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Edição em 92 tópicos da versão preliminar integral do livro de Augusto de
Franco (2011), FLUZZ: Vida humana e convivência social nos novos mundos
altamente conectados do terceiro milênio




                             17
            (Corresponde ao décimo-sexto tópico do Capítulo 1,
                 intitulado No “lado de dentro” do abismo)




       Aranhas não podem gerar estrelas-do-mar

É inútil erigir uma hierarquia para realizar a transição de uma organização
hierárquica para uma organização em rede

No velho mundo fracamente conectado dos milênios passados erigia-se
sempre uma hierarquia para realizar qualquer mudança social, assim no
que era chamado de ‘a sociedade’ como em qualquer organização
particular. Diante dos sinais de que a estrutura e a dinâmica das sociedades
estavam adquirindo, cada vez mais, as características de uma rede, os
chefes de organizações hierárquicas começaram a tentar fazer
reengenharias para se adequar à mudança. O primeiro impulso foi o de
controlar as redes sociais (em geral confundidas com as mídias sociais) para
usá-las de acordo com seus velhos propósitos: para ter mais influência,
para ter mais votos, para vender mais, para extrair mais sobrevalor dos
funcionários, para derrotar mais facilmente a concorrência ou os inimigos.
Isso, entretanto, não aumentou a capacidade de adaptação das
organizações hierárquicas porque o problema não estava em descobrir uma
nova combinação dos seus recursos materiais e organizacionais, humanos e
sociais e sim na sua própria natureza de organização hierárquica.

Novos departamentos hierárquicos encarregados de adequar a organização
às novas possibilidades que iam se tornando disponíveis em uma sociedade
em rede (nuvens de computação, plataformas interativas, trabalho remoto,
marketing viral, sistemas de co-working e co-creation voltados à inovação,
peer production, crowdsourcing, crowdfunding, crowdbuying, etc) não foram
capazes de atingir o coração do problema, que é o seguinte: em uma
sociedade em rede as organizações também devem ser redes. Fica faltando
sempre um... crowdweaving. Porque o problema é: como fazer a transição
de pirâmide (mainframe) para rede (network)?

Mas é inútil erigir uma hierarquia para realizar a transição de uma
organização piramidal para uma organização em rede. Aranhas não podem
gerar estrelas-do-mar, para usar as boas metáforas de Brafman e
Beckstrom (2006) (30). Deveria ser óbvio, tautológico ou quase. Se
queremos redes devemos articular redes, não erigir hierarquias. Semente
de rede é rede. Desistam os que pretendem fazer isso: uma hierarquia não
pode gerar uma rede.

A manutenção das hierarquias não ocorre em função de qualquer
discordância consciente das redes por parte dos agentes de um sistema
hierárquico. Uma vez erigidas, as hierarquias tendem a se manter e
reproduzir por força de circularidades inerentes às suas interações
recorrentes. É uma espécie de mecanismo de segurança do sistema contra
sua dissolução. É uma maneira de se proteger do caos representado pela
ausência de ordem top down. É uma forma de ficar do “lado de fora” do
abismo, posto que cair no abismo é o maior temor de toda estrutura mais
centralizada do que distribuída.




                                    2
Nota

(30) BRAFMAN, Ori & BECKSTROM, Rod (2006): Quem está no comando? A
estratégia da estrela-do-mar e da aranha: o poder das organizações sem líderes.
Rio de Janeiro: Elsevier-Campus, 2007.




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Transição de hierarquias para redes

  • 1. Em pílulas Edição em 92 tópicos da versão preliminar integral do livro de Augusto de Franco (2011), FLUZZ: Vida humana e convivência social nos novos mundos altamente conectados do terceiro milênio 17 (Corresponde ao décimo-sexto tópico do Capítulo 1, intitulado No “lado de dentro” do abismo) Aranhas não podem gerar estrelas-do-mar É inútil erigir uma hierarquia para realizar a transição de uma organização hierárquica para uma organização em rede No velho mundo fracamente conectado dos milênios passados erigia-se sempre uma hierarquia para realizar qualquer mudança social, assim no que era chamado de ‘a sociedade’ como em qualquer organização particular. Diante dos sinais de que a estrutura e a dinâmica das sociedades estavam adquirindo, cada vez mais, as características de uma rede, os chefes de organizações hierárquicas começaram a tentar fazer reengenharias para se adequar à mudança. O primeiro impulso foi o de controlar as redes sociais (em geral confundidas com as mídias sociais) para
  • 2. usá-las de acordo com seus velhos propósitos: para ter mais influência, para ter mais votos, para vender mais, para extrair mais sobrevalor dos funcionários, para derrotar mais facilmente a concorrência ou os inimigos. Isso, entretanto, não aumentou a capacidade de adaptação das organizações hierárquicas porque o problema não estava em descobrir uma nova combinação dos seus recursos materiais e organizacionais, humanos e sociais e sim na sua própria natureza de organização hierárquica. Novos departamentos hierárquicos encarregados de adequar a organização às novas possibilidades que iam se tornando disponíveis em uma sociedade em rede (nuvens de computação, plataformas interativas, trabalho remoto, marketing viral, sistemas de co-working e co-creation voltados à inovação, peer production, crowdsourcing, crowdfunding, crowdbuying, etc) não foram capazes de atingir o coração do problema, que é o seguinte: em uma sociedade em rede as organizações também devem ser redes. Fica faltando sempre um... crowdweaving. Porque o problema é: como fazer a transição de pirâmide (mainframe) para rede (network)? Mas é inútil erigir uma hierarquia para realizar a transição de uma organização piramidal para uma organização em rede. Aranhas não podem gerar estrelas-do-mar, para usar as boas metáforas de Brafman e Beckstrom (2006) (30). Deveria ser óbvio, tautológico ou quase. Se queremos redes devemos articular redes, não erigir hierarquias. Semente de rede é rede. Desistam os que pretendem fazer isso: uma hierarquia não pode gerar uma rede. A manutenção das hierarquias não ocorre em função de qualquer discordância consciente das redes por parte dos agentes de um sistema hierárquico. Uma vez erigidas, as hierarquias tendem a se manter e reproduzir por força de circularidades inerentes às suas interações recorrentes. É uma espécie de mecanismo de segurança do sistema contra sua dissolução. É uma maneira de se proteger do caos representado pela ausência de ordem top down. É uma forma de ficar do “lado de fora” do abismo, posto que cair no abismo é o maior temor de toda estrutura mais centralizada do que distribuída. 2
  • 3. Nota (30) BRAFMAN, Ori & BECKSTROM, Rod (2006): Quem está no comando? A estratégia da estrela-do-mar e da aranha: o poder das organizações sem líderes. Rio de Janeiro: Elsevier-Campus, 2007. 3