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Edição em 92 tópicos da versão preliminar integral do livro de Augusto de
Franco (2011), FLUZZ: Vida humana e convivência social nos novos mundos
altamente conectados do terceiro milênio




                              91
               (Corresponde ao sexto tópico do Capítulo 11,
              intitulado Bem-vindos aos novos mundos-fluzz)




                Conversando com a rede-mãe

Você só precisa construir interfaces

A quinta grande descoberta: é possível conversar com a rede-mãe e é
possível programá-la.

Se você é um netweaver, seu papel não é construir conteúdos, mas
interfaces para conversar com a rede-mãe. É ser um nômade, um viajante
dos interworlds. As interfaces são os interworlds.

Interworlds são os meios pelos quais o que foi separado pode se reconectar.
Todas as coisas sociais (esses emaranhados que chamamos de pessoas) se
reconectam quando são devolvidas à rede-mãe. Quando são livres para
fazer isso: amagi. Para tanto, porém, é necessário remover o que está
impedindo essa volta, não fazer discursos. Você não precisa convencer os
outros dessas coisas (o que é sempre sinal de que você não está realmente
convencido). Não precisa fazer proselitismo de uma nova visão de mundo,
de uma nova ideologia, de uma nova filosofia, de uma nova religião. As
pessoas já querem se comunicar com a rede-mãe, não é necessário induzi-
las, compeli-las, conduzi-las.

Dançar, brincar e jogar foram as formas de tentar conversar com a rede-
mãe que conseguiram sobreviver sob a civilização hierárquica.

Quando, por exemplo, você vê uma jovem querendo ser dançarina, cantora,
é fluzz que está ali naqueles desejos muitas vezes inexplicáveis. Ela não
quer fazer sucesso, se destacar dos semelhantes. Isso pode vir depois,
quando for capturada por uma organização hierárquica. No início ela quer
apenas vibrar no mesmo ritmo da intermitente criação, acompanhar a vida
nômade das coisas, respirar com elas, reconhecer e ser reconhecida por
outras pessoas capazes de se deixar empatizar...

A dança, a música... são movimentos-fluzz de sintonização. Depois vem
alguma fraternidade disciplinando tudo, ensinando você a ser dervixe. Em
algum lugar perdido da Ásia Central, entre o Cazaquistão, o Uzbequistão, o
Turcomenistão, o Arzebaijão, sabe-se lá, eles vão treiná-lo até que você
repita exatamente os mesmos movimentos sincronizados, execute as
mesmas evoluções com perfeição. Não é que não haja conhecimento ali
(deve haver, e muito). No entanto, não é mais de conhecimento que se
trata. Os pássaros e os peixes fazem isso, apenas aglomerando,
enxameando, imitando (clonando), enfim, interagindo com os semelhantes
em seus mundos pequenos (amassados). E a forma como eles expressam
suas interações – por flocking ou shoaling – revela o metabolismo do
simbionte natural: apenas deixando acontecer. Trata-se agora de fazer
alguma coisa correspondente em relação à segunda criação do mundo: o
simbionte social. Como? Não se sabe. Você vai ter que perguntar à rede-
mãe. Para conversar com ela, você só precisa construir interfaces. Ou
melhor: você – a núvem – só precisa ser interface.

A brincadeira e o jogo vão adquirindo outro status nos mundos altamente
conectados. Tudo vai virando jogo. Com a abolição do trabalho (repetitivo)
a atividade produtiva (inovadora) vai se exercendo como creative game e
vai materializando aquele sonho de Bob Black (1985) quando disse: “O que
eu gostaria realmente de ver acontecer é a transformação do trabalho em
jogo”. Social games vão substituindo os programas ditos sociais ou de



                                    2
desenvolvimento. Ao contrário do que se pensou, social games não são
games virtuais coletivos – que pressupõem colaboração entre pessoas –
para serem jogados no mundo virtual, por meio de computadores ou outros
dispositivos interativos digitais. Social games são jogos instalados na rede
social, que "rodam" na própria rede social e que permitem programá-la
(ainda que possam ter um espelhamento no mundo virtual e ser operados,
em parte, por meio de computadores ou outros dispositivos interativos
digitais).

Sim, se você está disposto a ser um netweaver, você pode agora programar
na rede-mãe através da interface que construiu.




