SlideShare une entreprise Scribd logo
1  sur  32
NEGOCIAÇÃO
ESTRATÉGICA E
GESTÃO DE
CONFLITOS
Volume II – Tipos e
Estratégias
Marilda Andrade
TIPOS E ESTRATÉGIAS DE NEGOCIAÇÃO
A. Negociações Distributivas
B. Negociações Integrativas
3. TIPOS
A. Matriz estratégica
B. Evasão
C. Acomodação
D. Competição
E. Colaboração
F. Conciliação
4. ESTRATÉGIAS
VOLUME
IIIMPORTANTE:
Esse é o segundo volume de uma
série de cinco, que compõem o e-
book “Negociação Estratégica e
Gestão de Conflitos”. Não deixe de
ler os demais
3– TIPOS DE NEGOCIAÇÃO
“Quando perdemos o direito de ser diferentes, perdemos o
direito de ser livres.”
Charles Evans Hughes
3 Há uma série de mitos em relação às negociações, alguns bastante incoerentes entre si.
Ouço muitas pessoas descreverem a negociação como um processo em que todos ganham,
enquanto outras a definem como uma forma de obter vantagens sobre outra. O que disso é
verdadeiro?
TIPOS DE
NEGOCIAÇÃO
Só existe um jeito de negociar? É um processo em que
todos querem levar vantagem? Ou em que todos
ganham?
Marilda Andrade
Para compreendermos melhor, vamos primeiro afirmar que não há somente um tipo de
negociação, e eles diferem, principalmente, quanto à maneira que lidamos com a VISÃO
DE GANHOS que orienta o comportamento na negociação.
Como já disse, se negociamos com alguém, é por que temos expectativas de ver atendidos
interesses e necessidades. Isso quer dizer que sempre haverá, no caso de um acordo,
distribuição de resultados entre as partes. Esses resultados podem ser recursos, monetários
ou não (como tempo, propriedades, objetos, etc), atividades, ações, comportamentos,
informações e conhecimento ou sentimentos.
É a forma como os negociadores intentam distribuir esses resultados que define se uma
negociação é Distributiva ou Integrativa.
NEGOCIAÇÕES DISTRIBUTIVAS
A
São aquelas conhecidas por negociações de “BOLO FIXO” e elas costumam acontecer,
invariavelmente, quando observamos algumas características do processo:
Recursos escassos/ poucos elementos negociáveis: são aquelas
situações em que não há vários interesses das partes envolvidos – ou seja, eles são
concentrados em um único ou poucos tipos de resultados, há poucas coisas a serem
negociadas. Ou os negociadores têm pouca quantidade desses resultados a serem
distribuídos.
Interesses opostos: aquilo que um negociador necessita como resultado se
contrapõe frontalmente àquilo que o outro precisa.
Há algumas outras características que podem levar uma negociação a se tornar distributiva,
mas trataremos delas adiante, em razão de necessitarmos refletir sobre alguns outros
conceitos para compreende-las melhor.
Se há poucos recursos e elementos alternativos para se distribuir, e os interesses divergem,
a consequência clara é que, para que um negociador aumente a satisfação de suas
necessidades, fatalmente o outro ou outros, terão que se satisfazer com menos do que
esperavam.
Essa é a razão de ser chamada de negociação de “bolo fixo”: imagine que você vai dividir
um bolo com alguém, e os dois têm interesse em angariar a maior parte possível dele. O bolo
é bastante limitado em termos de tamanho, e seus pedaços são o único elemento que estão
negociando. Na medida em que você consiga aumentar o seu pedaço, o do outro negociador
terá que diminuir. Assim, podemos resumir essa relação com a frase: “PARA QUE UM
LADO GANHE, HAVERÁ PERDA OU REDUÇÃO DE GANHO DO OUTRO”.
Marilda Andrade
Uma negociação distributiva pode ser a única alternativa, também, quando há
negociadores de personalidade muito competitiva na mesa, e não se encontra a oportunidade
de levá-los a aceitar fazer outro tipo de interação.
O que, em minha opinião, é fundamental ressaltar aqui, é o sentido que damos para as
palavras “ganho” e “perda” no contexto das negociações.
Culturalmente, sempre atribuímos a essas expressões o sentido de vencer ou ser subjugado
pelo outro. É sempre ganhar do outro ou perder para o outro.
Porém, é muito mais eficaz e adequado se pensar em ganho ou perda relativamente às
expectativas que o negociador tem em relação ao nível de satisfação de suas necessidades.
Assim, quanto mais próximo o acordo chegar daquilo que eu esperava
obter (ou se superar, obviamente), mais eu ganhei. Ao contrário, quanto mais se
distanciar, mais aquém ficar daquilo que eu esperava, mais eu perdi.
Obviamente, o fato de, nas negociações distributivas, o “ganho” de um implicar na “perda”
do outro, reforça a impressão de que é um contra o outro. E apesar de parecer que essa
diferença não tem importância prática, ela pode dificultar a compreensão de algumas
reflexões que faremos mais para frente.
É possível que grande parte dessa interpretação venha do fato de, tradicionalmente, ao
menos até a década de 1960, os estudos relativos à negociação tentavam entender e buscar
ferramentas para o que se conhece como “barganha posicional”. Ou seja, encontrar maneiras
de um negociador manter sua posição e tirar o outro da sua, obtendo vantagens no processo.
E como esse era o principal foco dos estudos, consolidou-se a imagem de vitória sobre o
inimigo.
Claro que, se em uma negociação distributiva um ganha e outros perdem, o foco terá que
ser em “como aumentar a satisfação” ou “como minimizar a diminuição da satisfação”. de um
ou outro.
Mas veja que o foco, como já falado, deve ser mantido em relação à satisfação dos
interesses e não da conquista sobre o outro, sob o risco de se entrar em um processo de
IRRACIONALIDADE que pode não levar aos resultados esperados ou causar danos
colaterais indesejáveis, tais como confrontos ou rompimentos.
Marilda Andrade
NEGOCIAÇÕES INTEGRATIVAS
B
A partir da década de 1960 as pesquisas e literaturas sobre
negociação começam a expressar interesse em modelos
alternativos ao tradicional. Proposições matemáticas aplicadas ao
comportamento humano, tais quais a Teoria dos Jogos
(Morgenstern e Von Neumann, Teoria dos Jogos e Comportamento
Econômico, 1944) e pesquisas relacionadas a ela, como as de John
Nash, que originaram o que se conhece hoje por Equilíbrio de
Nash (Pontos de Equilíbrio em Jogos de N-Pessoas", "O Problema
da Barganha" "Jogos Cooperativos de Duas Pessoas”, John Nash,
1950), passam a influenciar os estudos sobre o tema.
O modelo alternativo ganha força na década de 1980, com o
trabalho de William Ury, Roger Fisher e Bruce Patton, com a
pesquisa para o projeto de Negociação da Universidade Harvard, e
que originou o livro “Como chegar ao Sim” (1981).
Esse tipo de negociação é praticável em interações com as
seguintes características:
Recursos abundantes ou possibilidade de
integração/ vários elementos negociáveis:
são negociações em que os envolvidos têm, ao mesmo tempo,
diversos interesses a ser atendidos no processo; os recursos não
são tão limitados, e é possível trazer mais recursos, e de tipos
diferentes, em função da diversidade de interesses.
Interesses diferentes e/ou comuns: as partes apresentam
predominantemente necessidades que são diferentes entre si, mas não se contrapõem; ou,
ainda, têm alguns deles que são idênticos aos da outra parte.
Para explicar isso melhor, vou retomar a negociação do bolo. Imagine que, ao entrar na
negociação, você tenha a expectativa de comer a cobertura do doce, porque é só do que você
gosta. A pessoa com quem você está negociando, porém, não gosta de coberturas, e só gosta
da massa. Nesse caso, é possível atender ao máximo o interesse de ambos, já que você pode
ficar com toda a cobertura e o outro com toda a massa, igualando o resultado distribuído da
expectativa inicial de cada participante.
Imagine outra situação: você precisa que um colega seu desenvolva um relatório com
informações específicas da área dele, para que você entregue um trabalho solicitado por seu
chefe. Ao começarem a negociar , ao mesmo tempo em que ele expressa interesse em
atendê-lo, porque o trabalho que você irá fazer poderá facilitar outras atividades dele,
demonstra a impossibilidade de atendê-lo no prazo, porque precisa terminar de desenvolver
uma apresentação em PowerPoint para o chefe. Para isso ele despenderá todo o tempo
disponível até a data em que você precisa das informações dele, porque não tem muita
habilidade com o software. Ao aprofundar a conversa, você percebe que ele está preocupado.
O chefe usará sua apresentação para fazer uma palestra em um congresso, em que a imagem
da empresa e do chefe estarão expostas.
Marilda Andrade
Aparentemente, há escassez de um recurso nessa negociação: o tempo. Não há, porém,
interesses divergentes; há o interesse comum na conclusão do seu trabalho, e outros que são
somente diferentes.
Você, no entanto, é muito bom com o PowerPoint. E propõe montar a apresentação para
ele, enquanto ele levanta as informações para você.
Nesse exemplo simples, a solução encontrada implica na integração do recurso “tempo”, já
que você o tornou mais abundante quando disponibilizou o seu. E tratou de envolver
