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Capítulo 2 | Inumeráveis interworlds




     AUGUSTO DE FRANCO
  Vida humana e convivência social nos novos
mundos altamente conectados do terceiro milênio


                      1
2
2
                       Inumeráveis interworlds



E naquele instante ele viu o planeta inteiro: cada vila, cada cidade,
        cada metrópole, os lugares desertos e os lugares plantados.
           Todas as formas que se chocavam em sua visão traziam
  relacionamentos específicos de elementos interiores e exteriores.
              Ele via as estruturas da sociedade imperial refletidas
    nas estruturas físicas de seus planetas e de suas comunidades.
                 Como um gigantesco desdobramento dentro dele,
                         ele via nessa revelação o que ela devia ser:
                 uma janela para as partes invisíveis da sociedade.
 Percebendo isso, notou que todo sistema devia possuir tal janela.
       Mesmo o sistema representado por ele mesmo e o universo.
       Começou a perscrutar as janelas, como um voyeur cósmico.
                            Frank Herbert em Os filhos de Duna (1976)




                            3
Muitos mundos, isso mesmo. Não existe um mundo que se possa
      dizer o mundo, a não ser por efeito de hierarquização.

      Pensar e falar do mundo é tentar impingir um só mundo. Pois os
      mundos são muitos. Um só mundo é uma invenção do broadcasting.
      Broadcasting – um para muitos – é, obviamente, centralização, quer
      dizer, hierarquia. Tirem as TVs e as rádios, os jornais e revistas, as
      agências de notícias, talvez o cinema e não sobrará mais um só
      mundo. Sem o broadcasting já teremos múltiplos mundos: cada qual
      configurado pelas nossas conexões. Com a internet esses mundos se
      multiplicam velozmente, mas não por difusão e sim por interconexão.
      Desse ponto de vista, interconnected networks (internet) é, na
      verdade, interconnected worlds. E fluzz é o vento que varre esses
      inumeráveis interworlds.

      No mundo hierárquico, não há interface para fluzz. Mas quando fluzz
      for do regime dos múltiplos mundos interconectados, esses mundos
      serão os novos Highly Connected Worlds do terceiro milênio.




Pense em um mundo sem TV e rádio, sem jornais e revistas, sem agências
de notícias, sem editoras e distribuidoras de livros de domínio privado e
sem cinema. Não, não estamos propondo uma volta à Idade Média.
Teremos telefone, Internet, redes P2P, redes Mesh e qualquer mídia
(sobretudo interativa) não baseada no padrão um-para-muitos (incluído
spaming). Neste caso não haverá mais um (mesmo) mundo para todos.
Sem o broadcasting esvai-se a ilusão de um mesmo mundo para todos em
termos sociais. Ficará claro que cada um tem o seu (próprio) mundo (em
termos sociais). Mas ninguém estará aprisionado no seu mundo, pois
poderá se conectar com outros mundos (os mundos das outras pessoas).
Teremos uma rede de mundos: muitos mundos interconectados. Quanto
maior a interatividade de uma rede de mundos, mais-fluzz ele – o mundo
social configurado por essa rede – será.



                                     4
Mas... atenção! Quanto mais-fluzz for um mundo, menor (não em termos
geográficos ou populacionais e sim em termos sociais) ele será. Mundos
grandes, nesse sentido, quer dizer, com altos graus de separação, são
mundos menos-fluzz. A interatividade reduz o tamanho do mundo e isso
não é uma função do número de seus elementos (pessoas e aglomerados
de pessoas) e sim dos seus graus de distribuição e conectividade.

Onde fluzz está mais “ativo”, os mundos se           contraem. Há um
amassamento. Small-world networks são efeitos        de crunching (um
neologismo cunhado a partir da palavra crunch).

Não havendo um mundo isolado dos demais, o tamanho do mundo de cada
um será função do “vento” (fluzz) que varre seus interworlds. Os
interworlds serão inumeráveis; portanto, a rigor, o mundo de cada um é,
potencialmente, uma série de inumeráveis mundos em interação. Sim, tudo
depende da interatividade. O que significa dizer que não depende da
capacidade ou do esforço de cada um de se fazer ver por muitos. Assim,
nos novos Highly Connected Worlds, gente famosa (poderosa, rica, super
certificada ou titulada, admirada por qualquer outra qualidade intrínseca
massivamente reconhecida ou atribuída externamente à interação), tende a
não ser mais tão relevante. Com isso vai também por água abaixo essa
desastrosa idéia de sucesso, que predominou nos séculos passados,
baseada na capacidade de alguém de se destacar dos demais.

Impelido por fluzz, ninguém se deixará desvalorizar facilmente no circo
global montado para selecionar (e apresentar apenas) algumas atrações e
para polarizar sobre elas a atenção dos demais. Cada qual pode ser a
atração no seu próprio mundo e nos mundos conectados a esse mundo.
Uma aldeia global montada para subordinar os vários mundos a apenas
alguns, dando a impressão de que só estes últimos existem, está com os
dias contados. Teremos inumeráveis aldeias globais.




