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A Paz é Dourada – versão em português

                                      A Paz é Dourada

Leila Richers

Era uma vez um menino chamado Euclides que vivia na Fazenda Saudade.
Quando ele tinha três anos, o Leto escravo da fazenda,
voltou da guerra do Paraguai.
Euclides nem percebeu quando o Leto passou em direção
a senzala, seguido por Abelão.
Foi um dia muito estranho aquele.
Ficou para sempre na memória do menino Euclides.


Teste de elenco

Escolha de Euclides criança.
Alimento há muito o sonho de uma viagem ao Acre.


Leila Richers

Era uma vez o sonho de um filme de ficção inspirado na vida e obra desse menino que cresceu
poeta, engenheiro, militar, jornalista e escritor. Euclides Rodrigues da Cunha nasceu em 1866 em
Cantagalo, no interior da então província do Rio de Janeiro.

Seu pai, Manoel Rodrigues Pimenta da Cunha, era guarda livros das fazendas de café que haviam se
alastrado pelo vale do rio Paraíba do Sul. Sua mãe, Eudóxia Moreira da Cunha, era filha de um
pequeno fazendeiro da região.

No ano de nascimento de Euclides, dois fatos particularmente geravam inquietações no vale. Um se
relacionava às primeiras crises do café, com a progressiva perda da fertilidade dos solos locais e o
outro, era a guerra do Paraguai, que já durava dois longos anos.

Com a morte da mãe, o pai de Euclides abandona a Fazenda Saudade. Deixa a filha Adélia de um
ano, na fazenda de uma tia nas proximidades e Euclides na casa de outra tia, em Teresópolis.
Ele então cresce pelas casas de parentes, ora em Teresópolis, ora em São Fidélis, ora em Salvador
na casa dos avós e finalmente no Rio de Janeiro, onde pulando de colégio em colégio, na mais
estranha instabilidade, chega a Escola Militar da Praia Vermelha.



Osvaldo Galotti

A avó paterna de Euclides da Cunha era descendente de tapuia e ele frisava isso, misto de celta,
tapuia e grego. Ele aprendeu álgebra da maneira de mais alto nível na época, com o professor
Trompowsky. Outra coisa que influiu muito, que ele aprendeu na Escola Militar e que influenciou
demais na vida e na obra dele, foi geopolítica, matéria que na Escola Militar se estudava muito. E se
nós percebermos “Os Sertões” é geopolítica. A viagem dele ao Alto Purus é geopolítica. Quer dizer: a
geografia considerada sob um ponto de vista político, de melhorar a situação do povo.
A Paz é Dourada – versão em português
Tv Globo – Leilane Neubarth

O livro “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, é o maior épico brasileiro. Conta a história da guerra de
Canudos. Mas, “Os Sertões” é chamado dos livros difíceis. Pouquíssima gente leu. E como livro, o
próprio Euclides também é um desconhecido. Agora, aqui vai uma pergunta: Como é que um
homem que se preocupou tanto com as caras e com as cores do Brasil pode ser um anônimo? Bom,
estão tentando explicar isso na Academia Brasileira de Letras. Lá começou a Semana Euclidiana,
com uma missão, tirar Euclides do limbo, popularizar Euclides. E uma das formas é o filme
“Fronteiras”, de Noilton Nunes, que começa a ser rodado em outubro. Esse filme vai falar de
Euclides.



Walnice Galvão

No ginásio ele fazia sonetos tendo como tema os grandes nomes da revolução francesa, como
Robespierre, Danton, Marrat e Saint Juste.



Leila Richers

Euclides, na Escola Militar, foi colega de Cândido Rondon e de outros pacifistas que consideravam a
ciência da paz muito mais fecunda para a humanidade que a ciência da guerra.



Letreiro

“Morrer se preciso for;
matar, nunca.”
Rondon



Walnice Galvão

Euclides se tornou um ardente ativista do advento da República. A Escola Militar, onde Benjamin
Constant era professor, era um bastião de agitação política contra o Império e a favor da instauração
da República. Da república, os homens como Euclides esperavam a revolução burguesa de modelo
europeu e o fim dos privilégios. As pessoas passariam a ter direitos iguais e não mais depender de
favores dos privilegiados. Corria o ano de 1888 e um grupo de alunos combina fazer um ato de
protesto contra a monarquia, por ocasião da visita do ministro da guerra. Quando o ministro
passasse em revista a tropa, os alunos ao invés de apresentar armas ante as autoridades,
quebrariam seus sabres.

Na hora, só Euclides executou o ato de protesto, no qual tentou quebrar o seu sabre; não conseguiu e
atirou-o ao chão, aos pés do ministro.



Letreiro
A Paz é Dourada – versão em português
Abaixo o Império.
Viva a República.

Walnice Galvão

Esse ativismo de Euclides veio a ser a causa de sua expulsão da escola. A proclamação da República
em 15 de novembro de 1889 marca sua reabilitação. Benjamin Constant, que é o novo ministro da
guerra, reintegra Euclides no Exército e ele pode se formar como engenheiro militar, com a patente
de tenente.


Leila Richers

Euclides passa de louco a herói. Torna-se conhecido como o destemido cadete que desafiou o
império. Na primeira festa da República, na casa do major Sólon Ribeiro, o oficial de confiança do
marechal Deodoro, Euclides conhece Ana, filha do major. Apresentado a ela como o herói da Escola
Militar, Euclides, encantado com a beleza da moça, deixa nas mãos dela um bilhete que funcionaria
como um original pedido de casamento:



Letreiro

Ana, entrei aqui com a imagem da República;
saio com a sua.

Euclides



Leila Richers

Mas logo depois veio a sua primeira grande decepção com o novo governo. Quando viu a bandeira
nacional criada pelos republicanos, ficou triste e muito preocupado com o futuro do Brasil e dos
brasileiros. O lema positivista – o amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim tinha
sido decapitado. O amor por princípio cortado e jogado na lata de lixo da história.

Euclides termina seus estudos na Escola Militar e parte em busca de novos caminhos, consegue
trabalho no jornal O Estado de São Paulo. Dali o destino desenha, como uma conseqüência natural,
seu encontro com os sertões de canudos.



Euclides – Breno Moroni

A viagem correu rápida num trem ruidoso e festivo, velozmente arrebatado por uma locomotiva
possante e, ao traçar essas notas rápidas no diário, não tenho sobre o dólmã nenhuma partícula de
pó.



Leila Richers
A Paz é Dourada – versão em português
Após a longa espera de quase um mês, em que o jornalista se preparou, recolhendo informações
sobre Canudos, Antônio Conselheiro e a região dos sertões, finalmente, no dia 31 de agosto de
1897, Euclides partiu adentrando pelo interior da Bahia. Nessa viagem, ele não perdeu um minuto
sequer. Nada lhe passou despercebido, demonstrando grande disposição para o conhecimento
científico e enorme curiosidade sobre a vida sertaneja.