interesses diversos, como a necessidade dele de se mostrar eficiente para o chefe.
Tipicamente uma abordagem integrativa.
Nesse tipo de negociação o ganho de um não implica na perda de outro. No caso dos
exemplos acima, os envolvidos potencializaram a concretização de seus interesses, sem que os
outros precisassem abrir mão do atendimento dos seus.
Mas, para que o processo ocorra realmente de forma integrativa, algumas condições são
indispensáveis: a confiança e a disposição para discutir de forma mais profunda as
necessidades dos envolvidos, bem como para formular propostas e tomar decisões
baseadas nelas. Isso tudo exige tempo para ser desenvolvido e construído. Por isso é que as
negociações integrativas, apesar de muito atraentes, são muito difíceis e trabalhosas de serem
concretizadas. Por essa razão, ao contrário do que muitas vezes apregoamos aos quatro
ventos, elas não são “panaceia universal”. Não servem e não são possíveis de serem aplicadas
para todas as situações, em minha opinião.
Para aprofundarmos, então, essa linha de pensamento, vamos ao tópico seguinte:
Marilda Andrade
4 – ESTRATÉGIAS
“Jamais negociemos por medo, mas jamais temamos
negociar.”
Charles Evans Hughes
Marilda Andrade
4Como eu já disse anteriormente, alguns pré-requisitos definem o tipo de negociação que
podemos utilizar e, consequentemente, suas estratégias. Porém, em algumas situações é
possível fazer uma escolha consciente da estratégia a ser utilizada. Para nos ajudar nessa
escolha, bem como para nos auxiliar a reconhecer a possibilidade de uso de cada estratégia,
consideraremos alguns fatores essenciais:
ESTRATÉGIAS DE
NEGOCIAÇÃO
Como eu devo negociar? Em que situações as
negociações são diferentes?
Interesses divergentes
Como foi falado quando tratamos dos tipos de negociação, a predominância de interesses
divergentes entre as partes define substancialmente se a negociação será distributiva,
demandando por alguma de suas estratégias. Já a constatação de que a maior parte dos
interesses não se contrapõe, sendo somente diferentes ou comuns entre ambos, possibilita
um processo integrativo, demandando estratégia correspondente.
Importância do Relacionamento
Negociamos o tempo todo, com diversas pessoas. Algumas delas são caras e importantes
para nós, para a empresa ou para outras pessoas em nome de quem estamos negociando.
Outras, nem tanto. Com as primeiras, obviamente, haverá a preocupação de manter a
continuidade, com qualidade, da relação. Com as outras, é possível que isso não nos interesse,
ou até não seja viável. Portanto, relacionamento é uma variável fundamental na definição
estratégica.
Importância dos Resultados/ Riscos
Às vezes entramos em processos negociais em que esperamos obter resultados
extremamente impactantes para nós em nossas carreiras, remuneração, receitas e despesas,
qualidade de vida, imagem pessoal e profissional, atividades, relacionamentos pessoais, etc.
Ou para nossa empresa ou alguém em nome de quem realizamos o processo. Outras vezes
negociamos resultados que não têm grande impacto. E essa é outra variável que deve ser,
então, considerada.
Marilda Andrade
Posse dos Fatores Condicionantes
Os fatores condicionantes, ou Campos de Força da negociação, serão, para os efeitos que
nos interessam aqui, aqueles que determinam, ou condicionam – como o nome pressupõe –
os resultados do processo. Eles são três: Poder, Tempo e Informação.
Há quem considere que só há, de fato, o Poder, porque os outros dois acabam por se
transformar neste. Mas isso é assunto para outro capítulo. Por enquanto, basta saber que eles
interferem na escolha estratégica. E interferem de tal maneira que, se uma das partes detiver
um ou mais deles em nível muito superior ao da outra parte, sequer haverá negociação.
Haverá, sim, imposição dos interesses de um sobre o outro, sem possibilidade de discussão.
Ao relacionarmos estas considerações, podemos nos encontrar em quatro situações
diferentes. Para cada uma delas, havendo possibilidade de escolha, há diferentes estratégias
recomendadas. Três estratégias de negociação, e uma estratégia de
comportamento,.
Há, ainda, a possibilidade de uma alternativa estratégica que fica no “meio termo”
entre umas e outras, e cuja utilização será detalhada logo adiante.
Vamos a elas:
ESTRATÉGIAS MATRIZ ESTRATÉGICA
Marilda Andrade
Em interações com pessoas que são pouco importantes para o negociador, e
cujo resultado de uma possível negociação também será de pouco impacto em
qualquer área da sua vida, o comportamento mais eficaz é a abstenção de se envolver no
processo. Não há qualquer ganho significativo a se obter e somente desperdício de tempo e
energia.
Além disso, quando um negociador percebe que em um eventual processo de negociação o
outro tem muitos interesses divergentes dos seus, e não tem poder, prazo ou informações
suficientes para realizar o processo de forma a atender suas necessidades, é conveniente que
nem o comece , já que não conseguirá chegar a um acordo satisfatório.
Como isso significa evitar a negociação, não chamo de estratégia de negociação, mas de
estratégia de comportamento.
Evadir-se da negociação é, muitas vezes, a maneira mais produtiva de se comportar em
algumas situações. É um comportamento diplomático.
COMPORTAMENTO DE EVASÃO
A
Os problemas podem surgir quando, em uma situação como essa, adotamos outra
estratégia – o que nos faz desviar atenção e energia que poderiam ser canalizadas para
soluções mais produtivas e convenientes. Ou, ainda, quando os resultados obtidos seriam
melhores ao se adotar o processo, mas o negociador não o faz.
Nesse caso, há a renúncia a um acordo e a uma situação melhor, e não há atendimento dos
interesses de nenhuma das partes, reduzindo expectativas de ambos e diminuindo chances de
soluções satisfatórias para um problema.
ESTRATÉGIA DE ACOMODAÇÃO
B
Algumas vezes nos vemos compelidos a negociar com pessoas com as quais queremos
ou precisamos preservar o relacionamento, já que o rompimento ou desgaste
deste nos traz impactos negativos, ou profissional ou pessoalmente.
ESTRATÉGIAS DISTRIBUTIVAS
Marilda Andrade
E algumas dessas vezes percebemos que o objeto da negociação não é assim tão
relevante para nós. Ou, ainda, que – ao final – os interesses não divergem tanto assim, o
que significa que a maneira como eles serão atendidos pode não ser fundamental. E mais,
podemos perceber que não somos detentores de poder, prazo ou informações para persuadir
o outro a respeito de nossas posições.
Nesses casos a estratégia mais eficaz é a de Acomodação ou Subordinativa,
em que eu escolho, de maneira consciente, abrir mão dos meus desejos, priorizando a
manutenção do relacionamento.
Muitas vezes fazemos isso por vislumbrar, na continuidade do relacionamento,
possibilidade de obter resultados mais significativos do que o que poderíamos obter no
processo em questão.
E percebemos que vale a pena renunciar aos objetivos de curto prazo e sacrificar nossos
interesses.
Podemos, ainda, escolher essa estratégia por puro desprendimento ou generosidade. E,
como se pode depreender, por sermos obrigados a nos render por falta de condições de
lutarmos pelos resultados esperados.
Alguns cuidados, porém, devem ser tomados.
Quando abrimos mão de nossos interesses, não por
escolha consciente, mas por incapacidade de
adotarmos outra maneira para buscar atender nossas
necessidades, eu considero que não estamos
escolhendo uma estratégia, mas sendo pouco
assertivos.
Além disso, é necessário observar que, dependendo
da personalidade do outro negociador, da sua
percepção, ou do momento em que o processo se dá,
ceder aos interesses do outro pode ser por ele
interpretado como um convite a novas
exigências, como fraqueza ou como
ingenuidade, ainda que não seja esse o caso.
Portanto, fundamental esclarecer os motivos e razões
pelos quais essa escolha foi feita.
Essa é uma negociação, então, em que o negociador
escolher Perder, para que o outro Ganhe, sempre
considerando a relativização com o seu nível de
expectativas. Não é um processo que demande táticas,
somente comportamentos de cooperação que levam
ao abandono claro dos interesses.
Marilda Andrade
Muitas vezes somos compelidos a negociar com pessoas com
quem a continuidade do relacionamento não é
relevante ou, às vezes, é até inviável. E algumas dessas
negociações implicam resultados bastante importantes
para nós.
ESTRATÉGIA DE COMPETIÇÃO
C
Além disso, há casos em que os interesses entre as partes são
muito divergentes, impossibilitando o encontro de um
denominador comum. Ou, ainda, podemos perceber, em alguns
processos que nos envolvemos nessas situações, que temos mais
prazo, informações ou poder que o outro.
Aí é que é recomendada a estratégia de competição, em que,
legitimamente, o negociador procurará extrair o máximo de
concessões possíveis da outra parte, garantindo a “maior fatia do
bolo” para si – ainda que para isso abra mão de um
relacionamento mais próximo no futuro. Ele escolhe Ganhar,