                                   5
Highly Connected Worlds

                                             Seu mundo-fluzz é sua timeline




O estilhaçamento do mundo único é uma mudança de época jamais
presenciada pelas chamadas civilizações (patriarcais, guerreiras, quer dizer,
hierárquicas). Os padrões de vida e convivência social estão mudando. Isso
significa que você também está mudando. Porque estão mudando seus
relacionamentos recorrentes: sim, seu mundo-fluzz é sua timeline. Não, por
certo, a timeline do Twitter, mas aquela que rola no espaço-tempo dos
fluxos e que não pode ser captada por quaisquer das ferramentas digitais p-
based disponíveis.

Essa mudança é a rede. À medida que aumenta a interatividade da rede na
qual você está imerso, fenômenos surpreendentes começam a acontecer.
Com a queda brusca dos graus de separação, chegará rapidamente o dia
em que você chamará um taxi em uma cidade de dez milhões de habitantes
e o motorista dirá: “O senhor não é o Steven Strogatz, que investiga redes
sociais e que descobriu que o mundo está ficando pequeno mais
rapidamente do que imaginávamos?”.

Isso, é claro, se você for de fato o Steven Strogatz. Mas, de certo modo, se
você é o motorista que se relaciona (ou que se relaciona com quem se
relaciona, ou que se relaciona com quem se relaciona com quem se
relaciona) com Steven Strogatz, sobretudo se ele (ou quem se relaciona
com ele) está na sua timeline e você (ou quem se relaciona com você) na
dele, você será um pouco Steven Strogatz (na medida inversa do seu grau
de separação dele): eis o ponto! Tal mudança vai muito além do que
imaginávamos porque você está fazendo parte de um organismo capaz de
inteligência e, quem sabe, de outros atributos ou qualidades que sequer
conseguimos imaginar.

Os Highly Connected Worlds tendem a ser organismos humanos coletivos.
Atenção: superorganismos humanos, não organismos super-humanos! Eles
são os campos para o nascimento do ‘indivíduo social’. Steven Strogatz fará
parte de você e você fará parte dele porque ambos farão parte de um
mesmo organismo, não em termos metafóricos, como quando usávamos a
palavra ‘organismo’ para designar o que imaginávamos que fosse ‘a
sociedade’. Não. Trata-se de um organismo mesmo. E humano.




                                     6
O indivíduo social está nascendo agora. Mas ele já estava presente, como
prefiguração, desde o início, quando se constituíram os primeiros seres
humanos. Para lembrar a bela Canción Tonta de García Lorca (1924), nós,
os humanos, só o éramos enquanto estávamos “bordados en la almohada”
da rede-mãe (1).

O indivíduo-social não pôde se consumar como humanidade enquanto algo
estava impedindo: a escassez de conexões, uma escassez artificialmente
introduzida por modos de regulação não-pluriárquicos. Fluzz não podia
passar. Mas fluzz é empowerfulness. Se fluzz não pode soprar o corpo não
se vivifica.

Essa mudança, todavia, é diferente – e única – em cada mundo. Não, não é
sempre a mesma coisa. Depende de “onde” (ou como) o fluxo (o)corre.
Manoel de Barros (1993) inventou “que um rio que flui entre dois jacintos
carrega mais ternura que um rio que flui entre dois lagartos” (2). Pois é. No
limite, você fará seu mundo. Quer dizer, você (ou você e sua timeline – o
que tende a ser a mesma coisa) será o mundo e os mundos serão tantos
quanto as identidades coletivas que forem usinadas por fluzz.

Isso significa que os Highly Connected Worlds tendem a ser inumeráveis,
assim como serão inumeráveis os interworlds, miríades de interfaces
conectando miríades de mundos e “explodindo como uma ramada de
neurônios”, para lembrar um artigo seminal de Pierre Lèvy (1998) (3).

Em termos tecnológico-sociais, o grande desafio hoje, ao contrário do que
reza a metafísica que esse Mark Zuckerberg – o chefe do Facebook – quer
nos empulhar – para torná-la, a sua plataforma proprietária única, a própria
rede e não mais uma ferramenta –, é construir os inumeráveis interworlds
que serão as novas internets.

O Facebook tem mais de 500 milhões de usuários? É ruim. Seria melhor ter
500 mil plataformas com mil usuários cada uma, conversando entre si...
Tudo que não precisamos agora é reeditar a ilusão hierárquica de um
mundo único. Uma sociedade em rede é uma configuração de miríades de
Highly Connected Worlds interagentes. Essa é a única mudança
verdadeiramente sustentável: tudo que é sustentável tem o padrão de rede
porque rede é redundância de processos e abundância (diversidade) de
caminhos.