As anotações sucediam-se desordenadas, procurando registrar todos os aspectos, nos mais diversos
planos: botânica, geologia, geografia, sociologia, aspectos locais da língua portuguesa, detalhes
arquitetônicos, costumes. Bastante excitado, o viajante descobriu o sertão, Ou melhor, tinha início a
invenção euclidiana de Os Sertões.



Filme “Euclides da Cunha” de Humberto Mauro

Euclides da Cunha, na qualidade de correspondente especial do jornal O Estado de São Paulo, parte
para Canudos para documentar os dias decisivos da campanha que lhe serviria de roteiro para seu
livro monumental. Monte Santo é um lugar lendário, descreve ele, imponente templo de fé, mas que
a partir da data em que lá entraram os expedicionários, ia se celebrizar como base das operações de
todas as arremetidas contra canudos. A religiosidade ingênua dos matutos ali talhou, em milhares
de degraus folheantes, em caracol, pelas ladeiras sucessivas, aquela vereda branca de sílica, longa
demais, de dois quilômetros, como se construíssem uma escada para os céus.



Euclides – Carlos Minc

O homem, de fato, assumiu em todo o decorrer da história, o papel de um terrível fazedor de
desertos. Atacou a fundo a terra. esterilizou-a, feriu-a, degradou-a e deixou-a aqui e ali, para sempre,
estéreis, vazias, tristonhas. Imaginem-se o resultado de semelhantes processos aplicados sem
variantes, no decorrer dos séculos.



Euclides – Antônio Grassi

Fez-se talvez o deserto. Mas, podemos extingui-lo ainda corrigindo o passado. E a tarefa não é
insuperável. Abarreirados os vales inteligentemente escolhidos, em pontos intervalados por toda a
extensão do território sertanejo, numerosos e pequeninos açudes, uniformemente distribuídos,
teriam naturalmente no correr dos tempos a influência moderadora de um mar interior, de
importância extrema.



Euclides – Noilton Nunes

Que pelas estradas ora abertas à passagem dos batalhões gloriosos, que por essas estradas
amanhã silenciosas e desertas, siga depois da luta, modestamente um herói anônimo, sem triunfos
ruidosos, mas que será o verdadeiro vencedor: o mestre escola.


Euclides
A Paz é Dourada – versão em português
O sertanejo é antes de tudo um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênico do
litoral. A sua aparência entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário. Falta-lhe a plástica
impecável, o desempeno, a estrutura corretíssima das organizações atléticas.



Euclides – Quim Negro

O planalto central do Brasil desce dos litorais do sul em escarpas inteiriças, altas e abruptas;
assoberba os mares e desata-se em chapadões nivelados pelos visos das cordilheiras marítimas.



Filme “Euclides da Cunha” de Humberto Mauro

O centro da vida era Canudos e o de Canudos era o rio Vaza Barris, explica o ensaísta euclidiano
Olimpio de Souza Andrade. E prossegue, hoje não mais podemos ver a cidadela primitiva. Dela
quase nada restou. Tudo se esfacelando sob terríveis combates entre as tropas do governo e os
fanáticos de Conselheiro. Numa das partes altas da cidadela famosa encontrava-se a igreja nova,
que assim ficou ao final da luta. Só ruínas. Uma idéia dantesca do que foi aquilo tudo para os dois
lados da refrega. Um tremendo equívoco como mais tarde se reconheceu.



Euclides – Noilton Nunes

Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda história. Resistiu até o esgotamento completo,
expugnado palmo a palmo na precisão integral do termo. Caiu ao entardecer quando caíram seus
últimos defensores, que todos morreram. eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma
criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados. Forremo-nos de descrever os
seus últimos momentos. Nem poderíamos fazê-lo. Essa página imaginamo-la sempre
profundamente emocionante e trágica. Mas, cerramo-la vacilante e sem brilhos, como quem vinga
uma montanha altíssima. No alto, a par de uma perspectiva maior, a vertigem. Ademais não
desafiaria a incredulidade do futuro a narrativa de pormenores em que se amostrassem mulheres
precipitando-se nas fogueiras dos próprios lares, abraçadas aos filhos pequeninos.



Leila Richers

Mas, afinal que livro é esse? O que ele conta de tão importante que permaneceu no imaginário
nacional? O foco central do livro é a guerra de Canudos que ocorreu nos sertões da Bahia. Foram
quatro anos de um dos mais cruéis e sangrentos conflitos ocorridos no início da república brasileira.
O arraial de Canudos surgiu em 1893 numa fazenda abandonada às margens do rio Vaza Barris. Sua
população formava uma congregação religiosa sob a liderança do beato Antônio Conselheiro.



Leitora

Vestia túnica de azulão. Tinha a cabeça descoberta e empunhava um bordão. Os cabelos crescidos
sem nenhum trato a cair sobre os ombros. As barbas grisalhas, mais para brancas. Os olhos fundos
raramente levantados para fitar alguém.
A Paz é Dourada – versão em português

Roberto Ventura

A região é até hoje um lugar de muitos conflitos de terra. Há um movimento de sem terras, conflitos
com fazendeiros, ou com proprietários de terras da região. A questão levantada por Antônio
Conselheiro continua até hoje e aliás, do mesmo jeito que há um culto a Euclides da Cunha em São
José do Rio Pardo, há um culto a Conselheiro em Canudos que todo ano se realiza em novembro.



Marcelo Rubens Paiva

Canudos não existe mais, está debaixo d’água, né?



Roberto Ventura

Existe a chamada Nova Canudos...



Leila Richers

Euclides fala em Os Sertões: “Estamos condenados à civilização. ou progredimos ou
desaparecemos”. Esta frase mostra toda a angustia que Euclides vivia naquele momento. O que ele
enxerga? Ele vê um grupo de sertanejos, uma população que ele vai aprendendo a admirar e reflete:
Para se fazer o progresso, para se chegar à civilização é preciso extinguir esses grupos? É preciso
acabar com eles?

Coro de soldados Canudos foi destruída. Viva a República Viva! Coro feminino Canudos não se
rendeu.Canudos não se rendeu.



Leila Richers

Em 1898 um anos depois de terminada a guerra, Euclides é designado pela Superintendência de
Obras do Estado de São Paulo para reconstruir uma ponte de ferro que tombara durante uma
enchente em São José do Rio Pardo no interior do estado. Muda-se para lá com Ana e os dois filhos.

Como o trabalho da ponte exigia presença permanente ele ergue perto do canteiro de obras, uma
pequena cabana de tábuas velhas e telhado de zinco, debaixo de uma paineira. O tempo que lhe
sobra desse trabalho é dedicado a escrever sobre o que presenciara no interior da Bahia. Recebe o
apoio de intelectuais da região como o do prefeito da cidade, Francisco Escobar, que coloca sua
biblioteca particular à disposição do engenheiro Euclides. São três anos simultaneamente
comandando os trabalhos para a reconstrução da ponte e a criação do livro.