aumentando a satisfação de suas necessidades, ainda que o outro
tenha que Perder, se afastando das suas expectativas.
Isso não quer dizer, porém, que deverá haver confrontação aberta, atritos ou, ainda,
comportamentos desonestos ou fraudulentos. Tudo isso poderá levar ao rompimento e
impedirá o atendimento das necessidades de ambos. Há, sim, a necessidade de utilização de
táticas eficazes executadas com competência e talento. Descreveremos essas táticas adiante.
Essa estratégia, muitas vezes, pode dar a um negociador que a escolhe, a vantagem da
iniciativa, porque parte do pressuposto em que ele tentará impor suas vontades e interesses
ao outro, que pode se submeter por falta de experiência, desapego ou inabilidade.
Por outro lado, deixa pouco espaço para uma solução construtiva, e geralmente leva –
quando as circunstâncias permitem uma estratégia integrativa – a um menor grau de
satisfação das necessidades não só de quem é dominado, mas de quem consegue dominar.
Por essa razão, sua escolha tem que ser bem pensada, levando em consideração as
variáveis apontadas e resumidas na Matriz Estratégica. Ao ser escolhida sem se levar isso em
conta, puramente por desejo de “vencer” ou por características de personalidade ou, ainda,
por falta de domínio das emoções, o risco de se obter menos resultados que o possível caso a
escolha fosse por uma estratégia integrativa , é bastante grande.
Marilda Andrade
A estratégia colaborativa é aquela recomendada para situações em que temos que
negociar, com pessoas importantes para nós, resultados igualmente
relevantes. Como já dissemos anteriormente, ela prescinde da existência de
predominância de interesses comuns, ou que não se contraponham. E depende, também, da
existência de certo nivelamento na posse dos fatores condicionantes.
Como ela é a única estratégia do tipo integrativo, encontramos na literatura as diversas
nomenclaturas querendo dizer a mesma coisa: negociações integrativas, colaborativas,
cooperativas ou o tão famoso ganha-ganha.
ESTRATÉGIA INTEGRATIVA
ESTRATÉGIA DE COLABORAÇÃO
D
Marilda Andrade
As negociações colaborativas são aquelas
que otimizam ou potencializam os
resultados de ambos, evitando que as
partes necessitem ceder, e proporcionando a
maior aproximação possível entre os resultados
e as expectativas de obtenção de resultados
iniciais dos envolvidos.
É, portanto, a consequência do esforço em
se construir uma solução efetiva de parceria,
que se foca no interesse de todos, e que
normalmente demanda uma abordagem
criativa, elaborada conjuntamente, por meio da
compreensão das reais necessidades próprias e
do outro, por meio de uma interação aberta e
de confiança.
Volto a afirmar que essas demandam
tornam o processo trabalhoso e difícil. Claro
que vale a pena, quando as características que
o permitem estão contempladas. Mas é
ingenuidade se pensar que sua execução possa
ser realizada com eficácia sem conhecimento
de método, de maturidade, autoconhecimento
e interesse genuíno por outras
pessoas.
Marilda Andrade
O grande desafio em relação a esse modelo é, em minha opinião, o fato de que se tornou
moda, além de “politicamente correto”, a propagação de que toda negociação boa é aquela
que resulta no ganha-ganha. Como vimos, isso não é possível, e nem recomendado para todas
as situações. E esse mito, então, pode fazer com que as pessoas percam a credibilidade no
processo, já que percebem que esse discurso, quando aplicado na prática, é inconsistente.
Acredito que esse mito tenha origem em duas verdades:
A primeira está relacionada ao fato de que essa
moda é em grande parte oriunda das negociações
corporativas. E as empresas são lugares onde,
realmente, negociamos muitas vezes com pessoas
importantes (chefes, funcionários, clientes,
fornecedores, parceiros), resultados também
importantes (relacionados à remuneração, imagem
profissional, carreira, conquista de objetivos). E essas
situações são, de fato, aquelas em que a colaboração é
a estratégia mais eficaz.
A segunda origem do mito é muito provavelmente o
fato de que as negociações colaborativas foram
consolidadas e sistematizadas pelo pessoal da
Universidade de Harvard, cujo nome tem um peso
inegável no modo de pensar das organizações.
COMPORTAMENTO DE CONCILIAÇÃO
E
Este é um assunto ao qual convém darmos uma atenção considerável, porque há uma
confusão generalizada sobre a conciliação ser um curso de ação eminentemente colaborativo,
e isso não é realmente verdade.
A conciliação é uma alternativa de ação quando a estratégia mais produtiva a ser adotada é
a colaborativa, mas a outra parte não é cooperativa a ponto de se chegar a uma solução que
potencialize ganhos, mas não é tão inflexível a ponto de exigir uma acomodação total ou a
competição. Ou, ainda, quando ela não pode exigir a acomodação ou não queremos desgastar
o relacionamento demasiadamente.
Ao contrário da colaboração, que visa uma solução que aumente os ganhos das partes, a
conciliação visa diminuição das perdas. Por tudo isso, podemos dizer que a conciliação é a
“arte do possível” – fazemos o que dá para fazer para evitar as consequências indesejadas das
estratégias distributivas.
Ela presume que as partes caminhem uma em direção à outra, por meio de concessões,
para uma situação intermediária, a fim de conseguir uma solução aceitável.
Marilda Andrade
Essa solução não se aproxima das expectativas das partes como o desejado, mas também
não significa a cessão total dos interesses por nenhuma delas. Uma abre mão de algo para
conseguir outra coisa, a outra faz o mesmo, até que se chegue a resultados que satisfaçam
minimamente a ambos.
Não é, então, uma solução que substitua a colaboração, mas é muitas vezes a única
realizável.
O grande problema está no fato de que, às vezes, uma conciliação pode parecer a melhor
solução e, por ser mais fácil, deixamos de perceber que, com um pouco mais de esforço,
poderíamos obter resultados melhores e consolidar mais fortemente o relacionamento. Além
disso, a covardia ou a avidez de uma das partes podem levar a conciliações insatisfatórias – a
um acordo ruim.
MOVIMENTAÇÃO ESTRATÉGICA
Agora vou complicar as coisas!
Até aqui tratamos os tipos e estratégias de negociação de maneira separada. Mas, na
prática, os processos negociais não acontecem exatamente assim.
Muitas vezes os comportamentos relativos a um ou outro tipo se misturam. Vou explicar
um pouco melhor:
As negociações distributivas podem ser exclusivas. Ou seja, usamos comportamentos de
um só tipo. É o caso da estratégia de Acomodação, em que é possível que usemos somente
comportamentos cooperativos, cedendo nossas posições para manter o
relacionamento.
Nos processos competitivos utilizamos táticas e comportamentos de
competição; mas, para diminuir a tensão e conseguir chegar no acordo, é possível que
tenhamos que usar, eventualmente, comportamentos cooperativos, cedendo
em alguns aspectos menos relevantes – ou que preparamos como carta na manga para dar ao
outro sensação de vitória e não provocar inflexibilidade. Ou, ainda, para interromper a
escalada do conflito ou reestabelecer clima amigável, de forma a evitar confrontos.
Já a tática necessária para a execução da estratégia colaborativa pressupõe o uso de
comportamentos cooperativos, mas também usamos os competitivos,
sempre.
Marilda Andrade
A figura na próxima página
ilustra essa dinâmica:
Não iremos usar táticas
competitivas, mas sim, os
comportamentos, porque a
colaboração implica na garantia dos
próprios interesses. E usamos
comportamentos
cooperativos, porque visa, também,
o atendimento dos interesses do outro.
Para conseguirmos esses resultados, é
possível que, em algum momento,
tenhamos que deixar de negociar por
algum tempo, o que significa se evadir,
recuando estrategicamente.
Marilda Andrade
Competir Cooperar
COLABORAÇÃO
Solução Criativa
maximiza ganhos
TENSÃO
Interesses próprios Interesses do outro
EVASÃO
Recuo tático
CONCILIAÇÃO
Solução Possível
minimiza perdas
COMPETIÇÃO
Garantirosprópriosinteresses
ACOMODAÇÃO
Cederosprópriosinteresses
Marilda Andrade
Ao nos movimentarmos entre os diversos comportamentos é que manejamos a tensão
adequadamente.
Diminuímos a tensão, quando ela está alta, ao cooperar ou, quando muito alta, evitarmos
momentaneamente o processo, fazendo uma pausa. E a elevamos nos momentos em que está
muito baixa, ao buscar nossos interesses utilizando comportamentos competitivos. A
integração eficaz entre os comportamentos é que cria as condições para que se encontre uma
solução criativa que, realmente, integre resultados e atenda aos interesses de todos.
Por essa razão, é adequado dizer que
.
Iremos tratar das táticas, tanto das competitivas, quanto da colaborativa, em outro
capítulo.
TODA NEGOCIAÇÃO COLABORATIVA ABRIGA,
EM SI, NEGOCIAÇÕES DISTRIBUTIVAS.
Desenvolvendo PESSOAS
e NEGÓCIOS para
TRANSFORMAR em
realidade o sonho de um
MUNDO melhorateliecorporativo.com.br
11 50788540

