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O conceito de sociologia 
HORKHEIMER, M.; ADORNO, T. W. Temas básicos da sociologia. 
São Paulo: Clultrix, . p. 11-24.
Ideal da sociologia desde seu 
nascimento. p. 11 
A palavra “Sociologia”, ciência da sociedade, [...]. O 
termo, em si, teve sua origem em Auguste Comte, 
[...]. A palavra “positiva” enfatizava aqui, com 
precisão, o caráter que a sociologia sempre 
manteria desde então, como ciência, num sentido 
específico. [...]. Nasceu da vontade de emancipar o 
conhecimento dos credos religiosos e da 
especulação metafísica. Mediante uma rigorosa 
fidelidade aos fatos, também se esperava atingir 
neste campo a objetividade de que eram modelo as 
ciências naturais, empíricas por um lado e 
matemáticas por outro.
Oposta à doutrina da sociedade, tal 
como formulada primitivamente pela 
filosofia. 11-12. 
...a filosofia vinculara-se primitivamente à 
doutrina da sociedade [...]. Um texto 
fundamental da filosofia clássica, como A 
República, da Platão, era, em sua intenção 
original, uma teoria da sociedade justa, [...], a 
justa instituição da polis, da cidade-estado. Na 
obra de Platão, esse projeto do Estado ideal está 
acompanhado de críticas à sociedade do seu 
tempo e de várias teorias sobre a sociedade, 
precursoras de desenvolvimentos futuros.
Comentário a respeito de Platão. 12 
...a doutrina social de Platão une-se ao núcleo 
da sua metafísica, a teoria das ideias eternas, as 
únicas verdadeiras, e da possibilidade do seu 
conhecimento adequado. É esse conhecimento 
que determina a verdadeira praxis; o objetivo do 
pensamento platônico é a união do saber e do 
atuar.
Vinculação do pensamento ao tempo 
histórico e a sociedade nos quais 
acontece. 13 
Os projetos de sociedades ideais mantiveram-se sempre 
vinculados às sociedades existentes e na dependência destas. 
[...]. Doravante, não será a ontologia mas filosofia da História 
que irá proporcionar as bases para as construções teóricas da 
sociedade ideal. Com o progresso e o aperfeiçoamento das 
ciências naturais, nas quais o ideal de leis determináveis com 
rigorosa exatidão assume novas formas, inclusive para a teoria 
da sociedade, apresentou-se logo, paralelamente, a exigência de 
um modelo teórico de sociedade que estivesse dotado de 
idênticas características de exatidão. Quanto mais a moderna 
sociedade dinâmica se aproxima do domínio da natureza, menos 
tolera o atraso dos conhecimentos sobre si mesma, [...].
Postulado e ambição do positivismo. 
14 
A sociologia positiva, [...], considera que a sua missão específica é 
proceder ao reconhecimento das leis da natureza que ainda são 
consideradas “imutáveis”. [...]. Os seus instrumentos exclusivos são “a 
observação pura, o experimento, em seu sentido verdadeiro, e, 
finalmente, o método comparativo”. [...] “o movimento social sujeita-se, 
necessariamente, a leis naturais invariáveis... não sendo regido por esta 
ou aquela força de uma Vontade caprichosa.” A sociedade é objeto de 
mera observação, não de admiração nem de condenação. Deve ser 
fundada numa teoria “isenta de toda a ambição intelectual que não se 
limite à descoberta das verdadeiras leis que regem a natureza” [...]. 
Teoria e praxis estavam nitidamente separadas, [...]. [...], é preciso 
reconhecer que os fenômenos sociais, dada a sua grande complexidade, 
requerem um maior distanciamento intelectual do que os demais 
objetos da ciência [...]. A nova filosofia social deve, pois, resguardar-se 
por todos os meios contra uma tendência [...], que a levaria a 
intrometer-se ativamente no movimento político propriamente dito, 
que deve ser, para ela, um objeto permanente de observação 
fundamental; [...].