Euclides – Noilton Nunes
A Paz é Dourada – versão em português
Acredito no futuro estabelecimento de uma perfeita solidariedade universal envolvendo por inteiro a
humanidade. Precisamos de uma forte arregimentação de vontades e de uma sólida convergência
de esforços para essa grande transformação indispensável. Porque seu triunfo é inevitável.
Garantem-no as leis positivas da sociedade que criarão o reinado tranqüilo das ciências e das artes.
Fontes de um capital maior, indestrutível e crescente, formado pelas melhores conquistas do espírito
e do coração.

Como é forte essa alavanca, a idéia, que levanta sociedades inteiras; derriba tiranias seculares. A
idéia que nos orienta tem o atributo característico das grandes verdades: é simples. Estudá-la é uma
operação que requer mais que as fantasias da imaginação; a frieza do raciocínio. Analisá-la dia a dia
é uma operação idêntica a análise da luz. A idéia é a moeda do futuro. A idéia é a moeda do futuro.



Leila Richers

Ao final de 1901, Euclides dá por terminadas as duas grandes obras: a ponte foi reerguida e está
finalmente pronto o livro vingador.

“Os Sertões” tornou-se um clássico e Euclides da Cunha passou a figurar ao lado de Machado de
Assis como um dos grandes escritores Nomes da literatura brasileira.



Emmanuel Cavalcanti

Esta fatalidade inexorável. De fato os seus ciclos, por que o são, no rigorismo técnico do termo,
abrem-se e encerram-se com um ritmo notável que recordam o desdobramento de uma lei natural
ainda ignorada. “Os Sertões” a obra magnânima da literatura em português; da literatura universal. É
o Brasil que palpita. Força completa de um dos maiores escritores da humanidade. Nascido no
estado do Rio de Janeiro, essa glória infinda das letras humanas, do grande texto brasileiro para o
mundo.



Leila Richers

O sucesso de “Os Sertões” é tão grande que o livro conta com mais de 30 edições em português e já
foi traduzido para diversos idiomas. Mas, será que passados cem anos ele conserva sua atualidade?



Tarcísio Padilha

O livro “Os Sertões” continua a representar hoje a chamada “bíblia da nacionalidade”. A ele devemos
o conhecimento maior do Brasil pelos brasileiros. Isto é dizer pois, que a sua figura é um
monumento.
sua obra “Os Sertões” é a catedral das nossas letras.



Antonio Houaiss
A Paz é Dourada – versão em português
Mas, um homem que abriu os horizontes do Século XX para a língua portuguesa no Brasil e
possivelmente para a língua portuguesa na lusofonia. Para mim, ele é um dos grandes usuários da
língua portuguesa em todos os tempos.



Gerardo Mello Mourão

Parece oportuno dizer duas palavras sobre o significado de cultura e civilização. Vamos tratar de
Euclides como fundador da cultura brasileira. Duas palavras sobre cultura e civilização para deixar
claro que uma obra e um homem podem fundar uma cultura.



Leandro Tocantins

O Ministério da Cultura devia ter como patrono Euclides da Cunha. Porque foi Euclides da Cunha
quem primeiro se rebelou contra nosso colonato intelectual. Há uma frase em que ele diz que
estamos acostumados a pensar em inglês, alemão e francês. Foi um homem que rejeitou todas as
viagens que se lhe ofereceram para a Europa... E ele mesmo dizia: a minha grande vontade, a minha
grande aspiração é ir ao Acre



Eduardo Portella

Esse livro se intitula “Contrastes e Confrontos”. Ele procura entender a diferença. Procura andar pelo
Brasil como uma espécie de engenheiro nômade e compreender estes diferentes brasis. E
evidentemente as suas conexões latino americanas



Adelino Brandão

Ele discute o problema do Acre onde os Estados Unidos e a Bolívia fizeram um trato para criar um
caso bélico com o Brasil e no momento em que esse conflito se estabelecesse os Estados Unidos
encampariam a causa da Bolívia. Forneceriam armas, exército e munição para conquistar o acre,
que então seria uma terra de ninguém. E ele denunciou esse problema e esse problema continuou
existindo através da república.



José Celso Martinez Correa

Na escritura da “Terra”, tem uma sensualidade, tem exatamente uma sensualidade de língua uma
verbosidade que se percebe se é lido coro. Aliás, é pena. Se nós tivéssemos aqui vários exemplares
de “Os Sertões” a gente ia fazer uma experiência erótica deliciosa. Nós íamos começar lambendo a
terra brasileira, íamos entrar pelos meandros dela, pelas curvaturas, pelas cavernas... íamos fazer
uma experiência de delírio imenso.



Austregésilo de Athayde
A Paz é Dourada – versão em português

A primeira república, aquela que o povo assistiu bestificado, proclamar-se, e que era a república dos
sonhos de Euclides da Cunha durou relativamente pouco quanto aos seus ideais. Os ideais dos
homens que fizeram a sua propaganda e conseguiram levar Deodoro da Fonseca, sem saber muito
bem o que estava fazendo, a proclamar o novo regime, destruindo a monarquia.



Fernando Campos

E é nesse momento que surge um livro violento, selvagem, descobrindo o Brasil. Dizendo não é isso
que é o Brasil. E me parece que é esse o momento de se pegar Euclides
e através de Euclides, se redescobrir o Brasil.



Letreiro

Evento promovido pelo filme Samba enredo “Os Sertões” de Edeor de Paula marcados pela própria
natureza o nordeste do meu Brasil.

Oh, solitário sertão de sofrimento e solidão a terra é seca mal se pode cultivar morrem as plantas e
falta o ar a vida é triste nesse lugar sertanejo é forte supera a miséria sem fim sertanejo homem
forte dizia o poeta assim foi num século passado no interior da bahia



Leila Richers

Quando recebe das mãos de Machado de Assis a comunicação do seu ingresso para a Academia
Brasileira de Letras, no rol dos grandes literatos da nação, Euclides agradecido, declara: Euclides



Leila Richers

Não sei de nenhum posto mais elevado nesse país. Aquele que souber articular bem as palavras
e tenha no estilo, a contextura unida, nítida e impoluta dos cristais e souber citar com clareza seus
sentimentos, terá todo o poder.



Nelson Pereira dos Santos

Todo ano nós íamos para São José do Rio Pardo. Discutíamos Os Sertões. Conheci o Glauber, que
também foi muito influenciado pelo Euclides. "Os Sertões", a obra "Os Sertões" está nos
fundamentos do Cinema Novo.



Breno Moroni
A Paz é Dourada – versão em português
A estrutura desse filme é uma estrutura de cinema mais que novo. É contemporâneo. O nosso
contemporâneo é um contemporâneo de crises, um momento de austeridade no país. Essa
produção não é uma produção rica. Ela está sendo feita com recortes. É uma colcha de retalhos.