Contenu connexe

Tendances

Métodos e técnicas de negociação
Métodos e técnicas de negociaçãoMétodos e técnicas de negociação
Métodos e técnicas de negociaçãoClaudiomar Borduchi
 
Aula 6 práticas de negociação
Aula 6   práticas de negociaçãoAula 6   práticas de negociação
Aula 6 práticas de negociaçãoMKTMAIS
 
Negociação
NegociaçãoNegociação
Negociaçãopedrot13
 
Técnicas de negociação - parte 3
Técnicas de negociação - parte 3  Técnicas de negociação - parte 3
Técnicas de negociação - parte 3 Cíntia Dal Bello
 
Fundamentos de negociação
Fundamentos de negociaçãoFundamentos de negociação
Fundamentos de negociaçãoMaritta Barbosa
 
Atividade avaliativa os 11 pilares -técnicas de negociação
Atividade avaliativa   os 11 pilares -técnicas de negociaçãoAtividade avaliativa   os 11 pilares -técnicas de negociação
Atividade avaliativa os 11 pilares -técnicas de negociaçãoLAGB2019
 
Estratégias de Negociação
Estratégias de NegociaçãoEstratégias de Negociação
Estratégias de Negociaçãoguestcda5ca
 
Negociação aula 3 mini ba de gestão estrategica de rh
Negociação aula 3 mini ba de gestão estrategica de rhNegociação aula 3 mini ba de gestão estrategica de rh
Negociação aula 3 mini ba de gestão estrategica de rhDaniel de Carvalho Luz
 
Técnicas de Negociação
Técnicas de NegociaçãoTécnicas de Negociação
Técnicas de Negociaçãoandersonals
 
Capitulo 3 -_variaveis_basicas_no_processo_de_negociacao
Capitulo 3 -_variaveis_basicas_no_processo_de_negociacaoCapitulo 3 -_variaveis_basicas_no_processo_de_negociacao
Capitulo 3 -_variaveis_basicas_no_processo_de_negociacaoJulio Kyosen Nakatani
 
Técnicas de Negociação - Harvard School Methodology
Técnicas de Negociação - Harvard School MethodologyTécnicas de Negociação - Harvard School Methodology
Técnicas de Negociação - Harvard School MethodologyMaurício Magalhães
 
Capítulo 1 - Conceitos de negociação
Capítulo 1 - Conceitos de negociaçãoCapítulo 1 - Conceitos de negociação
Capítulo 1 - Conceitos de negociaçãoJulio Kyosen Nakatani
 

Tendances (19)

Tecnicas de negociação
Tecnicas de negociaçãoTecnicas de negociação
Tecnicas de negociação
 
Métodos e técnicas de negociação
Métodos e técnicas de negociaçãoMétodos e técnicas de negociação
Métodos e técnicas de negociação
 
Aula 6 práticas de negociação
Aula 6   práticas de negociaçãoAula 6   práticas de negociação
Aula 6 práticas de negociação
 
Negociação
NegociaçãoNegociação
Negociação
 
Técnicas de negociação - parte 3
Técnicas de negociação - parte 3  Técnicas de negociação - parte 3
Técnicas de negociação - parte 3
 
Negociação
NegociaçãoNegociação
Negociação
 
Fundamentos de negociação
Fundamentos de negociaçãoFundamentos de negociação
Fundamentos de negociação
 
Atividade avaliativa os 11 pilares -técnicas de negociação
Atividade avaliativa   os 11 pilares -técnicas de negociaçãoAtividade avaliativa   os 11 pilares -técnicas de negociação
Atividade avaliativa os 11 pilares -técnicas de negociação
 
Estratégias de Negociação
Estratégias de NegociaçãoEstratégias de Negociação
Estratégias de Negociação
 
Negociação aula 3 mini ba de gestão estrategica de rh
Negociação aula 3 mini ba de gestão estrategica de rhNegociação aula 3 mini ba de gestão estrategica de rh
Negociação aula 3 mini ba de gestão estrategica de rh
 
Treina Cobranca 201008
Treina Cobranca 201008Treina Cobranca 201008
Treina Cobranca 201008
 
Ebook negociação e resolução de conflitos volume IV competição
Ebook negociação e resolução de conflitos volume IV    competiçãoEbook negociação e resolução de conflitos volume IV    competição
Ebook negociação e resolução de conflitos volume IV competição
 
Técnicas de Negociação
Técnicas de NegociaçãoTécnicas de Negociação
Técnicas de Negociação
 
Negociação e mediação
Negociação e mediaçãoNegociação e mediação
Negociação e mediação
 
negociação
negociação negociação
negociação
 
Capitulo 3 -_variaveis_basicas_no_processo_de_negociacao
Capitulo 3 -_variaveis_basicas_no_processo_de_negociacaoCapitulo 3 -_variaveis_basicas_no_processo_de_negociacao
Capitulo 3 -_variaveis_basicas_no_processo_de_negociacao
 
Técnicas de Negociação - Harvard School Methodology
Técnicas de Negociação - Harvard School MethodologyTécnicas de Negociação - Harvard School Methodology
Técnicas de Negociação - Harvard School Methodology
 
Capítulo 1 - Conceitos de negociação
Capítulo 1 - Conceitos de negociaçãoCapítulo 1 - Conceitos de negociação
Capítulo 1 - Conceitos de negociação
 
Negociação - Prof. Murilo Furtado - Novembro 2013
Negociação - Prof. Murilo Furtado - Novembro 2013Negociação - Prof. Murilo Furtado - Novembro 2013
Negociação - Prof. Murilo Furtado - Novembro 2013
 

Similaire à Ebook negociação e resolução de conflitos volume II tipos e estratégias

Seminário 4 - Negociação e networking artigo de opiniao-susana moreira
Seminário 4 - Negociação e networking artigo de opiniao-susana moreiraSeminário 4 - Negociação e networking artigo de opiniao-susana moreira
Seminário 4 - Negociação e networking artigo de opiniao-susana moreiraSusana Moreira
 
O cenário negocial e a metodologia dos 7 a´s ®
O cenário negocial e a metodologia dos 7 a´s ®O cenário negocial e a metodologia dos 7 a´s ®
O cenário negocial e a metodologia dos 7 a´s ®Ernesto Costa Santos
 
Aula 12 2014.1 ucam - aco - negociação - incorporar e consolidar
Aula 12   2014.1 ucam - aco - negociação - incorporar e consolidarAula 12   2014.1 ucam - aco - negociação - incorporar e consolidar
Aula 12 2014.1 ucam - aco - negociação - incorporar e consolidarAngelo Peres
 
