde e até que é gente boa). Engraçado, pensei comigo, estava com todos estes no dia anterior. Tinham ido à minha casa na tarde anterior para que fizéssemos um trabalho em grupo, que para falar a verdade nem conseguimos começar, já que meus cachorros haviam escapado do canil e começaram a correr pela casa, deixando todos em pânico. Esta minha linha de pensamentos foi interrompida por uma ligação de minha avó me perguntando o que cinco adolescentes faziam trancados no porão de casa. Ah... sabia que havia esquecido algo!
  • 37. GUSTAVO Um cara feliz, educado, mulherengo, bonitão, de fácil convivência, se dá bem com todo mundo. Segmento: Romântico Romance escolar Era mais um dia de aula normal pra mim, eu tomava meu lanche quando a minha professora de Redação veio me perguntar se eu sabia o que tinha acontecido, que cinco dos alunos da sala tinham faltado à aula. Eu tinha notado algo estranho na sala, realmente, mas era normal da turma, só não tão normal em dias de prova. Outro fato que não julguei ser tão normal assim foram algumas manchas vermelhas no chão da sala, não sabia o que era, mas poderia ter algo a ver com os alunos que faltaram. Lembrei então que os alunos brincavam na sala de jogar bolinhas de papel um no outro, e como era de costume alguém se irritava e jogava outros objetos para machucar de verdade. Um colega, Luiz Henrique, então, não aguentou a brincadeira e arremessou um compasso que acertou a mão de Paulo, que sangrou. Ele correu à coordenação, que o socorreu. Ao retornar para a sala, Paulo já estava com sua mão enfaixada e com um forte cheiro de remédio que alguém tinha passado nele. Mas o que teria acontecido com Alice, Alexandre, Bruna, Gabriel e Gabriela, os faltantes? Agora aquilo me intrigava realmente. Onde estariam os cinco alunos? Todos estavam preocupados com o sumiço deles. Lembrei-me de que no dia anterior os mesmo tinham me convidado para ir a uma festa estilo rave, então contei à professora sobre isso, já que poderia ser uma pista. A professora, como tinha conhecimento sobre essas festas “malucas”, já sabia que elas envolvem drogas e duram muitas horas e até mesmo dias. Sabendo disso, ela resolveu esperar até no dia seguinte para ver se tinha notícias deles. Eu fui atrás deles na tal festa, chegando lá encontrei Gabriel desmaiado, caído no chão, parecia alcoolizado, drogado, tentei achar os outros, mas parece que eles já tinham ido embora. Sem saber o que fazer, liguei para a minha professora para me ajudar a socorrer o menino. Com medo de tomar atitudes que prejudicassem o menino, a professora resolveu levar Gabriel até sua casa.
  • 38. Ao chegar lá, ela ficou espantada com a vida que ele levava, um descaso total, seus pais não lhe davam bola, nem ligavam para ele. Na manhã seguinte ao entrar na sala, percebeu que Gabriel estava cabisbaixo, triste, parecia revoltado com tudo aquilo que ele vinha passando em sua vida. A professora então pediu para que os dois tivessem uma conversa, e tinha a intenção de ajudá-lo. Ao ouvir a história do garoto, a professora se emocionou. Gabriel percebeu que, mesmo não tendo apoio familiar, ainda havia pessoas que se preocupavam com ele, e na escola poderia encontrar todo o apoio que necessitava. Com medo de poder dar a impressão de um interesse maior no que realmente ela estava intencionada a fazer, a professora então despediu-se. Disse apenas que alguém o procuraria. Esta pessoa foi Alice, afinal, uma menina que havia sido encontrada em uma caixa de sapato tivera uma vida ao muito diferente da de Gabriel, de sofrimento e de ingratidão. Achei muito bonita a atitude da professora. Ela fez a diferença na vida daquele casal! Sim! Casal! Eles se envolveram de tal forma que namoraram por um longo tempo e pelo que fiquei sabendo até construíram uma bela família. O que acontecera com os sumidos da aula de Redação? Ah! E o que isso importa, se tivemos um final romântico e feliz?!
  • 39. LANNA 16 anos, uma pessoa de aparência bem calma e amena, e que também aparentemente parece ser uma pessoa sem aventuras, ou ter algo interessante para contar. O que ninguém sabe é o que se esconde atrás daquela aparência, ambiciosa e cheia de más e boas intenções... ninguém sabe o que esperar de uma amiga assim. Segmento: Dramático Desaparecidos Mais uma segunda-feira, mais uma comum aula de Redação. Era assim que eu pensava antes do dia 16 de maio, antes de eu ver acontecerem coisas que nem a minha mente tão perversa e ambiciosa imaginaria. Como a aula de Redação é uma segunda-feira e antes vem o final de semana, resolvemos sair eu, Gabriel, Rafael, Bruna e Gustavo, já que éramos os únicos da sala que se davam aparentemente bem. Bruna tinha combinado de dar carona para todo mundo, já que ela tinha carro e também não era incômodo. O mais difícil para mim é que, apesar de sermos aparentemente amigos, alguns escondiam uma personalidade ruim e que não dava para confiar. Quando já estávamos todos no carro prontos para seguir para o barzinho aonde íamos, Rafael começou a se exaltar e obrigou Bruna a mudar a rota em direção a um lugar abandonado. Bruna parecia bem assustada, mas fez o que Rafael pediu, o nervosismo de todos que estavam no banco de trás, inclusive o meu, era enorme. Chegando ao tal local abandonado, Rafael, que já tinha deixado sua feição de uma pessoa boa e normal de lado, começou a se mostrar mais agressivo ainda, e nesse momento Bruna, para nossa surpresa, revelou-se parceira dele, não por ela ser má, e sim por ser inconsequente e gostar de arranjar confusões. Eles amarraram nossas mãos e pés e vendaram nossos olhos. Rafael espancou Gustavo até a morte, a situação era de medo e horror, não tinha saída e nem como fugir. Rafael e Bruna foram embora e me deixaram junto com Gabriel amarrados e vendados, e Gustavo morto ao nosso lado.