Resignação da sociologia positiva. 15 
[...], desde o começo da sociologia como ciência especializada, 
manifesta-se neles um traço de resignação. Comte pertence já à fase de 
desenvolvimento burguês em que se tornou problemática a crença na 
capacidade de auto-aperfeiçoamento da sociedade humana, realizado 
através da ação pedagógica. Mesmo apegando-se com firmeza à ideia 
de progresso e partindo de uma filosofia da História, a sociologia 
comteana é intrinsecamente a-histórica. Comte pensou que a sociologia 
podia elaborar previsões “com um certo grau de certeza” mas só 
quando estivessem formuladas as leis naturais da sociedade, na base da 
coordenação de todos os dados da observação. Entretanto, é impossível 
qualquer intervenção no desenvolvimento cujo curso foi induzido, a 
menos que se conserve no âmbito das leis da natureza e limite às 
variações compatíveis com o caráter do fenômeno. “Não existe 
influência perturbadora, [...] que possa alterar, no mundo político real, 
de uma ou de outra maneira, as verdadeiras leis naturais do 
desenvolvimento da humanidade”. A ação contínua das intervenções 
que não se adaptam às leis imanentes do desenvolvimento – [...] – 
produz, necessariamente, a destruição do organismo social.
Possibilidade mínima de intervenção. 
15-6 
Quando muito, poderá “contribuir proveitosamente para atenuar 
e, sobretudo, abreviar as crises, mediante uma avaliação exata do 
seu caráter principal e de uma previsão racional de seu resultado 
final”. A sociologia, [...], não procura “ter o domínio dos 
fenômenos mas tão-somente influir em sua evolução espontânea 
e isto pressupõe o conhecimento prévio de suas leis reais”.
Comentário a respeito da concepção. 
16 
Comte afirmou que a “concepção de um verdadeiro sistema 
político, totalmente diferente do que nos cerca, supera os limites 
fundamentais da nossa fraca inteligência”, [...], reservando a 
construção a uma praxis que retome as tendências objetivamente 
dadas e lhes dê continuidade, de uma forma consciente. [...]. A 
crítica da vontade abstrata de corrigir o mundo converte-se em 
depreciação de todo o esforço para elevar as instituições da 
sociedade do campo das lutas cegas até o nível de um 
empreendimento conscientemente racional.
Oposição da sociologia à doutrina 
filosófica da sociedade. 17 
[...], a sociologia, desde que existe com tal nome, teve um 
propósito [...] de se libertar, tal como as ciências naturais, de todas 
as teleologias, e de se conformar com a verificação dos vínculos 
causais regulares. [...]. O progressivismo da nova ciência foi tímido 
desde o começo; o pensamento social encontrava nela o seu 
orgulho, precisamente no fato de não se elevar acimar do que é. O 
impulso da possível transformação do Ser, por obra do Dever-Ser, 
que é próprio da filosofia, dava margem à aceitação do Ser como 
Dever-Ser. E assim tem sido desde os tempos de Comte até os 
mais famosos líderes da escola da sociologia moderna: Max 
Weber, Emile Durkheim, Vilfredo Pareto.
Início da crítica à concepção: método 
como fim em si mesmo. 18 
O sociólogo americano Robert Lynd, [...], desenvolveu uma 
veemente crítica contra essa situação e proporcionou a prova de 
que a sociologia positivista tem consciência – [...] – dos seus 
próprios problemas. O erudito e o técnico são, na sua opinião, os 
dois tipos do moderno investigador das ciências sociais. [...]: “O 
erudito distancia-se dos problemas imediatamente pertinentes, 
perdendo-os, ocasionalmente, de vista; o técnico, por seu turno, 
define com frequência as suas tarefas numa relação míope e 
demasiado bitolada com o ambiente institucional dado em cada 
ocasião”. [...]; as ciências sociais oficiais trabalham em prol da 
auto-satisfação acadêmica, para ter cada vez mais cursos e fazer 
escrever cada vez mais dissertações. Esqueceu-se o compromisso 
ético de ajudar os homens na solução dos seus problemas mais 
importantes e a compilação de conhecimentos transformou-se, 
[...], num ato fetichista.
Crítica: novas tendências reafirmando 
problemas do positivismo. 19 
A expressão Realsoziologie, que voltou a ser, nos últimos tempos, 
muito popular nos países de língua alemã, não faz mais do que 
idealizar esse estado de coisas. Semelhante sociologia quer ser ou 
bem uma ciência pura das formas de vida associadas (a chamada 
“sociologia formal”) ou, então, um conjunto de descrições e 
comprovações da realidade social em campos definidos e nada 
mais do que isso, eliminando toda e qualquer divagação sobre a 
vinculação total da sociedade. O ideal é a exatidão científica como 
tal, sem relação alguma com a aplicabilidade do objeto 
exatamente conhecido.