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Conversando com a rede-mãe

  • 1. Em pílulas Edição em 92 tópicos da versão preliminar integral do livro de Augusto de Franco (2011), FLUZZ: Vida humana e convivência social nos novos mundos altamente conectados do terceiro milênio 91 (Corresponde ao sexto tópico do Capítulo 11, intitulado Bem-vindos aos novos mundos-fluzz) Conversando com a rede-mãe Você só precisa construir interfaces A quinta grande descoberta: é possível conversar com a rede-mãe e é possível programá-la. Se você é um netweaver, seu papel não é construir conteúdos, mas interfaces para conversar com a rede-mãe. É ser um nômade, um viajante dos interworlds. As interfaces são os interworlds. Interworlds são os meios pelos quais o que foi separado pode se reconectar. Todas as coisas sociais (esses emaranhados que chamamos de pessoas) se
  • 2. reconectam quando são devolvidas à rede-mãe. Quando são livres para fazer isso: amagi. Para tanto, porém, é necessário remover o que está impedindo essa volta, não fazer discursos. Você não precisa convencer os outros dessas coisas (o que é sempre sinal de que você não está realmente convencido). Não precisa fazer proselitismo de uma nova visão de mundo, de uma nova ideologia, de uma nova filosofia, de uma nova religião. As pessoas já querem se comunicar com a rede-mãe, não é necessário induzi- las, compeli-las, conduzi-las. Dançar, brincar e jogar foram as formas de tentar conversar com a rede- mãe que conseguiram sobreviver sob a civilização hierárquica. Quando, por exemplo, você vê uma jovem querendo ser dançarina, cantora, é fluzz que está ali naqueles desejos muitas vezes inexplicáveis. Ela não quer fazer sucesso, se destacar dos semelhantes. Isso pode vir depois, quando for capturada por uma organização hierárquica. No início ela quer apenas vibrar no mesmo ritmo da intermitente criação, acompanhar a vida nômade das coisas, respirar com elas, reconhecer e ser reconhecida por outras pessoas capazes de se deixar empatizar... A dança, a música... são movimentos-fluzz de sintonização. Depois vem alguma fraternidade disciplinando tudo, ensinando você a ser dervixe. Em algum lugar perdido da Ásia Central, entre o Cazaquistão, o Uzbequistão, o Turcomenistão, o Arzebaijão, sabe-se lá, eles vão treiná-lo até que você repita exatamente os mesmos movimentos sincronizados, execute as mesmas evoluções com perfeição. Não é que não haja conhecimento ali (deve haver, e muito). No entanto, não é mais de conhecimento que se trata. Os pássaros e os peixes fazem isso, apenas aglomerando, enxameando, imitando (clonando), enfim, interagindo com os semelhantes em seus mundos pequenos (amassados). E a forma como eles expressam suas interações – por flocking ou shoaling – revela o metabolismo do simbionte natural: apenas deixando acontecer. Trata-se agora de fazer alguma coisa correspondente em relação à segunda criação do mundo: o simbionte social. Como? Não se sabe. Você vai ter que perguntar à rede- mãe. Para conversar com ela, você só precisa construir interfaces. Ou melhor: você – a núvem – só precisa ser interface. A brincadeira e o jogo vão adquirindo outro status nos mundos altamente conectados. Tudo vai virando jogo. Com a abolição do trabalho (repetitivo) a atividade produtiva (inovadora) vai se exercendo como creative game e vai materializando aquele sonho de Bob Black (1985) quando disse: “O que eu gostaria realmente de ver acontecer é a transformação do trabalho em jogo”. Social games vão substituindo os programas ditos sociais ou de 2
  • 3. desenvolvimento. Ao contrário do que se pensou, social games não são games virtuais coletivos – que pressupõem colaboração entre pessoas – para serem jogados no mundo virtual, por meio de computadores ou outros dispositivos interativos digitais. Social games são jogos instalados na rede social, que "rodam" na própria rede social e que permitem programá-la (ainda que possam ter um espelhamento no mundo virtual e ser operados, em parte, por meio de computadores ou outros dispositivos interativos digitais). Sim, se você está disposto a ser um netweaver, você pode agora programar na rede-mãe através da interface que construiu. 3