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Edição em 92 tópicos da versão preliminar integral do livro de Augusto de
Franco (2011), FLUZZ: Vida humana e convivência social nos novos mundos
altamente conectados do terceiro milênio




                             75
               (Corresponde ao quinto tópico do Capítulo 9,
                    intitulado Eles já estão entre nós)




                             Netweavers

Todas as pessoas têm uma porção-netweaver. Se não fosse assim, não
poderiam ser seres políticos

Netweavers são os “tecelões” (para aproveitar o que poderia ter sido uma
feliz expressão de Platão, no diálogo O político, se ele não estivesse se
referindo a um sujeito autocrático), e os animadores de redes
voluntariamente construídas. Na verdade, eles constroem interfaces para
conversar com a rede-mãe. Os netweavers não são necessariamente os
estudiosos das redes, os especialistas em Social Network Analysis ou os que
pesquisam ou constroem conhecimento organizado sobre a morfologia e a
dinâmica da sociedade-rede. Os netweavers, em geral, são políticos, não
sociólogos. E políticos no sentido prático do termo, quer dizer, articuladores
políticos, empreendedores políticos e não cientistas ou analistas políticos.

Os políticos tradicionais, entretanto, não são netweavers e sim,
exatamente, o contrário disso: eles hierarquizam o tecido social,
verticalizam as relações, introduzem centralizações, obstruem os caminhos,
destroem conexões, derrubam pontes ou fecham os atalhos que ligam um
cluster a outros clusters, separando uma “região” da rede de outras
“regiões”, excluem nodos; enfim, introduzem toda sorte de anisotropias no
espaço-tempo dos fluxos. Fazem tudo isso porque o tipo de poder com o
qual lidam — o poder, em suma, de mandar alguém fazer alguma coisa
contra sua vontade — é sempre o poder de obstruir, separar e excluir. E é o
poder de introduzir intermediações ampliando o comprimento da corrente,
dilatando a extensão característica de caminho da rede social ou
aumentando seus graus de separação, ou seja, diminuindo a conectividade
(e a interatividade). Não é por outro motivo que os políticos tradicionais
funcionam, via de regra, como despachantes de recursos públicos,
privatizando continuamente o capital social. Pode-se dizer que, nesse
sentido, os políticos tradicionais são os anti-netweavers, visto que
contribuem para tornar a rede social menos distribuída e mais centralizada
ou descentralizada, isto é, multicentralizada. Também não é à toa que todas
as organizações políticas — mesmo no interior de regimes formalmente
democráticos — têm topologia mais centralizada do que distribuída. Essa
também é uma maneira de descrever, pelo avesso, o papel dos netweavers.

Todas as pessoas têm uma porção-netweaver. Se não fosse assim, não
poderiam ser seres políticos (e a democracia jamais poderia ter sido
inventada e reinventada).

Mas em sentido estrito, chamamos de netweavers aqueles que se dedicam
a tecer redes. Esse talvez seja o papel social mais relevante em mundos
altamente conectados. O que significa que, em um mundo hierárquico, o
netweaver é necessariamente um hacker (embora não seja apenas isso).




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  • 1. Em pílulas Edição em 92 tópicos da versão preliminar integral do livro de Augusto de Franco (2011), FLUZZ: Vida humana e convivência social nos novos mundos altamente conectados do terceiro milênio 75 (Corresponde ao quinto tópico do Capítulo 9, intitulado Eles já estão entre nós) Netweavers Todas as pessoas têm uma porção-netweaver. Se não fosse assim, não poderiam ser seres políticos Netweavers são os “tecelões” (para aproveitar o que poderia ter sido uma feliz expressão de Platão, no diálogo O político, se ele não estivesse se referindo a um sujeito autocrático), e os animadores de redes voluntariamente construídas. Na verdade, eles constroem interfaces para conversar com a rede-mãe. Os netweavers não são necessariamente os estudiosos das redes, os especialistas em Social Network Analysis ou os que pesquisam ou constroem conhecimento organizado sobre a morfologia e a dinâmica da sociedade-rede. Os netweavers, em geral, são políticos, não
  • 2. sociólogos. E políticos no sentido prático do termo, quer dizer, articuladores políticos, empreendedores políticos e não cientistas ou analistas políticos. Os políticos tradicionais, entretanto, não são netweavers e sim, exatamente, o contrário disso: eles hierarquizam o tecido social, verticalizam as relações, introduzem centralizações, obstruem os caminhos, destroem conexões, derrubam pontes ou fecham os atalhos que ligam um cluster a outros clusters, separando uma “região” da rede de outras “regiões”, excluem nodos; enfim, introduzem toda sorte de anisotropias no espaço-tempo dos fluxos. Fazem tudo isso porque o tipo de poder com o qual lidam — o poder, em suma, de mandar alguém fazer alguma coisa contra sua vontade — é sempre o poder de obstruir, separar e excluir. E é o poder de introduzir intermediações ampliando o comprimento da corrente, dilatando a extensão característica de caminho da rede social ou aumentando seus graus de separação, ou seja, diminuindo a conectividade (e a interatividade). Não é por outro motivo que os políticos tradicionais funcionam, via de regra, como despachantes de recursos públicos, privatizando continuamente o capital social. Pode-se dizer que, nesse sentido, os políticos tradicionais são os anti-netweavers, visto que contribuem para tornar a rede social menos distribuída e mais centralizada ou descentralizada, isto é, multicentralizada. Também não é à toa que todas as organizações políticas — mesmo no interior de regimes formalmente democráticos — têm topologia mais centralizada do que distribuída. Essa também é uma maneira de descrever, pelo avesso, o papel dos netweavers. Todas as pessoas têm uma porção-netweaver. Se não fosse assim, não poderiam ser seres políticos (e a democracia jamais poderia ter sido inventada e reinventada). Mas em sentido estrito, chamamos de netweavers aqueles que se dedicam a tecer redes. Esse talvez seja o papel social mais relevante em mundos altamente conectados. O que significa que, em um mundo hierárquico, o netweaver é necessariamente um hacker (embora não seja apenas isso). 2