A mudança-que-é-a-rede é fractal, não unitária. A mudança não é a
emergência de muitos mundos locais (que, de resto, sempre existiram),
mas os múltiplos caminhos (que não puderam existir nas civilizações



                                     7
hierárquicas) entre o local e o global. E ela não se consumará sem essas
“zonas de transição” que são interworlds.




                                   8
Interworlds

A nova internet – interconnected         networks   –   são   os   incontáveis
interconnected worlds




Começa assim: não uma Internet: miríades de internets. Bem, agora já
está melhorando. Mas, como? Não estamos correndo o risco de perder
todas as referências – e, com isso, o sentido – com esse estilhaçamento?

A preocupação com a fragmentação é uma herança típica de um mundo
pouco-fluzz. A totalidade não está dada, tem que ser consumada. E serão
sempre totalidades, no plural. Eins und Alles.

Que se dane se você não terá mais uma grande narrativa, um esquema
explicativo geral. Não havendo um mundo (único), para que precisamos
disso? Por certo, você fica incomodado com a fragmentação desses
inumeráveis mundos que se fazem e liquefazem. Mas esse seu mal-estar
baumaniano (de Zygmunt Bauman) é pura falta de Pó de Flu (aquele “Floo
Powder” inventado por Ignatia Wildsmith, da série Harry Potter de J. K.
Rowling, usado para conexão à Rede do Flu); ou seja, é falta de interworlds.
Trata-se de referenciar o bem-estar na (fluição da) relação, não na (solidez
da) coisa.

Ainda existem vários obstáculos à uma comunicação, por assim dizer,
“isotropicamente distribuída” (capaz de manter as mesmas propriedades em
todas as direções): a centralização da rede em servidores, provedores,
roteadores, cabos, satélites, torres, mainframes transceptores de ondas
eletromagnéticas, geradores de energia, resfriadores, protocolos de
reconhecimento, trânsito e integração de mensagens; a variedade de
línguas e a falta de tradutores-transdutores universais móveis que operem
em tempo real; a falta de programas de busca inteligente e de criação de
ambientes favoráveis à emergência de conteúdo novo por combinação não-
humana (polinização mútua) de mensagens; a separação entre os
dispositivos tecnológicos e o corpo humano; e a insuficiente interação entre
pessoas e não-pessoas (desde a comunicação com outros seres sencientes
ou coletivamente inteligentes, animados e inanimados, até a parceria
simbiótica com uma variedade de seres vivos).

Para começar: fluzz é obstruído pela centralização das comunicações (pela
difusão centralizada um-para-muitos chamada broadcasting), mas também
pela Internet descentralizada. O grande desafio hoje é construir os


                                     9
interworlds que são as novas internets. Trata-se de um desafio ao mesmo
tempo social e tecnológico.

Rolou por décadas uma discussão fora de lugar sobre as ameaças da
tecnologia. Muitas pessoas tinham medo de que a tecnologia fosse nos
dominar, nos afastar das outras pessoas, prejudicar nossa saúde física ou
mental ou, até mesmo, inviabilizar a vida humana no planeta.

Mas, em termos sociais, não há nenhum problema com a tecnologia. O
problema é com a tecnologia que introduz artificialmente escassez
centralizando a rede social e ensejando o controle.

Por certo, os sistemas de dominação não teriam podido se manter sem o
controle dos insumos básicos: a terra, a água, os alimentos e as fontes de
energia. Mas a escassez foi introduzida por um tipo determinado de
tecnologia urbana, hidráulica e agrícola: sem essa escassez (programada,
em certa medida) de recursos sobrevivenciais, esses sistemas de
dominação não teriam podido se reproduzir.

Assim, durante milênios fomos submetidos a tecnologias que viabilizavam o
controle. Por exemplo, o modelo hidráulico redistribuidor de água em canais
de irrigação, construídos e controlados pela tecnologia faraônica, criava o
perigo ao adensar povoamentos em locais de risco, em uma proporção que
ia muito além daquela exercida pela natural atração das terras mais férteis.
O objetivo era o controle. Se o povo não vivesse sob a ameaça (do perigo),
como poderia ser recompensado pela sua aquiescência, sendo salvo do
perigo? E como poderia ser castigado por sua desobediência à ordem, sendo
abandonado ao perigo? (4)

Agora precisamos de tecnologia para viabilizar e acelerar a distribuição da
rede social. Quanto menor a possibilidade de comando-e-controle, mais-
fluzz será essa tecnologia. Isso vale para tudo: energia e matéria, átomos e
bits. E vale também para a comunicação.

Assim como fluzz é obstruído pela centralização das comunicações e pela
Internet descentralizada, ele também é obstruído por todas as separações:
desde aquelas impostas pela barreira da língua (que separa pessoas que
falam idiomas diferentes), passando pela busca burra (que separa quem
procura de quem gera conhecimento), pelos dispositivos tecnológicos
interativos separados do corpo humano e, inclusive, no limite, pela
separação entre pessoas e não-pessoas.




