O documento discute o método marxista, enfatizando que (1) Marx parte da realidade empírica para identificar as determinações subjacentes por meio de abstrações sucessivas, (2) a ontologia está acima da epistemologia em Marx, com foco no conhecimento do ser social, (3) o método dialético de totalidade é essencial para compreender as partes em sua articulação no todo.
2. A discussão do método nas ciências humana
e sociais é complicadíssima e em Marx
especialmente isso se torna mais complexo
no marxismo.
O referencial teórico marxista implica numa
determinada posição política em relação
aquilo que tá posto.
3. Outro problema é achar que o fim do
socialismo real era também o fim da teoria
marxista.
Mesmo no âmbito do pensamento
progressista avançou equivocadamente. Se
atribuiu a Marx um problema que transcende
o fim do socialismo.
Há uma crítica pós-moderna que atribui os
problemas que temos hoje a construção da
razão moderna.
4. O Marx é um pensador na modernidade.
Esse pensamento pós-moderno não faz uma
distinção entre as diferentes visões da
modernidade. Tem viés que faz uso da razão
instrumental (positivismo) e também teve um
perfil revolucionário. Tratam Conte e Marx
como se fossem a mesma coisa.
O marxismo hoje em dia é uma teoria avessa
a ambiência cultural contemporânea.
5. O debate pós-moderno tem reduzido o
debate a disputa epistemológico.
Marx tem preocupações epistemológicos.
Mas a preocupação central de Marx é de
caráter Ontológico.
O epstemologismo reduz o homem ao
conhecer. De maneira a reduzir a linguagem,
a ciência a jogos de linguagem e a conceitos
intersubjetivos. Porque o real deixa de ser
referencia para elaboração de enunciados
científicos e teóricos.
6. Não queremos diminuir a importância da
epistemologia, mas em Marx a epistemologia
está subsumida a ontologia.
A ontologia é um ramo da filosofia que
estuda a teoria do ser. O que os seres são.
Entre aquilo que os seres são está também a
capacidade de conhecer, que é o ramo da
epstemologia.
7. Como se dá a relação sujeito-objeto na
apropriação do conhecimento. Na
apropriação ideal do movimento do real.
Atualmente estamos muitos inseridos dentro
de um debate epistemológico.
O que os seres são sob determinado contexto
histórico. O esforço investigativo de Marx não
foi de debater o de como conhecer, mas o de
conhecer determinado objeto.
8. Mas há em Marx pequenos apontamentos
metodológicos na Miséria da filosofia e a
introdução de 1857.
Marx não quer criar uma nova ciência da
lógica, mas entender a lógica da sociedade
(burguesa).
9. Na universidade Marx se filia juventude
hegeliana.
As circunstancias políticas mudam.
Nomeação de Schelling principal inimigo de
Hegel.
Marx vai trabalhar na gazeta Renana, se torna
editor chefe.
E vai ‘cobrir’ um acontecimento no sul da
Alemanha.
11. Havia um direito consuetudinário, naquela
região, que concedia aos pobres da região o
direito de adentrar nas propriedades rurais
que produziam lenha e catar os restos que
não eram aproveitados.
Marx na condição de jornalista é chamado a
noticiar o acontecimento.
Ele escreve um artigo no qual ele se coloca do
lado dos catadores de lenha.
14. No entanto Marx percebe que seu referencial
teórico (até então hegeliano) diverge da sua
opinião. Hegel defendia a propriedade
privada.
Marx se vê numa encruzilhada, se coloca a
favor dos catadores por questão de princípio
mas do ponto de vista teórico não tem
clareza a respeito do que tinha escrito.
16. Marx tem um objeto de estudo a partir dessa
diacronia: Que tipo de sociedade é essa em
que a propriedade vem primeiro que as
pessoas?
A gênese do objeto marxista
A primeira hipótese que ele tem é que isso
tem a ver com a política.
17. E portanto o primeiro movimento de entender
esse objeto vai ser no sentido de entender
quais as determinações de ordem política que
atuam nesse problema.
Marx nesse processo inicial tá preocupa em
conhecer um determinado objeto, uma
determinada de ser. O que é essa ordem
social e o que somos nela?
18. Toda carreira do Marx a partir daí vai ser pra
se enriquecer como sujeito investigador pra
entender esse objeto. (nesse objeto já
aparece a questão ontológica).
Marx cria seu arsenal categorial tentando
entender aquele objeto que ele se pôs: A
sociedade burguesa.
19. Ele vai pra sua lua de mel, achando que o
problema está na política, na relação Estado e
sociedade civil (em partes ainda, influenciado
pela crítica da filosofia do direito de Hegel).