Crítica: purismo. 19-0 
Em nome da divisão do trabalho científico procura-se, em muitas 
partes, repetir uma delimitação nítida e rigorosa entre a 
sociologia, por um lado, e as áreas adjacentes da economia, da 
psicologia e da história, por outro. Essas tentativas, que se reatam 
na identificação de um domínio específico da constituição em, 
objeto da sociologia como tal, ou na ampliação oposta desta em 
“sociologismo”, com a redução de tudo o que é humano a social e 
a afirmação concomitante do primado científico da sociologia 
sobre as demais disciplinas, servem para tornar mais manejáveis 
os sistemas conceptuais utilizados mas muito menos para tornar 
inteligíveis as próprias coisas. A preocupação com a autonomia da 
ciência sociológica e com a delimitação, tão clara e rigorosa 
quanto possível, entre as várias ciências, não deve fazer esquecer 
que as divisões operadas nos fenômenos, [...], contêm sempre um 
momento de arbitrariedade.
Crítica: purismo. 20 
Comentários ao longo da página sobre a necessidade de entender 
as várias determinações históricas, psicológicas e econômicas
Crítica: purismo. 20 
A sociologia pura não existe, tal como não existe uma história 
pura, uma psicologia ou uma economia pura; o próprio substrato 
da psicologia – o Indivíduo – não passa de uma abstração, se o 
retirarmos das suas determinantes sociais. Não é possível ignorar a 
divisão científica do trabalho sem provocar o caos; entretanto, as 
suas divisões não se identificam, por certo, com a estrutura da 
própria coisa.
Crítica: isenção de críticas. 21 
[...], a sociologia que quer reconhecer somente o “positivo” corre 
o perigo de perder toda a consciência crítica. [...]. Mas a ciência só 
pode ser algo mais do que simples duplicação da Realidade no 
pensamento se estiver impregnada de espírito crítico. Explicar a 
realidade significa sempre romper o círculo da duplicação. Crítica 
não significa, neste caso, subjetivismo mas confronto da coisa com 
o seu próprio conceito. O dado só se oferece a uma visão que o 
considere sob o aspecto de um verdadeiro interesse, seja de uma 
sociedade livre, de um Estado justo ou do desenvolvimento da 
humanidade. E quem não compara as coisas humanas com o que 
elas querem significar , vê-as não só de uma forma superficial mas 
definitivamente falsa.

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O conceito de sociologia positiva e suas críticas iniciais

  • 1. O conceito de sociologia HORKHEIMER, M.; ADORNO, T. W. Temas básicos da sociologia. São Paulo: Clultrix, . p. 11-24.
  • 2. Ideal da sociologia desde seu nascimento. p. 11 A palavra “Sociologia”, ciência da sociedade, [...]. O termo, em si, teve sua origem em Auguste Comte, [...]. A palavra “positiva” enfatizava aqui, com precisão, o caráter que a sociologia sempre manteria desde então, como ciência, num sentido específico. [...]. Nasceu da vontade de emancipar o conhecimento dos credos religiosos e da especulação metafísica. Mediante uma rigorosa fidelidade aos fatos, também se esperava atingir neste campo a objetividade de que eram modelo as ciências naturais, empíricas por um lado e matemáticas por outro.
  • 3. Oposta à doutrina da sociedade, tal como formulada primitivamente pela filosofia. 11-12. ...a filosofia vinculara-se primitivamente à doutrina da sociedade [...]. Um texto fundamental da filosofia clássica, como A República, da Platão, era, em sua intenção original, uma teoria da sociedade justa, [...], a justa instituição da polis, da cidade-estado. Na obra de Platão, esse projeto do Estado ideal está acompanhado de críticas à sociedade do seu tempo e de várias teorias sobre a sociedade, precursoras de desenvolvimentos futuros.
  • 4. Comentário a respeito de Platão. 12 ...a doutrina social de Platão une-se ao núcleo da sua metafísica, a teoria das ideias eternas, as únicas verdadeiras, e da possibilidade do seu conhecimento adequado. É esse conhecimento que determina a verdadeira praxis; o objetivo do pensamento platônico é a união do saber e do atuar.