                                    10
A barreira da língua é uma das principais remanescências do mundo único
hierárquico. É curioso que, mesmo tendo sido imposto um mundo único,
persistam várias línguas (cerca de 7 mil idiomas). Isso porque o mundo
único não é monocentralizado e sim multicentralizado (ou descentralizado)
em algumas identidades imaginárias (que chamamos de nações, povos ou
culturas sócio-territoriais, dominados hoje por menos de duas centenas de
Estados).

A metáfora bíblica sobre isso é esclarecedora. Na mesma Babel – não em
várias – as pessoas não podiam se comunicar umas com as outras. Não era
um problema de saber interpretar um código, de falar a mesma língua. O
que houve em Babel foi a impossibilidade de um conversar, não porque as
pessoas falassem vários idiomas e sim porque não conseguiam coordenar
mutuamente suas atitudes (o linguagear, na expressão de Maturana, que
pressupõe e exige cooperação) e, desse modo, não se entendiam (sem um
acoplamento estrutural não pode haver comunicação). É a pirâmide (a
topologia centralizada da rede social babeliana) que impede esse (assim
como qualquer outro) conversar. Tal problema só tem solução social, não
tecnológica.

A solução para Babel é a rede social distribuída. No entanto, o problema da
remanescência de várias línguas, entendidas como idiomas, como códigos
que podem ser traduzidos, tem solução tecnológica. Dispositivos móveis
com programas de tradução simultânea, capazes de receber e emitir dados
e voz, são partes (por aproximação, assimilação ou simbiose) dessas
interfaces complexas que chamamos de interworlds.

A falta de programas i-based de navegação inteligente, da busca
(semântica) à polinização (criativa, ensejadora de múltiplos significados),
também é um obstáculo à interação entre os mundos. Mas tal desafio pode
ser superado caso não se insista em recriar monstruosos sistemas de
gerenciamento do conhecimento (top down) e em arquivar significados
únicos de modo centralizado (como faz, por exemplo, a Wikipedia).

Repetindo: toda tecnologia é bem-vinda, inclusive aquela que modifica os
corpos humanos, desde que possibilite mais distribuição. Há muito tempo
estamos modificando nossos corpos: tomamos inibidores seletivos da
recaptação da serotonina (e. g., fluoxetina) e da fosfodiesterase-5 (e. g.,
sildenafila), injetamos insulina transgênica, fazemos implantes (dentários,
auditivos e inclusive de chips capazes de devolver a visão), inserimos
nanopartículas para corrigir rugas na pele, usamos próteses de todo tipo e
instalamos órgãos ou partes de órgãos internos artificiais. Por que não




                                    11
poderíamos inserir em nossos corpos outros dispositivos capazes de ampliar
e acelerar a comunicação?

Pode-se argumentar que não temos como saber se, no longo prazo, tudo
isso prejudicará a saúde. Mas também não temos como atestar isso em
relação à maioria dos medicamentos que tomamos ou das intervenções
médicas que realizamos. Todas essas substâncias e procedimentos, em
certa medida, provocam doenças ou desencadeiam novos padrões de saúde
ou ensejam novos reequilíbrios saúde-doença. Sim, saúde não é ausência
de doenças, mas a estabilidade relativa de um sistema que, se estiver vivo,
estará necessariamente afastado do equilíbrio, convivendo, portanto, com
alterações que convencionamos chamar de doenças (e que só são
chamadas assim do ponto de vista de um padrão de saúde, baseado em
indicadores cujos parâmetros de normalidade são variáveis com época,
lugar, cultura, conhecimento). Só seres inanimados estão livres de doenças
(ainda que as infestações de vírus em seres cibernéticos também possam
vir, coerentemente, a ser encaradas como doenças).

Por outro lado, do ponto de vista biológico, já existe a parceria simbiótica
do corpo humano com outros seres vivos. Somos, na verdade, colônias de
bactérias, comunidades de microorganismos. Somos os planetas onde vive
boa parte dos seres vivos. Tal parceria está presente no interior de nossa
unidade vital: a célula nucleada é o resultado da associação com um
procarionte que passou a compor o novo organismo por endossimbiose.

Mas todas as tecnologias que podem apoiar, vamos dizer assim, o
surgimento das múltiplas internets distribuídas, não são, elas próprias, os
interworlds que conectam os mundos em rede aqui chamados de Highly
Connected Worlds. Esses interworlds são sociais – fundamentalmente, são
redes sociais – não dispositivos tecnológicos. Ou seja, no limite, os
interworlds são pessoas.




                                    12
Inumeráveis interworlds| 2



(1) Cf. LORCA, Frederico Garcia (1924). “Canción Tonta” in Canciones (Obras
Completas I). Madrid: Aguilar, 1978.

(2) BARROS, Manoel (1993). Poesia Completa. São Paulo: Leya, 2010.

