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Em pílulas
Edição em 92 tópicos da versão preliminar integral do livro de Augusto de
Franco (2011), FLUZZ: Vida humana e convivência social nos novos mundos
altamente conectados do terceiro milênio




                             90
               (Corresponde ao quinto tópico do Capítulo 11,
              intitulado Bem-vindos aos novos mundos-fluzz)




                              Crunching

Deixando os mundos se contrairem

A quarta grande descoberta: small is powerful. Essa talvez seja a mais
surpreendente descoberta-fluzz de todos os tempos. Em outras palavras,
isso quer dizer que o social reinventa o poder. No lugar do poder de mandar
nos outros, surge o poder de encorajá-los (e encorajar-se): empowerment!

Sim, como já foi dito aqui, fluzz é empowerfulness. Quando aumenta a
interatividade é porque os graus de conectividade e distribuição da rede
social aumentaram; ou, dizendo de outro modo, é porque os graus de
separação diminuiram: o mundo social se contraiu (crunch). Steven
Strogatz observou em 2008 que os graus de separação não estavam apenas
diminuindo: eles estavam despencando (10). De uma perspectiva-fluzz,
podemos afirmar que – sob o efeito desse amassamento (Small-World
Phenomenon) – somos nós que estamos despencando... no abismo!

Nada a ver com conteúdo. Tudo que interage tende a se emaranhar mais e
a se aproximar, diminuindo o tamanho social do mundo. Quanto menores
os graus de separação do emaranhado em você vive como pessoa, mais
empoderado por ele (por esse emaranhado) você será. Mais alternativas de
futuro terá à sua disposição. Mais parcerias e simbioses poderá fazer para
realizar qualquer coisa. Mais rico (de conexões) e mais poderoso (de
empoderamento) você será, porque terá mais recursos (meios) e mais
capacidade (potencialidade) de alterar disposições no espaço-tempo dos
fluxos.

Novamente é o caso de dizer (pela terceira vez neste livro): bem, isso muda
tudo.

Nos Highly Connected Worlds a contração (crunching) é acelerada. Em
pouco tempo sua timeline fica tão caudalosa que você é arrastado pela
correnteza. Não adianta mais erigir muros para tentar se proteger da
interação: como se sabe, a enxurrada, quando vem, leva tudo. Então você
vai ter que aprender a viver em fluxo. Isso muda tudo porque muda a
natureza do que chamávamos de normas e instituições, processos e rotinas,
planos e agendas e, inclusive, propriedades (incluindo propriedades
imobiliárias, como nossas casas – nossos refúgios contra as intempéries e
nosso espaço privado, separado dos outros e protegido da interação com o
outro-imprevisível). Uma vida em fluxo é uma vida nômade.

No passado temia-se que isso nos colocasse na dependência de dispositivos
interativos móveis – e-readers e tablets – mochilas e naves. Quá! Tudo isso
já é passado. Os dispositivos separados do corpo vão sendo substituídos por
implantes conectores, as máquinas de ler livros e os computadores-
comprimidos vão virando objetos tão jurássicos como aqueles velhos
computadores-armários que rodavam fitas magnéticas e liam cartões
perfurados. As mochilas vão ficando cada vez menores na medida em que
não há muito para carregar (e carregar para onde?). As naves, entretanto,
permanecem, mas são outra coisa.

Em um mundo contraído você precisa mesmo é da nuvem. Não de se
conectar à alguma nuvem (criada por algum mainframe) para armazenar e
acessar seus arquivos (quer dizer, o passado). Agora você é a nuvem.
Agora você é a nave: como nas velhas catedrais góticas (pelo menos nas



                                    2
intenções dos pedreiros-livres que as construíram), você viaja sem sair do
lugar (porque o lugar também passa a ser outra coisa). A nuvem é o
emaranhado que viaja pelos interworlds junto com você. E esse
emaranhado é o seu lugar. O seu lugar não é você (arrumando um jeito de
ficar prevenido) contra o outro: o seu lugar é o outro.

Deixe os mundos se contrairem para ver só o que acontece.