Erick Sanz

O filme atinge espaços dentro da população que muitas vezes os próprios livros e a própria literatura
não atinge. Nesse sentido, sendo um filme inclusive com censura livre, para todas as faixas etárias
eu acredito que ele possa divulgar, possa atingir maior número de pessoas.



Joel Bicalho Tostes

Isso vai servir profundamente para difundir o euclidianismo, difundir São José do Rio Pardo,
Cantagalo e todos os locais onde ele viveu.



Luiz Antônio Chacra

Nós temos uma equipe da pesada. Entre eles nós temos o Régis Monteiro que é um dos maiores
cenógrafos do nosso cinema. Tem mais de 60 longa metragens, grandes títulos, como era gostoso o
meu francês, ganga zumba...



Locutor da rádio de São José do Rio Pardo

Hoje é um dia muito especial porque hoje a cidade comemora os 83 anos da nossa ponte, da ponte
de Euclides da Cunha e para esta festa da ponte mais uma vez estão aqui muitos convidados na
cidade



Leila Richers

Em São José do Rio Pardo onde Euclides escreveu “Os Sertões” acontece sem interrupções
anualmente desde 1912, um culto a esse homem e à sua obra prima. O ritual de celebração desse
culto foi elevado a categoria de festa oficial da cidade e do estado de São Paulo, tornando-se um
modelo, um exemplo notável de invenção de uma tradição no Brasil.

Os rio-pardenses consideram a cidade berço do livro monumento nacional e conseguiram em 1982,
permissão da família para guardar para sempre os restos mortais do escritor.



Regina Abreu

Ele comparava Canudos com o movimento que havia ocorrido na França, há muitos anos atrás na
região da Vendéa. Um movimento contra revolucionário da revolução francesa. Então ele, quando vai
A Paz é Dourada – versão em português
a Canudos, quando ele volta, quando vem para São José e pensa sobre tudo aquilo que ele viveu,
decide dar o nome de “Os Sertões”.



Noilton Nunes

O filme é baseado nesse personagem aqui. Chama-se fronteiras porque tenta atravessar esse
período que saí do final da monarquia e entra no começo da república. É muito semelhante ao que
estamos vivendo hoje. Nós estamos passando por um momento difícil da história do Brasil e
entrando numa nova república.



Euclides – Noilton Nunes

        Não é essa a República dos nossos sonhos. A República pela qual lutamos. As nossas elites
estão cegas aos quadros reais das nossas vidas. Vivemos em pleno colonato espiritual. Hoje no
Brasil, quem tem consciência, quem estuda, quem pensa, é cada vez mais enxotado pelos
medíocres que passam por nós, nos afrontam e ocupam os melhores postos de decisão.
Transformaram nosso país num purgatório onde a brutalidade e a violência viraram rotinas, naturais,
normais. É a imbecilidade triunfante. O amor por princípio não faz parte mesmo da nossa bandeira.
Nós jogamos fora a sensibilidade, a educação, a polidez. Estamos nos condenando cotidianamente à
barbárie. nosso futuro e o futuro do Brasil como nação é uma incógnita.



Embaixador Arnaldo Carrilho

Em 1989, 35 milhões de eleitores brasileiros votaram em Fernando Collor. Uma das maiores
vergonhas históricas do Brasil. Precisamos ter bem em mente isso. Com relação ao cinema esse
homem foi de uma brutalidade total fechando no peito a Embrafilme. E ao extinguir um órgão
público cria o nada, cria o deserto.



Carlos Alberto de Mattos

O cinema bra Beto Brasiliensesileiro está vivendo um momento de fronteira. Fronteira entre um
modelo que faliu inapelavelmente; um modelo de embrafilme; castas, vícios, privilégios e um
modelo que está sendo talhado à faca, aqui e agora, quente e que a gente não sabe o que é. o que
vai ser. Esse ciclo “Cineasta do Mês”, uma iniciativa da Corisco Filmes e do Centro Cultural Banco do
Brasil com o apoio do Jornal do Brasil. A gente está começando esse ciclo hoje com Noilton Nunes.



Noilton Nunes

Euclides da Cunha foi fazer a demarcação das fronteiras entre o Brasil e o Peru. E é uma parte mais
desconhecida do trabalho dele. Ele fez essa expedição como engenheiro.
A Paz é Dourada – versão em português
Filme “Euclides da Cunha” de Humberto Mauro

A serviço do Itamaraty, ele chefiou a expedição de reconhecimento do Alto Purus. Publicaria anos
depois um relatório sobre sua missão e vários outros trabalhos de igual importância sobre a sua
aventura na Amazônia.



Noilton Nunes

Começou a escrever vários artigos sobre a Amazônia e livros, não chegando a terminar o grande livro
que ele esperava fazer sobre a Amazônia: Um Paraíso Perdido.



Tv Globo – Leilane Neubarth

Mas, você sabe quem era Euclides? Euclides era um estradeiro. Sonhava em ir ao Acre. Não queria
Paris, queria o Acre. Indo de barco, como um proeiro levando atrás a bandeira. Euclides preferia os
atoleiros ao palácio de Versailles. Sonhava nos sertões. Viajar, viajar, viajar até chegar no coração do
Acre. Mas, o segredo desse templo, Euclides não conheceu. Não provou o Daime, a Ayuasca
alucinógenos que trariam talvez a antevisão para escrever um outro épico como “Os Sertões”.



Barão do Rio Branco – Arnaldo Carrilho

Sem sombra de dúvidas é a maior área em litígio no mundo. Há trinta anos era uma inóspita terra de
ninguém. Nossos caboclos cearenses, em busca das seringueiras, as desbravaram. Conquistaram
essas remotas terras de fronteiras bem antes dos bolivianos e dos peruanos.



Euclides – Breno Moroni

Senhor ministro, nós sabemos que não é só por causa de umas árvores que estas terras estão sendo
cobiçadas. Além do látex capaz de cobrir todas as rodas dos automóveis do mundo inteiro, há
também inúmeras riquezas minerais e as plantas que serão as novas fontes de energia e os
remédios do futuro. O conflito é inevitável. Se o brilho das baionetas falar mais alto do que o debate
diplomático, teremos uma guerra mais terrível do que a do Paraguai e mais complexa do que a de
Canudos.



Barão do Rio Branco – Arnaldo Carrilho

Esta comissão tem muitos objetivos. Primeiramente evitar uma guerra absurda com o Peru. O
senhor é jornalista, escritor consagrado, engenheiro formado pela Escola Militar, realizou obras de
vulto, a ponte sobre o Rio Pardo é um trabalho exemplar.



Euclides – Breno Moroni
A Paz é Dourada – versão em português

Ponha-se no meio lugar, Aninha. Sabes que alimento há muito o sonho dessa viagem. Não agüento
mais essa agitação estéril da vida na capital. Se continuar aqui, nada mais produzirei de duradouro.

