2. 7
Legenda
1. Norland Park
2. Arquipélago
Middleton
3. Ilha Pestilenta
4. Ilha do Vento Morto
6
5.Ilha Allenham
6.Estação Submarina Beta
7. Antiga Estação
Submarina
8. Cleveland
9. Combe Magna
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3
4
3. razão e
sensibilidade e
Monstros Marinhos
JANE AUSTEN E
BEN H. WINTERS
Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges
5. Este livro é dedicado a meus pais —
amantes da boa literatura e da bobeira de qualidade.
6.
7. LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Sob os olhos perplexos e chorosos dos parentes, o moribundo agar-
rou um pedaço de madeira com a mão que lhe restava e garatujou
uma mensagem na praia lamacenta. página 12
Apossando-se de um remo sobressalente entre os apetrechos da em-
barcação, a Sra. Dashwood o quebrou em dois sobre o joelho e mer-
gulhou um pedaço pontiagudo no olho fundo e lampejante do animal. página 30
O coronel Brandon, o amigo de Sir John, sofria de uma terrível
enfermidade, que as irmãs nunca tinham visto, embora já tivessem
ouvido falar de coisa parecida. página 38
Enquanto o grupo olhava, aturdido de horror, a Srta. Bellwether
foi envolvida pela tremulante forma de manta do animal e consumida. página 60
Edward tentou se atracar com a cauda do enorme peixe, mas ela
escorregou de suas mãos no momento em que o animal escancarava
a goela úmida em torno da cabeça da Sra. Dashwood. página 100
Aquele pavoroso animal de duas cabeças viera medrando naquele
tempo úmido, avolumando-se cada vez mais, aguardando a opor-
tunidade de dar o bote. página 120
A própria Cúpula, o maior triunfo da engenharia da história hu-
mana desde os aquedutos romanos, fora construída ao longo de uma
década e meia. página 140
Aos berros, os convidados iniciaram uma debandada rumo à saída,
tentando passar uns na frente dos outros aos socos e empurrões para
sair do caminho das lagostas mortíferas. página 160
Marianne passeava com Willoughby pela praia, Monsieur Pierre
saltitando alegremente a seu lado. página 188
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8. Naquele momento, sua única preocupação era o horror pungente,
semelhante a um caranguejo, que se enfiara em seu capacete e lhe
cravara no pescoço uma de suas temíveis quelíceras. página 219
A Cúpula desabou rapidamente, com lâminas de vidro caindo e se
espatifando no chão, seguidas por ondas de água que afluíam de
todas as direções. página 239
O herói foi o coronel Brandon. página 279
O Leviatã olhou para um lado e para o outro, os olhos imensos
revirando enfurecidos. página 304
A cerimônia foi celebrada numa praia da ilha do Vento Morto no
início do outono. página 314
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9. CA P Í T U LO 1
A FAMÍLIA DASHWOOD estava estabelecida em Sussex desde
antes da Alteração, quando as águas do mundo se tornaram frias
e abomináveis para os filhos do homem, e as trevas se moveram sobre a
superfície dos oceanos.
A propriedade dos Dashwood era vasta, e a residência se erguia em
Norland Park, exatamente em seu centro, a várias centenas de metros da
linha da costa e rodeada por tochas.
O dono anterior dessas terras era um homem solteiro, que vivera até
idade muito avançada e que por muitos anos de sua vida teve na irmã uma
fiel companheira e governanta. A morte dela veio de surpresa, dez anos
antes da sua; ela batia roupa numa pedra que revelou ser o exosqueleto
camuflado de um imenso crustáceo, um caranguejo-ermitão estriado do
tamanho de um pastor-alemão. O animal enfurecido afixou-se ao rosto
da mulher com um efeito previsivelmente lamentável. Enquanto ela em
vão rolava na lama e na areia, o caranguejo a feria mais e mais, sufocando-
-lhe a boca e as vias nasais com sua estrutura cutâneo-mucosa. Sua morte
ocasionou grande alteração no lar do idoso Sr. Dashwood. Para compensar
essa perda, o velho homem convidou e recebeu em sua casa a família do
sobrinho, o Sr. Henry Dashwood, herdeiro legal da propriedade de Norland
e a pessoa a quem pretendia deixá-la.