                                    3
Nota

(10) Cf. depoimento de Steven Strogatz no filme Connected: the Power of Six
Degrees, dirigido por Annamaria Talas. BBC – TV ABC / Discovery Science Channel,
2008. Disponível – com legendas em português – no link:

<http://escoladeredes.ning.com/video/o-poder-dos-seis-graus-1>




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  • 1. Em pílulas Edição em 92 tópicos da versão preliminar integral do livro de Augusto de Franco (2011), FLUZZ: Vida humana e convivência social nos novos mundos altamente conectados do terceiro milênio 90 (Corresponde ao quinto tópico do Capítulo 11, intitulado Bem-vindos aos novos mundos-fluzz) Crunching Deixando os mundos se contrairem A quarta grande descoberta: small is powerful. Essa talvez seja a mais surpreendente descoberta-fluzz de todos os tempos. Em outras palavras, isso quer dizer que o social reinventa o poder. No lugar do poder de mandar nos outros, surge o poder de encorajá-los (e encorajar-se): empowerment! Sim, como já foi dito aqui, fluzz é empowerfulness. Quando aumenta a interatividade é porque os graus de conectividade e distribuição da rede social aumentaram; ou, dizendo de outro modo, é porque os graus de separação diminuiram: o mundo social se contraiu (crunch). Steven
  • 2. Strogatz observou em 2008 que os graus de separação não estavam apenas diminuindo: eles estavam despencando (10). De uma perspectiva-fluzz, podemos afirmar que – sob o efeito desse amassamento (Small-World Phenomenon) – somos nós que estamos despencando... no abismo! Nada a ver com conteúdo. Tudo que interage tende a se emaranhar mais e a se aproximar, diminuindo o tamanho social do mundo. Quanto menores os graus de separação do emaranhado em você vive como pessoa, mais empoderado por ele (por esse emaranhado) você será. Mais alternativas de futuro terá à sua disposição. Mais parcerias e simbioses poderá fazer para realizar qualquer coisa. Mais rico (de conexões) e mais poderoso (de empoderamento) você será, porque terá mais recursos (meios) e mais capacidade (potencialidade) de alterar disposições no espaço-tempo dos fluxos. Novamente é o caso de dizer (pela terceira vez neste livro): bem, isso muda tudo. Nos Highly Connected Worlds a contração (crunching) é acelerada. Em pouco tempo sua timeline fica tão caudalosa que você é arrastado pela correnteza. Não adianta mais erigir muros para tentar se proteger da interação: como se sabe, a enxurrada, quando vem, leva tudo. Então você vai ter que aprender a viver em fluxo. Isso muda tudo porque muda a natureza do que chamávamos de normas e instituições, processos e rotinas, planos e agendas e, inclusive, propriedades (incluindo propriedades imobiliárias, como nossas casas – nossos refúgios contra as intempéries e nosso espaço privado, separado dos outros e protegido da interação com o outro-imprevisível). Uma vida em fluxo é uma vida nômade. No passado temia-se que isso nos colocasse na dependência de dispositivos interativos móveis – e-readers e tablets – mochilas e naves. Quá! Tudo isso já é passado. Os dispositivos separados do corpo vão sendo substituídos por implantes conectores, as máquinas de ler livros e os computadores- comprimidos vão virando objetos tão jurássicos como aqueles velhos computadores-armários que rodavam fitas magnéticas e liam cartões perfurados. As mochilas vão ficando cada vez menores na medida em que não há muito para carregar (e carregar para onde?). As naves, entretanto, permanecem, mas são outra coisa. Em um mundo contraído você precisa mesmo é da nuvem. Não de se conectar à alguma nuvem (criada por algum mainframe) para armazenar e acessar seus arquivos (quer dizer, o passado). Agora você é a nuvem. Agora você é a nave: como nas velhas catedrais góticas (pelo menos nas 2
  • 3. intenções dos pedreiros-livres que as construíram), você viaja sem sair do lugar (porque o lugar também passa a ser outra coisa). A nuvem é o emaranhado que viaja pelos interworlds junto com você. E esse emaranhado é o seu lugar. O seu lugar não é você (arrumando um jeito de ficar prevenido) contra o outro: o seu lugar é o outro. Deixe os mundos se contrairem para ver só o que acontece. 3
  • 4. Nota (10) Cf. depoimento de Steven Strogatz no filme Connected: the Power of Six Degrees, dirigido por Annamaria Talas. BBC – TV ABC / Discovery Science Channel, 2008. Disponível – com legendas em português – no link: <http://escoladeredes.ning.com/video/o-poder-dos-seis-graus-1> 4