(3) LÉVY, Pierre (1998). “Uma ramada de neurônios” in Folha de São Paulo:
15/11/1998. Cf. ainda Caderno Mais da Folha de S. Paulo: 15/11/2002 (p. 5-3). O
texto está disponível em:

<http://escoladeredes.ning.com/profiles/blogs/uma-ramada-de-neuronios>

(4) Cf. FRANCO, Augusto (1998). O Complexo Darth Vader. Slideshare [469 views
em 23/01/2011]

<http://www.slideshare.net/augustodefranco/o-complexo-darth-vader>




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Fluzz capítulo 2

  • 1. Capítulo 2 | Inumeráveis interworlds AUGUSTO DE FRANCO Vida humana e convivência social nos novos mundos altamente conectados do terceiro milênio 1
  • 2. 2
  • 3. 2 Inumeráveis interworlds E naquele instante ele viu o planeta inteiro: cada vila, cada cidade, cada metrópole, os lugares desertos e os lugares plantados. Todas as formas que se chocavam em sua visão traziam relacionamentos específicos de elementos interiores e exteriores. Ele via as estruturas da sociedade imperial refletidas nas estruturas físicas de seus planetas e de suas comunidades. Como um gigantesco desdobramento dentro dele, ele via nessa revelação o que ela devia ser: uma janela para as partes invisíveis da sociedade. Percebendo isso, notou que todo sistema devia possuir tal janela. Mesmo o sistema representado por ele mesmo e o universo. Começou a perscrutar as janelas, como um voyeur cósmico. Frank Herbert em Os filhos de Duna (1976) 3
  • 4. Muitos mundos, isso mesmo. Não existe um mundo que se possa dizer o mundo, a não ser por efeito de hierarquização. Pensar e falar do mundo é tentar impingir um só mundo. Pois os mundos são muitos. Um só mundo é uma invenção do broadcasting. Broadcasting – um para muitos – é, obviamente, centralização, quer dizer, hierarquia. Tirem as TVs e as rádios, os jornais e revistas, as agências de notícias, talvez o cinema e não sobrará mais um só mundo. Sem o broadcasting já teremos múltiplos mundos: cada qual configurado pelas nossas conexões. Com a internet esses mundos se multiplicam velozmente, mas não por difusão e sim por interconexão. Desse ponto de vista, interconnected networks (internet) é, na verdade, interconnected worlds. E fluzz é o vento que varre esses inumeráveis interworlds. No mundo hierárquico, não há interface para fluzz. Mas quando fluzz for do regime dos múltiplos mundos interconectados, esses mundos serão os novos Highly Connected Worlds do terceiro milênio. Pense em um mundo sem TV e rádio, sem jornais e revistas, sem agências de notícias, sem editoras e distribuidoras de livros de domínio privado e sem cinema. Não, não estamos propondo uma volta à Idade Média. Teremos telefone, Internet, redes P2P, redes Mesh e qualquer mídia (sobretudo interativa) não baseada no padrão um-para-muitos (incluído spaming). Neste caso não haverá mais um (mesmo) mundo para todos. Sem o broadcasting esvai-se a ilusão de um mesmo mundo para todos em termos sociais. Ficará claro que cada um tem o seu (próprio) mundo (em termos sociais). Mas ninguém estará aprisionado no seu mundo, pois poderá se conectar com outros mundos (os mundos das outras pessoas). Teremos uma rede de mundos: muitos mundos interconectados. Quanto maior a interatividade de uma rede de mundos, mais-fluzz ele – o mundo social configurado por essa rede – será. 4
  • 5. Mas... atenção! Quanto mais-fluzz for um mundo, menor (não em termos geográficos ou populacionais e sim em termos sociais) ele será. Mundos grandes, nesse sentido, quer dizer, com altos graus de separação, são mundos menos-fluzz. A interatividade reduz o tamanho do mundo e isso não é uma função do número de seus elementos (pessoas e aglomerados de pessoas) e sim dos seus graus de distribuição e conectividade. Onde fluzz está mais “ativo”, os mundos se contraem. Há um amassamento. Small-world networks são efeitos de crunching (um neologismo cunhado a partir da palavra crunch). Não havendo um mundo isolado dos demais, o tamanho do mundo de cada um será função do “vento” (fluzz) que varre seus interworlds. Os interworlds serão inumeráveis; portanto, a rigor, o mundo de cada um é, potencialmente, uma série de inumeráveis mundos em interação. Sim, tudo depende da interatividade. O que significa dizer que não depende da capacidade ou do esforço de cada um de se fazer ver por muitos. Assim, nos novos Highly Connected Worlds, gente famosa (poderosa, rica, super certificada ou titulada, admirada por qualquer outra qualidade intrínseca massivamente reconhecida ou atribuída externamente à interação), tende a não ser mais tão relevante. Com isso vai também por água abaixo essa desastrosa idéia de sucesso, que predominou nos séculos passados, baseada na capacidade de alguém de se destacar dos demais. Impelido por fluzz, ninguém se deixará desvalorizar facilmente no circo global montado para selecionar (e apresentar apenas) algumas atrações e para polarizar sobre elas a atenção dos demais. Cada qual pode ser a atração no seu próprio mundo e nos mundos conectados a esse mundo. Uma aldeia global montada para subordinar os vários mundos a apenas alguns, dando a impressão de que só estes últimos existem, está com os dias contados. Teremos inumeráveis aldeias globais. 5