Apresentação Trabalho Técnicas de Negociação
Apresentação Trabalho Técnicas de NegociaçãoApresentação Trabalho Técnicas de Negociação
Apresentação Trabalho Técnicas de Negociaçãodaianeengal
 
Atividade tec negociação
Atividade tec negociaçãoAtividade tec negociação
Atividade tec negociaçãoANDRÉ MONTEIRO
 
Tomada de decisão, planejamento, negociação e delegação
Tomada de decisão, planejamento, negociação e delegaçãoTomada de decisão, planejamento, negociação e delegação
Tomada de decisão, planejamento, negociação e delegaçãoLudmila Moura
 
Apostila Técnicas de Negociação
Apostila Técnicas de NegociaçãoApostila Técnicas de Negociação
Apostila Técnicas de NegociaçãoCorretor Pimentel
 
Modulo 4 Sucesso em Negociações
Modulo 4 Sucesso em NegociaçõesModulo 4 Sucesso em Negociações
Modulo 4 Sucesso em NegociaçõesPedro Guilherme
 
apostila técnicas de negociação
apostila técnicas de negociaçãoapostila técnicas de negociação
apostila técnicas de negociaçãoUNINOVE
 
Negociação - o que vi da vida
Negociação - o que vi da vidaNegociação - o que vi da vida
Negociação - o que vi da vidaHector Muniz
 
Atps tecnicas de negociacao - modelo 2013
Atps   tecnicas de negociacao - modelo 2013Atps   tecnicas de negociacao - modelo 2013
Atps tecnicas de negociacao - modelo 2013Cristina Martins
 

Similaire à Ebook negociação e resolução de conflitos volume II tipos e estratégias (20)

Introdução a Negociação
Introdução a NegociaçãoIntrodução a Negociação
Introdução a Negociação
 
Seminário 4 - Negociação e networking artigo de opiniao-susana moreira
Seminário 4 - Negociação e networking artigo de opiniao-susana moreiraSeminário 4 - Negociação e networking artigo de opiniao-susana moreira
Seminário 4 - Negociação e networking artigo de opiniao-susana moreira
 
Ebook negociação e resolução de conflitos volume I introdução e premissas
Ebook negociação e resolução de conflitos volume I   introdução e premissasEbook negociação e resolução de conflitos volume I   introdução e premissas
Ebook negociação e resolução de conflitos volume I introdução e premissas
 
O cenário negocial e a metodologia dos 7 a´s ®
O cenário negocial e a metodologia dos 7 a´s ®O cenário negocial e a metodologia dos 7 a´s ®
O cenário negocial e a metodologia dos 7 a´s ®
 
Aula 12 2014.1 ucam - aco - negociação - incorporar e consolidar
Aula 12   2014.1 ucam - aco - negociação - incorporar e consolidarAula 12   2014.1 ucam - aco - negociação - incorporar e consolidar
Aula 12 2014.1 ucam - aco - negociação - incorporar e consolidar
 
Ebook negociação e resolução de conflitos volume III planejamento
Ebook negociação e resolução de conflitos volume III    planejamentoEbook negociação e resolução de conflitos volume III    planejamento
Ebook negociação e resolução de conflitos volume III planejamento
 
Apresentação Trabalho Técnicas de Negociação
Apresentação Trabalho Técnicas de NegociaçãoApresentação Trabalho Técnicas de Negociação
Apresentação Trabalho Técnicas de Negociação
 
Atividade tec negociação
Atividade tec negociaçãoAtividade tec negociação
Atividade tec negociação
 
Tomada de decisão, planejamento, negociação e delegação
Tomada de decisão, planejamento, negociação e delegaçãoTomada de decisão, planejamento, negociação e delegação
Tomada de decisão, planejamento, negociação e delegação
 
Negociação
NegociaçãoNegociação
Negociação
 
Negociação em Compras
Negociação em ComprasNegociação em Compras
Negociação em Compras
 
Apostila Técnicas de Negociação
Apostila Técnicas de NegociaçãoApostila Técnicas de Negociação
Apostila Técnicas de Negociação
 
Modulo 4 Sucesso em Negociações
Modulo 4 Sucesso em NegociaçõesModulo 4 Sucesso em Negociações
Modulo 4 Sucesso em Negociações
 
Prof eduardo
Prof eduardoProf eduardo
Prof eduardo
 
Prof eduardo
Prof eduardoProf eduardo
Prof eduardo
 
apostila técnicas de negociação
apostila técnicas de negociaçãoapostila técnicas de negociação
apostila técnicas de negociação
 
Negociação - o que vi da vida
Negociação - o que vi da vidaNegociação - o que vi da vida
Negociação - o que vi da vida
 
Atps tecnicas de negociacao - modelo 2013
Atps   tecnicas de negociacao - modelo 2013Atps   tecnicas de negociacao - modelo 2013
Atps tecnicas de negociacao - modelo 2013
 
Nac t1
Nac t1Nac t1
Nac t1
 
Livro 01
Livro 01Livro 01
Livro 01
 

Plus de Insper Instituto de Ensino e Pesquisa, Fundação Dom Cabral, HSM Educação, BSP

Plus de Insper Instituto de Ensino e Pesquisa, Fundação Dom Cabral, HSM Educação, BSP (11)

Jogando com a excelência
Jogando com a excelênciaJogando com a excelência
Jogando com a excelência
 
Gestão de conflitos dicas
Gestão de conflitos dicasGestão de conflitos dicas
Gestão de conflitos dicas
 
Manual do gestor turbulência
Manual do gestor turbulênciaManual do gestor turbulência
Manual do gestor turbulência
 
Oficina de Construção de Aprendizagem
Oficina de Construção de AprendizagemOficina de Construção de Aprendizagem
Oficina de Construção de Aprendizagem
 
Ateliê jovens talentos
Ateliê jovens talentosAteliê jovens talentos
Ateliê jovens talentos
 
Ateliê de Multiplicadores - Programa de desenvolvimento e formação de multipl...
Ateliê de Multiplicadores - Programa de desenvolvimento e formação de multipl...Ateliê de Multiplicadores - Programa de desenvolvimento e formação de multipl...
Ateliê de Multiplicadores - Programa de desenvolvimento e formação de multipl...
 
Ateliê de Excelência - Programa de treinamento e desenvolvimento de equipes
Ateliê de Excelência - Programa de treinamento e desenvolvimento de equipesAteliê de Excelência - Programa de treinamento e desenvolvimento de equipes
Ateliê de Excelência - Programa de treinamento e desenvolvimento de equipes
 
Ateliê de Liderança - Programa de Desenvolvimento Gerencial
Ateliê de Liderança - Programa de Desenvolvimento GerencialAteliê de Liderança - Programa de Desenvolvimento Gerencial
Ateliê de Liderança - Programa de Desenvolvimento Gerencial
 
Programa integrado de Vendas - Treinamento e desenvolvimento de vendedores e ...
Programa integrado de Vendas - Treinamento e desenvolvimento de vendedores e ...Programa integrado de Vendas - Treinamento e desenvolvimento de vendedores e ...
Programa integrado de Vendas - Treinamento e desenvolvimento de vendedores e ...
 
World café - Experiência
World café - ExperiênciaWorld café - Experiência
World café - Experiência
 
Ateliê Corporativo -Sobre nós
Ateliê Corporativo -Sobre nósAteliê Corporativo -Sobre nós
Ateliê Corporativo -Sobre nós
 