Henry tinha um filho de um casamento anterior, John, e três fi-
lhas da atual esposa. O filho, um jovem equilibrado e respeitável, fora
amplamente aquinhoado pela fortuna da mãe. A herança da propriedade
de Norland, portanto, não era tão importante para ele quanto para suas
meias-irmãs; como a mãe delas nada tinha, sua fortuna dependia de
que seu pai herdasse a propriedade do velho cavaleiro que um dia lhes
seria transferida.
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10. O velho cavalheiro morreu; o testamento foi lido e, como quase todo
testamento, causou quase tanta decepção quanto prazer. Ele não foi nem tão
injusto nem tão ingrato a ponto de não deixar a propriedade para o sobrinho
— mas Henry Dashwood a desejara mais no interesse da esposa e das filhas
que para si mesmo ou para o filho —, e para John, somente ele, ela foi des-
tinada! As três meninas foram beneficiadas com apenas mil libras cada uma.
A princípio a decepção de Henry Dashwood foi intensa; mas ele era
um homem de índole alegre e confiante, e voltou seus pensamentos para um
sonho longamente acalentado de nobre aventura. A fonte da Alteração era
desconhecida e incognoscível, mas o Sr. Dashwood sustentava uma excên-
trica teoria: de que seria possível descobrir, em algum rincão remoto do glo-
bo, as cabeceiras de uma torrente pestilenta cujos fluxos virulentos alimen-
tavam cada mar, cada lago e estuário, envenenando o próprio manancial do
mundo. Fora essa torrente insalubre (segundo a hipótese do Sr. Dashwood)
que afetara a Alteração; que voltara as criaturas do oceano contra as pessoas
da terra; que transformara até o menor dos peixinhos e o mais dócil dos
golfinhos em predadores agressivos, sedentos de sangue, insensíveis e odien-
tos para com a nossa raça bípede; que havia gerado novas raças execradoras
dos homens, seres marinhos de formas cambiantes, sirenas e bruxas do mar,
sereias e tritões; que reduziram os oceanos do mundo a grandes caldeirões
borbulhantes de morte. O Sr. Dashwood estava decidido a ingressar nas filei-
ras daquelas bravas almas que haviam combatido e navegado além das águas
costeiras da Inglaterra à procura dessas cabeceiras e dessa fonte pavorosa, para
descobrir um método de obstruir esse fluxo fétido.
Ai! A quatrocentos metros da costa de Sussex, o Sr. Dashwood foi
comido por um tubarão-martelo. Isso ficou claro pelo formato característico
da mordida e pela gravidade dos ferimentos quando ele foi carregado pelas
ondas até a areia. O cruel animal lhe arrancara a mão direita na altura do
punho, consumira-lhe a maior parte da perna esquerda e a direita em sua to-
talidade, além de lhe arrancar do torso um pedaço irregular, em forma de V .
O filho, a atual esposa e as três filhas do Sr. Dashwood contemplaram
em assombrada desolação os restos do seu corpo; arroxeado e machucado
pelos rochedos, jazia sobre a areia, sangrando copiosamente por numerosos
cortes — mas, inexplicavelmente, ainda vivo. Sob os olhos perplexos e cho-
rosos dos parentes, o moribundo agarrou um pedaço de madeira com a mão
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11. que lhe restava e garatujou uma mensagem na praia lamacenta; com enor-
me esforço, fez um aceno de cabeça, instruindo o filho, John, a se agachar
para lê-la. Nessa trágica epístola final, o Sr. Dashwood confiava ao rapaz,
com todo o vigor e toda a urgência que seus ferimentos podiam inspirar,
o bem-estar financeiro de sua viúva e de suas filhas, tão deploravelmente
tratadas no testamento do velho cavalheiro. O Sr. John Dashwood não tinha
a mesma viva sensibilidade do restante da família; mas foi afetado por uma
recomendação de tal natureza, em um momento como aquele, que prome-
teu fazer tudo o que estivesse em seu poder para proporcionar uma situação
confortável à madrasta e às meias-irmãs. E então a maré subiu e levou as
palavras escritas na areia, assim como o último alento de Henry Dashwood.
O Sr. John Dashwood teve então tempo para considerar quanto, sem
abandonar a prudência, estaria ao seu alcance fazer pelas meias-irmãs. Ele
não era um homem mau, a menos que ser um tanto frio e um tanto egoísta
seja ser mau: mas, em geral, era respeitado. Se tivesse se casado com uma
mulher mais amável, poderia ter se tornado ainda mais respeitável. Mas
a Sra. John Dashwood era uma enfática caricatura dele mesmo — mais
tacanha e egoísta.