  • 6. Highly Connected Worlds Seu mundo-fluzz é sua timeline O estilhaçamento do mundo único é uma mudança de época jamais presenciada pelas chamadas civilizações (patriarcais, guerreiras, quer dizer, hierárquicas). Os padrões de vida e convivência social estão mudando. Isso significa que você também está mudando. Porque estão mudando seus relacionamentos recorrentes: sim, seu mundo-fluzz é sua timeline. Não, por certo, a timeline do Twitter, mas aquela que rola no espaço-tempo dos fluxos e que não pode ser captada por quaisquer das ferramentas digitais p- based disponíveis. Essa mudança é a rede. À medida que aumenta a interatividade da rede na qual você está imerso, fenômenos surpreendentes começam a acontecer. Com a queda brusca dos graus de separação, chegará rapidamente o dia em que você chamará um taxi em uma cidade de dez milhões de habitantes e o motorista dirá: “O senhor não é o Steven Strogatz, que investiga redes sociais e que descobriu que o mundo está ficando pequeno mais rapidamente do que imaginávamos?”. Isso, é claro, se você for de fato o Steven Strogatz. Mas, de certo modo, se você é o motorista que se relaciona (ou que se relaciona com quem se relaciona, ou que se relaciona com quem se relaciona com quem se relaciona) com Steven Strogatz, sobretudo se ele (ou quem se relaciona com ele) está na sua timeline e você (ou quem se relaciona com você) na dele, você será um pouco Steven Strogatz (na medida inversa do seu grau de separação dele): eis o ponto! Tal mudança vai muito além do que imaginávamos porque você está fazendo parte de um organismo capaz de inteligência e, quem sabe, de outros atributos ou qualidades que sequer conseguimos imaginar. Os Highly Connected Worlds tendem a ser organismos humanos coletivos. Atenção: superorganismos humanos, não organismos super-humanos! Eles são os campos para o nascimento do ‘indivíduo social’. Steven Strogatz fará parte de você e você fará parte dele porque ambos farão parte de um mesmo organismo, não em termos metafóricos, como quando usávamos a palavra ‘organismo’ para designar o que imaginávamos que fosse ‘a sociedade’. Não. Trata-se de um organismo mesmo. E humano. 6
  • 7. O indivíduo social está nascendo agora. Mas ele já estava presente, como prefiguração, desde o início, quando se constituíram os primeiros seres humanos. Para lembrar a bela Canción Tonta de García Lorca (1924), nós, os humanos, só o éramos enquanto estávamos “bordados en la almohada” da rede-mãe (1). O indivíduo-social não pôde se consumar como humanidade enquanto algo estava impedindo: a escassez de conexões, uma escassez artificialmente introduzida por modos de regulação não-pluriárquicos. Fluzz não podia passar. Mas fluzz é empowerfulness. Se fluzz não pode soprar o corpo não se vivifica. Essa mudança, todavia, é diferente – e única – em cada mundo. Não, não é sempre a mesma coisa. Depende de “onde” (ou como) o fluxo (o)corre. Manoel de Barros (1993) inventou “que um rio que flui entre dois jacintos carrega mais ternura que um rio que flui entre dois lagartos” (2). Pois é. No limite, você fará seu mundo. Quer dizer, você (ou você e sua timeline – o que tende a ser a mesma coisa) será o mundo e os mundos serão tantos quanto as identidades coletivas que forem usinadas por fluzz. Isso significa que os Highly Connected Worlds tendem a ser inumeráveis, assim como serão inumeráveis os interworlds, miríades de interfaces conectando miríades de mundos e “explodindo como uma ramada de neurônios”, para lembrar um artigo seminal de Pierre Lèvy (1998) (3). Em termos tecnológico-sociais, o grande desafio hoje, ao contrário do que reza a metafísica que esse Mark Zuckerberg – o chefe do Facebook – quer nos empulhar – para torná-la, a sua plataforma proprietária única, a própria rede e não mais uma ferramenta –, é construir os inumeráveis interworlds que serão as novas internets. O Facebook tem mais de 500 milhões de usuários? É ruim. Seria melhor ter 500 mil plataformas com mil usuários cada uma, conversando entre si... Tudo que não precisamos agora é reeditar a ilusão hierárquica de um mundo único. Uma sociedade em rede é uma configuração de miríades de Highly Connected Worlds interagentes. Essa é a única mudança verdadeiramente sustentável: tudo que é sustentável tem o padrão de rede porque rede é redundância de processos e abundância (diversidade) de caminhos. A mudança-que-é-a-rede é fractal, não unitária. A mudança não é a emergência de muitos mundos locais (que, de resto, sempre existiram), mas os múltiplos caminhos (que não puderam existir nas civilizações 7