  • 40. Chegou segunda-feira, e nossos familiares ainda sem notícias nossas; a polícia já à procura, mas na escola ninguém quis comentar. À tarde teve aula de Redação, nossa professora Cristiane tinha notado tudo, mas achou que era coisa de sua cabeça, pois não conseguia desconfiar de alunos aparentemente normais. A única coisa que não saía da cabeça da professora era aquele cheiro forte de perfume que enjoava a sala, como quando alguém quer esconder um outro cheiro. No final da semana, todo o caso foi desvendado pela polícia, que já investigava esses jovens há meses, já que haviam se metido em confusão antes: a família de Gustavo reconheceu o corpo e nós fomos resgatados, tivemos que dar depoimentos para esclarecer tudo no inquérito policial. Bruna, por ser muito rica e da alta sociedade, conseguiu enganar a mídia e se livrar de qualquer punição; já Rafael foi para uma prisão para menores, além de outras coisas que teve que acertar com a justiça, afinal ele matou o próprio colega de classe. Eu e Gabriel nos recuperamos do trauma e não mudamos de escola, pois quem apresentava perigo já estava no seu devido lugar. Bom, pelo menos eu acho, né? Vai saber o que esconde em cada uma daquelas pessoas com quem temos que conviver todos os dias, talvez coisas boas ou ruins, mas é bom sempre estar atento, pois ali o inimigo mora ao lado... e as pessoas usam máscaras.
  • 41. LARISSA Estuda muito, não sai de casa só para poder estudar mais. Sua rotina é da escola para casa, de casa para a escola. Por isso, não possui amigos. Mora com o irmão mais velho, que é totalmente o contrário dela. Ela é uma garota muito linda, mas não possui namorado porque não quer desperdiçar seu tempo, afinal, quer estudar muito. Segmento: Sobrenatural Psicopata Eu não havia dormido bem na noite passada. Os sonhos e os arrepios roubaram meu sono. Não sei o que pode ter causado tamanho desespero, mas naquela noite eu me senti fora do próprio corpo. Bom, meus estudos vão indo bem. Tive sorte em gostar de ler. A leitura abre a mente para novas sensações. Semana passada, a professora de Biologia solicitou ao líder da sala para que nos enviasse por email o que seria o novo trabalho. Nós teríamos que estudar sobre alguns animais e escrever a respeito de sua reprodução. O trabalho seria dividido em partes e duplas. Meu par seria o Rafael, e falaríamos sobre os coelhos. Combinamos então de ir até a casa da minha madrinha na próxima tarde. Lá era lotado de coelhos brancos e pêlos no carpete. Um cheiro esquisito de urina seca tomava conta da sala. Eu e Rafael ficaríamos lá até às dez da noite. Confesso, não foi fácil engolir o jantar, o odor se tornara insuportável. Dei um beijo na tia Nice e agradeci a boa vontade. Eu e Rafael nos despedimos na esquina. _ Até amanhã! Fique tranqüilo. Chegando em casa, eu mandarei o email para o Gustavo com o trabalho _ disse a ele. Não saiu comentário algum de sua boca e eu permaneci ali, esperando que ele falasse algo. Notei que ele me olhava estranhamente. Olhos grandes, iluminados pela lua e possuídos pelo ódio. Quando eu virei outra vez ele me olhou e saiu correndo como um animal. Pela calçada suja e escura, uma penumbra tomava conta do rastro da sombra que restara. O vento emitia um ruído forte. O frio era insuportável. Fiquei sem reação. Fui andando rapidamente até a próxima esquina que
  • 42. era iluminada. Meu corpo tremia de frio, meus olhos chacoalhavam e minha boca estava seca. Chegando em casa, eu avistei meu cachorro latindo desesperadamente olhando para cima onde havia uma árvore velha e seca. Eu gritei, mas ele não olhava para trás. Então, entrei em casa e fui até o meu quarto descansar. Meu irmão estava deitado no sofá da sala, dormindo. Meu quarto estava iluminado com fortes lâmpadas brancas. Despertei daquele medo e fui estudar mais um pouco. Abri o livro e as letras se embaralhavam nos meus olhos, minha vista estava cansada e minha mente ainda assustada. Fui dormir. Deitada na cama, coberta por grossos cobertores, eu ainda tremia de frio. Quando adormeci tive sonhos fora do normal. O céu era vermelho e chovia sangue. Havia animais mortos sobre a terra molhada. Ouviam-se gritos de seres estranhos e estouros de coisas queimando. A terra se cansara e se transformara num inferno. Acho que esse pesadelo foi conseqüência do que havia acontecido no dia anterior, afinal, dormi