Ebook negociação e resolução de conflitos volume II tipos e estratégias

  • 1. NEGOCIAÇÃO ESTRATÉGICA E GESTÃO DE CONFLITOS Volume II – Tipos e Estratégias Marilda Andrade
  • 2. TIPOS E ESTRATÉGIAS DE NEGOCIAÇÃO A. Negociações Distributivas B. Negociações Integrativas 3. TIPOS A. Matriz estratégica B. Evasão C. Acomodação D. Competição E. Colaboração F. Conciliação 4. ESTRATÉGIAS VOLUME IIIMPORTANTE: Esse é o segundo volume de uma série de cinco, que compõem o e- book “Negociação Estratégica e Gestão de Conflitos”. Não deixe de ler os demais
  • 3. 3– TIPOS DE NEGOCIAÇÃO “Quando perdemos o direito de ser diferentes, perdemos o direito de ser livres.” Charles Evans Hughes
  • 4. 3 Há uma série de mitos em relação às negociações, alguns bastante incoerentes entre si. Ouço muitas pessoas descreverem a negociação como um processo em que todos ganham, enquanto outras a definem como uma forma de obter vantagens sobre outra. O que disso é verdadeiro? TIPOS DE NEGOCIAÇÃO Só existe um jeito de negociar? É um processo em que todos querem levar vantagem? Ou em que todos ganham?
  • 5. Marilda Andrade Para compreendermos melhor, vamos primeiro afirmar que não há somente um tipo de negociação, e eles diferem, principalmente, quanto à maneira que lidamos com a VISÃO DE GANHOS que orienta o comportamento na negociação. Como já disse, se negociamos com alguém, é por que temos expectativas de ver atendidos interesses e necessidades. Isso quer dizer que sempre haverá, no caso de um acordo, distribuição de resultados entre as partes. Esses resultados podem ser recursos, monetários ou não (como tempo, propriedades, objetos, etc), atividades, ações, comportamentos, informações e conhecimento ou sentimentos. É a forma como os negociadores intentam distribuir esses resultados que define se uma negociação é Distributiva ou Integrativa. NEGOCIAÇÕES DISTRIBUTIVAS A São aquelas conhecidas por negociações de “BOLO FIXO” e elas costumam acontecer, invariavelmente, quando observamos algumas características do processo:
  • 6. Recursos escassos/ poucos elementos negociáveis: são aquelas situações em que não há vários interesses das partes envolvidos – ou seja, eles são concentrados em um único ou poucos tipos de resultados, há poucas coisas a serem negociadas. Ou os negociadores têm pouca quantidade desses resultados a serem distribuídos. Interesses opostos: aquilo que um negociador necessita como resultado se contrapõe frontalmente àquilo que o outro precisa. Há algumas outras características que podem levar uma negociação a se tornar distributiva, mas trataremos delas adiante, em razão de necessitarmos refletir sobre alguns outros conceitos para compreende-las melhor. Se há poucos recursos e elementos alternativos para se distribuir, e os interesses divergem, a consequência clara é que, para que um negociador aumente a satisfação de suas necessidades, fatalmente o outro ou outros, terão que se satisfazer com menos do que esperavam. Essa é a razão de ser chamada de negociação de “bolo fixo”: imagine que você vai dividir um bolo com alguém, e os dois têm interesse em angariar a maior parte possível dele. O bolo é bastante limitado em termos de tamanho, e seus pedaços são o único elemento que estão negociando. Na medida em que você consiga aumentar o seu pedaço, o do outro negociador terá que diminuir. Assim, podemos resumir essa relação com a frase: “PARA QUE UM LADO GANHE, HAVERÁ PERDA OU REDUÇÃO DE GANHO DO OUTRO”.
  • 7. Marilda Andrade Uma negociação distributiva pode ser a única alternativa, também, quando há negociadores de personalidade muito competitiva na mesa, e não se encontra a oportunidade de levá-los a aceitar fazer outro tipo de interação. O que, em minha opinião, é fundamental ressaltar aqui, é o sentido que damos para as palavras “ganho” e “perda” no contexto das negociações. Culturalmente, sempre atribuímos a essas expressões o sentido de vencer ou ser subjugado pelo outro. É sempre ganhar do outro ou perder para o outro. Porém, é muito mais eficaz e adequado se pensar em ganho ou perda relativamente às expectativas que o negociador tem em relação ao nível de satisfação de suas necessidades. Assim, quanto mais próximo o acordo chegar daquilo que eu esperava obter (ou se superar, obviamente), mais eu ganhei. Ao contrário, quanto mais se distanciar, mais aquém ficar daquilo que eu esperava, mais eu perdi.
  • 8. Obviamente, o fato de, nas negociações distributivas, o “ganho” de um implicar na “perda” do outro, reforça a impressão de que é um contra o outro. E apesar de parecer que essa diferença não tem importância prática, ela pode dificultar a compreensão de algumas reflexões que faremos mais para frente. É possível que grande parte dessa interpretação venha do fato de, tradicionalmente, ao menos até a década de 1960, os estudos relativos à negociação tentavam entender e buscar ferramentas para o que se conhece como “barganha posicional”. Ou seja, encontrar maneiras de um negociador manter sua posição e tirar o outro da sua, obtendo vantagens no processo. E como esse era o principal foco dos estudos, consolidou-se a imagem de vitória sobre o inimigo. Claro que, se em uma negociação distributiva um ganha e outros perdem, o foco terá que ser em “como aumentar a satisfação” ou “como minimizar a diminuição da satisfação”. de um ou outro. Mas veja que o foco, como já falado, deve ser mantido em relação à satisfação dos interesses e não da conquista sobre o outro, sob o risco de se entrar em um processo de IRRACIONALIDADE que pode não levar aos resultados esperados ou causar danos colaterais indesejáveis, tais como confrontos ou rompimentos.
  • 9. Marilda Andrade NEGOCIAÇÕES INTEGRATIVAS B A partir da década de 1960 as pesquisas e literaturas sobre negociação começam a expressar interesse em modelos alternativos ao tradicional. Proposições matemáticas aplicadas ao comportamento humano, tais quais a Teoria dos Jogos (Morgenstern e Von Neumann, Teoria dos Jogos e Comportamento Econômico, 1944) e pesquisas relacionadas a ela, como as de John Nash, que originaram o que se conhece hoje por Equilíbrio de Nash (Pontos de Equilíbrio em Jogos de N-Pessoas", "O Problema da Barganha" "Jogos Cooperativos de Duas Pessoas”, John Nash, 1950), passam a influenciar os estudos sobre o tema. O modelo alternativo ganha força na década de 1980, com o trabalho de William Ury, Roger Fisher e Bruce Patton, com a pesquisa para o projeto de Negociação da Universidade Harvard, e que originou o livro “Como chegar ao Sim” (1981). Esse tipo de negociação é praticável em interações com as seguintes características: Recursos abundantes ou possibilidade de integração/ vários elementos negociáveis: são negociações em que os envolvidos têm, ao mesmo tempo, diversos interesses a ser atendidos no processo; os recursos não são tão limitados, e é possível trazer mais recursos, e de tipos diferentes, em função da diversidade de interesses.
  • 10. Interesses diferentes e/ou comuns: as partes apresentam predominantemente necessidades que são diferentes entre si, mas não se contrapõem; ou, ainda, têm alguns deles que são idênticos aos da outra parte. Para explicar isso melhor, vou retomar a negociação do bolo. Imagine que, ao entrar na negociação, você tenha a expectativa de comer a cobertura do doce, porque é só do que você gosta. A pessoa com quem você está negociando, porém, não gosta de coberturas, e só gosta da massa. Nesse caso, é possível atender ao máximo o interesse de ambos, já que você pode ficar com toda a cobertura e o outro com toda a massa, igualando o resultado distribuído da expectativa inicial de cada participante. Imagine outra situação: você precisa que um colega seu desenvolva um relatório com informações específicas da área dele, para que você entregue um trabalho solicitado por seu chefe. Ao começarem a negociar , ao mesmo tempo em que ele expressa interesse em atendê-lo, porque o trabalho que você irá fazer poderá facilitar outras atividades dele, demonstra a impossibilidade de atendê-lo no prazo, porque precisa terminar de desenvolver uma apresentação em PowerPoint para o chefe. Para isso ele despenderá todo o tempo disponível até a data em que você precisa das informações dele, porque não tem muita habilidade com o software. Ao aprofundar a conversa, você percebe que ele está preocupado. O chefe usará sua apresentação para fazer uma palestra em um congresso, em que a imagem da empresa e do chefe estarão expostas.