A partir da influência de Feuerbach chega a
seguinte conclusão: “Em Hegel Estado e
Sociedade Civil estão invertidos. O que é
predicado aparece como sujeito e o que é
sujeito aparece como predicado”.
21. Assim como Feuerbach fez na essência do
cristianismo, quando diz que não foi deus
que criou os homens, mas sim os homens
que criaram deus e se alienaram a ele e
deixando de ser sujeito e se coloca como
predicado.
Marx faz a mesma coisa ao entender a
relação entre sociedade civil e Estado.
Discussão que vem desde Maquiavel.
23. Hegel tinha a mesma apreensão da sociedade
civil que a de Hobbes. Entende a sociedade
como um todo caótico formado por “lobos” e
que cabe ao Estado organizar essas paixões.
Marx tem uma grande e primeira sacada.
Sociedade civil e Estado constituí uma mesma
unidade.
O Estado é a expressão jurídica de uma
determinada sociedade civil.
24. Eu não vou entender o que é o Estado e o que
é a política se eu não entender o que é essa
sociedade civil. A sociedade civil burguesa.
Fecha a Gazeta Renana e se põe num
processo de auto exílio.
Lá encontra outros refugiados alemães e
franceses que militam no movimento
socialista.
25. Funda a revista, Anais franco-alemães.
Recebe pela primeira vez um texto que trata
de uma crítica a economia política, esse texto
cai como um raio para Marx.
Esse esboço era de Friedrich Engels. Ele vai
perceber que ele não pode entender o Estado
sem entender a sociedade civil.
28. Os primeiros resultados desses estudos
iniciais de economia política vai estar
presente nos Manuscritos, onde ele trata da
Alienação do Trabalho.
Já resultado da sua aproximação do debate
da economia política.
Depois de ler Smith e Ricardo, Marx escreve A
Miséria da Filosofia, e desenvolve a categoria
da totalidade.
29. “De início pode ser adiantado que se
determinado fato é um todo composto de
partes, leis e relações conectadas entre si e
em movimento, resulta que
adesarticulação e a fragmentação desse
todo opera uma amputação do mesmo e
elimina a possibilidade de conhecê-lo como
tal. O conhecimento de uma região do todo
não é ainda conhecimento do todo, porque
o conhecimento de partes isolados do
conjunto não é conhecimento nem das
partes e nem do conjunto”.
30. O próprio Marx dá inúmeros exemplos da justeza
dessa assertiva, que revela uma questão de método,
e é esse o procedimento que ele emprega, em O
Capital, na construção do próprio conceito de
capital. (5) Em O Capital, com efeito, o conceito
de capital (entre outros) construído no “Livro I” só
serve para elucidar toda a análise teórica
intermediária e que, num crescendo, vai atingir sua
concretude máxima no “Livro III”, quando aquele
conceito inicial deve dar lugar ao conceito de capital
finalmente entendido no âmbito das determinações
mais concretas - de modo que “(...) os dois primeiros
tomos não ultrapassam a análise do ‘capital em
geral’, enquanto o terceiro supera esse limite,
fazendo a passagem para a análise da ‘pluralidade
de capitais’ e de suas inter-relações, ou seja, do
capital que existe ‘na realidade’” (Rodolsky, 2001,
p.69).
31. Por exemplo: a mercadoria e, dentro dela,
trabalho, valor, mais-valia etc., são os
elementos simples decisivos, na ausência dos
quais, todavia, sem viagem de retorno, jamais
o analista lograria caracterizar o todo
(população, sociedade etc.) como uma síntese
verdadeiramente dialética.
32. O capital, de Marx, começa (...) com a análise da
mercadoria. Mas, como a mercadoria é uma célula
da sociedade capitalista, como é o início abstrato
cujo desenvolvimento reproduz a estrutura interna
da sociedade capitalista, tal início da interpretação
é o resultado de uma investigação, o resultado da
apropriação científica da matéria. Para a sociedade
capitalista a mercadoria é a realidade absoluta,
visto que ela é a unidade de todas as
determinações, o embrião de todas as contradições
(...). Todas as determinações ulteriores constituem
mais ricas definições ou concretizações deste
“absoluto” da sociedade capitalista (...). Na
investigação o início é arbitrário... (idem, o. 31-32).
33. Método da economia política. O ponto de
partida é o concreto. A realidade empírica do
real. A aparência fenômica do real.
Sua materialidade imediata do real.
A femenologia coloca a dúvida se existe
diferença entre a aparência e a essência.
34. Marx diz, que se a aparência correspondesse
imediatamente a essência do fenômeno não
haveria necessidade da existência da ciência.
A ciência se faz necessária por que aparência
e essência não coincide imediatamente.
A aparência sinaliza e revela, mas por outro
lado mistifica, esconde, oculta, e ela
necessita ser superada.