  • 5. Vinculação do pensamento ao tempo histórico e a sociedade nos quais acontece. 13 Os projetos de sociedades ideais mantiveram-se sempre vinculados às sociedades existentes e na dependência destas. [...]. Doravante, não será a ontologia mas filosofia da História que irá proporcionar as bases para as construções teóricas da sociedade ideal. Com o progresso e o aperfeiçoamento das ciências naturais, nas quais o ideal de leis determináveis com rigorosa exatidão assume novas formas, inclusive para a teoria da sociedade, apresentou-se logo, paralelamente, a exigência de um modelo teórico de sociedade que estivesse dotado de idênticas características de exatidão. Quanto mais a moderna sociedade dinâmica se aproxima do domínio da natureza, menos tolera o atraso dos conhecimentos sobre si mesma, [...].
  • 6. Postulado e ambição do positivismo. 14 A sociologia positiva, [...], considera que a sua missão específica é proceder ao reconhecimento das leis da natureza que ainda são consideradas “imutáveis”. [...]. Os seus instrumentos exclusivos são “a observação pura, o experimento, em seu sentido verdadeiro, e, finalmente, o método comparativo”. [...] “o movimento social sujeita-se, necessariamente, a leis naturais invariáveis... não sendo regido por esta ou aquela força de uma Vontade caprichosa.” A sociedade é objeto de mera observação, não de admiração nem de condenação. Deve ser fundada numa teoria “isenta de toda a ambição intelectual que não se limite à descoberta das verdadeiras leis que regem a natureza” [...]. Teoria e praxis estavam nitidamente separadas, [...]. [...], é preciso reconhecer que os fenômenos sociais, dada a sua grande complexidade, requerem um maior distanciamento intelectual do que os demais objetos da ciência [...]. A nova filosofia social deve, pois, resguardar-se por todos os meios contra uma tendência [...], que a levaria a intrometer-se ativamente no movimento político propriamente dito, que deve ser, para ela, um objeto permanente de observação fundamental; [...].
  • 7. Resignação da sociologia positiva. 15 [...], desde o começo da sociologia como ciência especializada, manifesta-se neles um traço de resignação. Comte pertence já à fase de desenvolvimento burguês em que se tornou problemática a crença na capacidade de auto-aperfeiçoamento da sociedade humana, realizado através da ação pedagógica. Mesmo apegando-se com firmeza à ideia de progresso e partindo de uma filosofia da História, a sociologia comteana é intrinsecamente a-histórica. Comte pensou que a sociologia podia elaborar previsões “com um certo grau de certeza” mas só quando estivessem formuladas as leis naturais da sociedade, na base da coordenação de todos os dados da observação. Entretanto, é impossível qualquer intervenção no desenvolvimento cujo curso foi induzido, a menos que se conserve no âmbito das leis da natureza e limite às variações compatíveis com o caráter do fenômeno. “Não existe influência perturbadora, [...] que possa alterar, no mundo político real, de uma ou de outra maneira, as verdadeiras leis naturais do desenvolvimento da humanidade”. A ação contínua das intervenções que não se adaptam às leis imanentes do desenvolvimento – [...] – produz, necessariamente, a destruição do organismo social.
  • 8. Possibilidade mínima de intervenção. 15-6 Quando muito, poderá “contribuir proveitosamente para atenuar e, sobretudo, abreviar as crises, mediante uma avaliação exata do seu caráter principal e de uma previsão racional de seu resultado final”. A sociologia, [...], não procura “ter o domínio dos fenômenos mas tão-somente influir em sua evolução espontânea e isto pressupõe o conhecimento prévio de suas leis reais”.
  • 9. Comentário a respeito da concepção. 16 Comte afirmou que a “concepção de um verdadeiro sistema político, totalmente diferente do que nos cerca, supera os limites fundamentais da nossa fraca inteligência”, [...], reservando a construção a uma praxis que retome as tendências objetivamente dadas e lhes dê continuidade, de uma forma consciente. [...]. A crítica da vontade abstrata de corrigir o mundo converte-se em depreciação de todo o esforço para elevar as instituições da sociedade do campo das lutas cegas até o nível de um empreendimento conscientemente racional.