  • 11. Marilda Andrade Aparentemente, há escassez de um recurso nessa negociação: o tempo. Não há, porém, interesses divergentes; há o interesse comum na conclusão do seu trabalho, e outros que são somente diferentes. Você, no entanto, é muito bom com o PowerPoint. E propõe montar a apresentação para ele, enquanto ele levanta as informações para você. Nesse exemplo simples, a solução encontrada implica na integração do recurso “tempo”, já que você o tornou mais abundante quando disponibilizou o seu. E tratou de envolver interesses diversos, como a necessidade dele de se mostrar eficiente para o chefe. Tipicamente uma abordagem integrativa. Nesse tipo de negociação o ganho de um não implica na perda de outro. No caso dos exemplos acima, os envolvidos potencializaram a concretização de seus interesses, sem que os outros precisassem abrir mão do atendimento dos seus. Mas, para que o processo ocorra realmente de forma integrativa, algumas condições são indispensáveis: a confiança e a disposição para discutir de forma mais profunda as necessidades dos envolvidos, bem como para formular propostas e tomar decisões baseadas nelas. Isso tudo exige tempo para ser desenvolvido e construído. Por isso é que as negociações integrativas, apesar de muito atraentes, são muito difíceis e trabalhosas de serem concretizadas. Por essa razão, ao contrário do que muitas vezes apregoamos aos quatro ventos, elas não são “panaceia universal”. Não servem e não são possíveis de serem aplicadas para todas as situações, em minha opinião. Para aprofundarmos, então, essa linha de pensamento, vamos ao tópico seguinte:
  • 12. Marilda Andrade 4 – ESTRATÉGIAS “Jamais negociemos por medo, mas jamais temamos negociar.” Charles Evans Hughes
  • 13. Marilda Andrade 4Como eu já disse anteriormente, alguns pré-requisitos definem o tipo de negociação que podemos utilizar e, consequentemente, suas estratégias. Porém, em algumas situações é possível fazer uma escolha consciente da estratégia a ser utilizada. Para nos ajudar nessa escolha, bem como para nos auxiliar a reconhecer a possibilidade de uso de cada estratégia, consideraremos alguns fatores essenciais: ESTRATÉGIAS DE NEGOCIAÇÃO Como eu devo negociar? Em que situações as negociações são diferentes?
  • 14. Interesses divergentes Como foi falado quando tratamos dos tipos de negociação, a predominância de interesses divergentes entre as partes define substancialmente se a negociação será distributiva, demandando por alguma de suas estratégias. Já a constatação de que a maior parte dos interesses não se contrapõe, sendo somente diferentes ou comuns entre ambos, possibilita um processo integrativo, demandando estratégia correspondente. Importância do Relacionamento Negociamos o tempo todo, com diversas pessoas. Algumas delas são caras e importantes para nós, para a empresa ou para outras pessoas em nome de quem estamos negociando. Outras, nem tanto. Com as primeiras, obviamente, haverá a preocupação de manter a continuidade, com qualidade, da relação. Com as outras, é possível que isso não nos interesse, ou até não seja viável. Portanto, relacionamento é uma variável fundamental na definição estratégica. Importância dos Resultados/ Riscos Às vezes entramos em processos negociais em que esperamos obter resultados extremamente impactantes para nós em nossas carreiras, remuneração, receitas e despesas, qualidade de vida, imagem pessoal e profissional, atividades, relacionamentos pessoais, etc. Ou para nossa empresa ou alguém em nome de quem realizamos o processo. Outras vezes negociamos resultados que não têm grande impacto. E essa é outra variável que deve ser, então, considerada.
  • 15. Marilda Andrade Posse dos Fatores Condicionantes Os fatores condicionantes, ou Campos de Força da negociação, serão, para os efeitos que nos interessam aqui, aqueles que determinam, ou condicionam – como o nome pressupõe – os resultados do processo. Eles são três: Poder, Tempo e Informação. Há quem considere que só há, de fato, o Poder, porque os outros dois acabam por se transformar neste. Mas isso é assunto para outro capítulo. Por enquanto, basta saber que eles interferem na escolha estratégica. E interferem de tal maneira que, se uma das partes detiver um ou mais deles em nível muito superior ao da outra parte, sequer haverá negociação. Haverá, sim, imposição dos interesses de um sobre o outro, sem possibilidade de discussão. Ao relacionarmos estas considerações, podemos nos encontrar em quatro situações diferentes. Para cada uma delas, havendo possibilidade de escolha, há diferentes estratégias recomendadas. Três estratégias de negociação, e uma estratégia de comportamento,. Há, ainda, a possibilidade de uma alternativa estratégica que fica no “meio termo” entre umas e outras, e cuja utilização será detalhada logo adiante. Vamos a elas:
  • 17. Marilda Andrade Em interações com pessoas que são pouco importantes para o negociador, e cujo resultado de uma possível negociação também será de pouco impacto em qualquer área da sua vida, o comportamento mais eficaz é a abstenção de se envolver no processo. Não há qualquer ganho significativo a se obter e somente desperdício de tempo e energia. Além disso, quando um negociador percebe que em um eventual processo de negociação o outro tem muitos interesses divergentes dos seus, e não tem poder, prazo ou informações suficientes para realizar o processo de forma a atender suas necessidades, é conveniente que nem o comece , já que não conseguirá chegar a um acordo satisfatório. Como isso significa evitar a negociação, não chamo de estratégia de negociação, mas de estratégia de comportamento. Evadir-se da negociação é, muitas vezes, a maneira mais produtiva de se comportar em algumas situações. É um comportamento diplomático. COMPORTAMENTO DE EVASÃO A
  • 18. Os problemas podem surgir quando, em uma situação como essa, adotamos outra estratégia – o que nos faz desviar atenção e energia que poderiam ser canalizadas para soluções mais produtivas e convenientes. Ou, ainda, quando os resultados obtidos seriam melhores ao se adotar o processo, mas o negociador não o faz. Nesse caso, há a renúncia a um acordo e a uma situação melhor, e não há atendimento dos interesses de nenhuma das partes, reduzindo expectativas de ambos e diminuindo chances de soluções satisfatórias para um problema. ESTRATÉGIA DE ACOMODAÇÃO B Algumas vezes nos vemos compelidos a negociar com pessoas com as quais queremos ou precisamos preservar o relacionamento, já que o rompimento ou desgaste deste nos traz impactos negativos, ou profissional ou pessoalmente. ESTRATÉGIAS DISTRIBUTIVAS
  • 19. Marilda Andrade E algumas dessas vezes percebemos que o objeto da negociação não é assim tão relevante para nós. Ou, ainda, que – ao final – os interesses não divergem tanto assim, o que significa que a maneira como eles serão atendidos pode não ser fundamental. E mais, podemos perceber que não somos detentores de poder, prazo ou informações para persuadir o outro a respeito de nossas posições. Nesses casos a estratégia mais eficaz é a de Acomodação ou Subordinativa, em que eu escolho, de maneira consciente, abrir mão dos meus desejos, priorizando a manutenção do relacionamento. Muitas vezes fazemos isso por vislumbrar, na continuidade do relacionamento, possibilidade de obter resultados mais significativos do que o que poderíamos obter no processo em questão. E percebemos que vale a pena renunciar aos objetivos de curto prazo e sacrificar nossos interesses. Podemos, ainda, escolher essa estratégia por puro desprendimento ou generosidade. E, como se pode depreender, por sermos obrigados a nos render por falta de condições de lutarmos pelos resultados esperados.
  • 20. Alguns cuidados, porém, devem ser tomados. Quando abrimos mão de nossos interesses, não por escolha consciente, mas por incapacidade de adotarmos outra maneira para buscar atender nossas necessidades, eu considero que não estamos escolhendo uma estratégia, mas sendo pouco assertivos. Além disso, é necessário observar que, dependendo da personalidade do outro negociador, da sua percepção, ou do momento em que o processo se dá, ceder aos interesses do outro pode ser por ele interpretado como um convite a novas exigências, como fraqueza ou como ingenuidade, ainda que não seja esse o caso. Portanto, fundamental esclarecer os motivos e razões pelos quais essa escolha foi feita. Essa é uma negociação, então, em que o negociador escolher Perder, para que o outro Ganhe, sempre considerando a relativização com o seu nível de expectativas. Não é um processo que demande táticas, somente comportamentos de cooperação que levam ao abandono claro dos interesses.
  • 21. Marilda Andrade Muitas vezes somos compelidos a negociar com pessoas com quem a continuidade do relacionamento não é relevante ou, às vezes, é até inviável. E algumas dessas negociações implicam resultados bastante importantes para nós. ESTRATÉGIA DE COMPETIÇÃO C Além disso, há casos em que os interesses entre as partes são muito divergentes, impossibilitando o encontro de um denominador comum. Ou, ainda, podemos perceber, em alguns processos que nos envolvemos nessas situações, que temos mais prazo, informações ou poder que o outro. Aí é que é recomendada a estratégia de competição, em que, legitimamente, o negociador procurará extrair o máximo de concessões possíveis da outra parte, garantindo a “maior fatia do bolo” para si – ainda que para isso abra mão de um relacionamento mais próximo no futuro. Ele escolhe Ganhar, aumentando a satisfação de suas necessidades, ainda que o outro tenha que Perder, se afastando das suas expectativas.