A Amazônia me fascina. Sei que encontrarei por lá o tema do meu novo livro. É a última página a
escrever-se do Gênesis. Um Paraíso Perdido Imagina, s’Aninha, um outro mundo possível brotando
no meio da floresta, Numa terra cobiçada por todo mundo. Sigo em missão de paz. O barão me
nomeou chefe da expedição. Chefe.



Noilton Nunes

Na Amazônia nós descobrimos uma comunidade, Isso há mais de dez anos,

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A história de Euclides da Cunha e Canudos

  • 1. A Paz é Dourada – versão em português A Paz é Dourada Leila Richers Era uma vez um menino chamado Euclides que vivia na Fazenda Saudade. Quando ele tinha três anos, o Leto escravo da fazenda, voltou da guerra do Paraguai. Euclides nem percebeu quando o Leto passou em direção a senzala, seguido por Abelão. Foi um dia muito estranho aquele. Ficou para sempre na memória do menino Euclides. Teste de elenco Escolha de Euclides criança. Alimento há muito o sonho de uma viagem ao Acre. Leila Richers Era uma vez o sonho de um filme de ficção inspirado na vida e obra desse menino que cresceu poeta, engenheiro, militar, jornalista e escritor. Euclides Rodrigues da Cunha nasceu em 1866 em Cantagalo, no interior da então província do Rio de Janeiro. Seu pai, Manoel Rodrigues Pimenta da Cunha, era guarda livros das fazendas de café que haviam se alastrado pelo vale do rio Paraíba do Sul. Sua mãe, Eudóxia Moreira da Cunha, era filha de um pequeno fazendeiro da região. No ano de nascimento de Euclides, dois fatos particularmente geravam inquietações no vale. Um se relacionava às primeiras crises do café, com a progressiva perda da fertilidade dos solos locais e o outro, era a guerra do Paraguai, que já durava dois longos anos. Com a morte da mãe, o pai de Euclides abandona a Fazenda Saudade. Deixa a filha Adélia de um ano, na fazenda de uma tia nas proximidades e Euclides na casa de outra tia, em Teresópolis. Ele então cresce pelas casas de parentes, ora em Teresópolis, ora em São Fidélis, ora em Salvador na casa dos avós e finalmente no Rio de Janeiro, onde pulando de colégio em colégio, na mais estranha instabilidade, chega a Escola Militar da Praia Vermelha. Osvaldo Galotti A avó paterna de Euclides da Cunha era descendente de tapuia e ele frisava isso, misto de celta, tapuia e grego. Ele aprendeu álgebra da maneira de mais alto nível na época, com o professor Trompowsky. Outra coisa que influiu muito, que ele aprendeu na Escola Militar e que influenciou demais na vida e na obra dele, foi geopolítica, matéria que na Escola Militar se estudava muito. E se nós percebermos “Os Sertões” é geopolítica. A viagem dele ao Alto Purus é geopolítica. Quer dizer: a geografia considerada sob um ponto de vista político, de melhorar a situação do povo.
  • 2. A Paz é Dourada – versão em português Tv Globo – Leilane Neubarth O livro “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, é o maior épico brasileiro. Conta a história da guerra de Canudos. Mas, “Os Sertões” é chamado dos livros difíceis. Pouquíssima gente leu. E como livro, o próprio Euclides também é um desconhecido. Agora, aqui vai uma pergunta: Como é que um homem que se preocupou tanto com as caras e com as cores do Brasil pode ser um anônimo? Bom, estão tentando explicar isso na Academia Brasileira de Letras. Lá começou a Semana Euclidiana, com uma missão, tirar Euclides do limbo, popularizar Euclides. E uma das formas é o filme “Fronteiras”, de Noilton Nunes, que começa a ser rodado em outubro. Esse filme vai falar de Euclides. Walnice Galvão No ginásio ele fazia sonetos tendo como tema os grandes nomes da revolução francesa, como Robespierre, Danton, Marrat e Saint Juste. Leila Richers Euclides, na Escola Militar, foi colega de Cândido Rondon e de outros pacifistas que consideravam a ciência da paz muito mais fecunda para a humanidade que a ciência da guerra. Letreiro “Morrer se preciso for; matar, nunca.” Rondon Walnice Galvão Euclides se tornou um ardente ativista do advento da República. A Escola Militar, onde Benjamin Constant era professor, era um bastião de agitação política contra o Império e a favor da instauração da República. Da república, os homens como Euclides esperavam a revolução burguesa de modelo europeu e o fim dos privilégios. As pessoas passariam a ter direitos iguais e não mais depender de favores dos privilegiados. Corria o ano de 1888 e um grupo de alunos combina fazer um ato de protesto contra a monarquia, por ocasião da visita do ministro da guerra. Quando o ministro passasse em revista a tropa, os alunos ao invés de apresentar armas ante as autoridades, quebrariam seus sabres. Na hora, só Euclides executou o ato de protesto, no qual tentou quebrar o seu sabre; não conseguiu e atirou-o ao chão, aos pés do ministro. Letreiro
  • 3. A Paz é Dourada – versão em português Abaixo o Império. Viva a República. Walnice Galvão Esse ativismo de Euclides veio a ser a causa de sua expulsão da escola. A proclamação da República em 15 de novembro de 1889 marca sua reabilitação. Benjamin Constant, que é o novo ministro da guerra, reintegra Euclides no Exército e ele pode se formar como engenheiro militar, com a patente de tenente. Leila Richers Euclides passa de louco a herói. Torna-se conhecido como o destemido cadete que desafiou o império. Na primeira festa da República, na casa do major Sólon Ribeiro, o oficial de confiança do marechal Deodoro, Euclides conhece Ana, filha do major. Apresentado a ela como o herói da Escola Militar, Euclides, encantado com a beleza da moça, deixa nas mãos dela um bilhete que funcionaria como um original pedido de casamento: Letreiro Ana, entrei aqui com a imagem da República; saio com a sua. Euclides Leila Richers Mas logo depois veio a sua primeira grande decepção com o novo governo. Quando viu a bandeira nacional criada pelos republicanos, ficou triste e muito preocupado com o futuro do Brasil e dos brasileiros. O lema positivista – o amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim tinha sido decapitado. O amor por princípio cortado e jogado na lata de lixo da história. Euclides termina seus estudos na Escola Militar e parte em busca de novos caminhos, consegue trabalho no jornal O Estado de São Paulo. Dali o destino desenha, como uma conseqüência natural, seu encontro com os sertões de canudos. Euclides – Breno Moroni A viagem correu rápida num trem ruidoso e festivo, velozmente arrebatado por uma locomotiva possante e, ao traçar essas notas rápidas no diário, não tenho sobre o dólmã nenhuma partícula de pó. Leila Richers