  • 8. hierárquicas) entre o local e o global. E ela não se consumará sem essas “zonas de transição” que são interworlds. 8
  • 9. Interworlds A nova internet – interconnected networks – são os incontáveis interconnected worlds Começa assim: não uma Internet: miríades de internets. Bem, agora já está melhorando. Mas, como? Não estamos correndo o risco de perder todas as referências – e, com isso, o sentido – com esse estilhaçamento? A preocupação com a fragmentação é uma herança típica de um mundo pouco-fluzz. A totalidade não está dada, tem que ser consumada. E serão sempre totalidades, no plural. Eins und Alles. Que se dane se você não terá mais uma grande narrativa, um esquema explicativo geral. Não havendo um mundo (único), para que precisamos disso? Por certo, você fica incomodado com a fragmentação desses inumeráveis mundos que se fazem e liquefazem. Mas esse seu mal-estar baumaniano (de Zygmunt Bauman) é pura falta de Pó de Flu (aquele “Floo Powder” inventado por Ignatia Wildsmith, da série Harry Potter de J. K. Rowling, usado para conexão à Rede do Flu); ou seja, é falta de interworlds. Trata-se de referenciar o bem-estar na (fluição da) relação, não na (solidez da) coisa. Ainda existem vários obstáculos à uma comunicação, por assim dizer, “isotropicamente distribuída” (capaz de manter as mesmas propriedades em todas as direções): a centralização da rede em servidores, provedores, roteadores, cabos, satélites, torres, mainframes transceptores de ondas eletromagnéticas, geradores de energia, resfriadores, protocolos de reconhecimento, trânsito e integração de mensagens; a variedade de línguas e a falta de tradutores-transdutores universais móveis que operem em tempo real; a falta de programas de busca inteligente e de criação de ambientes favoráveis à emergência de conteúdo novo por combinação não- humana (polinização mútua) de mensagens; a separação entre os dispositivos tecnológicos e o corpo humano; e a insuficiente interação entre pessoas e não-pessoas (desde a comunicação com outros seres sencientes ou coletivamente inteligentes, animados e inanimados, até a parceria simbiótica com uma variedade de seres vivos). Para começar: fluzz é obstruído pela centralização das comunicações (pela difusão centralizada um-para-muitos chamada broadcasting), mas também pela Internet descentralizada. O grande desafio hoje é construir os 9
  • 10. interworlds que são as novas internets. Trata-se de um desafio ao mesmo tempo social e tecnológico. Rolou por décadas uma discussão fora de lugar sobre as ameaças da tecnologia. Muitas pessoas tinham medo de que a tecnologia fosse nos dominar, nos afastar das outras pessoas, prejudicar nossa saúde física ou mental ou, até mesmo, inviabilizar a vida humana no planeta. Mas, em termos sociais, não há nenhum problema com a tecnologia. O problema é com a tecnologia que introduz artificialmente escassez centralizando a rede social e ensejando o controle. Por certo, os sistemas de dominação não teriam podido se manter sem o controle dos insumos básicos: a terra, a água, os alimentos e as fontes de energia. Mas a escassez foi introduzida por um tipo determinado de tecnologia urbana, hidráulica e agrícola: sem essa escassez (programada, em certa medida) de recursos sobrevivenciais, esses sistemas de dominação não teriam podido se reproduzir. Assim, durante milênios fomos submetidos a tecnologias que viabilizavam o controle. Por exemplo, o modelo hidráulico redistribuidor de água em canais de irrigação, construídos e controlados pela tecnologia faraônica, criava o perigo ao adensar povoamentos em locais de risco, em uma proporção que ia muito além daquela exercida pela natural atração das terras mais férteis. O objetivo era o controle. Se o povo não vivesse sob a ameaça (do perigo), como poderia ser recompensado pela sua aquiescência, sendo salvo do perigo? E como poderia ser castigado por sua desobediência à ordem, sendo abandonado ao perigo? (4) Agora precisamos de tecnologia para viabilizar e acelerar a distribuição da rede social. Quanto menor a possibilidade de comando-e-controle, mais- fluzz será essa tecnologia. Isso vale para tudo: energia e matéria, átomos e bits. E vale também para a comunicação. Assim como fluzz é obstruído pela centralização das comunicações e pela Internet descentralizada, ele também é obstruído por todas as separações: desde aquelas impostas pela barreira da língua (que separa pessoas que falam idiomas diferentes), passando pela busca burra (que separa quem procura de quem gera conhecimento), pelos dispositivos tecnológicos interativos separados do corpo humano e, inclusive, no limite, pela separação entre pessoas e não-pessoas. 10