  • 10. Oposição da sociologia à doutrina filosófica da sociedade. 17 [...], a sociologia, desde que existe com tal nome, teve um propósito [...] de se libertar, tal como as ciências naturais, de todas as teleologias, e de se conformar com a verificação dos vínculos causais regulares. [...]. O progressivismo da nova ciência foi tímido desde o começo; o pensamento social encontrava nela o seu orgulho, precisamente no fato de não se elevar acimar do que é. O impulso da possível transformação do Ser, por obra do Dever-Ser, que é próprio da filosofia, dava margem à aceitação do Ser como Dever-Ser. E assim tem sido desde os tempos de Comte até os mais famosos líderes da escola da sociologia moderna: Max Weber, Emile Durkheim, Vilfredo Pareto.
  • 11. Início da crítica à concepção: método como fim em si mesmo. 18 O sociólogo americano Robert Lynd, [...], desenvolveu uma veemente crítica contra essa situação e proporcionou a prova de que a sociologia positivista tem consciência – [...] – dos seus próprios problemas. O erudito e o técnico são, na sua opinião, os dois tipos do moderno investigador das ciências sociais. [...]: “O erudito distancia-se dos problemas imediatamente pertinentes, perdendo-os, ocasionalmente, de vista; o técnico, por seu turno, define com frequência as suas tarefas numa relação míope e demasiado bitolada com o ambiente institucional dado em cada ocasião”. [...]; as ciências sociais oficiais trabalham em prol da auto-satisfação acadêmica, para ter cada vez mais cursos e fazer escrever cada vez mais dissertações. Esqueceu-se o compromisso ético de ajudar os homens na solução dos seus problemas mais importantes e a compilação de conhecimentos transformou-se, [...], num ato fetichista.
  • 12. Crítica: novas tendências reafirmando problemas do positivismo. 19 A expressão Realsoziologie, que voltou a ser, nos últimos tempos, muito popular nos países de língua alemã, não faz mais do que idealizar esse estado de coisas. Semelhante sociologia quer ser ou bem uma ciência pura das formas de vida associadas (a chamada “sociologia formal”) ou, então, um conjunto de descrições e comprovações da realidade social em campos definidos e nada mais do que isso, eliminando toda e qualquer divagação sobre a vinculação total da sociedade. O ideal é a exatidão científica como tal, sem relação alguma com a aplicabilidade do objeto exatamente conhecido.
  • 13. Crítica: purismo. 19-0 Em nome da divisão do trabalho científico procura-se, em muitas partes, repetir uma delimitação nítida e rigorosa entre a sociologia, por um lado, e as áreas adjacentes da economia, da psicologia e da história, por outro. Essas tentativas, que se reatam na identificação de um domínio específico da constituição em, objeto da sociologia como tal, ou na ampliação oposta desta em “sociologismo”, com a redução de tudo o que é humano a social e a afirmação concomitante do primado científico da sociologia sobre as demais disciplinas, servem para tornar mais manejáveis os sistemas conceptuais utilizados mas muito menos para tornar inteligíveis as próprias coisas. A preocupação com a autonomia da ciência sociológica e com a delimitação, tão clara e rigorosa quanto possível, entre as várias ciências, não deve fazer esquecer que as divisões operadas nos fenômenos, [...], contêm sempre um momento de arbitrariedade.
  • 14. Crítica: purismo. 20 Comentários ao longo da página sobre a necessidade de entender as várias determinações históricas, psicológicas e econômicas
  • 15. Crítica: purismo. 20 A sociologia pura não existe, tal como não existe uma história pura, uma psicologia ou uma economia pura; o próprio substrato da psicologia – o Indivíduo – não passa de uma abstração, se o retirarmos das suas determinantes sociais. Não é possível ignorar a divisão científica do trabalho sem provocar o caos; entretanto, as suas divisões não se identificam, por certo, com a estrutura da própria coisa.
  • 16. Crítica: isenção de críticas. 21 [...], a sociologia que quer reconhecer somente o “positivo” corre o perigo de perder toda a consciência crítica. [...]. Mas a ciência só pode ser algo mais do que simples duplicação da Realidade no pensamento se estiver impregnada de espírito crítico. Explicar a realidade significa sempre romper o círculo da duplicação. Crítica não significa, neste caso, subjetivismo mas confronto da coisa com o seu próprio conceito. O dado só se oferece a uma visão que o considere sob o aspecto de um verdadeiro interesse, seja de uma sociedade livre, de um Estado justo ou do desenvolvimento da humanidade. E quem não compara as coisas humanas com o que elas querem significar , vê-as não só de uma forma superficial mas definitivamente falsa.