  • 4. A Paz é Dourada – versão em português Após a longa espera de quase um mês, em que o jornalista se preparou, recolhendo informações sobre Canudos, Antônio Conselheiro e a região dos sertões, finalmente, no dia 31 de agosto de 1897, Euclides partiu adentrando pelo interior da Bahia. Nessa viagem, ele não perdeu um minuto sequer. Nada lhe passou despercebido, demonstrando grande disposição para o conhecimento científico e enorme curiosidade sobre a vida sertaneja. As anotações sucediam-se desordenadas, procurando registrar todos os aspectos, nos mais diversos planos: botânica, geologia, geografia, sociologia, aspectos locais da língua portuguesa, detalhes arquitetônicos, costumes. Bastante excitado, o viajante descobriu o sertão, Ou melhor, tinha início a invenção euclidiana de Os Sertões. Filme “Euclides da Cunha” de Humberto Mauro Euclides da Cunha, na qualidade de correspondente especial do jornal O Estado de São Paulo, parte para Canudos para documentar os dias decisivos da campanha que lhe serviria de roteiro para seu livro monumental. Monte Santo é um lugar lendário, descreve ele, imponente templo de fé, mas que a partir da data em que lá entraram os expedicionários, ia se celebrizar como base das operações de todas as arremetidas contra canudos. A religiosidade ingênua dos matutos ali talhou, em milhares de degraus folheantes, em caracol, pelas ladeiras sucessivas, aquela vereda branca de sílica, longa demais, de dois quilômetros, como se construíssem uma escada para os céus. Euclides – Carlos Minc O homem, de fato, assumiu em todo o decorrer da história, o papel de um terrível fazedor de desertos. Atacou a fundo a terra. esterilizou-a, feriu-a, degradou-a e deixou-a aqui e ali, para sempre, estéreis, vazias, tristonhas. Imaginem-se o resultado de semelhantes processos aplicados sem variantes, no decorrer dos séculos. Euclides – Antônio Grassi Fez-se talvez o deserto. Mas, podemos extingui-lo ainda corrigindo o passado. E a tarefa não é insuperável. Abarreirados os vales inteligentemente escolhidos, em pontos intervalados por toda a extensão do território sertanejo, numerosos e pequeninos açudes, uniformemente distribuídos, teriam naturalmente no correr dos tempos a influência moderadora de um mar interior, de importância extrema. Euclides – Noilton Nunes Que pelas estradas ora abertas à passagem dos batalhões gloriosos, que por essas estradas amanhã silenciosas e desertas, siga depois da luta, modestamente um herói anônimo, sem triunfos ruidosos, mas que será o verdadeiro vencedor: o mestre escola. Euclides
  • 5. A Paz é Dourada – versão em português O sertanejo é antes de tudo um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênico do litoral. A sua aparência entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário. Falta-lhe a plástica impecável, o desempeno, a estrutura corretíssima das organizações atléticas. Euclides – Quim Negro O planalto central do Brasil desce dos litorais do sul em escarpas inteiriças, altas e abruptas; assoberba os mares e desata-se em chapadões nivelados pelos visos das cordilheiras marítimas. Filme “Euclides da Cunha” de Humberto Mauro O centro da vida era Canudos e o de Canudos era o rio Vaza Barris, explica o ensaísta euclidiano Olimpio de Souza Andrade. E prossegue, hoje não mais podemos ver a cidadela primitiva. Dela quase nada restou. Tudo se esfacelando sob terríveis combates entre as tropas do governo e os fanáticos de Conselheiro. Numa das partes altas da cidadela famosa encontrava-se a igreja nova, que assim ficou ao final da luta. Só ruínas. Uma idéia dantesca do que foi aquilo tudo para os dois lados da refrega. Um tremendo equívoco como mais tarde se reconheceu. Euclides – Noilton Nunes Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda história. Resistiu até o esgotamento completo, expugnado palmo a palmo na precisão integral do termo. Caiu ao entardecer quando caíram seus últimos defensores, que todos morreram. eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados. Forremo-nos de descrever os seus últimos momentos. Nem poderíamos fazê-lo. Essa página imaginamo-la sempre profundamente emocionante e trágica. Mas, cerramo-la vacilante e sem brilhos, como quem vinga uma montanha altíssima. No alto, a par de uma perspectiva maior, a vertigem. Ademais não desafiaria a incredulidade do futuro a narrativa de pormenores em que se amostrassem mulheres precipitando-se nas fogueiras dos próprios lares, abraçadas aos filhos pequeninos. Leila Richers Mas, afinal que livro é esse? O que ele conta de tão importante que permaneceu no imaginário nacional? O foco central do livro é a guerra de Canudos que ocorreu nos sertões da Bahia. Foram quatro anos de um dos mais cruéis e sangrentos conflitos ocorridos no início da república brasileira. O arraial de Canudos surgiu em 1893 numa fazenda abandonada às margens do rio Vaza Barris. Sua população formava uma congregação religiosa sob a liderança do beato Antônio Conselheiro. Leitora Vestia túnica de azulão. Tinha a cabeça descoberta e empunhava um bordão. Os cabelos crescidos sem nenhum trato a cair sobre os ombros. As barbas grisalhas, mais para brancas. Os olhos fundos raramente levantados para fitar alguém.
  • 6. A Paz é Dourada – versão em português Roberto Ventura A região é até hoje um lugar de muitos conflitos de terra. Há um movimento de sem terras, conflitos com fazendeiros, ou com proprietários de terras da região. A questão levantada por Antônio Conselheiro continua até hoje e aliás, do mesmo jeito que há um culto a Euclides da Cunha em São José do Rio Pardo, há um culto a Conselheiro em Canudos que todo ano se realiza em novembro. Marcelo Rubens Paiva Canudos não existe mais, está debaixo d’água, né? Roberto Ventura Existe a chamada Nova Canudos... Leila Richers Euclides fala em Os Sertões: “Estamos condenados à civilização. ou progredimos ou desaparecemos”. Esta frase mostra toda a angustia que Euclides vivia naquele momento. O que ele enxerga? Ele vê um grupo de sertanejos, uma população que ele vai aprendendo a admirar e reflete: Para se fazer o progresso, para se chegar à civilização é preciso extinguir esses grupos? É preciso acabar com eles? Coro de soldados Canudos foi destruída. Viva a República Viva! Coro feminino Canudos não se rendeu.Canudos não se rendeu. Leila Richers Em 1898 um anos depois de terminada a guerra, Euclides é designado pela Superintendência de Obras do Estado de São Paulo para reconstruir uma ponte de ferro que tombara durante uma enchente em São José do Rio Pardo no interior do estado. Muda-se para lá com Ana e os dois filhos. Como o trabalho da ponte exigia presença permanente ele ergue perto do canteiro de obras, uma pequena cabana de tábuas velhas e telhado de zinco, debaixo de uma paineira. O tempo que lhe sobra desse trabalho é dedicado a escrever sobre o que presenciara no interior da Bahia. Recebe o apoio de intelectuais da região como o do prefeito da cidade, Francisco Escobar, que coloca sua biblioteca particular à disposição do engenheiro Euclides. São três anos simultaneamente comandando os trabalhos para a reconstrução da ponte e a criação do livro. Euclides – Noilton Nunes