  • 11. A barreira da língua é uma das principais remanescências do mundo único hierárquico. É curioso que, mesmo tendo sido imposto um mundo único, persistam várias línguas (cerca de 7 mil idiomas). Isso porque o mundo único não é monocentralizado e sim multicentralizado (ou descentralizado) em algumas identidades imaginárias (que chamamos de nações, povos ou culturas sócio-territoriais, dominados hoje por menos de duas centenas de Estados). A metáfora bíblica sobre isso é esclarecedora. Na mesma Babel – não em várias – as pessoas não podiam se comunicar umas com as outras. Não era um problema de saber interpretar um código, de falar a mesma língua. O que houve em Babel foi a impossibilidade de um conversar, não porque as pessoas falassem vários idiomas e sim porque não conseguiam coordenar mutuamente suas atitudes (o linguagear, na expressão de Maturana, que pressupõe e exige cooperação) e, desse modo, não se entendiam (sem um acoplamento estrutural não pode haver comunicação). É a pirâmide (a topologia centralizada da rede social babeliana) que impede esse (assim como qualquer outro) conversar. Tal problema só tem solução social, não tecnológica. A solução para Babel é a rede social distribuída. No entanto, o problema da remanescência de várias línguas, entendidas como idiomas, como códigos que podem ser traduzidos, tem solução tecnológica. Dispositivos móveis com programas de tradução simultânea, capazes de receber e emitir dados e voz, são partes (por aproximação, assimilação ou simbiose) dessas interfaces complexas que chamamos de interworlds. A falta de programas i-based de navegação inteligente, da busca (semântica) à polinização (criativa, ensejadora de múltiplos significados), também é um obstáculo à interação entre os mundos. Mas tal desafio pode ser superado caso não se insista em recriar monstruosos sistemas de gerenciamento do conhecimento (top down) e em arquivar significados únicos de modo centralizado (como faz, por exemplo, a Wikipedia). Repetindo: toda tecnologia é bem-vinda, inclusive aquela que modifica os corpos humanos, desde que possibilite mais distribuição. Há muito tempo estamos modificando nossos corpos: tomamos inibidores seletivos da recaptação da serotonina (e. g., fluoxetina) e da fosfodiesterase-5 (e. g., sildenafila), injetamos insulina transgênica, fazemos implantes (dentários, auditivos e inclusive de chips capazes de devolver a visão), inserimos nanopartículas para corrigir rugas na pele, usamos próteses de todo tipo e instalamos órgãos ou partes de órgãos internos artificiais. Por que não 11
  • 12. poderíamos inserir em nossos corpos outros dispositivos capazes de ampliar e acelerar a comunicação? Pode-se argumentar que não temos como saber se, no longo prazo, tudo isso prejudicará a saúde. Mas também não temos como atestar isso em relação à maioria dos medicamentos que tomamos ou das intervenções médicas que realizamos. Todas essas substâncias e procedimentos, em certa medida, provocam doenças ou desencadeiam novos padrões de saúde ou ensejam novos reequilíbrios saúde-doença. Sim, saúde não é ausência de doenças, mas a estabilidade relativa de um sistema que, se estiver vivo, estará necessariamente afastado do equilíbrio, convivendo, portanto, com alterações que convencionamos chamar de doenças (e que só são chamadas assim do ponto de vista de um padrão de saúde, baseado em indicadores cujos parâmetros de normalidade são variáveis com época, lugar, cultura, conhecimento). Só seres inanimados estão livres de doenças (ainda que as infestações de vírus em seres cibernéticos também possam vir, coerentemente, a ser encaradas como doenças). Por outro lado, do ponto de vista biológico, já existe a parceria simbiótica do corpo humano com outros seres vivos. Somos, na verdade, colônias de bactérias, comunidades de microorganismos. Somos os planetas onde vive boa parte dos seres vivos. Tal parceria está presente no interior de nossa unidade vital: a célula nucleada é o resultado da associação com um procarionte que passou a compor o novo organismo por endossimbiose. Mas todas as tecnologias que podem apoiar, vamos dizer assim, o surgimento das múltiplas internets distribuídas, não são, elas próprias, os interworlds que conectam os mundos em rede aqui chamados de Highly Connected Worlds. Esses interworlds são sociais – fundamentalmente, são redes sociais – não dispositivos tecnológicos. Ou seja, no limite, os interworlds são pessoas. 12
  • 13. Inumeráveis interworlds| 2 (1) Cf. LORCA, Frederico Garcia (1924). “Canción Tonta” in Canciones (Obras Completas I). Madrid: Aguilar, 1978. (2) BARROS, Manoel (1993). Poesia Completa. São Paulo: Leya, 2010. (3) LÉVY, Pierre (1998). “Uma ramada de neurônios” in Folha de São Paulo: 15/11/1998. Cf. ainda Caderno Mais da Folha de S. Paulo: 15/11/2002 (p. 5-3). O texto está disponível em: <http://escoladeredes.ning.com/profiles/blogs/uma-ramada-de-neuronios> (4) Cf. FRANCO, Augusto (1998). O Complexo Darth Vader. Slideshare [469 views em 23/01/2011] <http://www.slideshare.net/augustodefranco/o-complexo-darth-vader> 13