35. Para superar é preciso Negá-la e negar não é
o cancelamento da aparência. Mas é cancela-
la temporariamente.
A aparência é um dos momentos do real, mas
não é toda verdade.
É necessário, por meio de abstrações,
identificar o que há pra além da expressão
fenomênica imediata (aparência).
36. Para Marx cabe a abstração ir além do dado
inicial, que por carecer de determinações
encontra-se demasiadamente abstrato.
Ex. da Cadeira, o concreto imediato. A
cadeira é objeto que você se senta, mas
minha cadeira é mais confortável que a de
vocês. Cadeira também representa um
hierarquia social. A cadeira do vendedor, do
gerente do diretor e do dono são diferentes.
37. Se eu tomo que cadeira é um objeto no qual
se senta, me parece que por essa definição
que todas as cadeiras são iguais.
Isso quer dizer que esse conceito está
demasiadamente abstrato.
Se eu olho pra cadeira e só vejo um objeto
como se senta o problema está em mim e
não na cadeira. Me falta enriquecimento
teórico como sujeito.
38. As cadeiras são feitas em linhas de produção,
isso representa o avanço das forças
produtivas e certa relação de produção.
Ao olhar pra cadeira dependendo de como
estou enriquecido eu posso ver menos ou
mais coisas.
Me enriqueci de mediações para conseguir
fazer uma abstração recheada de mediações.
39. Por isso o marxismo não tem conhecimento a
priori, por isso que é objeto que determina
minhas categorias.
Eu não vou entender cadeira se eu não
conhecer relações sociais de produção, eu
não vou entender cadeira se não entender
hierarquia.
40. A essência supõe processualidade. Ser é vir a
ser.
Pela própria especificidade do gênero
humano.
Abstração é uma faculdade fundamental e
também indeterminada.
“isso aí tá muito abstrato, está pouco
saturado de determinações”.
41. Mas toda e qualquer elaboração terá um certo
grau de abstração, maior ou menor.
Devemos ir de abstrações mais
indeterminadas para abstrações mais
concretas.
E no caminho de volta entendemos as
determinações que compõem o objeto.
42. O processo investigativo requer da relação
sujeito-objeto enriquecimento constante do
sujeito. Que passa pela apropriação do
conhecimento, dos fundamentos e de uma
formação teórica razoável.
Investigar é buscar determinações do objeto.
O conhecimento sobre tal assunto tanto será
maior quanto mais for saturado de
determinações.
43. O verdadeiro é o todo. É o reconhecimento
que a sociedade é um complexo de
complexos é um todo articulado.
Que tem uma lógica que é possível de ser
apreendida racionalmente. E mais, que pode
ser intencionalmente transformada pelos
homens.
44. Se eu digo que aparência e essência são as
mesma coisa, eu to tomando o existente
como aquilo que tá posto, sem possibilidade
nenhuma de superação.
Ao final tem se a impressão que foi o
pensamento que construiu a complexão. A
complexão já estava na realidade, o
pensamento a reproduziu materialmente.
45. Conhecimento é tão mais verdadeiro quanto
mais estiver mediado de saturações e
determinações.
Estamos num momento que temos que
defender políticas e direitos sociais. Não sou
adepto do quanto pior melhor. Temos que
garantir patamares de civilidade. Não
considero que isso seja emancipação
humana. Mas acredito que seja condições
para que um dia haja essa emancipação.
46. A própria natureza do real é constante
processualidade. Impõe limites ao
conhecimento dela. A única coisa ortodoxa
em Marx é a Dialética.
Há de se combinar gênese e o
desenvolvimento.
48. Há do ponto de vista do pensamento
marxiano a ideia que a classe revolucionária
da sua época é a que tem o ponto de vista
mais objetivo na análise dos fenômenos
sociais.
Mas isso não é garantia de uma boa pesquisa.
Colocar-se do ponto de vista do proletariado
não garante uma boa pesquisa se não houver
um enriquecimento do pesquisador.
49. O que e verdade? É a adequação da teoria a
realidade.
A prática social é o critério de verdade. Feita
a elaboração, tenho que testá-lo.
O que Engels chamava da “prova do pudim”.
50. Marx é um pensador do séc. XIX. Marx é
absolutamente necessário por um lado, pra
você entender o contemporâneo. Mas não
conseguimos entender esse contemporâneo
só por Marx, ele é insuficiente.
Se trata de enriquecer as temáticas não com
fundamentalismo.
51. Uma boa tradição marxista é aquela que se
apoie numa eterna revisão, não revisionismo,
mas com principio dialético e dialógico.
A ciência se faz com dúvida, a política com
convicção.
52. Karl Heinrich Marx (Tréveris, 5 de maio de 1818
— Londres, 14 de março de 1883)