  • 7. A Paz é Dourada – versão em português Acredito no futuro estabelecimento de uma perfeita solidariedade universal envolvendo por inteiro a humanidade. Precisamos de uma forte arregimentação de vontades e de uma sólida convergência de esforços para essa grande transformação indispensável. Porque seu triunfo é inevitável. Garantem-no as leis positivas da sociedade que criarão o reinado tranqüilo das ciências e das artes. Fontes de um capital maior, indestrutível e crescente, formado pelas melhores conquistas do espírito e do coração. Como é forte essa alavanca, a idéia, que levanta sociedades inteiras; derriba tiranias seculares. A idéia que nos orienta tem o atributo característico das grandes verdades: é simples. Estudá-la é uma operação que requer mais que as fantasias da imaginação; a frieza do raciocínio. Analisá-la dia a dia é uma operação idêntica a análise da luz. A idéia é a moeda do futuro. A idéia é a moeda do futuro. Leila Richers Ao final de 1901, Euclides dá por terminadas as duas grandes obras: a ponte foi reerguida e está finalmente pronto o livro vingador. “Os Sertões” tornou-se um clássico e Euclides da Cunha passou a figurar ao lado de Machado de Assis como um dos grandes escritores Nomes da literatura brasileira. Emmanuel Cavalcanti Esta fatalidade inexorável. De fato os seus ciclos, por que o são, no rigorismo técnico do termo, abrem-se e encerram-se com um ritmo notável que recordam o desdobramento de uma lei natural ainda ignorada. “Os Sertões” a obra magnânima da literatura em português; da literatura universal. É o Brasil que palpita. Força completa de um dos maiores escritores da humanidade. Nascido no estado do Rio de Janeiro, essa glória infinda das letras humanas, do grande texto brasileiro para o mundo. Leila Richers O sucesso de “Os Sertões” é tão grande que o livro conta com mais de 30 edições em português e já foi traduzido para diversos idiomas. Mas, será que passados cem anos ele conserva sua atualidade? Tarcísio Padilha O livro “Os Sertões” continua a representar hoje a chamada “bíblia da nacionalidade”. A ele devemos o conhecimento maior do Brasil pelos brasileiros. Isto é dizer pois, que a sua figura é um monumento. sua obra “Os Sertões” é a catedral das nossas letras. Antonio Houaiss
  • 8. A Paz é Dourada – versão em português Mas, um homem que abriu os horizontes do Século XX para a língua portuguesa no Brasil e possivelmente para a língua portuguesa na lusofonia. Para mim, ele é um dos grandes usuários da língua portuguesa em todos os tempos. Gerardo Mello Mourão Parece oportuno dizer duas palavras sobre o significado de cultura e civilização. Vamos tratar de Euclides como fundador da cultura brasileira. Duas palavras sobre cultura e civilização para deixar claro que uma obra e um homem podem fundar uma cultura. Leandro Tocantins O Ministério da Cultura devia ter como patrono Euclides da Cunha. Porque foi Euclides da Cunha quem primeiro se rebelou contra nosso colonato intelectual. Há uma frase em que ele diz que estamos acostumados a pensar em inglês, alemão e francês. Foi um homem que rejeitou todas as viagens que se lhe ofereceram para a Europa... E ele mesmo dizia: a minha grande vontade, a minha grande aspiração é ir ao Acre Eduardo Portella Esse livro se intitula “Contrastes e Confrontos”. Ele procura entender a diferença. Procura andar pelo Brasil como uma espécie de engenheiro nômade e compreender estes diferentes brasis. E evidentemente as suas conexões latino americanas Adelino Brandão Ele discute o problema do Acre onde os Estados Unidos e a Bolívia fizeram um trato para criar um caso bélico com o Brasil e no momento em que esse conflito se estabelecesse os Estados Unidos encampariam a causa da Bolívia. Forneceriam armas, exército e munição para conquistar o acre, que então seria uma terra de ninguém. E ele denunciou esse problema e esse problema continuou existindo através da república. José Celso Martinez Correa Na escritura da “Terra”, tem uma sensualidade, tem exatamente uma sensualidade de língua uma verbosidade que se percebe se é lido coro. Aliás, é pena. Se nós tivéssemos aqui vários exemplares de “Os Sertões” a gente ia fazer uma experiência erótica deliciosa. Nós íamos começar lambendo a terra brasileira, íamos entrar pelos meandros dela, pelas curvaturas, pelas cavernas... íamos fazer uma experiência de delírio imenso. Austregésilo de Athayde
  • 9. A Paz é Dourada – versão em português A primeira república, aquela que o povo assistiu bestificado, proclamar-se, e que era a república dos sonhos de Euclides da Cunha durou relativamente pouco quanto aos seus ideais. Os ideais dos homens que fizeram a sua propaganda e conseguiram levar Deodoro da Fonseca, sem saber muito bem o que estava fazendo, a proclamar o novo regime, destruindo a monarquia. Fernando Campos E é nesse momento que surge um livro violento, selvagem, descobrindo o Brasil. Dizendo não é isso que é o Brasil. E me parece que é esse o momento de se pegar Euclides e através de Euclides, se redescobrir o Brasil. Letreiro Evento promovido pelo filme Samba enredo “Os Sertões” de Edeor de Paula marcados pela própria natureza o nordeste do meu Brasil. Oh, solitário sertão de sofrimento e solidão a terra é seca mal se pode cultivar morrem as plantas e falta o ar a vida é triste nesse lugar sertanejo é forte supera a miséria sem fim sertanejo homem forte dizia o poeta assim foi num século passado no interior da bahia Leila Richers Quando recebe das mãos de Machado de Assis a comunicação do seu ingresso para a Academia Brasileira de Letras, no rol dos grandes literatos da nação, Euclides agradecido, declara: Euclides Leila Richers Não sei de nenhum posto mais elevado nesse país. Aquele que souber articular bem as palavras e tenha no estilo, a contextura unida, nítida e impoluta dos cristais e souber citar com clareza seus sentimentos, terá todo o poder. Nelson Pereira dos Santos Todo ano nós íamos para São José do Rio Pardo. Discutíamos Os Sertões. Conheci o Glauber, que também foi muito influenciado pelo Euclides. "Os Sertões", a obra "Os Sertões" está nos fundamentos do Cinema Novo. Breno Moroni