Ao fazer sua promessa ao pai, ele pensou consigo mesmo que aumen-
taria a fortuna das meias-irmãs dando mil libras de presente a cada uma. A
perspectiva de sua própria herança animou-lhe o coração e o fez sentir-se
capaz de generosidade. Sim! Ele daria a elas três mil libras: seria um gesto li-
beral e generoso! Seria o suficiente para deixá-las completamente tranquilas
e ofereceria a cada uma a perspectiva de um lar numa altitude apropriada.
Assim que os restos de Henry Dashwood foram arrumados de forma
a parecer algo humano, e enterrados, e que o funeral foi concluído, a Sra.
John Dashwood chegou a Norland Park sem aviso, com o filho e os criados.
Ninguém podia contestar seu direito de vir; a casa, com sua esmerada grade
de ferro batido e seu séquito de arpoadores com olhos de águia, era de seu
marido desde o instante em que o pai dele falecera. Mas a indelicadeza dessa
conduta, para uma mulher recém-enviuvada como a Sra. Dashwood, era
extremamente desagradável. A Sra. John Dashwood nunca fora muito que-
rida por nenhum membro da família do marido; mas nunca antes ela havia
tido a oportunidade de lhes mostrar com quão pouco cuidado em relação ao
bem-estar dos outros era capaz de agir quando a ocasião exigia.
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12. SOB OS OLHOS PERPLEXOS E CHOROSOS DOS PARENTES, O MORIBUNDO AGARROU UM
PEDAÇO DE MADEIRA COM A MÃO QUE LHE RESTAVA E GARATUJOU UMA MENSAGEM NA
PRAIA LAMACENTA.
13. — É patente que suas parentes têm uma lamentável propensão para
atrair as indesejáveis atenções da Detestável Mãe Oceano — segredou ela
ao marido pouco depois de chegar. — Caso Ela pretenda apossar-se delas,
que o faça longe de onde meu filho estiver brincando.
A recém-enviuvada Sra. Dashwood sentiu tão agudamente esse compor-
tamento descortês que, à chegada da nora, teria deixado a casa para sempre —
se as súplicas da filha mais velha não a tivessem persuadido, primeiro, a refletir
sobre a adequação de partir e, depois, sobre a sandice de fazê-lo antes que um
navio armado pudesse ser montado para escoltá-las e protegê-las na viagem.
Elinor, essa filha mais velha, possuía uma capacidade de discernimen-
to que a qualificava, embora tivesse apenas 19 anos, para ser a conselheira
da mãe. Tinha um excelente coração, costas largas e vigorosas panturri-
lhas — e era admirada pelas irmãs e por todos que a conheciam por ser
uma magistral entalhadora de madeira de naufrágio lançada à praia. Elinor
era estudiosa, tendo intuído desde cedo que a sobrevivência dependia do
entendimento; passava noites em claro debruçada sobre vastos volumes,
memorizando as espécies e os gêneros de cada peixe e mamífero marinho,
decorando suas velocidades e seus pontos fracos, bem como quais possuíam
exosqueletos espinhosos, quais possuíam caninos e quais possuíam presas.
Os sentimentos de Elinor eram fortes, mas ela sabia como administrá-
-los. Esse era um conhecimento que sua mãe ainda estava por adquirir e
que uma de suas irmãs decidira jamais assimilar. As habilidades de Marianne
eram, sob muitos aspectos, equiparáveis às da irmã. Era uma nadadora qua-
se igualmente vigorosa, dona de notável capacidade pulmonar; era sensata
e inteligente, mas ansiosa em todos os assuntos. Suas dores, suas alegrias
não conheciam nenhuma moderação. Era generosa, amável, interessante;
era tudo, menos prudente. Falava suspirando das cruéis criaturas da água,
até mesmo daquela que tão recentemente investira contra seu pai, empres-
tando-lhes nomes arrebicados como “Nossos Pérfidos Atormentadores” ou
“Os Insondáveis” e refletindo sobre seus terríveis e impenetráveis segredos.
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Margaret, a irmã caçula, era uma menina bem-humorada e bondosa,
mas com uma propensão — mais condizente com sua tenra idade do que
com a delicada natureza de sua situação numa região litorânea — a sair
para dançar sob temporais e chapinhar na água suja. Vezes sem conta Elinor
tentava demovê-la desses entusiasmos pueris.
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14. — Na água reside o perigo, Margaret — dizia, sacudindo gravemente
a cabeça e olhando a irmã traquinas nos olhos. — Na água, só há perdição.
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