  • 22. Isso não quer dizer, porém, que deverá haver confrontação aberta, atritos ou, ainda, comportamentos desonestos ou fraudulentos. Tudo isso poderá levar ao rompimento e impedirá o atendimento das necessidades de ambos. Há, sim, a necessidade de utilização de táticas eficazes executadas com competência e talento. Descreveremos essas táticas adiante. Essa estratégia, muitas vezes, pode dar a um negociador que a escolhe, a vantagem da iniciativa, porque parte do pressuposto em que ele tentará impor suas vontades e interesses ao outro, que pode se submeter por falta de experiência, desapego ou inabilidade. Por outro lado, deixa pouco espaço para uma solução construtiva, e geralmente leva – quando as circunstâncias permitem uma estratégia integrativa – a um menor grau de satisfação das necessidades não só de quem é dominado, mas de quem consegue dominar. Por essa razão, sua escolha tem que ser bem pensada, levando em consideração as variáveis apontadas e resumidas na Matriz Estratégica. Ao ser escolhida sem se levar isso em conta, puramente por desejo de “vencer” ou por características de personalidade ou, ainda, por falta de domínio das emoções, o risco de se obter menos resultados que o possível caso a escolha fosse por uma estratégia integrativa , é bastante grande.
  • 23. Marilda Andrade A estratégia colaborativa é aquela recomendada para situações em que temos que negociar, com pessoas importantes para nós, resultados igualmente relevantes. Como já dissemos anteriormente, ela prescinde da existência de predominância de interesses comuns, ou que não se contraponham. E depende, também, da existência de certo nivelamento na posse dos fatores condicionantes. Como ela é a única estratégia do tipo integrativo, encontramos na literatura as diversas nomenclaturas querendo dizer a mesma coisa: negociações integrativas, colaborativas, cooperativas ou o tão famoso ganha-ganha. ESTRATÉGIA INTEGRATIVA ESTRATÉGIA DE COLABORAÇÃO D
  • 24. Marilda Andrade As negociações colaborativas são aquelas que otimizam ou potencializam os resultados de ambos, evitando que as partes necessitem ceder, e proporcionando a maior aproximação possível entre os resultados e as expectativas de obtenção de resultados iniciais dos envolvidos. É, portanto, a consequência do esforço em se construir uma solução efetiva de parceria, que se foca no interesse de todos, e que normalmente demanda uma abordagem criativa, elaborada conjuntamente, por meio da compreensão das reais necessidades próprias e do outro, por meio de uma interação aberta e de confiança. Volto a afirmar que essas demandam tornam o processo trabalhoso e difícil. Claro que vale a pena, quando as características que o permitem estão contempladas. Mas é ingenuidade se pensar que sua execução possa ser realizada com eficácia sem conhecimento de método, de maturidade, autoconhecimento e interesse genuíno por outras pessoas.
  • 25. Marilda Andrade O grande desafio em relação a esse modelo é, em minha opinião, o fato de que se tornou moda, além de “politicamente correto”, a propagação de que toda negociação boa é aquela que resulta no ganha-ganha. Como vimos, isso não é possível, e nem recomendado para todas as situações. E esse mito, então, pode fazer com que as pessoas percam a credibilidade no processo, já que percebem que esse discurso, quando aplicado na prática, é inconsistente. Acredito que esse mito tenha origem em duas verdades: A primeira está relacionada ao fato de que essa moda é em grande parte oriunda das negociações corporativas. E as empresas são lugares onde, realmente, negociamos muitas vezes com pessoas importantes (chefes, funcionários, clientes, fornecedores, parceiros), resultados também importantes (relacionados à remuneração, imagem profissional, carreira, conquista de objetivos). E essas situações são, de fato, aquelas em que a colaboração é a estratégia mais eficaz. A segunda origem do mito é muito provavelmente o fato de que as negociações colaborativas foram consolidadas e sistematizadas pelo pessoal da Universidade de Harvard, cujo nome tem um peso inegável no modo de pensar das organizações.
  • 26. COMPORTAMENTO DE CONCILIAÇÃO E Este é um assunto ao qual convém darmos uma atenção considerável, porque há uma confusão generalizada sobre a conciliação ser um curso de ação eminentemente colaborativo, e isso não é realmente verdade. A conciliação é uma alternativa de ação quando a estratégia mais produtiva a ser adotada é a colaborativa, mas a outra parte não é cooperativa a ponto de se chegar a uma solução que potencialize ganhos, mas não é tão inflexível a ponto de exigir uma acomodação total ou a competição. Ou, ainda, quando ela não pode exigir a acomodação ou não queremos desgastar o relacionamento demasiadamente. Ao contrário da colaboração, que visa uma solução que aumente os ganhos das partes, a conciliação visa diminuição das perdas. Por tudo isso, podemos dizer que a conciliação é a “arte do possível” – fazemos o que dá para fazer para evitar as consequências indesejadas das estratégias distributivas. Ela presume que as partes caminhem uma em direção à outra, por meio de concessões, para uma situação intermediária, a fim de conseguir uma solução aceitável.
  • 27. Marilda Andrade Essa solução não se aproxima das expectativas das partes como o desejado, mas também não significa a cessão total dos interesses por nenhuma delas. Uma abre mão de algo para conseguir outra coisa, a outra faz o mesmo, até que se chegue a resultados que satisfaçam minimamente a ambos. Não é, então, uma solução que substitua a colaboração, mas é muitas vezes a única realizável. O grande problema está no fato de que, às vezes, uma conciliação pode parecer a melhor solução e, por ser mais fácil, deixamos de perceber que, com um pouco mais de esforço, poderíamos obter resultados melhores e consolidar mais fortemente o relacionamento. Além disso, a covardia ou a avidez de uma das partes podem levar a conciliações insatisfatórias – a um acordo ruim. MOVIMENTAÇÃO ESTRATÉGICA Agora vou complicar as coisas! Até aqui tratamos os tipos e estratégias de negociação de maneira separada. Mas, na prática, os processos negociais não acontecem exatamente assim.
  • 28. Muitas vezes os comportamentos relativos a um ou outro tipo se misturam. Vou explicar um pouco melhor: As negociações distributivas podem ser exclusivas. Ou seja, usamos comportamentos de um só tipo. É o caso da estratégia de Acomodação, em que é possível que usemos somente comportamentos cooperativos, cedendo nossas posições para manter o relacionamento. Nos processos competitivos utilizamos táticas e comportamentos de competição; mas, para diminuir a tensão e conseguir chegar no acordo, é possível que tenhamos que usar, eventualmente, comportamentos cooperativos, cedendo em alguns aspectos menos relevantes – ou que preparamos como carta na manga para dar ao outro sensação de vitória e não provocar inflexibilidade. Ou, ainda, para interromper a escalada do conflito ou reestabelecer clima amigável, de forma a evitar confrontos. Já a tática necessária para a execução da estratégia colaborativa pressupõe o uso de comportamentos cooperativos, mas também usamos os competitivos, sempre.
  • 29. Marilda Andrade A figura na próxima página ilustra essa dinâmica: Não iremos usar táticas competitivas, mas sim, os comportamentos, porque a colaboração implica na garantia dos próprios interesses. E usamos comportamentos cooperativos, porque visa, também, o atendimento dos interesses do outro. Para conseguirmos esses resultados, é possível que, em algum momento, tenhamos que deixar de negociar por algum tempo, o que significa se evadir, recuando estrategicamente. Marilda Andrade
  • 30. Competir Cooperar COLABORAÇÃO Solução Criativa maximiza ganhos TENSÃO Interesses próprios Interesses do outro EVASÃO Recuo tático CONCILIAÇÃO Solução Possível minimiza perdas COMPETIÇÃO Garantirosprópriosinteresses ACOMODAÇÃO Cederosprópriosinteresses
  • 31. Marilda Andrade Ao nos movimentarmos entre os diversos comportamentos é que manejamos a tensão adequadamente. Diminuímos a tensão, quando ela está alta, ao cooperar ou, quando muito alta, evitarmos momentaneamente o processo, fazendo uma pausa. E a elevamos nos momentos em que está muito baixa, ao buscar nossos interesses utilizando comportamentos competitivos. A integração eficaz entre os comportamentos é que cria as condições para que se encontre uma solução criativa que, realmente, integre resultados e atenda aos interesses de todos. Por essa razão, é adequado dizer que . Iremos tratar das táticas, tanto das competitivas, quanto da colaborativa, em outro capítulo. TODA NEGOCIAÇÃO COLABORATIVA ABRIGA, EM SI, NEGOCIAÇÕES DISTRIBUTIVAS.
  • 32. Desenvolvendo PESSOAS e NEGÓCIOS para TRANSFORMAR em realidade o sonho de um MUNDO melhorateliecorporativo.com.br 11 50788540