  • 10. A Paz é Dourada – versão em português A estrutura desse filme é uma estrutura de cinema mais que novo. É contemporâneo. O nosso contemporâneo é um contemporâneo de crises, um momento de austeridade no país. Essa produção não é uma produção rica. Ela está sendo feita com recortes. É uma colcha de retalhos. Erick Sanz O filme atinge espaços dentro da população que muitas vezes os próprios livros e a própria literatura não atinge. Nesse sentido, sendo um filme inclusive com censura livre, para todas as faixas etárias eu acredito que ele possa divulgar, possa atingir maior número de pessoas. Joel Bicalho Tostes Isso vai servir profundamente para difundir o euclidianismo, difundir São José do Rio Pardo, Cantagalo e todos os locais onde ele viveu. Luiz Antônio Chacra Nós temos uma equipe da pesada. Entre eles nós temos o Régis Monteiro que é um dos maiores cenógrafos do nosso cinema. Tem mais de 60 longa metragens, grandes títulos, como era gostoso o meu francês, ganga zumba... Locutor da rádio de São José do Rio Pardo Hoje é um dia muito especial porque hoje a cidade comemora os 83 anos da nossa ponte, da ponte de Euclides da Cunha e para esta festa da ponte mais uma vez estão aqui muitos convidados na cidade Leila Richers Em São José do Rio Pardo onde Euclides escreveu “Os Sertões” acontece sem interrupções anualmente desde 1912, um culto a esse homem e à sua obra prima. O ritual de celebração desse culto foi elevado a categoria de festa oficial da cidade e do estado de São Paulo, tornando-se um modelo, um exemplo notável de invenção de uma tradição no Brasil. Os rio-pardenses consideram a cidade berço do livro monumento nacional e conseguiram em 1982, permissão da família para guardar para sempre os restos mortais do escritor. Regina Abreu Ele comparava Canudos com o movimento que havia ocorrido na França, há muitos anos atrás na região da Vendéa. Um movimento contra revolucionário da revolução francesa. Então ele, quando vai
  • 11. A Paz é Dourada – versão em português a Canudos, quando ele volta, quando vem para São José e pensa sobre tudo aquilo que ele viveu, decide dar o nome de “Os Sertões”. Noilton Nunes O filme é baseado nesse personagem aqui. Chama-se fronteiras porque tenta atravessar esse período que saí do final da monarquia e entra no começo da república. É muito semelhante ao que estamos vivendo hoje. Nós estamos passando por um momento difícil da história do Brasil e entrando numa nova república. Euclides – Noilton Nunes Não é essa a República dos nossos sonhos. A República pela qual lutamos. As nossas elites estão cegas aos quadros reais das nossas vidas. Vivemos em pleno colonato espiritual. Hoje no Brasil, quem tem consciência, quem estuda, quem pensa, é cada vez mais enxotado pelos medíocres que passam por nós, nos afrontam e ocupam os melhores postos de decisão. Transformaram nosso país num purgatório onde a brutalidade e a violência viraram rotinas, naturais, normais. É a imbecilidade triunfante. O amor por princípio não faz parte mesmo da nossa bandeira. Nós jogamos fora a sensibilidade, a educação, a polidez. Estamos nos condenando cotidianamente à barbárie. nosso futuro e o futuro do Brasil como nação é uma incógnita. Embaixador Arnaldo Carrilho Em 1989, 35 milhões de eleitores brasileiros votaram em Fernando Collor. Uma das maiores vergonhas históricas do Brasil. Precisamos ter bem em mente isso. Com relação ao cinema esse homem foi de uma brutalidade total fechando no peito a Embrafilme. E ao extinguir um órgão público cria o nada, cria o deserto. Carlos Alberto de Mattos O cinema bra Beto Brasiliensesileiro está vivendo um momento de fronteira. Fronteira entre um modelo que faliu inapelavelmente; um modelo de embrafilme; castas, vícios, privilégios e um modelo que está sendo talhado à faca, aqui e agora, quente e que a gente não sabe o que é. o que vai ser. Esse ciclo “Cineasta do Mês”, uma iniciativa da Corisco Filmes e do Centro Cultural Banco do Brasil com o apoio do Jornal do Brasil. A gente está começando esse ciclo hoje com Noilton Nunes. Noilton Nunes Euclides da Cunha foi fazer a demarcação das fronteiras entre o Brasil e o Peru. E é uma parte mais desconhecida do trabalho dele. Ele fez essa expedição como engenheiro.
  • 12. A Paz é Dourada – versão em português Filme “Euclides da Cunha” de Humberto Mauro A serviço do Itamaraty, ele chefiou a expedição de reconhecimento do Alto Purus. Publicaria anos depois um relatório sobre sua missão e vários outros trabalhos de igual importância sobre a sua aventura na Amazônia. Noilton Nunes Começou a escrever vários artigos sobre a Amazônia e livros, não chegando a terminar o grande livro que ele esperava fazer sobre a Amazônia: Um Paraíso Perdido. Tv Globo – Leilane Neubarth Mas, você sabe quem era Euclides? Euclides era um estradeiro. Sonhava em ir ao Acre. Não queria Paris, queria o Acre. Indo de barco, como um proeiro levando atrás a bandeira. Euclides preferia os atoleiros ao palácio de Versailles. Sonhava nos sertões. Viajar, viajar, viajar até chegar no coração do Acre. Mas, o segredo desse templo, Euclides não conheceu. Não provou o Daime, a Ayuasca alucinógenos que trariam talvez a antevisão para escrever um outro épico como “Os Sertões”. Barão do Rio Branco – Arnaldo Carrilho Sem sombra de dúvidas é a maior área em litígio no mundo. Há trinta anos era uma inóspita terra de ninguém. Nossos caboclos cearenses, em busca das seringueiras, as desbravaram. Conquistaram essas remotas terras de fronteiras bem antes dos bolivianos e dos peruanos. Euclides – Breno Moroni Senhor ministro, nós sabemos que não é só por causa de umas árvores que estas terras estão sendo cobiçadas. Além do látex capaz de cobrir todas as rodas dos automóveis do mundo inteiro, há também inúmeras riquezas minerais e as plantas que serão as novas fontes de energia e os remédios do futuro. O conflito é inevitável. Se o brilho das baionetas falar mais alto do que o debate diplomático, teremos uma guerra mais terrível do que a do Paraguai e mais complexa do que a de Canudos. Barão do Rio Branco – Arnaldo Carrilho Esta comissão tem muitos objetivos. Primeiramente evitar uma guerra absurda com o Peru. O senhor é jornalista, escritor consagrado, engenheiro formado pela Escola Militar, realizou obras de vulto, a ponte sobre o Rio Pardo é um trabalho exemplar. Euclides – Breno Moroni
  • 13. A Paz é Dourada – versão em português Ponha-se no meio lugar, Aninha. Sabes que alimento há muito o sonho dessa viagem. Não agüento mais essa agitação estéril da vida na capital. Se continuar aqui, nada mais produzirei de duradouro. A Amazônia me fascina. Sei que encontrarei por lá o tema do meu novo livro. É a última página a escrever-se do Gênesis. Um Paraíso Perdido Imagina, s’Aninha, um outro mundo possível brotando no meio da floresta, Numa terra cobiçada por todo mundo. Sigo em missão de paz. O barão me nomeou chefe da expedição. Chefe. Noilton Nunes Na Amazônia nós descobrimos uma comunidade, Isso há mais de dez anos,