assustada. De manhã o sol nasceu fraco, mas o despertador me acordou no pulo. Chegando à escola, entrei na sala de aula e sentei na mesma carteira como o habitual. Esfreguei os olhos e olhei para o chão. O ventilador fez com que pelos voassem do chão. Senti um forte e agradável cheiro de perfume de homem no ar. Levantei e fui até o lixo jogar alguns papéis que estavam guardados na bolsa. Quando olhei pra dentro do lixo, avistei gotas vermelhas de sangue jogadas em torno dele, e pedaços de carne disfarçados em meio a folhas brancas. Fui andando e vi que ali havia um rastro das gotas de sangue pelo chão. Fui ligando um fato a outro, mas não acreditava no que havia visto. Será que aquilo era mesmo um animal recém morto? Nesse instante, me lembrei de Rafael. Ele havia se comportado estranhamente no dia anterior diante dos coelhos. Como ele poderia ter feito uma coisa daquelas, além disso, dentro da sala de aula? Ninguém sabia responder, estávamos todos assustados, e Rafael havia acabado de sair da escola. Alguns alunos também tinham ido embora devido ao mal-estar que aquilo causara. O sinal tocou e a professora entrou na sala. Ela observou e perguntou o motivo de haver tão poucos alunos. Ninguém se manifestou. Ela saiu da sala rapidamente e todos permaneceram quietos, sentados. A camareira entrou para limpar toda aquela sujeira e todos nós fomos chamados no pátio da escola para esclarecer o fato. Eu chamei a professora, expliquei o que havia acontecido com Rafael na noite passada. Ela estranhou e ligou imediatamente aos pais dele. Os pais responderam que Rafael não havia dormido em casa e que ele estava se comportando estranhamente nos últimos dias. Eles disseram também que na família havia avós com casos de psicopatia. A psicopatia é um distúrbio mental grave, caracterizado por um desvio de caráter, ausência de culpa para os atos cruéis, frieza, insensibilidade aos sentimentos alheios. A escola constatou então que, talvez, Rafael era um garoto doente que precisava de fortes tratamentos psicológicos. Nós, da sala de aula, éramos muito unidos, e Rafael nunca havia feito nada que levantasse qualquer suspeita. Mas descobrimos que, talvez, isso seria normal, pois portadores de psicopatia agem normalmente.
  • 43. Bom, ficamos muito travados e assustados naquela semana, afinal, tudo era estranho. Ele precisava de um bom tratamento psicológico e acompanhamento familiar, pois o comportamento de um psicopata pode ser perigoso e nunca se sabe o que esperar dele.
  • 44. LUIZ HENRIQUE Quieto, sem amigos, misterioso, ninguém sabe de onde veio e de nada sobre sua vida. Segmento: Sobrenatural Forças Malignas?! Já fazia algum tempo que a sala não estava normal, um clima estranho pairava no ar, mas todos continuavam agindo come se nada tivesse acontecendo, tanto que nenhum professor tinha desconfiado. Eu era vizinho de Rafael, Cauê, Gabriela, Bruna e Paulo. Na noite do dia 15 de maio, eu estava deitado em minha cama, escutando música, quando observei um clarão; corri o olhar, o clarão estava vindo do quintal da casa de Rafael. Na verdade não era um clarão, e sim um fogo vermelho, que fazia formatos estranhos, e que sumiu do nada. Voltei para minha cama assustado, deitei e dormi. Já era de manhã, eu estava saindo para ir para a escola, mas notei algo diferente do que o de costume: nenhum dos meus vizinhos estava saindo de casa para tomar a van junto comigo, apenas Paulo, que estava muito diferente, com um ar sombrio, mas ele não entrou na condução, ele seguiu adiante, mais estranho do que de costume. Quando cheguei à escola, Paulo já estava lá, notei uns pingos que pareciam de sangue, e um perfume estranho no ar, quando voltei a olhar para Paulo novamente, ele já não estava mais lá. O dia não estava normal, algo estava muito estranho desde o acontecido, e eu não consegui segurar minha curiosidade e resolvi tentar descobrir o que estava acontecendo. Segui o carro policial que estava saindo da casa de Rafael. Nada adiantou, eles pararam na frente da delegacia, mas como um flash, tive a impressão de ter visto Paulo na direção do bosque que ficava ali perto, corri naquela direção, tomando todo cuidado para que ninguém me visse. Paulo mais uma vez havia sumido, mas eu encontrei algo que chegou a me assustar, corri o máximo que pude de volta para a delegacia. Chegando lá, contei sobre o